CONTO DE TOLSTOI
(Novamente, Tolstoi, com outra historieta, parece
que deseja nos levar à idéia de que todos somos um só; de que, o real é a
unicidade e não a diversidade).
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Um aldeão
russo, muito devoto, durante anos tinha pedido, em suas orações, que Jesus o
viesse visitar, uma vez só que fosse, na sua humilde choupana. Uma noite sonhou
que o Senhor, no dia seguinte, havia de aparecer-lhe; e tão certo ficou de que
assim sucederia que, apenas acordou, levantou-se imediatamente, entregando-se
ao trabalho de por em ordem a choupana, para que nela pudesse ser recebido
aquele hóspede tão desejado.
Apesar
de uma violenta tempestade de granizo e neve, que durou todo o dia, nem por
isso o pobre aldeão abandonou os preparativos, cuidando também da sopa de
couve, que era seu prato predileto, e olhando, de vez em quando, para a
estrada, sempre à espera da feliz ocasião, apesar de a tempestade continuar
implacável.
Decorrido algum tempo, o aldeão viu que caminhava pela estrada, em luta
contra a borrasca de neve que quase o cegava, um pobre vendedor ambulante, que
conduzia às costas um fardo bastante pesado.
Compadecido, saiu de casa e foi ao encontro do vendedor. Levou-o para a
sua choupana, pôs-lhe a roupa a secar ao fogo da lareira, repartiu com ele a
sopa de couve, e só o deixou ir embora depois de ver que ele já tinha forças
suficientes para continuar a jornada.
Olhando de novo através da vidraça, viu uma pobre mulher, toda
embaraçada a procura do caminho, na estrada coberta de neve. Foi buscá-la e
abrigou-a também na choupana, mandou-a aquecer-se ao lume benfazejo do lar, deu-lhe
de comer, embrulhou-a na sua própria capa, e não a deixou partir enquanto não
readquiriu forças bastantes para a caminhada.
A
noite começava a cair. Contudo, nada havia que pudesse anunciar a vinda de
Jesus.
Já
quase sem esperanças, o pobre aldeão abriu a porta uma vez mais. E, estendendo
os olhos pela estrada, distinguiu uma criança e percebeu que ela se encontrava
perdida no caminho, de tão cega que estava pelo granizo e pela neve. Saiu mais
uma vez, pegou a criança quase gelada, levou-a para a cabana, deu-lhe de comer
e não demorou para que a visse adormecida ao calor da lareira.
Sensivelmente impressionado, o aldeão sentou-se e logo adormeceu também
ao fogo do lar. Mas, de repente, uma luz radiosa, que não provinha do lume da
lareira, iluminou tudo! E, diante do pobre aldeão, surgiu risonho o Senhor,
envolto em uma túnica branca.
-
Ah! Senhor! Esperei todo o dia, e vós sem aparecerdes, lamentou-se o aldeão.
E
Jesus lhe respondeu:
-
Já por três vezes, hoje, visitei tua choupana: o pobre vendedor ambulante, a
quem socorreste, aqueceste e deste de comer, era eu; a pobre mulher, a quem
deste tua capa, era eu; e essa criança a quem salvaste da tempestade, também
era eu... O bem que fizeste, a cada um deles, a mim mesmo o fizeste!
(Todos somos Um. Veja quem tem olhos de ver!).
(Comentários do presidente da LBV: Isso
constantemente acontece no mundo. Todos os dias Jesus, melhor ainda, a
Consciência Crística, nos visita na forma da viúva, do órfão, do faminto. E
quanta vez o expulsamos, fingindo adorá-lo, nos templos, nas orações, nos
pedidos de auxílio, nos agradecimentos, mas, na verdade negando-o, a todo
instante, precisamente no campo de seu Evangelho onde mais merece ser vivido,
que é na luta do dia-a-dia. A sua ordem, lei de solidariedade humana,
determina: ‘Amai-vos como eu vos amei. Só assim podereis ser reconhecidos como
meus discípulos... E se realmente me amardes, guardareis o meu novo mandamento’
(João 13:34 e 35 e 14:15). O combate à violência no mundo começa na luta contra
a indiferença quanto à sorte de nossos vizinhos). .....
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