Amigos, para ler e refletir; há
muito mais do q isso, inclusive na ciência moderna.
ILUMINAÇÃO (Tentativas de explicar e testemunhos).
Para que alguém possa ingressar na Consciência Cósmica precisa pertencer
à camada superior do mundo da autoconsciência. Não que precise ter inteligência
extraordinária (isso tem sido muito valorizado no pensamento de todos, mas não
é verdade), embora não deva ser deficiente nesse aspecto.
Richard Maurice Bucke, psiquiatra canadense, que passou pela
experiência, tenta explicar a iluminação (“Consciência Cósmica”):
“Ela está além das palavras e símbolos”
(Paulo: “vi e ouvi coisas indizíveis”; Buda: “perguntas sobre isso são
irrelevantes; venha e tenha sua própria experiência!”):
a) a pessoa, de repente, sem aviso, tem a sensação de estar mergulhada
numa chama ou nuvem cor de rosa ou avermelhada, ou de que sua mente está
preenchida por essa nuvem;
b) no mesmo instante, se vê banhada por uma emoção de alegria,
confiança, triunfo, salvação (esta palavra não representa exatamente o que
significa a coisa, mas é a convicção de que a salvação não é necessária, pois o
esquema do universo já é nesse sentido. É um êxtase muito além de tudo
imaginado. Isso foi relatado em todos os tempos por aqueles que passaram por
ele. Assim, Gautama (o Buda), em seus discursos, preservados pelos Sutras;
Jesus (o Cristo), em seus sermões e parábolas; Paulo, nas Epistolas; Dante, no
Purgatório e no Paraíso; Shakespeare, nos Sonetos; Balzac, em Serafita;
Whitman, em Folhas da Relva; Eduard Carpenter, em Rumo à Democracia; Pascal, em
seu Amuleto Místico e muitos outros mais);
c) simultaneamente, recebe uma iluminação intelectual impossível de ser
descrita. Como um raio, apresenta-se à sua consciência uma concepção clara que
lhe dá o significado e direção do universo. A pessoa não passa simplesmente a
crer, mas vê e sabe que o cosmos não é matéria morta, mas presença viva. Que os
seres sencientes são partículas de morte relativa num oceano infinito de vida.
Vê que a vida do homem é eterna; que a alma do homem é tão imortal quanto Deus.
Que o universo é construído e ordenado de tal forma que, sem sombra de dúvida,
todas as coisas funcionam juntas para o bem de todos; que o principio criador
do mundo é o que chamamos amor e que a felicidade de todos é absolutamente
certa. A pessoa conhecerá, em alguns instantes de duração dessa experiência,
mais do que poderia conhecer em muitos anos com os melhores mestres. Aprenderá
o que nenhum estudo jamais ensinou nem poderá ensinar. Obtém, sobretudo, uma
concepção da totalidade (do Todo, da unicidade) que excede a qualquer outra
concepção, imaginação ou especulação. Tal concepção torna velhas,
insignificantes e até ridículas todas as tentativas anteriores de apreender o
significado do universo e seu sentido. Os mistérios maiores não lhe são
revelados: ele os contempla. Vê a origem de todos eles, de todos os contrastes
e princípios discordantes, de toda dureza e suavidade, severidade e brandura,
doçura e amargor, amor e sofrimento, bem e ‘mal’, céu e inferno. Junto com essa
elevação moral e iluminação intelectual surge uma consciência de imortalidade.
É muito mais do q uma convicção, é muito mais simples e elementar; é uma
certeza absoluta e total de que sempre foi assim. O medo da morte, que faz
sofrer a todos, cai como um manto velho, não como resultado do raciocínio, mas
simplesmente desaparece. O mesmo acontece com a noção de pecado; não que a
pessoa agora escape do pecado, mas ela deixa de ver no mundo qualquer pecado do
qual deva escapar. Essa iluminação é como deslumbrante relâmpago numa noite
escura que ilumina tudo que se acha oculto à mente; é a visão total. Mesmo a aparência
da pessoa pode se tornar semelhante à de quem está sob intensa alegria (Moisés,
Jesus, Francisco de Assis, Whitman...). Há uma gigantesca ampliação da
consciência e das faculdades intelectuais independentemente de qualquer
processo de aprendizado. O individuo percebe que absolutamente não é um
individuo ou um ‘eu’ separado, uma consciência separada das demais e do mundo
(q tudo é Um). Adquire, instantaneamente, uma capacidade infinitamente maior de
conhecimento e de iniciativa para praticar qualquer ação (sabedoria). Sabe que
o universo está construído para a felicidade de todos; que a existência
continua para além do que chamamos morte.
Resumindo: “1) luz subjetiva; 2) elevação moral; 3) iluminação
intelectual; 4) consciência de imortalidade; 5) perda do medo da morte; 6)
perda da noção de pecado; 7) desponta subitamente; 8) o fascínio adquirido pela
personalidade que faz com que os demais se sintam atraídos por ela; 9) a
aparência de ‘transfiguração’, muitas vezes percebida pelos outros; 10) com
tudo isso vem uma certeza esmagadora de que o universo, exatamente como sempre
foi e como é neste momento, é tão completamente correto e perfeito que não
necessita de qualquer explicação ou justificativas além da de que ele
simplesmente é. A existência não apenas deixa de ser um problema; a mente fica
tão maravilhada diante de tudo, das coisas e fatos, incluindo até aquilo que,
comumente, seria considerado ‘o pior’, que não consegue encontrar palavras para
expressar a perfeição e a beleza da experiência. Vem-lhe a impressão de que o
mundo se tornou luminoso e transparente, enquanto sua simplicidade dá a
impressão de que tudo é ordenado por uma inteligência suprema. É comum perceber
que todo o mundo se tornou seu próprio corpo e que o indivíduo sente que aquilo
que ele é, não se tornou assim com a experiência, mas que sempre foi aquilo que
tudo o mais é. Percebe que a existência individual é apenas um ponto de vista
adotado por “alguma coisa” desmedidamente maior do que ele mesmo. O cerne da
experiência parece ser a convicção ou compreensão de que o “agora” imediato,
seja qual for sua natureza, é a meta e a realização de todo o viver. Êxtase
emocional, sensação de profundo alivio, liberdade e leveza e, com freqüência,
um amor quase insuportável pelo mundo, fluem dessa percepção. E a compreensão
disso tudo nunca se apaga”.
....................................
William James, um dos mais célebres psicólogos e filósofos da América,
fundador da moderna ciência da psicologia, e profundo investigador da
psicologia da experiência religiosa ou mística: “O próprio céu pareceu se abrir
e lançar raios de luz e glória. Não apenas por um momento, mas durante todo o
dia e toda a noite, torrentes de luz e gloria pareciam me inundar a alma e,
oh!, como fui transformado, e tudo se tornou novo. Todas as coisas me pareciam
diferentes, mas eram as mesmas coisas de sempre.
Voltei para a sala e ia me sentar quando a visão mudou. Abriu-se uma
grande clareira e o chão parecia ceder... Olhei em derredor, para cima e para
baixo, e todo o universo com seus múltiplos objetos percebidos pelos sentidos,
parecia agora bastante diferente; o que era antes abominável ou detestável, juntamente
com a ignorância e as paixões, agora nada mais era do que o fluxo de minha
própria natureza profunda, que em si mesma continuava a ser brilhante,
verdadeira e transparente”.
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Richard Maurice Bucke (complementando): ‘De súbito, sem qualquer aviso,
vi-me envolvido por uma nuvem rubra. Por um instante pensei em fogo, um grande
incêndio na grande cidade. Em seguida, conheci que o fogo estava dentro de mim.
Logo depois me senti exultante, uma alegria imensa, acompanhada de uma
iluminação intelectual impossível de descrever. Entre outras coisas, não passei
apenas a acreditar, mas vi que o universo não é uma coisa morta, porém, ao
contrário, é uma presença viva; tomei consciência da vida eterna em mim mesmo.
Não era uma convicção de que eu teria a vida eterna, mas a convicção de que
sempre tive vida eterna. Vi que todos os homens são imortais; que a ordem
cósmica é tamanha que, sem sombra de dúvida, todas as coisas funcionam juntas
para o bem de tudo e de todos; que o principio do mundo e de todos os mundos é
o que chamamos amor e que a felicidade de todos é absolutamente certa”.
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‘Se você compreende, as coisas são como são; Se você não compreende, as coisas
são como são’ (do Zen). ‘Quem puder compreender, compreenda!’ (Jesus); ‘Não
pergunte nada! Venha e tenha sua própria experiência!’ (Buda).
...................
“O
homem é infeliz porq não sabe que é feliz. Apenas isso. Isso é tudo, isso é
tudo! Se alguém descobre que será completamente feliz em curto tempo, ou imediatamente,
nesse mesmo instante ele deixará de ser infeliz. Está tudo bem. Eu descobri
isso repentinamente. Me perguntaram ‘e se alguém morre de fome, e se alguém
insulta e maltrata um inocente, uma criança, está tudo bem?’ ‘Sim! E se alguém
estoura os miolos por causa da namorada, está tudo bem. E se alguém não faz
isso, também está tudo bem. Tudo está bem, tudo! Esta bem para todos que sabem
que está tudo bem. Se eles soubessem que está bem para eles, seria bom para
eles mas, enquanto não sabem que está bem, estará mal para eles. Esta é a
verdade, toda a verdade. Eles são maus porque não sabem que são bons. Quando
perceberem que são bons, não mais maltratarão uma menininha. Descobrirão que
são bons e eles se tornarão bons, todos eles!” (John White, cientista e
pesquisador nas áreas das para-ciências,
estados de consciência e desenvolvimento humano superior.).
Allan W. Watts (pesquisador e escritor sobre a natureza da realidade, alta consciência, sentido da vida, busca da felicidade, formação de um
novo homem): ‘Certa
noite, logo que comecei a estudar as filosofias hindu e chinesa, eu estava
sentado junto à lareira, tentando compreender qual seria a atitude mental
correta na meditação daquelas escolas. Diversas atitudes afiguravam-se
possíveis mas, como pareciam contraditórias, eu tentava sintetizá-las numa só;
em vão. Por fim, totalmente insatisfeito, decidi rejeitá-las todas e não
assumir uma atitude especifica. No impulso de abandoná-las parece que eu também
me abandonei pois, de súbito, o peso do meu corpo desapareceu. Senti que eu
nada possuía, nem mesmo uma personalidade, e que também nada me possuía. O
mundo inteiro tornou-se tão transparente e livre quanto minha própria mente; o
‘problema que a vida é’ simplesmente deixou de existir. E durante cerca de
dezoito horas eu e tudo à minha volta éramos como o vento soprando as folhas de
um campo num dia fresco de outono’.
‘Outra vez, eu andava tentando praticar a consciência constante do
presente imediato (do aqui-agora), diferente das divagações, lembranças e
expectativas habituais, quando alguém, certa noite, observou: ‘Mas porque
tentar viver no presente? Não estamos sempre exatamente no presente mesmo
quando estamos pensando no passado ou no futuro?’ Essa observação, na verdade
bastante óbvia, me produziu novamente a sensação repentina de não ter peso. Ao
mesmo tempo, o presente pareceu tornar-se uma espécie de quietude em movimento,
um fluxo eterno do qual nem eu nem nada podia se desviar. Vi que tudo,
exatamente como é agora, é toda a razão de existir a vida e o universo. Percebi
que, ao afirmarem ‘Tu és Isto!’ ou ‘Todo este mundo é Brahaman’, os Upanishades
estavam querendo dizer exatamente o que disseram. Cada coisa, cada fato, cada
experiência, em seu inevitável agora e com toda sua individualidade particular,
é precisamente o que deve ser, a ponto de adquirir uma autoridade e uma
originalidade divinas. Percebi com a mais plena clareza que nada disso dependia
do fato de, agora, eu estar vendo assim. É o modo como as coisas são, quer eu
compreenda ou não. ‘Isso também é Isto’. Senti que agora eu entendia o que o
cristianismo queria dizer com ‘Deus é amor’, isto é, que não obstante a
‘imperfeição’ das coisas, ainda assim Deus as amava exatamente como elas eram,
e que esse amor equivalia a divinizá-las. Dessa vez a sensação de leveza e
claridade durou toda uma semana’.
Eckhart, místico cristão: ‘Quanto mais Deus está em todas as coisas,
tanto mais está fora delas. Quanto mais Deus está fora, tanto mais está dentro’.
William Law: ‘Embora Deus esteja presente em toda parte, ele só está
presente para ti na região mais profunda de tua alma. Os sentidos naturais não
podem possuir Deus, nem unir-te a ele: na verdade as faculdades intrínsecas de
compreensão, raciocínio, imaginação, memória e vontade só podem procurar
alcançar Deus, mas não podem ser o local de sua morada em ti e nem podem encontrá-lo.
Existe, porém, em ti uma profundeza de onde emanam todas essas faculdades, como
raios que partem do centro de tua alma. Essa profundeza é a unidade, a
eternidade, a infinidade. Pois ela é tão infinita que nada pode satisfazê-la ou
dar-lhe descanso senão a infinidade de Deus’.
Plotino: ‘Cada ser contém em si mesmo todo o universo. Portanto, Tudo
está em toda parte. Cada um é Tudo e Tudo é cada um’.
‘A natureza da Realidade deve ser conhecida
pela nossa percepção clara; não pode ser conhecida por mais ninguém, seja um
sábio ou um mestre’.
‘A
libertação só pode ser alcançada pela percepção da identidade do espírito
individual com o Espírito Universal (‘Eu e o Pai somos um’). Por mais nada. Nem
pela pratica de cerimônias religiosas, nem por associar-se a qualquer religião
(Krishnamurti: ‘As religiões impedem o acesso à Verdade’)’.
‘Não
se cura a doença pela repetição do nome do medicamento, mas tomando o
medicamento. Assim, não se atinge a libertação repetindo a palavra Brahaman,
mas vivenciando Brahaman diretamente’.
‘Não
tem nome nem forma, transcende mérito e demérito, bem e mal, saúde e doença;
está alem do tempo, do espaço e dos objetos de nossa experiência. Supremo e
indizível ainda assim Brahman pode ser apreendido pelo olho que ‘vê’. Assim é
Brahman e ‘tu és Isto’. Medita nessa verdade dentro de tua consciência!’
‘A nossa ignorância é a causa de nossa identificação com o corpo, o ego,
os sentidos, a memória etc., com tudo que não é Atman. É sábio o homem que
supera essa ignorância pela devoção ao Atman. Os que raciocinam em vão, sem
compreender a verdade, estão perdidos na selva das ilusões, correndo a esmo na
tentativa de justificar sua opinião sobre a substância do ego’.
‘Em nossa natureza mais íntima, que não é a esfera dos que se entregam
ao raciocino, está a pureza de Buda. Pura em sua natureza e livre da categoria
do finito e infinito, a mente universal é Buda (Deus), imaculado e erroneamente
percebido pelos seres sencientes’.
‘Meu ser está em união com Buda. E ele está além do louvor e da censura.
Como o espaço, ele não tem limites e está aqui mesmo dentro de nós, mantendo
para sempre sua plenitude e infinidade. Só quando o buscas é que o perdes. Não
podes possuí-lo, mas tampouco podes livrar-te dele. E, enquanto nada possas
fazer, ele segue seu próprio caminho. Se falas ele permanece mudo; se guardas
silencio ele fala (meditação). O grande portal da Luz está sempre inteiramente
aberto, sem nenhum obstáculo à frente; o único obstáculo és tu mesmo (o
‘eu/ego/mente individual ou local’), que não emudeces’. (Yung-Chin).
‘Contempla só Uma em todas as coisas; a segunda é que te extravia’
(Kabir).
‘A
doença da humanidade é ver dois onde só há um’.
‘O meu eu é Deus e não reconheço outro Eu senão meu Deus’ (Santa
Catarina de Gênova).
‘Se a alma difere de Deus, a alma difere de si mesma’ (São Bernardo).
‘Para compreender a alma temos que compreendê-la como Deus, pois o
fundamento (a essência) de Deus e o fundamento (a essência) da alma são uma só
coisa’ (Eckhart, místico cristão).
‘O conhecedor, o conhecido e o conhecimento são uma coisa só. As pessoas
simples imaginam que Deus está lá e elas aqui. Não é assim. Deus e eu somos um
só, e percebemos isso no instante de conhecê-lo’ (Eckhart, místico cristão).
‘Eu vivo, mas não sou eu que vivo; é o Cristo que vive em mim’. (Paulo).
‘O bem não precisa adentrar a alma, pois já se encontra lá, embora não
percebido por nós’. (Teologia alemã).
‘Quando vemos todas as coisas em sua unicidade, voltamos à origem e
permanecemos onde sempre estivemos’ (Sen T’Sen).
‘Por não saber quem somos, pois não temos consciência de que Deus está
dentro de nós, procedemos de maneiras geralmente tolas, insensatas e até
criminosas, e tão caracteristicamente humanas. Somos salvos e libertados ao
perceber o Deus, (‘Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará’) ate então
despercebido, que já existe dentro de nós, e retornamos ao nosso fundamento
eterno e vemos que permanecemos onde sempre estivemos sem o saber’.
‘Existe em nossa alma algo que é mais glorioso, acima de tudo, disso e
daquilo, do céu e da terra. Ele é livre de todos os nomes e vazio de todas as
formas. É uno e simples, e nenhum homem, por mais sábio que seja, pode
contemplá-lo’ (John White).
‘O desconhecimento de Deus é o cativeiro; o conhecimento de Deus é a
liberdade e a sabedoria’ (Evelyn Underhill). (‘A verdade vos libertará’).
‘Queres que te mostre o que é Deus? Não acha paz aquele que de Deus está
apartado’ (Santa Catarina de Gênova).
‘Quando o amor (isto é, qdo a compreensão começa) de Deus toca a alma,
ele a encontra cheia de vícios e pecados; de início ele dá a ela um instinto de
virtude para incentivá-la à perfeição; depois, infundindo-lhe graça, a leva à
verdadeira auto-anulação (esquecimento do ego) e, finalmente, à real
transformação. Deus conduz a alma ao longo do caminho (Paulo: ‘É o Senhor que
opera em nós o pensar, o querer e o fazer’). Todavia, quando a alma chega ao
nada e é transformada, ela não trabalha, nem fala, nem deseja, nem sente, nem
ouve, nem compreende, nem tampouco nutre o sentimento do dentro e do fora, onde
pode se movimentar. Então, em todas as coisas, é Deus que a governa e a conduz
sem a mediação de nenhuma outra criatura. E o estado dessa alma é então um
sentimento de paz e tranqüilidade tão ilimitado que seu coração e seu ser
corpóreo, e tudo o que está dentro e fora, lhe parecem imersos num oceano de
serenidade, de onde ela jamais sairia para o que quer que pudesse lhe acontecer
na vida. E ela permanece imóvel, imperturbável, impassível a tal ponto que lhe
parece nada mais poder sentir além daquela mais doce paz, daquela
bem-aventurança’ (Santa Catarina).
‘Quem sou eu?’ é a eterna pergunta do homem. Essa busca de
autocompreensão, do significado último da personalidade, vem sendo respondida
ao longo da história de várias maneiras, todas apontando para uma experiência
na qual o buscador e o objeto de sua busca se fundem na percepção: ‘Eu sou
Deus; não existe outro’ (Meher Baba). ( Krishnamurti: ‘Sujeito e objeto são um
só’).
‘Você é a eterna condição subjacente a todas as condições, que jamais
nasceu e jamais morrerá, e de onde provém toda a criação. A essência de toda a
criação, Deus, está exatamente dentro de você, de todos nós, quanto está dentro
de tudo o mais; e tu és Isso!’ (Baba).
‘Não que você esteja exatamente dentro do cosmos – o cosmos é que está
exatamente dentro de você’ (Baba).
‘A busca é provocada pela ânsia de felicidade do homem e de sua procura
de um meio de escapar da armadilha que é a vida.
Não é sua culpa se ele supõe que a solução
para a sua profunda insatisfação reside numa vida sensual ou nas realizações
profissionais ou do mundo social, ou ainda em uma vida de experiências
excitantes. Tampouco é culpa sua se a vida, em geral, não é bastante longa para
ensinar-lhe, concretamente, que ele encontraria uma desilusão ainda maior e
mais profunda se esses objetivos fossem satisfeitos por completo.
O homem é impelido a essa busca pela
desilusão (desencanto) com as coisas mundanas que o fascinam e das quais não
consegue afastar o pensamento. Empenha-se o quanto pode em alcançar os prazeres
dos sentidos e em evitar todos os tipos de sofrimento.
Mas, enquanto ele atravessa dias, meses e anos das mais variadas
experiências, surge, com freqüência, uma ocasião em que ele começa a
questionar: ‘Qual a finalidade de tudo isso?’ E, incapaz de se contentar com as
coisas transitórias da vida, questionando, ele se torna totalmente cético em
relação aos valores habituais que até então aceitava sem hesitação.
E, nesse desespero, o homem toma a decisão de
descobrir e compreender o propósito da vida. É então que ele principia a
verdadeira busca, a busca dos prazeres duradouros (Baba).
‘Aqui está você, sentado nesta sala, me ouvindo e pensando que sua
presença aqui é real. Mas eu lhe garanto, você está apenas sonhando. Suponha
que esta noite você sonhe que está sentado aqui e, no sonho, alguém lhe diga
que você está apenas sonhando. Você retrucará: ‘Não estou sonhando; estou
realmente tendo a experiência de estar sentado aqui, ouvindo a palestra de Baba
com todas as pessoas que me cercam!’ Mas, pela manhã você acorda e vê, então,
que tudo foi um sonho. Pois, lhe afirmo, um dia também você ‘acordará’ e terá
certeza de que tudo o que você sempre fez não passou de um sonho. Eu sou Deus,
assim como cada um de vocês também é Deus. Mas, enquanto eu já acordei, vocês
continuam ainda dormindo e enredados em seus sonhos. Despertar do sonho da
separatividade e da limitação auto-imposta é o caminho místico, da libertação,
do encontro com Deus’. (Baba).
‘Existe uma só pergunta: ‘Quem sou eu?’ e, para essa pergunta só existe
uma resposta: ‘Eu sou Deus!’ E quando você conhecer a resposta a essa pergunta,
não há mais nada a perguntar (‘... a verdade vos libertará’). O problema é que
as pessoas não sabem quem realmente são. Você é o infinito, você está de fato
em toda parte; mas você acha que é o corpo, os sentidos, a memória e, por isso,
se acha limitado. Se você olhar para dentro de seu íntimo e vivenciar sua
própria alma em sua verdadeira natureza, você perceberá que é infinito e eterno
e que está além de toda criação’ (Baba).
‘Finda a busca, todas as dificuldades são
ofuscadas pela recompensa final. Os grilhões da individualidade limitada se
rompem; o mundo das sombras (ignorância) chega ao fim; o véu da ilusão (ego) é
removido para sempre. A agitação e a angústia torturante das buscas da
consciência limitada (do ego) são substituídas pela tranqüilidade e beatitude
da consciência ilimitada da Verdade. A inquietação, o frenesi e o sofrimento da
existência mundana são tragados pela paz da bem-aventurança e da eternidade’
(Baba) (Buda: ‘A iluminação é o fim de todo sofrimento’).
‘A experiência espiritual (mística) vai muito além do q pode ser
apreendido pelo intelecto, imaginação, raciocínio, pensamento. O misticismo
costuma ser considerado como algo antiintelectual, obscuro e confuso e até
patologia ou impraticável e sem relação com a experiência, mas, na verdade,
nada tem a ver com essas idéias. Nada existe de irracional no misticismo
verdadeiro, quando ele é como deve ser: uma visão ou comunhão com a Realidade.
É uma visão absolutamente clara, e tão prática que pode ser vivida em cada
momento da vida e expressar-se em todas as tarefas do dia-a-dia. Ele é a
compreensão final de todas as experiências’ (Baba).
‘Para a busca não é necessário ter um mapa completo do caminho para
iniciar a viagem. Ao contrário, a insistência em ter esse conhecimento completo
pode dificultar em vez de facilitar o caminho. Os segredos mais escondidos são
revelados àqueles que correm riscos e fazem experiências ousadas com ele. Não
se destinam ao ocioso que busca garantias a cada passo. Quem especula, na
praia, sobre o oceano conhece apenas sua superfície, mas quem deseja conhecer
suas profundezas precisa estar disposto a mergulhar nele’ (Baba).
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ILUMINAÇÃO 2 – Outros testemunhos
Sri Aurobindo: Foi caminhando no pátio da prisão onde, por ter sido, por
engano, confundido com um terrorista, esteve por certo tempo, que ele sentiu
uma mudança de consciência: ‘Contemplei a prisão que me separava dos homens, e
já não estava aprisionado por seus altos muros: era Vasudeva (Deus) que me
cercava. Caminhei sob os ramos da árvore diante de minha cela, mas ela já não
era mais a árvore. Eu sabia que era Krishna (Deus) que eu via ali,
estendendo-me sua sombra. Olhei para a grade de minha cela e novamente vi que a
grade era Deus. Era Deus que me guardava na figura da sentinela. Deitei sobre
os cobertores ordinários q me serviam de cama e senti que me aconchegava nos
braços de Deus. Olhei para os prisioneiros, os assassinos de todas as espécies
e vi que era Deus que eu encontrava naquelas almas entristecidas e naqueles
corpos maltratados. Quando fui a julgamento, com cerca de 200 testemunhas, já
não via a turba hostil nem os juízes, mas eu não os via senão como Vasudeva,
risonho. Tudo era Deus, que se tornou o próprio mundo.
Assim dizem os Upanishades: ‘Ele está em
todas as coisas e comanda todos os atos (Paulo: ‘É o Senhor q opera em nós o
pensar, o querer e o fazer’). Ele se tornou conhecimento e ignorância, verdade
e falsidade, bem e mal. Ele se tornou tudo que existe. Para o olho que ‘vê’,
tudo é Um, tudo é Vasudeva’.
‘Este mundo em que vivemos é um mundo de luta e labor, um mundo feroz,
perigoso, destrutivo, devorador, no qual, a cada passo, queiramos ou não, algo
é esmagado e destruído; no qual cada sopro de vida é também um sopro de morte.
Colocar a responsabilidade de tudo que nos parece mau ou terrível nos ombros de
um demônio semi-impotente, ou deixá-la de lado, como sendo parte da natureza,
criando uma oposição intransponível entre a natureza do mundo e a natureza de
Deus, como se a natureza fosse independente de Deus, ou ainda lançar a
responsabilidade sobre os homens e seus pecados, como se o homem tivesse voz
ativa na criação deste mundo ou pudesse criar algo contra a vontade de Deus,
tudo isso constitui estratagemas, artifícios cômodos... Erigimos, criamos,
imaginamos um Deus de amor e misericórdia, justo, probo e virtuoso de acordo
com as nossas concepções morais de justiça, virtude e retidão e, a todo o resto
dizemos ‘Não é Ele’ ou ‘Não é dele’, ‘não foi Deus quem fez isso’ etc., mas que
foi criado por um ser diabólico a quem, por um motivo qualquer, Ele permite
cumprir sua vontade perversa e funesta; ou então foi culpa do homem egoísta e
pecador, que estragou, pelo mau uso de seu livre-arbítrio, aquilo que foi
criado originalmente perfeito. Temos de encarar corajosamente a realidade e
perceber que foi Deus (aquilo a q chamamos Deus), e ninguém mais, que criou
este mundo em seu próprio ser (Paulo: ‘Em Deus vivemos e respiramos; Ele está
acima e abaixo, à frente e atrás, à direita e à esquerda, fora e dentro de
nós’) e o fez como ele é. Temos que ver que a Natureza devorando seus filhos, o
Tempo consumindo as vidas das criaturas, a Morte universal e inelutável e as
violências no homem e na natureza são também o supremo Ser Divino em uma de
suas representações cósmicas. Temos também de perceber que o Deus generoso,
amoroso, o criador e conservador prestimoso, forte e benévolo é também o Deus
devorador e destruidor. O sofrimento, a dor e o mal com que somos torturados é
também seu toque tanto quanto a felicidade, a suavidade e o prazer. Só quando
vemos com a visão de completa união e sentimos essa verdade no âmago de nosso
ser é que podemos descobrir totalmente, por trás dessa máscara, o rosto sereno
e formoso da Divindade bem-aventurada.
As discórdias do mundo são as discórdias de Deus, são a vontade de Deus,
e só aceitando-as e superando-as podemos ascender à concórdia maior de sua
suprema harmonia, à vastidão, à imensidade transcendente. Porque a Verdade é o
alicerce da verdadeira espiritualidade e coragem da alma’ (Aurobindo).
‘Tu és Ele’, eis a verdade eterna. ‘Tu és Isto’, ‘Eu sou Aquilo’, ‘Eu
sou Ele’, ‘Não conheço nenhum Deus senão meu próprio Eu’, ‘Conhece-te a ti
mesmo e serás Deus’, eis as verdades que todos os antigos mistérios ensinavam e
que, as religiões q vieram depois, se esqueceram de ensinar. Assim, também, ‘Eu
e o Pai somos Um’.
Jesus, o Cristo, também disse ‘Este é meu corpo e este é meu sangue’
escolhendo esses dois símbolos mais materiais, mais triviais e terrenos do pão
e do vinho para comunicar a idéia de que tudo é um corpo só, o corpo do divino?
(Aurobindo).
‘Quando Isto é conhecido, Tudo é conhecido’ (Upanishades).
Roger N. Walsh: ‘O grande psicólogo Gordon Alportt lamentava-se: ‘Nada
temos na psicologia acerca da libertação’. Ele lastimava o fato de a psicologia
clinica e a psiquiatria ocidentais serem essencialmente voltadas para a
patologia e terem poucos conhecimentos da saúde psicológica e, muito menos, da
‘iluminação’. Esses temas são bastante mal compreendidos. Muitos profissionais
da saúde mental ainda consideram fenômenos como a maturação psicológica além
das normas culturais, as experiências místicas e a iluminação como lendas na
melhor das hipóteses, e patológicas, na pior ‘regressão psicológica no caso mais
extremo, como descreve um conhecido tratado de psicologia.
‘Prazer e dor, louvor e censura, fama e vergonha, perda e ganho, mal e
bem, são a mesma coisa. Assim eu e você’ (Buda).
‘Todos os Budas e todos os seres sencientes nada mais são do que Mente
Universal. Acima e abaixo, fora e dentro de você, tudo existe espontaneamente,
pois nada existe fora da Mente Buda’ (Zen).
‘Vê esse sereno homem do Tão, que abandona o aprendizado e não se
empenha? Ele nem evita falsos pensamentos, nem busca a verdade, pois, na
verdade, o ‘desconhecimento’ é a natureza búdica, e este corpo ilusório e
mutável é o corpo da Verdade’ (Zen).
O
poeta americano Walt Whitman é um daqueles que tiveram vislumbres dessa
experiência, daquilo que chamamos iluminação ou consciência cósmica. Ele, como
outros que tiveram a mesma experiência, afirmou que ninguém conhece a verdade
pelo fato de freqüentar templos e cultos, nem por ouvir sermões que emocionam,
nem por pedir aos céus, ou por orar; nem por promessas ou por praticar as
virtudes pregadas pelas diferentes igrejas e crenças, ou por sacrifícios.
Como os místicos e os iluminados, ele afirma que, somente na solidão, no
silêncio do “eu”, na
perseverança da busca, é que nós podemos encontrar aquilo que é sagrado. E,
depois disso, vamos perceber que sermões, escrituras, sacrifícios, rituais,
cultos, ações, procedimentos, orações, promessas, isto é, exterioridades, não
têm qualquer valor; desaparecem como fumaça.
E
afirmou, também, que: “Enquanto estamos na escuridão, não compreendemos as
escrituras; quando chegamos à luz, elas não são mais necessárias”.
Pascal, conhecido matemático, cientista e escritor francês:
A
partir de certo dia, ele se afastou da sociedade e se tornou recluso em sua
própria casa (como Jesus, nas chamadas tentações, no deserto; Paulo, que foi
viver entre tecelões, depois de sua visão na estrada de Damasco, e outros que,
depois da experiência, se retiraram para, na solidão, tentar compreender o que
lhes havia ocorrido).
Depois de certo tempo, Pascal recomeçou a escrever, mas suas obras,
agora, tinham um caráter mais elevado, diferente das anteriores. Sua
compreensão de vida e de mundo tinha se modificado de maneira drástica. Quando
morreu, um criado encontrou, costurado com cuidado dentro da bainha de seu
gibão (túnica), um pergaminho onde estavam escritas as seguintes palavras:
“Ano da graça de 1654, segunda-feira, 23 de novembro... desde cerca das
dez e meia da noite até meia-noite e meia... FOGO, FOGO... transfiguração...
Deus de Abraão, Deus de Isaac, Deus de Jacob... Certeza, alegria, certeza,
sentimento de alegria e paz... Deus de Jesus Cristo, meu Deus e teu Deus... Esqueci-me do mundo e de tudo, exceto
de Deus. Ele só é encontrado nos caminhos dos Evangelhos... a GRANDEZA DA ALMA
HUMANA... agora vejo que ela é o próprio Deus. Pai justo, o mundo não te
conhece, mas eu te conheci. Alegria, alegria, alegria, lágrimas de alegria! Eu
não me separarei jamais de ti... Meu Deus, esta é a vida eterna que se ganha
depois de te conhecer, o único Deus verdadeiro, e aquele que tu enviaste - o
Cristo; com ele, tudo é Um... Renúncia total e doce... submissão total a
Cristo... eternamente em alegria por um momento de aprendizado sobre a terra...
jamais esquecerei o que hoje me ensinaste... Amém”.
Esse pergaminho existe até hoje. Recebeu o nome de “amuleto místico de
Pascal” e está na Biblioteca Nacional, em Paris.
Edward Carpenter: ‘... Acabados todos os sofrimentos, acabadas todas as
penas... abriu-se dentro de mim um profundo oceano de felicidade... todas as
coisas foram transfiguradas, cantando felicidade sem fim... Naquele dia, no dia
da tua libertação, ela virá a ti em lugar que desconheces, sem que saibas em
que tempo (como na parábola do ladrão)... tu, então, estarás livre para
sempre... (“... a verdade vos libertará”); deixa que a felicidade te invada...
a morte já não te separará daqueles a quem amas... o mundo da igualdade... da
felicidade total...’.
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