segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

          REFORMA INTERIOR         

          Conversando com “G”

          Amigo G:
          “Você afirma que não é necessário fazer nenhuma reformar interior e ao mesmo tempo fala que é necessário a afastar o ego. Isso é ilógico”.
         
          Cel:
          “Meu amigo, o que é a “reforma interior” a que todos, em geral, se referem? É se tornar honesto, bom, prestar serviços de amor ao próximo, ser caridoso, humilde, solidário etc, não é isso? E como é que todos, em geral, e como as doutrinas aconselham, fazem? No interesse de reformar-se intimamente, de serem recompensados num futuro incerto, de receberem méritos pelo bem que fazem, forçam a própria natureza, que não está ainda preparada para amar, para perdoar, ajudar etc.   
           Não é isso o que acontece? E, pelo que se ensina, o ato de “bondade” é tanto mais digno de méritos quanto mais se tiver de forçar a própria natureza pessoal, a própria vontade, para realizá-lo. Mas, isso é “reforma interior” ou é apenas uma “reforma exterior”, uma reforma de atitudes exteriores? Isso não é amor! É apenas imitação de amor, pseudo-amor, amor falso, pois realizado por interesse de recompensas, ou porque as doutrinas, os mestres, os mandamentos, a ética religiosa recomendam que assim se faça, concorda? Esse é um amor que se realiza “sob condições”: de que haja reconhecimento das religiões ou de Deus; ou do próximo beneficiado, ou da sociedade; que, sobretudo mereçamos reciprocidade do beneficiado, ou recompensas no futuro, nesta ou noutra vida ou situação, não é?
         Isso não é amor; é amor-forçado, arremedo de amor, “treinamento” de amor. E, será possível que pelo esforço, pelo treinar, alguém possa substituir o desamor que ainda tem no coração, por amor? O amor pode brotar pelo “hábito” ou costume de praticar atos de amor? É um costume pessoal a ser adquirido? Ou é um sentimento espontâneo que brota do coração, sem que nem saibamos como? Isto é o que, em geral, e erradamente, todos chamam de “reforma íntima”: acostumar-se a praticar atos de pseudo-amor. O amor não nasce do esforço, mas da compreensão profunda (eventualmente) e se o indivíduo já estiver a ele receptivo.   
         Muito diferente é o afastar, eliminar, calar o “ego”. Isto se dá pela ampliação da compreensão provocada pela observação da totalidade da vida, de como ela é conosco e com os demais, humanos ou não humanos. Essa compreensão vai despertar em nós (pela constatação de que os atrativos do mundo a nada levam; que, ao contrário, só perturbam e prejudicam, e não nos dão satisfação duradoura), um desencanto ou desapego das coisas que, antes, nos escravizavam; vamos também perceber que nem as ciências, aí incluídas as medicinas, nem psicologias, filosofias, crenças e religiões oferecem solução duradoura para aquilo que mais afeta os homens, desde o nascer até o morrer: o sofrimento, de qualquer natureza que seja.  
      Desencantados, confusos e perdidos, pois não vemos como fugir da armadilha que, então percebemos que a vida é, iniciamos a busca da solução definitiva; não mais ficamos hipnotizados pelas nossas crenças, que prometem felicidade para um futuro incerto e q nunca chega; procuramos noutras direções até que compreendemos que o remédio está em “esquecer” o mundo e seus atrativos,  aos quais estamos apegados, acorrentados. Então, verificamos que, para esquecer o mundo, temos de, obrigatoriamente, esquecer, afastar, isolar, matar aquilo que nos relaciona com ele, que nos liga a ele: o “ego”. Por isso, eu disse que a chamada “reforma íntima” não é necessária, pois a “verdadeira” reforma íntima só se concretiza com o afastamento do ego.
          Amigo G:         
          “Você não defende o abandono da paixão? Da raiva? Da delusão?”.
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          (Delusão: você vê, mas não consegue perceber a realidade subjacente, isto é, vc vê o falso e o toma pelo real. A delusão engana a experiência e impede qualquer raciocínio!)
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          Cel: certamente; e onde estão a raiva, a paixão, a delusão, a maldade e todos os demais “defeitos” morais, senão no ego? A essência, o espírito é puro, é perfeito. Essas qualidades “negativas” cessarão com o cessar do ego”. O caminho não é a bondade, o amor, a caridade; o caminho é afastar o ego, com o que conheceremos a verdade de qual é nossa verdadeira e eterna identidade. “Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”.

          Amigo G:
          “Entendo que o amigo deseja falar sobre a realidade última, mas os seres em sua maioria vivem na realidade conceitual  e convencional, tornando muitas vezes perigoso este tipo de reflexão que o amigo demonstra, pois leva alguns a acreditar que a sujeira não deve ser limpa e que as tendências más não devem ser eliminadas”.

          Cel: não, amigo; tudo é como deve ser, independente de nossa vontade e até mesmo contra ela; somos apenas testemunhas do fluir dos eventos, aí incluídos a emissão de palavras, conselhos, lições, sejam ou não consideradas apropriados à época em que estamos e às condições pessoais dos que as ouvem. Todas as palavras que pronunciamos, a vida é que nos faz pronunciar, pois somos o resultado de todas as causas e de todos os seus efeitos ocorridos desde os mais remotos ancestrais e do que existiu antes deles. Nada fazemos por nós; o que é, o que acontece agora, é exatamente o que é e o que tem que acontecer agora; não que isto signifique um “destino programado, para seres programados”, mas um fluir (impermanência e incerteza, do Buda)) eterno, um movimento que nos leva eternamente a fazer o que fazemos, a passar pelo que passamos, seja isso prazeroso ou dolorido; e contra ele nada podemos. Esse é o incessante fluir da vida. Apenas não compreendemos que é assim devido à visão equivocada do ego. Enquanto existir o ego, nada podemos fazer para mudar isso; somos apenas testemunhas.  

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SOMOS UM COM DEUS

      A EXPERIÊNCIA DE SE PERCEBER “UM COM DEUS”

      Conversando com uma amiga:
      Olá, amiga, não foi o fato de cessarem as patologias (o que não ocorre com todos aqueles q tiveram a “experiência de Deus”) que levou Jung a considerar que alguém passou pela “experiência” de se perceber “um com Deus”.   

      Há muitos outros aspectos considerados: modificação quanto aos sentimentos, inteligência, saúde, discernimento e compreensão das coisas e da vida; serenidade e aceitação do que vier e que não pode ser modificado; melhor relacionamento com os demais e com o mundo; harmonização entre ondas das áreas cerebrais.

      Sobre o assunto, foram realizadas numerosas pesquisas que resultaram em aspectos de tão grande abrangência que, afirmam os pesquisadores, alcançam tantas, senão todas, áreas de interesse do ser humano, fato que levou cientistas e pesquisadores a afirmarem que, “quando os homens alcançarem esse estado único de consciência, não haverá problemas sem solução e o sofrimento será coisa do passado”.  

      Outros aspectos observados: maior alerta mental, alto grau de coordenação neurofisiológica (mente e corpo); importante redução do consumo de oxigênio e da concentração de lactato no sangue; maior eliminação do dióxido de carbono; atividade não usual das ondas alfa e beta; sincronia nas derivações cerebrais centrais; derivações centrais sincronizadas com ritmos ocasionais de ondas teta..., e outras mudanças, fatos que vêm mostrar que a experiência leva a um estado de consciência completamente diferente dos outros estados conhecidos pela ciência, como a vigília, sono e sonho, e do estado de relaxamento ordinário, hipnose e outros condicionamentos mentais.

      Há diminuição do ritmo cardiorrespiratório, alta coerência de ondas alfa, teta e beta entre hemisférios cerebrais; habilidade de a mente manter-se em repouso total, mesmo permanecendo alerta durante a execução de atividades diversas; profundo repouso fisiológico acompanhado de total alerta mental, estado antes desconhecido pela ciência; maior entrada de ar nos pulmões, correlação neurofisiológica elevada, isto é, enorme harmonia entre a mente e o corpo; independência acentuada ou total liberdade do sujeito para agir, independentemente de qualquer fato externo; disposição de animo equilibrada; aumento da criatividade e do sentimento de auto-realização; cessação ou diminuição da ansiedade e, conseqüentemente, das tensões e do estresse; modificações bioquímicas, como baixos níveis de cortisona no sangue, o que indica uma nova forma de atividades das supra-renais, fato relacionado à redução do estresse.

      Essa relação entre fisiologia e psicologia, que indicam aumento da criatividade e da produtividade, mostra que esse estado de consciência produz mudanças holísticas, isto é, sob todos os aspectos, bem como um novo modo de funcionamento do corpo e da mente, anteriormente desconhecido pela ciência.

         Novamente cito Jung:
       -‘Naturalmente é difícil compreender como essa figura abstrata, a percepção daquilo a que as religiões dão o nome de Deus, que nada é mais que uma experiência subjetiva, pois na psique do homem, desperta o sentimento da “mais sublime harmonia”... Contudo esse tipo de experiência não é, para mim, nem obscuro, nem longínquo. Muito ao contrário: trata-se de um fato que observo muitas vezes em minha vida de psicoterapeuta... Conheço um número consideravelmente grande de pessoas que, se quiserem viver, terão de levar a sério sua experiência íntima... que, para elas, é “tudo” e, sem a qual não poderão mais viver”.
            
      Amiga, é fato que a fé profunda pode, também, produzir efeitos curativos; é como o hipnotizador, que encosta uma caneta no braço do hipnotizado convencendo-o de que lhe encosta uma brasa; queima e empola a pele.

      Veja que tudo isso é possível desde q o sujeito esteja plenamente convencido de que aquele modo de proceder curará seu mal fisiológico. Mas, nada tem a ver com aquela experiência que foi denominada por homens notáveis, como Jung e Einstein, de “experiência de concordância universal”, uma experiência que elimina o ego e suas ilusões, acaba com a ignorância acerca daquilo que denominamos “transcendental”, e liberta de todos os sofrimentos, trazendo felicidade absoluta, despertando um amor quase incontrolável pelos semelhantes, que sofrem porq ainda não “perceberam”, e bem-aventurança.

          Por isso, muitos tentaram ensinar o “caminho” para chegar aonde haviam chegado, só se calando com a morte; assim, muitos foram executados por não se calarem.

      Amiga: “O que é a Verdade? “Eu sou o caminho, a Verdade e a Vida”, Jesus. O caminho está dentro de nós mesmos, neste Jesus dentro de nós, neste Deus interior, esta força, este Poder imenso?”.

      Cel: essa força, esse poder imenso é uma verdade que só podemos perceber qdo eliminarmos o ego, causador de toda ignorância e dos conseqüentes sofrimentos. Esse poder, a que damos o nome de Deus, está em nós como está em tudo, e somente o podemos perceber/vivenciar depois desse trabalho difícil da busca de Deus, trabalho que traz “aquela” experiência.

      Qto às palavras de Jesus, a tradução correta muda de modo radical a interpretação que, anteriormente, lhe dávamos: “O é o caminho, a verdade e a vida; ninguém vai ao Pai senão pelo ”; esta é a tradução correta, segundo doutores da lei e da língua judaica.

      Veja, tb, que Deus não negocia com ninguém; p ex: se eu agir como, conforme a lei de Deus, devo agir, nada Ele me dará em troca; não há troca nenhuma.

      Somente depois de muito trabalho, para nossa cultura ocidental dificílimo, o buscador elimina o ego e, com este, tudo o mais de “negativo” que possa existir.

      A eliminação do ego produz a experiência de saber quem somos realmente e vamos perceber, conforme numerosos testemunhos, que “eu e o Pai somos um”. Essa deve ser a “verdade que liberta”, como disse Jesus, como tb disse: “... e tudo o mais vos virá por acréscimo”.

      A experiência religiosa ou mística nada tem a ver com religião ou com acreditar ou não em Deus. É verdade que a religião ou crença poderá despertar a motivação para a busca dessa experiência, sobretudo qdo se percebe q as medicinas, filosofias, psicologias, ciências, religiões, enfim, q o mundo não oferece a solução definitiva para os sofrimentos de humanos e não humanos.

      Já vimos q Jung não considerou a “crença” em Deus como a verdadeira terapia, mas a “experiência” de Deus que, evidentemente, traz, não uma “crença” em Deus, mas a percepção daquilo que realmente somos, isto é, “um com Ele”.

      Tudo q lemos a respeito de Deus nada tem a ver com o Deus do Antigo ou do Novo Testamento, nem com o Deus de qualquer religião; tudo q se escreveu a respeito de Deus não passam de metáforas, artifícios usados na tentativa de explicar o inexplicável para a mente humana. Nem mesmo quem chega “lá”, pelo “conhecer a verdade q liberta”, poderá explicar, pois não há como se fazer essa comunicação. Por isso, quando perguntavam ao Buda sobre a experiência, ele respondia: “Essas perguntas são irrelevantes; venha e veja por si mesmo”, como Paulo tb disse “... e lá vi e ouvi coisas inefáveis”.

      E isto nada tem a ver com ser crente ou descrente; não estamos falando de “fé”, mas de experiência que, afinal, traz, não fé, mas convencimento absoluto. Vc sabe que, como está dizendo, a fé pessoal no pastor ou sacerdote, naquele objeto sagrado, naquele tipo de oração ou procedimento, podem curar; contudo, não traz aquela modificação de consciência, q acompanhará a pessoa até a morte cerebral, embora possa influir sobre isso.

      Essa é uma “experiência de concordância universal”, conforme notáveis como Einstein e Jung, lembra-se? Nada tem a ver com curas produzidas por quem quer que seja, como paranormais, passes etc.

      E vc está certa; curou o corpo, não a mente, embora a cura considerada “sobrenatural” possa influir na psique por muito tempo ou mesmo para sempre. Porém, o curado não teve sua consciência ampliada ao ponto de se perceber um com Deus. A mente condicionada continua operando e pronta a outros condicionamentos, como o de crer na cura pela fé. Muitas curas, como até por orações e sacrifícios podem, apenas, ser como um refrigerante num dia de calor; o efeito passa e o calor volta.

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A CIÊNCIA CHEGA DEUS


A CIÊNCIA CHEGA A DEUS: Somos uma só mente.
FÍSICOS QUÂNTICOS:
“Embora seja mais fácil acreditar que, em nosso planeta, há 5 bilhões de mentes individuais, do que acreditar que só existe uma mente não-localizada manifestando-se através de todos os seres sencientes, a ciência moderna leva-nos na direção de uma mente não-localizada, universal, única; em suma, afirma que só há uma mente e que somos essa mente, o que a aproxima da concepção de Deus.

A MENTE É DEUS
CARL G. JUNG:
“O atentar para a Mente intemporal é tarefa redentora para todas as pessoas. Hoje, essa tarefa é particularmente difícil porque colocamos, no dia-a-dia, nossa ênfase no fazer, no consumir, nos aspectos práticos, no progresso material. Como valorizamos o aspecto material, estamos separados dela. O resultado é patológico: tornamo-nos vítimas de nossos próprios impulsos inconscientes e o mundo ‘demonizou-se’. Nossa verdadeira tarefa de vida é exatamente o contrário: tornarmo-nos conscientes dos conteúdos que emergem do inconsciente, criar cada vez mais consciência; esse o objetivo único da existência humana: acender uma luz na escuridão do ser, liberar a alma.
      Seguramente, a alma não é algo insignificante, repleta de defeitos e imperfeições, como as religiões ocidentais a consideram; ela é a própria Divindade radiante”.

A NOVA VISÃO DA CIÊNCIA
CIENTISTAS QUÂNTICOS:
Se concordarmos com as implicações da moderna visão do universo dada pela mais bem arquitetada ciência de nosso mundo, a física quântica, talvez possamos confirmar as percepções dos visionários e místicos, a visão de que todos nós somos eternos, infinitos e Um.

A REALIDADE PROFUNDA
BELL, físico:
Bell mostra que todas as teorias científicas localizadas, isto é, que asseguram que tudo que sucede, que todas as forças e influências, estão dentro do espaço-tempo, por mais que pareçam estar certas, sempre deixam alguma coisa de fora, alguma coisa não explicada pela teoria da localização. Herbert diz que “Bell, simplesmente não apenas sugere que a realidade é não-localizada (isto é, a realidade está fora do espaço-tempo, no domínio do atemporal, no domínio daquilo a que as religiões dão o nome de Deus); ele prova isso, com a clareza e a precisão do raciocínio matemático. Este aspecto inegável da prova desagrada aos físicos mais afinados com a realidade localizada”. Bell e outros mostraram que “nenhuma realidade localizada pode explicar o mundo em que vivemos. Embora os fenômenos do mundo pareçam estritamente localizados, a realidade subjacente a esses fenômenos deve ser supraluminosa (isto é, mais rápida que a luz; e uma velocidade além da velocidade da luz só pode existir fora do espaço-tempo, por isso é denominada ‘não-localizada’). A realidade profunda do mundo é sustentada por uma conexão quântica invisível, cuja influência ubíqua (que está em toda parte) é não-mediada, não-atenuada e imediata’ (isto é, não necessita de coisa alguma para exercer sua influência, não perde, com qualquer distância que seja, sua capacidade de influenciar, e influencia instantaneamente).
(‘Só a realidade não-localizada pode explicar o mundo, seus fenômenos, objetos, coisas e mente’. A realidade não-localizada está além do espaço-tempo, no domínio transcendental, isto é, no domínio daquilo a que as religiões populares dão o nome de  Deus).

A UNIDADE DAS COISAS
LARRY DOSSEY, médico e pesquisador:
“O aspecto mais proeminente da Realidade Não-localizada é a unidade fundamental de todas as coisas e acontecimentos. Passado, presente e futuro são ilusões que projetamos, e não realidades essenciais. Dentro desse contexto de união, o mal (como a doença) é mera aparência, como tudo o mais, pois faz parte do todo e está relacionado com o bem. Quando chegarmos a uma compreensão profunda dessa verdade, os opostos irreconciliáveis nos revelarão sua unidade (amor-ódio, bem-mal, belo-feio, vida-morte) e começaremos a perceber que há um modo alternativo de obter essa informação, que não pelos sentidos. Para a maior parte dos curandeiros (dakotas), entrar no estado de Realidade Não-localizada envolve a participação num estado alterado de consciência, muito semelhante ao da meditação ou da oração. Nesse estado, eles vêem a si próprios e aos pacientes como um só, uma vez que a separação entre sujeito e objeto é completamente superada. Esse estado de consciência vai além da usual consideração do real ou irreal, consciente ou inconsciente, orgânico ou inorgânico, subjetivo ou objetivo, até a totalidade do ser. O paciente e o ego, simplesmente, não fazem parte do repertório do curador”, pois, então, tudo é UM).

ALGO ALÉM DO UNIVERSO
SHELDRAKE, um notável físico:
“Tanto a criatividade como o próprio universo requerem uma explicação. E isso só pode ser explicado em termos de algo que esteja acima ou além do universo, isto é, que o transcenda. Isto corresponde à explicação teística tradicional, a qual postula um Deus que estaria além, acima e no interior da natureza... Eu fico com essa concepção”.

ENTENDER DEUS
CORPUS HERMETICUM.
A obra ‘Corpus Hermeticum’, um dos exemplos mais impressionantes de apelo à não-localização (ao transcendental, ao que está além do ‘eu’), que data de pelo menos dois mil anos, diz: “A não ser que te faças igual a Deus, não poderás entendê-lo, pois o semelhante não é inteligível senão pelo semelhante. Cresce até atingires grandeza além da medida; de um salto (a instantaneidade produzida pela meditação; a criatividade do salto quântico) liberta-te do corpo (dos condicionamentos; do ego); ergue-te acima do tempo (penetra no atemporal, na não-localização), torna-te a Eternidade; então entenderás (perceberás) Deus. Acredita que nada é impossível (as infinitas possibilidades de Maharish) para ti; pensa-te imortal e capaz de tudo compreender, imaginando estares em toda parte, na terra, no céu, na água, no não nascido, adolescente, velho, morto, além da morte. Se abraçares de uma só vez, em teu pensamento, tudo isso, isto é, tempos, lugares, coisas, substâncias, qualidades, quantidades, poderás entender e ser Deus”.
      O autor dessas palavras nos leva para além de eventos singulares, para todos os eventos; além do aqui, para toda parte; além do agora, para todo tempo, à eternidade; além do ego, para a unidade com Deus. E afirma que devemos destruir nossa concepção ilusória de uma realidade localizada (o ego) se queremos conhecer Deus. Isso não significa usurpar o poder divino, como alguns pensam e, assim, julgam blasfemas tais palavras. Para o autor de ‘Hermeticum’, tornar-se igual a Deus é impossível, porque é impossível vir a ser o que já se é. Além disso, quando se percebe que o eu individual não existe, que é ilusão (uma falácia, como dizem Wilber, os místicos e a ciência quântica), percebe-se, também, que não há quem esteja fazendo a usurpação.

EINSTEIN E O EU
EINSTEIN:
Einstein afirmava, com ênfase, a importância de acabar com a servidão ao eu pessoal (ego), a importância de acabar com o sentimento de um eu localizado (no cérebro), numa filosofia decididamente oriental: “O verdadeiro valor de um ser humano é determinado basicamente pela proporção e pelo sentido em que ele se libertou do eu (ego)”.

HÁ UMA SÓ CONSCIÊNCIA
TEILHARD DE CHARDIN, cientista, filósofo, teólogo e sacerdote da Igreja Católica Romana afirma enfaticamente em várias de suas obras o que vai abaixo. Esta citação é de seu livro ‘O Fenômeno Humano’:
      “Todos nós, todos os seres humanos e todos os animais, compartilhamos a mesma consciência”.
      Por afirmações como essa foi proibido, pelo Vaticano, de publicar qualquer pensamento ou concepção sua até o dia de sua morte.

      (Todo o misticismo e, atualmente, a ciência mais avançada do mundo asseguram a mesma coisa).


           LUZ INTERIOR
     

       ‘É o senhor que opera em nós o pensar, o querer e o fazer.’ (Paulo)
        Conseqüentemente, não há pecados; logo, por que remorsos?
        Pecado é o que nos distrai a mente e, aparentemente, nos afasta do caminho. Nele nos demoramos, e a entrada na senda se torna mais remota.   
        Remorso será então o sentimento de frustração por afastarmos de nós o instante de penetrar na senda.
        Portanto, o chamado pecado não faz bem, nem faz mal; apenas nos fasta, temporariamente, da porta que leva ao divino.



                                             Luz Interior                    (01/88 jcl)

      
         Buscar a Luz, missão tremenda que todas as forças empenha.
         O homem, que a senda inicia, tem que estar só e, resoluto, avançar.
         Não olha para trás, o que foi feito de bom ou de mau.
         Renuncia aos prazeres e caminha só, pois poucos, ou mesmo  
         ninguém, o compreendem ou apóiam.
         Tenta vencer, cai muitas vezes, desespera-se, mas continua.
         O despertar para a luz é difícil e demanda isolamento e solidão.
         Com o objetivo em mente, espelha-se no exemplo dos heróis, como pode e, errando e aprendendo e acertando, avança.
         Quando não mais teme, quando não mais se impacienta e inveja, quando procura esquecer o ‘eu’, para que o Eu por sua vez          resplandeça, então pode ser que, eventualmente, a ‘coisa’, num          lampejo, o ilumine.

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           ESPERANÇA 2   (Campinas 74)  
                              
        Pessoas, veículos, vozes, sol forte no alto iluminando a cidade, o centro, as ruas cheias e movimentadas. Guardas apitam, buzinas soam aqui e ali; as pessoas movimentam-se rapidamente atrás de seus interesses mundanos: bancos, negócios, câmbio, compra e venda.
         A rua, agora, após pequena curva, estreita-se ao lado de bela catedral, cuja porta principal se abre para praça ampla e bem tratada. A rua, de calçadas muito estreitas, dum lado casas bancárias de grande importância no mundo econômico e movimentadíssimas; do outro, o templo de paredes cinzentas e lindamente arquitetado.   
          Repentinamente, no meio da tarde cheia de calor e de ruídos, sem qualquer espera, aquela sensação nunca sentida que cresce dentro do peito; cresce com mais força que a vida lá de fora, toma conta do coração e da razão, abafando o ruído exterior. Uma presença indescritível de saúde, vitalidade, alegria, felicidade, como se aquilo não fosse mais parar de crescer, aumentando, tomando conta do ser, subjugando-o com uma sensação de euforia e bem estar íntimo, sem qualquer ligação com os fatos ou eventos do dia-a-dia, de ontem, da vida familiar, profissional ou individual.
         O sentimento é tão bom, tão suave e, ao mesmo tempo, tão poderoso e firme, q leva a imaginar que, em pouco tempo, crescerá tanto que, ou o ser explodirá por não suportar tanta felicidade, ou ficará inconsciente em meio ao ruidoso vai-e-vem externo da cidade.
         A pequena porta lateral do templo convida e, lá dentro, ajoelho-me na capela do Santíssimo, a mais escura, cheia de sombras e sem ninguém.
         Enquanto cresce, a inexplicável beleza interior faz desaparecer o barulho da rua e, ali, ajoelhado física e espiritualmente, espero o quê, a coisa, que não conheço, que deve estar para nascer, brotar, acontecer...
         Tudo está apagado; não mais percebo onde estou, quem sou, o que faço. Só existe agora... felicidade e deslumbramento no coração. Não mais cansaços, preocupações, problemas, trabalhos, necessidades, desejos, esforços; só existe aquele sentimento interior que anula até o pensamento e que o ser tão só e unicamente percebe com intensidade. É como se houvesse luzes, sem luzes; perfumes, sem perfumes; música, sem música.   
         O ser não é mais independente ou separado, ou mesmo consciente, a não ser daquela sensação maravilhosa. E aguarda sem querer, e sem poder não querer, algo indefinível que parece se aproxima, ou de dentro, ou de fora, não sabe, não advinha...
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         Aos poucos, delicadamente, a consciência volta: primeiro, uma sensação gostosa de toda pele, particularmente dos braços e nuca, arrepiada num arrepio que mexe com todo o corpo. Depois, lentamente, a princípio com pouca intensidade, os ruídos da rua como que se aproximam e penetram a catedral, a capela escura. Vejo as sombras, os genuflexórios, o altar; sinto os joelhos, o corpo, o calor, a vida de fora a vibrar.
        Dentro, no íntimo, aquela sensação perdura, inapagada, mas agora fraca, leve, obscura.
        Deixo o templo. É como um choque a realidade interior e esta, agora, ao envolver-me com o burburinho da cidade. Caminho devagar, tentando, sem tempo, pois a vida chama, entender, analisar, lembrar aqueles sentimentos. Parece que, aqui dentro, dentro de mim, alguma coisa sabe, alguém tem as respostas...
         Envolvo-me com os carros, pessoas, com os ruídos e com o sol. Afinal, o ser como que iria explodir, mergulhado naquele sentimento de felicidade desconhecido, imprevisto, tão belo e inesquecível, e não explodiu.
         Agora, caminho depressa. As horas avançam; há compromissos.
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         Hoje, só me resta a lembrança do que passou.
         Terá só passado? Não; a saudade, a esperança, os resíduos ficaram na mente, no coração. A esperança não morre; avivo-a sempre e sempre, nos momentos de relaxamento e meditação, soprando as cinzas na expectativa de que, ali, oculta, reste uma pequena brasa que me incendeie de novo o ser e me faça esquecer com a recordação da felicidade que, então, me visitou.
         Quando se repetirá? Virá com mais intensidade? Com mais força? Fará que o ser todo derreta, exploda, flutue? Definitivamente?
         Hoje, apenas recordação e esperança, com esforços no sentido de andar pela mesma estrada que me levou àquele ponto singular, que não sei mais achar na minha caminhada.
         Esperança...

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O CRISTO INTERIOR
(jcl-ribpreto)
                                               (mar2006)
       Caminha, caminha a tua vida, os teus dias, mas lembra-te que, para te libertares dos sofrimentos e conflitos, terás que ir além do eu, além do pensamento, além do espaço e do tempo.
       O atemporal, a luz, está num ponto de teu andar. Na tua jornada o encontrarás um dia. Esse dia será glorioso, feliz, abençoado. Realizar-te-ás como objetivas.
       Mas, o caminhar requer o movimento, que quer dizer, força de vontade e esforço, devoção e fé, trabalho e, sobretudo, persistência; assim, caminha.
       A coisa que buscas, a luz, quando menos esperares, virá, clareando os ângulos e mostrando todos os detalhes, e conhecerás que a vida do homem, sem ela, é fútil e destituída de sentido.
       A vida será, então, Vida. Terás poder e sabedoria para ajudar, e te compenetrarás de que quem faz as obras não és tu, mas o Divino.
       Deves ter paciência, não deves perder o ânimo, o entusiasmo, pois, de súbito, como o Buda do teu sonho, de tanto perseverares, aquilo que esperas surgirá.
       Avança, sem receios, com firmeza, com confiança e o coração cheio de gratidão pela vida, por tudo.
       Agradece e enche-te de alegria, pois alegria maior te virá quando compreenderes o verdadeiro significado da vida.
       Não esmoreças e lembra-te das palavras do sábio: ‘... aquele, porém, que perseverar até o fim, será salvo’.
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CONTO DE TOLSTOI

CONTO DE TOLSTOI

(Novamente, Tolstoi, com outra historieta, parece que deseja nos levar à idéia de que todos somos um só; de que, o real é a unicidade e não a diversidade).
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         Um aldeão russo, muito devoto, durante anos tinha pedido, em suas orações, que Jesus o viesse visitar, uma vez só que fosse, na sua humilde choupana. Uma noite sonhou que o Senhor, no dia seguinte, havia de aparecer-lhe; e tão certo ficou de que assim sucederia que, apenas acordou, levantou-se imediatamente, entregando-se ao trabalho de por em ordem a choupana, para que nela pudesse ser recebido aquele hóspede tão desejado.
          Apesar de uma violenta tempestade de granizo e neve, que durou todo o dia, nem por isso o pobre aldeão abandonou os preparativos, cuidando também da sopa de couve, que era seu prato predileto, e olhando, de vez em quando, para a estrada, sempre à espera da feliz ocasião, apesar de a tempestade continuar implacável.
          Decorrido algum tempo, o aldeão viu que caminhava pela estrada, em luta contra a borrasca de neve que quase o cegava, um pobre vendedor ambulante, que conduzia às costas um fardo bastante pesado.
          Compadecido, saiu de casa e foi ao encontro do vendedor. Levou-o para a sua choupana, pôs-lhe a roupa a secar ao fogo da lareira, repartiu com ele a sopa de couve, e só o deixou ir embora depois de ver que ele já tinha forças suficientes para continuar a jornada.
          Olhando de novo através da vidraça, viu uma pobre mulher, toda embaraçada a procura do caminho, na estrada coberta de neve. Foi buscá-la e abrigou-a também na choupana, mandou-a aquecer-se ao lume benfazejo do lar, deu-lhe de comer, embrulhou-a na sua própria capa, e não a deixou partir enquanto não readquiriu forças bastantes para a caminhada.
          A noite começava a cair. Contudo, nada havia que pudesse anunciar a vinda de Jesus.
          Já quase sem esperanças, o pobre aldeão abriu a porta uma vez mais. E, estendendo os olhos pela estrada, distinguiu uma criança e percebeu que ela se encontrava perdida no caminho, de tão cega que estava pelo granizo e pela neve. Saiu mais uma vez, pegou a criança quase gelada, levou-a para a cabana, deu-lhe de comer e não demorou para que a visse adormecida ao calor da lareira.
          Sensivelmente impressionado, o aldeão sentou-se e logo adormeceu também ao fogo do lar. Mas, de repente, uma luz radiosa, que não provinha do lume da lareira, iluminou tudo! E, diante do pobre aldeão, surgiu risonho o Senhor, envolto em uma túnica branca.
          - Ah! Senhor! Esperei todo o dia, e vós sem aparecerdes, lamentou-se o aldeão.
          E Jesus lhe respondeu:
          - Já por três vezes, hoje, visitei tua choupana: o pobre vendedor ambulante, a quem socorreste, aqueceste e deste de comer, era eu; a pobre mulher, a quem deste tua capa, era eu; e essa criança a quem salvaste da tempestade, também era eu... O bem que fizeste, a cada um deles, a mim mesmo o fizeste!
(Todos somos Um. Veja quem tem olhos de ver!).


(Comentários do presidente da LBV: Isso constantemente acontece no mundo. Todos os dias Jesus, melhor ainda, a Consciência Crística, nos visita na forma da viúva, do órfão, do faminto. E quanta vez o expulsamos, fingindo adorá-lo, nos templos, nas orações, nos pedidos de auxílio, nos agradecimentos, mas, na verdade negando-o, a todo instante, precisamente no campo de seu Evangelho onde mais merece ser vivido, que é na luta do dia-a-dia. A sua ordem, lei de solidariedade humana, determina: ‘Amai-vos como eu vos amei. Só assim podereis ser reconhecidos como meus discípulos... E se realmente me amardes, guardareis o meu novo mandamento’ (João 13:34 e 35 e 14:15). O combate à violência no mundo começa na luta contra a indiferença quanto à sorte de nossos vizinhos). .....
  CONSCIÊNCIA  CÓSMICA    (jcl-rp-12/04/85)
 
       O homem foi além do eu.
       Os opostos e as interpretações equivocadas cessaram.
       As ilusões se dissolveram como fumaça ao vento.
       Não há mais perguntas, nem há respostas.
       Não mais receios da morte ou da dor, não mais vida finita, não mais limitações sem fim.
       O homem é todo Luz, suavidade, serenidade, paz, imensidade.
       Agora, ele é o eterno, o infinito, é sabedoria e bem-venturança.
       É amor e alegria e serviço incondicionados, amplos, puros.
       É compaixão em toda sua plenitude.
       Percebe, agora, que tudo tem sentido, razão, objetivo.
       Tudo está certo, completo, perfeito.
       Nada é por acaso, nem nos átomos, nem nas galáxias, nem na mente.
       As nuvens escuras deram lugar à claridade e o homem vê que tudo obedece a determinismo inexorável, justo, perfeito, elevado, que objetiva uma felicidade inexprimível final.
       Não há o que mudar e nada pode ser mudado.
       Os fenômenos todos, toda a diversidade de coisas, forças, seres, cores, sons, vibrações, se interligam, se interpenetram, se complementam, se completam.
       Nada é demais, nada é de menos.
       Nada falta, nada excede.
       A medida é contínua, as ondas se desenvolvem em amplitudes contíguas, as vibrações se harmonizam.
       O Universo é uma grande orquestra que Deus, soberano, rege com suas leis inderrogáveis.
       O homem participa do Todo e sua mente alcança suas razões e seus porquês. Conhece os fenômenos mais íntimos e vê, no fundo, além da superfície, o desenrolar dos eventos, dos madurecimentos, e da criação e destruição de seres e coisas.
       E tudo está correto; não há falhas, não há hesitações nem titubeios.
       No todo e nos detalhes, do macro ao microcosmo, a Lei impera, age, opera e faz as rodas da Vida e dos fenômenos girarem sem atritos, sem desajustes, perfeitamente lubrificadas, ajustadas, engrenadas.
      Na imensidade do cosmos, o movimento harmônico se expande com grandeza, esplendor e perfeição.
      A diversidade se integra e se complementa na Unidade.
      Tudo é um só e único Ser, de magnificência e poder indescritíveis.
      A onipresença, a onisciência estão perceptíveis e o homem se regozija, olvidando o passado, suas dores e percalços. Nada mais é buscado, desejado, pedido; não há mais necessidades. O homem é tudo e não é mais homem. Deus e Luz se confundem com ele.
      A identidade se perde no infinito e no eterno, sua vida unida às outras vidas, sua mente unida às outras mentes, mas continua, agora perfeita, sábia, sem cansaços, sem esforços, sem desgastes.
      Compreende, porque sabe, tudo aquilo que ficou para trás.
      Pecado, fome, morte, sofrimento não mais existem, nem pesam suas razões, nem sua intensidade passada.
      O que existe agora é Integração, União, Fusão.
      Eu Sou.
      

       .......................................
O  CHAMADO INTERIOR
(jcl, rib preto, mar 2006)

Senhor,
Inspira-me, todos os instantes, a procurar-Te,
      Na melodia,
             Na flor,
                     No ramo oscilando ao vento,
No pássaro que canta alegremente,
Na cor da nuvem tocada pelo sol poente,
No murmúrio das águas buliçosas,
No sorriso da criança inocente,
No olhar da mãe para o filhinho que dorme,
Na ternura dos enamorados,
Na pele enrugada da mulher sofrida,
No suor da testa do doente, que teima em sorver o ar precioso,
No olhar triste do pobre, cobiçando, pregado à vitrine,
                         O brinquedo impossível para o filho...

Senhor,
Parece que mais Te recordo naquelas coisas
       Tristes,
             Melancólicas,
                     Singelas.
Talvez porque nos toquem mais agudamente o coração,
E nos comovam
E levem a meditar na solução
Que não é nossa,
Mas que virá quando o homem se despir
De seu manto de ambição,
         Desamor,
                 Malícia,
                         Egoísmo,
                                 Ignorância,
E perceber que somos todos irmãos,
Semelhantes ou iguais,
Viajores do mesmo barco,
Atrás, sem o saber, das mesmas experiências,
Buscando, inconscientemente,
             O mesmo objetivo,
                           Que és Tu.

E, como a mim, inspiras a todos,
Mas não Te ouvimos o chamado.
Nossa mente está sempre cheia de outros apelos,
E não há, quase nunca, lugar para o Teu.
São apelos tentadores,
        Com vestes coloridas,
                Odores embriagantes,
                        Sons sedutores,
                                Roçares suaves e doces,
Mas que, após o atendimento,
Despem suas máscaras
Mostrando-nos a queda,
       A cilada,
             A decadência,
                     A escuridão.

Ó, Divino Inspirador,
Continua Teu trabalho
De nos chamar sutilmente,
       De longe e de perto,
               De fora e de dentro.
Aos poucos, nos voltaremos a Ti
Quando houver cansaço dos convites
         Das sereias do poder,
                  Da beleza,
                           Da embriaguez dos sentidos.
Das ilusões que cercam nossos dias,
         Com molduras tentadoras
                   E tentadoras circunstâncias.
Inspira-nos, Senhor, pois permanecemos nas trevas,
Ferindo pés e mãos nas quedas do caminho
E não percebemos que Tu
És a própria força que nos leva a procurar-Te,
E, de olhos mentais
        Fechados,
              Preconceituosos,
                     Iludidos,
Não percebemos que Te buscamos
Onde não podemos Te encontrar
Pois que Tu estás tão perto,
           Junto de nós,
                  Bem aqui,

                          No coração.