terça-feira, 25 de junho de 2013

(45)  O CHAMADO INTERIOR
(jcl, rib preto, mar 2006)

Senhor,
Inspira-me, todos os instantes, a procurar-Te,
      Na melodia,
             Na flor,
                     No ramo oscilando ao vento,
No pássaro que canta alegremente,
Na cor da nuvem tocada pelo sol poente,
No murmúrio das águas buliçosas,
No sorriso da criança inocente,
No olhar da mãe para o filhinho que dorme,
Na ternura dos enamorados,
Na pele enrugada da mulher sofrida,
No suor da testa do doente, que teima em sorver o ar precioso,
No olhar triste do pobre, cobiçando, pregado à vitrine,
                         O brinquedo impossível para o filho...

Senhor,
Parece que mais Te recordo naquelas coisas
       Tristes,
             Melancólicas,
                     Singelas.
Talvez porque nos toquem mais agudamente o coração,
E nos comovam
E levem a meditar na solução
Que não é nossa,
Mas que virá quando o homem se despir
De seu manto de ambição,
         Desamor,
                 Malícia,
                         Egoísmo,
                                 Ignorância,
E perceber que somos todos irmãos,
Semelhantes ou iguais,
Viajores do mesmo barco,
Atrás, sem o saber, das mesmas experiências,
Buscando, inconscientemente,
             O mesmo objetivo,
                           Que és Tu.

E, como a mim, inspiras a todos,
Mas não Te ouvimos o chamado.
Nossa mente está sempre cheia de outros apelos,
E não há, quase nunca, lugar para o Teu.
São apelos tentadores,
        Com vestes coloridas,
                Odores embriagantes,
                        Sons sedutores,
                                Roçares suaves e doces,
Mas que, após o atendimento,
Despem suas máscaras
Mostrando-nos a queda,
       A cilada,
             A decadência,
                     A escuridão.

Ó, Divino Inspirador,
Continua Teu trabalho
De nos chamar sutilmente,
       De longe e de perto,
               De fora e de dentro.
Aos poucos, nos voltaremos a Ti
Quando houver cansaço dos convites
         Das sereias do poder,
                  Da beleza,
                           Da embriaguez dos sentidos.
Das ilusões que cercam nossos dias,
         Com molduras tentadoras
                   E tentadoras circunstâncias.
Inspira-nos, Senhor, pois permanecemos nas trevas,
Ferindo pés e mãos nas quedas do caminho
E não percebemos que Tu
És a própria força que nos leva a procurar-Te,
E, de olhos mentais
        Fechados,
              Preconceituosos,
                     Iludidos,
Não percebemos que Te buscamos
Onde não podemos Te encontrar
Pois que Tu estás tão perto,
           Junto de nós,
                  Bem aqui,

                          No coração.
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(44)   ALÉM DOS SENTIDOS      (06/88 - jcl)

      Um novo sentido, além dos conhecidos.

      Na crosta planetária, de início, os seres humanos não agiam de modo diferente ao dos animais chamados (mas não são) irracionais, sem respeitos, sem qualquer lei que os limitasse na sua audácia para todas as condutas, as mais ignóbeis, se observadas na atualidade, mas perfeitamente naturais, então.
      Destituídos de sentimentos os mais simples, no que se refere ao respeito à liberdade, à livre determinação dos demais, era-lhes perfeitamente comum e normal matar, explorar, roubar o semelhante, nada os detendo nessas práticas, hoje consideradas baixas e amorais.
      Tais horrores ficaram no remoto passado. Com o sofrimento e a dor, por ter sido vitima, também, de desmandos iguais, o homem aprendeu aos poucos a burilar a mente, desenvolvendo sentimentos menos egoístas, a respeitar o semelhante como ele mesmo sujeito às leis instituídas.
      No entanto, antes como agora, os pontos de contato de sua mente com o mundo exterior, isto é, os canais pelos quais o homem toma conhecimento e se relaciona com os fenômenos e coisas de fora de si mesmo - os sentidos objetivos - sempre constituíram a mais poderosa e importante ligação com a vida. Não fossem o paladar, o olfato, o tato e, particularmente, a visão e a audição, o ser humano estaria isolado dentro de si mesmo, sem defesas, sem recursos quaisquer, sem possibilidade de sobreviver. Daí o valor imenso desses canais profundamente utilizados na luta pela vida, desde o nascimento até a morte biológica. Todas as relações do homem, sob qualquer aspecto, se prendem ao uso desses sentidos objetivos. Toda vida de relacionamentos com o mundo exterior, coisas, pessoas, fenômenos, deles dependem, embora muito facilmente enganem o homem quando portadores de defeitos, os quais a ciência tentou superar através de inúmeros artifícios que não lograram resolver a totalidade dos problemas.
      Hoje, contudo, o homem que tenta acordar de sua letargia em relação a uma vida superior, que tenta avançar além da autoconsciência, em busca de uma consciência maior, deve-se voltar com todo o empenho no sentido de despertar e desenvolver um novo canal de comunicação, mas agora para o seu próprio interior. Enquanto os canais dos sentidos o relacionavam com o mundo exterior, o novo canal deve relacioná-lo com o muitíssimo mais rico e belo mundo interior, inexplorado, mas muitas vezes percebido em momentos de relaxamento, recolhimento e quietude. 
      O acesso a esse novo canal é feito através da meditação. Por ela, a percepção e a conseqüente sabedoria abençoarão a vida do ser humano, como já aconteceu no passado, quando poucas mentes, é certo, mas privilegiadas, dessas experiências receberam e nos deixaram ensinamentos que perduram até hoje: as chamadas revelações.
      Mas, agora, o homem, particularmente aquele que deseja abandonar a repetição continuada dos mesmos passos, condutas, erros, procedimentos e hábitos, não deve se valer mais dessas mesmas revelações. Deve usá-las, obviamente, para seus passos iniciais, mas, em seguida, deve procurar ele mesmo desenvolver em si, pois potencial não lhe falta para tanto, a possibilidade da revelação particular, individual, que lhe faça adquirir convicção por experiência direta, das mesmas verdades que antes não aceitou plenamente por terem sido trazidas por outros.
      Agora, ele deve procurar se desenvolver, através de treinamento intensivo na meditação e na análise dos eventos que ocorrem no mundo à sua volta e em seu íntimo, buscando usar esse novo mecanismo, essa nova ponte de ligação, para perceber aquilo que está além do eu, além dos sentidos, do pensamento e da imaginação, que pode ser encontrado, e que lhe trará a satisfação de todas as demais necessidades. Por isso, a recomendação de Jesus: ‘Buscai em primeiro lugar o Reino de Deus, e tudo o demais vos virá por acréscimo’.
      Vale o esforço, o tempo ‘perdido’, o empenho, a renúncia, o sofrimento advindo da solidão e da incompreensão em que certamente ficará, pois dificilmente será tido como homem normal, inteligente ou prático. Será taxado de fanático, insensato, tolo, fora da realidade, ultrapassado. Mas, apesar disso, não se esquecendo que a ‘sabedoria de Deus é loucura para os homens’, como disse Paulo, deve tentar ir além dos sentidos para encontrar aquilo que está longe da sensibilidade exterior, mas tão próximo de seu ser que se confunde com seu próprio eu.

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      (43)  ALÉM DO INTELECTO                    
                                       (jcl-rp/12/88)

       Conforme os místicos orientais e ocidentais afirmam, a divindade, o sagrado, está além de todo raciocínio e imaginação. Assim, devemos ir além do intelecto, além da mente, para a tentativa de percebê-lo; a mente é limitada, finita e só o que é ilimitado e infinito pode perceber aquilo q está além da mente.
       Como poderá o homem deixar para trás o intelecto, o raciocínio, os fenômenos subjetivos da mente consciente e ir mais além? A mente consciente é produto do ‘ego’, que é apenas o passado, o conhecido; finita, portanto. Como poderá o finito que é fruto das culturas, emoções, imaginações, crenças, costumes, perceber o infinito?
       Quando poderá, o homem, penetrar a mente subconsciente, ou o inconsciente, onde não haja interferências dos processos sensórios e subjetivos, da imaginação, memória, raciocínio, ilusões bem como das sensações comuns que permeiam nossa vida de todos os dias?
       Quanta pureza de mente, de sentimentos, de amor, de compreensão, de vida, poderá, então, deparar sem a interferência desses processos mentais tão deteriorados, conturbados e maculados na faina do viver!
       Senhor, ensina-me a ir além do intelecto. Ensina-me a ultrapassar os estados mentais comuns e penetrar no mundo da mente pura, onde não há raciocínios, nem lembranças, nem esperanças e a mente é livre, soberana, simples, só.
       Tu estarás aí, Senhor? Aí poderei encontrar-te?
       Penso que é nesse estado que se alcança Paz Profunda, que se comunga contigo.
       Somente valerá o esforço de penetrar nesse estado, julgado sublime, bem-aventurado, se Tu aí estiveres; se Tu fores esse estado ou condição tão elevada.
       Ensina-me, Senhor, como proceder para ir-me aproximando de tão pura condição. Como, Senhor, como?
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       Meditação, mente aberta, entrega confiante, compreensão da totalidade da vida, sem preconceitos, sem faccionismos, sem condicionamentos, sem ilusões, e sem crenças. E nada de expectativas, de esperanças no que poderá vir (se vier, tudo bem; se não vier, tudo bem também). Expectativas e esperanças são apenas operações do ego, que assim, estará sendo reforçado quando o que deve ser feito é o seu enfraquecimento, o cessar de suas operações. O ‘eu’, o ego/mente individual (localizada no homem) é o único obstáculo a nos impedir de perceber a verdade; é o único obstáculo entre nós e Deus.          
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      (42)       COMO PRATICAR A AÇÃO CORRETA
                    (Adaptação de texto de Vernon Howard).

      O homem não tem a mínima idéia do que quer fazer consigo mesmo; está sempre perdido nas incertezas e na confusão que a vida é.
      Ansioso para fazer algo, mas sem a menor idéia do que seja esse algo, daí as ações mecânicas que repete sempre. A ‘única’ ação benéfica (correta) difere totalmente da ação nociva (incorreta) dos desejos distorcidos ou ambições que só servem ao ego.   
      (Quando você já pratica a ação correta, porque já está começando a abrir os olhos, pois q está analisando, questionando, usando sua cabeça para buscar entender as coisas da vida e, não encontrando respostas definitivas para suas dúvidas, está se perguntando e as está buscando, você começa a não ter mais desejos distorcidos ou ambições, pois que o ego está sendo afastado; você está começando a abrir os olhos).
      Só obtemos a ‘intuição suprema’ (a experiência de Deus) ao percebermos que precisamos apenas permitir que as ações sejam feitas para nós (isto é, ao nos entregarmos, sem expectativas, ao que vier, pois q elas vem espontaneamente. A escolha de decisões a tomar não é nossa. Essa questão de permitir ou não, não existirá mais). Essa rápida intuição vem quando começamos a perceber que o ego, que é o único obstáculo à percepção do que e de quem realmente somos, deve ser afastado, e estamos dispostos a permitir que o ‘eu’ verdadeiro (a quem damos o nome de Deus) viva sua natureza ‘através’ de nós.
      Se você (isto é, o ego) fizer algo, acontecerão enganos. Se nada fizer (isto é, se o ego não mais está ali, e, portanto, não mais interfere), não haverá enganos. Isso não é renunciar a coisa alguma valiosa. É encontrar o valor autêntico, é SER o valor autêntico e, por isso não mais existe algo a que renunciar; você já É AQUILO.
      O medo do homem (antes de chegar lá) é que muitas coisas (ruins, incorretas, nocivas) lhe aconteçam (pois está deixando para trás o ego que é quem, aparentemente, raciocina, planeja, acerta e erra e você pensa que ele é quem decide); assim, você pensa que não pode deixá-lo, (senão o que você será? Uma marionete?). (Mas não é nada disso. Coisa alguma lhe acontece. (O que você com sua decisão, medo de errar e de se frustrar, faria acontecer, é a mesma coisa que então irá acontecer, porq nós somos apenas testemunhas do q acontece na vida; mas não há mais medos de errar e se frustrar, e nem responsabilidades ou culpas). Talvez seja (não deveria dizer ‘talvez seja’ e sim afirmar que ‘é’) a coisa autêntica para o Eu verdadeiro.
      Precisamos ficar cansados (desencantados) dos velhos medos e tédio para dar inicio à ação correta (ficamos desencantados, pois verificamos, então, que as coisas nas quais acreditávamos e depositávamos confiança, apego, das quais dependíamos, são incertas e impermanentes e, portanto, inseguras, não merecedoras de nossa confiança). A ação correta começa, portanto, com o abandono do ego que acreditávamos fosse nosso verdadeiro ‘eu’).   
      Não precisamos planejar ou calcular a ação correta (acontecerá por si mesma, por ser, agora, da própria natureza daquele que abandonou o ego).
      Isso abre caminho para a ‘ação sem pensamentos condicionados’. Esta é sempre autêntica (não há mais pensamento, planejamento, dúvidas ou receios de se está certa ou errada).
      Tudo acontecerá como deve acontecer se deixamos de ter idéias preconcebidas (isto é, se o ego condicionado não interfere com seus medos e dúvidas ou incertezas) do que deve acontecer.
      Tempo virá que você não mais temerá estacionar (medo de estar ‘pecando’, de não estar cumprindo as leis de Deus e, por isso, de não estar avançando na sua evolução). Verá que já ‘chegou’ lá e que sempre esteve lá (apenas não tínhamos o percebimento disso). Só praticará ação correta (que era o que aconteceria mesmo que relutássemos contra ela, por a julgarmos erradas; a diferença está em que agora você sabe que é correta e não lutará para corrigir o que antes não achava correto e tentava corrigir (e por isso sofria).
.      (Todas as soluções já estão dentro de nós, no “eu” q somos, livres do ego. “O Senhor habita em vossos corações”).

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 (41)          ‘EXPERIÊNCIA’ de Finney                   (Jan2008)
    (Extrato de ‘Despertamento, a ciência de um milagre’).
          
        Charles G Finney, professor e advogado, pregador evangélico, por muitos comparado a Paulo, nem na juventude, nem adulto, dera atenção a assuntos religiosos. Em Adams, cidadezinha onde foi advogar, conheceu e ouviu o pastor Gale, formado em Princeton. Os dois tornaram-se amicíssimos, mesmo não se compreendendo um ao outro; o pastor não conseguia responder a todas as perguntas sobre a religião que pregava, que Finney lhe fazia. A perplexidade do advogado tornava-se cada vez maior diante da aparente incoerência entre as orações dos crentes e a falta de respostas. Oravam e oravam, pediam e pediam, e nada acontecia.
       Finney comentou com alguns vizinhos:
       ‘Desde que assisto aos cultos, vocês têm orado o suficiente para expulsar desta vila até mesmo o diabo, se é que há poder em suas orações. No entanto, vocês ainda continuam orando e se lastimando, como se suas orações nunca houvessem sido ouvidas’. (orações formais não passam de exterioridades; não levam a Deus. O que pode levar a Deus são as orações de recolhimento e de quietude, ensinadas por Tereza de Ávila e místicos).
       Ele viria a aprender, depois, que muitas questões não se resolvem nem com orações, nem com sermões, mas somente por meio do conhecimento pessoal (direto, a experiência mística) daquele em quem está toda sabedoria: Deus.
      Mais tarde, Finney se converteu, e a narrativa desse acontecimento, em muitos sentidos, assemelha-se à de Saulo, na estrada de Damasco. Finney não possuía instrução religiosa, mas era sério, enérgico, inteligente, de mente aberta. Como Saulo, ele também teve sua ‘visão’, e saiu, dessa transformadora experiência, resolvido a abrir os olhos e ouvidos dos demais.
       Em suas próprias palavras:
       ‘Certo domingo, no outono de 1821, decidi resolver, duma vez por todas, a questão da salvação de minha alma e reconciliar-me com Deus. Andava ocupadíssimo, de modo que sabia que jamais conseguiria realizar esse desejo se não me aplicasse a ele com total firmeza de propósito. Estava disposto a pôr de lado, até onde fosse possível, tudo quanto pudesse distrair-me a atenção, e a me dedicar exclusivamente a esse objetivo.
       ‘Nos dois dias seguintes, minhas convicções aumentaram, mas parecia que meu coração se endurecia cada vez mais. Não conseguia orar. A oração não passava de um sussurro e, às vezes, me parecia que, se estivesse sozinho onde ninguém pudesse me ouvir, ergueria a voz e gritaria minhas preces. Tornei-me esquivo, evitando falar com quem quer que fosse...
      ‘Na terça-feira, já estava muito nervoso, e durante a noite me veio uma estranha impressão, como se eu estivesse prestes a morrer. E eu sabia que, se morresse sem me reconciliar com Deus, seria condenado ao inferno, mas procurei acalmar-me o quanto pude até o amanhecer.
       ‘No dia seguinte, saí cedo para o escritório e, pouco antes de chegar, fui desafiado por perguntas que, parecia, vinham de dentro de mim, como se uma voz interior me dissesse: ‘Que está esperando? Não prometeu seu coração a Deus? Porque se esforça? Está querendo alcançar a justiça por você mesmo?’ (porque toda justiça e toda salvação vêm de Deus e não de nosso esforço).
       ‘Nesse momento, abriu-se diante de mim todo o plano de Deus para a salvação do homem, de uma forma que achei muitíssimo maravilhosa naquele instante. Parece-me que vi, então, tão claramente como nunca na minha vida, a realidade e plenitude da obra expiatória de Cristo. Vi que era obra consumada; que em lugar de ter ou precisar de algum esforço ou sacrifício meu para me reconciliar com Deus, eu tinha de me submeter à justiça de Deus, por intermédio do filho. A salvação apresentou-se-me como uma oferta a ser aceita: era plena e completa, e nada mais era necessário senão o meu próprio consentimento para abandonar meus pecados e aceitar Cristo. A salvação, assim me parecia agora, ao invés de ser conquistada pelas minhas próprias obras, devia ser encontrada somente em Cristo, que se apresentava diante de mim como meu Salvador. (pois ‘somos salvos, não por nossas obras, mas pela graça de Deus’).
       ‘Sem perceber, eu tinha parado na rua no momento em que a voz me intimara. Quanto tempo permaneci, ali, sem perceber, não sei precisar; mas depois que aquela revelação nítida ficara já algum tempo em minha mente, pareceu que me foi dirigida outra pergunta: ‘Você o aceitará hoje, agora?’ Respondi: ‘Sim, hei de aceitá-lo hoje, ou hei de morrer na tentativa. ’
       ‘No alto da colina, ao norte da povoação, havia um bosque, no qual eu costumava caminhar diariamente e, em vez de ir para o escritório, caminhei para lá, pois senti que precisava estar sozinho, distante de todo olho e ouvido humano, para que pudesse abrir meu coração para Deus...
       ‘Quando, porém, tentei orar, verifiquei que meu coração não queria orar. Parecera-me que, se ao menos pudesse estar em algum lugar onde, falando em voz alta, não fosse ouvido por ninguém, eu poderia orar livremente; mas, quando tentei, estava mudo, nada tinha a dizer a Deus; quando muito pude proferir umas poucas palavras, e mesmo assim, de forma mecânica. Quando tentava orar, parecia-me ouvir ruído de folhas; então, parava e olhava para ver se alguém se aproximava. Isso aconteceu várias vezes.
       ‘Por fim me vi chegando às raias do desespero. Disse a mim mesmo: ‘Não consigo orar. Meu coração está morto para Deus e não quer orar. ’ Reprovei então a mim mesmo, por ter prometido entregar meu coração a Deus ou morrer. Quando tentava orar, não conseguia. Não havia movimento do meu coração em direção a Deus. Comecei a sentir profundamente que era tarde, que eu devia ter sido abandonado por Deus, que não havia mais esperança para mim.
       ‘Angustiava-me ao pensar na imprudência de minha promessa, de entregar meu coração a Deus naquele dia, ou morrer na tentativa. Embora parecesse que aquele meu voto me comprometia, eu não iria poder cumpri-lo. Veio sobre mim tão grande e profundo desânimo e abatimento, que me senti fraco demais para me agüentar sobre meus joelhos.
       ‘Nesse preciso momento, novamente me pareceu ouvir a aproximação de alguém, e abri os olhos para verificar. Então, me foi claramente revelado que o orgulho de meu coração era o grande obstáculo que me entravava o caminho e não me deixava nem mesmo orar (pois lhe tirava a atenção).  Apoderou-se de tal modo de mim um sentimento esmagador de minha vileza, por me sentir envergonhado pelo fato de que outro ser humano pudesse me ver ajoelhado perante meu Deus, que, a plenos pulmões, gritei que não sairia daquele lugar ainda que me cercassem todos os diabos do inferno. ‘O quê’, eu disse, ‘um miserável pecador como eu, confessando de joelhos meus pecados ao grandioso e santo Deus, com vergonha de que um ser humano, pecador como eu mesmo, me veja de joelhos buscando reconciliar-me com quem tanto ofendi?!’ Esse pecado pareceu-me terrível, infinito, e me arrasou ainda mais.
       ‘Nesse instante, raiou em minha mente, como se fosse um dilúvio de luz, esta passagem da Escritura: ‘Então ireis a mim e a mim dirigireis vossa oração, e eu vos ouvirei. Então me buscareis e me achareis, quando me buscardes de todo o coração’ (isto é, sem receios, numa entrega total). Imediatamente me prendi a essas palavras. Naquele momento, eu estava tão consciente de haver confiado totalmente na verdade de Deus, quanto o estava de minha própria existência. De certa forma, eu sabia que aquela era uma passagem da Escritura, embora eu não tivesse consciência de a ter lido antes. Sabia que era a Palavra de Deus e, por assim dizer, a voz de Deus que me falava. Clamei: ‘Senhor, apego-me ao que dizes; sabes que na verdade eu te busco de todo meu coração, e que aqui vim para clamar a ti, e prometeste me ouvir’.
       ‘Isso parecia encerrar a questão de que eu poderia, naquele dia, cumprir meu voto. O Espírito pareceu dar ênfase a esta idéia no texto: ‘quando me buscardes de todo o coração’. Falei ao Senhor que me apegava à sua palavra; que, por isso, eu tinha certeza de que ele me ouvia a oração e havia de ser encontrado por mim...
       ‘Caminhei calmamente em direção ao povoado. Tão perfeita era minha calma que me parecia que toda a natureza a sentia. Eu fora para o bosque logo após o café, que tomara muito cedo; quando voltei à vila, vi que já era hora do almoço. Eu, porém, estivera de todo inconsciente da passagem do tempo que me pareceu que ficara pouco tempo lá no bosque.
       ‘Fui almoçar, mas não tinha apetite. Fui, então, para o escritório. Tentei tocar meu violoncelo, como costumava fazer, mas assim que tocava e cantava aquelas músicas sacras, de palavras inspiradas, começava a chorar. Parecia que meu coração estava se derretendo; era tal meu estado emocional que não podia ouvir nem minha própria voz cantar sem que minha sensibilidade extravasasse em lágrimas. Admirei-me disso e procurei reprimi-las, mas não consegui e guardei o instrumento...
       ‘Depois do almoço, estive muito ocupado transferindo livros e móveis para outra sala. Minha mente, porém, permanecia naquele estado de profunda tranqüilidade. Havia grande suavidade e amor em meus pensamentos e sentimentos. Tudo parecia correr bem; nada me perturbava ou incomodava.
       ‘Pouco antes de terminar, um pensamento tomou conta de mim: assim que estivesse a sós procuraria orar novamente; não me descuidaria mais da vida espiritual, de modo algum.
       ‘Até a noitinha estava tudo arrumado. Acendi um bom fogo na lareira, esperando passar sozinho as horas noturnas. Ao anoitecer, o Dr. W., vendo tudo pronto, deu-me boa-noite e foi para casa. Acompanhei-o até a porta e ao fechá-la e voltar-me, meu coração parecia estar, novamente, derretendo dentro de mim. Todos meus sentimentos pareciam transbordar, e a expressão de meu coração foi: ‘Quero derramar minha alma diante do Senhor’. Nesse instante, foi tal o arrebatamento que senti, que corri para o quarto, atrás do escritório, para orar.
       ‘No quarto não havia luz nem fogo; contudo, pareceu-me que ele estava totalmente iluminado. Ao entrar e fechar a porta atrás de mim, pareceu-me encontrar o Senhor Jesus, face a face. Não me ocorreu, naquele momento, que aquilo tudo se passava na minha mente. Na verdade, pareceu-me vê-lo como veria qualquer homem. Ele nada disse, mas olhou-me de tal modo que me derrubou a seus pés. Eu sempre havia considerado uma situação dessas como sendo um notável estado mental, mas pareceu-me que ele estava realmente em pé, ali, diante de mim. Caí a seus pés e abri-lhe minha alma. Chorei alto, como criança, e confessei-me como me permitiu minha voz engasgada de emoção. Pareceu-me que lhe banhei os pés com minhas lágrimas...
       ‘Assim que consegui me acalmar, voltei ao escritório e descobri que estava quase totalmente consumida a lenha grossa com que preparara o fogo na lareira. Ao voltar-me, porém, para me sentar à beira do fogo, recebi um poderoso batismo do Espírito Santo. Sem qualquer expectativa nesse sentido, sem jamais ter pensado que tal coisa pudesse me acontecer, sem qualquer lembrança de ter ouvido algo semelhante mencionado por alguém, o Espírito Santo desceu sobre mim de maneira que pareceu atravessar meu corpo e minha alma. Pude ter a impressão de ondas de eletricidade atravessando-me vez após vez. De fato, parecia vir em ondas e mais ondas de amor líquido; não sei de que outra maneira expressar o que senti. Parecia o próprio sopro de Deus. Recordo, claramente, que parecia soprar sobre mim como se fossem asas imensas abanando-me.
       ‘Não há palavras que exprimam o maravilhoso amor que se espalhou em meu coração. Chorei alto, de alegria e felicidade; e, não tenho certeza, mas eu diria que saiam aos borbotões as emoções inexprimíveis de meu coração. Essas ondas vieram sobre mim, e vieram, e vieram, uma após outra, sem cessar, até que, lembro-me de ter gritado: ‘Morrerei, se estas ondas continuarem a cair sobre mim.’ E disse ainda: ‘Senhor, não agüento mais!’, embora não sentisse mais qualquer medo da morte.
       ‘Não sei quanto tempo continuei nesse estado, com esse batismo me envolvendo e me atravessando. Sei que já era bem tarde quando um amigo veio me ver. Encontrou-me em prantos e perguntou: ‘Finney, o que aconteceu? Não está se sentindo bem?’ Durante algum tempo não pude responder. Ele perguntou: ‘E está sentindo alguma dor?’ Dominando-me da melhor forma que pude, respondi: ‘Não, mas estou tão feliz que nem posso mais viver... ’
       ‘Dormi logo, mas logo em seguida acordei de novo por que estava tão repleto de amor, que não conseguia dormir. Logo, dormi de novo, e acordei do mesmo modo. Assim continuei até altas horas.
       ‘Quando acordei o sol já derramava sua claridade no quarto. Palavras não podem exprimir a impressão que essa luz do sol me fez sentir. Imediatamente, o batismo, que eu recebera na noite anterior, voltou sobre mim, e do mesmo modo. Fiquei de joelhos sobre a cama e chorei alto de alegria; permaneci algum tempo de tal maneira arrebatado pelo batismo do Espírito, que nada podia fazer senão abrir minha alma para Deus. Pareceu-me que esse batismo matinal era acompanhado de suave censura; o Espírito parecia perguntar-me: ‘Duvidas?’ Gritei: ‘Não, não duvidarei jamais; não posso duvidar’. Ele então esclareceu aquele assunto em minha mente, de tal modo que era impossível duvidar que o Espírito de Deus controlava todo o meu ser.
       ‘Enquanto eu estava assim, pude entender a doutrina da justificação pela fé como experiência real. Esse assunto nunca impressionara minha mente a ponto de eu considerá-lo, distintamente, como doutrina fundamental do Evangelho. Na verdade, eu nem mesmo compreendia o que significava a passagem: ‘Sendo justificados pela fé, temos paz com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo. ’ Pude ver, então, que no momento em que cri, lá no bosque, que todo sentimento de condenação desaparecera completamente de meu pensamento, e que, a partir daquele instante, eu não mais conseguia, nem me esforçando, sentir qualquer sentimento de culpa ou de condenação por meus atos quaisquer que fossem eles. O sentimento de culpa se apagara, cessara, morrera; foram-se os meus pecados, e eu não tinha mais nenhum sentimento de culpa; era como se eu nunca tivesse cometido qualquer pecado.
       ‘Senti que me achava num estado no qual eu não mais poderia pecar. Ao invés de sentir que eu pecava sem cessar, meu coração estava tão cheio de amor e paz que transbordava. Meu cálice transbordava de bênçãos e de amor, e eu sentia que não mais estava pecando contra Deus. Além disso, nunca mais tive o menor sentimento de culpa pelos pecados que já cometera. ’
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(Para outras experiências da mesma espécie, ver ‘Consciência Cósmica’, de Richard M. Bucke).

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