domingo, 20 de junho de 2010

TEXTOS PARA LEITURA RÁPIDA (28)

Textos curtos de "Como entender o chamado". FINAL dos textos:

‘Essa experiência é exatamente como se o espírito e a carne, eternos inimigos na visão do cristianismo, tivessem feito as pazes... o espiritual e o mundano se acham conjugados numa inesperada situação de paz. A austera seriedade do espírito parece tocada por uma alegria semelhante àquela que a antiguidade pagã conhecia, perfumada de vinho e rosas. Seja como for, faz com que se esqueçam todas as dores e penas da alma’. (C.G.Jung) (Pascal: ‘alegria, alegria, lágrimas de alegria’; Buda: ‘é o fim de todo sofrimento’; Jesus: ‘é a libertação’).


‘...Naturalmente é difícil compreender como essa figura abstrata (a experiência de Deus, que nada é mais que uma experiência subjetiva, pois na psique do homem) desperta o sentimento da ‘mais sublime harmonia’... Mas esse tipo de experiência não é, para mim, nem obscuro, nem longínquo. Muito ao contrário: trata-se de um fato que observo quase todos os dias em minha vida profissional (de psicoterapeuta)... Conheço um número consideravelmente grande de pessoas que, se quiserem viver, terão de levar a sério sua experiência íntima...’ (a vida, daqueles que tiveram a experiência de Deus, será transformada obrigatoriamente por força do novo conhecimento, a iluminação que lhes veio dela) (C.G.Jung).

‘Toda alma é, potencialmente, divina. O objetivo é manifestar essa divindade, ‘controlando-se’ a natureza interna e externa. Façamo-lo pelo trabalho, pelo psíquico... por um só ou por todos os meios, e nos tornemos livres. Eis toda a religião. As doutrinas, dogmas, orações, rituais, templos e as formas, são detalhes secundários. ’ (Vivekananda) (como Withman).

‘Esse estado, produzido na meditação, é o mais alto estado da existência humana... Somente para a alma que atingiu esse estado o mundo se torna realmente belo e vale a pena viver.’ (Vivekananda). (Krishnamurti e outros: a vida só adquire significado quando se chega ‘lá’; a interpretação do mundo será correta e, a vida, bem-aventurada).

‘...a aspiração do místico é conseguir a união consciente da alma pessoal com sua fonte, Deus. O místico entende que não basta pertencer a Deus (ou perceber, sentir); que é necessário penetrar na pletora (esfera) da divindade (confundir-se com ela), numa plena consciência de sua união com a fonte da alma... Consegue-se isso pela meditação, que traz mudança e ampliação da consciência de modo a podermos buscar a essência divina existente no ‘eu’ (no íntimo de nós mesmos). O místico, para vivenciar o êxtase da união, não depende de nenhum intermediário (padre, pastor, santo, guru, templo). Deve inverter, de certo modo, sua consciência.’ (para dentro, e não para fora como sempre a temos) (Ralph M Lewis, Imperator da Ordem RC).

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Chuva nevoenta sobre o Monte Lu

E ondas encapeladas no Rio Che.

Se você ainda não esteve lá,

Muitos pesares por certo terá.

Mas, uma vez lá, e no caminho de casa,

Quão prosaicas parecem todas as coisas.

Chuva nevoenta sobre o Monte Lu

E ondas encapeladas no Rio Che. (do Zen).

Se você não esteve ainda lá, isto é, se não teve o percebimento, muitos pesares ainda terá, isto é, viverá ainda em conflitos e conseqüentes sofrimentos. Mas, se esteve, não por efeito de drogas ou traumatismos, mas no caminho de casa, isto é, no caminho para a vida real e plena, na busca de Deus, como todas as coisas no espaço-tempo lhe parecerão sem importância (infantis e fúteis, segundo Krishnamurti; lixo, no dizer de Teresa de Ávila). A transformação é interior e não exterior, tanto que, antes dela e após ela, o mundo (ondas, chuva etc.) continua o mesmo; a transformação iluminadora e libertadora, acontece em nosso íntimo e não fora de nós. ...................................................................

TEXTOS PARA LEITURA RÁPIDA (27)

Textos curtos de "Como entender o chamado":

‘No dia que eu conseguir deixar de ser Antonio, Pedro,... e passar a ser a realidade que todos somos (ver H. Benoit, Doutrina Suprema), a Alma Universal, que cada um é e eu também sou, só então terei chegado (à verdade) e nada mais me perturbará. ’ (não haverá mais problemas, conflitos, nem sofrimento, nem ignorância) (Hermógenes) (Buda: ‘é o fim de todo sofrimento’).


‘Senta-te, emudece o cérebro, aquieta-te, e em solidão medita... Junta-te a ti mesmo. Une-te àquele que és Tu mesmo (‘eu e o Pai somos um’)... Persiste, continua batendo; bate sempre; a todo instante; persiste batendo mesmo que duvides que exista uma porta.’ (Hermógenes) (Jesus: ‘pedi, batei, buscai’...; do Velho Testamento: ‘Aquieta-te e sabe: Eu sou Deus’).

‘O Ser espiritual que habita em ti é Bagavan, Deus, e isso (a percepção disso) tu tens que realizar. ’ (ninguém e nenhuma religião realizarão isso por ti). (Hermógenes).

‘Devemos experimentar, tentar experimentar, a realização (o encontro de Cristo em nós) aqui e agora.’ (por que deixar para depois, se depois os argumentos serão os mesmos? e, com a realização, a vida será totalmente plena, só então a vida terá sentido) (Mouni Sadhu).

‘...Se você quiser experimentar esse novo nascimento deve afastar-se de todos os agrupamentos e voltar ao ponto de partida, ao centro de sua alma (ao interior). Os agrupamentos são a memória, as associações, a vontade, as crenças, as ilusões, as emoções em todas suas diversificações e movimentos (o ego). Deve deixar tudo isso: a percepção dos sentidos, a imaginação, e tudo que descobrir em si e tudo que você é... ’ (Eckhart) (afastar o ego, para que sejas um novo homem).

‘... pregamos a sabedoria de Deus, misteriosa e secreta, que Deus determinou antes de existir o tempo, para nossa glória (isto é, para que alcancemos a percepção de que somos a própria divindade), sabedoria que nenhuma autoridade deste mundo conheceu. É como está escrito: ‘Coisas que os olhos não viram, nem os ouvidos ouviram, nem o coração humano imaginou (Is 64:4), tais são os bens que Deus tem preparado para aqueles que o amam.’ (que seguem os ensinamentos) (I Cor 2:7ss).

‘Eu gostaria de deixar bem claro que, com o termo ‘religião’, não me refiro a uma dada profissão de fé religiosa. A verdade, porém, é que toda confissão religiosa, por um lado se funda originalmente na experiência do numinoso (sobrenatural, transcendental) que, na experiência religiosa pode ser o influxo de uma presença invisível que produz transformação especial na consciência; tal, pelo menos, é a regra universal; e, por outro lado, na fé e na confiança relativa a uma experiência de caráter numinoso e na mudança de consciência (o nascer de novo) que daí resulta. Um dos exemplos mais frisantes, nesse sentido, é a conversão de Paulo. Poderíamos, portanto, afirmar que o termo ‘religião’ designa a atitude particular da consciência transformada (expandida) pela experiência do numinoso... ’ (Carl Gustav Jung).

‘Os sonhos que escolhi para ilustrar aquilo que chamo de ‘experiência imediata’ certamente pouco significarão para um olhar inexperiente... Mas, apesar disso, a experiência individual... é sangue quente e rubro, que pulsa nas veias do homem (que a teve). Para quem busca a verdade, ela é mais persuasiva do que a melhor das religiões, do que a melhor das tradições... Se quisermos saber algo a respeito do significado da experiência religiosa para aqueles que a tiveram, esse algo é: ‘tudo’...’ (C.G.Jung).

‘... Por último, chega-se ao conhecimento de seu caráter divino, principalmente por uma iluminação e uma comoção interior mediante a qual Deus aclara a mente do homem (dá-lhe sabedoria) e toca sua vontade de tal modo, que o convence da veracidade e autenticidade de seu próprio sonho; reconhece Deus como seu autor, com uma certeza e evidência tão grandes, que é obrigado a acreditar, sem a mínima sombra de dúvida... ’

(Benedictus Pererius, S.J., 1598).

TEXTOS PARA LEITURA RÁPIDA (26)

Textos curtos de "Como entender o chamado":

‘Detive-me e esqueci-me... ’ (a meditação faz deter tudo, esquecer tudo, a ação dos sentidos, pensamento, memória, emoção, imaginação, quem é, onde está, o que faz etc.) (J. Cruz) (Para a mente silenciar: atenção total ao próximo pensamento que vai surgir em seu cérebro. Experimente!).


‘O templo mais decente e propício para orar é o interior de nós mesmos,... Deus é o tesouro escondido aí, no campo da alma... O centro da alma é Deus... Em realidade, verifica-se na alma o que diz Paulo: ‘vivo, já não eu, mas Cristo é quem vive em mim...’ (J. Cruz).

‘...a alma é o lugar onde, certamente, encontra-se Deus, é onde Deus se esconde... o que primeiro a alma tem que fazer para conhecer Deus é o exercício do próprio conhecimento (auto-conhecimento). (Veja-se Teresa, e outros, que dizem a mesma coisa)... Se Deus está em ti, porque não o percebes? Porque ele está escondido e tu não te escondes, não penetras (pela meditação) no esconderijo dele (que é teu interior)...’ (J. Cruz).

‘Buscai Deus lendo e o encontrareis meditando (leituras que inspiram induzem à meditação, o caminho para se encontrar Deus)... O melhor é aprender a conservar em silêncio as potências (faculdades da mente, imaginação, raciocínio, pensamento, remorsos, emoção, sentidos, memória), fazendo-as se calarem para que se possa ouvir a voz de Deus...’ (J. Cruz).

‘...o filho de Deus, o Pai e o espírito santo, estão escondidos no interior da alma... O que mais desejas, ó alma, se tu mesma és o local onde ele habita? Toda felicidade e alegria se acham tão perto de ti, a ponto de estarem dentro de ti... Que mais queres? Porque o buscas fora de ti, nos templos, nas igrejas, nas montanhas, campos, na imensidão dos céus, se aquele que buscas está bem aí, dentro de ti?’ (J.Cruz) (Paulo: ‘vós sois o templo do Altíssimo’; Jesus: ‘o reino dos céus está dentro de vós’; idem, S.Agostinho).

‘...Assim, se o homem quer despertar, se quer compreender a si mesmo (auto-conhecimento), deve enfrentar o fato de que o verdadeiro caminho para Deus é para dentro; deve dirigir-se diretamente para seu interior; não há outro caminho...’ (Paul Brunton, Ph.D., yoga).

‘Aqueles que se esforçam, providos de yoga (meditação), percebem Deus morando no ‘eu’. ’ (hinduísmo).

‘A viagem redentora é na direção para dentro de nós. Ali se encontra o Senhor, Brahman, o Ser Absoluto.’... ‘Vamos praticar e praticar até que possamos dizer: Eu e meu Pai somos um.’ (Hermógenes) (‘pedi, buscai, batei’).

‘...não obstante nossa aparente miséria, nossas aparentes imperfeições e fraquezas, nossa aparente pequenez, reduzida visão e compreensão,... aqui, dentro de nós, se encontra o Senhor.’ (Hermógenes).

‘... quando mais aprendo é quando, sentado, sentidos desligados (inoperantes, cérebro em silêncio), corpo relaxado, mente silente (meditação), mergulho dentro do eterno aprendiz que sou, tento compreender-me (auto-conhecimento), buscando entender a linguagem silenciosa, mas infinitamente expressiva, do universo interno e profundo que eu sou (Deus).’ (Hermógenes) (veja C.G. Jung, nas diversas obras publicadas; do Zen: ‘o mais importante é sentar-se’).

‘As potencialidades infinitas do Ser Supremo, que nós somos, não chegam a se manifestar, pois nos encontramos condicionados por vícios, hábitos, posses, afazeres, doutrinas, ideologias, partidos, preconceitos, culturas, crenças, dogmas, ilusões e estúpidas vaidades que, embora nos empobreçam, limitem (a vida, a mente, a liberdade) e façam sofrer, são por nós defendidos como fatores de nossa total segurança, nos quais depositamos ilimitada confiança (em face de nosso condicionamento).’ (Hermógenes) (ver Krishnamurti e outros, para saber que não existe segurança, nem física, nem psicológica, em nenhum lugar, tempo ou condição e que temos medo de abandonar o conhecido para buscar o desconhecido).

TEXTOS PARA LEITURA RÁPIDA (25)

Textos curtos de "Como entender o chamado":

‘... para chegares a isso terás que submeter tua vontade à vontade de Deus, devendo mergulhar até o fundo em sua misericórdia (meditação); deverás renunciar a tua própria vontade (entrega total) e abster-se de fazer aquilo a que ela te conduz; deverás colocar tua alma sob a cruz com o fim de resistir às tentações da natureza humana. Se fores capaz de fazer isso, ouvirás o que o Senhor fala em ti...’ (‘fala’, está sempre falando, pois o Senhor está sempre presente, mas não temos, ainda, condições para percebê-lo). ‘Perceberás, então, que toda sabedoria humana é um despropósito...’ (B) (Paulo: ‘a sabedoria dos homens é estultícia perante Deus’, e ‘a sabedoria de Deus é loucura para os homens).


‘... silencia (limpe-a de tudo, seja bom ou mau), portanto, tua mente, e ela, através da prece (meditação), se dispõe a encontrar essa jóia que, para o mundo parece coisa insignificante, mas que é tudo para os filhos da sabedoria (para os que sabem, porque já chegaram, como também disse Jung)... O caminho para o amor de Deus (para a iluminação) é uma loucura para o mundo, porém é sabedoria para os filhos de Deus;... mais brilhante que o sol, mais doce do que a coisa mais doce, mais forte do que toda a força... mais embriagador e agradável do que tudo que possamos imaginar de delicioso neste mundo...’ (é essa jóia, a verdade que liberta e traz bem-aventurança...) (B).

‘Deus prefere, de ti, o menor grau de pureza de consciência (mente não poluída por pensamentos, associações, emoções, imaginações, que são obstáculos ao percebimento), do que quantas boas obras fizeres (‘não é pelas obras que sereis salvos’)... Deus quer, de ti, o menor grau de obediência e sujeição (aos ensinamentos), do que todos esses serviços que ‘pensas’ prestar-lhe.’ (João da Cruz) (analise com cuidado!).

‘Ó, amor de Deus, tão pouco conhecido! Quem te encontrou a fonte, repousou. ’ (J. Cruz) (de nada mais tem necessidade; ‘... tudo o mais virá por acréscimo’).

‘...na solidão de todas as coisas (meditação), (a alma) comunica-se interiormente com Deus, num sossego saboroso, pois o seu conhecimento (de Deus) é em silêncio divino...’ (conhece-se a verdade, as coisas de Deus, através do silêncio do cérebro, da mente, isto é, na meditação) (J. Cruz).

‘Eu não te conhecia, Senhor meu, porque ainda queria saber das coisas (do mundo; como S. Agostinho) e saboreá-las...’. ‘Meu Deus, não és um estranho para quem não for esquivo contigo; como dizem, então, que te ausentas? ...’ (isto é, Deus está sempre presente e, de modo consciente para quem encontrou a verdade; não se pode dizer que Deus não existe ou que está distante, alheio a nós; só não lhe sentimos a presença porque não chegamos lá). (J. Cruz).

‘... para encontrares a verdade... só muita humildade, negação das coisas do mundo, purificação da alma de estranhos desejos, posses e apetites... pondo de lado teu gosto e inclinação...’ (J. da Cruz) (isso se consegue pela meditação; ver Pesquisas Científicas sobre a Meditação Transcendental; ver, também, a ‘Doutrina Suprema’ de Benoit. Se você usa a humildade antes de ter chegado lá, essa virtude ou é forçada, ou falsa ou incompleta).

‘...aplica-te à solidão acompanhada de oração e santa e divina leitura, e aí persevera, esquecendo-te de todas as coisas.’ (oração de recolhimento e de quietude, meditação; persevera, ‘pedi, buscai, batei’). ‘...quem deseja a luz, entre dentro de si mesmo e trabalhe na presença daquele que sempre está ali presente...’(J. Cruz) (idem, Teresa de Ávila).

‘...traga interior desapego de todas as coisas e não ponha o gosto (afeto, confiança, desejo) em qualquer temporalidade (coisa do mundo); assim, sua alma colherá bens que não conhece (indizíveis). (J.Cruz).

‘...no silêncio (da mente), a voz de Deus é ouvida pela alma.’ (a iluminação). ‘...o costume de falar muito, um pequeno apego a qualquer pessoa ou coisa, roupa, livro, cela, comida, conversas,... gostinhos em saborear, em saber, em ouvir coisas... não somente impedem a união, como impedem que se chegue à perfeição.’ (a distração, como ensinam o Zen e o cristianismo primitivo, impede a meditação) (J. Cruz).

TEXTOS PARA LEITURA RÁPIDA (24)

Textos curtos de "Como entender o chamado":

‘...A alma já ferida (que teve vislumbres) pelo amor de Deus, procura mais ocasiões de estar só. Conforme lhe permite seu estado, aparta-se o mais possível de tudo que lhe estorva a solidão (de tudo que a faz desatenta)...’ (T).


‘... se ainda nesta vida esperamos exultar neste bem, que devemos fazer nós? Que empecilho é tão grande que nos faça deixar de buscar, por um instante que seja, o Senhor?... Ninharia é tudo o que existe no mundo se não nos conduz e ajuda nesta empresa, ainda que durassem para sempre os deleites, riquezas e alegrias deste mundo, por maiores que se possam imaginar. Tudo é lixo e esterco em comparação a esse tesouro... Ó cegueira humana! Até quando permaneceremos com os olhos cheios de terra (sem perceber a verdade)?’ (T).

‘... o que é a honra? Eu prezava a honra; em quantas pequeninas coisas sentia-me ofendida! Agora disso me envergonho... E não olhava nem fazia caso da verdadeira honra que é zelar pelos interesses da própria alma. Esta é a única honra proveitosa. Como estamos sem direção! E temos a ousadia de pensar que fazemos muito, quando perdoamos um nadinha qualquer...’ (T).

‘Tudo que aprendi reduz-se a mostrar ao homem como despertar, em si mesmo, o divino mundo da luz. Esse mundo está aqui e agora, e meu maior desejo é abrir os olhos dos homens para esta verdade: somos aquilo que formos capazes de fazer de nós mesmos’. (pela meditação; os que chegaram lá não conseguem se calar; desperta-se neles a compaixão pelo sofrimento dos que ainda não chegaram) (Boheme).

‘Admira-me muito que Deus tenha-se revelado assim, plenamente, a mim, um homem tão simples, sem cultura, tão pequeno neste mundo...’ ‘Quando o mal foi vencido, a porta celestial se abriu para o meu espírito que, então, contemplou o divino e celestial Ser, não fora de meu corpo, mas exatamente na fonte do coração (dentro), onde surgiu um resplendor de luz... ’(B). (Deus habita em nós).

‘...reúna todas suas forças, seu coração, sua afeição, pensamentos e vontade, para, ininterruptamente, pressionar a misericórdia e o amor de Deus (pedi, batei, buscai...) Ainda que passemos por loucos, aos olhos do mundo, não devemos nos perturbar... ’ (teime na meditação; ‘a sabedoria de Deus é loucura para os homens’ e ‘que te importa a ti? Segue-me tu’) (B).

‘O verdadeiro céu está exatamente onde você está... Quando o seu espírito alcança a mais profunda e interior criação de Deus (o Cristo em seu interior), e nela penetra (tem percebimento), então seu espírito está no céu (atinge o reino)... ’. ‘Se queremos saber o que é o novo nascimento, devemos conhecer o que é o homem, como ele é a imagem de Deus, como Deus mora nele... ’ (Boheme) (o que se consegue pelo autoconhecimento, meditação; o homem é o próprio Deus).

‘Deus está a um só tempo fora e dentro de cada coisa... Assim, nada existe separado de Deus... ’(somos um). ‘O espírito santo fica em seu céu... Se perguntas onde está esse céu, eu responderei que está em teu coração... A luz que brilha em tua alma é o céu, o próprio filho de Deus. ’ (Boheme).

‘... olhem para dentro de si mesmos;... e quando vocês dizem que não há senão um único ser em Deus, que Deus não tem um filho, observem em seu interior e verão claramente... que em seu coração, veias e cérebro, reside Seu espírito. ’ ‘...este espírito santo, que provém de Deus, reina também em você; Deus reina no interior do homem. ’(Boheme) (‘vós sois o templo do Altíssimo’).

‘... não podemos mencionar coisa alguma da natureza que não seja divina, pois Deus é a única causa e Deus é o único efeito...’. ‘...é preciso que o homem se examine bem para não agir cegamente, e não procure sua pátria eterna (Deus) longe de si; ela está nele... O homem exterior, visível, não é a verdadeira imagem de Deus; é uma imagem do separador (isto é, o corpo é que limita, separa uns dos outros e de todos os objetos), um envoltório do homem espiritual; este sim é a verdadeira imagem de Deus,... é preciso que o espírito se entregue a Deus (que o ego cesse), a fim de que o interno (Cristo, Deus) se manifeste...’. ‘Se a minha vontade é um nada, isto é, se não mais ajo conforme minha vontade, mas conforme a vontade de Deus, Ele está em mim... então, não mais me conheço, mas a Ele...’ (Boheme) (como Paulo: ‘já não sou eu que vivo, mas o Cristo é que vive em mim’).

‘Jesus disse: ‘Busca e encontrarás’. A jóia valiosa, o reino, deve ser buscada, mas o indolente não a encontrará. Embora o homem leve consigo essa jóia, não o sabe. Porém, aquele a quem ela se revela, enche-se de felicidade, porque sua virtude é inesgotável...’ (B).

‘Ó homem, busca-te a ti mesmo e te encontrarás, pois tua alma é o próprio Cristo a quem buscas. Abre os olhos de teu interior (meditação), e aprende a ver corretamente (pois aquele que só vê o exterior, vê apenas aparências e ilusões; a verdade está dentro de nós)’. (B).

‘... quando a encontra (a jóia, a pérola, o tesouro, a iluminação)... nenhuma pena (escrito, palavras) pode expressar... (B) (Paulo: ‘vi coisas inefáveis’).

‘O critério humano considera-a insignificante (em geral, os homens, por não crerem, não dão atenção à busca dessa jóia que é o próprio Deus)... Ninguém repara nela... e, no entanto, não há ninguém neste mundo que não a deseje... essa pérola deve ser procurada, pois é muito mais preciosa do que tudo neste mundo... (comparado com o reino, tudo o mais é lixo e esterco, conforme Paulo, Teresa, João da Cruz)... quando a encontrares terás encontrado o paraíso, o reino dos céus... ’ (B) (Buda: ‘é o fim de todo sofrimento’; é a bem-aventurança; Jesus: ‘é a libertação’).

TEXTOS PARA LEITURA RÁPIDA (23)

Textos curtos de "Como entender o chamado";

‘...não nos perturbem o pensamento e a imaginação, nem façamos caso deles (quando, na tentativa de meditação, não cessam de fluir...). O remédio é ter paciência (perseverar)... humildade e desapego de verdade... ’ (Teresa) (é o que ensinam os místicos).


‘... é certo que melhor encontramos Deus buscando-o no íntimo da alma, a exemplo de S. Agostinho...’ (Teresa).

‘... Excelente é este modo de pensar (imaginando Deus em nosso interior), por que se baseia numa grande verdade: Deus está dentro de nós mesmas. Cada um o pode provar’ (pela meditação). (T).

‘...prepare-se, também, a alma para saber escutar a Deus... não discorrer, tanto quanto possível, com o intelecto (cessar com as orações discursivas), mas conservar-se atenta à divina ação... Por mim, nossa atitude deve ser... pedir, usando a imaginação e o intelecto, e esperar, não mais usando nada (silêncio mental), procurando não exercitar o intelecto tanto quanto possível (afastar o ego; oração sem palavras, meditação)... Deixar-se (entegar-se), então, nas mãos de Deus. Ele faça como quiser e fique a alma num total descuido (esquecer tudo) de si própria, tanto quanto puder...’ (T) (do Zen: ‘Esvazia-te!’, e nada de expectativas sobre o que poderá vir).

‘...a simples preocupação de não pensar em nada, será motivo de pensar muito...; como poderá estar despreocupado de si quem fica tão preocupado em não pensar, em não se distrair, que nem ousa mexer-se? ... Deixemo-las (as faculdades, imaginação, memória, intelecto, etc.) fazer seu ofício (isto é, não as forcemos; deixe que os pensamentos continuem vindo mas não nos agarremos a nenhum deles), até que o Senhor as promova a outro ofício maior... ’ (nada o preocupe; se acontecer, tudo bem; se não acontecer, tudo bem, também, como ensina o Zen). ‘... sem força e sem ruído, procure atalhar o intelecto com seus discursos, sem suspendê-lo, nem à imaginação...’ (T) (Krishnamurti: sem esforço, porque isso reforça o ego em vez de afastá-lo).

‘...na perseverança está encerrado todo o nosso bem...’ (T) (Jesus: ‘aquele perseverar até o fim será salvo’).

‘...fomos chamados à oração (de recolhimento) e à contemplação (meditação, oração de quietude)... Descendemos dos santos padres do Monte Carmelo que... buscavam esse tesouro, essa pérola preciosa (da parábola)...’ (T) (igual ao primitivo cristianismo).

‘...já que podemos gozar do céu estando ainda na terra... pedi ao senhor que nos dê seu favor, a fim de não o desmerecermos por culpa nossa; que nos mostre o caminho e nos conceda forças para cavarmos até encontrar esse tesouro escondido, na verdade, dentro de nós mesmas. É o que gostaria de fazer-vos entender’ (T) (Krishnamurti: ‘a mansão da morte; Jesus: ‘a pérola’).

‘...eis, irmãs, o que faz aqui nosso Deus, para que a alma se reconheça como sua: dá-lhe o que tem de mais precioso, isto é, as condições que comunicou a seu filho neste mundo...’ (T) (o mesmo que deu a Jesus, isto é, igualdade com o Pai: ‘eu e o Pai somos um’; nós somos um com ele).

‘...ninguém poderá alcançar a verdade sem ter chegado à submissão à vontade de Deus...; quanto mais adiantadas estiverdes no amor ao próximo, tanto mais adiantadas estareis no amor de Deus... esse é o sinal...’ (T).

‘... e Deus concede-lhe um encontro... dura brevíssimo tempo... Com os sentidos e faculdades (intelecto, raciocínio, memória, imaginação) não poderia a alma, absolutamente, entender, em mil anos, o que aqui entende num relance... ’ (T) (temos que ir além do ego, deixar as faculdades para trás).

‘...Descuidando-se, porém, e pondo a afeição em algum objeto, perderá tudo... Entendo que não há segurança neste mundo. Onde me parece haver mais segurança é em andar com particular atenção e cuidado (observação de si mesma; orai e vigiai). A alma que aspira tão alto, não pode deitar-se a dormir (conforme o cristianismo primitivo, o maior pecado é a desatenção; a maior virtude, a atenção; e não existe segurança física ou psicológica em nenhum tempo ou lugar) (T).

‘...A alma já ferida (que teve vislumbres...

TEXTOS PARA LEITURA RÁPIDA (22)

‘Jesus disse: ‘Eu estou em vocês’. Valha-me Deus! Como essas palavras são verdadeiras! Como as compreende bem a alma que, estando nessa oração, sente-as (percebe-as) realizadas em si mesma.’ (Teresa).


‘... nossa alma é um castelo onde habita o Senhor; vejamos o que se há de fazer para penetrar no seu interior (para percebê-lo)...’ (Teresa).

‘Esta é a grande descoberta que Teresa divulga com seus escritos: Deus habita no íntimo da alma... (o mesmo afirmaram Jesus e Paulo) Contra ela, por isso, se colocaram vários de seus padres confessores, os quais admitiam a presença divina apenas através da graça, nunca em essência. Teresa, porém, é clara: Deus se encontra na alma, como se encontra no céu. Por isso mesmo, a própria alma é o céu, um castelo no qual se pode entrar... O corpo é a muralha do castelo, cuja entrada é a oração (meditação). ...uma alma é tão repleta quanto um mundo vivo e cheio de gente e de grandes segredos. A gente são as faculdades que, às vezes ajudam, às vezes atrapalham. Costumam se desorientar sobretudo quando o Hóspede se faz notar, quando sai de seu aposento para se comunicar com o espírito.’ (Prof. Jacyntho J.L. Brandão, UFMG).

‘...bem maior, que a dos animais irracionais, é nossa insensatez, pois desconhecemos o seu valor (da alma, que é criada à semelhança e imagem de Deus) e concentramos toda nossa atenção no corpo...; as riquezas que há na alma, quem nela habita, eis o que, raras vezes, consideramos. Todos os cuidados e atenção se consomem no grosseiro engaste, nas muralhas do castelo, que são nosso corpo, em vez de se consumirem naquele que ali habita.’ (Teresa).

‘... assim também não nos prejudica sabermos que é possível, ainda neste desterro (ainda em vida; a mansão da morte, de Krishnamurti), tão grande Deus comunicar-se a vermezinhos asquerosos como nós... Pode-se objetar que isso é impossível... mas é menor mal não o crerem alguns, do que tirar do proveito espiritual os demais... Quem se recusa a crer dificilmente terá a experiência da presença divina em si.’ (Teresa) (ela afirma que, mesmo nesta vida, podemos perceber a divindade; mostra, também, a concepção que a igreja tem do homem – ‘verme asqueroso’; como ensinam os sábios, isso se destina a manter o homem preso à igreja, pois lhe incute a idéia de que, sozinho, não pode salvar-se, de que necessita de intermediários, sacerdotes e ministros, templos, penitências e orações, confissão e comunhão, do perdão de Deus).

‘...pelo que eu entendo, a porta de entrada desse castelo é a oração, (a oração de recolhimento e de quietude, isto é, a meditação.) (Teresa).

‘...torno a afirmar: é sumamente importante entrar primeiro no aposento do conhecimento próprio (auto-conhecimento, para sabermos quem realmente somos). Aprofundar o conhecimento sobre nós mesmas, é este o caminho... todos os danos (sofrimentos e conflitos) vêm de não nos conhecermos devidamente.’ (de não sabermos quem somos) (Teresa) (quando chegamos ao autoconhecimento, percebemos que somos a própria divindade).

‘...nossos defeitos (ignorância, distrações, suposições, crenças, ilusões) são como ciscos nos olhos que não nos deixam ver o Senhor, que está ali, bem à nossa frente...; embora a alma não esteja em mau estado e deseje sinceramente apreciar sua própria formosura (que é o próprio Deus), é quase impossível desvencilhar-se de tantos impedimentos (distrações).’ (Teresa) (só pela meditação se pode fazê-lo).

‘... mesmo mergulhados em nossos pensamentos, negócios, prazeres e seduções do mundo, ora caindo em pecado, ora levantando-nos, apesar de tudo o Senhor não deixa de chamar-nos para que nos aproximemos dele...’ (Teresa) (Krishnamurti: ‘não ouvimos essa imensidade chamando’, e lamentava-se Jesus: ‘Os homens não me compreenderam... ’).

‘... Não vos desanimeis, portanto. Quando vos acontecer cair em pecado, não deixeis de querer ir adiante (na oração, na meditação)... peço aos que ainda não começaram, a recolher-se em si mesmos (a praticá-la). Aos que já começaram, que enfrentem todas as dificuldades para não voltar atrás... aí ela, a alma, as subjugará todas (às distrações, desatenções) e zombará de seus assaltos. Aí experimentará, mesmo nesta vida, tal abundância de bens, como jamais poderia supor (indizíveis)... ’ (Teresa) (Jesus: ‘Buscai primeiramente o reino de Deus, e tudo o mais vos virá por acréscimo’).

‘... quando não achamos quem nos ensine, o Senhor fará tudo redundar em nosso proveito, contanto que não deixemos a oração (meditação)’ (Teresa).

‘... é insensatez pensar que poderemos entrar nos céus sem primeiro entrarmos em nós mesmas...’ (Teresa) (o caminho é para o nosso interior, na direção do ‘eu’).

‘O Senhor disse: ‘ninguém irá ao Pai senão por mim’ e ‘quem vê a mim, vê o meu Pai’... Ora, se nunca pusermos os olhos nele que está dentro de nós (se não entrarmos na alma), não sei como o poderemos ver. (Teresa). (não teria Jesus dito: ‘ninguém irá ao Pai senão pelo eu’ e ‘quem vê o eu, vê o Pai’? pois o caminho é para ‘dentro, na direção onde pensamos que está nosso eu’).

Textos curtos de "Como entender o chamado"

‘... a alma se sente segura se não recua no caminho começado... ’ (Teresa).

‘... Entrai, entrai em vós mesmas, filhas minhas!...’ (são palavras sempre dirigidas às noviças, por Teresa; o caminho é para dentro; "O Senhor habita em vossos corações").

‘... mas, sempre e sempre, humildade; considere-se sempre servo inútil.’ (da parábola de Lu 17:10; não se impaciente, nem perca o ânimo; com humildade, persevere nas tentativas de meditação) (Teresa).

‘...para que de tudo (de sucessos ou insucessos) tireis humildade, e não inquietação (impaciência, descrença etc)... pois somos mais amigos de prazeres que de cruzes... ’ (Teresa) (não deixe que os obstáculos o desanimem. Como falou Jesus: ‘Que te importa a ti; segue-me tu’).

TEXTOS PARA LEITURA RÁPIDA (21)

Texto curtos de "Como entender o chamado":

‘... chama-se oração de recolhimento, porque nela tudo se recolhe, a alma, todas as faculdades, vontades, desejos, memórias, emoções, expectativas, (tudo deve ser recolhido, escondido, esquecido) e entra dentro de si mesma com Deus (onde já está Deus). Aí, o divino mestre vem ensiná-la, dando-lhe oração de quietude.’ (Teresa) (oração de recolhimento: recolhem-se os sentidos, a memória, o pensamento, o ego; com o recolhimento, vem o silêncio mental, a oração de quietude (‘aquieta-te e sabe: Eu sou Deus’, do Velho Testamento), a meditação, que pode proporcionar a percepção daquilo que buscamos).


‘...acostume-se a não olhar coisa alguma que a distraia... Não permaneça em lugar onde possam se distrair os sentidos exteriores...(pois a distração exterior causa distração interior); assim chegará a beber água na própria fonte. Caminha muito em pouco tempo. É viajar pelo meio mais rápido... chega-se mais depressa. ’ (Teresa) (às noviças: atenção, atenção, atenção!).

‘... durante a oração... recolhendo os sentidos para dentro de si mesmas. Quando o recolhimento é verdadeiro, sincero... produz tal efeito (a oração de quietude) que não sei como descrever. Entende a alma que tudo que há no mundo não é mais que um jogo, um divertimento (‘tudo é fútil e infantil’). Eleva-se, ergue-se, de repente...’ (Teresa).

‘...é deixar de lado todas as coisas exteriores, delas retirando os sentidos...(para isso só a cessação do eu, que a meditação torna possível); cerram-se os olhos para não mais as ver, e para mais se aguçar a vista da alma. Nelas (nas que fazem essa oração) se acende mais prontamente a labareda do amor divino. Estando mais perto do fogo, com alguns sopros do intelecto, ao saltar uma fagulhinha, logo é total o incêndio... pois não há embaraços no exterior, e estão a sós com Deus (no interior).’ (Teresa) (a sós com Deus, porque o ego cessou de operar; ‘ou eu, ou Deus’; ‘Aquieta-te e sabe:Eu sou Deus).

‘...o palácio de Deus é nossa alma...’ (Teresa) (‘vós sois o templo do Altíssimo’, Paulo).

‘Há, dentro de nós, um mundo mais precioso que de modo nenhum se compara com esse mundo exterior que conhecemos...’ (Teresa).

‘...se sempre vivêssemos com cuidado, lembrando-nos freqüentemente de que temos em nós tal hóspede (Deus)... veríamos que as coisas do mundo são mesquinhas comparadas às que temos dentro de nós.’ (Teresa).

‘...Não imitemos os animais (nas coisas do mundo) que, ao verem isca ou presa fácil, logo se precipitam para saciar a fome... Durante muito tempo não o compreendi tão claramente. Bem entendia que tinha alma, mas quanto ela merecia e quem estava dentro dela, eis o que me escapava... As vaidades da vida nos tapam os olhos, e não enxergamos o que devíamos... ’, ‘...mas o Senhor não se dá de todo enquanto não nos damos de todo a ele. Isto que vos digo é coisa certa e de tal importância que o repito tantas vezes.’ (Teresa) (dar-se a Deus é a entrega de si mesmo, proporcionada pela meditação, pois afasta nosso próprio ego pensante, dando lugar a Deus. ‘Quando o eu não é, Deus é’).

‘...olhai para a intimidade de vossas almas; aí, achareis nosso Mestre, que jamais nos faltará...’, ‘...todos os favores humanos são mentira se desviam a alma da oração de recolhimento...’ (Teresa).

‘...isso, o encontro (com Deus), sucede quando a alma quer, entendei bem; não se trata de coisa sobrenatural...’ (Teresa) (quando a alma quer e, por isso, busca).

‘...cumpre-nos desapegar-nos de tudo para nos aproximarmos de Deus interiormente... Desejemos, sempre, retirar-nos ao mais íntimo de nós mesmas, ainda no meio das ocupações do dia-a-dia (é o que ensina o Zen). Embora dure um só instante, é de grande proveito a recordação do Senhor que nos faz companhia dentro de nós mesmas...’ (Teresa).

‘...a alma sente-se penetrada de tal reverência... Interiormente e exteriormente as faculdades ficam numa espécie de desfalecimento (o eu cessa)... o corpo experimenta suavíssimo deleite e a alma grande satisfação (alegria, felicidade). Tão contente está de se ver junto à fonte que se sente farta antes mesmo de beber... nada a penaliza, nada a aflige (não há mais sofrimentos, medos, culpas, remorsos)... enquanto dura esse estado de satisfação e deleite, fica de tal modo inebriada e absorta que nem pensa em desejar outra coisa...’ (Teresa) (‘... tudo o mais virá por acréscimo’).

TEXTOS DE LEITURA RÁPIDA (20)

‘Sinto e sei que a morte não é o fim de nada, como pensávamos, mas, na verdade, é o autêntico princípio e que, com ela, nada se perdeu, nem pode perder-se ou morrer... O comando interior (o percebimento), potente, sentido, mais forte do que as palavras... tenho certeza de que ele, realmente, se origina de Ti...’; ‘Tu, ó Deus, iluminaste minha vida com raios de luz serenos, inefáveis, concedidos por Ti, luz rara, indizível, iluminando a luz verdadeira (iluminando a outra luz, a do sol), além de todos os sinais, descrições e línguas (além de toda compreensão)... Que clarão e infinito que tudo arrastam! Comparado com isso, que mísero frangalho parece tudo o mais.’ (Whitman) (àquele que chegou, ‘como parecem prosaicas todas as coisas!’, como diz o poema Zen).


‘... para os que não viveram os mesmos pensamentos (os que não passaram pela experiência), as palavras dos que falam sobre essa vida (iluminada) devem soar falsas... Ela alcança os simples e os humildes, os que se desfizeram do orgulho e da presunção (o que se consegue pela meditação); chega como uma súbita percepção (num relâmpago), com serenidade e grandeza. ’ (Ralph Waldo Emerson, ‘Consc. Cósmica’).

‘... só então saberá como todas as coisas da nova aliança (a iluminação) são percebidas espiritualmente, pois só então conhecerá a única divindade verdadeira e seu Cristo. Assim, a razão saberá, com absoluta certeza, por sua própria experiência, que tudo aquilo que o primogênito (Jesus), Paulo e outros sabiam sobre a verdade, e eles a conheciam plenamente, chegou até eles por meio de revelação interna, e não por sinais ou milagres externos... ’ (C.P.) (a percepção vem do interior, pelo caminho que leva ao eu; interioridade e não exterioridade).

‘Enquanto as rajadas do desejo perturbarem a expansão celestial do coração (forem obstáculo ao percebimento), haverá pouca possibilidade de vermos o Deus resplandecente.’ (Ramacrishna) (são obstáculos à meditação; perturbam a expansão da consciência).

‘... e eu o ressuscitarei no último dia. ’ (Jo 6:40) (o percebimento é como a ressurreição para uma vida nova, um novo nascimento, o nascer da consciência cristica em nosso interior; um novo homem entra em cena).

‘... ninguém pode vir a mim se o Pai que me enviou não o trouxer.’ (Jo 6:44) (a escolha não é nossa; ‘É o Senhor que opera em nós o pensar, o querer e o fazer’; é o Pai q nos ‘empurra’ à iluminação...).

‘... aquele que crê em mim tem a vida eterna.’ (Jo 6:47) (o percebimento revela que não existe morte).

‘... o espírito é que vivifica, a carne para nada aproveita.’ (Jo 6:63) (durante a fase biológica do viver, a carne tem sua serventia; mas, para a iluminação, a propiciadora é a consciência livre do ego).

‘... as palavras que vos digo são espírito e vida. ’ (Jo 5:63) (pois se praticarmos o que ele nos ensinou chegaremos ao espírito, a Deus, à vida real).

‘... se alguém tem sede (de luz), venha a mim (vá ao eu, pois o caminho é para o interior) e beba (isto é, receba a luz, perceba a luz que já está em nós). ’ (Jo 7:37).

‘...Porque a vós é dado conhecer os mistérios do reino dos céus, mas a eles não lhes é dado; porque àquele que tem, mais se lhe dará, mas àquele que não tem, até aquilo que tem lhe será tirado... porque eles vendo não vêem e, ouvindo, não ouvem nem compreendem... bem-aventurados sois vós porque vedes e ouvis...’ (Mat. 13:11 ss) (vós = os que chegaram à iluminação; vêem, ouvem e compreendem, por isso são bem-aventurados; àquele que têm o percebimento, mais se dará de glória, felicidade, sabedoria e amor; ao que não o tem, até o que possui de felicidade lhe será tirado, pois sem o percebimento, ‘muitos pesares por certo ainda terá’).

‘...Todas as coisas foram feitas por ele (o Verbo) e, sem ele, nada do que foi feito se fez... (Jo 1:3) (o verbo, a palavra, o pensamento, o fator do primeiro dualismo que produziu a divisão ‘eu e não-eu’, ‘eu e o mundo’; não houvesse o pensamento, ação do ego, nada existiria, nada seria feito, pois haveria apenas o Um, a unidade absoluta, nenhuma divisão, nem tempo, nem espaço, nem objetos, nem seres; por isso todas as coisas do espaço-tempo foram feitas pelo verbo e, sem ele, nada se fez).

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EXTRATOS do “Curso Avançado de Filosofia Yogui”:

Considere cada ato, pensamento, gesto, movimento, insinuação, sorriso, olhar, palavra, passo, exemplo, idéia, serviços divinos (pois Deus é que está operando em nós o pensar, o querer e o fazer; somos apenas máscaras de Deus, estamos envolvidos no grande drama da criação, cujo ator é apenas um em todos os personagens: Deus).

Veja Deus em tudo, em todo ato, circunstância e evento, em todas as pessoas, seres e coisas. Todo lugar, toda coisa e todo ser é Templo de Deus, é Deus mesmo (‘vós sois o templo do Altíssimo’). Estamos, em todo lugar e tempo, sempre em sua presença, perante Sua vista e Seu saber (sufismo) (Da Bíblia Cristã: ‘nele vivemos, nele respiramos; Deus está acima e abaixo, à direita e à esquerda, atrás e a frente, dentro e fora de nós’).

O amor de Deus se estende, incondicionalmente, a todos os seres, não importando se estes o amem ou não, creiam ou não, ou o neguem. Deus não exige serviço, nem adoração, nem oração, nem reverência. Deus está além de tudo isso. Há, sim, benefícios àqueles que se abrem ao amor divino, mas este amor se dirige, incondicionalmente, a todos. O sábio reconhece que a oração mais sentida ou comovente não traz o favor de Deus; que Ele não se deleita pelas orações dos homens, por suas súplicas ou louvores. Contudo, a oração é um benefício para o homem pois, por meio dela, o homem se abre e se entrega a Deus e pode entrar em harmonia com o infinito, e, então, terá esse amor, poder e sabedoria.

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Novos textos curtos referentes ao "Como entender o chamado":


CITAÇÕES de Teresa de Ávila e outros:

‘Deus está em toda parte. Onde está Deus, está o paraíso. Compreender esta verdade é ver que, para falar com o Pai, não se tem necessidade de ir ao céu, nem de clamar em altas vozes. Ele está tão perto que sempre nos ouvirá. Basta pôr-se em solidão (oração de quietude, meditação) e olhá-lo dentro de si mesma.’ (Teresa).

‘Depois de muito procurá-lo fora de mim, fui encontrá-lo dentro de mim mesmo. ’ (S. Agostinho).

TEXTOS PARA LEITURA RÁPIDA (19)

Novos textos para leitura rápida de "Como entender o chamado":

‘Humilho-me! Anulo-me!’ (PU) (humilhe-se! anule-se! entregue-se, na meditação; o ego deve cessar suas operações).


‘Nada receies, Eu Sou!...’ (não há o que recear; buscamos Deus, isto é, a nós mesmos; quando perguntaram a um mestre Zen o que é buscar Deus, ele respondeu: ‘é cavalgar o boi para procurar o boi’, isto é, nós já o somos; o que nos falta é perceber isso, o que se pode conseguir pela meditação).

‘A oração é apenas a harmonização inicial. Harmoniza-te em toda parte, na majestade do canto gregoriano, no simbolismo litúrgico, nas correntes que emanam das catedrais; ainda mais diante do espetáculo divino do criado... dum ato de bondade e de amor fraternal... este é o caminho que conduz a Deus... A chegada (a percepção) de Cristo se dá em nosso interior... (PU).

‘Aquele que põe a mão no arado e olha para trás não é apto para o reino de Deus.’ (Lc 9:62) (aquele que, decisivamente, inicia a busca, não deve ter saudades dos projetos e desejos que ficaram para trás, nos planos para o futuro; planos que, agora, devem ser abandonados; só assim poderá, eventualmente, chegar lá).

‘...Minha mente, profundamente influenciada pelas idéias, imagens e sentimentos despertados pela leitura e conversas da noite, achava-se num estado de tranqüilidade e paz; desfrutava de um estado de quietude (mente tranqüila, silenciosa)... Súbito, sem qualquer aviso, vi-me envolvido por uma nuvem avermelhada. No primeiro momento, pensei em um incêndio subitamente deflagrado na grande cidade. Em seguida, porém, percebi que a luz estava dentro de mim mesmo. Imediatamente se apoderou de mim um sentimento de exaltação, de imensa alegria, logo seguido por uma iluminação intelectual (sabedoria) impossível de ser descrita. Em meu cérebro explodiu uma fagulha do esplendor divino... Em meu coração... um sabor de paraíso (bem-aventurança). Entre outras coisas, nas quais eu não acreditava, vi e soube que o cosmo não é matéria morta, mas uma presença viva; que o ser humano é imortal; que o universo é tão bem construído e ordenado que, sem nenhuma casualidade, todas as coisas funcionam juntas para o bem de cada uma delas e do todo (Krishnamurti: ‘todos chegarão lá’); que o fundamento do mundo é o que chamamos amor e que a felicidade de cada um é, a longo prazo, absolutamente certa. E, inegavelmente, afirmo que aprendi mais durante os poucos minutos dessa experiência do que nos muitos anos de estudo anteriores, e mais do que poderia ter aprendido com qualquer mestre ou escola... Soube que o cosmo é totalmente imaterial (pura consciência, conforme, hoje, a física quântica também afirma), espiritual e vivo; que a morte é um absurdo; que todos têm uma vida eterna, que o universo é Deus e que Deus é o universo, e que o mal não pode aí penetrar... No mesmo instante, senti-me invadido por uma emoção de alegria, segurança, triunfo, salvação. Esta última palavra não deve ser tomada no sentido comum; é uma salvação não necessária, pois o esquema da construção do próprio universo basta para isso (como asseguram sábios e escrituras, já estamos salvos)... Acompanhando instantânea ou simultaneamente as sensações referidas, e as experiências emocionais, surgiu em mim uma iluminação intelectual (sabedoria) impossível de ser descrita. Com um clarão, apresentou-se à minha mente uma clara e nítida compreensão do sentido do universo, e uma consciência de imortalidade... (Richard M. Bucke, ‘Consciência Cósmica’).

‘Um estado mental tão feliz, tão glorioso, que tudo o mais na vida é nada se comparado com ele...’ (Budismo) (o nirvana, o satori, a iluminação, céu, samadi; comparar com o que disseram Jesus, Paulo, Teresa, João da Cruz, Krishnamurti e outros).

‘Com Cristo (com a percepção) tem início a verdadeira vida (Krishnamurti: o novo modo de existir; a iluminação), que se difundirá até se tornar universal. Aí será o fim da velha ordem. Depois disso, desaparecerão as ‘regras’, ‘autoridade’, ‘poder’; todos serão livres e iguais.’ (budismo) (sem o percebimento, a vida não tem sentido; com ele, o homem não mais precisará de regras e autoridades; todas suas ações, então, serão corretas).

‘Mas, aquele que alcançou a regeneração (o novo nascimento), vê sua vida terrestre como a pior das prisões (se comparada com ele). Nesse reconhecimento ele compartilha a cruz de Cristo...’; ‘O homem..., escondido na figura humana externa, está tanto no paraíso quanto Deus, e Deus está nele e ele está em Deus...’ (Boheme) (o homem é um com Deus; ‘eu e o Pai somos um’).

‘...essa sabedoria soberana (obtida pela iluminação) é de tão grande excelência que nenhuma faculdade ou ciência humana pode comparar-se a ela.’ (João da Cruz).

‘Ó, como a alma se sente feliz quando consegue escapar da casa de sua sensualidade! (no despertar, ao deixar de lado os sentidos, memórias, pensamentos, emoções). Ninguém consegue compreender isso, penso eu, a não ser aquele que já tenha passado por tal experiência... Tal é a doçura e prazer profundo que esses toques de Deus provocam, que apenas um deles é recompensa mais que suficiente para todos os sofrimentos da vida, por maiores que tenham sido.’ (João da Cruz).

‘...e, num quarto de hora, vi e aprendi mais do que veria e aprenderia em muitos anos de universidade. Por essa razão estou muito admirado e dirijo a Deus minha oração, agradecendo-lhe, porque vi e compreendi o ser de todos os seres, o abismo dos abismos e a geração eterna da santíssima trindade, o descendente e a origem do mundo e de todas as criaturas (o próprio Deus)...; (antes) havia iniciado árdua batalha contra minha natureza corrompida (concepção inculcada no homem pelas religiões populares)..., e, ajudado por Deus, uma luz maravilhosa surgiu dentro de minha alma... e nela reconheci a verdadeira natureza de Deus e do homem, e a relação existente entre eles (o auto-conhecimento que nos faz perceber que todos somos um só)... que entra na alma como um clarão súbito... (‘como o relâmpago que corre do leste para o oeste’)... de repente o meu espírito rompeu as barreiras (do ego, foi além do ego, do ‘eu’)..., mas a grandeza do triunfo que surgiu no espírito não posso exprimir por palavras escritas ou faladas (indizível, como diz Paulo). Tampouco posso compará-la com qualquer outra coisa... a não ser com a ressurreição da morte (o nascer de novo)..., pois o Cristo, o filho de Deus, tem que nascer em você (você tem de se iluminar), se você deseja conhecer a Deus. ’ (Boheme).

‘... E aquele pobre rapaz pensa que é um anjo exilado do céu. Quem, dentre nós, tem o direito de desapontá-lo (negá-lo)? Serei eu, eu, que tantas vezes me vejo suspenso deste mundo por um poder mágico? Eu, que pertenço a Deus? Eu, que constituo um mistério para mim mesmo? Terá ele escalado um degrau mais arrojado na fé? Ele crê; sua crença, sem dúvida, o levará a um caminho luminoso, semelhante àquele pelo qual eu caminho..., o caminho que conduz ao infinito (Deus)’ (Balzac).

TEXTOS RÁPIDOS (18)

Para não tornar pesada a leitura, serão colocados pequenos textos de "Como entender o chamado):

Charles G. Finney: Que nenhum homem pense que aqueles sermões, considerados tão poderosos, foram produzidos por minha cabeça... Eles não são meus, mas do Espírito Santo que habita em mim.’ (sem comentário).


‘Aquele que, pensando em nada, fazendo a mente parar de trabalhar (cessando pensamentos, lembranças, expectativas), aderindo à meditação ininterrupta, repetindo apenas a silaba OM (o ‘nome’ de Deus), atinge a meta suprema.’ (do ‘Bagavad Gita’, a Sublime Canção da Imortalidade, do bramanismo).

‘A vida real não é acreditar que existe uma divindade...; é conhecer essa divindade. Não se conhecem os nomes da verdadeira divindade e de seu Cordeiro até que sejam revelados, individualmente a cada um (cada um deve chegar lá por si mesmo)... Portanto, o filho do Espírito Santo só se revela (age) naquele em que é gerado (que teve o percebimento; como disse Paulo, em palavras semelhantes, ‘aguardo as dores do parto do Cristo que nascerá em vós’)... pois, a não ser que o homem nasça de novo, não poderá vê-lo... (o novo nascimento, resultado da experiência mística). Nesse dia sabereis que ‘eu estou no Pai, vós em mim e eu em vós.’ (que todos somos um) (Richard M. Bucke, ‘Consciência Cósmica’).

‘Deus é o pai de cada um de nós; mas ninguém, sem a iluminação (sem a percepção da verdade), pode compreender o profundo significado destas palavras.’ (Bucke).

‘... uma espécie de certeza imortal de que o Cristo havia nascido em mim e, em mim, permaneceria eternamente.’ (a vida não tem fim) (Bucke).

‘A partir daquela experiência, minha confiança tornou-se ilimitada... Aquilo que procuramos, com paixão, aqui e ali, dentro e fora, encontramos, enfim, dentro de nós mesmos. O reino interior! Deus! Essas são palavras cujo significado não devemos fantasiar (C.M.C., ‘Consciência. Cósmica’) (também S. Agostinho conta que, depois de procurar Deus, por muito tempo, fora dele, encontrou-o dentro dele mesmo, no mais íntimo de sua alma. Jesus disse: ‘... o reino de Deus está dentro de vós’, e Paulo: ‘vós sois o templo do Altíssimo’, ‘o Altíssimo habita em vós’).

‘Deixar (o ego) ir e deixar Deus vir... A cessação (das operações do ego) dos pensamentos, objetivos e projetos são as coisas mais importantes que devemos fazer, insistem os hindus e iogues, para se atingir essa meta tão elevada...; não devemos permitir-nos preocupação por dinheiro, comida, roupas, abrigo e outras necessidades (são distração, desatenção, que perturbam a meditação)... ’ (CMC, ‘Consc. Cósmica’) (‘quando o eu não é, Deus é’, isto é, quando o eu cessa, Deus está presente; Jesus: ‘não vos preocupeis com o dia de amanhã; a cada dia basta o seu cuidado’).

‘Quando estás a sós em tua cela, fecha a tua porta e senta-te a um canto; afasta tua mente de todas as coisas vãs e transitórias (das coisas do espaço-tempo, que são coisas finitas e o que é finito não pode perceber o infinito); volta teus olhos e pensamentos (para dentro de ti) e busca o lugar do coração, da tua alma (de onde nascem os pensamentos; isso é meditação). No princípio, tudo estará escuro e sem conforto, mas se perseverares dia e noite, sentirás uma alegria inefável e, tão logo a alma descubra o lugar do coração (onde Deus habita), te sentirás envolvido por uma luz mística e etérea.’ (Abade Mestre, séc.11, monastério do Monte Athos) (Jesus: ‘Aquele que perseverar até o fim será salvo’ e ‘O reino de Deus já está dentro de vós’; Paulo: ‘Vós sois o templo do Altíssimo’).

‘O fenômeno místico, a experiência direta de Deus,... deve ser, necessariamente, considerado o vértice das aspirações da inteligência e do coração... é uma vertigem de luz.’ (Pietro Ubaldi).

‘...o fator moral ocupa o primeiro plano e constitui, não só condição predominante, mas absoluta e irrevogável, tanto que ela representa o vértice da perfeição moral e religiosa...’ (Pietro Ubaldi) (para aquele que chegou).

‘... nada de miraculoso, excepcional, de gratuita e arbitrariamente concedido pelo céu (Pietro Ubaldi) (comparar com Carpenter e Teresa).

‘... assim, às diferentes fases da evolução moral correspondem diversos graus de conhecimento e diferentes aproximações da revelação da verdade. Quanto mais se aperfeiçoa o indivíduo, tanto mais sensível e potente se torna o instrumento consciência...’ (PU) (a iluminação é a expansão máxima da consciência).

‘... é necessário subir... por humildade de coração, pureza de intenção, sublimação de paixão...’ (PU).

‘...cada ser se torna escravo daquilo que ama... a comunhão de vibrações nos torna semelhantes àquilo que amamos... (seja relativo ao bem ou ao mal)... O evangelho é o método de harmonização universal... (pois ensina como chegar à percepção)... Deus não se demonstra; sente-se... A evolução espiritual (indicativa do caminho) é o aprofundamento de nossa consciência em nosso próprio interior... porque Deus está no fundo do coração do homem... A Ascensão, pois, é para dentro de nós mesmos... A intuição, que está na profundeza, é um contato mais próximo da verdade, do que a razão, que está na superfície... A consciência se estende em profundidade, nas zonas interiores, avança para Deus e tende à unificação com o Todo, a que se chega, pois, por introspecção (pela penetração no âmago do ser, pela meditação)... (PU).

‘O eu é uma estrada que se prolonga ao infinito... na direção de Deus... Aquele que se lança por esses caminhos, deve perder o apoio da compreensão humana (os demais dificilmente o compreenderão, quando não o hostilizam ou menosprezam...) O universo é harmonia que guia ao supremo amor, que é Deus; eu, simplesmente, me harmonizo (meditação). A sensação do sublime, o percebimento do sagrado, ‘paga’, largamente, cada esforço e, aos práticos se poderia dizer: o ‘negócio’ convém (práticos, os que acham que o buscador é apenas um sonhador, fora da realidade, quando é o mais prático dos práticos pois investe para a felicidade total)... O grau de ascensão do ser nos níveis espirituais (de consciência) mais elevados mede-se pelo grau de harmonização que sua consciência consegue atingir. E o índice exterior dessa harmonização é o amor’ (PU).

Para não ser pesada a leitura, PEQUENOS TEXTOS de "Como entender o chamado":

quinta-feira, 17 de junho de 2010

A VISÃO DA NOVA FÍSICA

(9) ‘A VISÃO DA NOVA FÍSICA’ (Jan 2008)




Baseado em livro de Fritjof Capra, físico quântico e pesquisador do misticismo oriental (com David e Thomas, monges beneditinos, estudiosos profundos de sua religião e das tradições mísicas; Thomas foi proibido, pela igreja, de estudar ioga e religiões orientais). Cultrix, 1988. Enormes mudanças, advindas das descobertas da física quântica, trouxeram implicações tremendas e vieram comprovar que a visão de mundo do misticismo milenar é idêntica à visão de mundo trazida pela nova física; tais mudanças se refletem em todas as áreas de atuação do homem, como nas ciências, incluindo medicina, psicologia, psiquiatria e nas religiões profundas.

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INTRODUÇÃO

Visão prévia dos novos paradigmas na ciência e na teologia:

Na ciência, o paradigma cartesiano é substituído por um paradigma novo, holístico, ecológico e sistêmico.

Na teologia, o paradigma racionalista da teologia, baseada em textos das Escrituras (como se as revelações contidas nas Escrituras Cristãs fossem a verdade definitiva; isto é, que após elas, nenhuma outra possa ser tomada como revelação genuína) usados como prova dos argumentos escolásticos (escolástica, filosofia baseada em Tomás de Aquino e Aristóteles, seguida fielmente pela Igreja) é substituído pelo paradigma holístico, ecumênico (geral, universal) ou tomístico transcendental (relativo a Tomás de Aquino).

Na ciência, muda-se da parte para o todo. A relação entre as partes e o todo se inverte; antes, acreditava-se que, em qualquer sistema complexo, o todo poderia ser entendido a partir do estudo de suas partes. Hoje, as propriedades das partes só podem ser entendidas a partir da dinâmica do todo; não há, pois, absolutamente, partes. O que chamamos de parte é meramente um modelo numa teia interdependente de relações. Hoje, sabe-se que é o todo que determina o comportamento das partes, ao contrário do que se acreditava anteriormente.

Na teologia, antes, acreditava-se que, para a compreensão da verdade inerente às revelações, deveria lhe ser acrescentada a soma total dos dogmas. Hoje, a relação entre as partes e o todo está invertida; muda-se de Deus como revelador da verdade, para a realidade como auto-revelação da divindade (Deus se revela o tempo todo). E a Revelação é um processo ininterrupto, não constituído de um bloco único, como se presumia, e o dogma (nem todos) focaliza (por aproximação) as experiências pessoais (inexprimíveis) da manifestação de Deus entre os homens.

Na ciência, toda teia de relações é intrinsecamente dinâmica e sabe-se que a compreensão do processo de conhecimento (isto é, a participação da mente do homem) deve ser incluída explicitamente na descrição dos fenômenos naturais. Antes, os alicerces do conhecimento estavam se desagregando; leis, partes, princípios e blocos de construção fundamentais, como se acreditou e se usou na ciência e filosofia por séculos, mostraram-se ser apenas representações metafóricas. Hoje, vigora a visão da rede interconexa de relações entre todos os fenômenos e coisas, rede na qual não há hierarquias; nenhuma coisa é mais importante que a outra. Também, contrariamente ao pensamento anterior de que a ciência poderia vir a explicar a certeza absoluta e final, reconhece-se que ela nunca poderá dar uma compreensão completa e definitiva da realidade e que todos os conceitos, teorias e descobertas são sempre limitados e só aproximações (os princípios da incerteza e da incompletude, dos físicos quânticos).

Na teologia, o novo paradigma mostra que o processo de ‘salvação’ é a grande verdade da manifestação de Deus, e que a revelação, como tal, é intrinsecamente dinâmica. Acreditava-se que os relatos (dos iluminados) eram objetivos, isto é, independentes da pessoa que os experienciava e do processo de conhecimento. Hoje, percebe-se que a reflexão sobre os modos não-conceituais de conhecimento - intuitivos, afetivos, místicos - deve ser incluída explicitamente no discurso teológico, havendo uma concordância crescente de que o modo de conhecimento não-conceitual (sem conceitos ou palavras; meditação) constitui parte integrante e essencial da teologia. As bases do conhecimento teológico estavam se desagregando; a crença em leis, princípios, blocos de construção fundamentais, usados por séculos pela teologia, ruiu. Está surgindo a visão da rede de inter-relações, os enunciados da teologia formando uma rede interconexa de diferentes perspectivas sobre a realidade transcendental. Não há mais um bloco único de enunciados de verdades teológicas, mas uma rede na qual cada aspecto pode produzir introspecções (reflexões íntimas) válidas sobre a verdade, o que implica no abandono da idéia de um sistema único de teologia constituindo a verdade única para todos os que crêem e para a doutrina Reconhece-se o caráter limitado e aproximado de todo enunciado teológico e sabe-se que a teologia nunca poderá fornecer uma compreensão definitiva e completa dos mistérios divinos (da verdade última).



EXPLICAÇÕES

O autor, pesquisador das tradições orientais, percebeu semelhanças surpreendentes entre as teorias da ciência moderna, particularmente as da física quântica, que é sua área, e as idéias básicas do hinduísmo, budismo e taoísmo. Essa descoberta lhe trouxe intensa transformação pessoal, que o fez voltar-se para a espiritualidade oriental.

O monge David é católico e budista, tal como são, hoje, muitas pessoas que redescobriram seu cristianismo num nível muito mais profundo graças à prática do Zen. Afirma que, numerosas pessoas, que sob todos os aspectos podem ser chamadas de adultos, pela formação religiosa não passam de crianças (estão, ainda, no jardim da infância e, dificilmente, chegarão à Graduação Universitária). Isso ocorre com cientistas e mesmo com religiosos praticantes, estudiosos e devotos (particularmente no Ocidente).



CIÊNCIA E TEOLOGIA

O objetivo da ciência é o conhecimento sistemático do universo físico. Esse objetivo, de conhecer para dominar ou controlar a natureza, está muito ligado à teologia. Nesta, o objetivo é o conhecimento direto do Espírito Absoluto no aqui/agora, um conhecimento que transforma a maneira como o homem vive sua vida no mundo.

Quando uma experiência espiritual original é transformada em religião, surge a institucionalização da espiritualidade. A religião institucionalizada procura entender e expressar a experiência original em palavras e conceitos e, a seguir, produz sua dimensão social ao transformar aquela experiência num princípio de vida para a comunidade. Religião, com R maiúsculo, é o sentido pleno de religiosidade do qual fluem todas as religiões (com r minúsculo). Na vida dos homens, religiosidade transforma-se em religião; quando institucionalizada, torna-se religião organizada, popular.

Numa experiência de pico (em geral fruto da meditação) encontramos significado e tudo faz sentido, vida, morte, dor, tudo. Vagamente, ou até inconscientemente, ansiamos por esse sentido. Daí pode surgir a Espiritualidade (ou religiosidade), um modo de ser e viver que flui a partir da experiência religiosa. (Como diz K, ‘compreender é agir’).

A vida é um questionamento. E, por vezes, sem razão aparente, num estalo, sabemos a resposta, resposta que não é soletrada, mas compreendida pelo íntimo e dizemos ‘É isso aí!’ Essa experiência produz tranqüilidade em nosso estado comum de inquietação com o qual, permanentemente, vivemos. Nesses momentos de pico, sentimos que fazemos parte de algo maior do que nós, e que ‘encontramos o nosso lugar’, ‘pertencemos a isto’, ‘agora estamos em casa’, que pertencemos a todos os seres, homens, animais, plantas; isto é, nós todos nos pertencemos nesta unidade cósmica (uns aos outros e ao todo onde tudo é Um).

Mas, como nascem, dessa percepção, as religiões que vemos ao nosso redor? Quando ocorre uma experiência que nos comove profundamente, e que percebemos ter relação com a existência, forçosamente refletimos sobre ela; daí surge a teologia, que é o esforço para compreender o significado da experiência e sua implicação em face da Religião; essa compreensão é que nos trás a experiência religiosa de pertencer àquilo de que pensávamos que éramos apenas parte. A raiz de religião é ligação (religação); a de teologia é theos, Deus (estudo sobre as coisas de Deus). Isso nos trás a referência de nosso pertencer, a única realidade à qual pertencemos e que pertence também intimamente a nós. Essa experiência de pertencer forçosamente leva a uma certa maneira de viver, uma conduta moral que está relacionada com a realidade cósmica. Quando o intelecto trabalha com a experiência religiosa, surge a teologia.

A percepção de pertencer trás alegria sem limites (bem-aventurança), e faz com que se deseje sempre mais e mais. E nossa vontade é motivada a se mover em direção àquilo que, por fim, se torna a ética ou a moral (para os relacionamentos, os pensamentos e o comportamento). A moral é nossa boa vontade em nos conduzirmos em relação àqueles com os quais estamos unidos, como percebemos nessa experiência, por um forte vínculo de pertencer. Já o ritual destina-se a celebrar e relembrar repetidas vezes essa experiência do mais profundo sentimento de pertencer (evidentemente, para quem teve a experiência). A ‘gratidão’ é expressa pelo ritual; a gratidão por estar vivo, por pertencermos a este universo, pela aquisição da percepção. O ritual é uma grata celebração da vida, que percebemos, pela experiência mística, ser infinita e eterna.

A ciência e a teologia são ambas reflexões sobre essa experiência, nas quais tentamos sempre atingir níveis cada vez mais profundos da realidade. A teologia reflete sobre as experiências mais relevantes para o ser humano, as experiências internas; a ciência reflete sobre as experiências externas (hoje, a filosofia da ciência já está refletindo sobre experiências internas, particularmente a partir da quântica, da aproximação das tradições orientais e dos trabalhos de místicos e de psicólogos sérios e profundos, ocidentais).

Como tais reflexões se referiam a aspectos diferentes, tradicionalmente ciência e religião estavam em choque (fato que tende a cessar pois, hoje, ambas se inspiram mutuamente). Ambas são caminhos que levam a um maior entendimento da realidade; apresentam grandes diferenças e grandes semelhanças. Baseiam-se na experiência e num certo tipo de observação sistemática e, mesmo havendo grandes diferenças nas maneiras como cientistas e teólogos observam, são reflexões teóricas sobre a experiência. São abordagens da experiência humana, a ciência perguntando o ‘como’ e a teologia o ‘por que’. O ‘por que’ está ligado ao significado; o ‘como’ quer saber de que modo um fenômeno está ligado a todos os outros fenômenos. Se percebermos mais e mais conexões, acabamos revelando o contexto inteiro que, na verdade, é o ‘por que’ buscado (logo, hoje, ciência e religião se complementam).

A religiosidade de uma pessoa influencia inevitavelmente sua posição na vida de relações, e é expressão de sua teologia (religião) particular, pessoal, de sua reflexão individual sobre a experiência que teve de Deus.

(Há, hoje, muitas pessoas, inclusive cientistas, praticando a meditação zen budista, que está em perfeito acordo com as teorias científicas).

Toda e qualquer coisa que se afirme em ciência será sempre descrição aproximada e limitada da realidade. Do mesmo modo na teologia, que é a fé em busca de convencimento, não se pode abranger o significado total do mistério; seu entendimento é sempre aproximado e limitado. Mas, quando o homem está muito envolvido com a vida quanto com a teologia, tende a julgar essas aproximações como sendo a verdade inteira, interpretando-as erradamente, fato que ocorre com freqüência, e que tem trazido implicações nocivas à humanidade.

A fé religiosa é um conhecimento gerado por certo tipo de experiência individual. O cristianismo e o budismo enfatizam que a fé verdadeira vinda do conhecimento de Deus é uma dádiva de Deus. Contudo, a fé sem base, a fé transmitida pelas religiões populares, usada como sinônimo de crença, é deficiente e muitas vezes perigosa.

A fé é uma confiança naquele supremo sentimento de pertencer que se vivencia nos momentos de pico, na experiência religiosa. É a postura pela qual você se entrega aos cuidados desse pertencer. Mesmo cientistas, em particular os mais intuitivos, possuem esse tipo de fé. A teologia é algo que vem depois da fé; está a serviço da fé e serve para tentar expandi-la.

O sentimento de estar salvo vem da percepção de nossa ligação com o todo, da experiência de estar, com certeza inabalável, em casa.

Hoje, entende-se a revelação como um processo histórico sempre em andamento, no qual a natureza e o propósito de Deus são revelados para ‘aqueles que o buscam’. Quando tenho uma experiência religiosa, estou explorando, conhecendo Deus; contudo a ação não é minha; é ação de Deus que se revela à minha compreensão. Quando buscamos Deus, de súbito chegamos a um ponto no qual descobrimos que Deus está se entregando a nós. Na meditação não somos nós que chegamos a ela, mas ela é que chega a nós. A revelação é sempre individual (nunca coletiva) e subjetiva (nunca exterior). É uma introvisão, uma percepção interna de nossa parte. Uma vez que Deus é o nosso ‘eu’ mais profundo, a verdade, a auto-revelação divina é sempre percebida pelo âmago de nosso ser (na nossa psique). Não é uma informação vinda de fora; é uma descoberta que vem de dentro, da nossa ligação com a fonte de todas as coisas.

Fé é esse tipo de auto-entrega a Deus que se revela e me revela meu verdadeiro eu (que é Ele). Esta é a seqüência: experiência - revelação, resposta - fé, e, após, vem a reflexão sobre o experimentado, que resulta em entendimento-teologia, necessário para relembrar aquela experiência com a verdade, e para poder comunicá-la aos demais. Mas, tal comunicação é impossível, por muitas razões, e somente em parte, ou por metáforas, pode ser transmitida. A revelação é, assim, a base da fé. A crença nada representa, nada é. A teologia é o resultado da exploração intelectual daquilo que se entendeu acerca da experiência-revelação.

O ascetismo é uma prática sistemática cujo objetivo é nos prepararmos para a experiência religiosa. Deus está se revelando a nós incessantemente na realidade do dia-a-dia, mas só o percebemos se nos tornarmos receptivos a isso. Esse é o objetivo do ascetismo (que procura o desenvolvimento da sensibilidade, o aguçamento dos sentidos, confiança, entrega, gratidão, persistência, atenção; não se apegar às coisas; fazer as coisas tão bem quanto se puder, mas sem se preocupar com os resultados; estar atento a tudo no momento presente. Tais objetivos somente são alcançados na experiência mística, pela meditação).

Uma das razões, pelas quais temos de dar atenção a tudo, é que estamos por demais mergulhados nas coisas do dia-a-dia, às quais não podemos prestar a devida atenção. Por exemplo, o jejum: estamos tão empanturrados de alimentos que, de fato, não conseguimos comer um pedaço de pão com sentimento de gratidão. Nós temos coisas demais. Desse modo, para nos tornarmos atentos, temos de jejuar e depois comer um pedaço de pão e nele focalizar, de maneira efetiva, nossa atenção.

O ascetismo é o lado de nossa vida moral voltado para a experiência mística; o outro lado está voltado para a interação social (hoje em dia, a igreja esqueceu as práticas do ascetismo e só se dedica à interação social).

Do mesmo modo que a ciência teve, em certos momentos, necessidade de ‘presumir’ certos conceitos que depois viu que eram errados (o éter universal teve papel importante para explicar certos fenômenos, até fins do séc. XIX), certos conceitos teológicos foram ‘presumidos’ porque pareciam urgentemente necessários para a compreensão da fé, e agora deixaram de sê-lo (não são mais necessários, como o conceito geocêntrico, o inferno, o diabo, limbo, o pecado original e outros nos quais os fiéis acreditaram por muitos séculos).

Não temos meios para imaginar como a luz do Sol alcança a Terra. Experimentos do séc. XX acerca do magnetismo culminaram na descoberta de que a luz consiste de campos elétricos e magnéticos que se alternam rapidamente e viajam pelo espaço na forma de ondas. Isso ultrapassou a física newtoniana e levou a ciência para a física moderna, a física quântica. Embora cada onda necessite de um meio para se propagar, uma onda de água necessita da água, que é perturbada e a seguir se move para cima e para baixo, à medida que a onda passa através dela; uma onda sonora necessita de partículas de ar, que vibram à medida que a onda passa por elas, as ondas de luz viajam através do espaço ‘vazio’, onde não há nenhum meio para transmitir as vibrações. Então, o que está vibrando numa onda de luz? Isso levou os cientistas a presumir o éter. Foi necessário Einstein para afirmar que não havia éter algum, que a luz não precisa de meio para se propagar porque ela se manifesta também sob a forma de partículas, que podem viajar num espaço vazio. Ele as chamou de quanta de luz, o que deu nome à física quântica, dos fenômenos atômicos. A luta que se travou com a questão: ‘Em que sentido, exatamente, um quantum de luz é uma partícula ou é uma onda?’ É a história da física quântica. Os físicos compreenderam, então, que as ondas de luz são ‘ondas de probabilidades’, isto é, dão a probabilidade de encontrar uma partícula de luz (fóton) num determinado lugar quando você procura por ela (observa), e o éter tornou-se desnecessário.

Na teologia, exemplo de teoria desnecessária é o universo geocêntrico. A Bíblia afirma ‘O Sol parou’ e era necessário, para não deixar dúvida sobre a verdade da Escritura, dizer que o Sol é que se movia ao redor da Terra (afirmação contrariada por Galileu Galilei, que teve de se retratar, no tribunal da santa inquisição, senão morreria na fogueira). Depois, deixou de ser necessário esse conceito de uma Terra imóvel, centro do universo.

Como a ciência, a Bíblia (a teologia) usa de modelos e metáforas para tentar se explicar. As metáforas apontam para a verdade, mas não são a verdade. Por exemplo, tudo que é dito a respeito de Deus é analogia; há uma diferença infinita entre Deus e tudo que dizemos a respeito dele.

Outro conceito que se tornou desnecessário é o do limbo. Crianças que morressem sem batismo não iriam para o céu devido ao pecado original; também não poderiam ir para o inferno. Então, inventou-se o limbo, um estado intermediário, o que provocou tremenda tristeza àqueles pais cujos filhos morriam antes do batismo. O limbo foi a conclusão teológica de Santo Agostinho, que considerava o pecado original um pecado transmitido a cada um durante a concepção. Por isso, toda a humanidade era uma massa amaldiçoada. Para Agostinho, até o ato de conceber uma criança, o ato sexual, era pecaminoso (embora Deus dissesse: ‘Crescei e multiplicai-vos’). Essa visão prevaleceu devido à importância de Agostinho na teologia católica. A noção absurda de limbo insinuou-se na mentalidade católica e textos teológicos, e veio a ser considerada doutrina, quando na verdade não passava de uma idéia sem fundamento.

O cristianismo ortodoxo oriental tinha outra visão do pecado original, não incluindo a idéia de culpa transmitida e não vendo a humanidade como massa amaldiçoada; as crianças, se morrem antes do batismo, são levadas à presença de Cristo e não ao limbo.

O problema, porém, não está resolvido; a doutrina católica não é clara, mas reconhece que a natureza humana está profundamente ferida (doente), e que temos, por isso, necessidade de salvação. É pecado original porque, desde nosso nascimento, ‘alguma coisa está fora de ordem, errada com a existência’, tanto que as tradições religiosas partem desse reconhecimento de que há alguma coisa errada conosco, que estamos perdidos e que temos de encontrar o ‘caminho para casa’. Daí o estarmos ‘desterrados neste vale de lágrimas’, dos católicos; o planeta de expiação e provas’ dos espíritas; o ‘assédio constante de satanás sobre os homens’, dos evangélicos. E todos cremos nessa condição, pois os homens não questionam e, assim, nossa sociedade é confusa e insana.

O desafio da heresia e o contato com outras tradições têm tido efeito benéfico na teologia; os chamados hereges, muitas vezes, contribuíram enormemente para o meticuloso exame daquilo que se considerava errado na doutrina, daí resultando conclusões que, realmente, passaram a ser a fé da comunidade.

Nos primeiros séculos do cristianismo, considerava-se que a teologia tinha de ser fruto de profunda convicção intelectual e, acima de tudo, de intensa experiência pessoal. Quase todos os Pais da Igreja eram místicos. A crise da experiência religiosa e do misticismo, no Ocidente, coincidiu com o aparecimento do modelo escolástico, de Tomas de Aquino. A teologia sofreu tremenda fragmentação; a Igreja se separou da teologia, e surgiram, seguindo caminhos diferentes, a teologia dogmática, a teologia moral, a teologia ascética; a própria teologia dogmática dividiu-se em tratados. O resultado disso foi tremenda tensão entre o teólogo, especializado no exame do pensamento cristão, e a pessoa já espiritualizada que está tentando viver profundamente o ensinamento na prática do dia-a-dia (a fragmentação da teologia resultou em se relegar para um segundo plano a experiência mística, que deveria ser a meta principal de qualquer religião).

No velho cristianismo, tanto os padres ortodoxos como os ‘hereges’ tinham basicamente a mesma concepção do objetivo da teologia: levar o crente a um conhecimento de Deus, pela experiência pessoal. Não um conhecimento puramente intelectual, mas um conhecimento que transforma totalmente, e que, como diziam os primeiros escritores cristãos, ‘diviniza’ o homem (mostra que o homem é divino, que somos a divindade).

A igreja proibia o teólogo de se tornar muito místico. Ele tinha de permanecer no nível intelectual. Mas isso só ocorreu no Ocidente; a Igreja Oriental continuou na linha da teologia mística e, por isso, as duas igrejas se estranhavam mutuamente. Mesmo assim, a Igreja Ocidental teve seus místicos autênticos: Meister Eckhart, Jacob Boheme, João da Cruz, Thereza de Ávila, Maister Echkart, entre outros Muitos deles foram condenados ao silêncio por que a experiência mística tornou-se suspeita após a cisão protestante.

Acreditava-se que a profunda comunhão com Deus era privilégio só dos ‘místicos’ e ‘santos’. Hoje, o sentido de comunhão está amplamente difundido; cada um pode ser um místico em variados graus. Mas, devido à distinção entre a teologia e as experiências espirituais, Tomas de Aquino, de profunda experiência espiritual, viveu sua vida mística num plano imensamente distante da teologia que pregava. Contudo, antes de morrer, quando a tensão entre sua experiência e sua teologia tornara-se intolerável, ele afirmou, a respeito de sua pregação teológica: ‘É tudo palha!’ (sem valor).

Do mesmo modo que na ciência existem obstáculos impostos pelo poder que não financia projetos que não forem de seu interesse, na Igreja existe o poder de proibir os teólogos de falar, de excluí-los dos postos onde seriam ouvidos, e nem mais os denominam de teólogo católico (Giordano Bruno, Leonardo Boff, Teilhard de Chardin são exemplos).

Clima favorável para mudança na Igreja (em grande parte devido aos mosteiros beneditinos, verdadeiros laboratórios de experiências religiosas) ocorreu após a experiência mal sucedida de silenciar alguns dos melhores teólogos, como o jesuíta Teilhard de Chardin, que foi proibido de publicar qualquer um de seus escritos teológicos ou filosóficos até o fim de sua vida. Mas, com o Concilio Vaticano II, tornou-se evidente a necessidade de nova orientação teológica da Igreja, talvez até mesmo para assegurar a sobrevivência do cristianismo (ver ‘Cristianismo Perdido’).

Lambert, monge beneditino, foi aprisionado e silenciado pela Igreja por ser favorável ao ecumenismo e ao diálogo com a Igreja Ortodoxa oriental, anglicanos e protestantes. Antes de morrer pode ver um Concílio acatar suas idéias de atender às necessidades da Igreja. Os Cristãos não mais encontravam, na Igreja, o que os satisfizesse, isto é, uma teologia e uma prática ecumênica mais espiritualizadas, centradas na celebração do mistério do Cristo (nos ensinamentos e não na vida de Jesus).

Não se pode dizer que uma experiência religiosa não seja cristã apenas porque ocorreu em outra religião. Específico para o cristianismo é ‘Jesus’, sua vida, morte e ressurreição; e a conseqüência nas comunidades que acreditam nele. Mas, ‘Cristo’ não pode ser monopolizado pelo cristianismo, porque é universal. Não conseguimos compreender Jesus a não ser como um místico. Misticismo é a experiência da união com a Realidade Suprema. Por isso, entendemos que o Cristo é universal (como o Buda e outros).

Jesus nos trouxe as implicações da percepção mística em termos do Reino de Deus, isto é, o poder salvador de Deus na história. Mas, seus seguidores nos ensinam a história de Jesus, quando, na verdade, deveriam nos transmitir os ensinamentos de Jesus. O poder salvador de Deus é experimentado na experiência religiosa, a experiência de pertencer sem limites, que vivenciamos em nossos momentos de pico (momentos do Reino) e nos liberta da insanidade em que vivemos. Mas, a mensagem de Jesus vai além do Reino. Ele nos diz que já estamos salvos, que já fomos aceitos. Paulo disse: ‘Não é pelas vossas obras, mas pela graça (grátis, gratuitamente) de Deus que sois salvos’; logo, a salvação é uma ação de Deus sobre o homem. Nada precisamos fazer.



JESUS E GAUTAMA.

As mensagens de Jesus e Gautama são semelhantes: para o budismo, o caminho para a experiência mística é uma vida moral e correta. Para o cristianismo, as condições são amar, perdoar, respeitar. Não há diferença. Como Gautama, Jesus não veio ‘para destruir, mas para cumprir’ e para proclamar que o caminho para a iluminação estava aberto para todos. Buda ensinou que a iluminação é a percepção daquilo que eternamente já é. No cristianismo, Paulo disse: ‘Torne-se o que você é’ (Conhece-te a ti mesmo). Lamentavelmente, após sua morte, passamos a ter um cristianismo sobre Jesus em vez do cristianismo de Jesus. Enquanto Jesus pregou o Reino de Deus, a Igreja prega Jesus. Enquanto Jesus afirmou ‘Eu sou Deus’, ou ‘Eu e o Pai somos um’, ele está totalmente dentro do pensamento místico do ‘Tu és Isto’; mas esse não é o ensinamento da Igreja, que dá a Jesus posição especial, superior a todos os demais, como na Santíssima Trindade (que foi imposta aos fiéis cristãos por decreto do imperador Constantino, apesar do desacordo de 80, dos 320 bispos presentes, que foram, por isso, expulsos do conclave).

Historicamente, Jesus atribuiu à mulher posição diferente daquela que a ela a sociedade dava (fato que, parece, nem os Evangelhos revelam). Isso lhe valeu inimigos, que persistem até hoje.

O que separa Jesus de nós não é o dogma cristão da Trindade, mas uma compreensão equivocada desse dogma. A compreensão correta da Trindade inclui você e eu, pois é impossível julgar Jesus separado de nós (Paulo: ‘somos co-herdeiros’). Se Jesus não pertence à Trindade, nem nós pertencemos e, assim, não somos participantes da natureza divina.

A afirmação de que o fato de haver ‘ressuscitado’ é a prova de que Jesus é Deus é teologia ultrapassada, do velho paradigma; hoje, nenhum teólogo responsável fará uma afirmação dessas. O pensamento do novo paradigma apresenta o problema de maneira diferente: vendo que Jesus ressuscitara, os discípulos compreenderam que, também eles, ressuscitariam, que todos o faremos um dia. Por isso Paulo disse: ‘Se nós não ressuscitarmos, nem Jesus ressuscitou’. Isto é como afirmar que todos somos Deus, pois mesmo após a morte estaremos vivos de uma maneira diferente (Krishnamurti; um novo estado de existir), mas não menos real. O importante é que as expressões mais antigas do cristianismo estavam centralizadas na ressurreição, que é a chave para se compreender o poder salvador de Deus.



ECOLOGIA E RELIGIÃO

A percepção ecológica e a consciência ecológica vão muito além da ciência e, num nível mais profundo, elas se unem à percepção religiosa e à experiência mística, pois são percepção da interligação e interdependência de todos fenômenos e coisas do universo. Nessa percepção mais profunda, ecologia e religião se encontram. A visão de mundo que nasce, hoje, da ciência moderna é ecológica, e percepção ecológica em seu sentido mais profundo é percepção espiritual. É por isso que o novo paradigma, no âmbito da ciência, e mais fora dela, é acompanhado de um aumento de espiritualidade, de uma nova espécie de religiosidade.

Onde a ciência diz ‘ecológico’, a religião diz ‘ecumênico’, o que dá a idéia de um lar ou morada que deve ser preservada a todo custo, pois é do homem, talvez para sempre. Não apenas morada do ser humano, mas de todos os seres; Deus, conforme o Velho Testamento, ‘soprou seu alento para todas as criaturas viventes’ (hoje, a filosofia da quântica tem a mesma visão).



MISSÃO

‘Dar testemunho da fé’ é tornar a fé conhecida pregando-a e, acima de tudo, vivendo-a; e só pode dar esse testemunho aquele que passou pela experiência religiosa (antes disso, qualquer testemunho, virtude ou ética serão prematuros ou imitação). A missão da Igreja não deve ser converter (trazer os desgarrados para suas fileiras), mas libertar os homens, levando-os a perceber o que realmente somos.



MUDANÇA DAS PARTES PARA O TODO

Como vimos, não há partes (isoladas) em absoluto. O que chamamos de parte é um padrão numa teia inseparável de relações. A única maneira de entender a parte é entender sua relação com o todo, descoberta que ocorreu tanto na física, e é fundamental na ecologia, como ocorreu na teologia. Na teologia do novo paradigma, não se pode falar a respeito de qualquer proposição de fé sem implicar todas as outras. O entendimento de uma parte, de uma doutrina ou ensinamento, nunca ocorre isolado do todo, que é onde está o significado. O significado não está numa afirmação ou num dogma ou no que quer que seja. Isso lembra a teoria bootstrap, da física quântica, que afirma que cada partícula, num certo sentido, contém todas as outras (a alegoria, na qual Buda surge, após a iluminação, com um colar de gemas cujos brilhos se interpenetram mutuamente). Era esse princípio de máxima importância na teologia da Idade Média (hoje, está esquecido).

Nessa visão, não se pode, em absoluto, afirmar que uma coisa, espécie, lei ou princípio é ‘superior’ ou ‘inferior’ a qualquer outra. Cada espécie animal tem características especiais. Se falassem, as abelhas, cães etc., diriam que eles são o ponto mais alto da criação.

No novo paradigma, todas as coisas são criadas pelo alento de Deus, concordando com a Bíblia: ‘Dais o vosso alento a todas as criaturas e elas vêm à vida. ’, e ‘Se retirais o vosso espírito, elas morrem’. Desse modo, plantas, animais e todas as coisas, estão cheias do sopro divino. A confusão nasceu porque isso foi proclamado explicitamente (e erradamente) apenas para o caso dos seres humanos, pois a mensagem bíblica foi dirigida somente aos homens.

A concepção de que a alma é uma característica somente dos seres humanos não é bíblica, nem o conceito de alma imortal no sentido popular aceito. Apenas um livro da Bíblia fala da imortalidade da alma, o livro da Sabedoria, de Salomão que, por sinal, não é reconhecido pelos eruditos judeus nem pelos protestantes.

Até mesmo a ressurreição de Jesus tem pouco a ver com a imortalidade da alma, noção que penetrou na tradição cristã através da filosofia grega. A idéia de que somente os seres humanos irão para o céu não é teologia. É apenas tolice que se disseminou e fez mal às crianças porque seus animais de estimação não iriam para o céu. A ressurreição da carne, o Credo, e a vida eterna, são privilégio dos humanos somente na opinião popular. O significado correto é Renovação Cósmica (o novo estado de existir, de que falou Krishnamurti).

Muitas coisas afirmadas sobre a imortalidade da alma não são bíblicas. Foram introduzidas posteriormente, recebidas de outras tradições e nos confundiram. Quando você morre, o tempo acabou para você; não há nada após a morte. Morte é, por definição, aquilo após o que nada mais existe. Não há um ‘depois’. Mas quando o tempo acabou, tudo que está além do tempo permanece. Não está sujeito à mudança. Fora do tempo, possuímos a vida num ‘agora que não acabará nunca’. O tempo não mais nos separará (pois tempo é ilusão, e todos somos um só) e todos os seres terão vida plena, numa plenitude que já é nossa (mas que, agora, não percebemos, como afirmam as tradições místicas ocidentais e orientais).

A Bíblia diz que ‘toda a criação geme esperando pela revelação dos filhos de Deus, desde as angústias do nascimento’. Estamos todos presos nessa condição comum que é considerada dolorosa. Mas, Isaias afirma que, no fim dos tempos ‘o lobo se deitará junto ao cordeiro; a criancinha porá sua mão no covil das cobras’. Este é o projeto para a humanidade, uma situação onde haverá total harmonia e total ingenuidade (simplicidade, ausência de malícia), total paz (o novo estado de existir).

Quanto à posição humana no universo, quando é que sentimos que somos feitos à imagem e semelhança de Deus? Nos nossos melhores momentos, pois toda noção de Deus vem desses momentos especiais de pico, quando percebemos que nosso verdadeiro eu é o próprio Deus.

Infelizmente o Livro do Gênesis tem sido mal interpretado. Fomos colocados no Jardim (Éden)‘para o cultivar e guardar’. É aí que entra nossa responsabilidade: somos responsáveis por esse Jardim; portanto, devemos administrá-lo e não dominá-lo e explorá-lo de modo destrutivo como temos feito. O jardineiro, os homens, parece que, para cultivá-lo, estão do lado de fora do jardim, mas essa visão de separação equivale à Queda que afasta o jardineiro do jardim. Antes da Queda, o jardineiro não sabia que estava nu. Essa idéia de nudez nada tem que ver com sexualidade; é a experiência da separação (dualismo), a condição em que todos nós nos encontramos, alienados (sem percepção) do cosmos. Mas, no Paraíso, somos parte integral do todo (somos o todo; ver Schrödinger); ali, estamos em casa.

Responsabilidade é a capacidade de dar uma resposta apropriada, é sensibilidade. A maioria das espécies tem a resposta adequada. Não há nada de não-apropriado na maneira como animais e plantas respondem ao seu meio-ambiente. Mas a resposta humana pode não estar apropriada, pois temos a capacidade para destruir a natureza e, portanto, a nós mesmos. Parece que somente os seres humanos têm o terrível poder de agir assim, de destruir sua própria casa, seu planeta.

Daí vem a questão da liberdade. A liberdade e a responsabilidade caminham juntas. Isso é parte da nossa experiência: enquanto jardineiros nossa responsabilidade é a de nos religarmos ao jardim e não destruí-lo, nos separando dele e nos colocando, irresponsavelmente, acima da natureza, como seus donos, como se pudéssemos fazer dela o que quisermos. Esse é um aspecto da Queda, que nos toldou a visão pelas ilusões geradas (a Queda nos deu o primeiro dualismo ilusório: a divisão eu/não-eu, eu e o universo, a ilusão de que o universo é ameaçador, inimigo; por isso, sofremos).

A noção política de liberdade, do velho paradigma clássico, contrasta surpreendentemente com a noção de liberdade dos Evangelhos. A política permite que se passe por cima dos outros, enquanto o evangelho diz, em Filip 2: ‘A si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de um servo’, e João Batista: ‘Ele deve crescer, enquanto que eu devo diminuir’. Jesus: ‘Aquele que quiser ser o maior, que se faça o menor’. Num universo totalmente inter-relacionado, o crescimento de qualquer um implica no crescimento dos demais (e não, no contrário, que o homem sempre faz).

Nós temos capacidade e liberdade de formar conceitos (mas não de escolher) e, conforme o modo como utilizamos essa capacidade somos levados a transtornos (conflitos), pois nossos conceitos não vêm da fonte divina. Esta só é alcançada na experiência mística.

A principal discussão do pensamento ecológico atual centraliza-se na diferença entre ecologia profunda e superficial. A superficial vê os seres humanos como situados acima da natureza, como os mais importantes e os dominadores; a ecologia profunda vê os seres humanos como apenas mais um fio dentre os muitos fios da teia da vida, todos de mesma importância.

Deus não está lá em cima e o universo aqui em baixo. Por isso Santo Agostinho disse que a transcendência de Deus é uma transcendência para dentro: ‘Deus está mais perto de mim do que eu mesmo’. Assim, toda resposta às dúvidas que temos sobre Deus tem que ser encontradas na nossa própria experiência, dentro de nós, e não nas palavras de outrem. A experiência de Deus está além do conhecimento (da imaginação, do raciocínio, do intelecto, do ego). A experiência de Deus transcende todos os nossos conceitos, até mesmo o conceito de transcendência, de tudo a respeito do que se possa falar, e o silêncio é a postura adequada. Um axioma básico da tradição teológica afirma que tudo que a teologia diz a respeito de Deus, não importa quão correto seja, é mais falso do que verdadeiro (isto é, refere-se, apenas, aos ‘efeitos’ de Deus).

Gregory Bateson dizia que a mente não é uma coisa, mas um processo de auto-organização, o próprio processo da vida. Logo, em todos os níveis, o processo da vida é um processo mental. Assim, (como o processo mental de cada ser é que o organiza), o processo mental da consciência coletiva do nosso planeta é o processo de auto-organização do planeta, enquanto a consciência cósmica é o processo de auto-organização de todo o cosmos (ver ‘Universo Autoconsciente’). Isso é o que entendemos por ‘Deus’: o processo cósmico de auto-organização (bootstrap).

Pela teologia, mesmo no velho paradigma, a criação é um processo em andamento aqui e agora. Não fosse assim, tudo entraria em colapso. (A criação é um processo de sempre, sem fim, e inclui a mente senciente que completa o processo criativo, determinando, com o colapso das ondas de probabilidades, a manifestação de tudo no universo).

Embora a tradição cristã creia que Deus é um em três pessoas, Deus não é uma ‘pessoa’ no sentido comum; significa que seu relacionamento com o homem é ‘pessoal’, e se dá por meio da compaixão e da auto-revelação (advindas da meditação).

O uso correto do termo Deus é para indicar a direção do pertencer, à última e mais elevada realidade. Isso é misticismo, e qualquer um pode vivenciá-lo diariamente, porque Deus está relacionado conosco de maneira pessoal, e é o nosso verdadeiro eu. Os grandes teólogos sempre afirmaram que fazemos parte da (os místicos, que somos a) própria vida de Deus.

Dizemos ‘Deus é amor’ exatamente porque ‘amor’ é precisamente o pertencer, o que se sente ao pertencer. Quando o homem rastreia até a sua fonte - o vazio - a compaixão que recebe de volta, fica sabendo o porquê da afirmativa ‘Deus nos amou em primeiro lugar’. Na meditação, podemos ter essa experiência.

Dizer que Deus criou os seres humanos à sua imagem, ‘macho e fêmea Deus os fez’, implica o fato de que a imagem de Deus é o par, e não o indivíduo. No entanto, toda a hierarquia católica consiste de homens e Deus é sempre macho; devia ser ele e ela. É injustiça, na Igreja e na tradição cristã, manter a mulher numa posição de inferioridade. Jesus fez inimigos ao tratar as mulheres como iguais aos homens, o que não era aceito na sociedade de então e, mesmo hoje, em muitas sociedades e culturas.

Em que sentido somos criados à imagem de Deus? Não sabemos com que Deus se parece, senão em nossos melhores momentos; nas experiências místicas sabemos que ‘tocamos’ a divindade, que nosso verdadeiro eu é o próprio Deus. É isso que é ser criado à imagem e à semelhança de Deus. Isso nos é dado com nossa própria existência e é uma realidade que podemos descobrir se nos dirigirmos às profundezas de nosso ser, pela meditação. Nossa vida tem como origem e fim a ‘vida’ de Deus. É ali que nossa vida como seres humanos começa e é ali que ela termina.

Se desejamos amar a Deus, devemos voltar-nos para o humano e para toda a criação, pois tudo tem o sopro de Deus (mas o verdadeiro amor, como as verdadeiras virtudes, só nos vem com a experiência religiosa).

Espírito e matéria são duas faces da mesma moeda, dois aspectos entrelaçados da realidade (não são coisas separadas).

O invisível é o modelo do visível (Jung, os arquétipos).

A teoria da auto-organização, como as tradições místicas, afirma que não há objetivo na criação. O que acontece é criatividade, como resposta mental contínua às influencias (causadas pelas mudanças) ambientais, a cada passo. Mas, não há plano, nem projeto ou direção. Deus simplesmente é; Deus não tem propósito.

Antes, acreditava-se que as descrições cientificas eram objetivas, isto é, independentes do observador humano e do processo de conhecimento. No novo paradigma, o processo de conhecimento obrigatoriamente tem de ser incluído na descrição dos fenômenos naturais. Na teologia, acreditava-se que os enunciados fossem objetivos, isto é, independentes do indivíduo que observa e do processo de conhecimento. O novo paradigma afirma que a reflexão sobre os modos de conhecimento não-conceituais - intuitivos, afetivos, místicos - tem de ser obrigatoriamente incluída no discurso teológico; há um consenso emergente de que os modos de conhecimento não-conceituais (sem conceitos nem palavras, em total silêncio mental) constituem parte integrante e essencial da teologia.

O mundo não existe objetivamente; ele é criado, gerado, no processo de conhecimento (também conforme a física quântica). Há uma realidade, mas não há coisas, árvores, pássaros. Esses padrões são criados por nós, no processo de conhecimento. À medida que observamos, ‘criamos’ um padrão e o destacamos do restante, e ele se torna um objeto. Nesse sentido, estamos continuamente criando o mundo (isto é, o ser cerebrado e senciente completa o processo criativo de Deus. Ver ‘O Universo Auto-consciente’).

Todo conhecimento é a partir de dentro do sujeito observador. Todo conhecimento é uma espécie de participação num diálogo em andamento com a realidade. Assim, aquilo que realmente conhecemos a respeito de Deus é sempre e tão-somente a nossa experiência de Deus (Jung, Eckhart). O que não for experiência nossa será apenas projeção, recebida de outrem, coisa emprestada. Só a respeito de nossas experiências pessoais de Deus é que podemos falar com convicção. Isso implica em que, assim como Deus nos criou, nós também criamos Deus à nossa imagem e semelhança. Por isso, disse Eckhart: ‘O olho com que vejo Deus é o mesmo olho com que Deus me vê’ (ou, o meu olho é o olho de Deus, pois somos um só).

A definição grega de ser humano é zõon logikon, animal possuidor de logos, a palavra, que cria um cosmos a partir do nada (como, hoje, a física quântica afirma). E isso se aplica a todos os seres vivos. A diferença é que nós, e talvez os animais superiores, temos consciência reflexiva.

A união do pequeno eu (a consciência localizada) com o grande Eu (a consciência universal) é o que denominamos re-ligação, Religião com ‘r’ maiúsculo. O demais é apenas crença, suposições, opiniões, fé sem base, raciocínio ou interpretações equivocadas, ilusões e, assim, sem valor.

A noção de um Deus separado da criação, que fica lá fora, em algum céu, é do velho paradigma teológico. No novo paradigma, onde o universo é todo interligado, interdependente, interconexo, não mais é possível expressar isso em palavras. Deus não é mais o único que criou este mundo desta ou daquela maneira (cerebrados são necessários). Há, por exemplo, um enunciado do sufismo: ‘Eu era um tesouro escondido e, assim, para que fosse encontrado, criei o mundo. ’ É o ‘jogo divino’, dos hinduístas. Há, desse modo, um jogo em andamento, e somos convidados a entrar nele. (Krishnamurti: a mente era vazia e, por isso, o cérebro existe no espaço e no tempo. Ken Wilber: a conversa entre Deus e Abraão. Os grandes psicólogos e filósofos: a parte do universo que vê e a parte que é vista; o universo se vê a si próprio, através de nossos sentidos objetivos).

Dogma é um enunciado sobre a realidade indizível, isto é, impossível de ser comunicada. Ele jamais retrata a realidade total, sendo sempre uma sua aproximação. A experiência individual, inexprimível, toma a forma de dogma para inspiração dos fiéis (não estamos falando dos dogmas impostos pela conveniência da igreja, mas dos oriundos de experiências verdadeiras).

Na ciência não há verdade permanente; a questão está sempre sujeita à revisão. Mas, na religião, o dogma é tido como verdade permanente e seu significado popular é prejudicial, pois você não tem de entendê-lo; apenas tem de aceitá-lo. E a Igreja ainda hoje é rigorosa quanto a isso. No passado, os castigos foram terríveis: fogueira etc. Tiveram início com Constantino, ao ‘legalizar’ o cristianismo. A idéia da Igreja é fazer com que você chegue à profunda experiência do mistério que o dogma só expressa de maneira aproximada. Origina-se dogma do grego dokein que significa ‘opinião’, ‘ensinamento oficial’ de uma filosofia ou igreja. Tem a mesma origem de dogma a palavra doxa, glória, a manifestação das qualidades de uma pessoa. Eu formo a minha opinião com base na doxa, na glória dessa pessoa. Assim, ortodoxia significa ‘a maneira correta de glorificar a Deus’, ou a percepção correta da glória que emana de Deus. Dogma é, pois, nossa glorificação de Deus e da glória, a doxa, que emana de Deus.

Popularmente, glória sugere o esplendor de Deus no seu trono lá no alto. Mas, essa concepção é totalmente errada. Quando o grego era a língua oficial da Igreja, a resposta para a pergunta ‘O que é a glória de Deus?’ Era um dos mais antigos enunciados teológicos da tradição cristã: ‘A glória de Deus é o ser humano plenamente vivo’ (com vida abundante).

Do mesmo modo que Buda apresentou o Caminho Óctuplo, para a ‘cura’ dos males do homem, Jesus trouxe lições semelhantes, que servem à experiência humana universal. No entanto, ao contrário dos ensinamentos de Buda, os de Jesus são, com freqüência, confundidos com alguma espécie de verdade imutável e independente da experiência pessoal quando, na realidade, a compreensão plena dos ensinamentos depende da experiência individual de cada um.

A razão por que não há dogmas no budismo está provavelmente além do budismo e do cristianismo, na fonte de onde emergem as duas tradições. O budismo insiste que você não pode dizer coisa alguma a respeito da realidade que você percebe na sua experiência; ela é indizível. Já no cristianismo, você tem de dizê-lo (embora Paulo dissesse; ‘vi e ouvi coisas inefáveis’). Ambos têm base em nossa experiência; quando temos experiências religiosas, sabemos que jamais poderemos traduzi-las em palavras, mas sempre tentamos fazê-lo. O dogma surge desse esforço. Por isso, seu significado é sempre aproximado. No budismo, o ensinamento último termina no silêncio. Mas, no cristianismo, o dogma surge da recusa em questionar, na aceitação pura e simples da interpretação aproximada da verdade percebida (submissão à fé sem questionamento).

Etc.,

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Extratos de ‘Sabedoria Incomum’, de Fritjof Capra, Cultrix, 1988:



Um dos primeiros contatos que tive com a espiritualidade oriental foi meu encontro com Krishnamurti, no final de 1968, quando ele proferiu uma série de palestras na Universidade da Califórnia. Estava com setenta e três anos e sua aparência era absolutamente estonteante... A dignidade do semblante, o inglês medido e perfeito e, acima de tudo, a intensidade da concentração e da sua presença deixaram-me encantado e perplexo. O impacto de seu carisma e aparência física foi intensificado e aprofundado pelas coisas que disse... A tarefa a que se propôs - usar a linguagem e o raciocínio para levar seus ouvintes além da linguagem e do raciocínio - era extremamente difícil, mas o modo como ele se desincumbia dela era impressionante... A platéia ficava arrebatada, dominada por suas palavras e totalmente atenta. Dizia: ‘Examinemos juntos a questão, sem julgarmos, sem condenarmos, sem justificarmos. ’ No final, ficava uma sensação nítida e forte de que o único meio para se resolver qualquer de nossos problemas existenciais é ir além do pensamento, além do ego, além da linguagem e do tempo; ‘libertar-se do conhecido’, do passado... (isso é meditação).

Fiquei fascinado, mas também profundamente perturbado, com suas palestras. Após cada uma delas, Jacqueline e eu permanecíamos acordados durante várias horas, sentados junto à lareira, discutindo o que ele dissera. Era um mestre espiritual radical e me colocou frente a um grave problema: eu mal iniciara uma promissora carreira científica, com a qual estava bastante envolvido emocionalmente, e então vinha Krishnamurti, com todo seu carisma e persuasão, dizendo para eu parar de pensar, para me libertar de todo conhecimento, para deixar o raciocínio lógico para trás.

O que isso significava no meu caso? Deveria desistir da carreira nesse estágio inicial, ou continuá-la, abandonando toda esperança de alcançar a auto-realização espiritual?

... Senti-me um tanto intimidado quando finalmente vi o mestre cara a cara, mas não quis perder tempo. Eu sabia por que estava ali. ‘Como posso ser um cientista’, perguntei-lhe, ‘e ainda assim seguir seu conselho para libertar-me do pensamento e do raciocínio?’ Krishnamurti não hesitou sequer um instante. Respondeu minha pergunta em dez segundos, e de um modo que resolveu completamente o meu problema: ‘Primeiro, você é um ser humano’, disse ele, ‘e depois, um cientista. Antes, você tem de se tornar livre, e essa liberdade não pode ser atingida por meio do pensamento ou raciocínio. Ela é atingida pela meditação - a compreensão da totalidade da vida, em que cessam todas as formas de fragmentação. Uma vez que você alcance a compreensão da vida como um todo’, explicou ele, ‘pode se especializar e trabalhar como cientista sem problema algum’.

Depois disso perdi contato com Krishnamurti, mas nunca deixei de reconhecer sua influência decisiva sobre mim...

Em 1983, sul da Índia. Às oito horas Krishnamurti apareceu, vestido com trajes indianos, e caminhou lentamente, mas com enorme segurança, até uma plataforma que fora erguida ali. Foi maravilhoso vê-lo, aos oitenta e oito anos de idade, fazendo sua entrada como fizera por mais de meio século, subindo as escadas da plataforma sem ajuda de ninguém...

Ele falou por setenta e cinco minutos sem nenhuma hesitação, quase com a mesma intensidade que eu presenciara quinze anos antes. Sua clareza e habilidade eram as mesmas. Sua análise do tema foi bela e cristalina: o único meio de libertar-nos do desejo (medo, violência, inveja, ambição, condicionamentos, influências da genética, cultura, sociedade, crenças, ilusões, etc.) é libertar-nos do processo que produz os pensamentos (pela meditação).

O problema que Krishnamurti resolvera para mim, à maneira zen, de um só golpe, é o mesmo problema com que a maioria dos físicos se depara quando confrontados com as idéias das tradições místicas - como é possível transcender o pensamento sem abandonar o compromisso com a ciência? É esse o motivo pelo qual, penso eu, tantos dos meus colegas sentiram-se ameaçados por minhas comparações entre física e misticismo. Eu também sentira a mesma ameaça. Mas tive uma enorme felicidade: a pessoa que me fez perceber a ameaça foi a mesma que me ajudou a transcendê-la.

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