quarta-feira, 26 de dezembro de 2012


(39)                              PASTA DE RECORTES

Carl G. Jung percebeu que uma das manifestações mais comuns da mente inconsciente (mente coletiva) era a sensação fundamental de unicidade e unidade com tudo o que existe. Para ele essa experiência, como o próprio inconsciente coletivo, é universal. Carl G. Jung chamou-a de “concórdia transcendental”, que coloca o indivíduo em contato com a Mente Una, aquilo a que as diferentes religiões dão o nome de Deus. E, para ele, em última análise, a mente universal e a mente individual são a mesma coisa, isto é, nossa mente é a Mente. Essa é uma verdade perfeitamente aceita no Oriente e, embora no Ocidente isso pareça blasfêmia, Jung afirmava que essa percepção era uma experiência mística incontestável, presente em todas as tradições religiosas, do Oriente e do Ocidente.
(Hoje, no Ocidente, a física quântica afirma a mesma coisa: só existe uma mente e nós somos essa mente).

James Jeans: ‘No espaço e no tempo, nossas consciências são indivíduos separados. Mas, além do espaço e do tempo (isto é, além do ego, no atemporal), elas talvez formem uma única e contínua corrente de vida. O que acontece com a eletricidade e o magnetismo pode acontecer com a vida: os fenômenos podem ser indivíduos carregando existências separadas no espaço e no tempo, enquanto que, na realidade mais profunda, além do espaço e do tempo, podemos ser todos nós membros de um só corpo’ (‘Eu e o Pai somos um’; ‘somos todos membros do Cristo’. O espectro-teclado das vibrações cósmicas, embora uma ‘única e continua corrente de vida’, nos apresenta existências aparentemente separadas: ondas de rádio, calor, som, luz, eletricidade, magnetismo, corpos químicos, sensações de tato, visão etc. Isso pode estar ocorrendo com as diferentes formas de vida: eu, você, os animais, vegetais, minerais, embora indivíduos de existências separadas quando no espaço-tempo, numa realidade mais profunda, além do espaço-tempo, podemos ser um só corpo, uma única vida, uma única Mente).

O modo que ensina o que fazer para alcançar a percepção da Realidade Final constitui a própria essência do Hinduísmo, Budismo, Taoísmo, Sufismo etc. (as grandes tradições orientais) e é sempre um conjunto de instruções sobre como fazer despertar o modo não-dual de conhecer, um modo em que se percebe que nós, o sujeito, e os objetos, as coisas que observamos, não são separados, não são duas coisas, mas são interdependentes e são uma coisa só e, assim, conhecer, diretamente, a Realidade (Jesus: ‘Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará’). Essas instruções variam muito de cultura para cultura, cada uma tendo seu próprio grupo particular de regras, porque seus símbolos são sempre diferentes. Mas, sempre e onde quer que as instruções levem ao modo não-dual de conhecer, a Realidade experimentada é idêntica, é a mesma, tanto que Einstein, Jung e outros notáveis a chamaram de ‘experiência de concordância universal’.

Schrondinger: ‘Por mais inconcebível que pareça à razão comum, ao nosso modo de conhecer ordinário, dualístico, isto é, nós ‘aqui’, e o que conhecemos, ‘lá’, separado de nós, nós e todos os seres conscientes somos tudo em tudo. Daí que a vida que estamos vivendo, não seja apenas um fragmento da existência inteira, mas, em certo sentido, é o Todo (a vida total)... Assim, podemos atirar-nos ao chão, estender-nos sobre a Mãe Terra, com a convicção absoluta de estarmos em comunhão com ela e ela conosco. Estamos firmemente estabelecidos e somos tão invulneráveis como ela; na verdade, mil vezes mais firmes e mais invulneráveis. Tão certo quanto ela nos engolirá amanhã, trar-nos-á outras vezes novas lutas e novos sofrimentos. E não somente ‘algum dia’. Agora, hoje, todos os dias, ela nos traz à vida, não uma só vez, mas milhares e milhares de vezes, exatamente como nos engole, todos os dias, milhares e milhares de vezes’.

Com a nova visão dada pela física quântica, verificamos que os conhecimentos que temos do mundo desmoronam completamente, pois vemos, na base do mundo físico, não garantia de certeza, mas um Princípio de Incerteza (Heisenberg), isto é, o fluir dos eventos e fenômenos é totalmente imprevisível e, portanto, incerto; na base do mundo mental, um Teorema de Incompletude (Kurt Gödel), isto é, nenhuma observação é completa; sempre alguma coisa fica de fora; nunca podemos observar ou estudar, conhecer o mundo todo. Descobrimos, até, que ‘toda observação perturba a realidade’ (isto é, ao observarmos a energia ela se transforma em partícula e surge o mundo; quando não a observamos, tudo permanece como energia). E, apesar disso, não estamos inclinados a conhecer as descobertas, da física moderna, que exigem que reinterpretemos a própria ciência, o mundo e a nós mesmos. Em outras palavras, não queremos conhecer e, desse modo, nos defender, daquilo que é a origem de todas nossas ilusões, conflitos e sofrimentos. Preferimos enfiar a cabeça na areia.

Conforme afirmam Heisenberg, Einstein e Schroedinger, no íntimo da Realidade, observador e observado, conhecedor e conhecido, não são separáveis. (não há separação; tudo é interdependente, tudo é uma coisa só; bem e mal, belo e feio, saúde e doença, isto é, todos os contrários, todos os postos inexistem na Realidade Final). Krishnamurti: ‘o observador é a coisa observada’.
O dualismo (isto é, divisão) primário (a percepção de eu e não-eu, eu e mundo, sujeito e objeto), mostrou-se insustentável pela opinião da própria autoridade da física. Bronowski: ‘A relatividade deriva da análise filosófica que insiste em que não há um fato e um observador, mas uma junção dos dois numa observação; que o evento e o observador são inseparáveis’. E Schroedinger, pai da mecânica quântica: ‘O sujeito e o objeto são apenas um. Não se pode dizer que a barreira entre eles caiu como resultado das recentes descobertas da ciência; essa barreira nunca existiu’.

Pelas descobertas da moderna física quântica, os novos físicos tiveram de abandonar o dualismo ilusório de sujeito e objeto, onda e partícula, mente e corpo, espírito e matéria e, com ajuda de Einstein, o de espaço e tempo, energia e matéria, espaço e objetos. A nova física provou que tudo isso é ilusão. Como as costas e a frente são apenas modos diferentes de ver um mesmo homem, nenhum modo sendo mais real do que o outro, assim sujeito e objeto, psique e corpo físico, energia e matéria, são apenas modos diferentes de ver a mesma realidade (a mesma manifestação de energia, ou de Deus).

A mecânica quântica foi um desastre para a física clássica porque destruiu a própria base sobre a qual ela havia sido construída: o dualismo (separação, divisão) sujeito-objeto. Até então, supunha-se que era real tudo que podia ser objetivamente observado e medido. Mas, como a nova física exaustivamente provou, as realidades finais em nenhuma circunstância podem ser precisamente observadas ou medidas. O simples ato de observar modifica a realidade (isto é, quando observamos a energia se transforma em partículas, em matéria). Sullivan: ‘Não podemos observar a natureza sem perturbá-la’. Andrade: ‘Observar significa interferir naquilo que estamos observando; a observação perturba a realidade’.

Whitehead: ‘Os velhos alicerces da ciência se partiram e as bases estão ficando totalmente incompreensíveis. Tempo, espaço, matéria, eletricidade, mecanismo, organismo, estrutura, modelo, função, tudo requer re-interpretação’.

Broglie: ‘No dia em que os ‘quanta’ (nome dado por Einstein, ao se comprovar a inexistência do éter universal, aos ‘pacotes’ de energia, inclusive da luz do sol) foram apresentados, o vasto e grandioso edifício da física clássica viu-se abalado nos próprios alicerces. Na historia da ciência poucas mudanças comparáveis a esta se registraram’.

D.T.Suzuki: ‘Em sua natureza original, a consciência, tranqüila e pura (livre de condicionamentos), está acima do dualismo sujeito e objeto’ (tudo é um).

William James: ‘Nossa consciência normal é apenas uma forma de consciência. Em toda sua volta, separadas dela pelo mais fino véu, estão outras formas de consciência inteiramente diversas. Podemos passar a vida inteira sem suspeitar-lhes a existência; porém, aplique-se a elas o estímulo adequado e ei-las ali em toda sua inteireza. Não pode ser completa nenhuma explicação do universo que não considere essas outras formas de consciência. De qualquer modo, a percepção delas nos leva a um antecipado acerto de contas com a realidade’ (Krishnamurti: levam-nos à percepção daquilo que está após a morte biológica: um novo estado de existir, um estado mais rico e mais real de existir).

As únicas autoridades dignas de confiança com as quais podemos contar para conhecer cientificamente esses procedimentos que podem nos levar à percepção da Verdade Última são aquelas que perceberam os vários níveis da consciência, como o de ser um ego e o de ir além do ego. Suas opiniões sobre a natureza da Mente, da percepção mística, são impressionantemente idênticas e universais (é uma ‘experiência de concordância universal’, segundo Einstein). Transcender o ego é um estado ou nível de consciência infinitamente mais rico, mais natural e mais gratificante do que podemos imaginar em nossos mais ousados vôos de fantasia.

Há duas opções de julgar a verdade sobre a Mente: crer naqueles que a experimentaram, ou tentar experimentá-la nós mesmos; se não fizermos nem uma coisa nem outra, devemos evitar o julgamento de que isso é ilusão, alucinação ou doença mental.

As disciplinas orientais, como o Vedanta e o Zen, não são teorias, filosofias, psicologias, nem religiões; são um conjunto de experiências no sentido rigorosamente científico do termo. Consistem de prescrições que, se seguidas à risca, resultarão seguramente no descobrimento do Nível da Mente pura (isto é, daquilo a que chamamos Deus). Recusar-se alguém a aceitar resultados de experimentos científicos dessa natureza, porque não gosta dos métodos usados, é um gesto profundamente anticientífico. Rejeitar um fato, ‘cuja prova experimental é possível’, é absurdo, pois existe um caminho prescrito para os que desejarem testá-lo. Quando falamos da percepção do Absoluto, não estamos falando de um ponto de vista apenas teórico. Falamos de dados obtidos pela prática, pela experiência, e o cientista que zomba de tais resultados, sem antes ter o cuidado de realizar o experimento, não passa de um cientista no sentido mais pobre do termo.

William James: ‘Todo o fluxo da minha educação convence-me de que o mundo de nossa consciência ordinária é apenas um dos muitos mundos de consciência existentes, e de que outros mundos hão de conter experiências que também têm significado para a nossa vida; e de que, embora na maior parte das vezes suas experiências se mantenham discretas, elas e as deste mundo se mostram interligadas em certos pontos.’...‘O Nível da Mente pura é, de certo modo, mais real, mais básico e mais significativo do que os outros. Essa experiência é tão total e terrivelmente convincente que, quem a experimenta, sente que os outros níveis de consciência (aqui incluído nosso nível comum de consciência) são irreais, ilusórios e semelhantes a sonhos’.

Para os incrédulos, a afirmação de que só o Nível da Mente é real, ou que é a única vida verdadeira, o que significa que o nosso ego é uma ilusão, produz estranheza total. Mas, todos os que investigaram esse nível (os místicos e, hoje, cientistas quânticos) afirmam: o ‘eu’ é uma ilusão. E a essência de suas revelações é: a realidade única e absoluta é a Mente pura. A Mente é o que é e é tudo o que é, infinita, eterna.

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e� � g t �, � E pan style='mso-spacerun:yes'>      ‘Para compreender a alma temos que compreendê-la como Deus, pois o fundamento (a essência) de Deus e o fundamento (a essência) da alma são uma só coisa’ (Eckhart, místico cristão).

      ‘O conhecedor, o conhecido e o conhecimento são uma coisa só. As pessoas simples imaginam que Deus está lá e elas aqui. Não é assim. Deus e eu somos um só no conhecimento’ (Eckhart, místico cristão).

      ‘Eu vivo, mas não sou eu quem vive; é o Cristo que vive em mim’. (Paulo).

      ‘O bem não precisa adentrar a alma, pois já se encontra lá, embora não percebido por nós’. (Teologia alemã).

      ‘Quando vemos todas as coisas em sua unicidade, voltamos à origem e permanecemos onde sempre estivemos’ (Sen T’Sen).

      ‘Por não saber quem somos, pois não temos consciência de que Deus está dentro de nós, procedemos de maneiras geralmente tolas, insensatas e até criminosas, e tão caracteristicamente humanas. Somos salvos e libertados ao perceber o Deus, (‘Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará’) ate então despercebido, que já existe dentro de nós, e retornamos ao nosso fundamento eterno e vemos que permanecemos onde sempre estivemos sem o saber’.

      ‘Existe em nossa alma algo que é mais glorioso, acima de tudo, disso e daquilo, do céu e da terra. Ele é livre de todos os nomes e vazio de todas as formas. É uno e simples, e nenhum homem, por mais sábio que seja, pode contemplá-lo’ (John White).

      ‘O desconhecimento de Deus é o cativeiro; o conhecimento de Deus é a liberdade e a sabedoria’ (Evelyn Underhill). (‘A verdade vos libertará’).

      ‘Queres que te mostre o que é Deus? Não acha paz aquele que de Deus está apartado’ (Santa Catarina de Gênova).

      ‘Quando o amor de Deus toca a alma, ele a encontra cheia de vícios e pecados; de início ele dá a ela um instinto de virtude para incentivá-la à perfeição; depois, infundindo-lhe graça, a leva à verdadeira auto-anulação (esquecimento do ego) e, finalmente, à real transformação. Deus conduz a alma ao longo do caminho (Paulo: ‘É o Senhor que opera em nós o pensar, o querer e o fazer’). Todavia, quando a alma chega ao nada e é transformada, ela não trabalha, nem fala, nem deseja, nem sente, nem ouve, nem compreende, nem tampouco nutre o sentimento do dentro e do fora, onde pode se movimentar. Então, em todas as coisas, é Deus que a governa e a conduz sem a mediação de nenhuma outra criatura. E o estado dessa alma é então um sentimento de paz e tranqüilidade tão ilimitado que seu coração e seu ser corpóreo, e tudo o que está dentro e fora, lhe parecem imersos num oceano de serenidade, de onde ela jamais sairia para o que quer que pudesse lhe acontecer na vida. E ela permanece imóvel, imperturbável, impassível a tal ponto que lhe parece nada mais poder sentir além daquela mais doce paz’ (Santa Catarina).

      ‘Quem sou eu?’ é a eterna pergunta do homem. Essa busca de autocompreensão, do significado último da personalidade, vem sendo respondida ao longo da história de várias maneiras, todas apontando para uma experiência na qual o buscador e o objeto de sua busca se fundem na percepção: ‘Eu sou Deus; não existe outro’ (Meher Baba). (‘Sujeito e objeto são um’).

      ‘Você é a eterna condição subjacente a todas as condições, que jamais nasceu e jamais morrerá, e de onde provém toda a criação. A essência de toda a criação, Deus, está exatamente dentro de você, de todos nós, quanto está dentro de tudo o mais’ (Baba).

      ‘Não que você esteja exatamente dentro do cosmos – o cosmos é que está exatamente dentro de você’ (Baba).

      ‘A busca é provocada pela ânsia de felicidade do homem e de sua procura de um meio de escapar da armadilha que é a vida.
Não é sua culpa se ele supõe que a solução para a sua profunda insatisfação reside numa vida sensual ou nas realizações profissionais ou do mundo social, ou ainda em uma vida de experiências excitantes. Tampouco é culpa sua se a vida, em geral, não é bastante longa para ensinar-lhe, concretamente, que ele encontraria uma desilusão ainda maior e mais profunda se esses objetivos fossem satisfeitos por completo.
O homem é impelido a essa busca pela desilusão (desencanto) com as coisas mundanas que o fascinam e das quais não consegue afastar o pensamento. Empenha-se o quanto pode em alcançar os prazeres dos sentidos e em evitar todos os tipos de sofrimento.
      Mas, enquanto ele atravessa dias, meses e anos das mais variadas experiências, surge, com freqüência, uma ocasião em que ele começa a questionar: ‘Qual a finalidade de tudo isso?’ E, incapaz de se contentar com as coisas transitórias da vida, questionando, ele se torna totalmente cético em relação aos valores habituais que até então aceitava sem hesitação.
E, nesse desespero, o homem toma a decisão de descobrir e compreender o propósito da vida. É então que ele principia a verdadeira busca, a busca dos prazeres duradouros (Baba).

      ‘Aqui está você, sentado nesta sala, me ouvindo e pensando que sua presença aqui é real. Mas eu lhe garanto, você está apenas sonhando. Suponha que esta noite você sonhe que está sentado aqui e, no sonho, alguém lhe diga que você está apenas sonhando. Você retrucará: ‘Não estou sonhando; estou realmente tendo a experiência de estar sentado aqui, ouvindo a palestra de Baba com todas as pessoas que me cercam!’ Mas, pela manhã você acorda e vê, então, que tudo foi um sonho. Pois, lhe afirmo, um dia também você ‘acordará’ e terá certeza de que tudo o que você sempre fez não passou de um sonho. Eu sou Deus, assim como cada um de vocês também é Deus. Mas, enquanto eu já acordei, vocês continuam ainda dormindo e enredados em seus sonhos. Despertar do sonho da separatividade e da limitação auto-imposta é o caminho místico, da libertação, do encontro com Deus’. (Baba).

      ‘Existe uma só pergunta: ‘Quem sou eu?’ e, para essa pergunta só existe uma resposta: ‘Eu sou Deus!’ E quando você conhecer a resposta a essa pergunta, não há mais nada a perguntar (‘...a verdade vos libertará’). O problema é que as pessoas não sabem quem realmente são. Você é o infinito, você está de fato em toda parte; mas você acha que é o corpo, os sentidos, a memória e, por isso, se acha limitado. Se você olhar para dentro de seu íntimo e vivenciar sua própria alma em sua verdadeira natureza, você  perceberá que é infinito e eterno e que está além de toda criação’ (Baba).

‘Finda a busca, todas as dificuldades são ofuscadas pela recompensa final. Os grilhões da individualidade limitada se rompem; o mundo das sombras (ignorância) chega ao fim; o véu da ilusão (ego) é removido para sempre. A agitação e a angústia torturante das buscas da consciência limitada (do ego) são substituídas pela tranqüilidade e beatitude da consciência ilimitada da Verdade. A inquietação, o frenesi e o sofrimento da existência mundana são tragados pela paz da bem-aventurança e da eternidade’ (Baba) (Buda: ‘A iluminação é o fim de todo sofrimento’).

      ‘A experiência espiritual (mística) vai muito além do q pode ser apreendido pelo intelecto, imaginação, raciocínio, pensamento. O misticismo costuma ser considerado como algo antiintelectual, obscuro e confuso e até patologia ou impraticável e sem relação com a experiência, mas, na verdade, nada tem a ver com essas idéias. Nada existe de irracional no misticismo verdadeiro, quando ele é como deve ser: uma visão ou comunhão com a Realidade. É uma visão absolutamente clara, e tão prática que pode ser vivida em cada momento da vida e expressar-se em todas as tarefas do dia-a-dia. Ele é a compreensão final de todas as experiências’ (Baba).

      ‘Para a busca não é necessário ter um mapa completo do caminho para iniciar a viagem. Ao contrário, a insistência em ter esse conhecimento completo pode dificultar em vez de facilitar o caminho. Os segredos mais escondidos são revelados àqueles que correm riscos e fazem experiências ousadas com ele. Não se destinam ao ocioso que busca garantias a cada passo. Quem especula, na praia, sobre o oceano conhece apenas sua superfície, mas quem deseja conhecer suas profundezas precisa estar disposto a mergulhar nele’ (Baba).
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      ILUMINAÇÃO 2 – Outros testemunhos

      Sri Aurobindo: Foi caminhando no pátio da prisão onde, por ter sido, por engano, confundido com um terrorista, esteve por certo tempo, que ele sentiu uma mudança de consciência: ‘Contemplei a prisão que me separava dos homens, e já não estava aprisionado por seus altos muros: era Vasudeva (Deus) que me cercava. Caminhei sob os ramos da árvore diante de minha cela, mas ela já não era mais a árvore. Eu sabia que era Krishna (Deus) que eu via ali, estendendo-me sua sombra. Olhei para a grade de minha cela e novamente vi que a grade era Deus. Era Deus que me guardava na figura da sentinela. Deitei sobre os cobertores ordinários q me serviam de cama e senti que me aconchegava nos braços de Deus. Olhei para os prisioneiros, os assassinos de todas as espécies e vi que era Deus que eu encontrava naquelas almas entristecidas e naqueles corpos maltratados. Quando fui a julgamento, com cerca de 200 testemunhas, já não via a turba hostil nem os juízes, mas eu não os via senão como Vasudeva, risonho. Tudo era Deus, que se tornou o próprio mundo.
Assim dizem os Upanishades: ‘Ele está em todas as coisas e comanda todos os atos (Paulo: ‘É o Senhor q opera em nós o pensar, o querer e o fazer’). Ele se tornou conhecimento e ignorância, verdade e falsidade, bem e mal. Ele se tornou tudo que existe. Para o olho que ‘vê’, tudo é Um, tudo é Vasudeva’.

      ‘Este mundo em que vivemos é um mundo de luta e labor, um mundo feroz, perigoso, destrutivo, devorador, no qual, a cada passo, queiramos ou não, algo é esmagado e destruído; no qual cada sopro de vida é também um sopro de morte. Colocar a responsabilidade de tudo que nos parece mau ou terrível nos ombros de um demônio semi-impotente, ou deixá-la de lado, como sendo parte da natureza, criando uma oposição intransponível entre a natureza do mundo e a natureza de Deus, como se a natureza fosse independente de Deus, ou ainda lançar a responsabilidade sobre os homens e seus pecados, como se o homem tivesse voz ativa na criação deste mundo ou pudesse criar algo contra a vontade de Deus, tudo isso constitui estratagemas, artifícios cômodos... Erigimos, criamos, imaginamos um Deus de amor e misericórdia, justo, probo e virtuoso de acordo com as nossas concepções morais de justiça, virtude e retidão e, a todo o resto dizemos ‘Não é Ele’ ou ‘Não é dele’, ‘não foi Deus quem fez isso’ etc., mas que foi criado por um ser diabólico a quem, por um motivo qualquer, Ele permite cumprir sua vontade perversa e funesta; ou então foi culpa do homem egoísta e pecador, que estragou, pelo mau uso de seu livre-arbítrio, aquilo que foi criado originalmente perfeito. Temos de encarar corajosamente a realidade e perceber que foi Deus, e ninguém mais, que criou este mundo em seu próprio ser (Paulo: ‘Em Deus vivemos e respiramos; Ele está acima e abaixo, à frente e atrás, à direita e à esquerda, fora e dentro de nós’) e o fez como ele é. Temos que ver que a Natureza devorando seus filhos, o Tempo consumindo as vidas das criaturas, a Morte universal e inelutável e as violências no homem e na natureza são também o supremo Ser Divino em uma de suas representações cósmicas. Temos também de perceber que o Deus generoso, amoroso, o criador e conservador prestimoso, forte e benévolo é também o Deus devorador e destruidor. O sofrimento, a dor e o mal com que somos torturados é também seu toque tanto quanto a felicidade, a suavidade e o prazer. Só quando vemos com a visão de completa união e sentimos essa verdade no âmago de nosso ser é que podemos descobrir totalmente, por trás dessa máscara, o rosto sereno e formoso da Divindade bem-aventurada. 
      As discórdias do mundo são as discórdias de Deus, são a vontade de Deus, e só aceitando-as e superando-as podemos ascender à concórdia maior de sua suprema harmonia, à vastidão, à imensidade transcendente. Porque a Verdade é o alicerce da verdadeira espiritualidade e coragem da alma’ (Aurobindo).

      ‘Tu és Ele’, eis a verdade eterna. ‘Tu és Isto’, ‘Eu sou Aquilo’, ‘Eu sou Ele’, ‘Não conheço nenhum Deus senão meu próprio Eu’, ‘Conhece-te a ti mesmo e serás Deus’, eis as verdades que todos os antigos mistérios ensinavam e que, as religiões q vieram depois, se esqueceram de ensinar. Assim, também, ‘Eu e o Pai somos Um’.

      Jesus, o Cristo, também disse ‘Este é meu corpo e este é meu sangue’ escolhendo esses dois símbolos mais materiais, mais triviais e terrenos do pão e do vinho para comunicar a idéia de que tudo é um corpo só, o corpo do divino? (Aurobindo).

      ‘Quando Isto é conhecido, Tudo é conhecido’ (Upanishades).

      Roger N. Walsh: ‘O grande psicólogo Gordon Alportt lamentava-se: ‘Nada temos na psicologia acerca da libertação’. Ele lastimava o fato de a psicologia clinica e a psiquiatria ocidentais serem essencialmente voltadas para a patologia e terem poucos conhecimentos da saúde psicológica e, muito menos, da ‘iluminação’. Esses temas são bastante mal compreendidos. Muitos profissionais da saúde mental ainda consideram fenômenos como a maturação psicológica além das normas culturais, as experiências místicas e a iluminação como lendas na melhor das hipóteses, e patológicas, na pior ‘regressão psicológica no caso mais extremo, como descreve um conhecido tratado de psicologia.

      ‘Prazer e dor, louvor e censura, fama e vergonha, perda e ganho, mal e bem, são a mesma coisa. Assim eu e você’ (Buda).

      ‘Todos os Budas e todos os seres sencientes nada mais são do que Mente Universal. Acima e abaixo, fora e dentro de você, tudo existe espontaneamente, pois nada existe fora da Mente Buda’ (Zen).

      ‘Vê esse sereno homem do Tão, que abandona o aprendizado e não se empenha? Ele nem evita falsos pensamentos, nem busca a verdade, pois, na verdade, o ‘desconhecimento’ é a natureza búdica, e este corpo ilusório e mutável é o corpo da Verdade’ (Zen).

      O poeta americano Walt Whitman é um daqueles que tiveram vislumbres dessa experiência, daquilo que chamamos iluminação ou consciência cósmica. Ele, como outros que tiveram a mesma experiência, afirmou que ninguém conhece a verdade pelo fato de freqüentar templos e cultos, nem por ouvir sermões que emocionam, nem por pedir aos céus, ou por orar; nem por promessas ou por praticar as virtudes pregadas pelas diferentes igrejas e crenças, ou por sacrifícios.
     Como os místicos e os iluminados, ele afirma que, somente na solidão, no silêncio do “eu”, na perseverança da busca, é que nós podemos encontrar aquilo que é sagrado. E, depois disso, vamos perceber que sermões, escrituras, sacrifícios, rituais, cultos, orações, promessas, isto é, exterioridades, não têm qualquer valor; desaparecem como fumaça.
      E afirmou, também, que: “Enquanto estamos na escuridão, não compreendemos as escrituras; quando chegamos à luz, elas não são mais necessárias”.

      Pascal, conhecido matemático, cientista e escritor francês:
     A partir de certo dia, ele se afastou da sociedade e se tornou recluso em sua própria casa (como Jesus, nas chamadas tentações, no deserto; Paulo, que foi viver entre tecelões, depois de sua visão na estrada de Damasco, e outros que, depois da experiência, se retiraram para, na solidão, tentar compreender o que lhes havia ocorrido).
     Depois de certo tempo, Pascal recomeçou a escrever, mas suas obras, agora, tinham um caráter mais elevado, diferente das anteriores. Sua compreensão de vida e de mundo tinha se modificado de maneira drástica. Quando morreu, um criado encontrou, costurado com cuidado dentro da bainha de seu gibão (túnica), um pergaminho onde estavam escritas as seguintes palavras:
     “Ano da graça de 1654, segunda-feira, 23 de novembro... desde cerca das dez e meia da noite até meia-noite e meia... FOGO, FOGO... transfiguração... Deus de Abraão, Deus de Isaac, Deus de Jacob... Certeza, alegria, certeza, sentimento de alegria e paz... Deus de Jesus Cristo, meu Deus e teu Deus... Esqueci-me do mundo e de tudo, exceto de Deus. Ele só é encontrado nos caminhos dos Evangelhos... a GRANDEZA DA ALMA HUMANA... agora vejo que ela é o próprio Deus. Pai justo, o mundo não te conhece, mas eu te conheci. Alegria, alegria, alegria, lágrimas de alegria! Eu não me separarei jamais de ti... Meu Deus, esta é a vida eterna que se ganha depois de te conhecer, o único Deus verdadeiro, e aquele que tu enviaste - o Cristo; com ele, tudo é Um... Renúncia total e doce... submissão total a Cristo... eternamente em alegria por um momento de aprendizado sobre a terra... jamais esquecerei o que hoje me ensinaste... Amém”.
     Esse pergaminho existe até hoje. Recebeu o nome de “amuleto místico de Pascal” e está na Biblioteca Nacional, em Paris.

      Edward Carpenter: ‘... Acabados todos os sofrimentos, acabadas todas as penas... abriu-se dentro de mim um profundo oceano de felicidade... todas as coisas foram transfiguradas, cantando felicidade sem fim... Naquele dia, no dia da tua libertação, ela virá a ti em lugar que desconheces, sem que saibas em que tempo (como na parábola do ladrão)... tu, então, estarás livre para sempre... (“... a verdade vos libertará”); deixa que a felicidade te invada... a morte já não te separará daqueles a quem amas... o mundo da igualdade... da felicidade total...’.
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