quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

COMENTANDO COMENTÁRIOS

COMENTANDO COMENTÁRIOS




Um amigo comentou:

"O perdão é prescrito... mas não devemos ser tolos".

Por essa frase vê-se que isso de que o amigo fala não é perdão. Está certo se o que o amigo quis dizer com “não ser tolos” se refere à segregação de alguém perigoso aos demais, está correto; é como o escorpião cuja natureza o faz picar; como este deve ser afastado para que não cause danos, o mesmo ocorre com aquele que é perigoso. Mas, para o julgamento desse dano, para esse comportamento, não há agravantes, mas enormes atenuantes, ou melhor, justificativas; e deve existir amor. Não praticamos o amor e não admitimos justificativas, naturalmente, pela nossa imperfeição.

Outra coisa: se o perdão é praticado por que assim está prescrito, também não é perdão; perdão é amor e se o praticamos porque está prescrito, não é amor; é apenas busca de obedecer a regras ou à ética religiosa. O verdadeiro perdão vem do coração e não do dever de perdoar.

O amigo diz, também:

“As doutrinas ensinam a "não confundir as pessoas de bem com as más, a termos discernimento".

Qual a finalidade dessa recomendação? Se for para que nos afastemos das más, para não sofrermos, tudo bem, mas só por isso. Qualquer outra objeção seria apenas preconceito. Paulo diz: "O Senhor não faz acepção de pessoas" e Jesus: "Não vim para os sãos, mas para os doentes", isto é, o maldoso é apenas um “doente” que ainda não se curou da maldade. É doente por sua ignorância e conseqüente imperfeição. Ou será que o homem é mau porque quer ser mau? Ou são as experiências e circunstancias da vida, esta escola do bem e do mal, que o levam ser mau?

O amigo diz que:

“Tentar explicar que o mau é mau devido ao que a escola da vida o ensinou, justificando, portanto, sua maldade, é falsa, que não acreditemos nela, pois que Deus é amor e sabedoria e suas leis refletem sua sapiência”.

No entanto, dentro das doutrinas, é exatamente essa a colocação perfeitamente correta. Para nós, parece absurdo "dar a outra face", mas esta recomendação é do ponto de vista de um iluminado, de alguém que já “compreendeu”, que já abriu os olhos, despertou. Achamos essas coisas absurdas porque ainda estamos “dormindo”, hipnotizados pelas ilusões que a vida, através dos costumes, tradições, cultura, sociedade nos dá. Assim, consideramos covardia dar a outra face, não reagir à altura da ofensa etc. Esquecemos, portanto, o amor, como também esquecemos que todos os atos errados são fruto da ignorância. E o ignorante não pode ser punido por ser ignorante.

O amigo comentou acerca do perdão absoluto:

“Não é isso que Deus exige de nós”.

• Com isso o amigo diz que Deus exige algo de nós. Mas, porque Ele exigiria de nós alguma coisa, se já sabia, de antemão, de tudo que faríamos em nossa vida de certo ou de errado pois, para Ele está tudo na sua onisciencia; tudo, portanto, para Ele está determinado (pela visão das doutrinas), está perfeitamente claro tudo que vai acontecer no futuro e o futuro para Deus é agora. Até certos profetas, como dizem, chegavam a conhecer algum tempo futuro; como o Criador não conheceria? E, se não conhecesse, onde estaria, então, sua onisciência?

O amigo diz:

• “Perdoar os criminosos, maus, perversos, egoístas, orgulhosos etc, é algo que deve ser entendido com bom-senso e nos limites rígidos da condição humana”.

• Mas, o que é “bom-senso” senão ponderação, juízo, avaliação? Será que todos temos o mesmo bom-senso? Que as avaliações dos homens não são diferentes, e totalmente diferentes?! E “nos limites da condição humana", o que quer dizer com isso? Que o perdão é de acordo com cada um, nos limites da compreensão de cada um, não é? Outra vez vemos, então, que o amigo quer significar que cada um só pode fazer aquilo que já está dentro dos limites de sua compreensão, aquilo que já aprendeu a fazer, com todos os erros, ignorância, imperfeição, que nos são próprios. Pois deve pensar também assim com relação àquele que erra, que “peca”: ele age assim porque é assim que ele está: dentro dos limites de sua compreensão, por tudo aquilo que já aprendeu, com todos os seus erros, ignorancia e imperfeição.

• As doutrinas, contudo, não ensinam isso: para elas, o perdão, como o amor (são semelhantes) é incondicional, concorda? Jesus disse: “Perdoai aos vossos inimigos. Amai os que vos perseguem, os que vos querem fazer o mal...”; não estabeleceu condições para o perdão.

E, é importante lembrar aqui. Paulo diz que “É o Senhor que opera (realiza, produz, cria) em nós o pensar, o querer e o fazer”, tanto que, em concordância com essas palavras, disse que já estamos todos salvos, pois não são nossas obras boas que nos salvam e não são nossas obras más que nos condenam. Pense nisso.

Continuando, o amigo disse:

"Quero dizer que devemos perdoar quem nos fez mal; que não devemos nos sentir ofendidos por ele, mas não devemos livrar de que lhe sejam aplicadas todas as conseqüências decorrentes de seus atos, independentemente de sabermos que também terá de sofrer as conseqüências “cármicas”.

Contudo, se perdoamos e, assim mesmo, esperamos que lhe sejam aplicadas todas as conseqüências de seus atos, isso não é verdadeiro perdão. Perdoar é compreender que ele errou porque ainda não aprendeu a acertar; perdoar é esquecer, não se esforçando para esquecer, mas esquecendo porque nossa compreensão nos faz esquecer. O ato não existe mais. Está certo que o perigoso deve ser afastado de onde possa reincidir e causar danos a outros, apenas isso. Tudo que ele pratica não passa de ignorância das coisas, vamos dizer, das coisas de Deus.

E o amigo disse uma frase de Jesus: “Dai a César o que é de César”, como justificando seu pensamento de que o bom deve receber felicidade, e que o mau deve receber castigo; será que isso significa que se “achamos” que alguém errou, deve ser castigado? Nós nada conhecemos das causas mais profundas e intimas que o levaram ao “crime”! Por isso, por nossa ignorância, apenas “achamos” que deve ser castigado pois assim é que se faz justiça. E quantas vezes erramos! E está escrito “A vingança pertence ao Senhor”. Não a nós; ao Senhor.

O amigo também disse, talvez se justificando por seu modo de pensar:

“Não faço milagres; o ódio, a vingança falam mais alto e eu sucumbo. Destroçaria o agressor ou morreria tentando”.

O amigo está expondo o pensamento comum. Está certo: nós somos ainda imperfeitos e pensamos assim, mas esse não é o pensamento dos mestres e sábios, e nem o das doutrinas. Temos de perceber que devemos superar esses defeitos no compreender a vida e os semelhantes; que temos de buscar uma compreensão maior. Não esquecer Jesus: “Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”.

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quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

O EXTRAORDINÁRIO POTENCIAL PARA O CRESCIMENTO PSICOLÓGICO DO SER HUMANO

 O Extraordinário Potencial para o Crescimento Psicológico do Ser Humano.



ROGER N. Walsh, M.D., PhD., catedrático de Psiquiatria na Universidade da Califórnia, autor de muitos livros de ciência da meditação e do cérebro, e Frances Vaughan, PhD., clínica e professora de psicologia do Instituto de Psicologia Transpessoal da Califórnia, autora de revistas científicas especializadas sobre o tema.
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Nos últimos anos comprovou-se que as suposições ocidentais, sobre quem e o que somos e do que podemos vir a ser, estavam erradas. Não conhecíamos o extraordinário potencial para o bem-estar e para o crescimento psicológico extremo que o ser humano possui.

Como grande parte desses novos dados não é aceita pela psicologia ocidental, surgiu a psicologia ‘transpessoal’ para pesquisar tais capacidades humanas, apoiando-se, particularmente, na física quântica e na sabedoria das tradições místicas orientais. Seus interesses incluem pesquisas sobre estados transpessoais de consciência, consciência cósmica, bem-aventurança, êxtase, experiência mística, caminhos espirituais, compaixão, percepção e práticas de meditação. É transpessoal porque leva a experiências que estão além da identidade e da personalidade do ego. Esse potencial pode ser alcançado pela meditação e, muitíssimo raramente, por maneira espontânea.

A psicoterapia e a psicologia do Ocidente só eram dirigidas à cura de doenças da psique; nunca à saúde ou ao crescimento do ser pela ampliação da consciência. Como, no Ocidente, não era aceita a existência de estados alterados de consciência, que muitas vezes trazem expansão da consciência para além das fronteiras do ego e do espaço e do tempo, esses estados, comuns na tradição oriental, eram diagnosticados (pelos cientistas ocidentais) como regressões patológicas e mesmo psicoses.

Com o uso de psicodélicos (drogas que, com o tempo, causam embrutecimento da mente), e de técnicas de meditação, muitas pessoas começaram a ter experiências extraordinariamente poderosas de estados de consciência, que iam além das experiências do dia-a-dia ou de qualquer conhecimento da psicologia ocidental. Isso incluía experiências que, pela história, só ocorreram, rara e espontaneamente, em indivíduos que haviam dedicado a vida a disciplinas meditativas ou religiosas (os místicos e os chamados ‘santos’). Aquilo que, durante séculos, os ocidentais julgaram ser superstições, mentiras ou patologias, tornou-se, sem sombra de dúvida, verdadeiro e, sempre, o acontecimento mais importante na vida de grande número de pessoas (Jung: ‘é a mais importante e sublime experiência do ser humano’).

Muitos compreenderam a importância de certas psicologias orientais; que elas oferecem técnicas que levam a estados superiores de consciência, e que a capacidade para se chegar a esses estados, e às profundas intuições acerca do ‘eu’ e seu relacionamento com o universo, é natural em todos nós.

Sendo esses estados a própria finalidade das disciplinas orientais de consciência, muitos dos que riam dessas idéias, ou as julgavam patologias, começaram a meditar e estudar textos antes considerados só para místicos, filósofos ou religiosos. Falar de estados superiores de consciência, unidade mística, expansão da identidade, era coisa absurda. No entanto, inúmeras pesquisas em psicologia, medicina e física quântica, comprovaram sua realidade. E, hoje, só nos EUA, o número de meditadores chega, talvez, a milhões.

A reação de muitos foi de espanto e crítica, o que mostra a dificuldade de descrever os estados alterados de consciência para quem ainda não os experimentou (Paulo: ‘vi e ouvi coisas inefáveis’). A comunicação entre estados diferentes de consciência é limitada por numerosos fatores.

O universo, visto pela ciência clássica, é atomístico, divisível, estático e não-interdependente, enquanto, pela nova física, é holístico (abrange tudo; é uma coisa só, um todo único), indivisível, interligado, interdependente, dinâmico e inseparável da consciência do observador, o que fez que os próprios físicos afirmassem que a sabedoria das antigas tradições místicas orientais estava sendo re-descoberta.

Oppenheimer, físico: ‘As noções trazidas pela nova física não são novas, nem desconhecidas. Até em nossa cultura elas têm uma história e, no budismo e hinduísmo, um lugar central. O que estamos assistindo é uma redescoberta e um aprimoramento da sabedoria dos místicos’.

Bohr, físico: ‘Para termos um paralelo da visão da física quântica basta nos lembrarmos das visões de Buda (500 a.C.) e Lao Tse’ (600 a.C.) (ambos do misticismo oriental).

Suzuki: ‘Olhando ao derredor, percebemos que todo objeto se acha relacionado espacial e temporalmente com todos os outros objetos. É fato da pura experiência que não há espaço sem tempo, nem tempo sem espaço; eles se interpenetram e se complementam’ (Talvez, por isso, o Buda é retratado, assim que atingiu a iluminação, ornado com um colar de gemas preciosas no qual as cores e os brilhos de todas estavam refletidos em cada uma).

Minkowisk, físico: ‘De agora em diante, espaço e tempo estão condenados a se tornarem meras sombras’ (em face da teoria da relatividade).

A REALIDADE É MAIS ESTRANHA DO QUE A FICÇÃO

A Realidade é mais Extranha do que a Ficção



DANIEL Coleman, Ph.D., psicólogo clínico, professor de meditação na Universidade Harvard, autor e editor de revista científica sobre psicologia, pesquisador das técnicas de meditação do Ceilão e da Índia.
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Enquanto, no Ocidente, a psicologia nem mesmo havia iniciado a investigação do bem-estar extremo psicológico, ou dos estados superiores de consciência, no Oriente já eram encontradas concepções radicalmente diferentes relativas à natureza e ao potencial psicológico do ser humano. Reconhecidas nossas limitações culturais, abriu-se caminho para uma visão mais ampla da nossa psicologia, com a criação de novos modelos capazes de acomodar as concepções ocidentais e orientais.

Algumas das principais diferenças de concepção:

No Ocidente, a matéria é considerada o constituinte principal da realidade e é ela que cria a consciência ou mente (isto é, a mente não passa de um subproduto da matéria cerebral).

No Oriente, a consciência é o elemento principal e é ela que cria todo o universo material (ver Amit Goswami e outros cientistas, físicos quânticos).

Para o Ocidente, o universo é reducionista e atomístico, isto é, pode ser decomposto em suas partes componentes, ou entidades isoladas. Contudo, a física quântica redescobriu as antigas descrições místicas de um universo indivisível e interconectado. A realidade parece mais estranha que a ficção pois provas indicam que cada parte do universo está conectada com todas as outras partes, isto é, em todo o universo tudo está conectado com tudo; não há partes independentes; todas estão interconectadas e são interdependentes, inclusive o ser humano. Daí o retrato de Sidarta, assim que se iluminoum, com um colar de gemas preciosas, nas quais, cada uma, reflete o brilho e a cor de todas as outras.

A psicologia ocidental, para a qual "o comum é o melhor", considera o estado de consciência comum como sendo o estado ótimo, visão que rejeita a possibilidade dos estados superiores das concepções orientais.

Freud afirmou que o sofrimento é inevitável e que a alternativa é derrotá-lo, porém, a psicologia do místico oferece outra alternativa: alterar os processos da consciência ordinária e alcançar o "estado de Buda", unir-se à Consciência Universal, Deus, estado que acaba com todos os sofrimentos, sejam quais forem. Esse estado é atingido principalmente pela meditação e, uma vez alcançado, extingue os demais estados, como ansiedade, depressão, orgulho, egoísmo, ciúme, inveja, violência, medo, ignorância etc, que geram todos os sofrimentos.

O estado de Buda, ou Consciencia Búdica, Crística ou Cósmica, possui uma coerência de ordem mais elevada do que todas as integrações sugeridas por qualquer ramo da psicologia ocidental. A psicologia oriental ensina e, hoje, os ocidentais estão compreendendo (em face das implicações das descobertas da física quântica) que, pela meditação, esse estado pode ser atingido por todas as pessoas.

O ESTADO DE CONSCIÊNCIA DO HOMEM É APENAS SONHO E ILUSÃO

O Estado de Conciência do Homem é apenas Sonho e Ilusão


ROGER N. Walsh, M.D., PhD., catedrático de Psiquiatria na Universidade da Califórnia, autor de muitos livros de ciência da meditação e do cérebro, e Frances Vaughan, PhD., clínica e professora de psicologia do Instituto de Psicologia Transpessoal da Califórnia, autora de revistas científicas especializadas sobre o tema; e Duane Elgin, pesquisadora em ciências sociais e autora de obras sobre meditação, e Ken Wilber, pesquisador do misticismo oriental e autor de importantes obras sobre psicologia transpessoal (Deepak Chopra diz: as obras de Wilber estão sempre alcance de minhas mãos):

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A psicologia oriental faz afirmações que contrariam completamente as pressuposições ocidentais relativas à consciência:

1)nosso estado comum de consciência está muito abaixo do nível considerado ótimo;

2)existem muitos estados de consciência, incluindo verdadeiros estados ‘superiores’;

3)esses estados podem ser alcançados por meditação;

4) a comunicação entre tais estados é, necessariamente, muito limitada.

Os místicos desenvolvidos afirmam, categoricamente, que o nível de consciência considerado ótimo pela psicologia ocidental é apenas sonho e ilusão; que, saibamos ou não, somos prisioneiros de nossa própria mente, emaranhados, sem percebermos, num diálogo-fantasia interior (Benoit: o ‘filme’ emotivo-imaginativo) sem fim que cria distorções ilusórias na nossa percepção da realidade do mundo e da vida; que essa condição nos permanece oculta até que comecemos a submeter nossos processos de percepção à rigorosa análise, como o que acontece na meditação.

A pessoa ‘normal’ é considerada ‘adormecida’ ou ‘mergulhada em sonho’. Quando o sonho é doloroso se torna pesadelo e é reconhecido como uma condição patológica mas, como a imensa maioria dos seres humanos está ‘sonhando’, essa condição permanece não-percebida.

Quando alguém desperta, isto é, se ilumina, e deixa, em conseqüência, de se identificar com o sonho, pode perceber que seu estado anterior de consciência, e o da população em geral, é apenas ilusão.

Aqui no Ocidente, a psicose é definida como um estado de consciência deficiente, que vê a realidade distorcida e não reconhece essa distorção. Então, pela visão dos místicos, o estado comum de consciência ocidental atende a todos esses critérios referentes à psicose: é deficiente, tem visão distorcida da realidade e não reconhece essa distorção; nós, ocidentais, portanto, na visão dos místicos, somos, todos, psicóticos.

Cada estado ou nível de consciência é, apenas, um grau relativo de percepção da realidade, o que significa que nós somente percebemos uma parcela da realidade (só os místicos desenvolvidos a percebem inteira; e esse percebimento só pode chegar com meditação).

Tart: ‘Estudamos, no Ocidente, aspectos do sansara (maya, ilusão) com muito mais detalhes do que as próprias tradições orientais que criaram esse conceito. No entanto, quase nenhum psicólogo ocidental aplica o que estudou a si mesmo. Eles supõem que seus estados de consciência são lógicos, claros e sadios e não ilusão. A psicologia ocidental precisa reconhecer que nosso estado ‘normal’ de consciência é um estado psicótico, estado de sansara, de ilusão, de sonho.

Os estados superiores de consciência, que trazem liberdade total, iluminação, superação do sofrimento e de todos os problemas da vida, nem chegam a ser considerados pela psicologia ocidental, que só se aplica a tentar a cura de patologias do nível do ego e existenciais. No entanto, os estados superiores são dotados de todas as capacidades do estado comum e apresentam outras aptidões adicionais superiores às do estado comum. Podem vir acompanhados de percepções, intuições e afetos não usuais na experiência cotidiana, alguns fundamentais para o desenvolvimento de uma verdadeira sabedoria superior.

Mas, como disse Ramana: ‘Ninguém obtém êxito sem esforço. Quem é bem sucedido deve à perseverança seu sucesso’; como também disse Jesus: ‘Aquele que perseverar até o fim será salvo’.

King: ‘Convencemo-nos uns aos outros de que nossa condição comum de consciência desperta é saudável e própria do homem, pela simples razão de que todos somos suas vítimas’; ela nos ilude a todos.

Assim, enquanto as experiências de nirvana, iluminação, samadhi, satori, consciência cósmica, reino de Deus, consciência de Cristo ou de Buda, trazem um sentido de unidade e harmonia com todo o universo, os psiquiatras e psicólogos ocidentais as interpretam como fuga ou regressão a um estágio infantil primitivo, ao útero, ou ao seio materno. Faz pouco sentido para o cientista de saúde ocidental a afirmação de que nosso estado comum de consciência é limitado, carregado de fantasia, obscuro e ilusório, porque eles não experimentaram estados elevados, embora a comprovação individual seja relativamente fácil. Em poucos dias de investigação intensa, quando se tenta a meditação, pode-se verificar a natureza irracional, obscura e incontrolável da mente não treinada, e os investigadores se espantarão de não o terem percebido antes.

A explicação de que as experiências transcendentais são aberrações, porque não podem ser transmitidas verbalmente (Paulo: ‘vi e ouvi coisas indizíveis’), não leva em conta o fato de que a linguagem pode ser excelente para a comunicação de experiências que as pessoas têm em comum; mas experiências não compartilhadas implicam pouca ou nenhuma comunicação. Daí, os obstáculos para a comunicação entre pessoas de diferentes estados de consciência (Paulo: ‘A sabedoria de Deus é loucura para os homens’). Assim, pela visão ocidental, as afirmações orientais sobre a consciência só podem parecer sem sentido e incompreensíveis.

Vimalo: ‘As intuições místicas não podem ser julgadas por pessoas não iluminadas, apenas com a visão limitada do conhecimento intelectual’.

Assim, enquanto um objeto, para um animal, pode não passar de algo estranho (o que ele é), para um selvagem pode ser apenas papel marcado (o que ele é), para um adulto educado médio pode ser um livro que traz afirmações estranhas e complicadas sobre a natureza e o mundo (o que ele é), para o físico pode ser um brilhante tratado científico que revela descobertas e profundas realidades (o que ele é). Para cada nível de compreensão, há um grau diferente de significação, o que faz com que, em um nível, não se tenha nenhuma compreensão dos significados, talvez importantíssimos, de determinado evento de um nível superior. Por isso, pode-se pensar que o místico afirmou bobagens e absurdos, resultantes de uma condição patológica ou de um estado de consciência deficiente quando, na realidade, ele afirmou verdades de níveis superiores.

A experiência transcendental ou mística é um estado alterado de consciência que se caracteriza, entre outras coisas, por:

1) ser inefável: tem tamanho poder e é tão diferente de qualquer outra experiência, que sua comunicação, isto é, que falar sobre ela, é impossível;

2) desperta sentido aumentado de clareza e compreensão (sabedoria);

3) traz percepção alterada do espaço-tempo;

4) produz apreciação da natureza integrada, holística e unitiva do universo e da própria unidade com este;

5) desperta intenso amor por todos; e

6) traz a percepção de que o universo é e sempre foi perfeito.

Experiências simples ocorrem a muitos, mas em geral essas pessoas as reprimem, as escondem, pelo temor da perda de controle e da intolerância da sociedade, ou são mal interpretadas em face da cultura vigente. Elas podem produzir mudanças benéficas e duradouras, tendo Jung afirmado sua importância espantosa para a saúde mental: ‘O fato é que a aproximação do numinoso (do transcendental, do miraculoso, da percepção de Deus, do sagrado) é a verdadeira terapia e, na medida em que alcança essas experiências, a pessoa se liberta da maldição da patologia’ (semelhante a ‘todo mal e todo bem, mental ou fisiológico, pois mente e corpo são interdependentes, vêm de uma menor ou maior aproximação da percepção do divino’).

Maslow afirma que a experiência mística é ‘tão profunda e chocante que pode mudar o caráter de uma pessoa para sempre’. Ao retornar dela, a pessoa ‘sente-se, mais do que nunca, o centro responsável, ativo e criativo de suas próprias percepções e atividades, mais determinada e com mais livre-arbítrio do que nunca’. E, dentro de uma ‘hierarquia de meta-necessidades do homem’, considera a busca da transcendência do ego como o objetivo mais importante e sublime da vida do ser humano (como Jung, também afirmou). Pesquisadores da meditação afirmam que evidências comprovam seu potencial de levar a estados superiores de consciência e a uma maior saúde mental. E também que o investigador não pode ser apenas experimentador; tem de ser, também, participante ativo. Outros alertam para o fato de que um dos mais delicados problemas que os investigadores têm de enfrentar pode ser o reconhecimento de que poderão sofrer resistências ativas acerca de idéias e experiências advindas da meditação, pois suas crenças e concepções mais fundamentais sobre a vida podem ser tremendamente questionadas até mesmo por eles.

Satprem: ‘Eis porque é tão difícil explicar o caminho para quem não o experimentou: a pessoa verá apenas seu atual ponto de vista, ou melhor, receará a perda de suas crenças, a perda de seu ponto de vista. E, no entanto, se ao menos percebesse que cada perda de ponto de vista é um progresso e que a vida muda quando se passa do estágio da verdade fechada para o estágio da verdade aberta - uma verdade que se assemelha à própria vida, demasiado grande para ser aprisionada por pontos de vista, já que abrange todos eles... uma verdade grandiosa o suficiente para negar a si mesma, e passível de levar sempre e interminavelmente para uma verdade superior’.

O EGO É FONTE INTERMINÁVEL DE SOFRIMENTO E MISÉRIA

ROGER N. Walsh, M.D., PhD., catedrático de Psiquiatria na Universidade da Califórnia, autor de muitos livros de ciência da meditação e do cérebro, e Frances Vaughan, PhD., clínica e professora de psicologia do Instituto de Psicologia Transpessoal da Califórnia, autora de revistas científicas especializadas sobre o tema.


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A psicologia transpessoal (além da identidade e personalidade do ego) considera a pessoa por quatro dimensões: consciência, condicionamento, personalidade e identidade.

1) A consciência comum é um estado contraído e defensivo, invadido por um fluxo contínuo de pensamentos e fantasias “incontroláveis” (o filme emotivo-imaginativo, do Zen-Budismo), que estão de acordo com nossas necessidades e defesas para a sobrevivência. Assim, disse Dass: ‘Somos todos prisioneiros de nossa mente. Perceber isso é o primeiro passo para a libertação’. Enquanto o homem não o percebe, nada faz para se libertar.

É essencial para o crescimento da consciência ao extremo bem psicológico, abandonar tal contração defensiva, causada pelo ego, e perceber seu enorme potencial de ampliação, o que pode ser conseguido pela prática da meditação.

Satprem: ‘O que traz a revelação do segredo é o silêncio da mente. Na verdade, todos os tipos de descobertas ocorrem quando a mente pára, e a primeira descoberta é que, se o poder de pensar é um dom grandioso, o poder de não pensar é mais grandioso ainda’. As técnicas de meditação das tradições orientais sérias têm por objetivo exatamente a cessação do pensar, para que, cessando o pensar, a mente se livre de suas impurezas, esvazie-se de seus obstáculos e tenha condições de ver a ’Realidade’.

A afirmação de que nosso estado comum de consciência pode ser ampliado traz implicações inesperadas. Como já vimos, o estado comum de consciência do homem ocidental é idêntico à psicose. Nessa perspectiva, cada estado de consciência revela sua própria gama de realidades, podendo-se definir a psicose como um apego ou aprisionamento a ‘qualquer’ conteúdo da consciência, seja de qual nível for (exceto o nível da Mente pura, Deus, pois nesta, não há mais qualquer mal, obstáculo, doença, ou apego).

A realidade, tal como a conhecemos (sendo essa a única maneira pela qual a conhecemos), é apenas ‘parte’ da realidade. Ram Dass: ‘Crescemos num plano de existência, percepções e interpretações, que julgamos real. Identificamo-nos por inteiro com essa realidade, que consideramos absoluta e verdadeira, e descartamos as experiências incompatíveis com ela. O que Einstein demonstrou na física se aplica a todos os aspectos do universo: a realidade é relativa ao nível de consciência do observador. Cada realidade só é verdadeira dentro de determinados limites de consciência; não passa de uma versão possível do que as coisas são. Há sempre múltiplas versões da realidade. Despertar de uma delas é reconhecer sua relatividade’. (Só no nível da Mente pura a realidade é absoluta).

William James: ‘Nossa consciência desperta e comum é apenas um dos tipos de consciência; ao seu redor, separadas dela pelo mais fino véu, há formas potenciais de consciência que dela diferem inteiramente. Podemos passar pela vida sem suspeitar de sua existência, mas aplique-se a elas o estímulo necessário e, num instante, elas surgem em toda sua inteireza. Não pode ser completo o significado do universo em sua totalidade se não se considerar essas outras formas de consciência.’

Logo, a realidade que percebemos reflete nosso estado de consciência do momento, e jamais podemos explorar a realidade sem explorarmos, ao mesmo tempo, a nós mesmos, tanto por sermos como porque nós criamos a própria realidade que queremos explorar (conforme o misticismo e a física quântica).

2) Quanto ao condicionamento, a psicologia transpessoal afirma que nele estamos totalmente presos, mas que a libertação é possível. Estamos presos principalmente ao apego, o que significa que a não-realização do desejo (ao qual nos apegamos) produzirá sofrimento. Logo, o apego tem papel crucial na causa de toda infelicidade do homem, sendo o abandono do apego fundamental para a cessação do sofrimento (‘...e a verdade vos libertará’).

Dass: ‘Associar-se ao apego traz interminável sofrimento e miséria’.

Jung: ‘Enquanto estivermos apegados, estamos possuídos, e, quando estamos possuídos, existe algo mais forte do que nós, que nos aprisiona’.

O apego não é só a objetos externos ou pessoas. Há apego às posses materiais, a relacionamentos especiais, à condição social, à auto-imagem particular, a padrão de comportamentos e a processos psicológicos (modo de pensar, crenças, suposta realidade etc); entre os apegos mais fortes estão o apego ao sofrimento e à falta de valor próprio.

Enquanto acreditarmos que nossa identidade nasce de nossos papéis, problemas, relacionamentos ou conteúdos da nossa consciência, o apego será reforçado para fins de sobrevivência pessoal, porque acreditamos que dependemos deles: ‘Se abandono meus apegos, quem serei e o que serei?’

Há também apego ao drama ou história pessoal que cada um tem para contar aos outros sobre si mesmo; é um luxo desnecessário, parte de nossa bagagem emocional. É benéfico para todos desapegar-se de seu drama e dos dramas pessoais dos outros (das emoções, portanto).

3) Quanto à identificação, define-se como o processo pelo qual alguma coisa é vivenciada como o ‘eu’. E é tamanha nossa identificação que jamais questionamos aquilo que tão claramente parecemos ser. Toda tentativa de questionar nossa identificação pode encontrar considerável resistência de nós mesmos e daqueles que nos rodeiam.

Laing: ‘As nossas tentativas de despertar costumam ser punidas, especialmente pelos que mais nos amam, porque eles, abençoados sejam, estão ‘dormindo’ e pensam que quem desperta, ou percebe que o que considera realidade não passa de um sonho (ilusão), está ficando louco’ (‘A sabedoria de Deus é loucura para os homens’, disse Paulo).

A nossa identificação com nosso conteúdo mental torna-nos inconscientes do nível de consciência mais amplo que contém esse conteúdo; o conteúdo da mente passa a ser o crivo pelo qual interpretamos todos demais contextos. Por exemplo, se o pensamento ‘estou com medo’ surgir e for tomado pelo que é, ou seja, apenas um pensamento, pouca influência terá. Mas, se nos identificarmos com ele (se ele passar a ser nosso conteúdo mental), a realidade, nesse momento, será o nosso medo (Krishnamurti: somos o medo, a violência, a raiva, a inveja etc) e nós, muito provavelmente, geraremos uma série de pensamentos e emoções de medo, e nos identificaremos com eles; interpretaremos os mais indefinidos pensamentos como medo; perceberemos o mundo como algo ameaçador e agiremos de acordo.

A identificação põe em movimento um processo auto-realizador no qual os processos psicológicos tornam válida a realidade daquilo com que nos identificamos. Tudo parecerá provar a realidade do nosso medo. Ao se identificar, a pessoa não percebe o fato de que sua percepção vem do pensamento ‘estou com medo’. Não percebemos esse pensamento, mas passamos a interpretar todas as coisas a partir dele. A consciência passa a ver o mundo de uma forma limitada e auto-validadora. ‘Enquanto estivermos identificados com um pensamento ou objeto, somos seus escravos, não somos livres’. (Por isso, Jesus disse: ‘Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará’).

Quando nos lembramos de que nossa mente está sempre repleta de pensamentos com os quais, sem perceber, nos identificamos, fica evidente que, no estado comum de consciência, estamos, literalmente, hipnotizados. Como na hipnose, o indivíduo não percebe o transe em que está, nem as limitações impostas à consciência, nem se recorda de sua identidade anterior. Enquanto hipnotizados, pensamos que somos aquilo que nossa mente contém, o conteúdo mental, os pensamentos que ali estão. Assim, os pensamentos com os quais estamos identificados criam o nosso estado de consciência, de identidade e de realidade. (Por isso, disse o Buda: ‘Somos o que pensamos. Tudo o que somos vem de nossos pensamentos. Com eles vemos e interpretamos o mundo’).

Suzuki: ‘O que é consciente e o que é inconsciente está subordinado à estrutura da sociedade e aos padrões de pensamento e sentimento que ela produz. O efeito da cultura da sociedade não apenas canaliza ilusões para a nossa consciência, mas também evita a percepção da realidade... Esse sistema funciona como um filtro social condicionado; a experiência só chega à nossa percepção se puder passar por esse filtro’ (se estiver de acordo com os costumes e cultura da sociedade em que vivemos).

Pode-se, assim, considerar a tarefa de despertar como uma progressiva desidentificação do conteúdo mental em geral. Isso é bem evidente nas práticas como a meditação de percepção, em que se treina para observar e identificar, com rapidez e precisão, todos os conteúdos mentais. É um lento processo de gradual aperfeiçoamento da percepção que resulta em retirar a consciência dos conteúdos mentais cada vez mais profundos e sutis com que ela se acha identificada. No final, a percepção deixa de identificar-se com qualquer coisa, fato que representa uma mudança radical e duradoura da consciência, conhecida como iluminação. Como já não há identificação com qualquer coisa, temos a percepção como sendo, ao mesmo tempo, nada e tudo. A dualidade eu/não-eu é transcendida, e tem-se uma vivência de si mesmo como sendo, ao mesmo tempo, percepção pura (nenhuma coisa) e como sendo todo o universo (todas as coisas), dando lugar à transcendência do ego e do espaço-tempo.

Nos níveis mais sutis da percepção, atingidos por meditação de percepção, vê-se toda a Mente e, portanto, todo o universo fenomênico, em contínuo movimento e mudança; cada objeto é percebido vindo do vazio para a percepção e desaparecendo em seguida, em instantes, no vazio (Paulo: ‘não somos donos nem de nossos pensamentos’). Isso mostra a impermanência de tudo; tudo se transforma, tudo é transitório, nada é imutável. Perceber isso pode ser a maior força que motiva os meditadores avançados para transcender todos os processos mentais e alcançar o estado imutável e incondicionado que é o nirvana, satori ou iluminação (foi pela percepção da impermanência de todas as coisas que o Buda fundou sua filosofia).

Nesse estado de pura percepção, não há mais identificação com a mudança, pois não há mais identificação com conteúdos mentais. Como o tempo é função da mudança, isso resulta na experiência de se haver transcendido o tempo, fato que é experimentado como eternidade, o agora sem fim, e o tempo é percebido como produto ilusório da identificação.

Silesius: ‘O tempo é nossa criação. Quando se pára o pensamento, também o tempo pára, morto’.

Os conteúdos e processos mentais vêm do condicionamento, como afirmam as psicologias ocidentais e orientais. A identificação com esses conteúdos gera a experiência de um ‘eu’ condicionado. Transcendida essa identificação, cessam os efeitos do condicionamento e com isso, cessa o ‘eu’ (que nada mais é que um feixe de memórias, os conteúdos da consciência com os quais nos identificamos). Pensamentos e emoções ainda passam pela mente, mas não há identificação com eles, e vivencia-se uma percepção de bem-aventurança porque, não havendo identificação com pensamentos e emoções dolorosos, não há mais experiência de sofrimento (pois, a causa do sofrimento é a identificação ou apego aos conteúdos mentais dolorosos).

Sem condicionamentos, fica-se livre das identificações com conteúdos inconscientes distorcedores e restritivos, e a consciência é capaz de uma percepção clara e precisa que, no budismo, se chama ‘espelho de cristal’, porque ele reflete fielmente a realidade. Sem identificação, o espelho e aquilo que ele reflete, o sujeito e o objeto, são percebidos como uma coisa só. A consciência, agora, é percebida como sendo aquilo que antes ela observava (Krishnamurti: o observador é a coisa observada), pois o observador ou ego, produto ilusório da identificação, deixa de ser vivenciado como real. O indivíduo se vê como consciência pura em unidade com tudo, idêntico a qualquer outro indivíduo. Vem daí a afirmação mística de que ‘todos somos um’, e não mais ocorrem pensamentos que possam ferir os ‘outros’. Amor e compaixão são expressões naturais desse estado.

Todos os relatos de experiências nesse estado deixam claro que elas só ocorrem em momentos em que se vai além do ego (o ego cessa com a perseverança nas tentativas de meditação). Como a comunicação entre diferentes estados de consciência é difícil, as descrições em geral são incompreensíveis na visão da psicologia ocidental. Assim, é fácil rejeitar essas experiências sem qualquer análise, considerando-as sem sentido ou patológicas, erro cometido por alguns dos mais notáveis profissionais de saúde mental do Ocidente.

Nesse estado, a pessoa se vê como pura percepção, incondicionada, eterna e, também, experimenta ser tudo o que existe. Nas profundezas da psique humana, cessadas as identificações limitadoras com os conteúdos mentais, a percepção não encontra limites à sua identidade e se percebe como aquilo que está além do espaço e do tempo, aquilo a que a humanidade deu o nome de Deus (‘eu e o Pai somos um’). Por isso, afirmou Bugental: ‘Para mim, Deus é uma palavra usada para indicar nossa subjetividade inefável, o potencial indescritível e inimaginável que está dentro de cada um de nós’.
Libertação do abraço asfixiante do Ego



Aldous Huxley, suas percepções e testemunho, durante e logo após a experiência mística de se desvencilhar, momentaneamente, do ego:

‘... palavras como Graça e Transfiguração me vieram à mente. A Beatífica Visão, Sat-Chit-Ananda (Existência, Consciência, Beatitude) pela primeira vez entendi, não vagamente ou por insinuações, mas precisa e completamente, o que querem significar essas palavras prodigiosas. Lembrei-me, então, de uma passagem que lera de Suzuki: ‘O que é o Dharma-Corpóreo do Buda?’ (o Dharma-Corpóreo do Buda é outro modo de nos referirmos à Mente, ao Vazio, à Divindade, a Deus). A pergunta foi feita, em um mosteiro Zen, por um indeciso noviço. E, com a vivaz insensatez de um dos Irmãos Marx, respondeu o superior: ‘A sebe no fundo do jardim’. ‘Eu poderia perguntar’, retrucou timidamente o noviço, ‘quem foi que concebeu essa verdade?’ Ao que o superior, dando-lhe uma pancada nas costas com seu bastão, respondeu: ‘Um leão de cabelos de ouro!’

“Quando li esse diálogo, achei-o um amontoado de pura insensatez, de total loucura. Agora, porém, tudo está tão claro como o dia, tão evidente quanto o postulado de Euclides. Não há a menor dúvida de que o Dharma-Corpóreo do Buda seja a sebe do fim do jardim. Ao mesmo tempo, e com igual certeza, ele é estas flores; ele é qualquer coisa que desperte a atenção de meu ego, ou melhor, de minha bem-aventurada despersonalização (além do ego), liberta, por um momento, de meu abraço asfixiante (do abraço asfixiante de meu ego). Assim também os livros, as estantes, os móveis de meu escritório...” (e tudo o mais, são o Vazio, a Divindade, Deus).

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

A SUBLIME CANÇÃO DA IMORTALIDADE..

Olá, amigos.


O Maabárata é um dos dois maiores épicos clássicos da Índia. O texto é monumental, com mais de 74.000 versos em sânscrito, e mais de 1,8 milhões de palavras; se o Harivamsa, seu anexo, for incluído como sendo parte da obra, chega-se a um total de 90.000 versos, compondo o maior volume de texto numa única obra humana. É o texto sagrado de maior importância no hinduísmo, e considerado um verdadeiro manual de psicologia da evolução do ser humano.

A obra discute as três metas da vida humana: o desfrute dos prazeres dos sentidos, oferecidos pelos atrativos do mundo: a ânsia que leva à busca da riqueza e do poder econômico para o desfrute dos prazeres, e a religiosidade mundana, que se resume em códigos de conduta moral e rituais.

Além dessas metas mundanas, o Maabárata trata da liberação do ciclo das três metas, isto é, a libertação dos apegos, pela libertação do samsara, ou ciclo ilusório do nascimento e da morte. Em outras palavras, é uma obra que visa o conhecimento da natureza do "eu" e a sua relação eterna com toda a criação e aquilo que transcende a ela, Brama ou Deus.

Estabelece métodos de desenvolvimento espiritual conhecidos como Karma Yoga, Jnana Yoga e Bhakti Yoga.

Karma é a palavra para "ato" ou "ação" e, nesse sentido, usada para mostrar a obrigatoriedade moral de continuar a fazer aquilo que começamos e que, por isso, depende de nós; portanto, ensina a importância de desenvolver atitudes e intenções corretas. Considera-se que, por gerar carma, os seres encontram-se presos ao samsara, a “roda dos tolos e ignorantes”, o ciclo das ilusões, ciclo do nascer e morer e, portanto, o objetivo mais importante da prática “religiosa” é eliminar o carma.

Jñana, uma modalidade de ioga conhecida também pela busca e uso do conhecimento de uma verdade pré-existente e imutável (a Verdade), para atingir a sabedoria. A jnana-ioga não é de fácil prática, pois a pessoa necessita de uma determinação e penetração além da filosofia e das religiões

E Bhakti, um dos ramos da ioga que conduz à comunhão divina, à união com Deus, através da devoção, que significa entrega total em total confiança.

Do Maabarata, extraiu-se o Bagavad Gita, a Sublime Canção da Imortalidade, cujo texto representa a luta do bem contra o mal.

No texto simplificado, ilustrado por vários quadros, é necessário que, observando-o com atenção, se perceba um detalhe muito importante.

A seguir mensagem a uma amiga sobre essa particularidade.



Amiga, percebeu o detalhe?

Arjuna, o representante dos homens, totalmente perplexo, pelo terrível dilema que enfrenta: dois exércitos se defrontam na planície, um o do “bem”, outro o do “mal”; essa é a batalha do bem contra o mal que se trava em nossa mente. Arjuna, a quem compete dar o sinal para o combate, está num dilema por ver que os guerreiros que levará a se defrontarem são “todos” seus parentes e amigos; está completamente indeciso em como lançar o exército do bem contra aqueles que foram sempre seus aliados, pois que o auxiliaram, em todos os tempos da história do homem, na conquista do que ele mesmo é agora: aqueles que têm o nome de ciúme, inveja, ambição, cobiça, tenacidade perversa, exploração dos semelhantes, enfim tudo que está no caminho já trilhado pelo ser humano para chegar ao momento atual, coisas das quais Arjuna deseja se desvencilhar.

Nesse dilema, invoca Krishna, o representante de Deus, e se ajoelha à sua frente, pedindo que o ajude a se decidir.

E veja o quadro seguinte: Arjuna parte para a batalha, mas quem é que tem as rédeas nas mãos e comanda seu carro e todos os acontecimentos? É Krishna, o representante de Deus; é o próprio Deus, que tudo comanda, e sem cuja ordem nada se faz. Não somos nós que erramos, que acertamos, que escolhemos, que decidimos, que fazemos isto e aquilo: é Deus, essa poderosa força que vem atrás de nós e nos leva a sermos o que somos a cada momento, a cada instante.

Um abraço.

RESPOSTA PARA O DESAMOR.

          Conversa com uma amiga



          Cito a nova companheira de jornada:
          “Não sei se a melhor resposta para o amor ou desamor circunda única e exclusivamente no "o que se planta é o que se colhe". A questão é muito complexa, como mesmo passou a questioná-la”.

          Resposta: observe que de modo algum essa é a melhor resposta; nem mesmo é uma boa resposta. Essa é a resposta com que a professora ou a mãe ameaça o menino desobediente: “Se você não fizer o que estou mandando, vai ficar de castigo!”; isto é, “se você não amar o próximo, vai sofrer as conseqüências”. E, por medo do castigo, o menino faz o que lhe é pedido. Isso não se aplica ao verdadeiro amor e a nenhuma virtude: amor por obrigação, por ordem, mandamento, imposição, não é amor; é uma coisa forçada, falsa, ou pelo interesse de conseguir mérito ou gratidão ou reconhecimento, ou seguir o exemplo dos mestres ou da ética religiosa; o amor tem de ser espontâneo, senão não é amor.
          A resposta para o amor pode estar, “em parte”, na observação da vida; observação que traz a compreensão de que o mundo é mais sofrimento do que felicidade, e pode até despertar o desejo de encontrar a solução para esse desamor.

          Cito a amiga:
          “É fácil simplesmente postar um texto bonito sem se centrar no que diz , sem absorver os ensinamentos... mas isso só vem com a sabedoria e a experiencia da vida.. com o nosso auto-controle e nosso conhecimento interior, na busca incessante de querer melhorar, na leitura de livros positivos e na prática do dia a dia.
          Sócrates: "Homem, conhece a ti mesmo".

          Resp: esta última frase sua foi muito bem lembrada. Essa é a solução para todos os males do mundo. Mas, lhe pergunto, como conhecer-se a si mesmo? Não é simplesmente conhecer como erramos, como ainda temos desamor. O mal desaparece com eu me conhecer mau? Temos de nos conhecer muito mais “profundamente”; só então vamos perceber quem e o que realmente somos e, com essa percepção, nos vem o conhecimento da verdade que liberta, como afirmou Jesus; então, o que é mal, torna-se bem; o que é desamor, torna-se amor.

          Fique em Deus.

ESQUEÇA-SE ATÉ DE DEUS.

Olá, amigo.

Qualquer coisa, método, processo que traga relaxamento total fisiológico e psicológico, pode levar à meditação. As diferentes culturas, na busca desse relaxamento, criaram centenas de técnicas, mas a finalidade é uma só: relaxamento integral. Se, na sua tentativa de meditar, vc tem em mente o desejo de se elevar a Deus, sua área psicológica não está relaxada; esqueça-se de tudo e nesse tudo está incluído Deus; a mente deve estar vazia de desejos, bons ou maus, de objetivos ou finalidades, lembranças ou expectativas; deve estar vazia. Se não está vazia, é ainda o ego que está operando, e o objetivo final da tentativa de meditação é esquecer o ego, aquietar o ego. Lembra-se: “Aquieta-te e sabe: eu sou Deus”? A meditação só vem num vazio total; não estando vazio, não há “lugar” para Deus. É como vc disse do Tao: hoje temos de buscar esse vazio apesar dos ruídos do mundo. Se pudermos nos isolar de tudo, melhor.

Vc pergunta sobre a yoga; se ela lhe trouxer esse vazio é igual a tudo o mais que lhe traga um vazio. A yoga, como alguns a tornaram hoje, não leva a esse relaxamento: é uma verdadeira religião, com rituais, cânticos e tantas teorias e doutrinas, que mais distraem e reforçam o ego.


Até mais.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

NÃO OLHE PARA FORA; OLHE PARA DENTRO...

De Osho:            (Isto é meditação)




"No judaísmo há uma escola de mistério rebelde chamada hassidismo (a fase esotérica do judaísmo). Seu fundador, Baal Shem, foi um ser raro. No meio da noite ele estava voltando do rio – essa era sua rotina, porque no rio, à noite, tudo era absolutamente calmo e tranqüilo. E ele costumava simplesmente sentar-se lá, fazendo nada – apenas observando seu próprio eu, observando o observador. Nessa noite, quando estava voltando, ele passou pela casa de um homem rico e o vigia estava lá em pé perto da porta.

E o vigia estava intrigado, porque toda noite, exatamente àquela hora, esse homem estava voltando. Ele saiu e disse: “Desculpe-me interrompê-lo, mas não consigo mais conter minha curiosidade. Qual é a sua ocupação? Por que você vai ao rio? Muitas vezes eu o segui e não há nada – você simplesmente senta-se lá, por horas, e no meio da noite você volta.”

Baal Shem disse: “Eu sei que você me seguiu muitas vezes, porque a noite é tão silenciosa, que eu posso ouvir seus passos. E eu sei que todo dia você está escondido atrás do portão. Mas não é apenas você que está curioso a meu respeito; eu também estou curioso a respeito de você. Qual é sua ocupação?”

Ele disse: “Minha ocupação? Eu sou um simples vigia.”

Baal Shem disse: “Meu Deus, você me deu a palavra-chave. Esta é a minha ocupação também!”.

O vigia disse: “Mas eu não compreendo. Se você é um vigia, você deveria estar vigiando alguma casa, algum palácio. O que você está vigiando lá, sentado na areia?”.

Baal Shem disse: “Há uma pequena diferença – você está alerta em relação a alguém do lado de fora que poderia entrar no palácio; eu estou alerta a alguém do lado de dentro; eu simplesmente observo esse observador. Que é este observador? Este é o espaço de toda a minha vida; eu observo a mim mesmo.”.

O vigia disse: “Mas essa é uma ocupação estranha. Quem é que vai lhe pagar?”.

Ele disse: “É uma benção tão grande, uma tal alegria, uma bem-aventurança tão imensa, que isso se paga a si mesmo em profundidade. Apenas um único momento, e todos os tesouros não são nada em comparação a ele”.

O vigia disse: “Isso é estranho. Eu tenho estado observando durante toda a minha vida. Eu nunca me deparei com uma experiência tão bonita. Amanhã à noite eu irei com você. Você apenas me ensina. Porque eu sei como observar – parece que apenas é necessário uma direção diferente: eu observo para fora; você observa para dentro; está observando numa direção diferente.”

Há apenas um passo, e este passo é de direção, de dimensão. Ou podemos estar focados no exterior, ou podemos fechar os olhos para o exterior e deixar toda a nossa consciência ficar centrada para dentro – e você saberá, porque você é um conhecedor, você é consciência. Você nunca a perdeu. Você simplesmente deixou sua consciência se emaranhar em mil e uma coisas. Retire sua consciência de todos os lugares e apenas deixe-a descansar dentro de você, e você chegou em casa.

A gralha cantando... você está ouvindo. São dois elementos: objeto e sujeito. Mas você não pode ver uma testemunha que está vendo ambos? A gralha, o ouvinte e ainda há alguém observando ambos. É um fenômeno tão simples!

Você está vendo uma árvore: você está aí, a árvore está aí, mas será que você não pode encontrar alguma coisa mais? – que você está vendo a árvore e que há uma testemunha em você que está vendo você vendo a árvore.

A coisa mais importante é que você seja observador, que você não tenha se esquecido de observar que você está observando... observando... observando. E pouco a pouco, à medida que o observador se torna mais sólido, estável, seguro, uma transformação acontece. As coisas que você esteve observando desaparecem. Pela primeira vez o vigia se torna o vigiado, o próprio observador se torna o observado. Você chegou em casa.”

(Tags : astrocarmica OSHO).

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

TODOS OS PROBLEMAS SÃO UM SÓ PROBLEMA

Todos os problemas são um só problema.






Cito palavras de uma amiga:


“Vejo que você persegue essa resposta, sobre o porquê das desigualdades entre seres criados iguais, há bastante tempo. Sei que a pergunta é importante, mas se não há nenhuma religião ou doutrina que dê a resposta, como você mesmo disse, essa perseguição não terá fim”.


Resp: minha amiga, não perseguimos a resposta; perseguimos conseguir mais alguém, dentro das doutrinas, que compreenda, pelo refletir sobre a questão, que a resposta está noutra direção. A intenção desta perseguição é fazer refletir, fazer abrir os olhos; as pessoas aceitam facilmente o que lhes vem às mãos desde que confiem nas fontes; se questionassem, muitos não teriam seus olhos voltados só para aquilo em que crêem e, com certeza, decidiriam abrir seu leque de buscas, como a própria DE recomenda. Não estamos buscando a resposta àquela questão; estamos buscando que alguém mais reflita a respeito. Há resposta e explicação, sim. Por isso é que temos de olhar para outros lados, se não ficaremos na ignorância sobre muitas coisas que nos auxiliam na compreensão da vida. Se as pessoas encontrassem e acreditassem na resposta, coisa somente possível com o abandono de todos os preconceitos, muitos não estariam sofrendo tanto pelos males que “julgam” estão praticando; não sofreriam por remorsos, culpas, medos por não terem obedecido aos mandamentos ou ética de sua crença, pelo medo de não estar protegido, o medo de não agradar ou de ofender a Deus; medo de não cumprir os mandamentos de sua crença particular e vir a ser, como conseqüência, sentenciado, num hipotético juízo, que se dará num hipotético final dos tempos, a sofrer os castigos de um purgatório, inferno ou umbral; ou de reencarnações dolorosas ou em seres inferiores da escala evolutiva... Veja se não é assim: talvez a maioria daqueles que seguem, mais ou menos, sua religião, numa análise mais profunda, obedecem aos mandamentos de Deus e de suas igrejas, por medo do que poderá acontecer se não obedecerem, pois todas as religiões infundem medo a seus seguidores.


Muitos sofrem, também, por se sentirem indignos por não terem pedido perdão por suas faltas, por não terem feito sacrifícios; pelo medo de ficar sujeito a castigos pelos “pecados” cometidos, medo dos desejos escusos, das ações de desamor etc.


O medo é produto da ignorância e é a causa de “todos” os sofrimentos do mundo. Devido ao medo nos agarramos a promessas, ilusões e esperanças que as crenças nos dão, e ficamos cheios de remorsos e culpas, pois vivemos dentro dessa tremenda ilusão de que somos culpados ou responsáveis pelos males do mundo e por nosso próprio sofrimento, e medo de que haja uma lei que nos fará expiar, talvez por séculos, pelos erros cometidos.


O que acontece é que o ser humano está fechado na escuridão de sua enorme ignorância e nada vê, nada percebe, nada interpreta corretamente. Ele está com os olhos “cheios de terra”, como disse Teresa de Ávila; com os olhos “cheios de espessas trevas”, como disse Jesus. Essa é toda a causa do sofrimento que existe no mundo: os olhos “tapados”, a ignorância que só pode ser dissipada com o conhecimento da verdade que liberta.


Todos esses “remédios” que a ciência, a medicina, a psicologia apontam para os traumas, para os sofrimentos, de quaisquer espécies que sejam, são apenas paliativos; podem servir por certo tempo, mas os problemas sempre voltarão. Contudo, todos esses problemas são “um só” problema; não há diferentes problemas: todos se resumem num só; assim, se um é resolvido completamente, todos estarão resolvidos...

domingo, 16 de janeiro de 2011

MEDITAÇÃO - UM TESTEMUNHO

          Um amigo diz:
          “Vejo que a tendência de vários amigos é a de engrandecer a meditação, chegam até a colocá-la como uma salvação!”


          Resp: não é “como” uma salvação; é a própria “salvação”, se bem que, como testemunham aqueles que já estiveram “lá”, não há qualquer necessidade de salvação para ninguém; “todos” os problemas com que nos envolvemos em nossa vida, no mundo, como a prática de qualquer forma de mal, por atos, pensamentos, ou o que for, são apenas fruto das ilusões do ego. Vamos ver um testemunho:


          “Richard Maurice Bucke, psiquiatra canadense, que passou pela experiência, tentando explicá-la diz: “Ela está além das palavras e símbolos (Paulo: “... e lá vi e ouvi coisas inefáveis”); a) a pessoa, de repente, sem aviso, tem a sensação de estar mergulhada numa chama ou nuvem cor de rosa ou avermelhada, ou de que sua mente está preenchida por essa nuvem; b) no mesmo instante, se vê banhada por uma emoção de alegria, confiança, triunfo, salvação; esta palavra não representa exatamente o que significa a coisa, mas é a convicção de que a salvação não é necessária, pois o esquema do universo já é nesse sentido (Paulo: “Não é por vossas obras que sereis salvos, mas pela graça de Deus”). É um êxtase muito além de tudo imaginado. Isso foi relatado em todo o tempo por aqueles que passaram por ele. Assim, Jesus (o Cristo), em seus sermões e parábolas, Gautama (o Buda), em seus discursos, preservados pelos Sutras; Paulo, nas Epistolas; Dante, no Purgatório e no Paraíso; Shakespeare, nos Sonetos; Balzac, em Serafita; Whitman, em Folhas da Relva; Eduard Carpenter, em Rumo à Democracia; Pascal, em seu Amuleto Místico, e muitos outros); c) simultaneamente, recebe uma iluminação intelectual impossível de ser descrita (sabedoria). Como um raio, apresenta-se à sua consciência uma clara compreensão que lhe dá o significado e direção do universo. A pessoa não passa simplesmente a crer, mas “vê e sabe” que o cosmos não é matéria morta, mas presença viva. Que os seres sencientes são partículas de morte relativa num oceano infinito de vida. Vê que a vida do homem é eterna; que a alma do homem é tão imortal quanto Deus. Que o universo é construído e ordenado de tal forma que, sem sombra de dúvida, todas as coisas funcionam juntas para o bem de todos; que o principio criador do mundo é o que chamamos amor e que a felicidade de todos é absolutamente certa. A pessoa conhecerá, em alguns instantes de duração dessa experiência, mais do que poderia conhecer em muitos anos com os melhores mestres. Aprenderá o que nenhum estudo jamais ensinou nem poderia ensinar. Obtém, sobretudo, uma concepção da totalidade, do Todo, da unicidade de todas as coisas, que excede a qualquer outra concepção, imaginação ou especulação. Tal concepção torna velhas, insignificantes e até ridículas todas as tentativas anteriores de apreender o significado do universo e seu sentido. Os mistérios maiores não lhe são revelados: ele os “contempla”. Vê a origem de todos eles, de todos os contrastes e princípios discordantes, de toda dureza e suavidade, severidade e brandura, doçura e amargor, amor e sofrimento, bem e mal, céu e inferno. Junto com essa elevação moral e iluminação intelectual surge uma consciência de imortalidade. É muito mais do que uma convicção, é muito mais simples e elementar; é uma certeza absoluta e total de que sempre foi assim. O medo da morte, que faz sofrer a todos, cai como um manto velho, não como resultado do raciocínio, mas simplesmente desaparece. O mesmo acontece com a noção de pecado; não que a pessoa, a partir da experiência, escape do pecado, mas ela deixa de ver no mundo qualquer pecado do qual deva escapar. Essa iluminação é como deslumbrante relâmpago numa noite escura que ilumina tudo que se acha oculto à mente; é a visão total. Mesmo a aparência da pessoa pode se tornar semelhante à de quem está sob intensa alegria (a transfiguração de Jesus, Moisés, Francisco de Assis, Walt Whitman). Há uma gigantesca ampliação da consciência e das faculdades intelectuais independentemente de qualquer processo de aprendizado. O individuo percebe que absolutamente não é um individuo ou um “eu” separado, uma consciência separada das demais e do mundo; que tudo é Um. Adquire, instantaneamente, uma capacidade infinitamente maior de conhecimento e de iniciativa para praticar qualquer ação (sabedoria). Sabe que o universo está construído para a felicidade de todos; que a existência continua para além do que chamamos morte.


          Resumindo: 1) luz subjetiva; 2) elevação moral; 3) iluminação intelectual; 4) consciência de imortalidade; 5) perda do medo da morte; 6) perda da noção de pecado; 7) desponta subitamente; o fascínio adquirido pela personalidade que faz com que os demais se sintam atraídos por ela; 9) a aparência de “transfiguração”, muitas vezes percebida pelos outros; 10) com tudo isso vem uma certeza esmagadora de que o universo, exatamente como sempre foi e como é neste momento, é tão completamente correto e perfeito que não necessita de qualquer explicação ou justificativas além da de que ele simplesmente é. A existência não apenas deixa de ser um problema; a mente fica tão maravilhada diante de tudo, das coisas e fatos, incluindo até aquilo que, comumente, seria considerado “o pior”, que não consegue encontrar palavras para expressar a perfeição e a beleza da experiência. Vem-lhe a impressão de que o mundo se tornou luminoso e transparente, enquanto sua simplicidade dá a impressão de que tudo é ordenado por uma inteligência suprema. É comum perceber que todo o mundo se tornou seu próprio corpo e que o indivíduo sente que aquilo que ele é, não apenas se tornou assim com a experiência, mas que sempre foi aquilo que tudo o mais é. Percebe que a existência individual é apenas um ponto de vista adotado por “alguma coisa” desmedidamente maior do que ele mesmo. O cerne da experiência parece ser a convicção ou compreensão de que o “agora” imediato, seja qual for sua natureza, é a meta e a realização de todo o viver. Êxtase emocional, sensação de profundo alivio, liberdade e leveza e, com freqüência, um amor quase insuportável pelo mundo, fluem dessa percepção. E a compreensão disso tudo nunca se apaga”.


          Cito o amigo:
          “As pessoas que vocês alegam terem se iluminado através da meditação, já não traziam dentro de si a iluminação e o fato de meditarem foi apenas um efeito e não a causa?”


          Resp: boa pergunta; contudo, todos os que passaram pela “experiência” asseguram que não há uma continuidade do “eu”; que o “eu” é apenas uma ilusão, um feixe de memórias que a vida “marcou” no cérebro de cada um.


          O amigo:
          “Eu acredito no efeito benéfico que a meditação produz nas pessoas, mas esse momento especial de buscar alguma coisa a mais dentro de si mesmo, é porque essa coisa já esta dentro de nós, esse conhecimento já esta assimilado e foi vivenciado por nós. São as idéias inatas que se encontram no âmago de cada ser. Essa idéia de encontrar as respostas apenas meditando e contraria a lei de reencarnação, pois ela afirma que precisamos vivenciar para adquirir o conhecimento”.


          Resp: é certo o que vc diz: “tudo” já está dentro de nós, toda a sabedoria e felicidade, a solução de todos os conflitos e problemas, nada nos vem de fora; por isso mesmo Jesus disse: “... pois o reino de Deus já está dentro de vós”, Paulo: “O Senhor habita vossos corações”, “Vós sois o templo do Altíssimo”, “O Senhor está à esquerda e à direita, à frente e atrás, em cima e em baixo, dentro e fora”, “Nele vivemos e respiramos...”.


          O amigo:
          “No meu entendimento a meditação apenas nos proporciona uma vaga lembrança ao nosso conhecimento espiritual já adquirido e que pode mudar a nossa visão da vida que levamos, ou seja, nos dá uma outra perspectiva e não que ela nos proporcionará uma absorção de novos conhecimentos e muito menos de podermos ver a Deus”.


          Resp: ninguém vê Deus; Deus não é uma coisa, um objeto, alguém que pode ser visto; Deus, “sente-se” pela grandiosidade que “desperta”. E é um estado de ser muito mais rico e perfeito do que podemos imaginar em nossos "mais ousados vôos de fantasia". Como disse o Buda, é o "fim de todo sofrimento" e, como disse Jesus é a "libertação".


          Abraço.














quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

PORQUE SOMOS BONS, PORQUE SOMOS MAUS?

Amigos

Comentários a uma carta recebida de um amigo:

O amigo:

“Quer dizer que se o homem é mau isso se deve às experiências pelas quais passou desde que veio à existência, e se o homem é bom, isso também se deve às experiências vividas desde que veio à existência?”

Resposta: mas é evidente; se não fosse assim de onde lhe viriam a maldade ou a bondade? Todas as experiências significam aprendizado que o influenciam, levando-o a ser o que é (junte-se a essas experiências a genética que também influencia no seu crescimento fisiológico e moral/psicológico). Não fosse assim, o que é que faria o homem ser bom ou mau? Sua vontade? Não pode ser, pois a vontade também é fruto da compreensão, por sua vez construída pelas influencias advindas de todo o seu passado; logo, sua vontade, no sentido do bem ou no sentido do mal, é conforme a vida o moldou, desde que veio à existência até este presente momento. A vontade é, portanto, também conseqüência das experiências que teve.

Amigo: (aqui, o amigo relata a história de pessoas que, influenciadas pelo ambiente doméstico, ou por outros fatores, com os quais conviveram longo tempo, nem por isso seguiram os exemplos bons ou maus de genitores ou familiares ou de quem seja).

Resp: Isso que você relata é verdade e não é raro; contudo, é preciso ver que as influências que modelam, que marcam o homem, que o constroem e fazem que ele seja o que é, não se restringem às experiências só da convivência familiar, ou de experiências adquiridas em algumas outras situações. As experiências/influências vêm de “todos” os eventos, em qualquer tempo e lugar, das ações externas percebidas pelos órgãos de relacionamento com o mundo, das reações internas à essas ações externas, associações etc. Concorda?

Amigo:

“Onde ele aprendeu essas coisas, a vida o ensinou? O que lhe faltou? Sabedoria?”

Resp: se não foi a vida que o ensinou, meu amigo, quem foi? Onde ele aprendeu essas coisas? Se não foi no mundo, terá sido antes de vir ao mundo, certo? Então, criatura divina que ele é, teria sido criada por Deus e vindo já à existência com o mal em sua natureza. Se veio já com esse “defeito”, isso apenas mostra que a criação divina o fez assim, e nenhuma responsabilidade ou culpa lhe cabe por seus “pecados”. Qual será seu demérito que o faça ser submetido à justiça divina e o leve a ser, após a morte, condenado a alguma espécie de castigo, se já veio à vida com o mal em sua natureza? Agora, se lhe faltou sabedoria, é evidente que sim. Se fosse sábio, conheceria as conseqüências de seus pecados e, evidentemente, não pecaria. Se o homem sabe que sofrerá por seus pecados somente os cometerá se for ignorante, ou se estiver naquela condição de dementado, como vimos anteriormente.

Amigo:

“Será que o homem já nasce pré-determinado?”

Resp: você mesmo pode responder essa pergunta: se não é, como me parece você está sugerindo, a vida que o fez o que é, quem o fez? Há, aquém ou além da vida, alguma coisa mais que possa levar o homem a ser bom ou mau? Não é uma predestinação, mas um processo, de instante a instante, no qual o homem é levado, pelo fluir incerto da vida, a ser moldado, a se transformar e a vir a ser o que é, também de instante a instante.

Amigo:

“Mas, todos nós temos a liberdade de escolha; assim podemos escolher o caminho que desejamos seguir, mas devemos ter algo em mente e em nossas ações: nem todo o caminho é o caminho correto”.

Resp: e porque, se como você diz temos liberdade de escolha, escolhemos tantas vezes o mal? O amigo já fez uma análise séria e profunda dessa liberdade de escolha? Existe realmente uma escolha de fazermos isto ou aquilo, ou toda escolha está, também, , e totalmente presa, às experiências da vida, às experiências do passado? A capacidade de escolha é mesmo livre? Vamos procurar ter uma idéia.

Como, pelas doutrinas cristãs, não pode ser Deus o causador do sofrimento do mundo e dos erros ou “pecados” dos homens, e como o representante do mal, o tentador, o diabo, há muito saiu de cena, chegou-se à conclusão “lógica” e “inescapável” de que a criatura divina procedente de Deus é a causa de todos os males; que, se o homem sofre, é porque agiu erradamente, pecou; se é feliz, é porque agiu acertadamente, não pecou. O mal não pode proceder de Deus, mas pode proceder da criatura divina que procede de Deus! No entanto, procedendo de onde for, tem o beneplácito, o consentimento, a aprovação do Criador, sem o qual nada se faz.

O homem sofre e faz que outros sofram quando peca, quando age erradamente. Mas, qualquer tentativa de explicar que será condenado por isso, que haverá sofrimentos decorrentes da “condenação” por seus “pecados” (provenientes, é evidente, de seus desacertos na vida de relacionamento), sofrimentos que podem durar a eternidade, não cabe dentro da idéia de um Criador onisciente, onipotente e de infinitos amor e justiça; de um Criador que, por sua onisciência, sabe, desde sempre, quando, onde, como, em que circunstâncias “cada uma”, uma a uma, das divinas criaturas dele procedentes, por ele planejadas, produzidas, criadas e lançadas ao mundo entre outros bilhões, fará de incorreto, “pecará”, ou fará de correto, relativamente às suas leis ou às leis da vida; sabe, também, o que, cada uma, uma a uma, individualmente, sofrerá devido a seus pecados. Tanto que, de antemão, também criou leis com normas punitivas, para a expiação desses pecados, expiação que durará por algum tempo ou para sempre.

Seria, numa simples comparação apenas para ajudar a refletir, como o fabricante de brinquedos que, mesmo com total e absoluta certeza de que o brinquedo de sua fabricação, vai apresentar defeitos destrutivos, maléficos e, por isso, será perigoso, destruirá, matará, produzirá tantos e tão terríveis sofrimentos, tragédias e desgraças, assim mesmo o produz e o entrega às crianças. Quando surgem as conseqüências dos defeitos, os “pecados”, e os conseqüentes sofrimentos, quem é o responsável? O brinquedo ou o fabricante?

E a liberdade de escolha, existe realmente? O que é a escolha senão a opção apoiada naquilo que a escola que é a vida já ensinou? Veja só um exemplo simples de como não existe liberdade de escolher: você caminha por uma estrada que, de repente, se bifurca; por qual das duas vai continuar? Você não decide ou escolhe como num jogo de cara-ou-coroa, nem num estalar de dedos. Sempre vai analisar, por mais simples que essa analise seja, qual a estrada a seguir; a mais vantajosa, a mais sombreada, a que tem menos obstáculos a transpor. E porque você faz essa analise? Porque, pelas experiências anteriores de sua vivência de todos os dias, você já aprendeu alguma coisa; aprendeu que é mais vantajoso continuar por aquela cuja ponte está intacta, pela mais sombreada, pela cujo pavimento é melhor, pela mais curta etc. Só não faz essa análise o ignorante, o que está desesperado, dementado, descontrolado e, por isso, pode até continuar sua marcha pela estrada pior, ou cometer absurdos, como vemos no mundo. Mas esse não tem controle, não raciocina, é ignorante.

Até para escolher entre guloseimas, analisamos: se o apetite é grande, a maior; se não, a que nos parece mais saborosa, bonita, ou qualquer uma, se por curiosidade etc.

Portanto, liberdade de escolha é utopia; a escolha nunca é ; está sempre totalmente ao conhecimento, à compreensão anterior, que já temos das coisas e do mundo. Todas as escolhas que fazemos e todas as decisões que tomamos estão totalmente presas ao nosso passado, ao conhecimento já adquirido nesta escola que é a vida, escola do bem e do mal. Do mesmo modo acontece em todos os aspectos da vida individual ou coletiva. Sempre, qualquer decisão, ou escolha, por mais simples e inocente que seja, ou por mais complexa e arriscada (desde a simples compra de um objeto, um lápis, por exemplo, até uma declaração de guerra) depende totalmente da experiência anteriormente adquirida. Não escolhemos livremente. Talvez, por isso o apóstolo Paulo tenha afirmado: “É o Senhor que opera em nós o pensar, o querer e o fazer” e, ainda: “Não é por vossas obras que sereis salvos, mas pela graça de Deus”. Pense nisso!

Por essas coisas, percebemos que é preciso de, urgente e necessariamente, repensar as concepções religiosas. Ou todos vamos permanecer cheios de ilusões, remorsos, esperanças e, sobretudo, culpas e medos, pois vivemos dentro dessa tremenda ilusão de que a criatura divina é culpada ou responsável pelos males do mundo e que será, pelos seus pecados, sentenciado e condenada a penas dolorosas e longas.

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domingo, 9 de janeiro de 2011

EGO, QUE É, COMO ELIMINÁ-LO - PREDESTINAÇÃO - O MAL PODE SER EVITADO?

Bom domingo.


O que é o ego?

Veja: quando o espírito/criança vem à existência no espaço-tempo, no calor e aroma da mãe, usufruindo do alimento morno e saboroso, na tranqüilidade e segurança que a mãe lhe oferece, está num verdadeiro paraíso; nada a perturba; tudo está perfeito. Contudo, logo essa paz se desfaz; as primeiras cólicas, o outro que lhe tira o que tem na mão, e a criança descobre o não-eu, um mundo ameaçador a seu redor; aí nasce o ego, verdadeira defesa psicológica, que a acompanhará até ser destruído, ou pela morte biológica, ou pela iluminação; esse é o ego: uma capa protetora que, para nossa segurança, filtra tudo, interpreta, desconfia, repele, e cuja ação é intensificada pelos condicionamentos que a vida lhe acrescenta, entre eles as ilusões que nos são impostas, desde que nascemos, pelas tradições, costumes, crenças, religiões, cultura, suposições, sociedade. Todo nosso relacionamento com o mundo é feito através desse véu protetor, carregado de ilusões, mas que impede que saibamos o que e quem somos e o que o Todo é, pois nos oculta a realidade. Esse é o ego.

Como eliminar o ego?

O ego é destruído, ou pela iluminação, ou pela morte biológica, pois então não há mais necessidade de defesas. Logo, é eliminado, ou pelo meditar, ou pelo morrer.

A prática do mal poderia ser evitada?

Veja o que é a vida, o que somos nós: a vida é um eterno fluir de eventos sempre incertos e impermanentes; uma correnteza sem fim que tudo arrasta; somos apenas bolhas que na corrente se formam, duram mais ou menos tempo e são destruídas; somos, a cada instante, o resultado de todos os movimentos desse fluir, desde o “início” de tudo. Esse movimento contém tudo que nos constrói, instante a instante, e que nos chega através de nossos antepassados mais remotos, e que continuam em nós, com todas as transformações que a vida exigiu; somos o resultado de todas as reações internas, psicológicas e fisiológicas, vindas das ações externas percebidas em nosso relacionamento com o não-eu. Tudo fez e continua fazendo o que somos: somos, portanto, o resultado do passado. Logo, nenhuma autonomia temos. É essa “massa” que nos empurra para frente. Talvez, por isso, Paulo tenha afirmado: “É o Senhor que opera em nós o pensar, o querer e o fazer”; pois não somos “donos” nem de nossos pensamentos! Talvez, também, por isso, assegurou Paulo: “Não é por vossas obras que sereis salvos, mas pela graça de Deus”.

Se já está tudo predestinado?

Talvez não seja bem assim; talvez, para nós, isso se configure como destino, porque nada podemos fazer; somos apenas testemunhas. Mas, predestinação implica finalidade, planejamento, objetivo a atingir e, conforme os sábios, nada disso existe; tudo apenas é o que é, dentro desse fluir; tudo vai acontecendo e somos arrastados pela corrente, às vezes turbulentas, às vezes tranqüilas, conforme encontre ou não obstáculos pela frente, e quer queiramos ou não. Talvez por isso tenha aconselhado Krishnamurti: “... uma boa dose de humor e uma grande dose de indiferença” e Jesus: “... não vos preocupeis... olhai os lírios do campo... as aves do céu... a cada dia basta seu mal; o amanhã cuidará de si mesmo”.

Um abraço.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

De mãos dadas...

Para reflexão, uma pequena-grande e sugestiva experiência.





Nuvens brancas, céu claro; daqui de baixo, uma escada perfeita que sobe e, lá em cima, mergulha e se desfaz numa estrela chamejante; subindo, degrau a degrau, lado a lado, mãos dadas, o assassino e o assassinado; o explorador e o explorado, o egoísta e o solidário, o orgulhoso e o humilde, o corruptor e o que foi corrompido, o perverso e sua vítima, o rei e o indigente, o malfeitor e o benfeitor, lado a lado, mãos dadas, subindo, subindo...

domingo, 2 de janeiro de 2011

MEDITAÇÃO NÃO É REFLETIR; É ESQUECER.

Amigos


Cito uma amiga:

”... não se ascende espiritualmente através da meditação; a meditação apenas ajuda a pessoa a encontrar-se consigo mesma e com Deus... somente através da vida encarnatória... é que a pessoa consegue evoluir, e evolui porque sofre as vicissitudes da vida e...”.



Aí ela estabeleceu uma longa e séria conceituação do que seja a meditação. Lembrem-se que meditar, no sentido do sagrado, nada tem a ver com o sentido que o profano lhe dá; não é pensar ou refletir sobre um tema elevado, no amor ao próximo, nos exemplos que Jesus deixou, na paz mundial, imaginar ou visualizar isto ou aquilo; pedir graças, orar, suplicar, agradecer... nada disso” A meditação visa apenas aquietar o eu, silenciar o eu (Antigo Testamento: “Aquieta-te e sabe: eu sou Deus”). O que pode nos levar à percepção do Sagrado não são as religiões e crenças populares, nem as orações e súplicas, mas o afastamento do ego através da meditação. Depois que a própria ciência mais avançada do mundo, a física quântica, concluiu que as meditações das tradições orientais podem levar a estados elevados de consciência (estados que, até há pouco tempo, nem eram considerados pela ciência ocidental), estados nos quais nós podemos entrar numa condição de felicidade indescritível, chamada de ‘bem-aventurança’ pelos místicos e iluminados, muitos cientistas, psicólogos, religiosos e estudantes praticam técnicas de meditação. Mas, o objetivo dessa meditação, agora, não é mais apenas, como geralmente acreditamos no mundo ocidental, acabar com o estresse ou trazer saúde para o corpo. É muito mais do que isso: é conhecer a verdade que liberta, o que ou quem realmente somos; o que é o “eu”, conhecer aquilo a que damos o nome de Deus.

Por isso um sábio aconselhou: “Você tem de se libertar (de todos os problemas, ignorância, dúvidas e conflitos) e essa libertação não é alcançada nem pelo pensamento, nem pelo raciocínio. Ela é alcançada pela meditação – meditação que traz a compreensão da totalidade da vida, sem qualquer forma de fragmentação. Uma vez que você tenha chegado a essa compreensão, estará livre de toda ignorância e sofrimento”.

Assim, tb, o sentido de “O Tao da Física”, de Fritjoff Capra, cientista quântico pesquisador do hinduísmo. Esse livro, passo a passo, compara as revelações atuais da nova ciência com as revelações obtidas pelos místicos, desde há milhares de anos, nas suas penetrações, pela meditação, em níveis mais elevados de consciência.

A meditação proveitosa leva à percepção de Deus, que sempre esteve dentro de nós, como afirmaram Jesus, Paulo, Teresa de Ávila, João da Cruz, Jacob Boheme, Meister Eckart, todos os místicos ocidentais e orientais e, hoje, a ciência moderna.

Para as doutrinas cristãs essas palavras parecem blasfêmias. A crença católica, a evangélica, a espírita e outras, ensinam que somos incapazes de nos aproximar de Deus, porque estamos cheios de pecados e imperfeições. Enquanto isso, as revelações trazidas pela meditação ensinaram ao místico que desde sempre somos a própria divindade (‘eu e o Pai somos um’); que nosso trabalho, para nos libertarmos da ignorância e do sofrimento é, como afirmou Jesus, conhecer essa verdade. Por isso, hoje, a meditação é praticada, no Ocidente, por cientistas, psicólogos, psiquiatras, padres, monges, freiras, estudantes. Ela é a porta pela qual o ego sai e Deus entra. Hoje, e pela primeira vez na história do mundo, religião e ciência, tradicionais adversárias, se dão as mãos, pois a visão de mundo da ciência se confunde com a visão de mundo do misticismo milenar, o mesmo misticismo que a ciência ocidental considerava, até há pouco tempo, um amontoado de superstições, bobagens e até patologia.

Como vimos, o objetivo da meditação é: calar a mente, aquietar a mente, isto é, cessar com todas as operações mentais; trazer silêncio ao cérebro, fazer cessar o ‘eu’, com suas lembranças e condicionamentos e, se houver perseverança nessa condição, podemos vir a perceber aquilo que os místicos perceberam: que nós não somos essas criaturas impotentes e sofredoras, envolvidas pela escuridão da ignorância; que podemos dar o vôo da águia, subir às alturas e conhecer que somos a própria divindade que em nós habita.

Por isso: ‘Aquieta-te e sabe: Eu sou Deus!’, isto é, aquiete o ego, cesse com suas ações de pensar, imaginar, recordar, se emocionar e você poderá, se for perseverante, ‘ouvir’ a voz de Deus, ‘sentir’ Deus, ‘tocar’ Deus. Como disse o iluminado: ‘Aquele que perseverar até o fim será salvo!’.

Quando falamos de místicos, estamos falando de místicos de todas as denominações porque qualquer e toda denominação cessam ao, pela meditação, se conhecer a verdade. Todas as ‘religiões’ do Ocidente e do Oriente, judaísmo, cristianismo, budismo, bramanismo, todos os numerosos ‘ismos’, isto é, quer sejam religiões populares ou tradições sérias buscadoras da ‘re-ligação’ com a divindade, perdem as características que as tornam diferentes umas das outras, e ‘se fundem numa única compreensão perfeita e universal’ (como disse Jung (ou Einstein?) quando se tem o conhecimento da verdade; isto é, quando se tem a extraordinária percepção de que ‘eu e o Pai somos um’. Em qualquer época da história e em qualquer lugar onde tenha ocorrido, a experiência é semelhante ou igual para todos os que a tiveram.

A experiência vinda da meditação foi exaltada por todos os que por ela passaram como a experiência mais sublime que o ser humano pode ter. Jung, o psiquiatra, usou palavras semelhantes, e Jesus a considerou a pérola, o tesouro que quem encontra ‘vende tudo o que tem’, isto é, desiste de tudo o mais, e ‘compra aquele campo’. Jesus chegou até a afirmar que, ‘quem não abandona pai e mãe para segui-lo’, isto é, para buscar essa experiência, ‘não é digno dela’; com essas palavras fazendo ver que esse tesouro é muito mais importante do que qualquer outra coisa, conquista, bem ou posse.

Outros, como Teresa de Ávila, afirmaram que ‘comparado com essa experiência tudo mais é lixo’; Krishnamurti, o sábio indiano contemporâneo, ensinou que ‘tudo o mais é fútil e infantil’; e um poema Zen assegura que, ‘se você já esteve lá’, isto é, se você já teve a experiência, ‘como lhe parecem sem importância todas as outras coisas’.

Maharish Maharesh Yogi, que trouxe para o Ocidente a Meditação Transcendental, afirma que, enquanto não temos essa experiência, somos, ainda, meramente subumanos, enquanto Krishnamurti diz que a vida só tem significado quando chegamos ‘lá’. Por isso, com razão, Jesus aconselhou: “Buscai o reino de Deus...”; disse que, conhecida a verdade, de nada mais necessitamos. Vamos perceber, então, que a morte não existe e que não há necessidade de salvação, pois que desde sempre estamos salvos porque ‘Eu e o Pai somos um’. Com disse Paulo: “Não somos salvos por nossas obras, mas pela graça de Deus”.

Portanto, a meditação é de extrema importância, pois é a única saída da escuridão em que estamos. É aquietar o eu, esquecer o eu’, penetrar numa condição além do eu. A meditação nos leva para além de nosso nível comum de consciência, além das limitações de nossa mente, e faz com que penetremos em níveis mais elevados de compreensão.

Então, minha amiga, a única solução para todos os problemas é a meditação. Sentar-se em posição confortável, na qual nada esteja perturbando ou oprimindo, e esquecer o ‘eu’, esquecer tudo, até mesmo que estamos meditando; até mesmo o desejo de esquecer, sempre sem qualquer esforço ou esperança, que apenas reforçam o ego. Esse esquecimento nos leva para ‘além do ego’, para fora do tempo e do espaço. Esse é o verdadeiro ‘salto quântico’, um salto para fora do sistema do espaço-tempo, para o atemporal, onde podemos vir a perceber Deus.

E isso será o fim de todo sofrimento e de toda ignorância e o começo da felicidade, da sabedoria e do amor.

Lembrem-se das palavras, hoje esquecidas, de padres do cristianismo dos primeiros tempos: ‘Meditação é a coisa mais importante que a humanidade tem a fazer’.

Um abraço.

A MENTE/EGO E DEUS

                      


                   "A mente é a assassina de Deus:
                    mate a assassina".