sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

RETIRE A MÁSCARA DO EGO E SINTA A BEM-AVENTURANÇA

TUDO INTERAGE NO UNIVERSO, TUDO É INTERLIGADO, TUDO É DE ACORDO COM A NATUREZA




Um amigo:

“... tudo no Universo interage o tempo todo e se movimenta para um equilíbrio e harmonia absoluta”.

Resp: essa interação é, também, a visão da ciência moderna: no universo nada é independente; todos os fenômenos estão interligados e uns dependem dos outros. Não existem blocos básicos, partes mais importantes ou fundamentais do que outras; todas têm a mesma importância. Já o budismo, de 600 anos antes de Jesus, dizia isso; talvez, por essa razão, Sidarta, o Buda, foi retratado (como se fosse em seguida à sua iluminação), com um colar de gemas no qual cada uma reflete o brilho de todas as outras.

Amigo:

“Também não foi confuso se pensarmos na lei da construção e desconstrução, observando a Natureza por exemplo, que nas suas diversas estações as folhas nascem, caem passam pelo período invernal e floresce de novo.

Resp: tudo é de acordo com a natureza; por isso quando um monge perguntou como se dá a evolução, ou o avançar no caminho, o mestre respondeu: “Olha as folhas caindo e o vento as levando”.

Amigo:

“Talvez o que queira dizer é que com o ser humano acontece a mesma coisa. O que passamos aqui são etapas ou estações até chegar a harmonia absoluta, ou seja, o homem já é perfeito em sua essência e todo o seu movimento de vida concorre para o estado de depuração e percepção de sua natureza divina. Nesse caso voltando ao que diz a DE no capítulo do porquê da necessidade das desigualdades entre os homens para seu aprendizado”.

Resp: o espírito/homem já é perfeito; logo, etapas não são necessárias; o necessário é calar o ego; assim, também, nenhuma necessidade de superarmos qualquer desigualdade, ou necessidade do aprendizado que elas podem nos proporcionar. Tudo isso está na deficiente compreensão do ego. Já somos “Aquilo”, que é perfeito.

Amigo:

“Na filosofia chinesa, uma representação do principio da dualidade de yin e yang, o conceito tem sua origem no Tao (ou Dao), da união dos opostos chega-se a completude. Você pode dizer então que o bem e o mal existem, para que essas duas forças façam com que o homem, ao reconhecer em sua natureza, encontre o caminho do meio (Buda), amando tanto a um quanto ao outro alcançando sua plenitude”.

Resp: lembre-se que no transcendental não há opostos; tudo é um. Yin e yang, bem e mal, caminho do meio só têm relação com o mundo do espaço-tempo. Todos os mestres ensinaram ou tentaram ensinar a compreender a vida (quando ainda sob o comando do ego), para minimizar os conflitos e dores, enfim, para uma melhor compreensão da vida e harmonia no relacionamento entre os homens. Calando-se o ego, cessam as ilusões e tem-se a plenitude, o amor incondicional, a sabedoria, o encontro com o que sempre fomos.

Amigo:

“Todo o problema está no desequilíbrio em negar a dor e ir cegamente só em busca do prazer origem do egoísmo acabando em erro novamente”.

Resp: esse é o problema causador ou da alegria ou da dor, no espaço tempo; enquanto tudo isso existe “aqui”, nada disso existe “lá”. Como dizem: “retire a máscara do ego e sinta a bem-aventurança”.

Um abraço.

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

SÓ VÊM DE DEUS O QUE É BELO, AGRADÁVEL E INSPIRADOR?

E A FEIÚRA, O DESAGRADÁVEL, O QUE NOS ABATE, DE ONDE VÊM?

Perguntamos: Porque será que nos lembramos de Deus somente nas coisas interessantes e inteligentes, nas coisas agradáveis, belas, suaves, inspiradoras e que fazem bem ao coração, à imaginação e nos dão alívio e conforto e esperanças de um futuro mais feliz? O céu estrelado, o por do sol, a imensidão do mar, a cor e o perfume das flores, o sorriso da criança inocente, um ato de amor? Será que somente o que é belo, vem de Deus? E a feiúra, o desagradável, o que não nos conforta mas, ao contrário, nos abate e perturba, as epidemias, os cataclismos, terremotos, tsunamis, erupções e tempestades que destroem tudo o que o homem construiu, os animais ferozes, vorazes e peçonhentos, de onde vêm? As pragas e os temporais que destroem as plantações, o alimento do homem?


Não será interessante uma reflexão sobre isso?

Fiquem em Deus.

O CAMINHO DO MEIO - Uma visão do Budismo

O CAMINHO DO MEIO

Caminho do Meio é uma tradicional expressão budista que procura, de um modo sucinto, apontar o rumo àqueles que se propõem a dar seus primeiros passos em direção à sabedoria ou, pelo menos, ao alívio de seus conflitos.

É uma das imagens que brotam espontaneamente na alma sempre que ela é atormentada pelo Conflito dos Opostos, vale dizer, conflito de desejos ou necessidades que aparecem como absolutamente excludentes. É uma metáfora, uma das imagens recorrentes em todas as épocas e culturas sob as mais diversas formas e denominações, pois que representa um poderoso determinante da alma humana: o arquétipo da União (Conjunctio) especificamente a União de Opostos (Conjunctio Oppositorum, como diziam os alquimistas, em latim), a mais radical das uniões.

Digo a mais radical porque os opostos não se justapõem ou se mesclam simplesmente, como bananas num cacho ou tintas numa palheta de pintor, nem se deixam reduzir um ao outro por submissão violenta ou a golpes de raciocínios bem intencionados. Os opostos são o que são: opostos. Mas quando somos pegos pelo calor do embate que eles travam em nossa alma, imediatamente o arquétipo de União é ativado (tenhamos ou não consciência dele) lançando-nos à estranha aventura de reconciliar o irreconciliável. Tal aventura é inescapável pois que significa, se não a cura, ao menos alívio para intenso sofrimento.



O arquétipo ativado traz esperança de calma, ordem no caos, inspira nobres ideais, mostra agora um pouco de felicidade ou a promete para um futuro próximo, alimenta utopias, fascina, alenta, convida a alma a não desesperar-se, encoraja-a a prosseguir entre as dificuldades. No entanto, ele também se manifesta por dúvidas, inseguranças, culpas, remorsos, depressões, ansiedades, estresses, e que tais. E, também, por uma estranha teimosia que parece realimentar o processo de sofrimento. Mas não. É aquela aventura, também estranha, que exige as teimosias, obsessões, persistências, certezas, paranóias, manias, indiferenças, preconceitos, e outras coisas mais, para que nos mantenhamos no caminho e não percamos o rumo. Assim, talvez, possamos perceber algum sentido em meio a tanto sofrimento e... talvez, vislumbrar o alívio.

As margens de um caminho não são opostas por si mesmas, tornam-se opostas em função do ponto de vista do caminhante. O lado direito e o esquerdo são os do caminhante, não os do caminho. Vale dizer, os da alma do caminhante, que facilmente projeta neles suas tensões em conflito. E é bom que o faça, pois a metáfora do caminho traz consigo diagnósticos e esperanças de transformação.

Senão, vejamos: o lado direito e o esquerdo fazem às vezes de lados bom e mau, certo e errado, reto e torto, claro e escuro, consciente e inconsciente, esposa e amante, etc. No caminho se vai para frente ou para trás, se progride ou regride, há futuro e passado, se tem rumo ou se está perdido, ele está impedido ou desimpedido, os obstáculos são fáceis de serem transpostos ou muito difíceis, ele é perigoso ou nem tanto, se estamos só ou acompanhados, se nos ajudam ou não, se aguardamos a próxima curva, a próxima vila, ou se voltamos já. E será ainda possível o retorno? E a bifurcação? E a decisão numa encruzilhada? Muitas estórias... Espelhos onde a alma se reflita, se veja, reflita e se retoque.

Os opostos só existem na alma. Quando os lados direito e esquerdo de um caminho voltarem a ser apenas os lados direito e esquerdo de um caminho, então o caminhante estará em paz. E o arquétipo de União terá cumprido o seu desígnio.

(então não haverá mais nem lados, e logo, nem caminho...)

Caminho do Meio é uma expressão que sugere evitar os caminhos extremos, cuidado, consideração aos dois lados da questão, atenção. Isso lembra os gregos.

Os gregos antigos ensinavam a temperança, a prudência, o bom senso, a moderação, a modéstia como um estado de espírito calmo e são. Esta era uma virtude que se contrapunha à Hybris que significava o contrário: desmedida, excesso, orgulho, insolência, impetuosidade, desenfreio, ultraje, insulto, desespero... violência! Nada em excesso, recomendavam seus mestres, contando maravilhosas estórias de homens e heróis castigados pelos deuses por conta de seus excessos.

Observa-se um benefício simples e ancestral da arte de unir opostos (é uma arte!) contemplando, por exemplo, a tensão de um arco retesado prestes a lançar a sua flecha (criada pela aproximação das duas extremidades “opostas” da haste de madeira unidas por um cordel) e a perícia do atirador em acertar o seu alvo (nem para cima demais ou para baixo, nem demais para a direita ou a esquerda).

Outro exemplo ainda mais simples e mais ancestral ainda: o homem, a mulher, e seus filhos.

Observemos também os cuidados de afinação das cordas de um instrumento musical: não podem ser frouxas ou tensas demais. Esta foi exatamente a imagem que Buda usou ao tentar mostrar aos seus cinco ex-companheiros de rígido ascetismo que o corpo (e a mente) não deve ser agradado ou desagradado em excesso. É preciso encontrar o Caminho do Meio.

O caminho do Meio é conhecido na tradição budista como a Quarta Nobre Verdade, vejamos rapidamente as outras três:

A Primeira -- (nobre verdade sobre a dor) -- anuncia que todos os seres vivos sofrem. Sofrem quando nascem, sofrem quando envelhecem, sofrem quando adoecem, sofrem quando morrem. Sofrem quando não se unem àqueles que amam ou se unem àqueles que odeiam, e sofrem quando deles se separam. Sofrem quando não conseguem realizar os seus desejos. Sofremos, metidos todos que estamos numa realidade que se transforma incessantemente. Insatisfação sem fim. A impossibilidade do descanso garantido. Só a insegurança não passa: o meu mundo não permanece, o meu corpo não permanece, eu mesmo não permaneço.

A Segunda – (nobre verdade sobre a origem da dor) -- denuncia o desejo, a sede de existir, de viver, sede de prazer, sede de poder, como a causa de todo o sofrimento. Desejamos a permanência do nosso mundo, do nosso corpo e de nós mesmos. Desejamos não só a permanência como ampliá-la, protegê-la. Estamos apegados a umas tantas coisas que temos por essenciais ou agradáveis que lutamos todo o tempo para que elas não se vão. Mas elas se vão. Mais cedo ou mais tarde, e não se deixam conservar. O desejo se reproduz, vai de um a outro, e nos lança numa interminável corrente de dor: desejo de ser isto e de não ser aquilo, desejo de prazer e de não sofrer, de permanecer, não morrer. O desejo é a fonte de toda a ilusão, que por sua vez reforça o desejo, num ciclo vicioso infernal.

O desejo alimenta a noção ilusória de um “eu” permanente e substancial que é “quem” sofre. É o suporte da dor, e a ela dá continuidade.

O desejo se acende e arde nas duas paixões que se opõem: o amor e o ódio, e se alucina com a própria ilusão que produz! -- O amor, desejo ardente de união, representado no imaginário budista por um galo, ou uma pomba -- O ódio, desejo ardente de repulsão, representado por uma serpente. -- A ilusão, desejo ardente de não saber, ignorância, indiferença, preguiça, indiferenciação, inconsciência, indiscriminação, loucura, confusão, representada por um porco, é o desejo de dissipação, que de tão dissipado já, pode nem mais aparecer como desejo. Atração, Repulsão e Indiferença – dois caminhos opostos e um pseudo caminho do meio -- são os chamados Três Venenos, Os Três Males.

A sede de existir, de viver, que começa e continua em ilusão, engano e dor, recomeça incessantemente a sua sina através dos sucessivos ciclos de renascimentos.

A Terceira – (nobre verdade sobre a cessação da dor) -- prenuncia a libertação do sofrimento, o alívio da dor: se não nos apegarmos ao mundo, ao corpo e a nós mesmos, então não sofreremos jamais! Extinguindo o desejo faremos cessar a dor. Extinção do desejo, do apego, da sede de existir, do “eu”, do ciclo de renascimentos, da ilusão, enfim. Quando a chama se extingue, quando se foi o último alento, quando já não houver mais o sopro, ex- (nir) soprado, (vana) -- apagado de um sopro -- expirado (nirvana) estará o prazo da chama, do pavio, da vela. Extinguiu-se o incenso. Não há mais ações (karma) que exijam ter continuidade ou desejo de as ter.

Elimine-se a causa que desaparecerá o efeito. Lógico e simples, não é mesmo? Lógico e simples demais... Na prática, porém, muito provavelmente porque não somos Budas, seja talvez impossível andarmos assim tão desapegados pela existência a ponto de não sofrermos nem ao menos um tiquinho. Mas também não precisamos e nem devemos nos exigir tanto, pois seria um excesso, e paradoxalmente estaríamos alimentando um desejo, ficaríamos apegados a uma mera idéia, mesmo que ela seja uma idéia tão nobre. A vida concreta e cotidiana é, muitas vezes, mais generosa que a mente abstrata dos filósofos e sacerdotes em sua demanda das coisas absolutas. Se conseguirmos sofrer bem menos e esse sofrimento não nos afastar do caminho, já está muito bom.

Resumindo: Primeira Nobre Verdade – Todos os seres sofrem.

Segunda Nobre Verdade – A causa do sofrimento é o desejo

Terceira Nobre Verdade – A cessação do desejo faz cessar o sofrimento.

Quarta Nobre Verdade – O Caminho do Meio faz cessar o desejo.

Ao contrário da nossa compulsão de viver, de ser, de ter, do nosso medo e pânico a respeito da morte, o budismo propõe a extinção; não a teme, almeja-a. Mas essa extinção não é, simplesmente, a morte do corpo, que é uma das formas materiais e que é muito fácil de acontecer, mas também a morte da alma, como podemos entender a palavra sânscrita para nome, o que, para os budistas, é muito mais difícil de acontecer. s significa o conjunto das cinco sensações (vedana), provenientes dos cinco órgãos voltados para fora, ou instrumentos do exterior – olho, nariz, ouvido, língua, pele; as representações mentais dessas sensações, ou percepções; as conscientizações dessas percepções; e a assim chamada mente, considerada um sexto órgão de conscientização, voltado para dentro, ou instrumento do interior, formada pela atenção seletiva ou “intelecto”, a atividade do ego, o discernimento (buddhi). Em suma, características que configuram o que conhecemos por psique, alma.

A extinção do conjunto de nomes-e-formas, a unidade psicossomática, alma-e-corpo, se dá ao longo de um caminho que pode durar muitas vidas, tantas quantas forem necessárias até que o não-saber (avidya), a ignorância, a escuridão, o sono, o sonho, a ilusão, cesse e ceda lugar à sabedoria (vidya), deixe surgir a iluminação (boddhi) .

Caminhar pelo Meio é, pois, a arte de ir-se eliminando apegos pela vida a fora, e vida a dentro. É procurar não sofrer e não fazer sofrer. É procurar não estar enlaçado a uma coisa nem a seu oposto. É escorrer, fluir como água entre uma margem e a outra. Mesmo que as águas fluam com excessiva rapidez e desbarranquem as margens que a contêm, observe, sofra, mas tenha calma, não se desespere, espere, não há pressa.

Atenção para uma importantíssima diferença:

Caminho do Meio não é o mesmo que caminho medíocre.

Não é cinzento, sombrio ou morno. Ele cheira e fede. Vão nele as Marias-sem-as-outras.

Não é atalho para hipócritas, nem o refúgio de ambíguos. Estes, e os confusos, perdem-se nele logo à vista da primeira encruzilhada.

Passar entre dois extremos não é o mesmo que evitar os extremos. As águas de um rio não evitam as suas margens, ao contrário, apoiam-se nelas! Um trem não evita os trilhos que lhe dão o rumo.

Pelo Caminho do Meio sobe-se às mais altas montanhas e se desce aos vales mais profundos. Por ele se vai ao céu e ao inferno.

É a coluna central, flexível como a da serpente, que se comunica com todas os aspectos da tragédia humana.

É o fio da meada.

Nele, há calor e frio. Macho e fêmea. Há fraqueza e força. Espírito e matéria. Tudo e nada. Há vida e há morte.

Nele, somos tolos e sábios, inteiramente luz e inteiramente treva. Não há meio-a-meio, é isto tudo e mais tudo aquilo. É inteiro e completo como a natureza é.

O Caminho do Meio tem os extremos.

O caminho medíocre teme os extremos.

Não há como confundi-los: a virtude da temperança inclui temperos, temperaturas, não é insensível nem insípida, é plena de sabores, comporta mil saberes. Provar, conhecer o sabor, é saber. Saborear é o ofício do sábio.

Uma outra distinção merece ser feita:

Caminho do Meio não é o mesmo que meio do caminho.

Ele não nos leva a lugar algum. Na verdade, não é um caminho por onde se passe para chegar a um outro lugar mais distante, é um caminho onde se chega. Estar nele, caminhando, é já ter chegado.

Estamos sempre no meio do caminho quando estamos sempre evitando alguma situação e ansiando por alguma outra. Um lugar lá atrás, um outro mais lá na frente. Sempre alguma coisa no passado e sempre alguma outra no futuro. Assim, estamos sempre no meio...

Observem, agora, esta passagem sutil: ESTAMOS SEMPRE NO MEIO.

Perceber que sempre estamos no meio do caminho, que sempre estivemos e estaremos sempre, é entrar no Caminho do Meio. Um caminho que, se podemos dizer conduza a algum lugar, conduz a ele próprio. Algo assim como caminhar tranqüilo na intimidade da própria casa.

Um caminho o mais reto possível que nos leve o mais rapidamente possível a algum lugar distante e exótico, para fora ou para dentro de nós, e ainda para mais além dos nossos mesquinhos problemas e insatisfações, não é o Caminho do Meio, embora seja exatamente assim que uma quantidade enorme de budófilos (os apegados ao Buda) o compreenda.

Qualquer caminho leva a todos os outros caminhos, o que vale dizer que levam todos a si mesmos, a diferença está no jeito com que se caminha.

O viajante estará perdido se tentar encontrar algo diferente de si mesmo, já que na verdade, é só o que ele encontra constantemente.

Um budista senta-se à sombra de uma árvore e descansa. Descansa de si mesmo, em si mesmo. Ao reiniciar sua caminhada caminhará sentado, sabendo que por mais longe ele chegue, por mais que ande, estará sempre ali, chegado. Tornará sempre a si mesmo, àquele mesmo descanso, à sombra mesma daquela árvore.

Ora, um caminho que nos traz de volta sempre ao mesmo ponto, certamente não é um caminho reto, mas de natureza curva, circular.

Caminhar em círculos, eternamente, sem chegar a parte alguma, parece coisa de louco, ou pelo menos de alguém completamente perdido. E é mesmo. Mas é isso o que fazemos normalmente, sem o saber, agarrando-nos a objetivos provisórios aos quais conferimos valor perene: uma profissão, um cargo público, um casamento, um filho, uma conta no banco, uma religião, um amor, um ideal político... Nos enganamos assim, e sofremos muito quando o que parecia eterno se esvai impiedosamente diante dos nossos olhos incrédulos.

Quando sabemos disso, quando sentimos seu gosto, seu estranho sabor, então já não é mais possível crer em metas ilusórias tendo-as por verdadeiras. Imediatamente já não estamos mais na periferia de nós mesmos, mas chegados a uma espécie de Centro surgido inesperadamente do nada (ou do tudo) que nós somos.

Caminho do Meio é o caminho do Centro.

Nele encontram-se todos os extremos. Nele todos os extremos se apoiam. Dele jorram todas as diferenças. Aqui já não há (ou ainda não há) a terrível luta entre os opostos. Estes, no Centro, de alguma forma, se ajeitam por si mesmos.

Um bicho acuado entre dois monstrengos pode, no máximo, escapar com alguma habilidade, fazer algum tipo de malabarismo, algum equilibrismo, ser hábil, esperto -- o que é bom -- mas não propriamente um sábio, um Desperto (Buddha). Não escapará de si mesmo, e tornará a encontrar os monstrengos, até cansar (e descansar) no Centro...

O Caminho do Meio é representado no budismo por uma roda de carroça com oito raios e um centro vazio. Os oito raios, que se “opõem” entre si, representam os oito caminhos principais (é infinito o número de oposições possíveis) que ligam a periferia da roda ao seu centro. Por isso o Caminho do Meio é também chamado de O Nobre Caminho Óctuplo. Imaginemos que estamos todos amarrados a uma enorme roda de carroça em movimento; que tentamos faze-la parar quando chegamos no alto, aliviados da dor, e sentindo prazer mesmo que saibamos que outros de nós, lá embaixo, no extremo oposto, estraçalham-se em sofrimentos e desejam com ardor que a roda se mova.

Imaginemos que essa roda não pára nunca e, em breve, voltará a nossa vez de suportarmos o alívio dos outros, e o peso dessa lei inexorável.

Se não tentamos nos enganar, e aos outros, veremos cruamente que é mesmo aí onde estamos metidos e daí não se sai fácil, não se sai falso.

Ser verdadeiro é muito difícil pois embora sendo esta uma grande virtude, o que ela expõe aos olhos da consciência costuma ser muito assustador, mormente aquela dança macabra que é o drama oculto no majestoso girar da Roda da Existência, Roda da Vida, ou Roda do Vir-a-Ser.

Encontrar um jeito de ser o que se é mesmo. Eis nossa tarefa! Ser autêntico da melhor forma possível. Estar no centro das próprias contradições, revelá-las, deixar que elas tramem alguma arte.

O que há de comum em cada um dos oito caminhos é exatamente a autenticidade. Na verdade, os oito caminhos são um só: ser próprio, não imitar, ser igual a si mesmo, autêntico. Não se trata de obedecer a um código de regras prefixadas em busca do comportamento perfeito.

A palavra sânscrita samiak e a sua equivalente páli samma significa algo como “completo em si mesmo” e pode ser traduzida nas línguas ocidentais por right, richt, proper, perfect, certo, direto, direito, reto, correto, pleno, perfeito, próprio, completo, inteiro, integral, puro, verdadeiro, autêntico, etc. Com exceção dos adjetivos reto, certo, direto, direito (right, richt) – que sintomaticamente revelam a compulsiva impaciência ocidental para tratar das questões da alma – os demais têm uma conotação mais próxima do sentido original, mais rotunda, mais cheia, plena de suas partes.

Eu prefiro autêntico, porque esta palavra, embora seja também muito mal usada e compreendida, pois parece justificar quaisquer ações, palavras ou pensamentos, é a que reclama mais atenção para o que se faça, fale ou pense. Portanto, exige mais responsabilidade. O que fazemos espontaneamente pode ser bom ou muito ruim para nós mesmos e para os outros. Depende do que se tem na alma.

A atenção dilui os impulsos nefastos e... concentra-se (junta suas partes no centro).

Se somos autênticos, por qualquer dos caminhos chega-se ao centro, e de lá a todos os outros, rapidamente.

Abaixo seguem os oito caminhos, em sânscrito, com a tradução que me parece a mais adequada e algumas outras possibilidades; entre aspas o sentido aproximado de algumas palavras sânscritas; e em itálico a tradução para o inglês.

1º- Compreensão autêntica – concepção, visão, view.

2º- Decisão autêntica – determinação, resolução, resolve.

3º- Fala autêntica – “palavra”, discurso, linguagem, speech.

4º- Conduta autêntica – “ações”, action.

5º- Sustento autêntico – “enquanto se vive”, meio/modo de vida, trabalho, livelihood.

6º- Empenho autêntico – aplicação, esforço, effort.

7º- Atenção autêntica – mindfulness.

8º- Contemplação autêntica – “absorção”, fixação, meditação, concentration.



Compreender, decidir, falar, agir, sustentar-se, empenhar-se, prestar atenção (ouvir), contemplar. Autenticamente. Isto é, sem fingir.

Até mesmo o fingir pode ser autêntico, e quando o é, podemos nos perceber artistas.

Tais caminhos por serem autênticos, verdadeiramente não se opõem. Mas não só esses oito, mostrados desde o início pela tradição budista. Se autêntico, podemos acrescentar: caminhar, tomar chá, lutar, comer, plantar, cozinhar, enfeitar, vestir-se, fazer amor, conversar, cantar, dançar, pintar, sofrer, morrer... e tudo o mais.

Nada podemos fazer para sermos autênticos. Imagine uma girafa esforçando-se para ser girafa. Não há normas para o Caminho do Meio, nem mesmo esta. Com as normas podemos apenas criar um personagem qualquer, que possa até ser muito útil e interessante a nós mesmos ou aos outros, mas não seremos necessariamente autênticos.

Podemos tentar apenas não ser falsos.

Mergulhar em nossa mediocridade, profundamente, e chafurdamos nela até o limite do nojo. Podemos também, depois disso, sentarmo-nos sobre a pedra que há no meio do caminho e ali, então, descansar, talvez verdadeiramente.

O Caminho do Meio é um tesouro invisível. Surge à imaginação enquanto ainda não o encontramos, ou quando já o perdemos.

O medíocre meio do caminho tem a peculiaridade de ser bem visível, principalmente nos outros e aos outros.

Não sabemos tanto o que é a verdade quanto sabemos ser a mentira. Nos enganamos mais facilmente quando lidamos com a verdade, mesmo quando tentamos ser honestos. Nossas certezas costumam mostrar-se precárias com o passar do tempo. No entanto, sabemos quando mentimos.

É, pois, mais fácil (?) falar da mediocridade que da sabedoria, já que é possível vê-la. Por aí devemos começar.

O Caminho do Meio virá por si mesmo, e por si mesmo irá embora se não soubermos andar por ele.

Por ser assim tão invisível, é também chamado o Não-Caminho.

Estamos acostumados a parar de caminhar apenas quando já chegamos, mas aqui trata-se justamente do oposto: chegamos quando paramos de caminhar!

Quem busca estará sempre no meio do caminho.

Quem encontra estará sempre no Caminho do Meio.

O próprio Caminho do Meio, portanto, não pode ser buscado jamais, apenas encontrado. Tudo o que se encontra nos remete a ele, mesmo as coisas mais desprezíveis.

O caminho que nos leva não entre os opostos, mas através deles; o caminho que nos leva não para longe dos extremos, mas para dentro deles, este é o Caminho do Meio.

No centro da Roda do Vir-a-Ser, no olho mesmo da confusão, aqui, bem no meio do caminho, alucinados pelo desejo, possuídos pela paixão, agarrados às coisas do mundo, sofridos, radicais, imperfeitos, pecadores ... há uma flor.

Há uma flor agora.

Há um belo e puro lótus, desses que crescem nos pântanos mais imundos.

Sobre ele senta-se em paz o Desperto.





malaquias@rubedo.psc.br

NÃO TEMOS CONTROLE SOBRE NADA

NADA ESTÁ SOB NOSSO CONTROLE



Um amigo:
“Como não temos controle sobre nada? Será assim? Claro que somos surpreendidos por vários acontecimentos durante a vida, até concordo, mas tudo vai depender de como percebemos estes acontecimentos; essa boa dose de indiferença e de humor é válida, mas também não deixa de ser uma forma de defesa diante de situações inesperadas. É muito comum rir da própria desgraça, mas isso acontece depois do susto, quando a cabeça esfria”.

Resp: é exatamente assim; nós estamos sendo, agora, o que tudo que está atrás de nós nos está fazendo ser. Até mesmo, usando suas expressões, a compreensão que temos, as surpresas perante os acontecimentos da vida, nossa percepção deles, o humor ou indiferença, o uso de defesas, a capacidade de usá-las, o susto, as reações ao susto, o esfriar ou esquentar a cabeça, vem desse movimento universal.

Amigo:
“O amigo X uma vez citou um provérbio ou pensamento muito válido. Disse que tem dois cães dentro dele , um feroz e um manso, sobrevive o que ele alimentar. Penso que diante das nossas experiências, cultura e aprimoramento moral podemos ter controle sobre as situações que nos aflige. Basta não ser arrastados por elas. Tudo depende da dimensão que vamos dar ao fato.

Resp: o que o amigo X disse está correto; o alimentar o cão feroz ou o manso, a decisão de alimentar um ou outro vem também desse movimento ininterrupto...; o achar o pensamento muito válido, também. Outros não o acharão válido porque esse movimento não os levou à compreensão ou ao ponto de achar esse pensamento válido. Tudo, nossas experiências, cultura, aprimoramento moral, controle que possamos ter sobre o que nos aflige, ou sobre qualquer coisa, vem desse movimento. Tudo o que somos, o que pensamos etc, é resultante dessa “força”, sempre e sempre impelindo todos para frente, desde a origem do cosmos, passando pelos nossos mais longínquos ancestrais, e fazendo que sejamos o que somos agora.

Amigo:
“Porém isso é individual; uma exposição a um trauma para um individuo pode ser facilmente superada, quanto que para outro pode ser uma catástrofe que o imobiliza enquanto ele se apegar ao ocorrido”.

Resp: pois é isso mesmo. Qual o motivo pelo qual um superará um trauma, ou o que for, mais facilmente do que outro? Pelas experiências passadas, pela cultura, vivencia, genética, meio, que de algum modo lhe permitem maior compreensão ou força moral etc, para essa superação; e tudo isso faz parte desse movimento irresistível. Quando pensamos que superamos algo ou quando superamos realmente, é o mesmo movimento nos levando a pensar que superamos ou a ter forças para superar.
Lembre-se que não temos comando sobre o ego e, por isso, somos levados inapelavelmente pelas circunstancias e ilusões... Mesmo a compreensão e o trabalho de tentar eliminar o ego, são frutos desse movimento absoluto. Isso mostra bem a coerência das palavras de Paulo: “É o Senhor que opera em nós o pensar, o querer e o fazer” e “Não sois salvos por vossas obras, mas pela graça de Deus”; e de Jesus: “Nenhum poder teríeis se do Alto não vos fosse dado” e “Ninguém vem a mim se o Pai, que me mandou, não o mandar a mim”. O Senhor, Deus, o Alto, o Pai se confundem com esse poder que impulsiona as engrenagens desse movimento sem fim.
Quando um mestre abre a boca e ensina, é o mesmo movimento que o está levando a isso; quando compreendemos o que ele ensina, ou quando não compreendemos, é o mesmo movimento atuando. Quando seguimos ou não seus ensinamentos, idem. Quando acertamos ou erramos, é a mesma coisa. Por isso é que já estamos salvos ou melhor, não há de que nos salvarmos, pois nunca estivemos necessitando de salvação, senão em nossas ilusões; tudo que pensamos que é obstáculo à salvação é resultado das ilusões que esse movimento nos traz através do ego. Por isso, aqueles que compreenderam, que conheceram a verdade afirmam: “... no mesmo instante me vi banhado por uma emoção de alegria, confiança, triunfo, salvação; esta palavra “salvação” não é aprópriada para exprimir a realidade, pois é uma absoluta convicção de que a salvação não é necessária, pois o esquema do universo já é nesse sentido...”. “... naquele momento pude ver que todo sentimento de condenação desaparecera completamente de meu pensamento, e que, a partir daquele instante, eu não mais conseguia, nem me esforçando, sentir qualquer sentimento de culpa ou de condenação por meus atos quaisquer que fossem eles. O sentimento de culpa se apagara, cessara, morrera; foram-se os meus pecados; era como se eu jamais tivesse cometido qualquer pecado. Achava-me num estado no qual eu não mais podia pecar... Ao invés de sentir que eu pecava sem cessar, percebia que não restava em mim o menor sentimento de culpa pelos pecados que já cometera... e de que nunca houve pecados dos quais tivesse de ser perdoado”.
Como podemos pecar se é esse movimento eterno que nos leva a fazer isto e aquilo? Se é o Senhor (esse movimento) que opera em nós o pensar e o fazer? O que ocorre é que estamos num labirinto de ilusões e o único trabalho para sair desse labirinto é o trabalho da eliminação do ego. Então, veremos aquilo que o ego não deixava ver: que tudo é e sempre foi perfeito...

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

NINGUÉM É CULPADO - TODOS SÃO O QUE SÃO.

Amigos


Um companheiro escreveu:

“Mas também se pode admitir como significado da palavra ‘respeito’ a idéia de valorizar uma pessoa por algo que ela tenha praticado no domínio do bem e do mal. Na conformidade desta idéia parece ser coerente atribuir respeito às pessoas que praticaram o bem. E incoerente a atribuição de respeito para pessoas que praticaram o mal”.

Só para fazer que os amigos reflitam, coloco as palavras abaixo que podem mesmo escandalizar a muitos:

“Para aquele que compreendeu a verdade, é tão absurdo colocar entre grades um facínora, quanto levantar um busto, em praça pública, em homenagem ao benfeitor da coletividade”.

É evidente que, aquele que pode causar danos a alguém, deve ser afastado da sociedade, como um animal perigoso, uma cobra, um escorpião; contudo, seu desserviço à sociedade tem exatamente o mesmo valor que o serviço do benfeitor: nenhum! Cada um faz tão somente o que “tem” de fazer, isto é, a ação para a qual todas as forças do universo o arrastam. Como disse Paulo: “É o Senhor que opera em nós o pensar e o fazer” e, coerentemente com essas palavras, afirmou: “Não somos salvos por nossas obras, mas pela graça de Deus”.

Essa é a concepção dos sábios: tudo vem de Deus; somos, neste mundo de relatividade, Seus instrumentos de ação, uma Sua “complementação” ou “prolongamento” (na falta de palavra mais adequada). Como dizem os místicos, os sábios e iluminados e, hoje, a ciência: “Somos os olhos e ouvidos, os instrumentos da ação de Deus; o Criador vê e age no mundo, através de nossa visão e de nossa ação”.

Tudo vem de Deus: dentro desta concepção, nada ocorre sem a “permissão” do Criador; nem felicidade, nem infelicidade. Tanto que o Mestre Jesus também afirmou: “Ninguém vem a mim, se o Pai que me enviou não o mandar a mim”; e mais, a Pilatos: “Nenhum poder teríeis se do Alto não vos fosse dado”.

Só para conhecer e refletir.

A Oração Perfeita

“Santa” Teresa de Ávila – A oração perfeita


Como devemos orar: quando orarmos, entremos em nosso quarto (dentro de nós mesmos) e, fechada a porta (isolando-nos das ações dos sentidos e da mente), em “oculto”, oremos ao Pai que nos ouve em “oculto” (no mais íntimo de nosso ser); oremos em silêncio, a “oração de recolhimento”, ensinada por Teresa de Ávila (e pelos místicos), oração sem palavras, imagens, lembranças, esperanças, pedidos, visualizações, agradecimentos ou pensamentos (oração não discursiva), fazendo com que todos os sentidos e a memória sejam “recolhidos”, não restando qualquer movimento da mente (cessação do ego); essa oração, se bem feita, pode resultar na “oração de quietude”, na qual há completo silêncio mental, o ego cessou (“ou eu, ou Deus”) e a “coisa” pode acontecer...

Nas palavras de Teresa de Ávila: “... chama-se oração de “recolhimento”, porque nela tudo se recolhe, a alma, todas as faculdades, vontades, desejos, memórias, emoções, expectativas, (tudo deve ser recolhido, escondido, esquecido) e entra dentro de si mesma, com Deus (onde já está Deus). Aí, o divino Mestre vem ensiná-la, dando-lhe oração de “quietude”.

Então, oração de recolhimento: recolhem-se os sentidos, a memória, o pensamento, o ego; com esse recolhimento, vem o silêncio mental, que é a própria oração de quietude. Enquanto a oração de “recolhimento” depende de nós, a oração de “quietude” só depende de aquela ter sido bem feita; a de “quietude” brota espontaneamente (“Aí, o divino Mestre vem ensiná-la...”) como resultado da oração de “recolhimento” bem feita (“aquieta-te e sabe: Eu sou Deus”, do Velho Testamento), e isso nada mais é que a meditação, que pode proporcionar a percepção daquilo que buscamos, o encontro com a Verdade, com o Sagrado, com o que “é”...
                                             ... com Deus.

domingo, 26 de dezembro de 2010

JUNG FALA DA ILUMINAÇÃO

JUNG fala da Iluminação


PREFÁCIO, de Carl Gustav Jung, o célebre psiquiatra conhecido em todo mundo, ao livro ‘Introdução ao Zen’, de Suzuki:

Tentar explicar o satori (iluminação, a Verdade, o encontro com Deus, samadhi, nirvana, consciência crística ou búdica, consciência cósmica, reino de Deus, Deus, Cristo, Buda) é inútil. Para alguns é a percepção da verdadeira natureza do ser; o consciente livra-se da ilusória (falsa) idéia de um ‘eu’ que tem existência própria e separada no tempo e que temos de defender contra os demais ‘eus’. Essa ilusão referente à natureza do ser é a confusão que todos fazem do ‘ego’ com o ‘ser’. Ser é a consciência total, absoluta, cósmica, o Cristo, o Buda, o reino dos céus, Deus. O ego é apenas um feixe de ilusões, repleto de lembranças, expectativas e interpretações erradas das coisas do mundo.

Quando pensamos que há algo de bom em nós, isso vem da ilusão de que possuímos alguma coisa, de que possuímos bondade, de que somos bons, mas, isso é sinal de imperfeição e insensatez. Fôssemos nós conscientes da verdade, saberíamos que não somos bons, que o bem não vem de nós. Por isso, o iluminado diz:

‘Que pobre tolo eu era! Estava na ilusão de que eu era isto ou aquilo: agora vejo que isto ou aquilo é Deus’.

O satori é uma ruptura da consciência condicionada, apenas limitada ao ego, repleta de ilusões, impurezas, de todo lixo mental ali depositado pelos costumes, tradições, culturas, suposições e crenças durante toda nossa vida. O satori faz com que a consciência adquira a forma de consciência ilimitada, infinita, de não-eu, não-ego, pura como é o ser. Jesus diz no seu sermão: ‘Bem-aventurados os pobres de espírito’, isto é, aqueles que perderam seu ego, sua ‘personalidade’, pois, agora, têm ‘a’ de Deus. Por isso, bem-aventurados. O satori é o reconhecimento de nossa face original, o homem antes de ser criatura (o espírito antes de ser homem), o reconhecimento, a percepção da verdade de que ‘eu sou’.

Exceto alguns místicos ocidentais, parece, numa visão superficial, que, no Ocidente, nada há que possa ser comparado ao satori. Da prática (da meditação) surge um novo estado de consciência que não é influenciado pelas coisas externas. Daí brota uma consciência vazia, pura, que permanece aberta a outra influência. Essa influência não será mais sentida como a própria atividade da mente, do ego, do ‘eu’, e sim como o trabalho do não-ego, do ser absoluto, que tem a consciência como seu objeto. É como se o ego fosse invadido por um sujeito (a Subjetividade Absoluta, Deus) que tivesse tomado o seu lugar, o seu controle. Como disse Paulo: ‘Não sou mais eu que vivo, mas o Cristo é que vive em mim’.

Quando isso ocorre, aparece em cena um homem completamente transformado, um homem ‘renascido’, um ‘novo homem’.

O Zen difere de todas as outras práticas de meditação em virtude do ‘koan’ que rejeita qualquer resposta lógica. O próprio Buda é rejeitado por ser apenas uma imagem, um símbolo, um rótulo. Nada deve interferir a não ser o que realmente está lá, isto é, o homem com suas completas, mas inconscientes, suposições, ilusões, crenças, condicionamentos, dos quais, por ser inconsciente, não pode se libertar.

Na experiência maravilhosa da iluminação, a resposta parece surgir do vácuo como ‘da superfície do lago, salta, repentinamente, um peixe’. O inconsciente é a soma de todos os fatores psíquicos que estão fora da percepção consciente. Ele representa a totalidade de onde a consciência, aos poucos, arranca fragmentos. Caso a consciência seja esvaziada de todos seus conteúdos, cairá num estado de inconsciência total (um vazio, no qual, se perseverar, nasce um estado indizível e ilimitado de consciência). Isso é obtido no Zen como regra, porque a energia do ser consciente é, pela prática, retirada dos conteúdos mentais (que sempre a iludem e onde sempre está) e se transfere para uma concepção de vazio. Aí, a concepção de imagens, pensamentos, ilusões, cessa e poderá vir a se produzir a tensão máxima que permitirá a final eclosão dos conteúdos inconscientes no consciente.

Os conteúdos mentais que afloram não são, em absoluto, inespecíficos. A experiência psiquiátrica com a loucura mostra que existem relações peculiares entre os conteúdos do inconsciente e as imagens e delírios que afloram ao consciente. São as mesmas relações que existem entre os sonhos e a consciência comum em todos os homens ditos ‘normais’. Ali está um ‘quarto de despejo’, de segredos inconfessáveis semi-esquecidos. O inconsciente é a matriz de todas as concepções metafísicas, mitológicas e filosóficas, de todas as idéias acerca da vida que estão baseadas em premissas psicológicas (suposições, crenças). Cada invasão do consciente no inconsciente é uma resposta a uma condição definida do consciente, e esta resposta vem da totalidade das idéias-possibilidades que estão armazenadas no inconsciente. A divisão em unidades, a fragmentação dessa totalidade, é produzida pela consciência localizada (a consciência individual, condicionada), pois essa é sua natureza.

A reação conseqüente ao satori sempre tem um caráter total, pois reflete uma natureza que não foi dividida por qualquer consciência discriminativa; é, agora, uma consciência indivisa, integral, absoluta. Por isso seu efeito é avassalador. É uma resposta inesperada, total e completamente esclarecedora desde o momento em que o consciente se encontra num beco sem saída, em que não encontra resposta alguma para suas perguntas mais profundas.

Quando, após dura prática e enérgica destruição da compreensão racional, lógica, o devoto Zen recebe uma resposta da natureza - a única resposta verdadeira -, tudo que foi dito sobre o satori poderá ser compreendido. Cada um verá, por si mesmo, que são a simplicidade e a naturalidade da resposta que chocam; que envolvemos a verdade simples e pura, com a construção, sobre e em torno dela, de uma vasta estrutura de suposições, ilusões e crenças que, agora, são destruídas totalmente.

Embora o valor imenso do Zen para a compreensão do processo religioso transformador, sua prática entre os ocidentais é muito problemática. No Ocidente não existe uma educação mental (cultural) para o Zen. Quem, dentre os ocidentais, confiará nas atitudes incompreensíveis de um roshi (mestre zen)? Isso só é encontrado no Oriente. Quem poderá crer numa transformação ilimitada da mente humana e está disposto, para isso, a sacrificar anos de vida no trabalho da busca? No Ocidente houve quem se submetesse a tudo isso para alcançar o satori, mas se mantém em silêncio, não por timidez, mas por saber que é inútil qualquer tentativa de transmitir a experiência aos outros (‘vi e ouvi coisas inefáveis’, como disse Paulo).

Em nossa civilização ocidental nada há que incentive essas aspirações, nem mesmo a igreja cristã, que se julga a única guardiã dos valores religiosos. O único movimento dentro da civilização ocidental que tem, ou deveria ter, algum entendimento dessas tentativas é a psicoterapia. Não é por acaso que um psicoterapeuta está escrevendo este prefácio.

O psicoterapeuta, seriamente interessado no resultado de sua terapia, não pode ficar insensível quando vê o objetivo do método oriental de cura psíquica. Seu objetivo é ‘reconstruir o todo’ em face da fragmentação produzida pelo consciente racional (ego). No Ocidente, nessa luta de cerca de dois mil anos, foram desenvolvidos métodos e doutrinas que simplesmente obscurecem as tentativas dos ocidentais a esse respeito. Nossas tentativas têm, com poucas exceções, descambado para a magia e cultos dos mistérios, entre os quais, forçosamente, está o Cristianismo. A igreja, com seus dogmas e fantasias, embaraçou seus fiéis num mundo de crenças sem nexo e imagens confusas. Não é a boa intenção, a imitação da vida dos ‘santos’ (o amor, a caridade), nem as acrobacias intelectuais (raciocínio, imaginação), que conduzem à reconstrução do todo e, sim, a cessação do ego.

Se o homem for escravo de sua crença quase biológica, sempre tentará reduzir o que observa a algo banal, trazendo suas experiências até a um denominador racional que só agrada indivíduos que se satisfazem com ilusões. Se o psicoterapeuta reflete um pouco a esse respeito, poderá entender como são vazias, sem importância e contrárias à vida, todas as reduções racionalísticas que versam sobre algo que está vivo e em desenvolvimento. E poderá ter idéia do que significa ‘abrir as portas pelas quais alguém poderá escapar satisfeito e completo’ (João da Cruz?). (Jesus: ‘... tudo mais virá por acréscimo’ e ‘Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará’).

Não quero dar conselhos, mas, quando os ocidentais começam a falar do Zen, considero meu dever mostrar onde está a entrada para o caminho que conduz ao satori (iluminação). E quais as dificuldades que juncam esse caminho, somente trilhado por uns poucos grandes homens, que são como faróis, numa alta montanha, brilhando, lá, do enevoado futuro.

Para uma experiência completa não há nada mais barato que o Todo. Para isso é preciso uma expansão indefinida da consciência. Não existem condições fáceis, nem substitutivos. O Zen mostra quanto significa, para o Oriente, o ‘tornar-se integral’, o tornar-se um Todo, uma mente só, indivisa.

A preocupação com os enigmas do Zen pode, ou fazer o ocidental sem força de vontade desistir, ou dar-lhe óculos para sua miopia, de modo que, através da escuridão, possa ter, ao menos, um vislumbre do mundo da experiência mística. O Zen não tem complicadas técnicas como as da yoga (hinduísmo), que dão ao ocidental, falsas esperanças de que a luz pode ser conquistada pelo ato de sentar e respirar. Ao contrário, exige inteligência e força de vontade, como o exigem todas as grandes coisas que desejamos tornar reais.

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Outras palavras de Jung;

A MENTE É DEUS – Jung:

“O atentar para a Mente intemporal é tarefa redentora para todas as pessoas. Em nosso tempo, essa tarefa é particularmente difícil porque colocamos, no dia-a-dia, nossa ênfase no aqui-agora, no fazer, no consumir, nos aspectos práticos, no progresso material. Como valorizamos o aspecto material, estamos separados dela. O resultado é patológico: tornamo-nos vítimas de nossos próprios impulsos inconscientes e o mundo ‘demonizou-se’. Nossa verdadeira tarefa de vida é exatamente o contrário: tornarmo-nos conscientes dos conteúdos que emergem do inconsciente, criar cada vez mais consciência; esse o objetivo único da existência humana:... acender uma luz na escuridão do ser”.

E mais palavras de Jung:

“Seguramente, a alma não é algo insignificante (como as religiões ocidentais a consideram); ela é a própria Divindade radiante”.



O FIM DO SOFRIMENTO - Jung:

‘Essa experiência (a experiência mística) é exatamente como se o espírito e a carne, eternos inimigos na visão do cristianismo, tivessem feito as pazes... o sagrado e o mundano se acham conjugados numa inesperada situação de paz. A austera seriedade do espírito parece tocada por uma alegria semelhante àquela que a antiguidade pagã conhecia, perfumada de vinho e rosas. Seja como for, (essa experiência) faz com que se esqueçam todas as dores e penas da alma... ’

(Como disse Pascal: ‘alegria, alegria, lágrimas de alegria’; e o Buda: essa experiência ‘é o fim de todo sofrimento’; e Jesus: ‘é a libertação’).



O INCONSCIENTE COLETIVO E A MENTE – Jung:

“O inconsciente coletivo apresenta as características da mente não-localizada (mente fora o espaço-tempo, no atemporal, isto é, a mente una, cósmica, universal, Deus); não pode ser fixado no espaço e no tempo, e transcende o ego individual, envolvendo todas as mentes”.

“O inconsciente tem o seu próprio tempo à medida que passado, presente e futuro, juntos, combinam-se nele”.

“Uma vez que todas as distinções, diferenças, desaparecem na condição inconsciente, é lógico que a distinção entre mentes separadas deve desaparecer também. Toda vez que há diminuição do nível consciente, deparamos com exemplos de identidade inconsciente”.



O SENTIMENTO DE HARMONIA – Jung:

“... Naturalmente é difícil compreender como essa figura abstrata (a experiência de Deus, que nada é mais que uma experiência subjetiva, pois na psique do homem) desperta o sentimento da ‘mais sublime harmonia’... Mas esse tipo de experiência não é, para mim, nem obscuro, nem longínquo. Muito ao contrário: trata-se de um fato que observo quase todos os dias em minha vida profissional (de psicoterapeuta)... Conheço um número consideravelmente grande de pessoas que, se quiserem viver, terão de levar a sério sua experiência íntima...”

(Isto significa que a vida daqueles que tiveram a experiência de Deus será transformada obrigatoriamente por força do novo conhecimento, a iluminação que lhes vem dela; ela proporciona o ‘nascer de novo’, a ‘ressurreição’).



O SIGNIFICADO DA EXPERIÊNCIA – Jung:

‘Os exemplos que escolhi para ilustrar aquilo que chamo de ‘experiência mística’ (a experiência de perceber Deus) certamente pouco significarão para um olhar inexperiente... Mas, apesar disso, a experiência individual... é sangue quente e rubro, que pulsa nas veias do homem (que a teve). Para quem busca a verdade, ela é mais persuasiva do que a melhor das religiões, do que a melhor das tradições... Se quisermos saber algo a respeito do significado da experiência religiosa para aqueles que a tiveram, esse algo é: tudo... ’

(Quem teve essa experiência diz que tudo o mais é lixo se comparado com ela (Teresa de Ávila); fútil e infantil (Krishnamurti), e que, só com essa experiência a vida adquire significado).



EXPLICANDO A EXPERIÊNCIA - Jung:

‘Naturalmente é difícil compreender como essa figura abstrata (a experiência imediata, a experiência mística, a percepção daquilo a que as religiões dão o nome de Deus, que nada é mais que uma experiência subjetiva, pois na psique do homem) desperta o sentimento da ‘mais sublime harmonia’... Contudo esse tipo de experiência não é, para mim, nem obscuro, nem longínquo. Muito ao contrário: trata-se de um fato que observo quase todos os dias em minha vida profissional (de psicoterapeuta)... Conheço um número consideravelmente grande de pessoas que, se quiserem viver, terão de levar a sério sua experiência íntima... ’ (isto é, a vida daqueles que tiveram essa experiência de Deus, será obrigatoriamente transformada por força do novo conhecimento, a iluminação que lhes veio dela).



JUNG E A RELIGIÃO- Jung:

-‘Eu gostaria de deixar bem claro que, com o termo ‘religião’, não me refiro a uma dada profissão de fé religiosa. A verdade, porém, é que toda confissão religiosa, por um lado se funda originalmente na experiência do numinoso (transcendental) (que, na experiência religiosa pode ser o influxo de uma presença invisível que produz modificação especial na consciência; tal, pelo menos, é a regra universal) e, por outro lado, na fé e na confiança relativa a uma experiência de caráter numinoso e na mudança de consciência que daí resulta. Um dos exemplos mais frisantes, nesse sentido, é a conversão de Paulo. Poderíamos, portanto, dizer que o termo ‘religião’ designa a atitude particular de uma consciência transformada pela experiência do numinoso...’ (Transformada pela experiência de Deus).



PERCEPÇÃO DIRETA DE DEUS – Jung e a Experiência:

Pesquisadores cristãos do primitivo cristianismo afirmam que ‘o que falta, no cristianismo de hoje, é o conhecimento de que podemos ir além da teoria e da doutrina; que podemos passar para a percepção direta’, vejam bem, ‘percepção direta’; podemos perceber, diretamente, aquilo de que a doutrina fala. Isto é, podemos ter a percepção direta de Deus. Esse conhecimento existia no cristianismo dos primeiros séculos, mas a igreja cristã esqueceu de divulgar.

Jung afirma que a experiência de "conhecer a verdade" é a experiência mais importante e sublime na vida do ser humano. Enquanto as experiências de seguidores de crenças e religiões são, em geral, como relatam os que por elas passaram, diferentes entre umas e outras, obscuras, se referindo a necessidades ou assuntos diversos, a experiência de Deus é uma só, uma "experiência de concordância universal" (denominação dada por Jung), pois é idêntica para todos os que a tiveram, seja em qualquer tempo ou lugar.

E prestem atenção a estas outras palavras de Jung:

"O fato, que tenho comprovado numerosas vezes, em meu consultório, é que a experiência de Deus é a verdadeira terapia e, na medida em que as pessoas passam por essa experiência, elas se afastam da maldição da patologia".

Perceberam? Quanto mais próximos estamos de "sentir" Deus, mais longe nós estamos das doenças do corpo e da mente.

Abraços a todos.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

QUANDO CRITICAMOS OS OUTROS MOSTRAMOS NOSSO PRÓPRIO RETRATO...

                  


          Como asseguram renomados psicólogos todos nós, mesmo inconscientemente, projetamos para fora de nós facetas, características nossas, físicas ou mentais, das quais não gostamos. No entanto, elas continuam sendo nossas e nos acompanham feito uma "sombra". A Sombra pode conter não só aspectos maus, demoníacos e agressivos, que repudiamos, mas também aspectos bons, divinos e nobres, que esquecemos de que nos pertencem. Ainda que repudiados, continuam sendo nossos, continuam a operar e continuamos a percebê-los; mas, como julgamos que não são nossos, vemo-los como se pertencessem a outras pessoas e acreditamos, ou que nos ameaçam, ou que o outro tem qualidades excepcionais que nós não temos. Assim, quando temos o impulso para fazer algo, parece que o meio ambiente é que nos está empurrando para agir e, em lugar de interesse, sentimos pressão; em lugar de desejo, obrigação. A energia continua sendo nossa, mas devido à projeção, sua fonte parece estar fora de nós e, assim, em vez de sentir que a energia é nossa, nós nos sentimos martelados por ela, forçados pelo que parecem ser forças exteriores. E podemos projetar, não só emoções positivas de interesse, impulso, desejo, mas também emoções negativas de raiva, ressentimento, ódio, rejeição. Em vez de entender que estamos com raiva de alguém, achamos que esse alguém está com raiva de nós; em vez entender que odiamos, achamos que o mundo nos odeia; em vez de entender que rejeitamos, achamos que somos rejeitados.


Podemos, também, projetar idéias, qualidades ou traços positivos ou negativos. A pessoa apaixonada projeta todo seu potencial no amado e, logo se sente dominada pela suposta bondade, sabedoria, beleza, competência, do ente querido. Entretanto, a beleza está nos olhos do contemplador, e a pessoa apaixonada está, muitas vezes, apaixonada por aspectos projetados do seu próprio ego.


Fato semelhante ocorre nos casos de admiração, inveja etc. Nossa tendência natural, frente a um aspecto não desejável de nós mesmos, é simplesmente negá-lo e projetá-lo para fora da consciência, o que é impossível, pois os aspectos repudiados continuam sendo nossos e não deixam de nos perseguir. Nossa luta com as maldades do mundo geralmente é nossa luta com “nossa” própria Sombra. A irritação, a negativa violenta é a evidência da projeção.


As críticas que fazemos dos outros, geralmente, não passam de trechos não-percebidos de nossa própria auto-biografia.


Por isso os estudiosos da mente humana dizem: “Para se conhecer de fato uma pessoa, basta prestar atenção ao que ela fala a respeito dos outros”.


Perceba Deus em você.

RELIGIÃO - O QUE É?

Carta a um amigo, em 14/10/2010:


Meu amigo, as religiões mais nos enchem de ilusões, dúvidas e, sobretudo, esperanças em coisas que nem temos certeza de que, um dia, vão acontecer. Dão-nos esperanças de recompensas, nos dão medos e remorsos pelos erros, sentimentos de culpa, sofrimentos, preocupações. É certo que suas regras objetivam trazer um melhor relacionamento entre as já tão sofridas criaturas divinas. Veja o Decálogo: não matar, não roubar, não cobiçar o que seja do próximo, não desonrar, não dar falso testemunho, não adulterar. Observe que aí nada tem que signifique regra de “salvação”. Quanto aos quatro primeiros são inócuos, pois apenas visam a que se respeite aquele ser poderoso que o homem tão somente “imagina” o que possa ser. E não só que se respeite, mas até que se tema, como ainda hoje ocorre com tantas ameaças que as religiões, não só as ocidentais, apregoam ...

Veja o que todos os líderes, depois tidos por líderes religiosos, tiveram que fazer inicialmente: colocar ordem e tranqüilidade ao povo. Esse é o exemplo de Moisés, liderando uma fuga pelo deserto de, fora as crianças, 600 mil pessoas, rebeldes, sofridas, desorganizadas, indisciplinadas, prontas para matar, roubar, cobiçar etc. Como esse povo o obedeceria, quando não tinha recurso algum a não ser a vontade de se livrar do cativeiro de muitos anos no Egito? Somente despertando-lhe medo, o que fez apresentando-lhe um “Deus poderoso e cruel”, com ordens que, se negligenciadas pelo povo pagão, resultariam castigos terríveis e assustadores, como ocorreu tantas vezes. O mesmo fez Maomé, com seu povo nômade.

Observe e verá que, ainda hoje, aquele medo persiste. Essa a razão de confissões e comunhões, promessas, sacrifícios, a auto-flagelação, o forçar a própria natureza para perdoar, para agir com amor ao próximo, penitências, orações etc. Como não podemos deixar de perceber, é o medo que está por trás de tudo isso; medo de não estar protegido, de não agradar ou de ofender a divindade; de não cumprir os mandamentos de sua crença e vir a ser, em conseqüência, sentenciado a penalidades torturantes e cruéis ditas educativas.

O medo dos ancestrais ainda está em nós. E a crença de que agradando os “deuses” seremos favorecidos, também. Quanta coisa o homem faz para agradar e, assim, conseguir o favor de Deus? O sacrifício nas diferentes promessas de fazer ou não fazer isto ou aquilo; o sacrifício do próprio corpo no jejum, subindo escadarias, caminhando longos percursos de joelhos; a auto-flagelação, rezas e orações, serviços/caridade forçados ao próximo etc.

Quantas vezes a natureza do indivíduo ainda não tem condições de amar, mas ele a força, pois que acredita que deve seguir os conselhos de sua crença particular e, assim, também, poderá conseguir méritos. Por isso os sábios dizem que, enquanto não se “conhecer a verdade que liberta”, como disse Jesus, todas as virtudes são ou prematuras, imitações, forçadas ou falsas. O homem, muito do que faz quando parece virtuoso, o faz por receio da desaprovação de Deus. A expressão comum “sou temente a Deus” é significativa.

As lições de Jesus, em geral, tinham o mesmo objetivo: uma vida menos sofrida pelo fato de todos se respeitarem naqueles aspectos citados; quando o Mestre disse “... dali não sairás até que tenhas pago o último ceitil...”, “... serás atirado ao fogo da geena...”, “... teu credor te levará ao juiz...”, observe que tudo visava a um relacionamento mais harmonioso com vistas a suavizar a vida daqueles homens já sujeitos a tantas desditas.

Isso é a religião, sobretudo a religião popular, organizada: leva os homens a melhor se conduzirem e se respeitarem, sobretudo por temerem as conseqüências, tantas vezes inenarráveis, de seus “erros”. Por isso, sérios pesquisadores do cristianismo primitivo afirmaram que “‘pelo cristianismo de hoje, ninguém chega ao Pai”, que “a igreja cristã falhou, por estar fazendo a humanidade ocidental caminhar contra um muro, sem conseguir dar um passo na direção de Deus”.

Por isso, também, os mestres chegam a afirmar que “as religiões impedem o acesso à verdade”, que “aquele que se liga a religiões organizadas é imaturo”. As religiões visam trazer ordem e tranqüilidade, mas não levam a Deus.

Cito o amigo:

”Mesmo como respostas condicionadas e não "puras"..., tudo o que fazemos... afeta a todos... e a nós mesmos”.

Sim, amigo, afeta nesse sentido exposto acima: no sentido de trazer maior harmonia; não nos aproxima de Deus.

Cito o amigo:

”Não seria isso caridade, uma virtude ao alcance de todos?”

É espontâneo esse ato caridoso, ou é feito por interesse ou porque os mestres recomendaram que se faça assim? Ou é feito para se sentir bem com a consciência? O homem virtuoso nem sabe que é virtuoso.

O amigo:

”... temos que buscar a nossa iluminação... Mas, devemos ignorar aqueles que sofrem...?”

É evidente que não, amigo. Pois o Mestre ensinou isso: amar o próximo... O amor está no caminho que leva à iluminação. E você ignoraria o sofredor? É sua natureza, sua religião ou seu medo da desaprovação de Deus que o levam a amar o sofredor?

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Visitantes, seguidores ou não.

Meus amigos

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só agora descobri a página de comentários e, então, fiquei feliz de saber que vocês visitaram este blog.

          Um abraço e um natal feliz.

domingo, 19 de dezembro de 2010

Conexão com o Infinito

Amigos,


Abaixo dois textos que sugerem, ou mesmo indicam, nossa conexão com o Infinito:

“A CIÊNCIA EM BUSCA DE DEUS: Novas tecnologias ajudam a desvendar a cadeia de reações provocadas no organismo durante uma prece, oração, meditação. Além de elevar a auto-estima, esse tipo de experiência aciona circuitos cerebrais responsáveis pela sensação de “transcendência espiritual”.

“No momento mais sublime, tive uma sensação de paz interior e elevação espiritual. Havia uma consciência de Deus ao meu redor, um aquietar da mente. E um sentimento de plenitude, como se a presença do Criador estivesse permeando todo o meu ser”, é o relato de uma freira franciscana, após oração de 45 minutos. Este depoimento faz parte de um dos mais importantes estudos científicos já realizados sobre a relação Deus-mente humana. O trabalho, feito na Universidade da Pensilvânia, com tomógrafo de última geração, de 10 milhões de dólares, mostrou que o lobo parietal cerebral sofria bloqueio do fluxo contínuo de informações transmitidas pelos sentidos objetivos, durante as orações ou meditação. Essa área do cérebro é responsável por distinguir os “limites entre o indivíduo e o mundo”. Quando deixa de receber estímulos e pára, a pessoa sente-se “parte do infinito e intimamente conectada com todos os seres e coisas do universo”, disse Newberg, pesquisador. Esta descoberta está aproximando Deus da ciência, que foi sempre e tradicionalmente cética em relação a esses assuntos e que encarava, por exemplo, o espiritismo como uma das principais causas de doenças mentais.

Segundo pesquisas cientificas recentes, sabe-se, hoje, que pessoas que cultivam alguma crença e praticam orações ou meditação vivem mais, estão menos sujeitas aos males da vida moderna, como o estresse, e recuperam-se mais rapidamente de cirurgias, entre outras coisas (ver as pesquisas sobre Meditação Transcendental, de Maharesh Maharish Yogi).

Durante a prece, ou oração, meditação, o lobo parietal cerebral vai se acalmando até ficar completamente inativo. Nesse momento tem-se a sensação de estar “fundido com o universo”. Segundo as pesquisas, o lobo frontal fica intensamente iluminado durante a prece. O lobo temporal central produz o êxtase, a alegria, a calma e outras sensações conhecidas na experiência religiosa.

Cientistas começaram a levantar a hipótese de que algo maior é a fonte desses fenômenos, não descartando a possibilidade de que a ocorrência do Big-Bang, que deu origem ao universo atual, pode ter sido provocada por essa força maior e desconhecida, esse algo mais, que, sem sombra de dúvida, se confunde com o próprio Deus”.

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“EM BUSCA DO DIVINO: Novas provas científicas mostram que os seres humanos foram projetados para acreditar em Deus. Segundo Andrew Newberg, radiologista e uma das principais figuras da emergente ciência da neuroteologia, professor da Universidade da Pensilvânia, e Eugene d’Aquili, psiquiatra e antropólogo, a fabulosa “realidade superior” descrita pelos místicos pode ser real; tão real quanto esta mesa; mais real, até; e a possibilidade de tal realidade “não é incompatível com a ciência”. Eles descrevem como as funções do cérebro podem produzir uma gama de experiências religiosas, desde as profundas epifanias dos santos até a silenciosa sensação de santidade experimentada por um devoto ao rezar (orar).

No estudo do mapeamento cerebral de budistas tibetanos em meditação e freiras franciscanas imersas em prece contemplativa, as tomografias mostraram o fluxo sangüíneo - indicando níveis de atividade neural - no cérebro de cada indivíduo no momento em que este atingia “intenso clímax” religioso. No cérebro, sabe-se, uma porção do lóbulo parietal esquerdo, a área de associação e orientação, estabelece a “fronteira entre o eu físico e o restante da existência”, tarefa que requer contínuo fluxo de informações neurais, canalizadas pelos sentidos. As tomografias revelaram que, nos momentos de pique das preces e meditação, esse fluxo sofria drástica redução. Com a área de orientação privada das informações necessárias para separar o eu do mundo, o indivíduo, acreditam os cientistas, experimentaria uma “sensação de percepção ilimitada, fundindo-se com o infinito”. Parece que os cientistas capturaram instantâneos do cérebro próximo a um estado de “transcendência mística” - descrito pelas principais religiões (tradições) como uma das mais profundas experiências humanas. Os santos católicos se referiam a isso como “união mística com Deus”, “casamento místico”. São raras experiências, que exigem um bloqueio quase total da área de orientação. Os dois pesquisadores acreditam que bloqueios de graus mais reduzidos poderiam produzir uma gama de experiências mais brandas, mais usuais, como quando os devotos “se perdem” ou experimentam “sensação de unidade” em meio às orações. A pesquisa sugere que esses sentimentos têm origem, não na emoção ou no poder da sugestão, mas na “fiação” geneticamente estruturada do cérebro.

Newberg explica que “não é possível simplesmente bloquear a existência de Deus com o pensamento, pois os sentimentos religiosos provêm muito mais da “experiência” do que do pensamento. Nascem num momento de “conexão espiritual”, tão real para o cérebro quanto qualquer percepção de uma realidade física normal”. Após muito estudo e pesquisa, o autor do texto chega a afirmar que “uma experiência mística não é uma ascensão mágica a um céu distante, mas uma epifania silenciosa e pessoal (epifania: é súbita sensação de realização ou compreensão da essência ou do afeto de alguém... a igreja católica: é Jesus manifestar-se a alguém) e que o milagroso e o mundano, o sagrado e o profano, são “um só e o mesmo”, e estão bem diante de nossos olhos; que, para os místicos, só podemos ver a realidade como ela é de fato quando deixamos o eu (ego) de lado durante a “meditação”. As tomografias sugerem que o cérebro talvez seja capaz de experimentar duas realidades: numa, a percepção alcança a mente pelo filtro do eu; na outra, “o eu é afastado” (meditação) e a percepção se amplia e se unifica. E a realidade é uma questão de grau: o que parece ser mais real é mais real. Para os místicos o estado transcendental é mais real do que o estado comum.

Einstein:, “A mais bela experiência que podemos ter é a do misterioso. Este é a emoção fundamental e está no berço (na base) da verdadeira ciência. Quem não sabe disso e já não consegue se surpreender ou se maravilhar, está praticamente morto”. Esta opinião é, também, a de outros grandes cientistas, quânticos, como Niels Bohr, Max Plank e Werner Heisenberg, que concluíram que, no universo racional, “há espaço para maravilhas incompreensíveis”.

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Cel: hoje, a ciência não mais consegue explicar o universo e a vida sem colocar nessa explicação a existência de uma inteligência diretora que estaria além e acima do universo. Daí, a procura do “bóson de Higgs”, partícula subatômica, que seria ligação Deus-universo, Deus-homem, espírito-matéria.

Fiquem em Deus.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Religiões e "Religiões" - Exotéricas e Esotéricas

Religiões exotéricas e esotéricas.

Amigos,

Em nossa existência, os mistérios e interrogações sobre a vida, a morte, a origem e o destino, o desconhecido, as desigualdades de raças, espécies, comportamentos, caracteres, posição social, riqueza e miséria, sofrimentos e gozos, a imensidão dos oceanos e céus, o poder criador e destruidor da natureza, levaram o homem a criar a religião exotérica...

Tanto ela como o existencialismo, filosofia que afirma a liberdade total do homem, desvinculando-o mesmo de qualquer ligação com um Deus, resultam da reação do homem àqueles mistérios e medos. Enquanto o existencialismo tenta suavizar o dualismo “eu e o outro” ao fazer que o eu participe “com” o outro, a religião exotérica manipula esse dualismo tentando nos levar à paz com o Grande Outro, Deus. E enquanto o existencialismo, no dualismo vida e morte, afirma a morte, a religião o manipula negando a morte. Assim, nasce a religião exotérica, tentativa psicológica do homem de se lançar para além do eu físico, finito e mortal, e se tornar um eu infinito, espiritual e imortal, alma eterna; para não deixar de ser.

Essa, como vemos no mundo, é a religião de muitos, popular, superficial, recheada de diferentes crenças, de vários deuses, com divisões indicadas pelas diferentes denominações, de diferentes procedimentos, concepções e experiências, geralmente organizada a partir de escrituras ditas sagradas, e com hierarquias, doutrinas e regras próprias. Veio do anseio de sobreviver à morte, do desejo de felicidade num futuro desconhecido.

No entanto, ao “lado” dela está a “religião” (que não é religião) dita “esotérica”. A linha entre o esotérico e o exotérico, não está nas religiões. A diferença fundamental não são linhas que dividem “verticalmente” hinduísmo de islamismo, budismo, cristianismo, judaísmo, taoísmo etc. A linha divisória é “horizontal” e ocorre apenas uma vez, cortando de um lado a outro todas as religiões históricas. Acima, está o exoterismo, como já vimos de muitas crenças e de muitos, popular; abaixo, o esoterismo, profundo, de poucos, buscando a essência, sem nenhuma divisão, de um só Deus, em geral sem hierarquias, doutrinas ou regras próprias, no qual todas as experiências são, em qualquer época e em qualquer lugar, idênticas, de uma concordância universal, segundo Einstein e outros. Esta é a "religião" dos místicos, dos que almejam "conhecer" Deus, nesta mesma existência.

Fiquem em Deus.

RELIGIÃO E ESPIRITUALIDADE

Religião e Espiritualidade


(No texto, Espiritualidade e Misticismo praticamente se confundem).

A religião não é apenas uma, mas centenas.
A espiritualidade é apenas uma, sem divisões e rótulos.

A religião é para os que ainda estão dormindo.
A espiritualidade é para os que estão abrindo os olhos e acordando.

A religião é para aqueles que necessitam que alguém lhes diga o que fazer, que ainda precisam ser guiados, que seguem o caminho de todos, o velho caminho, o conhecido, de porta larga e, aparentemente, de piso suave.
A espiritualidade é para os que atentam para sua voz interior, que não se guiam pelos outros, mas pela compreensão, que seguem o caminho de poucos, o novo e, por isso, desconhecido e julgado como de porta estreita e piso pedregoso.

A religião tem um conjunto de regras dogmáticas, que devem ser obedecidas, sem questionamento, pelo seguidor.
A espiritualidade convida a raciocinar sobre tudo, a questionar tudo, a buscar compreender a totalidade da vida, sem dogmas e sem regras.

A religião ameaça e amedronta, e traz receios e remorsos.
A espiritualidade dá paz interior, abre os olhos e ouvidos para que se possa ver e ouvir.

A religião fala de pecados e de culpas, de locais de expiações e padecimentos.
A espiritualidade diz: “nenhuma culpa tens; aprende com o erro e continua tua busca”.

A religião, talvez inadvertidamente, reprime tudo, torna o homem falso, cínico, de atitudes forçadas, interessado nas recompensas futuras.
A espiritualidade transcende tudo, torna o homem verdadeiro e o convida a buscar Deus, agora.

A religião ilude e impede o acesso à verdade.
A espiritualidade descobre e mostra a verdade.

A religião não indaga nem questiona, pois só vê a si mesma e se vê como a única certa.
A espiritualidade tudo questiona, estuda, analisa, compara e busca o melhor.

A religião é criação do homem-ego, superficial, uma organização com regras, ordens, mandamentos, imposições e suposições.
A espiritualidade é fruto da compreensão, do aprofundamento na busca da verdade, sem regras, sem determinações.

A religião é causa de divisões, sofrimentos e infelicidade.
A espiritualidade é causa de união, felicidade e bem-aventurança.

A religião busca o homem, deseja conduzi-lo e lhe impõe para que ele nela creia.
A espiritualidade, tem de ser buscada por esforço próprio e permite que se caminhe pelas próprias pernas.

A religião segue os preceitos de um livro sagrado.
A espiritualidade busca o sagrado em todos os livros, coisas e eventos.

A religião se alimenta nas crenças, esperanças, incertezas, medos e ameaças.
A espiritualidade se alimenta na confiança e na verdade.

A religião faz viver no pensamento, na imaginação e nas expectativas de um futuro de recompensas ou de castigos.
A espiritualidade leva a viver na verdade que liberta.

A religião se ocupa com o fazer e exigir fazer.
A espiritualidade se ocupa com o Ser.

A religião nos faz renunciar ao presente com promessas de um futuro mais feliz.
A espiritualidade nos faz viver em Deus, e perceber o que é verdadeiro e o que é falso, e viver a felicidade aqui e agora.

A religião é adoração, súplica, agradecimentos e incertas possibilidades.
A espiritualidade é esvaziamento e meditação.

A religião alimenta o ego e as ilusões e não deixa crescer.
A espiritualidade faz que se transcenda o ego e, com isso, leva à estatura do Cristo.

A religião sonha com a glória e com o paraíso.
A espiritualidade nos faz viver a glória e o paraíso aqui e agora.

A religião vive pelas lembranças do passado e esperanças num futuro incerto.
A espiritualidade vive aqui-agora, no presente eterno.

A religião enclausura nossa memória e restringe nossa inteligência.
A espiritualidade traz a verdade que liberta a Consciência.

A religião faz a vida cheia de apegos a seres e coisas supostas e duvidosas.
A espiritualidade elimina apegos, suposições e dúvidas.

A religião crê na vida eterna.
A espiritualidade faz experienciar a vida na eternidade.

A religião promete para depois da morte, num futuro incerto e imaginado.
A espiritualidade é encontrar Deus em nós nesta mesma vida.

A religião tem seus mestres exclusivos, particulares.
A espiritualidade procura a verdade de todos os mestres.

A religião, embora assim pensem, não é o caminho e, portanto, não leva a Deus.
A espiritualidade, embora assim não pensem, é o caminho que leva ao Todo e a Tudo, ao alvo final, a Deus.

A religião é nascida e alimentada por experienias diversas, muitas vezes particulares, e possui vários ídolos e deuses.
A expiritualidade é nascida e alimentada por uma só experiencia, de concordância universal, pois é idêntica para todos que por ela passaram, ou passam, em qualquer tempo e lugar.

Fiquem em Deus.