(8)‘TEMOS QUE MUDAR’ (De “O Ponto
de Mutação”, Jan2008)
Amigos, este é
um texto longo mas q bem merece nossa atenção! Eu o dividi em várias
partes para publicá-lo. Sugiro imprimir e/ou ler por partes. (Não consegui tirar o
sublinhado, nem a cor de fundo).
Embora de início não pareça, este
texto é de enorme importância para a compreensão da vida como um todo. São
extratos de ‘O Ponto de Mutação’, de Fritjoff Capra, físico quântico,
pesquisador do misticismo oriental, escritor e lutador em favor de uma
ecologia, não superficial (esta é aquela que interessa mais de perto aos seres
humanos e não humanos), mas de uma ecologia profunda, que interesse ao planeta
e ao cosmos. Mostra que temos que mudar, pois chegamos a um ponto a
partir do qual o mundo não pode continuar como está. Por isso, recomenda a
prática de uma Ecologia Profunda, destinada a todas as espécies, ao planeta, ao
universo como um todo, pois é aí onde vivemos nossa existência sem fim. É
verdadeiramente uma ecologia espiritual, que tende a preparar o ser humano e
seu habitat para o imprevisível amanhã.
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INTRODUÇÃO
A nova física, nascida da exploração do átomo, trouxe profunda mudança em
nossa visão de mundo; passou-se da concepção, de Descartes e Newton, de que
o mundo seria uma máquina, como um relógio, para uma visão holística e
ecológica semelhante às visões dos místicos de todas as épocas.
A nova física levou os cientistas a uma estranha
realidade que parecia desafiar qualquer explicação. No esforço para
compreendê-la, eles se tornaram inteiramente convencidos de que seus conceitos
básicos, sua linguagem e seu modo de pensar, não eram adequados para descrever
os novos fenômenos. Nossa sociedade encontra-se, hoje, numa crise semelhante.
Taxas elevadas de inflação e desemprego, crise na energia e na assistência à
saúde, poluição e desastres ambientais, onda crescente de violência e crimes,
etc. Tudo isso são apenas facetas diferentes de uma só crise que é,
essencialmente, uma crise de percepção nascida do fato de se tentar
aplicar os conceitos da visão de mundo anterior (da física clássica), a uma
realidade que não pode mais ser entendida em função daqueles conceitos.
Vivemos num mundo globalmente
interligado, no qual todos os fenômenos, biológicos, psicológicos,
sociais, ambientais, econômicos, culturais etc. são interdependentes. A
física anterior não possuía essa visão. A nova visão inclui uma visão sistêmica
da vida, mente, consciência e evolução; uma abordagem holística da saúde e da
cura; a integração dos enfoques ocidental e oriental da psicologia e
psicoterapia; uma nova visão para a economia e tecnologia; uma perspectiva
ecológica que é espiritual em sua natureza e acarretará profundas mudanças em
nossas estruturas sociais e políticas. Essa visão é incompatível com nossa
sociedade atual, que não possui o estado de inter-relacionamento e de harmonia
visto em toda natureza. Para se chegar a tal estado será necessária uma radical
revolução cultural: A sobrevivência da civilização pode depender disso:
de uma mudança profunda no modo de pensar, na percepção e nos valores, que
formam a visão cartesiana da realidade, que orientaram até agora a vida do ser
humano. Isso exige que todas as idéias, conceitos e suposições anteriores, que
pela nova visão são seriamente limitados, sejam totalmente revistos e
reinterpretados (o mesmo afirmam Einstein, Ken Wilber e outros).
A ciência médica e a farmacologia, que deveriam
proteger a vida e a saúde, estão pondo em perigo nossa saúde e nossa vida.
A física passou por enorme revolução de conceitos e
hoje faz contato com aquilo que é a essência das religiões, o misticismo, pois
seus conceitos mostram profunda semelhança com as visões dos místicos de todas
as épocas e tradições.
Uma das primeiras lições que os físicos tiveram de
aprender foi que todos os conceitos e teorias que tínhamos acerca do mundo são
limitados e que a ciência nunca poderia dar uma descrição completa da
realidade. Isto é, os cientistas não trabalhavam, na verdade, com a
própria realidade, mas apenas com descrições aproximadas e limitadas dela. Por
isso, têm, agora, que reinterpretar muitos de seus mais caros e firmados
conceitos acerca da natureza das coisas.
A física quântica, de maneira convincente, fez ver
que o método cartesiano, considerado o único meio para se entender
o mundo, e que teve, particularmente na cultura ocidental, papel fundamental em
todos os mais variados setores da vida do ser humano, seja intelectivo ou de
relação com os demais, foi a causa do atual desequilíbrio em que a
humanidade está mergulhada, sob todos os aspectos. Isso tem provocado, a toda a
humanidade, erros, conflitos e sofrimentos sem conta.
A medicina interpretava erradamente muitas das
enfermidades atuais mais importantes por estar também alicerçada na visão de
mundo cartesiana e, como a farmacologia, está falhando e pondo em risco a saúde
dos seres humanos.
As graves inadequações do modelo cartesiano, cuja
base filosófica assenta na divisão (separação) mente e corpo, estão ficando
evidentes em todas as áreas e ciências. Com as novas
descobertas, essa divisão mostrou-se totalmente absurda, fato que
também ocorreu com os conceitos de espaço e tempo absolutos, de partículas
sólidas, de substância material fundamental, da natureza estritamente causal
dos fenômenos físicos, da descrição objetiva da natureza e bem assim com o
princípio de que as condições de qualquer parte de um sistema podem ser
previstas com rigorosa certeza desde que determinados dados sejam conhecidos.
Como é evidente, a nova visão provocou tremendo abalo nos próprios alicerces da
ciência (Einstein e outros).
A investigação do átomo mostrou aos cientistas uma
estranha realidade que destruiu a já consolidada visão de mundo e os obrigou a
pensar de modo totalmente diferente. Todas as vezes que, num experimento
atômico, faziam uma pergunta à natureza, esta respondia com um paradoxo que
mais absurdo se tornava quanto mais se esforçavam para esclarecer a questão.
Isso os convenceu de que os conceitos básicos, linguagem e forma de pensar,
formados em função da física clássica, estavam totalmente inadequados para
descrever os novos fenômenos observados.
A física quântica exigiu mudanças tão profundas
naquilo que entendemos por espaço e tempo, matéria e objeto, causa e efeito,
conceitos que tinham sido tão fundamentais para o nosso modo de viver e
compreender o mundo, que Heisenberg chegou a dizer: “Será a natureza tão
absurda quanto parece nestes experimentos?” Einstein sentiu o mesmo choque:
“Foi como se o chão tivesse desaparecido de debaixo de meus pés e não existisse
mais qualquer base sólida sobre a qual se pudesse construir alguma
coisa”.
Uma nova e consistente visão de mundo começava a
surgir. O universo deixou de ser considerado uma máquina constituída de
infinidade de objetos, e passou a ser visto como um sistema todo dinâmico,
indivisível, cujas todas suas partes inter-relacionadas e
interdependentes, e só podem ser entendidas como modelos de um
processo cósmico, o que iguala as novas concepções às visões do misticismo
oriental.
Com isso, numerosos físicos, educados numa cultura que
associa misticismo a coisas anticientíficas, se sentiram tremendamente
chocados. Hoje, essa atitude está mudando. A meditação não é mais considerada
uma coisa ridícula ou suspeita, e o misticismo está sendo olhado com seriedade
pelos cientistas, convencidos agora de que ele fornece importante e coerente
base filosófica para a nova ciência, numa compreensão de que as descobertas científicas
estão em perfeita harmonia com as tradições do misticismo oriental.
A nova física trouxe resultados sensacionais e
inesperados. Ao invés de partículas sólidas, como eram vistos
anteriormente, verificou-se que os átomos consistem de vastas regiões do espaço
onde partículas extremamente pequenas, os elétrons, se movimentam ao redor de
um núcleo. Átomos, elétrons, prótons e nêutrons não são objetos sólidos e,
dependendo do modo como nós os observamos, apresentam-se ora como partículas,
ora como ondas de energia. Essa natureza dual é muito estranha, pois parece
impossível que alguma coisa possa ser, ao mesmo tempo, uma partícula, uma
entidade confinada num espaço muito pequeno, e uma onda que se espalha por
vasta região do espaço. Mas foi exatamente isso o que os cientistas tiveram de
aceitar. A realidade, agora, se apresenta mais estranha do que a ficção.
Um elétron apresenta aspectos de onda em algumas
situações, e de partícula em outras, sofrendo modificações contínuas de onda
para partícula e de partícula para onda, mostrando que nenhum objeto
atômico possui propriedades independentemente do meio-ambiente em que está.
Suas propriedades dependem daquilo com que ele é forçado a interagir.
O Ponto de
Mutação....................... continuação.............
... independentemente do meio-ambiente em que está. Suas propriedades dependem
daquilo com que ele é forçado a interagir.
Em nível subatômico, a matéria não existe em
lugares definidos; em vez disso, mostra tendências para
existir; e os eventos não ocorrem em tempos ou de maneiras
definidas, apenas mostram tendência de ocorrer. Nunca podemos prever com
certeza um evento atômico; apenas podemos prever a probabilidade de sua
ocorrência.
A descoberta desse aspecto dual da matéria destruiu
a noção clássica de objetos sólidos. No mundo subatômico, todos
os objetos se desfazem em ondas de energia, que não representam a probabilidade
da existência de coisas, mas probabilidades da existência de interconexões. As
partículas não têm significado quando observadas isoladamente; somente podem
ser entendidas como interconexões ou inter-relações com outros sistemas.
Portanto, partículas não são coisas, mas interconexões entre coisas, e essas
coisas, por sua vez, são interconexões entre outras coisas’, e assim por
diante. Desse modo, a nova física revela a unicidade total do universo,
isto é, qualquer parte está unida a todas as outras partes (o universo é um
único sistema, um único organismo). Quando penetramos na
matéria, não encontramos qualquer elemento básico isolado, mas uma teia de
relações e interconexões entre as várias partes de um todo que é indiviso (Teilhard
de Chardin). A partícula não é uma entidade de existência independente; é um
conjunto de relações que se estendem e interagem com outras partículas e
coisas.
Enquanto, nas conexões locais (no
espaço-tempo), nenhum sinal pode ser transmitido com velocidade maior
que a da luz (conforme a teoria da relatividade de Einstein), nas conexões
não-locais os sinais são instantâneos e não podem ser previstos com
certeza matemática (o principio da incerteza, de Heisenberg). Cada
evento, fato, fenômeno, é influenciado pelo universo todo, por conexões
instantâneas com todos os demais eventos do universo e, embora a ciência ainda
não consiga explicar essa influência, reconhece nela a existência de uma certa
ordem.
Outra descoberta é que o observador influi
de modo instantâneo no evento que ele observa mesmo que esteja a milhares de
quilômetros. E é o todo que determina o comportamento das partes, e não o
contrário, como sempre a ciência acreditou.
James Jean: “O universo agora parece mais com um
grande pensamento do que com uma grande máquina”.
Pela nova ciência, a estrutura da matéria e
a da mente apresentam evidentes semelhanças, e a mente determina, em grande
medida, as características dos eventos observados. Na física
quântica, os fenômenos observados só podem ser entendidos como
correlações entre vários processos, e o fim dessa cadeia de processos reside,
sempre, na consciência do observador. A característica mais importante da
teoria quântica é que o observador é indispensável não só para que
possam ser observadas as propriedades de um fenômeno, mas também para causar
essas propriedades. A observação é que ocasiona, em certa medida, as
propriedades do que está sendo observado. Um evento somente
apresenta qualidades objetivas quando observado por uma mente senciente.
Portanto, não existe divisão entre mente e matéria, pois não existe separação
entre observador e coisa observada. Estão totalmente interligados.
O universo é entendido como uma rede indivisa de
relações interligadas, rede dinâmica, pois todos os objetos atômicos são de
natureza ondulatória, agitando-se vertiginosamente na tendência inerente de se
movimentarem. Tudo está turbilhonando em contínuo movimento. Mesmo aquilo que
parece ‘morto’, pedra, metal etc, apresenta enorme atividade. Na natureza não
existem formações estáticas, mas existe extraordinária estabilidade, a estabilidade
do equilíbrio dinâmico.
De acordo com Einstein, espaço e tempo são
interdependentes e relativos, um continuum. Assim, não existe
‘antes’ nem ‘depois’ nos processos observados e, portanto, nenhuma relação
linear de ‘causa’ e ‘efeito’. Pois, como vimos, todos os eventos estão
interligados e as conexões são não-causais.
Partículas (de matéria) são feixes de energia,
entidades quadridimensionais, padrões dinâmicos que possuem dois aspectos:
aspecto espacial, que determina que se apresentem como objetos com massa; e
aspecto temporal, como processos de energia, com duração no tempo. A
velha noção de substância perdeu todo sentido. Todos os objetos ‘materiais’
consistem de partículas que não têm qualquer substância material. São modelos
dinâmicos que se convertem continuamente uns nos outros, ondas em partículas e
vice-versa, na ininterrupta e universal dança da energia.
As partículas não são grãos isolados de matéria,
mas interconexões numa inseparável teia universal que inclui o observador
humano e sua consciência. As inter-relações e interações entre as
parte do todo são mais importantes do que as próprias partes. E há movimento
vertiginoso e ininterrupto, mas não existem objetos se movendo; há dança, mas
não há dançarinos (Krishnamurti: o movimento que não é movimento.
Capra: a dança de Shiva).
Todos os componentes do universo, até às menores
partículas, devem ser perfeitamente coerentes entre si. Não há
entidades, nem leis, nem constantes, umas mais importantes do que as outras.
Nenhuma das propriedades de qualquer parte dessa teia dinâmica universal é
fundamental; todas elas decorrem das propriedades de todas as outras partes, e
a coerência total de suas inter-relações determina a estrutura e a coerência da
teia toda. Cada partícula consiste de todas as outras partículas. Tais
concepções levam a ciência atual ao nível da filosofia budista ou taoísta (daí,
a representação do Buda, no instante da iluminação, adornado com um colar de
pedras preciosas, no qual cada gema reflete o brilho e as cores de todas as
outras).
O fato de as propriedades das partículas serem
determinadas por princípios intimamente ligados à observação de seres
sencientes mostra que as construções básicas do universo são determinadas pelo
modo como nós as observamos, o que significa queos modelos de matéria são
reflexos dos modelos de nossa mente, uma verdade que a ciência reconhece
cada vez mais. A moderna física afirma que a consciência tem de ser um
aspecto essencial do universo e que, sem sua compreensão, não poderá haver um
conhecimento completo dos fenômenos naturais.
Mente e a matéria são interdependentes e
correlacionadas, projeções mutuamente envolventes de uma realidade superior que
não é nem matéria, nem mente.
(Duas observações já colocadas aqui, para que,
posteriormente, não esqueçamos de fazer isso: a mutação genética é causada por
um erro aleatório (aleatório para nós?) no processo de multiplicação celular,
que resulta em mudança permanente na informação transportada pelo gene).
(O corpo saudável exibe forte resistência a todo
tipo de micróbio. Todo e qualquer organismo humano atua como hospedeiro para
multidão de bactérias que só podem causar danos quando o corpo está debilitado,
produzindo enfraquecimento do sistema imunológico e diminuição da resistência
geral, física e/ou mental).
Parece haver muito poucas doenças infecciosas em que as
bactérias causam um dano real e direto ao organismo hospedeiro. Na
maioria dos casos, o dano é causado por reação exagerada do organismo, que
aciona, simultaneamente, defesas poderosas e diferentes. Assim, as doenças
surgem o mais das vezes dessa falta de coordenação dentro do ]organismo e não
de danos causados por bactérias invasoras .
Quando os sintomas da enfermidade física, que são
apenas resultado do desequilíbrio orgânico, são suprimidos pela medicina, a
doença pode manifestar-se de alguma outra forma (como sempre afirmou a
homeopatia).
A saúde tem muitas dimensões que decorrem de
complexas interações de aspectos físicos, psicológicos, ambientais, sociais e
culturais da natureza do ser humano. O estado psicológico é
importantíssimo tanto para a geração quanto para a extinção da doença. A
interação psicológica paciente/médico talvez seja a parte mais importante de
qualquer terapia.
O Ponto de
Mutação........................ continuação................
A visão atual é que os sintomas de um distúrbio
mental refletem a tentativa de o organismo curar a si mesmo e atingir um novo
nível de integração. A prática psiquiátrica corrente interfere nesse processo
de cura espontânea ao suprimir os sintomas, porque os psiquiatras, responsáveis
pelo tratamento das doenças da psique, não possuem conhecimento completo do
espectro total da consciência do ser humano.
Conquistas recentes em pesquisas da consciência,
psicoterapia e psicologia transpessoal estimularam o interesse pelo misticismo
oriental, que apresenta resultados fundados em experiências produzidas por
estados de consciência que não podem ser entendidos pela ciência cartesiana,
mas têm surpreendente concordância com as descobertas da física quântica. O
misticismo é, sobretudo, caminho de libertação; busca a transformação da
consciência, com técnicas que visam mudar, nos praticantes, a percepção
consciente de sua própria existência e de sua relação com o universo.
Tradições como o vedanta, budismo, ioga e taoísmo
não são nem filosofias nem religiões, mas verdadeiras psicoterapias. Por isso,
não é de admirar que, hoje, muitos psicoterapeutas ocidentais estejam mostrando
profundo interesse pelas práticas do misticismo oriental (e, também por isso,
Jung afirmou que a experiência de aproximação do divino é a verdadeira
terapia).
Na psicanálise, a compreensão dos processos e estados
da consciência é essencial. Talvez por isso, um dos maiores psicólogos do
Ocidente, William James, tenha transferido sua atenção para questões mais
filosóficas e místicas, como estados incomuns de consciência, fenômenos
psíquicos e experiências religiosas, na intenção de sondar o espectro total da
consciência humana.
Reich descobriu que emoções e atitudes mentais
provocam resistência no organismo físico, que se expressam em padrões
musculares (contrações e dores), e formulou técnicas de trabalho do corpo, hoje
aperfeiçoadas e muito usadas.
O LADO SOMBRIO DO CRESCIMENTO DA TECOLOGIA
O excessivo crescimento tecnológico criou um meio
ambiente no qual a vida se tornou física e mentalmente doentia. Ar
poluído, congestionamento de tráfego, ruídos perturbadores, poluentes químicos
dentro e fora das moradias, riscos de radiação e muitas fontes de estresse
físico e psicológico são, hoje, parte “normal” da vida da maioria. A tecnologia
está perturbando seriamente os processos ecológicos que sustentam o meio
ambiente natural, a própria base de nossa existência. Uma das mais sérias
ameaças, quase totalmente negligenciada, é o envenenamento da água e do ar por
resíduos químicos tóxicos. Milhões de pessoas terão, em futuro próximo, a saúde
afetada pois, só nos Estados Unidos, calcula-se que, já em 1979, existiam mais
de 50.000 locais conhecidos onde materiais, altamente perigosos para o
organismo humano, são armazenados ou enterrados como lixo químico (o total, por
ano, de lixo de alto risco subiu de 10 para 35 milhões de toneladas só nos anos
70). São verdadeiras bombas-relógio prontas a se converter
numa das mais graves ameaças ambientais ao planeta. Enquanto os grandes
fabricantes de produtos químicos afirmam que a vida seria impossível sem esses
produtos, felizmente está despertando a consciência de que a indústria
química mais destrói do que protege a vida.
Imensas quantidades de óleo são derramadas nos mares
e rios, perturbando seriamente a vida marinha, trazendo riscos ecológicos ainda
pouco compreendidos. A geração de eletricidade a partir do carvão é mais
poluidora e nociva que a produzida pelo petróleo. Enormes áreas de terra são
devastadas, mas o pior, para o meio ambiente e a saúde humana, está na queima
do carvão. São lançados na atmosfera enormes quantidades de fumaça, cinzas,
gases e compostos orgânicos, tóxicos e cancerígenos. A poluição produzida pelos
automóveis pode causar graves lesões pulmonares, e uma única usina de queima de
carvão pode expelir tanto óxido de nitrogênio quanto varias centenas de
milhares de carros. Assim, nossa atmosfera está cheia de poluição invisível
constituída de ácidos sulfúrico e nítrico, resultantes das reações químicas
entre o que as usinas expelem e o oxigênio e vapor de água existentes no ar.
Posteriormente, esses ácidos, carregados pelos
ventos, são lançados em qualquer lugar com a neve ou chuva ácida, vindo a matar
peixes, insetos e outras formas de vida. Em várias partes de nosso planeta,
milhares de lagos estão completamente mortos ou em vias de extinção por não
mais conseguirem neutralizar a acidez, e estruturas inteiras de vida, que
levaram milhares de anos para evoluir, estão desaparecendo. E toda a culpa está
na miopia ecológica dos governos e na ganância dos grandesempresários
donos de usinas que têm poder político e o usam para impedir a implementação de
medidas de controle porque, de um modo ou de outro, seus lucros serão afetados.
Muitas dessas empresas, para “agradar” as populações mais próximas, despejam
seus lixos poluentes em ‘algum outro lugar’, esquecidas de que, num ecossistema
finito como é nosso planeta, não existe “algum outro lugar”.
A energia solar é limpa, renovável, abundante,
estável nos preços, benigna ao ambiente, mas é considerada, pelos poderosos da
indústria de energia, como “antieconômica” e “inviável”, apesar de numerosas
provas em contrário. Por trás disso estão os interesses dos governos que, a
todo custo, procuram aumentar seu poder bélico com a construção de armas
nucleares de destruição em massa mais poderosas e em maior quantidade. A
obsessão é “ter sempre vantagem” sobre os demais.
Os estudiosos concluíram que o mundo não precisa de
“mais” energia, mas de “menos”, desde que sejam corrigidos os padrões
gananciosos de crescimento exagerado e desnecessário que exaurem nossos
recursos naturais e contribuem significativamente para muitos sintomas de
doenças individuais e sociais. Mais energia significa acelerar o esgotamento de
minerais, florestas e animais, mais poluição, mais envenenamento químico, mais
injustiça social, mais câncer e mais crimes. Não precisamos de mais energia,
mas de uma profunda mudança de valores e de estilo de vida.
Tornou-se já evidente que o uso de energia
nuclear como fonte energética é total loucura, pois apresenta maiores
riscos que os da energia do carvão e ameaça mesmo extinguir toda
espécie humana. O poder nuclear, ao invés de proporcionar segurança
é, hoje, a maior ameaça à nossa sobrevivência e bem-estar. Essa energia
contamina o meio ambiente, afetando todos os organismos vivos, animais ou
vegetais, e seus efeitos não são imediatos, mas a médio e longo prazos; o
câncer pode aparecer de dez a quarenta anos depois, e as doenças genéticas, nas
gerações futuras. E ainda mais: se um reator funde, toda massa de urânio
derretido, que destruiria qualquer blindagem de proteção, penetraria na terra
além de provocar a explosão do vapor que espalharia materiais radioativos
mortais por todo o planeta. Milhares morreriam pela explosão e radiação, e esta
produziria doenças matando, depois, outros milhares; vastas áreas ficariam
contaminadas e inabitáveis por milhares de anos.
O plutônio, o mais perigoso subproduto radiativo,
mantém seu efeito danoso por cerca de 500.000 anos, tempo inimaginável para nós
e cem vezes maior do que toda a história documentada do homem. Que
direito moral temos de deixar herança tão terrível a milhares e milhares de
gerações futuras? Nenhuma tecnologia humana pode criar recipientes
seguros para tempo tão longo; só meio quilo de plutônio uniformemente
distribuído poderia causar câncer pulmonar a todas as pessoas do planeta, e
cada reator produz, por ano, de 200 a 250 quilos de plutônio! Além
disso, rotineiramente, toneladas de plutônio são transportadas por trens,
caminhões e aviões, com todos os riscos decorrentes do transporte. Bilhões e
bilhões de dólares são investidos para que os governos, na sua ânsia pelo
poder, tenham essa energia perigosa, e é o contribuinte quem paga.
E quanto à indústria farmacêutica? Na obsessão de
lucros, gigantescas verbas são gastas em publicidade para que as populações
usem medicamentos que, muitas vezes, nem possuem justificativa científica, e
muitos dos efeitos adversos nem mesmo são informados aos médicos que os
receitam. Isso também acontece com antibióticos, drogas muito perigosas
para os pacientes e que são o que mais os médicos receitam. Essa prescrição
desnecessária ou negligente já matou milhares de pessoas.
O Ponto de Mutação ............................
continuação................
... Essa prescrição desnecessária ou negligente já matou milhares de pessoas.
As mulheres, as maiores vítimas dos medicamentos,
tomam sessenta por cento de todos os psicoativos receitados e mais de setenta
por cento dos antidepressivos. Muitas indústrias oferecem prêmios aos médicos
para que receitem seus produtos, e médicos e pacientes crêem, por
condicionamento gerado pela propaganda da poderosa indústria farmacêutica, que
o corpo humano, para permanecer saudável, precisa de contínua supervisão médica
e de tratamento por medicamentos.
Assim também, a indústria petroquímica condicionou
agricultores e agrônomos a acreditar que o solo necessita de maciças
quantidades de agentes químicos para se manter produtivo. Venenos são lançados
na terra, matando todos os organismos, enquanto o que o solo precisa é de
bilhões de organismos vivos em cada centímetro cúbico para ser vivo e
fértil. A energia do sol e os nutrientes naturais sustentam esse sistema
e o mantêm em equilíbrio, desde que usadas convenientes técnicas ecológicas de
plantio.
Indústrias farmacêuticas manipulam os médicos para
receitarem mais e mais, e indústrias petroquímicas manipulam agrônomos e
agricultores para que usem mais e mais seus produtos químicos “necessários” a
uma boa produção. Mas continuam existindo milhões de famintos pelo mundo, e os
únicos que lucram são as grandes companhias de fertilizantes e pesticidas,
cujos produtos estragam as terras, seus frutos e, conseqüentemente, a saúde de
todos. Deixou de existir a agricultura limpa, familiar, sufocada pelas grandes
empresas agrícolas que produzem para o lucro e a exportação, enquanto as
populações próximas estão subnutridas. As grandes empresas produzem o que o
mercado lhes pede. As culturas estão perdendo a capacidade de absorver os
nutrientes do solo, ficando cada vez mais viciadas aos produtos químicos. O
desequilíbrio ecológico, vindo do excesso de química, resultou em aumento de
pragas e doenças, e combate-se o resultado do excesso de química com mais
química.
O problema da fome no mundo não é técnico, mas
social e político. Sérias pesquisas mostram não existir um único país no qual
as populações não possam alimentar-se com seus próprios recursos, e que a
totalidade de alimentos hoje produzidos no mundo basta para alimentar mais que
o dobro da população do planeta. Mais alimentos estão sendo produzidos e,
paradoxalmente, mais pessoas passam fome. É a desigualdade social o principal
obstáculo a todas as tentativas de combate à fome. Milhões são expulsos do
campo pelas grandes empresas agrícolas, e a agroindústria é altamente lucrativa
apenas para pequena elite, que deixa de cultivar alimentos para as necessidades
locais, optando por safras mais lucrativas destinadas à exportação, enquanto as
populações locais morrem de fome. Na América Central, as terras mais férteis
são usadas para culturas de exportação, enquanto setenta por cento das crianças
estão subalimentadas. A política correta seria que as culturas industriais só
fossem plantadas depois de satisfeitas as necessidades básicas locais; e que a
exportação venha depois. Grandes empresas multinacionais desmatam extensas
áreas de terras férteis para a criação de gado para exportação, atividade mais
simples e mais lucrativa para as empresas, mas mais nociva para as
populações.
A CONCEPÇÃO SISTÊMICA DA VIDA
A nova visão da realidade dada pela nova física
(quântica) baseia-se na consciência da inter-relação e interdependência de
todos os fenômenos, sejam eles físicos, biológicos, psicológicos, sociais,
culturais e econômicos. Nessa visão, nenhum modelo, parte ou lei é mais
importante que o outro. A concepção sistêmica vê o mundo em termos de
relações e de integrações. Os sistemas são totalidades integradas, que não
podem ser reduzidas às unidades ou partes menores. Os exemplos de sistemas são
abundantes na natureza. Todo e qualquer organismo, da menor bactéria aos seres
humanos, é uma totalidade integrada, um sistema vivo, como o são as células, tecidos,
órgãos do corpo, etc. Os mesmos aspectos são exibidos pelos sistemas sociais,
como o formigueiro, a colméia, a família humana, a sociedade, as nações. Isso
mostra a ilusão do “determinismo genético”, isto é, a crença de que as várias
características físicas ou mentais do organismo individual são determinadas
exclusivamente por sua constituição genética. A visão sistêmica deixa claro que
os genes não são os determinantes exclusivos do funcionamento do organismo,
pois eles são também partes integrantes de um todo ordenado e adaptam-se,
portanto, à organização sistêmica.
Diferentes das máquinas, que são construídas, os
organismos vivos crescem e são sistemas auto-organizadores, nos
quais existe determinada ordem resultante de atividades coordenadoras próprias
que não obrigam as partes, mas deixam espaço para a variação e flexibilidade
que as habilitam a se adaptarem às novas circunstâncias. Os principais
fenômenos dinâmicos da auto-organização são a auto-renovação, que é
a capacidade de renovar e reciclar continuamente seus componentes, sem mexer
com a integridade de sua estrutura global; e a auto-transcendência,
que é a capacidade de se orientar criativamente para além das fronteiras
físicas e mentais nos processos de aprendizagem, evolução e desenvolvimento.
A relativa autonomia dos sistemas auto-organizadores
geralmente aumenta sua complexidade, e atinge o auge nos seres humanos, o
que evidencia que “livre-arbítrio”, “determinismo” e “liberdade”, são
apenas conceitos relativos. Esse conceito relativo de
livre-arbítrio é compatível com a visão das tradições místicas que encorajam
seus adeptos a transcender a noção de um “eu” separado e a tomar consciência de
que todos somos partes inseparáveis do Todo universal. O objetivo dessas tradições
é o completo abandono de todas as sensações do ego e, em experiência mística, a
obtenção da fusão com o todo cósmico. Alcançado esse estado, a questão
do livre-arbítrio perde todo o seu significado. Se eu sou o universo, não pode
haver influências exteriores e todas minhas ações são espontâneas e livres.
Assim, na visão dos místicos, a noção de livre-arbítrio é relativa,
limitada e “ilusória”, como todos os conceitos que usamos para
descrever racionalmente a realidade.
Quanto mais estudamos os seres vivos, mais
percebemos que a tendência para a associação, para o estabelecimento de
vínculos e de cooperação entre eles, é uma característica essencial. Lewis
Thomas: “Não somos seres solitários. Cada criatura está, de alguma
forma, ligada a tudo o mais e desse tudo depende”.
A competição e o comportamento destrutivo ou
excessivamente agressivo são predominantes apenas na espécie humana, e têm que
ser tratados como conseqüência da cultura, e não considerados,
pseudo-cientificamente, como fenômenos inerentes à natureza humana.
Todo subsistema é um organismo relativamente
autônomo, mas também, ao mesmo tempo, é um componente de um organismo
maior. A teoria dos sistemas considera que o meio ambiente é, em si
mesmo, um sistema vivo capaz de adaptação e evolução, evolução que é
basicamente aberta e indeterminada. Nela não existe meta ou finalidade
(propósito, plano) e, no entanto, há um padrão reconhecível de
desenvolvimento. Enquanto as religiões (populares) julgam que existe um
propósito para a evolução, e a teoria de Darwin a supõe um jogo de dados
cósmico, a nova teoria dos sistemas não aceita nenhuma dessas concepções.
Embora não negue a espiritualidade, e possa até ser usada para formular um
conceito de divindade, a nova visão não admite um plano evolutivo previamente
estabelecido (é essa, também, a visão dos místicos). A evolução é uma
aventura contínua e aberta que cria sua própria finalidade, ininterruptamente,
em processos cujos desfechos detalhados são totalmente imprevisíveis (o princípio
da incerteza, de Heisenberg). No entanto, o modelo geral de evolução pode ser
reconhecido e é muito compreensível. Suas características incluem o aumento
progressivo de complexidade, coordenação e interdependência; a integração de
indivíduos em sistemas de múltiplos níveis; e o refinamento contínuo de certas
funções e tipos de comportamento; portanto, uma progressão do caos para
a ordem.
Para Batson e outros, os critérios relativos à mente
estão intimamente relacionados com as características dos sistemas
auto-organizadores. A mente é propriedade essencial dos sistemas vivos. Vida e
mente são manifestações do mesmo conjunto de sistemas, de processos que
representam a dinâmica da auto-organização. Mente e matéria não são
categorias distintas, como acreditava Descartes, mas representam aspectos
diferentes de um mesmo processo universal.
O Ponto de Mutação
..................... continuação .................
... de complexidade, mas que vai além do espaço e do tempo, em níveis
superiores.
Nossas mentes individuais são apenas subsistemas
de outras manifestações mais
amplas da mente (ver ‘Além do Ego’ e Theilhar de Chardin), fato que
tem implicações radicais para nossas inter-relações com o meio ambiente
natural. Se separarmos os fenômenos mentais dos sistemas maiores em que eles
estão inseridos, e os limitarmos aos indivíduos humanos, veremos o meio
ambiente como desprovido de mente e seremos inclinados a explorá-lo. Nossas
atitudes, porém, serão radicalmente diferentes quando nos convencermos que o
meio ambiente natural não só está vivo, como também possui mente, como todos
nós.
O fato de o mundo vivo estar organizado em
estruturas de múltiplos níveis significa que também existem múltiplos níveis
mentais. A ação da mente, no cérebro, consiste em múltiplos níveis
correspondentes a diferentes estágios da evolução biológica. Essa noção de
mente, da qual só temos conhecimento dos estados ordinários de consciência, é
muito difundida em numerosas culturas não-ocidentais e tem sido agora estudada
em profundidade por muitos psicólogos do Ocidente. Na ordem da
natureza, as mentes humanas individuais estão inseridas nas mentes mais vastas
dos sistemas sociais e ecológicos, e estes, por sua vez, estão integrados no
sistema mental planetário, o qual deve participar, ao fim, de alguma espécie de
mente universal ou cósmica. Nessa perspectiva, a divindade não
manifesta qualquer forma antropomórfica, mas representa nada menos do que a
dinâmica auto-organizadora do cosmo inteiro.
Apesar da neurociência vir estudando, intensamente e
há décadas, esse sistema altamente complexo e de múltiplos níveis que é o
cérebro, ele continua profundamente misterioso. É um sistema vivo por
excelência. Embora após o primeiro ano de vida não mais sejam produzidos novos
neurônios, continuam ocorrendo pelo resto da vida mudanças plásticas. Na medida
em que o meio ambiente muda, o cérebro adapta-se em resposta a essas mudanças,
e se a qualquer momento ele for danificado, por ferimento ou lesão, o sistema
realiza ajustamentos muito rápidos. Ele nunca se desgasta ou exaure; ao
contrário, quanto mais é usado, mais poderoso se torna. O cérebro está sempre
em contínua atividade espontânea, seus neurônios transmitindo bilhões de
impulsos por segundo, na transmissão de informações para todo o organismo. Os
dois hemisférios estão envolvidos em funções opostas, mas complementares. O
direito, que controla o lado esquerdo do corpo, funciona de modo holístico,
apropriado à síntese; o esquerdo controla o lado direito e é especializado no
pensamento analítico, que envolve o processamento linear da informação.
A mente humana é capaz de criar um mundo interior
que reflete o exterior, mas possui existência própria e pode levar o indivíduo
ou a sociedade a agir sobre o mundo exterior. O campo psicológico inclui a
autoconsciência, o pensamento conceitual, a experiência consciente, a linguagem
simbólica, os sonhos, a arte, a criação de cultura, senso de valores, interesse
no passado remoto e preocupação com o futuro distante. A maior parte dessas
características existe em forma rudimentar em várias espécies animais, de modo
que parece não haver um critério único que permita diferenciar os humanos dos
outros animais. Porém, o alto nível de refinamento dessas características combinadas
existe apenas na espécie humana.
Estudos mostram que os aspectos fisiológicos
da percepção não podem ser separados dos aspectos psicológicos da interpretação.
Além disso, o novo conceito de percepção advindo da nova física, apaga
a diferença convencional entre percepção sensorial e extra-sensorial ao mostrar
que toda percepção é, em certa medida, extra-sensorial (Krishnamurti e
o misticismo afirmam o mesmo).
Nossas reações ao meio ambiente são determinadas não
tanto pelo efeito direto dos estímulos externos sobre nosso sistema biológico
mas, antes, por nossa experiência passada, nossas expectativas, nossos
propósitos, e pela interpretação simbólica individual de nossas percepções. Um
suave perfume pode evocar alegria ou mágoa, prazer ou dor, através de
associações com a experiência passada, e nossas respostas variam de acordo com
isso. Assim, o mundo interior e o exterior estão sempre interligados no
funcionamento do organismo humano; interagem e evoluem juntos (o exterior é o
interior; o observador é a coisa observada). A autoconsciência parece
manifestar-se somente em animais superiores.
Como a concepção da mente não está limitada a
organismos individuais, podendo ser estendida a sistemas sociais e
ecológicos, podemos dizer que grupos de pessoas, sociedades e culturas
têm uma mente coletiva, e assim toda a humanidade. (Gandhi: “Cada
mente que se ilumina, aniquila o ódio de milhões”, mostrando a interconexão
mental). Participamos de modelos mentais coletivos, somos moldados por
eles e, por outro lado, os moldamos. Daí os conceitos de mente planetária e de
mente cósmica que podem ser associados a níveis planetários e cósmicos de
consciência.
A concepção científica do Ocidente considera a
consciência característica de complexos modelos materiais que surgem num
determinado estágio da evolução biológica. A concepção oriental está assentada
nas tradições místicas e considera a consciência a realidade primária e a base
de tudo. Em sua mais pura forma, de acordo com essa visão, a consciência é
imaterial, informe e vazia de conteúdo; amiúde descrita como ‘consciência
pura’, ‘realidade última’, ‘qüididade’ (aquilo que é o que é) etc, conceitos
que estão associados ao Divino em muitas tradições espirituais. Afirma-se
que a consciência pura é a essência do universo e que se manifesta em
todas as coisas, todas as formas de matéria e em todos os seres.
A visão mística da consciência baseia-se na
experiência de estados não comuns de consciência, atingidos pela
meditação. Psicólogos modernos chamam essas experiências de transpessoais
porque permitem à consciência individual estabelecer contato com modelos
mentais coletivos e até cósmicos, além da personalidade do ego. De acordo
com numerosos testemunhos, essas experiências envolvem relação forte,
pessoal e consciente com a realidade, superando amplamente a atual estrutura
científica ocidental.Não se pode esperar, portanto, que a ciência em seu
atual estágio confirme ou contradiga a concepção mística da consciência.
Entretanto, a visão sistêmica da mente é perfeitamente compatível com as
concepções tanto científica moderna quanto mística de consciência e fornece
forte base para a unificação das duas.
Cientificamente, não é exagero supor que todas as
estruturas do universo, das partículas subatômicas às galáxias, das bactérias
aos seres humanos, são manifestações da dinâmica auto-organizadora do universo,
a qual identificamos com a mente cósmica (ou Deus). E é essa a
concepção mística, com a única diferença de que os místicos enfatizam a
possibilidade de se ter uma experiência direta da consciência cósmica, que vai
muito além da possibilidade da ciência e da visão da psicologia ocidental.
As condições ambientais de vida mudaram e continuam
mudando sempre em ritmo rápido e, a fim de se adaptar a essas mudanças, a
espécie humana usou a consciência, o pensamento conceitual e a linguagem
simbólica de que dispõe, para transferir-se de uma evolução genética individual
para uma evolução social. No entanto, essa adaptação não é perfeita. Ainda
carregamos conosco condicionamentos dos estágios iniciais de nossa evolução
que, com freqüência, nos dificultam a tarefa de enfrentar os desafios do atual
meio ambiente.
Em todo o mundo animal, a agressão raramente vai ao ponto
de levar um dos adversários, da mesma espécie, à morte. A luta é mais um ritual
e termina em geral com o perdedor aceitando a derrota. Na espécie humana, essa
sabedoria desapareceu. No processo de criação de um mundo abstrato interior, parece
que perdemos o contato com as realidades da vida e passamos a ser as únicas
criaturas que, com freqüência, não são capazes de cooperar e que, por isso,
chegam a matar indivíduos da própria espécie. A evolução da consciência nos
deu, não só as sinfonias belíssimas e a teoria da relatividade, mas também a
Inquisição, a queima das bruxas, o Holocausto e a bomba de Hiroxima.
Em raros momentos de nossas vidas, como na
meditação profunda, podemos sentir que estamos em harmonia com o universo
inteiro. Esses momentos de ritmo perfeito, quando tudo parece completamente
certo e tudo é feito com facilidade, constituem elevadas experiências
espirituais em que todo tipo de separação ou fragmentação é transcendido, e o
eu e o não-eu, o eu e o todo, o eu e o mundo, o eu e o universo se tornam “um” ("Eu
e o Pai somos um!").
O Ponto de
Mutação............................ continuação...................
... o eu e o não-eu, o eu e o todo, o eu e o mundo, o eu e o universo se tornam
“um”.
A concepção sistêmica da vida, como vimos, é
espiritual em sua essência mais profunda e compatível com muitas
idéias do misticismo. Os paralelos entre ciência e misticismo não se limitam à
física moderna, mas se estendem com igual justificativa à nova biologia
sistêmica. Dois temas básicos se destacam repetidamente ao estudarmos a matéria
viva e a não-viva, temas que são sempre realçados no misticismo: a
interligação e interdependência de todos os fenômenos universais, e a natureza
intrinsecamente dinâmica da realidade. Em ambos os campos, os níveis da mente
são considerados manifestações diferentes da consciência cósmica, e
mesmo que as concepções místicas ultrapassem de muito o âmbito da ciência
atual, elas não são, de modo algum, incompatíveis com os modernos conceitos
sistêmicos de mente e matéria.
Nascimento e morte são considerados, por
numerosas tradições místicas, tal como na física atual, estágios de ciclos
infindáveis de auto-renovação contínua, característica da dança da vida.
Teilhard de Chardin, sacerdote jesuíta, cientista eminente, entre os místicos
ocidentais é aquele que mais se aproxima da nova biologia sistêmica. Sua teoria
da evolução apresenta notáveis semelhanças com a nova teoria dos sistemas: a
evolução biológica se desenrola na direção de uma crescente
complexidade, que sempre é acompanhada por correspondente elevação do nível de
consciência, culminando na espiritualidade humana. Para ele, Deus
é a fonte de todo ser e, em particular, a fonte do impulso e da força da
evolução (no Cristianismo primitivo, as forças que nos fazem bons ou
maus, inteligentes ou néscios). Embora seja freqüentemente menosprezado pelos
cientistas que não conseguem ver além das concepções cartesianas, seu conceito
de Deus pode muito bem ser o mais próximo da concepção da ciência moderna (por
essa sua visão, diferente da teologia da igreja cristã, foi proibido, pelo
Vaticano, de tornar público qualquer pensamento seu até o dia de sua morte).
A doença é conseqüência de desequilíbrio e
desarmonia, e freqüentemente decorre da falta de coerência que se pode
manifestar em vários níveis do organismo e é passível de gerar sintomas de
natureza física, psicológica e social. Acredita-se que o estresse excessivo
contribui de modo significativo para a origem e desenvolvimento da maioria das
enfermidades, manifestando-se no desequilíbrio inicial do organismo e, em
seguida, sendo canalizado, através de determinada característica da
personalidade, para dar origem a distúrbios específicos. Aspecto importante
desse processo é o fato de que a enfermidade é freqüentemente percebida,
consciente ou inconscientemente, como uma saída para a situação estressante,
representando, os vários tipos de enfermidades, diferentes vias de fuga. A cura
não fará necessariamente que o paciente fique saudável, mas a enfermidade pode
ser uma oportunidade para a introspecção que resolverá a raiz
do problema.
O desenvolvimento da enfermidade envolve a
interação contínua entre processos físicos e mentais que se reforçam mutuamente
através de completa rede de canais de realimentação. Apresentam-se
como manifestações de processos psicossomáticos subjacentes que devem ser
enfrentados na terapia. Essa visão dinâmica da enfermidade reconhece
especificamente a tendência inata do organismo para curar-se e restabelecer seu
estado de equilíbrio, o que pode incluir fases de crise e de importantes
transições vitais. Períodos de saúde precária, com sintomas de menor
importância, são estágios normais e naturais que representam o meio de o
organismo restabelecer o equilíbrio mediante a interrupção das atividades
normais do indivíduo, forçando-o a uma mudança de ritmo. Por isso, os
sintomas de enfermidades menores desaparecem depois de alguns dias, mesmo sem
tratamento. As enfermidades mais sérias exigirão intervenção de
terapeutas, e o resultado dependerá profundamente das atitudes mentais
e expectativas do paciente. As enfermidades graves exigirão enfoque
terapêutico que se ocupe tanto dos aspectos físicos e psicológicos do
distúrbio, e também de mudanças no estilo de vida e na visão de mundo
do paciente, que serão parte integrante do processo de cura. Toda
doença é, afinal, conseqüência de alguma desarmonia em relação à ordem
cósmica.
No xamanismo, a busca de uma causa da doença e a
declaração formal de um diagnóstico são mais importantes do que a própria
terapia. O diagnóstico pode referir-se a disputas, discussões e rixas entre
famílias, sem que se dê muita atenção ao próprio paciente. Todo o acontecimento
é, principalmente, um acontecimento social, no qual o paciente é meramente o
símbolo do conflito no seio da sociedade. E a principal finalidade das técnicas
consiste em reintegrar a condição do paciente na ordem cósmica. Não se trabalha
com o inconsciente individual do paciente, mas com o inconsciente coletivo e
social, compartilhado por toda a comunidade (nela inserido o paciente).
Já na antiga Grécia, ‘Ares, águas e lugares’, livro
de Hipócrates, é um tratado sobre ecologia humana. Mostra como o bem estar dos
indivíduos é influenciado pelo meio ambiente: a qualidade do ar, da água e dos
alimentos, a topografia das terras e os hábitos de vida em geral. De acordo com
esses escritos, a saúde requer um estado de equilíbrio entre influências
ambientais, modos de vida e os vários componentes da natureza humana. A
correlação entre mudanças súbitas nesses fatores e o aparecimento de doenças é
enfatizada, sendo a compreensão dos efeitos ambientais considerada a base
essencial da arte médica.
Quanto à cura, Hipócrates reconheceu a existência de
forças curativas naturais nos organismos vivo, às quais chamou de ‘poder
curativo da natureza’. O papel do médico consistia em ajudar, como mero
assistente, essas forças naturais, criando condições favoráveis para sua ação
no processo de cura.
Na medicina chinesa, o equilíbrio é fundamental no
conceito de saúde. As doenças se manifestam quando o corpo perde o equilíbrio e
o ch’i, o fluxo de energia vital que anima todo o cosmo, não mais circula
adequadamente. São múltiplas as causas desse desequilíbrio: alimentação
inadequada, falta de sono ou de exercício, desarmonia com a família ou a
sociedade; com isso, o corpo perde o equilíbrio e a doença se instala. A doença
não é considerada um agente intruso, mas o resultado de causas que culminam em
desarmonia e desequilíbrio. Entretanto, a natureza de todas as coisas,
incluindo o organismo humano, possui tendência natural para retornar ao estado
dinâmico de equilíbrio (conforme o ‘I Ching’, depois de um período de
decadência chega o ponto de mutação, num movimento natural e espontâneo; a
transformação do antigo torna-se fácil e o novo é introduzido. Ambos, com o
tempo, se harmonizam, não resultando daí nenhum dano).
A doença e a saúde são consideradas naturais e
partes de uma seqüência contínua, aspectos de um mesmo processo, no qual o
organismo continuamente muda para se adaptar ao meio ambiente inconstante.
Sendo, portanto, inevitável a doença em certos momentos, no processo da vida, a
saúde perfeita não é o objetivo essencial nem do terapeuta, nem do paciente. O
objetivo da terapia é fazer a melhor adaptação possível do indivíduo ao meio
ambiente como um todo. Nessa visão, o paciente é responsável pela manutenção da
própria saúde e mesmo, em grande parte, pela recuperação do equilíbrio do organismo,
devendo viver de acordo com as regras da sociedade e cuidando do corpo de modo
eminentemente prático, tanto que, na China, os médicos recusavam pacientes
quando o seu estado atingia certo grau de gravidade.
Enquanto na medicina ocidental o médico ideal é um
especialista, com conhecimento detalhado sobre apenas uma parte específica do
corpo, na chinesa o médico ideal é um sábio, que entende que tudo no
universo funciona em conjunto, inter-relacionado; que não classifica a
doença específica do paciente, mas registra o mais completamente possível o seu
estado de mente e de corpo, e como ele se relaciona com a natureza e a
sociedade. Para isso, desenvolveram técnicas apuradas de observação e
interrogatório para diagnosticar, além de uma arte incomparável de tomada de
pulso, que lhes permite determinar o fluxo e os padrões de ch’i ao longo dos
meridianos e, com isso, o estado dinâmico do organismo todo.
A concepção sistêmica de saúde baseia-se na
concepção sistêmica de vida. Os organismos são sistemas auto-organizadores com
alto grau de estabilidade profundamente dinâmica e caracterizada por flutuações
contínuas, múltiplas e interdependentes. Para ser saudável, esse sistema
precisa ser flexível e ter grande capacidade de opções para se adaptar e
responder às mudanças do meio ambiente. A perda dessa flexibilidade significa
perda de saúde.
O Ponto de Mutação
............................ continuação ...................
... A perda dessa flexibilidade significa perda de saúde.
O estresse é um desequilíbrio advindo da resposta às
influências ambientais. O estresse temporário é um aspecto essencial e natural
da vida, uma vez que a interação contínua com o meio ambiente envolve,
freqüentemente, perdas temporárias de flexibilidade. Mas o estresse prolongado
ou crônico é pernicioso e tem papel significativo no curso de muitas doenças. O
estresse ocorre quando uma ou mais variáveis de um organismo são forçadas até
seu limite extremo. No organismo saudável, as outras variáveis colaborarão para
que se restabeleça a flexibilidade anterior.
Na visão sistêmica de mente, torna-se evidente
que todas as doenças têm aspectos mentais. Adoecer e curar-se
são partes integrantes da auto-organização do organismo e, como a mente,
representam a dinâmica dessa auto-organização, esses processos são
essencialmente fenômenos mentais. As atitudes e processos mentais desempenham
importante papel não só no surgimento de doenças, como nos processos de cura. O
primeiro passo nessa auto-cura é o reconhecimento, por parte do paciente, de
que ele participou, consciente ou inconscientemente, da origem e
desenvolvimento da doença e que, por conseguinte, poderá participar do processo
de cura. Na prática, no entanto, a maioria dos pacientes não admite essa idéia.
A vontade do paciente de ficar bom e a confiança no
tratamento são aspectos cruciais. A experiência tem mostrado repetidamente que
pacientes aos quais é dito que têm apenas de seis a nove meses de vida não
vivem, de fato, mais do que isso. Declarações desse tipo nunca devem ser
feitas, pois exercem poderoso impacto sobre o sistema mente/corpo do doente e
parecem agir como um feitiço.
A política a ser adotada na área de saúde pelos
governos, dentro da nova visão sistêmica, holística e dinâmica do universo,
consistirá numa legislação que deverá incluir, entre muitas outras, sugestões
como as seguintes:
-Proibição de toda propaganda de produtos
prejudiciais à saúde.
-Impostos de assistência à saúde sobre indivíduos e
empresas que gerem riscos à saúde, para que cubram os custos médicos
decorrentes desses riscos (poluição, bebidas alcoólicas, cigarro, alimentos
supérfluos e artificiais).
-Programas sociais para melhorar a educação, níveis
de emprego, direitos civis e a situação das pessoas pobres.
-Incentivos à indústria para que produza alimentos
nutritivos, com restrições a artigos oferecidos por máquinas automáticas, e
especificações nutricionais para alimentos servidos em escolas, hospitais,
prisões, cantinas de repartições públicas etc.
-Política para o desenvolvimento de métodos
orgânicos na agricultura.
Há, porém, uma terapia que aborda o equilíbrio
psicossomático através da mente. Com vários métodos de relaxamento e redução de
tensões, tem fortes possibilidades de desempenhar papel importante em todas as
terapias futuras. Em nossa cultura ocidental as concepções atuais com relação a
esse assunto são muito primárias. Ver televisão, beber um drinque, ler livros,
viajar, não reduzem tensão nem ansiedade. O relaxamento profundo, para ser
eficaz, tem de ser exercitado regularmente. A respiração correta é processo
psicofisiológico que requer prática cuidadosa como qualquer outra habilidade
vital para redução do estresse. E respiração regular e profunda e
relaxamento intenso são característicos das técnicas de meditação de muitas
culturas, desde há milhares de anos, particularmente no Extremo Oriente. O
recente interesse pelo misticismo tem levado número crescente de ocidentais à
prática regular de meditação e fez se realizarem muitos estudos e pesquisas
sobre os benefícios à saúde daí originados (Maharesh). Essas pesquisas
têm indicado que a reação do organismo humano à meditação é oposta à sua reação
ao estresse, fato que sugere que as técnicas de meditação têm importantes
aplicações clínicas. Essas técnicas já estão sendo usadas para a supressão de
muitas desarmonias mentais e físicas.
Com o organismo total completamente relaxado,
consegue-se fazer contato com o próprio inconsciente, podendo obter importantes
informações sobre seus problemas e aspectos psicológicos. A comunicação com o
inconsciente ocorre através de uma linguagem altamente pessoal, visual e
simbólica, semelhante a sonhos, como acontece em muitas técnicas de
meditação. O que se procura é um estado meditativo de profundo
relaxamento em que todo o esforço cessa. Então, os canais de comunicação entre
a mente consciente e a mente inconsciente se abrem e facilitam a integração de
funções psicológicas e biológicas (Deepak Chopra: conexão mente-corpo).
Simonton, holístico, trouxe novo tratamento para o
câncer, fenômeno típico de nosso tempo. O desequilíbrio e a fragmentação que
impregnam nossa cultura ocidental desempenham papel importante no
desenvolvimento desse mal e, ao mesmo tempo, não permitem que os pesquisadores
compreendam a doença ou a tratem com êxito. Simonton desenvolveu uma terapia
compatível com a nova visão de saúde e doença. Os resultados, em pacientes
considerados incuráveis, têm sido extraordinários. A imagem popular do câncer
foi condicionada pela visão fragmentada de mundo da cultura ocidental e pelo
uso excessivo de tecnologias. O câncer é visto, assim, como poderoso invasor
vindo de fora. Parece não haver esperança de controlá-lo e, para muitos, é
sinônimo de morte. O tratamento convencional, com radiação,
quimioterapia, cirurgia ou sua combinação, danifica mais o corpo. Os
médicos estão, agora, cada vez mais inclinados a ver o câncer como distúrbio
sistêmico, no início localizado, mas que, depois, se propaga por todo o corpo;
o tumor original é apenas a ponta do iceberg. Os pacientes, no entanto,
insistem em considerar seu próprio câncer um problema localizado, especialmente
durante a fase inicial, vendo-o como um objeto estranho do qual querem se
livrar o mais rapidamente e esquecer. Não percebem a interdependência dos
aspectos psicológicos e fisiológicos.
Para Simonton, essa imagem tem que ser invertida. A
moderna biologia molecular mostrou que as células cancerosas não são
potentes como se pensa, mas fracas e confusas. Não invadem, não atacam
nem destroem mas, apenas, se super-reproduzem. Principia com uma célula que tem
informação genética incorreta, porque foi modificada por substâncias nocivas ou
influências ambientais, ou simplesmente porque o organismo produziu
ocasionalmente uma célula imperfeita. A informação defeituosa a impede de
funcionar normalmente e, se ela produz outras com a mesma constituição genética
incorreta, o resultado é um tumor constituído de células imperfeitas. As
células normais se comunicam eficazmente com seu meio ambiente para determinar
suas dimensões e taxa de reprodução, ao contrário do que ocorre com a
comunicação e auto-organização das células imperfeitas. Estas se reproduzem a
esmo. A coesão entre elas pode enfraquecer e algumas se desprendem da massa
original, viajam para outras partes do corpo, formando novos tumores
(metástase). Num organismo sadio, o sistema imunológico reconhece as células
anormais e as destrói ou as cerca impedindo sua disseminação. Se o sistema
imunológico, por alguma razão, está desequilibrado, deficiente, a massa de
células defeituosas continua a crescer. O câncer, portanto, é uma falha do
equilíbrio interno do organismo como um todo.
Simonton reconhece a existência de substâncias e
influências ambientais cancerígenas, e defende vigorosamente a implementação de
uma política social apropriada para eliminar esses riscos. Mas concluiu que nem
esses fatores, nem a radiação, nem a predisposição genética, explicam
satisfatoriamente a causa da doença, pois o que faz que, a partir de certo
momento, o sistema imunológico não mais reconheça e não destrua as células
anormais, e permite que cresçam e formem tumores que ameaçam a vida? A resposta
que encontrou é que devem ser considerados os aspectos mentais e emocionais da
saúde e da doença. O desequilíbrio do sistema imunológico é produzido por
estresse prolongado, canalizado através de determinada característica da
personalidade, dando origem a distúrbios específicos. No caso, as tensões
cruciais parecem ser aquelas que ameaçam algum papel ou relação importante da
identidade da pessoa, ou as que criam situação para a qual aparentemente não há
escapatória. Muitos estudos sugerem que tais tensões ocorrem de seis a dezoito
meses antes do diagnóstico da doença. Elas são passiveis de gerar sentimentos
de impotência e desesperança tão grandes, que uma doença grave e até a morte,
podem tornar-se, consciente ou inconscientemente, desejáveis como solução
potencial.
O Tempo de Mutação ................
continuação ....
... consciente ou inconscientemente, desejáveis como solução potencial.
Fatores físicos e psicológicos contribuem para a
instalação da doença e o estresse emocional tem dois efeitos principais: inibe
o sistema imunológico e acarreta desequilíbrios hormonais, o que resulta em
aumento da produção das células anormais. Esta produção é incentivada
justamente quando o organismo está menos capaz de destruí-las. Quanto à
personalidade, os estados emocionais parecem ser elemento crucial no
desenvolvimento do mal. A ligação de câncer e emoções vem sendo
observada desde dezenas de anos, hoje havendo provas substanciais de estados
emocionais específicos. Certos perfis psicológicos permitem
mesmo que se possa prever a incidência de câncer com notável precisão.
Sentimentos de solidão, abandono e desespero, na juventude, quando relações
interpessoais intensas parecem impossíveis ou perigosas; perda de uma relação
forte com uma pessoa, ou de um papel julgado importante no início da vida
adulta, coisas que constituíam o centro da vida do indivíduo, resultando em
desespero; interiorização do desespero a ponto de ser incapaz de deixar outras
pessoas saberem quando se sente magoado, colérico ou hostil, constituem o
modelo típico de pacientes que poderão vir a ter câncer, conforme numerosos
pesquisadores. Os processos psicológicos e biológicos são interdependentes e
podem ser reconhecidos, e a seqüência dos eventos que leva à doença pode ser
invertida de modo que o organismo aprenda a se tornar saudável novamente.
Os pacientes devem ser levados a identificar as
principais tensões que ocorreram em sua vida de seis a dezoito meses antes do
diagnóstico e, pela lista, procura-se analisar a participação do paciente no
desencadeamento de sua enfermidade. O objetivo não é produzir um sentimento de
culpa, mas criar base para a inversão dos processos psicossomáticos que
culminaram na doença. Incute-se no paciente a certeza, crucial para a terapia,
do poder das defesas naturais do seu corpo. Estudos verificaram que a resposta
ao tratamento depende muito mais da atitude do paciente do que da gravidade da
doença. Gerados sentimentos de esperança e expectativa, o organismo os
transforma em processos biológicos que começam a restaurar o equilíbrio e a
revitalizar o sistema imunológico, utilizando os mesmos caminhos que foram
usados na instalação da doença. A produção de células anormais diminui, e o
sistema imunológico se torna mais forte e eficiente para combatê-las.
O câncer, assim visto, é um problema da pessoa como
um todo. Assim, a terapia deve ocupar-se do ser humano total.
Usam-se exercícios físicos regulares para reduzir a tensão, aliviar a depressão
e ajudar o paciente a manter contato mais estreito com seu próprio corpo.
Provou-se que a prática regular de relaxamento e de mentalização e de
meditação, durante a qual a doença e a ação do sistema imunológico são
descritas na própria linguagem simbólica do paciente, é extremamente eficaz
para fortalecer o sistema imunológico, freqüentemente resultando em redução espetacular
e mesmo na eliminação dos tumores. Além disso, a meditação é método
excelente para os doentes se comunicarem com o inconsciente, fato que lhes pode
trazer importantes informações para sua recuperação.
Simonton ensina que, como os processos
psicossomáticos subjacentes podem ter sido gerados por vários problemas
psicológicos e sociais, enquanto estes não forem resolvidos o paciente não
ficará bom, ainda que o câncer possa temporariamente desaparecer. A terapia
deve ser auxiliada por psicoterapeutas que conheçam os aspectos sociais,
culturais, filosóficos e espirituais geralmente envolvidos no dia-a-dia do
paciente. Para a maioria desses pacientes, o impasse produzido pelo acúmulo de
eventos estressantes só pode ser superado se eles mudarem parte de seu sistema
de crenças e sua visão de mundo. Para isso, eles são encorajados a procurar
respostas alternativas às suas perguntas existenciais.
ALÉM DO ESPAÇO E DO TEMPO
Na visão sistêmica do mundo, e em conseqüência da
saúde, toda doença é um fenômeno mental e, em muitos casos, o
processo de adoecer é invertido de modo eficaz através da abordagem que integra
terapias físicas e psicológicas. Jung foi quem levou a psicologia a essa área.
Rompendo com Freud, abandonou os conceitos clássicos da psicanálise e
desenvolveu outros perfeitamente compatíveis com a física atual e a teoria dos
sistemas. Em estreito contato com os mais eminentes físicos de seu tempo,
estava perfeitamente ciente dessas semelhanças. São proféticas suas
palavras: “Mais cedo ou mais tarde, a física nuclear e a psicologia do
inconsciente se aproximarão cada vez mais, já que ambas, independentes e vindo
de direções opostas, avançam para território transcendental. Psique e matéria,
uma participa da outra, pois, não fosse assim, qualquer interação seria
impossível. E, à medida que as pesquisas avançam, aumenta essa concordância
entre os conceitos fisiológicos e psicológicos”.
Jung distinguiu duas áreas na psique inconsciente:
um inconsciente pessoal, do indivíduo, e um inconsciente coletivo,
comum a toda a humanidade. Segundo ele, “a mente consciente emana de um
inconsciente que é mais antigo do que ela e que funciona com ela e mesmo apesar
dela”. O inconsciente coletivo vincula o indivíduo a toda a
humanidade; mais ainda, ao universo todo, concepção não entendida dentro dos
conceitos da física anterior, mas totalmente compatível com a visão sistêmica
da mente, introduzida pela física quântica. Os arquétipos de Jung estão
inseridos numa teia de relações, na qual cada arquétipo envolve todos os
outros, e todos os eventos se interligam e se influenciam.
Jung convenceu-se, por suas próprias experiências
religiosas, da realidade da dimensão espiritual da vida. Para ele, a religião e
a mitologia constituem fonte inesgotável de informações sobre o inconsciente
coletivo, e concluiu que a espiritualidade pura é parte integrante da psique
humana. Afirmou que os padrões psicológicos estão ligados não só causal,
mas também não-causalmente. Introduziu o termo “sincronicidade” para as
conexões não-causais entre imagens simbólicas da psique e eventos do mundo
exterior, conexões que considerava exemplos de um estado de “ordem não-causal”
(fora do espaço-tempo) na mente e na matéria. Hoje, trinta anos após, esse
ponto de vista está sendo apoiado por conquistas na física quântica, que
indicam um estado de conexão ordenada, conceito central nessa física, e os
físicos admitem a existência de conexões não-locais, não-causais e, portanto
além do espaço-tempo; neste, todas as conexões são locais, causais. Além
disso, matéria e mente são cada vez mais reconhecidas como reflexos
recíprocos.
Para Jung, a mente é um sistema auto-organizador, e
a neurose, um processo pelo qual esse sistema tenta superar os obstáculos que o
impedem de funcionar como um todo integrado, processo que objetiva o
desenvolvimento pessoal. Consiste na integração dos aspectos conscientes e
inconscientes da psique, que levará à experiência de um novo centro da
personalidade (uma nova e maior identidade). Cabe ao terapeuta apoiar esse
processo, procurando uma interação entre seu inconsciente e o do paciente. Jung
dizia: “não reagimos somente com nossa consciência, mas também com o
inconsciente. Devemos nos perguntar sempre: como meu inconsciente está vivendo esta
situação? Cumpre-nos observar nossos sonhos e estudar a nós mesmos tão
cuidadosamente como fazemos com o paciente (pois o inconsciente é coletivo)”.
Por seu interesse na espiritualidade, esoterismo e misticismo, Jung não foi
levado a sério nos círculos psicanalíticos, atitude que hoje está mudando em
face da crescente compatibilidade entre sua psicologia e a ciência quântica.
Maslow, como Jung, rejeitou a idéia de Freud de que
a humanidade é dominada por instintos inferiores e que estes constituem o
inconsciente pessoal. Interessado no crescimento pessoal, a que chamou
“auto-realização”, passou a estudar pessoas que tinham experiências
transcendentes espontâneas. Depois, os aspectos espirituais que favoreciam a
auto-realização conquistaram o interesse da psicologia, que passou a estudar
estados alterados de consciência, o que muito aproximou a psicologia
transpessoal das tradições místicas orientais. Hoje, surge uma nova psicologia
compatível com a visão sistêmica da vida e harmonizada com as concepções
místicas, e numerosos psicólogos transpessoais estão trabalhando no
sentido de colocar a psicologia na busca espiritual, não mais considerando
que a espiritualidade é baseada em superstições primitivas, aberrações
patológicas ou crenças falsas insufladas pela cultura.
A visão sistêmica afirma que, não podendo o
organismo físico ser entendido se analisado em partes separadas, as
propriedades e funções da psique não podem ser entendidas se reduzidas a
elementos separados. A nossa visão fragmentada da realidade, além de ser
obstáculo para a compreensão da mente, é também aspecto característico da
doença mental, surgindo sempre de falha da integração dos vários componentes do
organismo total (corpo e mente). Sob esse ponto de vista, a divisão cartesiana
entre corpo e mente e a crença na separação entre os indivíduos e seu meio
ambiente, parecem ser sintomas de uma doença mental coletiva compartilhada pela
maior parte da cultura ocidental (cultura prostituta), como são, de fato,
freqüentemente considerados por outras culturas.
O Ponto de Mutação
........................... comtinuação...........
... (cultura prostituta), como são, de fato, freqüentemente considerados por
outras culturas.
Seguindo Jung e Reich, muitos psicólogos e
psicoterapeutas passaram a conceber a dinâmica mental como um fluxo de energia,
acreditando que essa dinâmica reflete uma inteligência própria que habilita a
psique não só a criar a doença mental, mas também a curá-la. O crescimento
interior e a auto-realização espiritual são considerados essenciais à dinâmica
da psique humana, em pleno acordo com a ênfase na autotranscendência da visão
sistêmica de vida e com o misticismo.
Atualmente, tem crescido a consciência de que,
freqüentemente, muitas doenças mentais têm origem em anormalidades nas relações
sociais. Daí a tendência para terapias de grupo e de família.
Um dos sistemas mais abrangestes dedicado a integrar
diferentes escolas psicológicas é a psicologia do espectro da consciência humana
proposta por Ken Wilber, que une as psicologias ocidentais e orientais. Cada
nível desse espectro caracteriza-se por um diferente sentimento de identidade,
desde a identidade drasticamente limitada do ego, até a suprema identidade com
a consciência cósmica. As experiências transpessoais envolvem uma
expansão da consciência para além das fronteiras convencionais do ego e, assim,
para um sentido mais amplo de identidade. Podem, também, envolver
percepções (PSE) do meio ambiente que transcendem as limitações usuais da
percepção sensorial.
O nível transpessoal é o nível do inconsciente
coletivo e fenômenos a ele associados. Ali, o indivíduo percebe a
realidade do cosmo como um todo, numa forma de consciência que transcende o
raciocínio lógico e a análise intelectual, aproximando-se da experiência
mística direta da realidade. Na extremidade do espectro, o nível
transpessoal funde-se ao nível do Espírito (da Mente). É o nível da consciência
cósmica no qual o indivíduo se identifica com o universo inteiro e se
torna a realidade; é o verdadeiroestado místico, no qual todas as fronteiras
e dualismos são transcendidos e toda individualidade se dissolve na unicidade
universal. Esse nível é a preocupação preponderante das tradições
místicas do Oriente e do Ocidente, que enfatizam que as identidades associadas
aos demais níveis de consciência são ilusórias. No nível da Mente (na
auto-realização), a pessoa encontra sua identidade suprema, que é a própria
divindade, Deus.
A psicoterapia de Grof é original, pois envolve
experiências perinatais numa revivência extremamente realista e autêntica das
várias fases do processo de nascimento de uma pessoa - a serena bem-aventurança
no ventre em absoluta união com a mãe; as perturbações dessa paz por
substâncias tóxicas e contrações musculares; a condição de “sem saída” da
primeira fase do parto, o colo do útero ainda fechado e as contrações
repercutindo no feto, proporcionando situação de claustrofobia acompanhada de
intenso desconforto físico; a propulsão pelo canal natalino, numa luta enorme
pela sobrevivência sob pressões esmagadoras, freqüentemente com um elevado grau
de sufocação; e, finalmente, o súbito alivio e relaxamento, o primeiro fôlego,
e o corte do cordão umbilical completando a separação física da mãe. Há,
impressionantemente, estreita relação entre essas experiências de
nascimento e as experiências de morte.
O encontro entre nascimento e morte no decorrer da
psicoterapia equivale freqüentemente a uma verdadeira crise existencial,
forçando a pessoa a examinar seriamente o significado de sua vida e seus
valores. Ambições mundanas, impulsos competitivos, ânsia de status,
poder ou bens materiais, tudo tende a dissipar-se quando visto contra o pano de
fundo da morte potencialmente iminente. Como ensinou Castañeda, abandonamos uma
quantidade imensa de mesquinhez quando a morte nos acena; a morte é a única
conselheira sábia que possuímos.
A única maneira de superar o dilema existencial
da condição humana é, em última análise, transcendê-lo, vivendo nossa
existência dentro de um mais amplo contexto cósmico. Isso só é
conseguido com as experiências transpessoais, vindas pela meditação, que podem
oferecer profundos insights sobre a importância e a natureza da dimensão
espiritual da consciência. Podem, também, envolver fenômenos paranormais,
inegavelmente difíceis de interpretar pelo pensamento racional e pela análise
científica. De fato, parece existir uma relação complementar entre fenômenos
paranormais e o método cientifico. Aqueles parecem manifestar-se em toda sua
força somente fora dos limites do pensamento analítico, e progressivamente
diminuir à medida que sua observação e análise vão ficando mais científicas.
Realmente, os modelos de Wilber e Grof indicam que a compreensão
essencial da consciência humana situa-se além das palavras e conceitos.
Na abordagem sistêmica, a doença mental é fenômeno
que sempre envolve interdependentes aspectos físicos, psicológicos e sociais.
Diferentemente das neuroses, que são distúrbios nervosos mais simples,
desordens mais sérias como as psicoses e a esquizofrenia (=mente dividida), não
podem ser plenamente compreendidas se não forem considerados os níveis
biossocial, existencial e transpessoal da psique (ver Wilber em ‘O Espectro da
Consciência’).
A maioria dos tratamentos psiquiátricos atuais
procura eliminar os sintomas com o uso de drogas psicoativas, abordagem que não
ajudou os psiquiatras a entenderem melhor a doença mental, nem permitiu aos
pacientes resolverem seus problemas subjacentes. Em vista dessas deficiências,
numerosos psicólogos e psiquiatras desenvolveram uma visão sistêmica dos
distúrbios psicóticos que leva em conta as múltiplas facetas da doença mental
(social, cultural, existencial, ambiental, etc). Atualmente, muitas pessoas são
diagnosticadas como doentes mentais não com base em seu comportamento, mas no
conteúdo de suas experiências, concepção errônea pois a nova definição do que é
normal ou patológico não se baseia no conteúdo das experiências de uma pessoa,
mas no modo como elas são manipuladas e no grau em que ela é capaz de integrar
à sua vida essas experiências incomuns, fato crucial para a saúde mental.
Pesquisas revelam que a ocorrência espontânea desse tipo de experiências da
realidade é muito mais freqüente do que suspeita a psiquiatria. São claramente
de natureza transpessoal e estão em evidente contradição com todo o senso comum
e com a visão clássica ocidental, sendo muitas delas bem conhecidas dos
místicos, pois ocorrem freqüentemente na meditação profunda.
A incapacidade de algumas pessoas para integrar
experiências transpessoais é agravada por um ambiente hostil a isso. Em face da
cultura local, se sentem isoladas e incapazes de compartilhar a experiência. O
medo, que pode ser esmagador, mais do que qualquer outra coisa, é que produz
muitos dos sinais de “insanidade”. O sentimento de isolamento e a perspectiva
de hostilidade (advinda dos demais) são ainda mais acentuados pelo tratamento,
que envolve, com freqüência, exames humilhantes, diagnóstico estigmatizante e
hospitalização forçada, invalidando por completo a pessoa como ser humano. Como
afirmou um pesquisador, “nada pode transmitir a sensação esmagadora que invade
a pessoa que é continuamente exposta à despersonalização do hospital
psiquiátrico”. No caso da esquizofrenia, estudos mostram que a pessoa assim
diagnosticada faz parte, quase sem exceção, de uma rede de padrões extremamente
perturbados de comunicação no seio da família. A doença é, realmente, um
distúrbio de todo o sistema familiar.
Bateson apurou que a esquizofrenia representa uma
estratégia especial que a pessoa “inventa para conseguir viver uma situação
insustentável, uma situação em que ela “nunca pode vencer”. Mensagens
contraditórias verbais e não-verbais de um ou de ambos os pais, podem provocar
na criança a situação de duplo vínculo, pois ambas as mensagens implicam
punição ou ameaça à sua segurança emocional. Ou o comportamento esquizofrênico
pode ser reconhecido como reação contra severo estresse social, esforços
desesperados da pessoa para manter sua integridade em face de pressões
paradoxais e contraditórias. Laing: “Hoje, uma criança tem dez vezes mais
probabilidades de ingressar num hospital psiquiátrico do que numa universidade.
Isso pode ser indicação de que estamos conduzindo nossas crianças à loucura com
mais eficácia do que as estamos educando. Talvez seja mesmo nosso método de
educá-las que as está levando à loucura”.
O Ponto de Mutação
........................ emfim, o fim.......
A própria cultura é fator do desenvolvimento da
doença mental: gera grande parcela de ansiedade que culmina num comportamento
psicótico, e fixa normas para o que é ou não considerado são. Em nossa
cultura, os critérios usados para definir saúde mental, como sentimento de
identidade, reconhecimento do tempo e do espaço, auto-imagem, percepção do meio
ambiente etc, requerem que as percepções e concepções de uma pessoa sejam
compatíveis com a estrutura cartesiana, considerada a única descrição
verdadeira da realidade. Essa atitude restritiva reflete-se nos procedimentos
dos profissionais ligados à saúde mental. Perceber a realidade exclusivamente
no modo transpessoal é considerado incompatível com a sobrevivência no mundo de
hoje; vivenciar uma mistura incoerente da forma considerada normal de viver e
do modo transpessoal, sem integrá-los, é psicótico. Entretanto, viver
limitado à forma cartesiana é loucura, a loucura de nossa cultura. Esta pode
não apresentar sintomas, mas não pode ser considerada produtora de mentes
saudáveis (para a saúde mental ótima, o transpessoal deve
harmonizar-se com o modo considerado normal de viver).
Muitos se concentram em explorar o mundo externo
e medem seu padrão de vida pela quantidade de bens materiais, enquanto se
tornam cada vez mais alienados do mundo interior e incapazes de
apreciar o processo da vida. Para eles nenhum tipo de riqueza, poder ou fama,
trará satisfação verdadeira, sendo, por isso, invadidos por um sentimento de
insignificância, futilidade, vazio e até de absurdo, que nenhum tipo de êxito
externo pode eliminar (problemas existenciais). (Krishnamurti: o ser humano é,
naturalmente, insano, corrupto e insalubre). Os sintomas dessa verdadeira
loucura cultural predominam em todas as nossas instituições acadêmicas,
empresariais e políticas, sendo, talvez, a corrida às armas nucleares a mais
psicótica de suas manifestações.
A saúde mental genuína envolve uma interação
equilibrada com a sociedade e com a natureza (na qual a preocupação com os bens
materiais não deve ser obsessiva), uma atitude afirmativa em face da vida e
uma profunda consciência da dimensão espiritual da existência. Esses
conceitos foram enfatizados ao longo dos tempos por santos e sábios que
vivenciaram a realidade transpessoal (a verdade que liberta). É fato que
as experiências desses místicos são, com freqüência, muito semelhantes às dos
esquizofrênicos. Mas, os místicos não são considerados loucos, porque sabem
integrar suas experiências às suas formas ordinárias de consciência. Por isso
Laing afirmou: “Místicos e esquizofrênicos estão no mesmo oceano; mas os
místicos nadam, ao passo que os esquizofrênicos se afogam”. Na
extremidade profunda do transpessoal, a que Wilber chama Nível da Mente (ou
Consciência Una, ou Deus), os objetivos da terapia transpessoal confundem-se
com os objetivos do misticismo.
As doenças mentais envolvem freqüentemente o
surgimento espontâneo de experiências incomuns, e a melhor terapia consiste em
criar um ambiente de compreensão e apoio que permita a ocorrência dessas
experiências. Uma vez iniciada, uma crise esquizofrênica parece ter um curso
tão definido quanto um ritual. Os terapeutas que favorecem tal abordagem têm
observado que o drama, que é parte do processo de cura, parece desenrolar-se
numa seqüência ordenada de eventos como uma viagem pelo mundo interior do
paciente, como se este tivesse um percurso a percorrer, viagem que só terminará
com seu retorno ao mundo normal, ao qual ele volta com insights diferentes dos
apresentados pelos que não fizeram a mesma viagem. Em vez de suprimir os
sintomas, as novas terapias os intensificam para produzir a experiência
completa, o que pode resultar na integração do consciente (que estava dividido)
e na cura final do paciente.
Grof usou a hiper-aeração, música evocativa e trabalho
com o corpo numa terapia que pode induzir surpreendentes e intensas
experiências após um período relativamente curto de respiração rápida e
profunda. O paciente deve concentrar-se na respiração e noutros processos
físicos no interior do corpo, e desligar-se ao máximo de toda análise
intelectual, entregando-se às sensações e emoções. Na maioria dos casos, a
atenção à respiração e à música levam, por si só, à dissolução dos problemas
apresentados.
A terapia mental deixou de ser considerada um tratamento,
para ser vista como uma auto-exploração. Terapeuta e paciente devem deixar de
lado, o quanto possível, seus pensamentos, lembranças, pressentimentos e
expectativas, durante todo o processo terapêutico (isto é, deixar de lado o
ego). A teimosia em acreditar na concepção cartesiana da realidade, na
noção linear de tempo ou no velho conceito de causa e efeito, pode ser grave
obstáculo ao surgimento das experiências transpessoais, prejudicando toda a
terapia. Grof afirmou que os psicoterapeutas serão muito mais bem sucedidos
se conhecerem o novo modelo que está nascendo da física quântica, da biologia
sistêmica e da psicologia transpessoal.
A SABEDORIA DA NATUREZA
A sabedoria sistêmica baseia-se num profundo
respeito pela sabedoria da natureza, a qual é totalmente compatível com os
conceitos da ecologia como é concebida atualmente. Nosso meio ambiente natural
consiste de ecossistemas habitados por incontáveis organismos que co-evoluíram
durante bilhões de anos, usando e reciclando continuamente as mesmas moléculas
de solo, água e ar. Seus princípios organizadores são considerados superiores
aos da tecnologia humana baseados em invenções recentes. A visão da sabedoria
da natureza é apoiada pela concepção atual de que a auto-organização dos ecossistemas
é basicamente a mesma que a dos organismos vivos, o que nos força compreender
que nosso meio ambiente natural é não só vivo, mas também inteligente. A
inteligência dos ecossistemas, ao contrário de tantas instituições humanas,
manifesta-se na tendência predominante de estabelecer relações de cooperação
que facilitam a integração harmoniosa dos componentes sistêmicos em todos os
níveis de organização (moléculas, células, órgãos, organismos, espécies,
grupos, famílias, sociedades, raças etc.).
Nosso planeta está hoje tão densamente povoado que
virtualmente todos os sistemas, até os econômicos, são interligados e
interdependentes. A nova visão da realidade é ecológica num sentido que vai
muito além das preocupações imediatas com a proteção ambiental. Filósofos e
cientistas distinguem “ecologia profunda” de “ambientalismo superficial”.
Enquanto este se preocupa com o controle e administração mais eficientes do
meio ambiente natural “em benefício do homem”, a ecologia profunda exige
mudanças radicais em nossa percepção do papel dos seres humanos no ecossistema
do planeta, e requer uma nova base filosófica e religiosa. A ecologia profunda
é apoiada pela ciência moderna, em especial pela nova abordagem sistêmica, mas
tem suas raízes numa percepção da realidade que transcende a estrutura
científica e atinge a consciência intuitiva da unicidade de toda a
vida, a interdependência e inter-relação de todas as suas múltiplas
manifestações e seus ciclos de mudança e transformação.Quando o conceito de mente
humana é entendido como o modo de consciência pelo qual o homem se sente ligado
ao universo como um todo, torna-se evidente que a consciência ecológica é
verdadeiramente espiritual.
A estrutura filosófica e espiritual da ecologia
profunda não é nova, pois foi exposta muitas vezes ao longo da historia pelas
grandes tradições espirituais. Do taoísmo: ‘Aqueles que seguem a ordem natural
fluem na corrente do Tao’. Heráclito, na Grécia, e depois, o místico cristão
Francisco de Assis, ensinaram a mesma filosofia. Portanto, o movimento
ecológico não é novo. O que é novo, talvez, é a ampliação da visão ecológica
para um nível planetário, apoiada pela poderosa experiência dos astronautas e
expressa em imagens como “nave espacial Terra”, “toda a Terra”, e “pense
globalmente e atue localmente”. Assim, milhões de americanos abandonaram suas
boas posições na economia e reduziram drasticamente suas rendas, para a busca
de um estilo de vida mais simples, preocupados por um consumo sem exageros,
consciência ecológica e crescimento interior, fato que tem
ocorrido, também, em outros países.
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