domingo, 24 de outubro de 2010

O QUE JESUS REALMENTE ENSINOU

(17) O QUE JESUS REALMENTE ENSINOU (Jan 2008)


(jcl-ribpreto-2006)



Infelizmente, os mais importantes ensinamentos de Jesus não são divulgados pelas igrejas cristãs. Nestas, ensina-se sobre a vida desse homem iluminado, mas quase nada sobre aquilo que ele, em seu tempo, tentou ensinar e fazer com que os discípulos e o povo compreendessem. Ele ensinou sobre o reino de Deus, enquanto as igrejas cristãs ensinam sobre sua vida.

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Jesus teve o percebimento de que ele era a própria divindade, ‘eu e o Pai somos um’. Compreendeu, então, e ensinou que o caminho é para dentro, para o interior do próprio ser humano, e mostrou isso ao afirmar, de modo claro, que ‘o eu é o caminho, a verdade e a vida’, como igualmente ensinaram outros, entre eles S. Agostinho ao dizer que, depois de muito procurar por Deus fora, nas coisas do mundo, foi encontrá-lo dentro dele mesmo.

Do mesmo modo, Teresa de Ávila dizia ser absurdo buscarmos Deus fora de nós, nos céus; que devíamos, antes, procurá-lo dentro de nós mesmos, pois é em nossa alma que o Senhor habita, como Paulo também falou: ‘O Altíssimo habita em vós’.

Jesus ensinou a nos fecharmos em nós mesmos (nada de fora a nos perturbar) e, em segredo, isto é, em silêncio total, inclusive mental, ‘orarmos’ ao Pai que, em segredo, ali dentro, nos ouve, mas essa oração não é aquilo que imaginamos ser. Como ensinou Teresa de Ávila, santa dos católicos, é a ‘oração de recolhimento’, na qual se recolhem todos os sentidos, lembranças, expectativas, enfim, todas as operações mentais; se bem realizada, entra-se na ‘oração de quietude’, na qual há total silêncio mental; o cérebro, a mente, cessam sua ação e o ego se afasta. E, quando o ‘eu não é, Deus é’. O único obstáculo para a aproximação do divino é o ego, com todas suas idiossincrasias (maneira própria de sentir, de compreender; lembranças, expectativas, ilusões, crenças, ignorância, remorsos, emoções, culpas, desejos, medos), que poluem a consciência localizada (individual), não permitindo que ela perceba a divindade que nela habita.

Jesus disse: ‘ninguém vai ao Pai senão por mim (pelo Eu)’, e ‘eu sou (o Eu é) o caminho, a verdade e a vida’, isto é, no Eu está o caminho, que é, pois, para dentro de nós mesmos; aí está a verdade e a vida. Ele falou também: ‘não direis que o reino está ali ou acolá, pois o reino de Deus já está dentro de vós’, como Paulo, que disse muitas vezes: ‘não sabeis que sois o templo do Altíssimo e que o Altíssimo habita em vós?’

As igrejas esqueceram esses ensinamentos e se ativeram à história da vida de Jesus, não transmitindo as coisas profundas que Jesus tentava comunicar ao povo. No cristianismo primitivo, o cristianismo dos primeiros séculos, o objetivo primordial da religião era re-ligar a criatura ao Criador, isto é, levar o ser humano à união pessoal com Deus, através da ‘oração de recolhimento’ e da ‘oração de quietude’, que a santa dos católicos, Teresa de Ávila, ensinou, mas que, por uma extensa gama de fatores, a igreja, entre outras coisas, esqueceu de ensinar.

Na ‘oração de recolhimento’, a pessoa deve ‘recolher’ suas faculdades, como lembranças, expectativas, imaginações, desejos e emoções, e os sentidos, pois tudo isso é apenas obstáculo à oração. Se a oração de recolhimento for bem feita, redundará na ‘oração de quietude’, isto é, na quietude total da mente e do cérebro, que, então, sem nada que os perturbe ou ‘polua’, ficam em silêncio. Ocorre, daí, na mente, um total vazio, com a possibilidade de vir a ser preenchido por aquilo a que denominamos Deus. Como disse Ken Wilber, ‘o vazio que você vê quando olha atento para o nascedouro dos pensamentos pode, num relâmpago, mostrar a Realidade’. E como João da Cruz ensinou: ‘Na escuridão, a luz’.

A oração de quietude nada mais é que a ‘meditação’ dos tempos antigos e atuais; exige a preparação, que consiste no recolhimento, ou cessação, sem esforço, de qualquer movimento mental. Cessando o movimento mental, sobrevirá a quietude do cérebro, isto é, cessa a interferência do ‘eu’ e, como afirma o profeta bíblico, ‘Aquieta-te e sabe: eu sou Deus!’, isto é, quando o ego é afastado de nossa percepção, o que percebemos é o próprio Deus. Quando ‘o eu não é, Deus é’. O obstáculo que nos impede a percepção do divino é, portanto, nosso próprio ego, a nossa mente localizada, com todo o seu conteúdo condicionado.

Para conseguir esse estado de silêncio, é necessário que o pensamento, e tudo o mais que passa pela mente, cessem, e a atenção é fator decisivo para esse fim. A primeira lição de Teresa de Ávila, às noviças, era ‘atenção! atenção! atenção!’, ao momento presente, sem lembranças, ressentimentos ou remorsos acerca do passado, e sem devaneios, sonhos ou expectativas, desejos e imaginações sobre o futuro. Daí ter Jesus ensinado que ‘a cada dia basta seu cuidado’ e que não nos preocupássemos com muitas coisas, já que ‘os lírios do campo e as aves do céu nem fiam nem plantam’, mas têm o abrigo e o alimento necessários, supridos que são pelo eterno e único supridor.

Um dos principais ensinamentos do iluminado, tanto que muitas vezes exorta-nos sobre isso, foi sobre a importância da atenção. Nesse sentido, a parábola das virgens prudentes e das insensatas; a do servo fiel, que aguardava a volta do patrão, e outras mais. Jesus enfatizou, sobremaneira, a realização do reino de Deus (‘buscai em primeiro lugar o reino de Deus’) afirmando que ele já está dentro de nós (‘não direis: ‘ei-lo aqui’, nem ‘ei-lo acolá porque o reino de Deus está dentro de vós’); que a percepção dessa realidade é a coisa mais importante que o ser humano tem a fazer (Jung) (‘o demais vos virá por acréscimo’), tanto que devemos, até mesmo, abandonar tudo o mais para termos esse percebimento. Assim, as parábolas do comprador de pérolas e a do homem que encontrou um tesouro no campo...

Fez ver que esse tesouro é mais importante que tudo o mais, a nada se comparando, em particular quando aconselhou a ‘buscar, em primeiro lugar, o reino de Deus’, porque, encontrado o reino, a iluminação, ‘tudo o mais virá por acréscimo’.

Disse, também, quando, pregando na sinagoga, lhe falaram que sua mãe e seus irmãos o procuravam: ‘Quem são minha mãe e meus irmãos? Minha mãe e meus irmãos são aqueles que ouvem as minhas palavras e as cumprem’, isto é, aqueles que buscam e, eventualmente, encontram o reino de Deus, pois esses seguiram seu conselho, são de sua mesma natureza, perceberam o que ele percebeu, realizaram o reino em si mesmos e, desse modo, compreenderam e podem também ensinar aquilo que ele ensinou.

Também, em afirmações aparentemente absurdas, disse que para essa busca, se preciso for, devemos ‘abandonar pai e mãe’ e que ele ‘não veio trazer a paz, mas a espada’, numa indicação de que aquele que deseja encontrar o ‘reino’ deve se violentar nos costumes e apegos, e não fazer o que o homem comum faz, porque, como Paulo ensinou, ‘a sabedoria de Deus é loucura para os homens’ e ‘a sabedoria dos homens é estultícia para Deus’.

Jesus ensinou, também, que o homem e Deus são um só ser, uma só mente, quando afirmou que ‘eu e o Pai somos um’, como também Paulo, em suas epístolas, dizendo que somos ‘co-herdeiros’ do reino e que somos iguais a Jesus, pois ‘se nós não ressuscitarmos, nem Jesus ressuscitou’.

Jesus era um iluminado, isto é, um homem que percebeu que ele e o Pai são um só. Como todos os iluminados, Jesus não se calou e se dedicou a ensinar ao povo como chegar, também, a essa realização. Muitos não compreenderam suas parábolas e seu sermão, pois ele falava do ponto de vista daquele que se realizou. Assim, a estranheza despertada por sua recomendação de se oferecer a outra face ao ofensor, de dar também a capa, a quem lhe tirar as vestes, de orar pelos que nos fazem o mal, de perdoar setenta vezes sete vezes os que nos ofendem. Nada disso é estranho para um iluminado; ele já compreende e ama sem condições pois, pela iluminação, teve despertados o amor, a sabedoria e a compaixão.

Também, exortou, àqueles que chegaram á ‘luz’, que não a escondam sob o alqueire, mas a coloquem sobre o velador, para que ilumine a todos, isto é, ensinem suas verdades, a fim de que todos os que ainda estão na escuridão da ignorância tenham a mesma percepção que ele teve. Dessa percepção advêm bem-aventurança e compaixão, e pela compaixão, ante os sofrimentos e conflitos sem fim do ser humano, muitos enfrentaram a morte por não se calarem, tentando levar aos demais a bem-aventurança que a experiência lhes trouxe, assim como ensinar-lhes o caminho para realizá-la.

Essa experiência, que coloca o homem em seu lugar no universo, mostrando-lhe que ‘eu e o Pai somos um’, é a experiência que, no dizer de Jung, representa o ‘sumum bonum’ para quem a teve, nada mais lhe sendo necessário, pois ‘o demais lhe virá por acréscimo’. Como Buda afirmou, ‘a iluminação é o fim de todo sofrimento’ e Jesus: ‘conhecereis a verdade e a verdade vos libertará’. Em diferentes épocas e lugares, os homens que ‘perceberam’ afirmaram que a vida só tem significado quando se chega ao verdadeiro auto-conhecimento, isto é, ao conhecimento do que realmente somos. Por isso, a afirmação dos iluminados de que, enquanto estamos na escuridão, isto é, na ignorância do que somos, por não termos chegado ainda ‘lá’, não passamos de seres incompletos, ‘sub-humanos’, e que a vida só adquire significado quando temos a experiência de Deus (Teresa de Ávila: tudo o mais é lixo se comparado com essa realização; Maharesh Marish Yoge: ‘sem essa realização somos ainda subumanos’).

O sermão da montanha e, talvez, todas as palavras de Jesus, e de outros iluminados, foram ditos com a compreensão que o ‘percebimento’ lhes trouxe, isto é, do ponto de vista de quem se iluminou; assim, muitas de suas recomendações são interpretadas de modo equivocado e, por isso, consideradas absurdas.

Por motivo de crença, as religiões populares exortam os seus fiéis a obedecerem ou a tentarem obedecer aos preceitos tidos como ‘a palavra de Deus’. Naturalmente, aquele que segue tais ensinamentos se sente seguro e feliz, pois, se tem fé, está convencido de que, após a morte física, será recompensado, pois é essa a promessa dessas doutrinas.

Essas religiões apregoam a necessidade de adorar e louvar o Deus único; de obedecer, sem questionamento, as regras impostas aos féis como se fossem, no dizer dos pregadores, a ‘palavra do Senhor’. Afirmam mesmo que, se alguém não crê ou não aceita a Jesus como o seu Salvador, estará perdido para sempre, sem possibilidade de remissão (como o atual chefe da igreja católica que, recentemente, afirmou que somente dentro da igreja católica romana há salvação). Esquecem-se, evidentemente, de que na sua própria escritura sagrada está a epístola do porta-voz do cristianismo, Paulo, que além de recomendar ‘estudai de tudo e guardai o que for bom’, reza que todos somos ‘co-herdeiros’ e iguais a Jesus (Paulo: ‘se nós não ressuscitarmos nem Jesus ressuscitou’ e ‘o gentio é igual ao judeu... ’), como as tradições místicas do Oriente, que afirmam que já estamos desde sempre salvos, pois, se Deus é que ‘opera em nós o pensar e o fazer’ não há, evidentemente, do que nos salvarmos. Paulo, também, afirmou o mesmo ao ensinar que ‘nós não somos salvos por nossas obras, para que não nos vangloriemos, mas pela graça de Deus’.

Analisem...

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MEDITAÇÃO TRANSCENDENTAL

(16) MEDITAÇÃO TRANSCENDENTAL (Jan 2008)


PESQUISAS CIENTÍFICAS



Baseado na obra de mesmo nome, sobre as pesquisas realizadas sobre as técnicas de meditação trazidas para o Ocidente por Maharish Mahesh Yogi. Essas técnicas são hoje praticadas, no Ocidente, por milhões de pessoas, inclusive em mosteiros cristãos.

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INTRODUÇÃO

Não estão traduzidos detalhes das pesquisas; apenas, e bem sinteticamente, as conclusões. Não constam os nomes e títulos de todos os pesquisadores envolvidos, doutores em física, psicologia, psiquiatria, medicina, educação, antropologia, sociologia, biologia e outros.

Os resultados das pesquisas são tão abrangentes e alcançam tantas, senão todas, áreas de interesse do ser humano, que se chegou a afirmar que, “quando a técnica desta meditação for aplicada regularmente pelas populações em geral, não haverá problemas sem solução e o sofrimento será coisa do passado”.

Aqui estão mais de cem relatórios de pesquisas feitas em diferentes países: Austrália, Canadá, Dinamarca, Inglaterra, França, Alemanha, Índia, País de Gales, Nova Zelândia, Escócia, Suíça, Suécia, Estados Unidos, Bélgica etc. Muitas na Universidade Internacional Maharish, EUA, e Universidade Maharish Européia de Pesquisas, Suíça. As demais se referem a trabalhos realizados em 51 diferentes Universidades e Instituições de Pesquisa independentes (não ligadas a Maharish). Foram realizadas por 135 cientistas das mais diversas áreas.



METABOLISMO

Os resultados mostram que a MT produz um estado de profundo repouso fisiológico (20 minutos da prática proporcionam maior repouso que 8 horas de sono), acompanhado de grande alerta mental, estado ímpar observado com essa técnica, demonstrando alto grau de coordenação neurofisiológica (mente e corpo); produz importante redução do consumo de oxigênio e da concentração de lactato no sangue; eliminação do dióxido de carbono, diminuição do ritmo cardíaco e respiratório; rápida elevação da resistência elétrica da pele; atividade não usual das ondas alfa e beta; sincronia nas derivações cerebrais centrais; derivações centrais sincronizadas com ritmos ocasionais de ondas teta, e outras mudanças, fatos que vêm mostrar que a MT leva a um estado de consciência completamente diferente dos outros estados conhecidos pela ciência, como a vigília, sono e sonho, e do estado de relaxamento ordinário, hipnose e outros condicionamentos mentais.







UM 4.° ESTADO DE CONSCIÊNCIA

O pesquisador... afirma, em face disso, que a MT produz um 4.° estado de consciência mais elevado e mais importante, além dos três conhecidos. Esse 4. ° estado, cujos eletroencefalogramas mostram vigília em repouso, isto é, um estado de mínima excitação fisiológica enquanto a atenção permanece mais alerta do que normalmente, foi chamado de “consciência transcendental”, “consciência pura” ou “estado de conhecimento sem limites”.

... estudou períodos de evidente consciência transcendental, reconhecidos pela considerável diminuição do ritmo cárdio-respiratório. Esses períodos freqüentemente ocorrem na prática da MT, em particular nos últimos 34 segundos, numa média de 19 segundos de duração, aproximadamente. A respiração fica virtualmente suspensa, o ritmo cardíaco marcadamente reduzido, a resistência da pele vai ao grau máximo e os EEG mostram alta coerência de ondas alfa, teta e beta nos hemisférios cerebrais, coerência inexistente nos outros estados de consciência.

Verificou-se existirem 2 tipos de consciência transcendental: uma com pensamentos e outra sem pensamentos. Na com pensamentos observou-se habilidade de a mente manter-se em repouso total, mas alerta mesmo durante a execução de atividades diversas, o que implica um 5.° estado de consciência, que Maharish chamou de “consciência cósmica”.

Os primeiros documentos referem-se à pesquisa inicial acerca de mudanças metabólicas, quando foi comprovada a característica peculiar da MT: a produção de um estado de profundo repouso fisiológico acompanhado de total alerta mental, estado antes desconhecido. Outros confirmaram as descobertas sobre a redução do consumo de oxigênio e do ritmo respiratório, bem como que, mesmo com o ritmo respiratório diminuído, há maior entrada de ar nos pulmões.

... estudou períodos de evidente consciência transcendental. Na consciência com pensamentos, as mudanças observadas no metabolismo foram semelhantes às relativas à consciência transcendental sem pensamentos, embora os dois estados difiram totalmente em outros aspectos. No estado de consciência transcendental com pensamentos, os diversos parâmetros medidos indicam habilidade de manter vigilância enquanto persiste coerência entre partes do cérebro e, ao mesmo tempo, que a consciência está em atividade. As reduções do ritmo cardíaco e do consumo de oxigênio são indicadoras metabólicas de repouso fisiológico profundo, enquanto a atividade é demonstrada por fases ocasionais de aumento da resistência elétrica da pele, ao mesmo tempo em que os EEG mostram grande coerência entre os hemisférios cerebrais. Esse contínuo e alto grau de coerência é comprovação da estabilidade e ordem nas diferentes partes do cérebro, que caracterizam o estado de consciência cósmica. Estas conclusões comprovam que a prática regular da MT produz correlação neurofisiológica elevada, isto é, enorme harmonia entre a mente e o corpo.

Comprovou-se a existência daquilo que Mahrish descreve como sendo conseqüência de se possuir consciência cósmica - a “iluminação”. ... observou, aí, a existência de um estado de independência acentuada ou total liberdade do sujeito que, para agir, não depende mais de qualquer fato externo e, ainda, mantém equilibrada e estável a disposição de ânimo interno.

Relatou-se aumento da criatividade relacionado com os notáveis graus de coerência mostrados pelos EEG; criatividade vinculada, portanto, à experiência de consciência transcendental. Outros mostraram que, no estado de consciência transcendental, ocorre significativo aumento do sentimento de auto-realização e que, quando a prática da MT é regular e contínua, as experiências são ainda mais intensas e profundas.

... relataram notável crescimento do fluxo sanguíneo durante a MT, fato indicativo de uma atividade reduzida do sistema nervoso simpático, como também ocorre com o ritmo respiratório e com o cardíaco.

Essas mudanças do metabolismo mostram que, pela prática da MT, ocorre diminuição da ansiedade e, conseqüentemente, das tensões e do estresse. Outros provaram a redução do estresse pelo estudo de modificações bioquímicas resultantes da MT. Verificaram redução da cortisona em circulação no sangue, durante a prática, bem como baixos níveis de cortisona no sangue de meditadores experimentados, mesmo quando não estão praticando a MT, o que indica uma nova forma de atividades das supra-renais, fato que está relacionado à redução do estresse.

A redução da fenilalanina-ácido-amino-sérico, durante a MT, contrasta com a redução da mesma substância durante o relaxamento ordinário. A diferença bioquímica entre o estado de MT e o produzido por outros métodos de relaxamento reforça a afirmação original de... de que a MT produz, na fisiologia do praticante, mudanças ímpares que indicam um quarto estado de consciência mais elevado.

Essa relação entre fisiologia e psicologia, e outros estudos que relatam aumento da criatividade e da produtividade, indicam que a permanência regular no estado de consciência cósmica produz mudanças holísticas, isto é, sob todos os aspectos, bem como um novo modo de funcionamento do corpo e da mente, anteriormente desconhecido pela ciência.

O fato de que a técnica pode ser aprendida facilmente e de que produz essas admiráveis mudanças fisiológicas em meditadores novatos e antigos, dá à MT vantagens sobre as outras técnicas que são mais austeras, mais difíceis, mais exigentes sob muitos aspectos e muito mais demoradas. As pesquisas mostram que a técnica de MT pode ter aplicações importantes na clínica médica e na prática terapêutica para eliminar tensões físicas e mentais. Seu valor, também, mostrou-se significativo para a diminuição ou cessação do uso de drogas e para o controle da hipertensão.

Pacientes com neurose de ansiedade apresentam excesso de lactato no sangue, substância que a MT reduz, o que resulta na diminuição dos níveis de ansiedade tanto durante quanto após a prática.

Todas as pesquisas mostram que a MT produz um 4. ° e um 5. ° estados de consciência, física e bioquimicamente ímpares. Técnicas de meditação têm sido usadas, por centenas de anos, para o tratamento de desordens mentais; no entanto, esse uso sempre foi muito limitado devido às dificuldades de disciplina impostas e ao tempo requerido para se chegar a resultados benéficos. Como é de fácil aplicação e produz, em pouco tempo, expressivas mudanças fisiológicas e psicológicas, tanto em meditadores experimentados como em novatos, essa técnica tem grandes vantagens sobre as demais.



MUDANÇAS ELETRO-FISIOLÓGICAS

E ELETRO-ENCEFALOGRÁFICAS.

Os EEG relativos à prática da MT provam o grande aumento da atividade das ondas alfa no cérebro e... relatou abundância de ondas alfa na região frontal. Esses pesquisadores notaram a habilidade não usual da manutenção espontânea dessa atividade das ondas alfa mesmo após a prática, já estando o meditador de olhos abertos, fato que indica estabilização dos efeitos da MT até mesmo nas atividades normais do dia-a-dia. Observaram, também, períodos de atividades de ondas teta e diferenciaram a teta de durante a MT da teta de durante o sono e a sonolência. Durante a MT, essa atividade diminuiu enquanto a atenção mental se intensificou, indicando um estado de atenção em repouso, exatamente o oposto do que ocorre nos estados de sono e sonolência, nos quais nenhuma atenção existe. Isso reforça a conclusão de... relativa à produção de um 4. ° estado de consciência mais sutil, “alerta mental em profundo repouso”, no qual o alerta mental persiste durante profundo relaxamento fisiológico.

... relataram, através de EEG, a elevação do estado de grande alerta mental dos praticantes de MT mesmo ainda na fase de preparação para a prática, portanto sem haverem ainda iniciado a meditação, apenas fechando os olhos. Fato semelhante foi também notado após a prática. Isso comprova o desenvolvimento de um 5. ° estado de consciência ainda mais elevado, “consciência cósmica”, no qual o estado de “puro conhecimento” continua a ser experimentado inalterado e estável mesmo durante a vigília e o sono.







A MT NA PREVENÇÃO E CURA DAS DOENÇAS

... estudaram os efeitos no tratamento da angina pectoris, tema freqüente de doenças cardíacas, e constataram significativa melhora na sua tolerância pela prática da MT, o que comprova os benefícios no tratamento da hipertensão. ... relatam os benefícios na asma brônquica, como significativa diminuição dos sintomas em mais da metade dos sujeitos com mais de 6 meses de prática, resultados devidos, talvez, à expressiva redução da resistência à entrada de ar nos pulmões – houve o aumento da facilidade para respirar em 94% dos sujeitos.

... demonstraram uma tendência à estabilização do peso ideal, fato de importantes implicações para a saúde porque a obesidade, além de sério problema médico, é também importante fator de risco para o aparecimento de outras enfermidades graves. Conforme outros, o consumo de álcool e fumo, dois outros fatores de risco para sérias doenças, cessou ou diminuiu muito.

A inflamação das gengivas, a maior causa de desordens dentais, obteve melhoras, conforme relato de... que afirma que a condição das gengivas é verdadeiro reflexo da saúde geral do corpo. A redução das inflamações é sinal evidente de aumento do equilíbrio do sistema imunológico e resulta em considerável aumento da resistência a outras doenças.

... e outros provaram a redução da gagueira e a melhora da coordenação perceptiva e motora. Isso se deve ao aumento da coordenação do sistema nervoso, como foi observado em EEG de meditadores - coerência e sincronismo de diferentes áreas do cérebro, e entre os dois hemisférios.

A MT mostrou produzir aumento da saúde mental. Os estudos, nessa área, indicam redução da ansiedade, aumento da auto-satisfação e crescimento geral da personalidade. Também manifestações de estresse, tensão e insônia foram consideravelmente reduzidas.

Uma das mais freqüentes recomendações para o tratamento de doenças é o repouso, por ser o antídoto perfeito contra o estresse, permitindo ao corpo a mobilização de recursos próprios para a cura desse mal que tanto tem aumentado nas populações. A MT produz estado de profundo repouso, o que permite a instalação do processo orgânico natural de cura que se efetiva rapidamente.

A medicina moderna atribuí ao estresse a causa e o agravamento de numerosas enfermidades físicas e mentais comuns na clinica médica, como doenças coronarianas, hipertensão, asma brônquica etc. Devido ao enorme relaxamento e repouso proporcionados pela MT, que dissolvem a raiz profunda do estresse, tais doenças podem ser prevenidas com êxito pela prática regular, pois o sistema nervoso se torna mais equilibrado, estável e ordenado, o que faz com que o indivíduo resista mais aos efeitos debilitantes desse mal.

O objetivo da medicina é muito mais do que a prevenção e a cura das doenças. A saúde perfeita pressupõe o funcionamento integrado e harmonioso da mente e corpo, o que resulta numa expansão ampla e total da consciência a que Maharish denominou “iluminação”. A prática mostra o desenvolvimento desse funcionamento holístico, global, mente e corpo.

O aperfeiçoamento da saúde do individuo é extremamente necessário para que a saúde da coletividade também se aperfeiçoe. ... demonstrou que, quando 1% de uma comunidade pratica a MT, a qualidade de vida aumenta para toda a comunidade. Mediram um importante indicativo da saúde social - a proporção de crimes - e constataram melhora dramática quando o número de meditadores regulares chegou a 1%. Essa mudança de qualidade de vida de uma comunidade, crescendo em ordem e harmonia, foi chamada “efeito Maharish”. Tal efeito é a solução para o desenvolvimento da consciência coletiva e da saúde social como um todo. Esta contribuição da MT tem trazido luz para importantes áreas de futuras pesquisas: consciência coletiva e saúde coletiva. A Universidade Européia de Pesquisas Maharish estuda, hoje, o desenvolvimento da consciência pela MT em nível mundial.

Resumidamente:

- a hipertensão apresentou melhoras significativas; a pressão sanguínea e a ansiedade diminuíram nos hipertensos após, apenas, terem iniciado a prática da MT; hipertensos extremos apresentaram pressão normal quando testados após, em média, 6 meses de prática;

- pacientes com angina pectoris mostraram, após 8 meses de prática regular, maior resistência aos esforços físicos por longos períodos e capacidade de suportar altas cargas de trabalho;

- a asma apresentou significativa redução dos sintomas e aumento da facilidade de respirar;

- inflamações periodontais, como piorréia, gengivite etc., diminuíram com a prática. Esses males ocorrem na grande maioria das populações, causando perdas dentais e conseqüente desequilíbrio nutricional com sérias implicações para a saúde geral. A boca reflete as condições patológicas do corpo. As perdas dentais implicam em muitos dos sinais de envelhecimento dos idosos e podem dar lugar a outras enfermidades, como artrite reumatóide e reumatismo do coração. A MT mostrou ser altamente benéfica nesse tratamento;

- meditadores, antes gagos, passaram a falar sem dificuldade;

- insônia e sono anormal tiveram tratamento eficiente com a prática;

- o problema do peso corporal foi solucionado: os gordos perderam peso e os magros ganharam peso após iniciarem a prática, ambas modificações devidas à normalização do funcionamento do organismo como um todo; relata-se, sempre, substancial perda de peso; nos casos em que o normal, em face da idade, sexo e altura, seria o aumento do peso, após 31 meses de meditação regular chegou-se, praticamente, ao peso ideal; o mesmo ocorreu com os magros, mostrando que a MT tem efeitos globais positivos no tratamento desse difícil problema. Obteve-se normalização do peso em proporção direta ao tempo de prática regular, mesmo quando se esperava ganho de peso. Isso mostra que a MT não é somente um meio mais fácil para a normalização do peso, mas que seus benefícios são de natureza mais abrangente, criando condições nas quais o individuo alcança maior aptidão física e mental;

- o aumento da habilidade motora e perceptiva, e da resistência nos trabalhos que exigem esforço mostram os efeitos holísticos produzidos pela MT no desenvolvimento geral do individuo;

- o tempo de reação, como resposta a estímulos, foi grandemente reduzido, enquanto se mantinha ou aumentava nos não-meditadores apenas relaxados, em repouso; enquanto o tempo passava a ser cada vez menor nos praticantes de MT, os não-meditadores mostravam tempo cada vez maior, o que veio provar que os efeitos são cumulativos com a prática continuada;

- a melhora da audição com a prática veio provar que o uso regular da técnica produz uma não usual capacidade para aumentar a aptidão perceptiva;

- provou-se, também, que a MT produz crescimento da coordenação corpo-mente (como nas ações que exigem muita rapidez), com considerável aumento do desempenho das atividades perceptivo-motoras, bem como no sincronismo intra-hemisférico e inter-hemisféricos cerebrais, conforme provado por EEG.

- pesquisas mostram a existência de sinais fisiológicos de aumento da atenção mental de praticantes antigos durante o sono, o que caracteriza, conforme Maharish, um estado de consciência mais elevado, antes não conhecido pela ciência, estado no qual o sujeito não perde seu ordenamento mental de referência mesmo com a atenção dirigida a atividades externas. Esses sinais são diferentes daqueles mostrados pelos outros estados de consciência anteriormente referidos, e caracterizam o estado de Consciência Cósmica. É o estado de menor excitação da consciência: a consciência se apresenta plenamente uma só, sem divisões que a distraiam, unida, perfeitamente estabilizada, organizada e em perfeita atividade. Nesse estado elevado, podem-se desenvolver atividades mais dinâmicas e, em conseqüência, obter melhores resultados nos trabalhos que exigem esforço, como, por exemplo, nos exercícios atléticos: corrida mais veloz, mais agilidade nos movimentos, mais longos saltos em distância, e a capacidade vital é aumentada ao mesmo tempo em que, mesmo com o ritmo cardíaco diminuído pela MT, a concentração de hemoglobina do sangue aumenta, indicando uma mais eficiente capacidade do sangue em transportar oxigênio para todo o corpo.

- nos testes de tempo de reação a estímulos, o grupo de meditadores mostrou muito mais rapidez que o grupo de não-meditadores. Numa segunda coleção de testes, logo após a primeira, observou-se aumento da rapidez de reação dos meditadores e diminuição da rapidez dos não-meditadores. Os meditadores veteranos, também mostraram aumento da rapidez nos testes realizados antes da prática da MT e nos realizados depois da prática.

- os praticantes da MT mostraram maior desempenho de atividades relativas ao complexo sensório-motor, face à redução dos níveis de ansiedade;

- idem, na discriminação auditiva (maior habilidade de diferenciar ou identificar sons); também na percepção de movimentos; na precisão dos julgamentos referentes à percepção; na qualidade da atenção; na integridade neuro-muscular, isto é, maior harmonia entre o sistema nervoso e as reações musculares; na eficiência cardiovascular; no uso do raciocínio e da inteligência;

- com relação, ainda, às enfermidades da boca, verificou-se que a MT proporciona aumento da imunoglobulina, redução da formação de placas bacterianas e uma baixíssima média de proliferação da flora bucal, sendo que, para a redução de inflamações, mesmo na presença de bactérias, os meditadores realizaram 4 a 6 períodos de prática por dia, com resultados altamente eficazes.



EFEITOS SOBRE O SONO ANORMAL

Doentes de insônia crônica conseguiram ter sono normal em pouquíssimo tempo de prática, resultado que se conservou estável. A insônia, a inabilidade de conciliar o sono, é um dos males mais difundidos na humanidade; quase todos a experimentam alguma vez na vida. Por isso tem-se multiplicado, na literatura médica, instruções para seu tratamento, o que mostra os esforços na busca de um método eficiente para aliviar esse mal consumidor de energias. Infelizmente, os esforços têm encontrado fracos resultados e muitos efeitos colaterais.

A MT mostrou mais eficiência que os outros métodos e não tem qualquer efeito colateral. Ela pode ser aprendida facilmente e permite ao praticante ir além dos processos comuns do pensamento. É totalmente diferente dos métodos de controle mental conhecidos, não envolvendo concentração, imaginação, disciplinas ou treinamento excessivo. A prática produz refinamento gradativo do sistema nervoso, pela alternação de repouso e atividade. Enquanto, para compensar o estresse e a fadiga necessitamos de sono e sonhos, que a insônia não permite, a MT arranca pela raiz o estresse e a ansiedade que estão perturbando o sistema nervoso.

Fisiologicamente, a MT produz profundo relaxamento, comprovado pelo grande aumento da resistência elétrica da pele, com acentuada redução da ansiedade e de outros distúrbios emocionais. Essa evidência fisiológica foi complementada por pesquisa psicológica que comprovou rápida redução da ansiedade, a qual permanece em níveis baixos quando a prática é regular. Isso é importantíssimo para a cura da insônia, já que a ansiedade é o fator mais freqüentemente identificado como sua causa. A pesquisa comprovou, portanto, que a MT é eficaz para dissipar a ansiedade e pode, assim, eliminar natural e totalmente a insônia.

Resultados da pesquisa:

O tempo médio para o sono chegar, que era de 75 minutos como foi medido nos 30 dias antes dos testes, diminuiu para 15 min nos 30 dias seguintes aos testes e após. A MT foi praticada continuadamente por um período de 60 a 90 dias após o inicio da fase de sono regular. Os resultados foram dramáticos. O tempo para debelar a insônia, após a prática, foi significativamente curto; e os efeitos se tornaram estáveis, não havendo sinais de reincidência.

Provou-se redução da ansiedade, fadiga, nervosismo e estresse. A causa da eficácia parece ser a recuperação global do equilíbrio do ritmo fisiológico e da psique (mente-corpo), um efeito particular único. Tais resultados são muito encorajadores pelo seguinte: 1) a MT teve excelente sucesso na cura; 2) a técnica oferece características muito favoráveis, pois sua aprendizagem é fácil e rápida; 3) pode ser universalmente e facilmente ensinada e aplicada, sendo uma terapia totalmente livre de drogas e produtos químicos e não produz efeitos colaterais indesejáveis.

Efeitos em longo prazo:

Os efeitos da MT mostraram ser estáveis durante o período de um ano de observações. Os sujeitos foram submetidos a testes de 30 em 30 dias, durante 360 dias. Os resultados mostraram claramente que a técnica teve êxito pleno e total durante o tempo da observação, e é totalmente estável. Esses impressionantes resultados recomendam que a MT seja mais investigada e experimentada em todas as variedades de distúrbios do sono, como também em outras áreas da clínica médica.

A MT produziu, também, efeito rápido e seguro na recuperação da fadiga resultante de noites seguidas sem dormir. A partir da 2a. noite após a prática, o grupo de meditadores recuperou-se facilmente do cansaço, voltando o sono aos níveis anteriores ao período de privação, fato que indica rápida eliminação da fadiga, da fraqueza muscular, da exaustão etc., enquanto o grupo de controle requereu muito tempo para voltar ao sono normal.



DESENVOLVIMENTO DA PERSONALIDADE

(Realizadas por vários doutores em Física, Psiquiatria, Psicologia Clínica, Medicina, Sociologia, Antropologia etc. de importantes Universidades dos EUA; Alemanha; Irlanda do Norte; Canadá; Inglaterra, Austrália etc.).

Os resultados mostram, claramente e de forma irretorquível, a redução da ansiedade, que é o maior obstáculo para a perfeita expressão da personalidade, redução evidenciada por:

- redução do lactato do sangue e do cortisol plasmático;

- aumento da resistência elétrica da pele;

- persistência dos níveis de ondas alfa no cérebro;

- diminuição dos batimentos cardíacos e do ritmo respiratório;

- redução da pressão sanguínea, mesmo em hipertensos;

- redução do nervosismo e outros sintomas neuróticos;

E mais: redução da insônia, normalização do peso, redução dos hábitos ou da inclinação à auto-destruição como, por exemplo, o uso de drogas.

Contudo, os resultados não se limitam apenas à eliminação das tendências negativas; indicam, também, grande integração da personalidade através de:

- desenvolvimento de elevado nível de maturidade emocional, saúde geral e satisfação com a vida;

- superação de deficiências pessoais;

- mais clara e eficiente percepção da realidade;

- maior abertura mental a novas experiências;

- aumento da integridade moral (honestidade, caráter, sinceridade, correção nos procedimentos e atitudes);

- aumento da espontaneidade; expressividade; vivacidade; objetividade, autenticidade; (o sujeito torna-se mais espontâneo, com mais facilidade de se expressar e se fazer compreender, mais sincero, mais autêntico);

- personalidade e identidade mais firmes;

- aceitação mais fácil de tudo que se refere a si próprio;

- aumento da criatividade e da independência pessoal.

A integração da personalidade, indicada acima, não se restringiu apenas à área psicológica, mas estendeu-se, também, a toda área da fisiologia.

Outros resultados:

- menos nervosismo; menos agressividade; menos irritabilidade;

- maior sociabilidade; maior estabilidade emocional; maior compreensão e auto-confiança; menor inibição nos relacionamentos, na conduta e nas decisões;

- diminuição do orgulho e do hábito de se introverter;

- aumento da calma; da satisfação; da tolerância nas situações frustrantes;

- facilidade de se relacionar e fazer amigos; e de ser mais ardente nas relações interpessoais;

- mais bom humor e franqueza no trato com os demais;

- aumento do sentimento de fraternidade, de lealdade e sinceridade;

- maior disposição e melhor desempenho no trabalho e nos estudos;

- ânimo mais equilibrado;

- mais pronto para auxiliar os outros;

- mais convincente nas argumentações; mais diplomático;

- mais corajoso, influente, jeitoso.

Observações: participaram destas pesquisas um grupo de meditadores com mais de 12 meses de prática; um de interessados em aprender a MT e um de não interessados na MT. Os resultados do 1.° grupo sempre superaram os resultados do 2.°; os do 2.° grupo sempre foram melhores que os do 3.°. Os 3 grupos usaram técnica idêntica e foram considerados os dados tomados antes, durante e após a MT, durante meses consecutivos.



DISTÚRBIOS MENTAIS

Participaram destas pesquisas, que abrangeram os mais variados campos ligados à Sociologia, Reabilitação, Produtividade e Qualidade de Vida, Psiquiatria e Psicologia, numerosos cientistas entre PHD em Medicina, Psiquiatria, Psicologia, Antropologia, Sociologia, Educação, Biologia, Física, Relações Sociais, Bioquímica, Psicofisiologia, de importantes Universidades dos EUA, Suécia, Alemanha, Inglaterra, Suíça. Foram efetuadas em Centros de Pesquisas Científicas, Centros de Reabilitação de Drogados, Institutos Correcionais e Presídios, Institutos de Prevenção e Controle do Abuso de Álcool e Drogas e outros.

Conclusões: A técnica da MT, 20 minutos 2 vezes por dia, é de fácil aprendizado e produz um crescimento psicológico integrado e equilibrado, caracterizado, especialmente, por fazer aumentar a interação social entre os indivíduos de maneira harmoniosa, firme e dinâmica. Durante a prática, o sistema nervoso assume um modo singular e único de funcionamento (repouso extremamente profundo e atenção mental ativa). Esse estado é denominado ‘estado ‘hipometabólico de vigília’ porque, enquanto o praticante está totalmente desperto, o metabolismo em geral diminui, numa situação de maior repouso do que no sono comum.

Houve grande diferença nos resultados entre meditadores avançados, novos e não-meditadores, evidenciando que, quanto mais tempo se pratica a MT, mais a área psicológica se torna equilibrada e saudável, mostrando que os efeitos são cumulativos. Pela técnica de Freiburg, que avalia fatores da personalidade, como nervosismo, irritabilidade, agressividade, ansiedade entre outros, chegou-se a resultados impressionantes na redução dos itens negativos da personalidade, enquanto se desenvolveram, de modo dramático, os itens positivos, resultando num amadurecimento continuado, equilibrado e geral da personalidade, em todos os seus múltiplos aspectos.

Assim, comprovou-se que a MT reduz significativamente:

- depressão, irritabilidade, insociabilidade, tendência dominadora (mandão), inibições, desajustamento físico e pessoal, desajustamento e alienação sociais, personalidade neurótica, teimosia/inflexibilidade, desconfiança, egoísmo, sensibilidade à crítica, necessidade de segurança, ansiedade, tendência a responder (mal), agressividade, impulsividade, imaturidade emocional, timidez, frustração fácil.

Ao mesmo tempo, que a MT aumenta, também significativamente:

- desenvolvimento da auto-estima, satisfação com a vida, confiança em si e nas pessoas, autodisciplina, auto-atualização (capacidade de acompanhar a evolução do meio), auto-aceitação, natureza construtiva (e não mais destrutiva), coordenação mente-corpo, aceitação da agressividade (calma, paciência), aceitação de situações frustrantes, tolerância, capacidade de contatos íntimos, relacionamento interpessoal, altruísmo, amizade e fraternidade, capacidade de não ofender, estabilidade emocional.

Observou-se impressionante redução de distúrbios mentais; em 10 semanas de prática da técnica, houve acentuada redução de:

- histeria, hipocondria, desvio psicopático, paranóia, esquizofrenia, mania de inferioridade, psicastenia (fraqueza mental), aversão social, neuroses.

Quanto às tendências neuróticas, a redução se deve ao desenvolvimento da maturidade e diminuição das queixas físicas. Quanto à esquizofrenia, à redução dos conflitos internos. Quanto à paranóia, a mudanças que trouxeram aumento da confiança nos demais.

Em todos os praticantes ocorreu aumento do nível de energia e da clareza mental, da facilidade de relaxamento, da tranqüilidade, da franqueza, da honestidade e da sinceridade. Esses excelentes resultados recomendam o uso da MT como terapia de ponta para doenças mentais, tendo-se provado que a técnica deve ser usada em todos os casos de neurose de ansiedade, neurose obsessiva e neurose compulsiva, depressão, uso e abuso de drogas e males psicossomáticos em geral.

Ainda mais, a MT desenvolveu muito o raciocínio lógico e o moral e, quanto ao ambiente de trabalho, melhorou o relacionamento com patrões, chefes, supervisores e colegas; aumentou a motivação para progredir hierarquicamente e satisfação nas atividades profissionais.

Os resultados indicam o potencial da MT no campo da psicologia, psiquiatria e na clínica médica em geral.

O objetivo de todos os programas de reabilitação mental é a restauração da inteligência criativa, de modo a aliviar todos os conflitos consigo mesmo e com o meio-ambiente (aí incluídos os demais indivíduos e situações). A restauração da inteligência criativa tem como base o aprimoramento do sistema nervoso através da eliminação das tensões e estresses adquiridos no dia-a-dia em todo o decorrer da vida, resultando, esse refinamento, numa expansão da consciência. Explica-se essa expansão como a aquisição de uma compreensão muito mais ampla, aumento da habilidade de focalizar a atenção, e de um ordenamento mental equilibrado e estável. Os resultados positivos desses testes levam a considerar os benefícios da MT em termos de 5 qualidades: integração (corpo-mente), uma maior adaptação às situações, estabilidade emocional e fisiológica, purificação (cerebral), e amadurecimento (da personalidade). O desenvolvimento dessas cinco qualidades pode ser considerado como a solução para a prevenção de toda conduta anti-social e sua mais importante conseqüência é a aquisição de um estado de consciência mais elevado que permite ao indivíduo perceber e compreender o comportamento e as ações dos demais seres humanos, e de todos os eventos da natureza.

O sucesso da MT deve-se ao fato de ser natural, aprendida facilmente e de prática simples; produz benefícios imediatos e tem efeitos acumulativos que aumentam à medida que a prática é continuada; a aplicação demanda apenas 20 minutos duas vezes por dia, e é facilmente incorporada à rotina do dia-a-dia; não pede ambiente ou equipamento especiais, nem é ligada a qualquer religião, não exigindo, portanto, fé ou crença, e podendo ser aplicada por qualquer pessoa, universalmente.



RELACIONAMENTO SOCIAL E DESEMPENHO ESCOLAR

No desempenho escolar demonstrou-se que produz aumento da inteligência, da habilidade para estudar, da criatividade e do desempenho acadêmico, nos grupos de meditadores de MT em comparação com grupos de não-meditadores. O desenvolvimento dessas faculdades indica aperfeiçoamento do sistema nervoso e desenvolvimento de um estado de consciência mais elevado.

Entre os resultados positivos proporcionados estão:

- significativo crescimento do raciocínio lógico e da facilidade de se adaptar a novas situações;

- maior habilidade para concentrar a atenção;

- redução da instabilidade emocional;

- aumento dos níveis de energia e de tolerância;

- maior capacidade de expressar inteligência e de solucionar problemas;

No caso de neuroses, os praticantes regulares apresentaram enorme redução delas, enquanto o grupo de controle e os meditadores irregulares não obtiveram qualquer redução.

Na relação aprendizagem-memória, os meditadores demonstraram grande e rápida facilidade de assimilação de novos conhecimentos e uma capacidade superior de memorização. Não-meditadores e meditadores novos diferiram pouco entre si.

Esses resultados evidenciam que, efetivamente, a MT produz crescimento de uma habilidade superior de aprendizagem e de manter a atenção focalizada sobre determinada coisa ou assunto.

Outros benefícios observados:

- crescimento da habilidade de organização e de raciocínio;

- notável aumento do desempenho nos estudos;

- mudanças positivas na criatividade, no desempenho intelectual e noutras variáveis psicológicas relativas a estudantes universitários;

- crescimento da maturidade, da capacidade de superar deficiências e de perceber a realidade com mais clareza e precisão;

- notável redução do consumo de qualquer droga, álcool, fumo, marijuana, haxixe, cocaína, anfetaminas, barbitúricos etc.; a redução foi maior entre os meditadores regulares do que entre os irregulares, mostrando que os praticantes de MT estão mais livres do uso de tóxicos do que os não-praticantes.

Nas pesquisas com recolhidos em prisões e presídios, aos quais foi ensinada a técnica, concluiu-se que a MT deve ser usada na reabilitação de delinqüentes e criminosos por resultar em:

- aumento do equilíbrio fisiológico e psicológico com considerável redução da ansiedade e do nervosismo;

- aumento da conduta positiva e da felicidade, do equilíbrio emocional, da harmonia e da saúde física;

- redução da irritabilidade; redução ou cessação do consumo de drogas, da inquietação, da depressão, da insônia, tédio, e do sofrimento fruto da condição de viver encarcerado;

- crescimento da participação em atividades educacionais e recreativas;

- redução ou cessação total das infrações e violações às leis, regras e regulamentos;

- desenvolvimento da maturidade;

- crescimento do relacionamento inter-pessoal num sentido positivo;



CONCLUSÕES

A MT produz estado de relaxação do sistema nervoso que leva a um nível de excitação extremamente baixo, muito semelhante aos estados de mínima perturbação da mecânica quântica, aí incluída a ocorrência de ampla e completa ordem espacial e temporal de longa duração. O estado de “consciência pura”, experimentado durante a prática, é interpretado, em termos da física quântica, como um estado de “vácuo de entropia” ou “entropia zero” (estado de perfeita e total organização e ordem), e presume-se que seja uma forma de supercondutividade (isto é, condutividade livre, sem qualquer resistência ou obstáculo) que esteja ocorrendo no cérebro que adquire, então, um funcionamento perfeitamente coerente e harmônico em todas suas funções e áreas.

... afirma que o crescimento mental proporcionado pela MT leva, sem qualquer dúvida, a um estado de “iluminação” no qual o meditador adquire máxima coordenação mente-corpo. Afirma que esse estado é igual àquele que tem sido o objetivo das principais tradições religiosas em todo o mundo. E conclui, da evidência experimental, que a consciência mundial está agora chegando a uma fase de transição chamada, por Maharish, de “Idade da Iluminação”.

... mostra que a prática da MT é de imenso benefício para o ser humano. Desde que as funções neuropsicofisiológicas são a base da vida e dos valores culturais do homem, e desde que a prática aperfeiçoa essas importantes funções, conclui que a MT é a base científica que produzirá integridade cultural e paz no mundo, pelo aumento do número de meditadores para que se chegue, pelo menos, a 1% da população em cada área habitada do planeta num “experimento sociológico em escala global”. (Essa experiência está sendo realizada, conforme publicado, há pouco, no Estado de São Paulo, na África, onde o presidente de Moçambique entregou aos cuidados de Maharish um quarto (25%) de seu território com sua população para que ele o transforme num país mais avançado e evoluído sob todos os aspectos).



OS SIDHI

A MT é o meio de criar um estado de silêncio cerebral, que traz consigo sabedoria e compaixão. Concluiu-se que existe uma semelhança entre o funcionamento da consciência (localizada) e os fenômenos da mecânica quântica. Os procedimentos da MT-Sidhi levam os resultados citados acima mais além e mostram que o silêncio interior pode ser usado para executar a cessação ou redução dos desejos e intenções, levando o praticante do estado de silêncio ao estado do mais puro conhecimento.

Estas primeiras conclusões confirmam categoricamente as afirmações de Maharish de que o estado de mínima excitação da consciência se confunde com a “fonte de todas as leis da natureza”, o “campo das infinitas possibilidades”, o que apóia o modelo mecânico-quântico da consciência relacionado às ‘superposições coerentes’, sugerido por... Como esses estudos foram concluídos depois de pronta a edição deste livro, serão apresentados apenas de forma sumária. Tais estudos foram realizados num curso novo e mais avançado para instrutores de MT, o “Curso de Treinamento para a Idade da Iluminação”, na Universidade de Pesquisas Maharish, na Suíça. Os instrutores aprendem técnicas para a obtenção de certos resultados que, até há pouco tempo, eram considerados totalmente além da capacidade do ser humano. Essas habilidades incluem, entre outras, a percepção de objetos ocultos ou fora do ambiente onde se encontra o sujeito; o conhecimento do passado e do futuro; a percepção do que está na mente de outrem, como intenções, pensamentos, sentimentos; o aperfeiçoamento do sentimento de fraternidade e de compaixão; a expansão dos limites de percepção dos sentidos, que se aproxima dos limites da física quântica; a capacidade de se fazer invisível e a capacidade de levitar ou “voar”.

A base dessas habilidades (que, como ensinam os mestres, podem nos levar para fora do caminho, pois nos detemos nele para apreciar a beleza das ‘flores’), é o estado de “consciência pura”, que é a mais simples forma de aquisição imediata de sabedoria. A explicação é que os processos da MT-Sidhi fazem uso do estado de consciência pura e que esta é o campo subjacente que gera, não somente o processo do pensamento, mas também, entre outros, os campos básicos da física relativos à força gravitacional e ao eletromagnetismo. Por meio da adoção de certos procedimentos, enquanto é mantido o estado de consciência pura, é possível fazer-se uso das leis básicas da física para a obtenção das habilidades relatadas.

O objetivo, aqui, é mostrar que qualquer ser humano, na forma do mais puro e elevado estado de consciência, tem meios de obter tudo o que seja necessário ou desejável na vida, pela repetição, com perseverança, das técnicas que tornam tais resultados possíveis (‘o demais vos será dado por acréscimo’). Assim, é possível, pela persistência, manter sustentável o estado de consciência pura, mesmo fora da prática da MT. A persistência na repetição disciplinada produz e reforça o estado de consciência pura, o que traz total coerência cerebral e harmonia fisiológica (conexão corpo-mente). Os resultados obtidos, antes considerados impossíveis ao ser humano, são relatados por diferentes culturas, particularmente as orientais, como tendo sempre ocorrido em alguma época. No Ocidente, hoje ainda, tais habilidades são consideradas lendas, superstições e até mesmo patologias.

Ao falar sobre o ressurgimento dessas habilidades, Maharish enfatiza que isso se tornou possível, não só por uma maior purificação e aperfeiçoamento do funcionamento da fisiologia humana, mas também, o que é mais importante, pelo nível a que chegou a consciência coletiva da humanidade como um todo. Semelhantes desempenhos são novos para a ciência e representam conhecimento de imenso valor, já que, com o uso de técnicas tão simples, que podem ser ensinadas e praticadas por todos, pode se obter o desenvolvimento de uma qualidade de vida cheia de encantos e de ações corretas. Isso mostra, também, a reciprocidade do “efeito Maharish” sobre o indivíduo pois, à medida que o indivíduo melhora sob todos os aspectos, influencia beneficamente seu meio-ambiente, fato que reflete, favoravelmente, sobre a qualidade de vida de todos os seres humanos (Gandhi: cada um que atinge a iluminação, elimina o ódio de milhões).

A MT-Sidhi tem origem na arcaica tradição védica, da Índia antiga, e sua base é a experiência denominada “Sanyama”, como foi descrito por Patanjali, nos Sutras da Yoga. Sanyama é um processo mental que automaticamente se inicia quando o estado de consciência pura, ou “samadhi”, se instala com suficiente grau de estabilidade, a ponto de coexistir com a atividade mental; então é possível adotar um pensamento, intenção ou desejo, sem que haja obstáculos à sua realização (pois a mente pura não conhece divisões que a enfraqueçam, ou não seria pura). Isso faz que se realize o efeito desejado sem qualquer esforço ou ação por parte do sujeito, mostrando, claramente, que a consciência pura (ou Deus) está por trás da estruturação e operações das leis da natureza, o que faz com que as leis naturais concretizem o que deseja o meditador desde que ele sustente o estado de consciência pura por determinado tempo.

O fato de muitas práticas de MT-Sidhi resultarem em realizações sensoriais ou motoras mostra que o estado de consciência pura permite acesso a níveis muito profundos e amplos das leis físicas, fato que somente agora está sendo avaliado pela ciência; e permite que a consciência participe diretamente dessas operações.

O fato de que a MT-Sidhi desenvolva tanto a coordenação mente-corpo faz que, para toda intenção da mente, corresponda uma resposta imediata por parte do corpo, chegando essa coordenação a possibilitar o fenômeno da levitação. O valor das pesquisas não se prende tanto às realizações exteriores demonstradas, mas muito mais às experiências interiores, ao desenvolvimento e integração da totalidade da consciência e aos benéficos efeitos daí advindos. Para Maharish, os Sutras são a chave para desenvolver o estado de sabedoria sem limites, também chamado de “unidade de consciência” ou “iluminação”, pelas antigas culturas (“consciência una”, pela mecânica quântica).

Exemplificando: a experiência de levitação é acompanhada de profunda paz interior, bem-aventurança e imenso sentimento de liberdade. Estas afirmações são apoiadas pela observação de alto nível de harmonia fisiológica e elevado grau de coerência nas diferentes áreas cerebrais. No passado, esses níveis de coerência somente eram relatados quando a atividade fisiológica estava no estado de mínima excitação, como na meditação profunda, enquanto hoje, como as pesquisas mostram, tal coerência persiste ao mesmo tempo em que há considerável atividade mental e física. Na experiência do vôo, por exemplo, ocorre coerência máxima no exato momento de alçar vôo.

A habilidade para manter consciência pura e, ao mesmo tempo, conservar total coerência cerebral enquanto se exerce atividade mental ou física, como ocorre na levitação, é a base da consciência cósmica, o fundamento de todas as ações corretas, repletas de sucesso e de sabedoria, em toda e qualquer situação da vida.

Após a prática da MT-Sidhi, muitas áreas da consciência continuam abertas e estabilizadas como nunca antes se imaginou. E, com a prática continuada, sobrevém uma tendência natural e espontânea somente para desejos e intenções de total conformidade com a natureza (a ação correta, sem escolha), crescimento da percepção de eventos futuros, aumento da intuição e percepção intelectual, e notável grau de harmonia com o ambiente. Estes fatos foram amplamente demonstrados pelas pesquisas relativas à inteligência, criatividade, tolerância e independência em todas as situações. Desde o começo, a criatividade e a inteligência se mostraram maiores nos meditadores e aumentaram à medida que a prática continuou. Quanto à independência, os indivíduos tornaram-se hábeis para realizar com o dobro da rapidez os testes a que foram submetidos, tendo sido necessário um reajustamento nas técnicas de aplicação para prevenir o “efeito teto”. É preciso lembrar que os testes, não obstante serem totalmente válidos, mediram somente pequena fração das habilidades dos indivíduos, e, portanto, não fizeram justiça ao enorme potencial decorrente do estado de consciência pura. Espera-se que, algum dia, seja amplamente demonstrado como o potencial do ser humano tem sido subestimado.

Outras áreas: meditadores evidenciaram percepção de onze decibéis a mais na audição do que a média da população, sendo necessário, outra vez, se fazerem ajustagens nos instrumentos de medição para se poder avaliar o desempenho. Após a prática da MT-Sidhi, os limites decresceram, mas se mantiveram numa média de três decibéis a mais.

Os resultados das pesquisas referentes a aspectos subjetivos são de interesse especial. Meditadores relataram que níveis de sons muito baixos se mostraram estranhamente claros e belos, e que foram capazes de apreciar sua forma abstrata, como se lhes houvesse sido notavelmente desenvolvida a capacidade de percepção. Isso é de grande interesse, já que oferece um meio de corroborar a sugestão de... de que o estado de consciência pura seja um estado mecânico-quântico tremendamente sensível aos eventos mecânico-quânticos observados no sistema nervoso e cérebro.

A base dessas habilidades não usuais é, como dissemos, o estado de máxima coerência e ordem cerebral, geradora do estado de consciência pura. Concluiu-se, sem sombra de dúvida, que habilidades de tal grandeza estão ao alcance de todos os seres humanos.

A visão das possibilidades humanas, aberta por estas primeiras pesquisas, transforma nosso atual entendimento da vida individual e coletiva numa nova concepção, pela qual nenhum problema ficará muito tempo sem solução e onde qualquer sofrimento poderá ser superado. O desenvolvimento, em todas as nações, da criatividade que virá do aperfeiçoamento a esse elevado grau do funcionamento cerebral nas suas populações, resultará num dramático avanço da qualidade de vida, prosperidade, saúde, ordem social, relações internacionais e progresso em todos os ramos da ciência.

A prática da MT-Sidhi produz estado de coerência nos ritmos cerebrais, nos dois hemisférios. Com a prática continuada, essa coerência é sustentada mesmo fora da prática da meditação, e continua a alta proporção de ondas alfa a delta e a baixa proporção de beta a alfa, o que comprova que os efeitos são cumulativos. Do mesmo modo, persistem o aumento da criatividade e as experiências dos estados de consciência mais elevados.

Sujeitos com consciência transcendental estável mostram máxima coerência das ondas cerebrais, indicando uma coordenação mente-corpo sem igual. Esse nível de consciência ainda mais sutil foi chamado, por Maharish, de “campo das infinitas possibilidades”, e está relacionado com máxima criatividade e com experiências dos Sidhi, os procedimentos que, como vimos, produzem efeitos no corpo e no meio-ambiente apenas pela mera intenção da mente, resultando na habilidade de realizar qualquer desejo.

O grau de progresso que leva à consciência cósmica ou “iluminação” é conseguido, conforme os relatórios das pesquisas subjetivas, quando o estado de consciência transcendental persiste a tal ponto que chega a ser experimentado mesmo quando o indivíduo está dormindo.

Experiências relativas à consciência cósmica:

- sentimento de universalidade e de união com todo o universo;

- sentimento de ser tudo o que existe na natureza;

- sentimento de onisciência, de perfeição e de ser todo-penetrante;

- habilidade para realizar qualquer coisa;

- sensação de estar na fronteira entre as coisas manifestadas e as não manifestadas da criação;

- sentimento da mais extrema e perfeita igualdade com tudo;

- experiência de ser a mente ilimitada e de estar se irradiando para cima e para o infinito, num modelo de imagem cônica;

- sentimento de liberdade sem restrições;

- sensação de transparência e de possuir força descomunal;

- possibilidade de focalizar a mente no interior do próprio corpo e no corpo de outrem;

- sentimento de fraternidade e de amor universal.





............. F I M .................

FÍSICA QUÂNTICA E MISTICISMO

(15) FÍSICA QUÂNTICA E MISTICISMO


(Jan 2008)

(Uma pálida idéia)

(jcl-ribpreto)



- Um elétron pode estar em ‘mais’ de um lugar ao mesmo tempo; os experimentos da física moderna são inequívocos a esse respeito.

- A ciência clássica, cartesiana (anterior), desenvolveu-se de acordo com a suposição fundamental de que existe, fora do observador, uma realidade real, objetiva, que seria algo sólido, constituído de coisas que possuem atributos, como massa, peso, carga elétrica, momentum, posição no espaço, spin, inércia, energia, cor, existência contínua através do tempo, etc. No entanto, tais coisas e todo o universo, de acordo com a nova física, não existem sem que algo lhes perceba a existência; e esse algo é a mente de seres sencientes.

- É errado, por exemplo, supor que um elétron seja um pontinho imponderável de matéria; isso porque, em certas ocasiões, ele é uma nuvem composta de um número infinito de possíveis elétrons, ondulando como uma onda e capaz de mover-se em velocidades superiores à da luz, desmentindo o postulado de Einstein sobre a velocidade. Tais possíveis elétrons parecem uma única partícula somente quando os observamos.

- No átomo, um elétron, quando perde energia, salta de uma órbita mais afastada do núcleo para uma mais proxima. Contudo, ele não passa pelo espaço entre uma órbita e a outra; simplesmente desaparece da mais elevada e aparece na outra.

- Resultados de observações sobre dois elétrons correlacionados, mesmo que separados por distâncias imensas, demonstram que forçosamente deve haver entre eles alguma conexão que permite que a comunicação entre eles se mova mais rápida que a luz. Como, conforme Einstein, nenhuma velocidade pode ser maior que a da luz (300 mil km por segundo) dentro do espaço-tempo, pode-se afirmar que essa comunicação ocorre além do espaço-tempo, logo no domínio do atemporal, no domínio transcendental.

- Em suma, há um número grande demais de provas demonstrando que o mundo objetivo, que costumamos considerar a realidade final é, apenas, ilusão do nosso pensamento, do nosso ego. E não podemos esquecer que todo o conhecimento do homem, em todas as áreas, tem como alicerce essa suposição que, agora, por inumeráveis e inquestionáveis experimentos da nova física, sabe-se ser ilusória.

- Ainda mais, o universo é autoconsciente. Pela física anterior, cartesiana e newtoniana (de Descartes e Newton), a consciência, a mente, era considerada apenas um subproduto da matéria cerebral; logo, o cérebro é que criaria a consciência. Hoje, pela nova física, sabe-se que é a consciência que cria o cérebro e todo o mundo material.

- A consciência é algo transcendental, portanto não-local, e está em tudo, tanto no espaço-tempo quanto além, no atemporal; a consciência é tudo.

- Consciência é o agente que afeta os objetos quânticos para lhes tornar o comportamento apreensível pelos nossos sentidos; a consciência focaliza esses objetos, ondas de probabilidades, de modo que podemos observá-los como partículas, ou coisas, em um único lugar.

- Um objeto quântico pode estar em mais de um lugar ao mesmo tempo (propriedade da onda); o objeto quântico se manifesta na realidade comum só quando o observamos e, com isso, provocamos o colapso da onda, que, instantaneamente, se apresenta como partículas ou objetos; um objeto quântico deixa de existir aqui e simultaneamente passa a existir ali, e não podemos dizer que ele passou através do espaço interveniente (o salto quântico); a manifestação de um objeto quântico, ocasionada por nossa observação, influencia simultaneamente seu objeto gêmeo correlato pouco importando a distância entre eles (ação quântica instantânea à distância).

- A consciência é o fundamento de todo ser, incluindo a matéria. Tudo existe na consciência e é por ela manipulado. Ela organiza o mundo e lhe dá significado. Mas, para isso, necessita da observação produzida por uma mente senciente (cérebro/mente).





-EXPERIMENTO DAS DUAS FENDA:

(Na internet, no final da página da 'Wilkpedia' referente a esse experimento, explicado pelo 'Dr. Rabbit', está a pergunta:

'E o q tem um observador a ver com isso?' e, em seguida, vem a resposta: 'Um observador colapsa a função de onda simplesmente... por observar'.

É exatamente sobre isso que andamos conversando: a simples observação modifica a natureza. Não havendo um observador não há o colapso da função de onda e, em conseqüência, não há manifestação de partículas, ou seja, de matéria. Por aí se vê q, não existindo um ser senciente observando, tudo continua apenas como ondas; não haverá nem mesmo um universo como o conhecemos. Isso não merece uma reflexão mais profunda? Não indica q o ser humano (e todos os seres sencientes) é necessário para q tudo que aí está à nossa frente exista? A consciência do ser senciente, através da observação deste, é que realiza o processo final da criação determinada por aquilo a que denominamos Deus. Isso não está mostrando que nós não somos nada do que as religiões e crenças populares apregoam? Que somos muito mais do que isso? A consciência 'localizada' (nós) completa a criação da consciência 'não localizada', isto é, da Consciência Universal. Isso não está mostrando que nossa consciência complementa, completa, faz parte ou é a própria consciência de Deus? O que acham disso?

- Sob observação, o objeto quântico deixa de ser onda e se comporta como partícula (de matéria). Mesmo a objetos macroscópicos, como a Lua, por exemplo, a mecânica quântica prevê basicamente idêntico comportamento, com a diferença de que, nesse caso, o espalhamento do pacote de ondas é imperceptivelmente pequeno (nunca zero) entre as observações.

- Para cada evento, questão, fenômeno, problema, existe o que é chamado pela quântica de superposições coerentes, isto é, um número, considerado infinito, pelos sábios, de possibilidades de soluções (o campo das infinitas possibilidades, de Maharish Maresh Yogi). Por isso, todo evento de observação, que é o que produz o colapso da onda de probabilidades localizada fora do espaço-tempo, é potencialmente criativo e pode desvendar, sempre, novas possibilidades, respostas criativas, diferentes das conhecidas às quais nossa mente-localizada está habituada, e, por isso, condicionada.

- A observação faz com que o pacote de ondas entre em colapso e se torne partículas localizadas. Assim, o sujeito (observador) e o objeto (coisa observada) estão inextricavelmente misturados, ligados; não havendo observador, não há coisa observada, porque não há colapso; não havendo coisa observada, não há observador. Vê-se, pois, que, para que o universo se manifeste, o cérebro-mente é necessário; logo, nós, e todos os seres dotados de cérebro e mente, somos necessários.

- A consciência é a realidade única e final. Além dela, tudo é ilusão. Todo o universo sobre o qual pensamos e falamos nada mais é que ilusão, Maya, conforme o Vedanta. O todo é Brahman, Deus, a consciência absoluta, total, que existe além do alcance de Maya. Nada mais existe além da consciência.

- Como apenas existe uma mente, uma consciência, a separatividade entre seres e coisas é nada mais que ilusão. Somos, todos nós, apenas uma mente, uma consciência, embora pareçamos muitas (“Eu e o Pai somos um”).

- Como não há separação entre seres e coisas no universo, somos todos uma só coisa; logo não existe duas coisas como eu e Deus. Por isso disse Shankara: “Eu sou a realidade sem começo e sem fim. Não participo da ilusão ‘eu’ e ‘tu’, ‘isto’ e ‘aquilo’. Eu sou Brahman, o um sem segundo, a bem-aventurança sem fim, a verdade eterna, imutável. Eu resido em todos os seres como consciência pura, o fundamento de todos os fenômenos internos e externos. Eu sou o que desfruta e o que é desfrutado. Nos dias de minha ignorância eu costumava pensar nessas coisas como separadas de mim. Hoje sei que sou tudo”. E disse Ekhart, místico cristão: “Percebo que Deus e eu somos um só”. E Jesus: “Eu e o Pai somos um”.

- A experiência da unidade, quebrados os véus da separatividade, abre as portas para uma transformação do ser (iluminação) que gera amor, compaixão, sabedoria, e liberta o homem da ilusão da separatividade adquirida e dos apegos compensatórios aos quais nos agarramos (poder, riqueza, sexo, drogas, afetos, ilusões, crenças, religiões etc.). Tais apegos, nós os procuramos para preencher nosso vazio interior, nascido de nossa vida sem significado. Como disseram os mestres, somos ainda sub-humanos; nossa vida só adquire significado quando percebermos que somos muito mais que o ego (percepção que vem do auto-conhecimento proporcionado pela meditação).

- Como é que não podemos amar incondicionalmente a todos se só há uma consciência e sabemos que não estamos separados porque somos essa única consciência?

- O dualismo Deus-mundo não resiste ao exame científico. A nova física destruiu o realismo materialista construído pela física cartesiana. Amit Goswami argumenta que o idealismo monista, advindo da unidade de consciência, é não só compatível com a física quântica, mas até essencial para sua interpretação, tanto que os paradoxos da nova física desaparecem quando examinados do ponto de vista do idealismo monista, explicando mesmo questões como pluralidade aparente de consciências e transcendência.

- De conformidade com a nova física, o processo fundamental da Natureza reside fora do espaço-tempo, gerando eventos que neste se localizam, desde que haja observação. Fora do espaço-tempo tudo é transcendência, é estar em parte alguma e em toda parte, no aqui-agora eterno.

- Os objetos quânticos são simultaneamente onda e partícula; mas nunca podemos observar o aspecto onda de um elétron, pois nunca se manifesta no espaço-tempo; nem é partícula, porque esta aparece, nos experimentos, em locais proibidos às partículas. Logo, a física quântica diz que o objeto quântico não é onda nem é partícula, o que lembra as explicações do budismo Mahayana: “Ele ‘não existe’ e ‘não não existe’, simultaneamente. Nem ele existe, nem ele não existe”.

- O observador (todos os seres sencientes) está inescapavelmente envolvido em fazer que aconteça aquilo que parece estar acontecendo, porque só com sua observação há manifestação no espaço-tempo; sem observação nada existe.

- Escolhemos o resultado específico que se manifesta; os fenômenos são apenas prolongamento de nós mesmos. Mas, segundo os novos físicos, e as tradições de misticismo orientais, nada escolhemos como indivíduos. A escolha é da consciência unitiva (consciência total, Deus), que necessita da observação do cérebro-mente para que o escolhido se manifeste; a observação conclui o processo da escolha atemporal.

- Quando observamos, o mundo se torna objetivo. Quando não observamos, nem a nós mesmos, tudo é um.

- Nós, seres conscientes, não temos consciência; é a consciência que nos tem. Ela tudo abrange, do micro ao macrocosmo; no espaço-tempo e além.

- Nós não estamos conscientes de nosso corpo o tempo todo. Na verdade, em circunstâncias comuns, temos pouquíssima consciência de nós mesmos; de vez em quando temos consciência de estarmos vivos. Noutras palavras, nesses momentos, nós pensamos em nós mesmos. Nessas ocasiões, nossa função de onda entra em colapso e sentimos que existimos. Entre essas ocasiões, nossa função de onda se expande em superposições coerentes no domínio transcendental.

- Aquilo que parece continuidade, para um ser humano que observa a si mesmo, o fato de existir, é, na realidade, uma miragem que consiste de numerosos colapsos descontínuos (como num filme, no qual as imagens são descontínuas mas, pela sua velocidade, nos dão a impressão de que são contínuas) isto é, nós, como todos os objetos quânticos, e todos os objetos são quânticos, quando nos observamos ou somos observados, somos corpo-mente; quando não observados, somos apenas ondas de probabilidades coerentes na imensidade do domínio transcendental (Krishnamurti: um novo estado de existir).

- A consciência escolhe entre alternativas coerentes quando manifesta a realidade material. O colapso é um processo de escolha e reconhecimento por um observador consciente; mas não é que cada um ser humano escolha a seu prazer, pois assim o mundo seria uma confusão; sendo a consciência uma só, só há um observador senciente: a própria consciência, aquilo que denominamos o Absoluto, o Todo, Brahman, Deus. Nós, mentes localizadas, completamos a operação com nossa observação.

- A separatividade é resultado do colapso. Só depois deste é que passam a existir objetos, apenas aparentemente separados. Deve-se pensar em objetos quânticos como objetos em potencial (ondas no domínio não-local da realidade que transcende o espaço-tempo, e que podem se manifestar no espaço-tempo). Antes do colapso, nada existe no mundo da relatividade.

- Nós somos a consciência não-local apenas sutilmente velada, mas por um véu que pode ser penetrado em extensões variadas, como testemunharam místicos através dos tempos. Tal véu é produzido pelo que é chamado de hierarquias entrelaçadas, dois níveis de consciência que se confundem: a primária, absoluta, não-localizada, e a secundária, localizada em cada um.

- A iluminação, samadhi, nirvana, satori, é a percepção da consciência não-localizada, total, primária, e isso só acontece através do salto quântico, um salto para fora do sistema habitual, do condicionamento, fato que proporciona tal poder de criatividade que a consciência se vê a si mesma. É o topo, o ápice do auto-conhecimento, quando ficamos conhecendo aquilo que realmente somos (o “conhece-te a ti mesmo”, dos antigos sábios gregos).

- O universo existe como ‘potência’ informe em uma miríade de ramos (possibilidades), no domínio transcendente, que se torna manifesto quando, e somente quando, observado por seres sencientes.

- Para que a inteligência possa operar, o acionamento de um neurônio tem de ser acompanhado pelo acionamento de numerosos neurônios correlatos, a distâncias macroscópicas (até 10 cm, que é a largura do tecido cortical), fato que ocorre com velocidades além da velocidade da luz. Para que isso aconteça, é preciso que correlações não-locais existam no nível molecular do nosso cérebro, nas suas sinapses. Desse modo, até mesmo o pensamento comum depende da natureza dos eventos quânticos, e é um evento quântico.

- Os objetos quânticos macroscópicos, quando não observados permanecem na função de onda, apresentando espalhamento mínimo; por isso aparentam continuidade e apresentam memória; esse fato, entre outros, é responsável pelo surgimento da identidade do ‘self’” pessoal. Nosso cérebro, objeto quântico macroscópico, possui memória devido ao espalhamento mínimo da onda, quando não observado; os objetos microscópicos não a possuem, pois seu espalhamento é total e sua manifestação, no espaço-tempo, é instantânea, regenerando-se imediatamente; e, por isso, não guardam registro (memória) das experiências pelas quais passou.

- Um elétron ou outra partícula quando sob observação, pode estar aqui ou ali; quando não observado pode estar em qualquer ponto do universo. Há inúmeras provas de experimentos a esse respeito; por exemplo, o experimento das ‘duas fendas’; um anteparo com duas fendas mostra que um fóton ou um elétron só se manifesta como partícula quando observado por uma mente sencientes; quando não observado, ele não se manifesta no espaço-tempo, continuando como onda de energia.

- A consciência escolhe o resultado do colapso em todo e qualquer sistema quântico, o que quer dizer que a consciência unitiva escolhe. Uma vez que nossa experiência é consciente, nós escolhemos nossas experiências conscientes, embora permaneçamos inconscientes do processo subjacente. É essa inconsciência que leva à separatividade ilusória, à identidade com o ‘eu’ do self, em oposição ao ‘nós’, ou ‘Eu’, da consciência unitiva.

- Na hierarquia entrelaçada, os níveis estão tão misturados que não podemos identificar os diferentes níveis de consciência. Confundimos a consciência local com a não-local. Por isso ficamos presos na ilusão de que existe um ‘eu’ separado dos demais ‘eus’, e separado do universo manifestado e da consciência total.

- É a descontinuidade ou oscilação instantânea e contínua entre um nível e outro, entre manifestação de partículas e não-manifestação, que nos impede de ver através do véu. Como vemos o mundo do ponto de vista e referência de nosso cérebro (visão e audição, particularmente), temos a ilusão de que somos um ‘eu’ separado, que estamos aqui, dois a cinco centímetros atrás do ponto médio entre as sobrancelhas. Contudo, a ciência quântica, como as tradições místicas, concordam em que não há um ‘eu’ pessoal; o ego é apenas uma referência para uso prático, como afirmou Schroedinger, um dos pais da física quântica.

- Para desfazer essa ilusão temos de saltar para fora do sistema do espaço-tempo, ao qual estamos condicionados, e passar para o nível puro, inviolado, a consciência total (o que pode ser possível através da meditação). O ‘eu’ existe devido à ilusão proporcionada pelo cérebro, de cujo ponto de vista experimentamos o mundo (o ‘eu’ e o ‘não eu’).

- O ‘eu’ é conseqüência, portanto, de uma hierarquia de níveis entrelaçados embora nossa consciência seja a mesma consciência do Ser que está além da divisão sujeito-objeto. Não há, no universo, outra consciência. O self da auto-referência e a consciência da consciência original, primária, constituem, juntos, o que chamamos de autoconsciência.

- É a aparência do mundo da manifestação que nos leva à experiência de um self pessoal individual, ou sujeito, separado dos objetos aparentes. Mas, sujeito e objeto manifestam-se simultaneamente no instante do colapso do estado quântico do cérebro-mente, o que produz tanto o cérebro-mente quanto os objetos ‘lá fora’. Sem colapso não há mundo manifestado, nem cérebro-mente para perceber, nem objetos para serem percebidos, portanto, nem sujeito, nem objeto, nem observador, nem coisa observada. Enquanto o cérebro não entra em colapso, o sujeito-observador e o objeto-coisa observada são uma coisa só: o todo.

- O ego é o local onde acontece a auto-referência de todo o universo (como disse Krishnamurti: ‘por ser a mente vazia, existe o cérebro no espaço e no tempo’, isto é, existimos para preencher a mente total, somos os olhos e ouvidos do Absoluto). Em nós o universo divide-se em dois: a parte do universo que vê e a parte do universo que é vista; isto é, o sujeito que observa e o objeto que é observado, ambos ilusórios.

- O mecanismo de observação-medição do cérebro cria uma memória de cada colapso, isto é, de todas as experiências que temos como reação a um dado estímulo. Se o mesmo, ou um estímulo semelhante, é reapresentado, o registro do cérebro reproduz a velha memória. Esta reprodução torna-se um estímulo secundário para o sistema quântico cérebro-mente, que responde em seguida. O sistema mede a nova resposta e assim continua. Essa interação repetida de observações-medições ocasiona uma mudança fundamental no sistema quântico cérebro-mente e este perde seu caráter regenerativo. (Todo sistema quântico tem características regenerativas instantâneas; daí serem sempre e sempre sistemas novos e sem memória; no entanto, como o cérebro perde seu caráter regenerativo em face da repetição de estímulos e dos estímulos denominados secundários, o cérebro que, como todo sistema quântico não tem memória, passa a tê-la, advindo daí a ilusão de um ‘eu’ que tem continuidade no tempo e é separado dos demais ‘eus’, no espaço e no tempo).

- Antes que a resposta a um dado estímulo se torne condicionada, antes que nós a experimentemos pela enésima vez, o conjunto de probabilidades, as superposições coerentes, entre as quais a consciência escolhe a resposta, abrange os estados mentais comuns a todas as pessoas, em todos os lugares, em todos os tempos. Com o aprendizado, porém, as respostas condicionadas tendem a, gradualmente, ganhar mais peso probabilístico do que as outras respostas não repetidas. Esse é o processo de formação dos comportamentos condicionados, aprendidos e conservados na memória de cada indivíduo. Uma vez aprendida uma tarefa, em todas as situações que a envolvam estará presente, em quase cem por cento, a probabilidade de que uma memória correspondente desencadeie uma resposta condicionada, impedindo as respostas criativas, novas, que a consciência traz. Livrando-se do condicionamento, o homem poderá ter soluções criativas, não experimentadas antes, e poderá ter despertados, em si mesmo, o amor, a compaixão e a sabedoria.

- Para livrar-se do condicionamento é necessário fazer morrer o ‘eu’, que são os pensamentos, memórias, imagens, associações, emoções, desejos, medos, ilusões, advindos da genética, cultura, costumes, crenças, religiões, que nos sujeitam, e dessas coisas ficamos dependentes, presos a elas, mesmo sem saber se são verdades absolutas ou se um dia se realizarão. Cessado o ‘eu’, cessam essas distrações ou desatenções, e poderá então despontar aquele amor, aquela compaixão e aquela beleza acima de tudo o que imaginamos.

- Muito cedo, no desenvolvimento do ser humano, numerosos programas aprendidos se acumulam e dominam o comportamento do cérebro-mente, a despeito do fato de que respostas quânticas não condicionadas estejam disponíveis para novas experiências criativas, especialmente como resposta a estímulos não aprendidos ainda. Se a potência criativa do componente quântico do cérebro-mente deixa assim de ser usada (em face do condicionamento adquirido), a hierarquia entrelaçada do sistema cérebro-mente torna-se uma hierarquia simples, apenas referida aos programas aprendidos e condicionados. Nessa fase, a incerteza criativa sobre ‘quem é que escolhe as respostas’ é eliminada e começamos a assumir um self-ego separado totalmente, individual, que pensa que escolhe e que tem livre-arbítrio. Mas, como afirmam os sábios, ‘aquele que pensa que escolhe é imaturo’. Quem escolhe, como vimos antes, é a consciência unitiva, Deus.

- Em nossa ignorância, identificamo-nos com uma versão limitada do sujeito cósmico e concluímos: “eu sou este corpo-mente”. Perdemos, em face da ilusão dos dualismos, eu-não eu, mente-corpo, vida-morte, espaço-tempo, a identidade com o todo.

- Informações armazenadas de estados de consciência anteriores (memória) podem voltar à consciência. Dessa maneira torna-se possível à consciência ver seu próprio reflexo no espelho da memória, embora sempre com uma defasagem temporal, que é o tempo de reação entre o colapso quântico de um evento no espaço-tempo, e a experiência do ego baseada em introspecção (memória) provocada pelos estímulos secundários.

- Nossa preocupação com o processo secundário (indicado pela defasagem temporal) torna difícil que nos tornemos percebedores de nosso self-quântico, primário, real, e de experienciar os estados mentais puros, acessíveis no nível quântico antes do colapso. As práticas de meditação têm por objetivo eliminar a defasagem temporal e colocar-nos diretamente em contato com esses estados mentais em sua essência mais pura. Provas demonstram que a meditação reduz a defasagem temporal entre os processos primário (consciência pura, não-local) e secundário (cérebro-mente, consciência local), permitindo que se encontrem, o que proporciona a percepção do todo absoluto.

- A defasagem temporal da introspecção secundária permite que a experiência que temos em relação ao ego dê a impressão de ser contínua; e o denominado fluxo ininterrupto de consciência que percebemos em nós é o resultado de uma conversa introspectiva que ocorre em nossa mente espontaneamente, o filme emotivo-imaginativo, que, sem cessar, passa por nosso cérebro, como diz o Zen-Budismo.

- A consciência divide-se em sujeito e objeto através do colapso da função onda do cérebro-mente. O colapso é um evento (advindo de fora do espaço-tempo) de descontinuidade no espaço-tempo, mas experienciamos, assimetricamente, a divisão sujeito-objeto na modalidade aparentemente contínua do ego. Dificilmente (talvez somente pela meditação) percebemos o imediatismo da experiência disponível no nível quântico.

- O mundo manifestado não é maya. A verdadeira maya é a separatividade. Sentirmo-nos e pensarmos que somos realmente separados do todo, essa é toda a ilusão. O ego, também, nada mais é que um engodo, um feixe de memórias condicionadas, o passado, portanto o que já é conhecido.

- O self separado, o ego, não tem livre-arbítrio à parte do self quântico, da consciência unitiva, pois como vimos, nada escolhemos.

- O ‘eu’ não é uma coisa, mas uma relação entre a experiência consciente e o ambiente imediato. Nessa experiência, o mundo parece dividir-se entre sujeito e objetos. Ao ser refletida na memória, pelos processos chamados secundários, essa divisão produz a experiência dominante do ‘ego’, a imagem que formamos do experimentador aparente de nossos atos, pensamentos, e sentimentos do dia-a-dia. Essa identificação, no entanto, jamais é completa. Sempre a consciência deixa alguma abertura para o novo, o desconhecido, a novidade incondicionada, o que torna possível, embora muito raramente, aquilo que conhecemos como livre-arbítrio; pensamos que decidimos, quando quem decide é o sujeito cósmico. O ego, ‘eu’, está associado à experiência de percepção secundária, mas não à primária; esta está além do espaço-tempo, é o self-quântico, a própria divindade.

- Em algumas experiências, a identificação do self-quântico com o ego é muito menor que o habitual, como na experiência criativa, na qual o experienciador freqüentemente descreve o ato como inspirado por Deus. Tais experiências ocorrem de uma clara descontinuidade (o salto quântico), em contraste com a continuidade do ego, mais comum, no fluxo da consciência. São as experiências chamadas transpessoais, uma vez que não é dominante a identidade com a pessoa, ou o ‘eu’ particular do experienciador. Experiências paranormais, como a telepatia, a sincronicidade, ‘projeções’ etc., estão aí explicadas, bem como a chamada visão à distância e a coerência das ondas cerebrais geradas pela meditação.

- A nova física vem mostrar que essas experiências podem ser reais, e, assim, a ciência, sempre hostil às grandes tradições religiosas, pode, hoje, caminhar junto com elas no sentido de levar o ser humano à percepção de sua verdadeira natureza e de seu verdadeiro lugar no universo.

- Não há um poder causal que possa ser atribuído ao ego; seu comportamento é inteiramente determinado pela memória e informações recebidas do ambiente. Portanto, o ego não tem poder de decidir, nem de escolher.

- No processo primário (self-quântico), não existe condicionamento; em conseqüência, não há restrições à liberdade de opção. Já no processo secundário (self-ego), nossas respostas são condicionadas (idéias, pensamentos, decisões, sentimentos, serão condicionados pelas experiências anteriores que se acham gravadas na memória devido às repetições). O indivíduo que penetrou no atemporal (que teve a percepção do self-quântico), sempre agirá corretamente pois, descondicionado, pode escolher, e sua escolha será sempre a correta; seu livre-arbítrio é o próprio arbítrio (escolha, vontade) do todo (ou de Deus, como dizemos).

- Na meditação, a concentração da atenção num objeto mental, no fluir dos pensamentos, ou em todo o campo da percepção, permite que nos tornemos apenas testemunhas (pois o ego deixa de interferir) dos fenômenos mentais que surgem na percepção, do desfile de pensamentos e sentimentos condicionados.

- A meditação cria um hiato entre o despertar das respostas condicionadas mentais e a ânsia física de agir de acordo com elas e, desse modo, pode reforçar a capacidade de ‘nosso’ livre-arbítrio, de decidir contrariamente às respostas e aos atos condicionados, com isso enfraquecendo nosso condicionamento que, com a persistência na prática de meditação, poderá ser superado.

- No sonho e na hipnose, o self torna-se, principalmente testemunha (isto é, vê mas não interfere) e entra num estado que se caracteriza pela ausência de eventos de percepção secundária; assim, são enfraquecidas as inibições normais contra o colapso de estados mentais reprimidos. Por esse motivo, sonho e hipnose são úteis para trazer o inconsciente à percepção consciente. Na EQM, experiência de quase morte, o imediatismo desta libera grande volume do condicionamento inconsciente reprimido, tanto coletivo quanto pessoal; por isso, numerosos pacientes saem dessa experiência transbordantes de alegria e paz, pois, sem condicionamentos, a percepção da realidade é expandida.

- Como superar as esmagadoras possibilidades de respostas condicionadas para conseguir as respostas novas, não condicionadas, criativas? - 1.º) minimizando o condicionamento mental, mantendo conscientemente uma mente aberta ao novo, o que tende a aumentar a possibilidade de respostas não condicionadas; 2.º) pela persistência, que vem aumentar as probabilidades de que uma idéia criativa, mesmo de baixa possibilidade, se manifeste; a persistência aumenta o número de colapsos do estado quântico da mente-cérebro relativo à questão, elevando a probabilidade de conseguirmos uma resposta nova; 3º.) uma vez que a observação consciente é que produz o colapso da superposição coerente existente relativa ao problema, há certa vantagem no processamento inconsciente (meditação, sonho, hipnose) das quais pode aflorar o desconhecido. Disse Spencer Brown: ‘nenhuma atividade, nenhum raciocínio, nenhuma cálculo, nenhum comportamento agitado, nenhuma conversa (cérebro em silêncio); apenas contemplação, mantendo em mente, sem esforço, simplesmente, aquilo cuja resposta desejamos’.

- A atenção, na meditação, a todo o campo da percepção, ou a um mantra, ou objeto mental, desvia nossa atenção de pensamentos ociosos, pois nossa consciência não pode focalizar duas coisas ao mesmo tempo. O mundo externo, que existe em nós como um mapa interno, começa a ceder à medida que nos tornamos mais competentes na atenção ao processo da meditação. Finalmente, chegamos a um ponto em que a própria mente parece habituar-se: embora os eventos no campo da percepção secundária ainda estejam presentes, eles serão poucos e muito separados entre si e, nesses hiatos, os processos primários (do self-quântico) podem revelar-se em sua essência.

- A percepção do processo primário é a percepção atemporal, além do espaço-tempo; o meditador estará livre do espaço-tempo, além do ego e, como afirmam os sábios, e as escrituras ditas sagradas, entre elas o Velho Testamento, ‘quando o eu não é, Deus é’; é, portanto, a percepção do Absoluto ou, se quisermos, a percepção da divindade, a percepção de Deus.

- Como ensinou o profeta, ‘Aquieta-te e sabe: eu sou Deus’, isto é, quando conseguimos silenciar o ‘eu’, quem está ali não é mais nosso ilusório ‘ego’, com suas memórias, expectativas, emoções, desejos, apegos; quando o ‘eu’ não está, quem está é o próprio Deus. O ‘eu’, a consciência localizada do ego cessando, pela perseverança na meditação, abre espaço que pode ser preenchido pela própria Divindade. Por isso, aquietando-se o ego, sabemos que quem está ali é o próprio Deus. O aquietamento do ‘eu’ se consegue pela perseverança na meditação.

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EXTRATOS de "O Tao da Física", de Fritijof Capra

(14) EXTRATOS CONVENIENTES (Jan 2008)


(jcl-06-ribpreto)



Extratos de ‘’O Tao da Física”, de Fritijof Capra, conforme conceituados comentaristas do mundo científico, um dos livros mais fascinantes da atualidade. Os físicos modernos, investigando os átomos, não conseguiam entender os tremendos ‘absurdos’ que os experimentos lhes mostravam, o que só foi possível com o auxílio das tradições místicas orientais, antes consideradas superstições e patologia pelos cientistas ocidentais. Mostra que, hoje, a moderna ciência e o misticismo milenar têm idêntica visão de mundo.

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1. Ansiedade, emoção, imaginação, preocupação, pensamento, lembrança, expectativa, ilusão, remorso, desejo, são estática, ruído, que não permite que a mente sintonize o Absoluto. Do mesmo modo, aquilo que as religiões chamam de ‘pecados capitais’ (gula, avareza, ira, preguiça, orgulho, luxuria, inveja) não permitem a tranqüilidade mental necessária para a tentativa de meditação. O objetivo da meditação é eliminar essa estática.

2. As noções gerais acerca da compreensão humana..., ilustradas pelas descobertas da física atômica, estão longe de constituir algo inteiramente desconhecido, inédito, novo. Essas noções possuem uma história em nossa própria cultura, desfrutando de uma posição mais destacada e central no pensamento budista ou hindu. Isso que deparamos (com a filosofia relativa à Física atômica), não passa de uma exemplificação, um encorajamento, uma redescoberta da velha sabedoria do misticismo oriental. (Oppenheimer).

3. Se buscamos um paralelo para a lição da física moderna... devemos nos lembrar de pensadores, como Buda e Lao Tse, em suas tentativas de harmonizar nossa posição como expectadores e atores do grande drama da vida. (Niels Bohr).

4. A grande contribuição científica em termos de física teórica que nos chegou do Japão... pode ser sinal de uma relação, um vínculo entre as idéias filosóficas das tradições Orientais e a filosofia da teoria quântica. (Heisenberg).

5. Quando a mente é perturbada, produz-se a multiplicidade de coisas; quando a mente é aquietada, a multiplicidade de coisas desaparece. (Tudo, o Todo é um vazio que nossos sentidos ajudam a preencher; “a Mente, a Consciência Universal, é vazia; por isso o cérebro existe no espaço e no tempo”, Krishnamurti). (‘Aquieta-te e sabe: eu sou Deus’, do Velho Testamento).

6. Do irreal, conduze-me ao real!/ Das trevas, à luz!/ Da morte, à imortalidade! (Upanishad).

7. Aquele que deseja compreender a natureza de Buda deve observar as estações e as relações causais (observar as ações da natureza, isto é, tudo é simplesmente natural, inclusive o amadurecimento psicológico, o avanço na direção de Deus).

8. Aquele que é a essência mais fina - o mundo todo o tem como sua alma. Aquele é a realidade (Deus), Aquele é Atman, Aquele és Tu. (Upanishad).

9. Todas as ações são realizadas no espaço-tempo pelo entrelaçamento das forças da natureza; contudo, o homem, perdido na ilusão egotista, acredita que ele próprio é o autor. Mas, aquele que conhece a relação entre as forças da natureza e suas ações, vê a forma pela qual umas forças da natureza agem sobre as outras, e não se torna seu escravo. (Bagavad Gita).

10. A tranqüilidade absoluta está no momento presente... Nisto (nesta compreensão) reside o deleite eterno (a bem-aventurança). (Hui-neng) (no aqui-agora).

11. Uma filosofia maravilhosa do dinamismo foi formulada por Buda, há 2500 anos... Impressionado com a transitoriedade dos objetos, a mutação e as transformações incessantes das coisas, reduziu as substâncias, almas, mônadas e coisas, a forças, movimentos, seqüências e processos, e adotou uma concepção dinâmica da realidade (tudo flui e nada é permanente, nem saúde, beleza, riqueza, juventude, amor, amizade, prazer, dor, nada enfim).

12. O budismo concebe um objeto como um evento (processo em movimento) e não como uma coisa ou substância... Isso torna claro que o budismo entende nossa experiência em termos de tempo e movimento. (Suzuki).

13. Podemos então considerar a matéria como constituída por regiões do espaço nas quais o campo (elétrico, de energia, vibrações) é extremamente intenso... Na física não há lugar para as duas coisas, campo e matéria; campo é a única realidade. (Einstein).

14. Uma partícula material, p.ex. um elétron, é apenas um pequeno domínio do campo elétrico dentro do qual a intensidade de campo assume valores extremamente elevados, indicando que uma energia de campo comparativamente elevada está concentrada num espaço muito pequeno. Tal nó de energia, que de forma alguma está claramente delineado contra o campo restante, propaga-se através do espaço vazio (campo) como uma onda de água na superfície de um lago. Não existe algo que seja uma substância única constituída sempre pelos mesmos elétrons. (Weyl).

15. Quando o ‘chi’ (energia) se condensa, sua visibilidade torna-se evidente de modo que existem, então, as formas (coisas, objetos). Quando se dispersa, sua visibilidade não é mais evidente e não há mais formas. No momento de sua condensação, podemos dizer que não seja algo temporário? E, no momento de sua dispersão, podemos afirmar que se torna, então, não-existente? ... O Grande Vácuo (campo) não pode consistir senão em chi; este chi não pode condensar-se senão para formar todas as coisas; e essas coisas não podem dispersar-se senão para formar (uma vez mais) o Grande Vácuo (Vazio). (Chuang Tsai).

16. A física moderna colocou nosso pensamento acerca da matéria assim: desviou nosso olhar daquilo que é visível, as partículas, para a entidade subjacente, o campo, que é invisível. A presença da matéria é, simplesmente, uma perturbação do estado perfeito do campo nesse lugar, algo ‘acidental’, pode-se quase dizer, um mero ‘defeito’. (Needham).

17. O universo físico chinês constitui um todo perfeitamente contínuo. Os objetos, formados pela condensação de chi, dependem, em última instância, da alternância rítmica de todos os níveis das duas forças fundamentais, yin e yang. Os objetos, com seu ritmo intrínseco, estão integrados no padrão geral da harmonia (do ritmo) do mundo (do universo). (idem).

18. A relação entre forma e vazio não pode ser concebida como um estado de opostos mutuamente exclusivos, mas somente como dois aspectos da mesma realidade, que coexistem e se encontram em cooperação contínua. (Lama Govinda). (Vazio é forma, forma é vazio; vazio é objeto, objeto é vazio; tudo é ilusão).

19. As leis naturais não são forças externas às coisas, mas representam a harmonia do movimento a elas imanente. (I Ching).

20. O campo existe sempre e por toda parte; jamais pode ser removido. É o portador de todos os fenômenos naturais. É o ‘vácuo’ a partir do qual são criadas todas as coisas. O aparecimento, a existência e o desaparecimento de partículas não passam de formas de movimento do campo. (Física) (do bramanismo: Brama, Shiva e Vichnu, o criador, o mantenedor e o destruidor).

21. Quando se percebe que o Grande Vácuo está pleno de chi, compreende-se que não existe coisa alguma que seja o nada. (Chang Tsai).

22. Todas as partículas são apenas ‘ressonância’ (do campo).

23. Todos os átomos dançam e, assim, produzem sons. Quando o ritmo da dança se modifica, o som também se modifica. Cada átomo canta sem cessar sua canção, e o som, a cada momento, cria formas densas e sutis. (David-Néel).

24. Dançando, o átomo sustenta seus fenômenos multiformes. Na plenitude dos tempos, dançando ainda, ele destrói todas as formas. (Coomaraswamy).

25. Na física moderna, dividimos o mundo, não em grupos de diferentes objetos, mas em grupos de diferentes conexões... O mundo aparece, assim, como um complicado tecido de eventos, no qual conexões de diferentes tipos se alternam ou se sobrepõem ou se combinam e, dessa maneira, determinam a textura do todo. (Heisenberg; Teilhard de Chardin disse coisa semelhante).

26. Se a unidade da totalidade das coisas não é reconhecida, a ignorância e a particularização surgem em cena, e todas as fases da mente corrompida são, então, desenvolvidas (...). Todos os fenômenos do mundo nada mais são que manifestação ilusória da mente, não possuindo nenhuma realidade própria. (budismo).

27. Da mente (iludida, perturbada) nascem coisas inumeráveis, condicionadas pela discriminação (...) Essas coisas são aceitas pelas pessoas como um mundo exterior (lá fora). O que se afigura como externo não existe na realidade; é, de fato, a mente que é vista como multiplicidade. As propriedades, os corpos e o que foi dito acima, tudo isso, afirmo, nada mais é que a mente. (budismo).

28. Como podemos pensar em coisas em vez de processos nesse fluxo absoluto (o eterno movimento que não é movimento)? Fechando nossos olhos aos eventos sucessivos. Trata-se de uma atitude artificial que secciona a corrente da mudança e a essas secções denomina coisas... Quando percebemos essa verdade, compreendemos o absurdo de adorarmos produtos isolados (coisas, dinheiro, objetos, pessoas, etc) dessa série incessante de transformações como se eles fossem eternos e reais. A vida não é uma coisa ou estado de uma coisa, mas uma mudança ou movimento contínuo e sem fim. (idem).

29. Modificação, movimento sem descanso, fluindo, subindo e descendo sem cessar... Aqui só a mudança atua. (só a mudança é permanente).

30. ‘Li’ é uma lei natural e inescapável acerca das questões e coisas... O significado de ‘natural e inescapável’ é que todas as questões humanas e coisas naturais são feitas de modo a se encaixarem exatamente cada uma no seu lugar (próprio). Esse encaixar-se ocorre sem que se verifique o mais ligeiro excesso ou deficiência... Os homens da antiguidade, ao investigarem as coisas até o último limite, e ao buscarem ‘li’, desejavam elucidar a inescapabilidade natural das questões humanas e coisas naturais, e isso significa, simplesmente, que buscavam todos os lugares exatos onde as coisas se encaixam juntas com precisão. Apenas isso. Portanto, na visão oriental, tudo no universo está conectado com tudo o mais e nenhuma parte é fundamental. As propriedades das partes são determinadas pelas propriedades de todas as outras partes. (budismo e física).

31. Todas as coisas em sua natureza essencial não podem ser nomeadas ou explicadas, não podem ser adequadamente expressas em qualquer forma de linguagem. (budismo e física).

32. Quando dividimos alguma matéria bruta, podemos reduzi-la a átomos. Mas como também os átomos estão sujeitos a novas divisões, todas as formas da existência material, bruta ou não, nada mais são que a sombra da particularização, e não podemos conferir-lhes qualquer grau de realidade (independente ou absoluta. (budismo e física).

32. Nada é realmente finito; tudo está em cada coisa e cada coisa está em tudo.

33. No céu de Indra, diz-se existir uma rede de pérolas dispostas de tal forma que, se contemplamos uma, vemos todas as demais nela refletidas. Da mesma forma, cada objeto do mundo não é simplesmente ele mesmo, mas envolve todos os demais objetos e, de fato, é tudo o mais. (budismo). (Lembra-nos o ‘colar’ do Buda, ao sair de sob a árvore onde se iluminou: cada gema refletia todas as outras gemas. Aí está, exatamente, a visão da física moderna relativa ao bootstrap, o levantar-se pelas próprias botas, a auto-suficiência de todo o universo).

34. Cada porção de matéria pode ser concebida como um jardim cheio de plantas e um açude cheio de peixes. Mas, cada ramo de planta, cada peixe e cada gota de seus humores é também um novo jardim ou um novo açude (Leibniz); ou, nas palavras de William Blake: ‘...ver o mundo num grão de areia, o céu numa flor silvestre; o infinito na palma da mão e a eternidade numa hora.’

35. Levada ao seu extremo lógico, a teoria bootstrap implica que a existência da consciência, juntamente com todos os outros aspectos da natureza, é necessária para a autoconsciência do todo. (Geoffrey Chew).

36. Para o homem iluminado, sua consciência abarca o universo; o universo se torna o seu ‘corpo’, ao passo que seu corpo físico torna-se uma das manifestações da Mente Universal, sua visão interior, uma expressão da realidade mais elevada, e sua palavra (e pensamentos), uma expressão da verdade eterna. (budismo).

37. Todas as coisas recebem seu ser e sua natureza por mútua dependência e, em si mesmas, nada são. (budismo e física).

38. A criação e a dissolução incessante das partículas representam a dança da criação e dissolução dos mundos (a dança de Shiva, do hinduísmo).

39. ‘Criação’ e ‘fim’ do mundo ocorrem a todo instante (budismo e física; ‘bigbangs regionais’; o choque recente de quatro galáxias).

40. O misticismo oriental fornece uma consistente moldura filosófica capaz de abranger nossas mais avançadas teorias científicas acerca do mundo físico. (Capra).

41. O misticismo é, acima de tudo, uma experiência que não se pode aprender com a leitura de livros... mas, o envolvimento com esse tipo de experiência, é altamente gratificante. (Capra).

42. Em face das descobertas da física atual, os paralelos relativos ao misticismo oriental estão aparecendo, não apenas na física, mas também na Biologia, Psicologia, Medicina, e nas ciências humanas, sociais, políticas... com profunda influência sobre quase todos os aspectos da sociedade humana (Capra).

43. As semelhanças entre a física quântica e o misticismo oriental são tantas que nos deparamos com declarações frente as quais é quase impossível dizer se seu autor é um místico oriental ou um físico. (Capra) (Assim, o livro de Ken Wilber: ‘Questões quânticas; escritos místicos dos maiores físicos do mundo’).

44. A Física moderna nos conduz, hoje, a uma visão de mundo essencialmente mística. (Capra) (visão que concorda com as percepções do misticismo milenar).

45. No espaço-tempo, tudo que julgamos permanente é um logro (tudo, fatos, eventos, seres, emoções, poder, riqueza, beleza, saúde etc. não são para sempre e, ainda mais, são totalmente incertos; a impermanência e a incerteza de tudo são o fundamento da filosofia do Buda). (do mesmo modo, não é permanente ou realidade, aquilo que denominamos ‘eu’, alma, a continuidade após a morte biológica etc.).

46. O conhecimento absoluto é uma experiência da realidade inteiramente não intelectual, nascida de um estado de consciência não usual que pode ser denominado ‘meditação’, ou místico. (Capra). (É levar a atenção e o olhar para dentro de si mesmo e esquecer-se).

47. Nossa natureza original é a mesma natureza do Buda iluminado; os estudantes do Zen são desafiados a descobrir sua ‘face original’, e a súbita ‘recordação’ dessa face constitui a iluminação.

48. A preparação da mente (localizada) para esse estado de consciência (não local) é o propósito básico de todas as tradições do misticismo oriental. Nas diversas formas de meditação, o silenciar da mente pensante é obtido através da atenção a um único ponto, à respiração, ao som de um mantra, à imagem visual de um mandala, aos movimentos corporais (naturais) que devem ser efetuados espontaneamente sem a interferência do pensamento, ou ao fluir dos pensamentos, procurando surpreendê-lo no instante de seu nascimento. Com isso, a mente é esvaziada de todos os pensamentos e conceitos (o Zen, numa única palavra: ‘Esvazia-te’) e, assim, está preparada para funcionar, por longos períodos de tempo, no modo intuitivo (‘Ou eu, ou Deus’, ou ‘Aquieta-te e sabe: eu sou Deus’).

48. Em face da semelhança entre o estado de meditação (que demanda total atenção a um ponto apenas, ou a nada) e o estado de alma de um guerreiro, a imagem deste desempenha papel importante na vida espiritual e cultural do Oriente. No Bhagavad Gita, o campo de batalha e as artes marciais são parcelas relevantes das culturas da Índia, China e Japão. Em ‘o caminho do guerreiro’, enfatiza-se a arte da luta onde a atenção alcança seu máximo de perfeição; o alerta total, a atenção que afasta da mente os pensamentos, afasta a lembrança do passado e da expectativa do futuro, mantêm o indivíduo no agora, no eterno momento presente.

49. Como a palavra não é a coisa (isto é, não faz perceber a realidade da coisa), como afirmam os místicos, estes se voltam principalmente para a experiência da realidade, que traz verdadeiro auto-conhecimento, e não para a descrição dessa experiência (esta, apenas, tem valor para motivar os demais à busca da mesma experiência).

50. A experiência mística direta da realidade constitui acontecimento que abala os próprios alicerces em que se apóia toda a visão de mundo de um indivíduo; segundo Suzuki é ‘fato mais espantoso que pode acontecer no reino da consciência humana’, chegando a ‘descontrolar todas e cada uma das formas da experiência comum, padronizada’ (Jung: ‘é a experiência mais importante e sublime na vida do ser humano’).

51. A reação violenta em torno do desenvolvimento da Física moderna só pode ser entendida à medida que compreendemos que os alicerces da Física começaram a se deslocar e que esse movimento gerou sentimento de que a ciência perderia terreno (Heisenberg).

52. Todas as tentativas de adaptar os fundamentos da física (anterior, clássica, newtoniana, cartesiana) a esse novo tipo de conhecimento (física quântica) falharam completamente. Era como se o solo tivesse sido retirado de sob nossos pés, sem que se conseguisse vislumbrar qualquer base confiável e sólida sobre a qual pudéssemos erguer alguma coisa (Einstein).

53. A experiência tem demonstrado com clareza a insuficiência de nossas concepções anteriores e, em conseqüência, tem abalado os fundamentos sobre os quais se erguia a interpretação costumeira da observação científica (Niels Bohr).

54. Todas as coisas, de fato, transformam sua natureza e sua aparência. A experiência que possuímos do mundo é radicalmente diferente... Existe uma forma nova, mais vasta e profunda, de experimentar, de ver, de conhecer, de entrar em contato com as coisas (o conhecer não dualista) (Sri Aurobindo).

55. As três primeiras décadas do século XX transformaram radicalmente toda a visão da física. Dois desenvolvimentos separados, a teoria da relatividade e a física quântica, esfacelaram os principais conceitos da visão de mundo da física clássica: a noção de espaço e tempo absolutos, as partículas sólidas elementares, a natureza estritamente causal dos fenômenos físicos e o ideal de uma descrição objetiva da natureza, tudo isso ruiu, com tremendo choque para o mundo científico. Sabemos, hoje, que não existe qualquer fluir de tempo; que a matéria, a massa, a substância, nada mais é que uma forma de energia, um ‘defeito’ ou ‘acidente’ no campo contínuo de energia do cosmos (Capra).

56. A força de gravidade, segundo a teoria da relatividade, possui o efeito de ‘curvar’ espaço e tempo, curvatura causada pelo campo gravitacional dos corpos compactos; onde existir uma estrela ou um planeta, o espaço ao redor desse objeto é curvo e o grau de curvatura depende da massa do objeto. Como pela teoria da relatividade o espaço não pode ser isolado do tempo, este é, igualmente, afetado pela presença da matéria. Não são apenas as medidas de espaço e tempo que são relativas; toda a estrutura do espaço-tempo depende da distribuição da matéria no universo. Assim, o conceito de ‘espaço vazio’ perdeu seu significado (física).

57. O conceito de objetos sólidos foi destruído pela moderna física. O fenômeno da radioatividade forneceu a prova definitiva da natureza composta dos átomos, demonstrando que átomos de substâncias radioativas não só emitem diversos tipos de radiação como se transformam, também, em átomos de substâncias inteiramente diversas. Rutherford descobriu que as chamadas partículas alfa, emanadas das substâncias radioativas, eram, na verdade, projéteis extremamente velozes, de dimensões subatômicas, que, posteriormente, foram utilizados na exploração do interior dos átomos. Estes, longe de serem partículas sólidas e duras, inesperadamente se percebeu serem imensas regiões de espaço nas quais partículas extremamente pequenas, os elétrons, giram em movimentos ondulatórios em torno do núcleo, ligados a ele por forças elétricas (o núcleo, invisível aos mais sofisticados instrumentos; os elétrons, semelhantes a nuvens de poeira girando em torno dele). O diâmetro de um átomo aproximadamente mede um centésimo milionésimo de centímetro. Para visualizarmos essa dimensão ínfima, imaginemos uma laranja com as dimensões de nosso planeta. Os seus átomos terão, então, o tamanho de cerejas; um número inconcebível de cerejas comprimidas num globo do tamanho da Terra: eis uma imagem aproximada dos átomos de uma laranja.

58. Um átomo, portanto, é extremamente pequeno se comparado a objetos macroscópicos, mas é enorme se comparado a seu núcleo; na imagem acima, de átomos do tamanho de cerejas, o núcleo de um deles seria tão pequeno que não poderíamos vê-lo; se ampliássemos o átomo ao tamanho de uma bola de futebol, seu núcleo seria ainda invisível a olho nu. Para que pudéssemos ver o núcleo, teríamos de ampliar o átomo até o tamanho da maior abóbada do mundo, a da Catedral de São Pedro, em Roma; nesse átomo, o núcleo teria o tamanho de um grão de sal! Um grão de sal no centro da abóbada da Catedral de São Pedro e poeira girando em torno dele: eis uma imagem do núcleo e dos elétrons de um átomo. O número de elétrons nos átomo determina suas propriedades químicas. As interações entre os átomos dão origem aos diversos processos químicos, de tal forma que a Química pode ser, agora, entendida a partir da física atômica (quântica).

59. Os efeitos da teoria quântica na imaginação dos físicos foi devastador. Os experimentos demonstraram que os átomos nada mais tinham a ver com os objetos sólidos da Física clássica. Em vez de sólidos e indestrutíveis, consistiam de vastas regiões do espaço nas quais se moviam partículas extremamente pequenas (submicroscópicas). Essas partículas são extremamente abstratas e de aspecto dual: dependendo da forma como são abordadas, aparecem às vezes como partículas, às vezes como ondas (de energia), natureza estranha exibida também pela luz. Parece impossível aceitar que algo possa ser, ao mesmo tempo, uma partícula - uma entidade confinada a um volume extremamente pequeno - e uma onda, que se espalha por uma extensa região do espaço. Isso deu origem à teoria quântica. Plank descobriu que a energia da radiação térmica não é emitida continuamente, mas aparece sob a forma de ‘pacotes de energia’, os ‘quanta’, como denominou Einsten.

60. A contradição aparente entre as imagens de onda e partícula foi resolvida de forma inteiramente inesperada que derrubou a própria visão de mundo da Física clássica, pois pôs em questão o conceito da realidade da matéria. No nível subatômico, não se pode dizer que a matéria exista com certeza em lugares definidos, mas que ela apresenta ‘tendências de existir’, e que os eventos atômicos ocorram com certeza em instantes definidos e numa direção definida, mas que eles apresentam ‘tendências de ocorrer’. As partículas não são ondas tridimensionais ‘reais’, como as ondas sonoras ou ondas na água; são ‘ondas de probabilidades’. Jamais podemos prever um fato atômico com certeza; podemos, unicamente, supor a probabilidade de sua ocorrência.

61. A Física atômica destruiu, assim, os conceitos de objetos sólidos e de leis da natureza deterministas, da Física clássica. Agora, os objetos clássicos sólidos se dissolvem em padrões de probabilidades semelhantes a ondas, padrões que não representam probabilidades de coisas, mas probabilidades de interconexões. As partículas subatômicas não possuem significado quando isoladas, somente podendo ser compreendidas como interconexões. A nova Física mostra, assim, que todas as partículas estão interconectadas, que há uma unidade básica no universo; que não podemos decompor o mundo em unidades menores dotadas de existência independente. À medida que penetramos na matéria, a natureza não nos mostra quaisquer ‘blocos básicos de construção’ isolados, como se presumia na Física cartesiana. Ao contrário, surge à nossa frente uma complicada teia de relações entre as diversas partes do todo. Nessas relações está, de maneira essencial, sempre incluído o observador, que constitui o elo final na cadeia dos processos de observação, e as propriedades de qualquer objeto atômico só podem ser compreendidas em termos de interação do objeto com o observador. Assim, o ideal clássico de uma descrição objetiva da natureza não tem mais valor. A divisão entre o eu e o mundo, observador e observado, não existe no mundo subatômico. E jamais podemos falar sobre a natureza sem falar, ao mesmo tempo, sobre nós mesmos.

62. Enigmas surgidos em conexão com a estrutura dos átomos e que não podiam ser explicados, foram solucionados. Se os átomos que compõem a matéria consistem quase integralmente de espaço vazio, o que nos impede de caminharmos através de portas fechadas? O que dá à matéria seu aspecto sólido? (A vertiginosa velocidade dos elétrons).

63. Outro ponto é a extraordinária estabilidade mecânica dos átomos. No ar, colidem milhões de vezes a cada segundo e, no entanto, voltam à forma original após a colisão. Um elétron de oxigênio, por exemplo, sempre conservará sua configuração original de elétron, indiferentemente à freqüência com que colida com outros átomos ou elétrons. Essa configuração, ademais, é exatamente a mesma para todos os átomos de determinado tipo. Dois átomos de ferro e, conseqüentemente, dois pedaços de ferro puro, são completamente idênticos, qualquer que seja sua origem ou o tratamento que tenham recebido no passado.

64. Essas incríveis propriedades dos átomos decorrem da natureza ondulatória de seus elétrons. O aspecto sólido da matéria é devido a um típico ‘efeito quântico’, vinculado ao aspecto dual (onda-partícula) dos elétrons e, conseqüentemente, da matéria. Sempre que uma partícula é confinada a uma pequena região do espaço, ela reage a esse confinamento movendo-se circularmente, sendo seu movimento tanto mais rápido quanto menor for a região do confinamento. No átomo, há duas forças que concorrem entre si. Por um lado, os elétrons são ligados ao núcleo por forças elétricas que buscam conservá-los tão próximos ao núcleo quanto possível. Por outro lado, respondem a esse confinamento girando em torno do núcleo e sua velocidade será tanto maior quanto mais firmemente estiverem ligados a ele (cerca de 960 km/seg!). Essas velocidades fazem com que o átomo aparente ser uma esfera rígida, como uma hélice em alta rotação aparece-nos como um disco. É impossível comprimir ainda mais os átomos e, dessa forma, eles conferem à matéria seu aspecto sólido que nos é familiar.

65. No átomo, os elétrons instalam-se de tal forma nas órbitas que existe um equilíbrio ótimo entre a atração do núcleo e a relutância dos elétrons ao confinamento. Suas órbitas diferem muito das dos sistemas planetários (como se ensinava nas escolas), devido à natureza ondulatória dos elétrons. Em vez de partículas girando em torno do núcleo, temos de imaginar ondas de probabilidade dispostas na diferentes órbitas. Sempre que fazemos uma medição (observação), encontramos o elétron em ‘algum’ ponto dessas órbitas, mas não podemos dizer que eles ‘giram em torno do núcleo’, no sentido da Física clássica.

66. Nas órbitas, os elétrons têm de estar dispostos de tal modo que formam padrões conhecidos como ‘ondas estacionárias’; esses padrões aparecem sempre que ondas são confinadas a uma região finita, como as ondas numa corda de violão posta em movimento. Isso mostra que tais ondas podem assumir apenas um número limitado de formas bem definidas. O fato de que os detalhes atômicos, como número quântico (número da órbita) etc., que indicam a localização e a forma das órbitas, o primeiro sendo o número da órbita e determinando a energia que o elétron deve possuir para estar nessa órbita, só poderem ser expressos por números inteiros, significa que o elétron não pode alterar sua rotação com continuidade, pois nunca é encontrado entre órbitas, mas ou numa ou noutra; isso porque o elétron salta de uma órbita para outra, nunca sendo encontrado entre duas órbitas (salta de um número inteiro para outro na representação das órbitas).

67. Tendências de existir, partículas reagindo ao confinamento, átomos passando repentinamente de um ‘estado quântico’ para outro e uma interligação essencial de todos os fenômenos - eis algumas das facetas incomuns apresentadas pelo mundo atômico. A força básica que origina todos os fenômenos atômicos é a gravitacional. Trata-se da força de atração elétrica entre o núcleo atômico positivamente carregado, e os elétrons negativamente carregados. A interação dessa força com os elétrons ondulatórios origina a tremenda variedade de estruturas e fenômenos em nosso meio ambiente, bem como todas as reações químicas, e a formação de moléculas, isto é, agregados de diversos átomos reunidos pela força de atração mútua; constitui a base de todos os sólidos, líquidos e gases, e de todos os organismos vivos e de todos os processos biológicos a eles associados.

68. Nesse mundo imensamente rico dos fenômenos atômicos, os núcleos desempenham o papel de centros extremamente pequenos e estáveis, que constituem a fonte da força elétrica e formam a grande variedade de estruturas moleculares. O núcleo contém, praticamente, toda a massa do átomo. O núcleo é constituído de prótons e nêutrons, partículas que têm aproximadamente a mesma massa - mas cerca de duas mil vezes a massa do elétron -, sendo que o nêutron não dispõe de carga elétrica. A força nuclear, que mantém essas partículas tão rigidamente ligadas dentro do núcleo, é um fenômeno inteiramente novo (força ainda desconhecida pela física), não podendo ser de origem eletromagnética, já que o nêutron é eletricamente neutro. Os físicos viram que se trata de uma nova força, a mais poderosa força da natureza, e que não se manifesta em lugar algum fora do núcleo atômico. Este é cerca de cem mil vezes menor do que o átomo todo e, contudo, contém quase toda a massa deste, o que significa que a matéria dentro do núcleo é extremamente densa se comparada com as formas de matéria com as quais estamos familiarizados. Se todo o corpo humano fosse comprimido até a densidade nuclear, não ocuparia mais espaço que a cabeça de um alfinete. Essa elevada densidade, contudo, não constitui a única propriedade insólita da matéria nuclear. Possuindo a mesma natureza quântica dos elétrons, os ‘núcleons’, como são chamados os prótons e nêutrons, reagem ao confinamento com elevadas velocidades e, como são comprimidos num volume muito mais reduzido que os elétrons, sua reação é muito mais violenta, chegando a percorrer o núcleo de um lado para o outro a cerca de 64.000km/seg! A matéria nuclear é, portanto, uma forma de matéria inteiramente diferente de tudo aquilo com que estamos familiarizados no mundo macroscópico. Podemos figurá-la sob a forma de minúsculas gotas de um líquido extremamente denso que ferve e borbulha da forma mais intensa possível. A forte força nuclear é que responde por todas essas propriedades, e a característica que a torna tão estranha é seu alcance extremamente curto; age apenas quando a distância entre núcleos é da ordem aproximada de duas a três vezes o seu diâmetro. A essa distância, a força é tremendamente atrativa. Contudo, se a distância se torna menor, torna-se fortemente repulsiva, de modo que os núcleos não podem se aproximar mais. Assim, a força nuclear mantém o núcleo em equilíbrio estável, embora altamente dinâmico. (o movimento que não é movimento).

69. A visão que surge do estudo dos átomos mostra-nos que a matéria, em sua maior parte, acha-se concentrada em minúsculas gotas separadas por enormes distâncias. Nesse enorme espaço entre os núcleos compactos e intensamente ‘ferventes’ movem-se os elétrons, reduzidíssimas frações da massa total do átomo, que dão à matéria seu aspecto sólido e fornecem os vínculos necessários à construção de todas as estruturas moleculares. As reações nucleares, muito embora as tremendas forças aí contidas, não têm energia suficiente para perturbar o equilíbrio nuclear.

70. Essas formas de matéria, com suas complexas estruturas, só conseguem existir sob condições muito especiais, e quando a temperatura não é muito elevada, de modo que as partículas não se agitem em demasia. Quando a energia térmica aumenta cerca de cem vezes mais, como ocorre na maioria das estrelas, todas as estruturas atômicas e nucleares são destruídas, estado em que se acha a maior parte da matéria existente no universo. O Sol, nosso elo vital com o mundo dos corpos de grandes dimensões, por exemplo, nos envia um contínuo fluxo de energia resultante de reações nucleares, fenômenos do mundo dos corpos infinitamente pequenos.

71. A nova Física mostrou que o conceito de ‘partículas elementares’, como ‘blocos de construção básicos’, tinha de ser abandonado, pois, até o presente cerca de duzentas partículas foram descobertas, e nenhuma mais merece o nome de ‘partícula elementar’ (nenhuma é mais importante que a outra).

72. A Física moderna mostrou que massa nada tem a ver com substância, sendo, isso sim, uma forma de energia, isto é, uma quantidade dinâmica associada com atividade, ou com processos. O fato de a massa de uma partícula ser equivalente a uma certa quantidade de energia (E=mc²) significa que a partícula não pode mais ser encarada como um objeto mas, sim, como um modelo dinâmico, um processo que envolve uma energia que manifesta a si mesma como a massa da partícula.

73. A Física moderna revelou uma simetria fundamental entre matéria e antimatéria. Para cada partícula existe uma antipartícula de massa igual e carga contrária. Pares de partículas e antipartículas podem ser criados se dispusermos de energia suficiente, e podem voltar a ser energia pura pelo processo reverso de aniquilação das partículas. Esses processos de criação e de destruição de partículas na natureza têm sido observados milhões de vezes. A criação de partículas a partir da energia pura é o efeito mais espetacular da teoria da relatividade. Quando duas partículas dotadas de energia colidem, geralmente fragmentam-se, mas cada fragmento não é menor que a partícula original, e sim uma partícula da mesma espécie, que é criada a partir da energia do movimento (energia cinética) envolvida no processo de colisão. A questão da divisão da matéria é assim resolvida: a única maneira de dividir partículas subatômicas consiste em lançá-las em processo de colisão envolvendo energias (velocidades) elevadas (cisão nuclear). Pode-se, desse modo, dividir indefinidamente a matéria, embora jamais obtenhamos pedaços menores, uma vez que, simplesmente, criamos novas partículas a partir da energia envolvida no processo. As partículas subatômicas são, pois, destrutíveis e indestrutíveis ao mesmo tempo (física e budismo).

74. As partículas são, então, padrões (modelos) dinâmicos, que envolvem certa quantidade de energia que se manifesta, a nós, como massa. Num processo de colisão, a energia das duas partículas envolvidas é redistribuída de modo a formar um novo padrão, que poderá, se a energia cinética for suficiente, formar partículas adicionais.

75. Experimentos realizados nas últimas décadas têm mostrado, de modo inquestionável, a natureza dinâmica e em perpétua mudança do mundo das partículas. A matéria é completamente inconstante. Todas as partículas podem ser transmutadas em outras partículas; podem ser criadas da energia e podem desfazer-se em energia. Assim, as idéias de ‘substância material’, ‘objeto isolado’, ‘matéria’, perderam qualquer significado. A totalidade do universo aparece-nos como uma teia dinâmica de padrões inseparáveis de energia. A partícula não pode mais ser encarada como entidade isolada, mas como parte integrante e inseparável do todo universal.

76. A teoria da relatividade não só mudou drasticamente nossa concepção das partículas, como também a maneira como figuramos as forças que agem entre elas. Essas forças, isto é, sua mútua atração ou repulsão, são vistas como uma permuta de outras partículas. Este conceito é conseqüência do caráter quadridimensional espaço-tempo do mundo subatômico e, nem nossa intuição nem nossa linguagem são capazes de manipular essa imagem. É a permuta de partículas que permite reunir as forças entre os componentes da matéria às propriedades de outros componentes da matéria, unificando os dois conceitos - força e matéria, ou energia e matéria - considerados tão diferentes na Física clássica. Hoje, entende-se que força (energia) e matéria têm uma origem comum nos padrões dinâmicos que são as partículas.

77. Evidências têm demonstrado que os próprios nêutrons e prótons são objetos compostos, e que as forças que os mantém coesos ou (o que é a mesma coisa) as velocidades de seus componentes são elevadíssimas, sendo difícil diferenciar entre forças e partículas.

78. Na Física moderna, o universo é, então, experimentado como um todo dinâmico e indivisível, que sempre inclui o observador; os conceitos clássicos e tradicionais de espaço e tempo, objetos isolados e causa e efeito não têm mais significado. Essa visão é muito semelhante à dos místicos orientais, sendo mais forte nos modelos ‘quântico-relativísticos’, onde as teorias da relatividade e a da mecânica quântica se combinam e produzem os mais surpreendentes paralelos com o misticismo oriental.

79. HINDUÍSMO - Seu objetivo é a experiência mística direta da realidade. Quase todo o pensamento da Índia é, de certa forma, filosófico-religioso, pois o hinduísmo influenciou de maneira quase total, ao longo de muitos séculos, a vida intelectual, social e cultural do país. As manifestações do hinduísmo vão desde filosofias altamente intelectuais, com concepções de alcance e profundidade fabulosos, às práticas rituais ingênuas e infantis das massas (do povo). Sua fonte espiritual está nos Vedas, escritos por ‘videntes’ védicos, e os Upanishads têm a essência de sua mensagem espiritual, que inspirou as maiores mentes da Índia nos últimos vinte e cinco séculos, em consonância com o conselho de seus versos que, no Bhagavad Gita, retratam a batalha do bem contra o mal da natureza humana. Aí, o homem é um guerreiro em busca da iluminação. ‘Tomando como arco a grande arma do Upanishad, nele deve-se pôr a flecha afiada pela meditação. Distendendo-o com o pensamento voltado para a essência d’Aquele, penetra o imperecível como alvo,... Mata, com a espada da sabedoria, a dúvida nascida da ignorância que jaz em teu coração. Entra em harmonia contigo mesmo, em meditação, e ergue-te, grande guerreiro, ergue-te (para o infinito)... ‘!

80. A base da instrução de todo o hinduísmo (e outras tradições orientais) está na visão de que coisas e eventos que nos cercam nada mais são, em sua grande variedade, que manifestações diferentes da mesma realidade última, Brahman, Deus, o que dá ao hinduísmo seu caráter essencialmente monístico, apesar da adoração de numerosos deuses e deusas. Brahman, infinito e além de todos os conceitos, é a ‘alma’ ou essência de todas as coisas; todos aqueles deuses são apenas reflexos, ou indicativos das manifestações, dessa realidade última.

81. A ‘alma’, o Atman, a realidade individual, e Brahman, a realidade última, são Um, afirmação que é a essência dos Upanishads: ‘Aquele que é a essência mais fina, o mundo todo o tem como sua alma. Aquele é a realidade. Aquele é Atman. Aquele és Tu’.

82. O tema básico da mitologia hindu é a criação do mundo pelo auto-sacrifício de Deus, pelo qual Deus se torna o mundo e, no final, o mundo torna-se novamente Deus. O universo é o palco para o drama divino da criação, no qual Deus se faz todas as criaturas (somos máscaras de Deus e Deus é o único ator do mega-drama universal). Enquanto não percebemos a unidade de Brahman, continuaremos na escuridão da ilusão e da ignorância (maya).

83. Libertar-se de maya significa compreender a unidade e harmonia de todas as coisas, de toda a natureza, incluindo a nós mesmos: Todas as ações (no espaço-tempo) são realizadas por combinações das forças da natureza, mas o homem, perdido na ilusão egotista, acredita ser ele o autor. Contudo, aquele que conhece a relação entre essas forças e as ações, percebe a forma pela qual umas forças agem sobre as outras, e não se torna seu escravo. Libertar-se do encantamento de maya e dos laços do karma (força da criação da qual provêm todas as coisas) significa compreender que todos os fenômenos são partes da mesma e única realidade; significa perceber, direta e pessoalmente, o fato de que tudo, inclusive nosso ser, é Brahman. (‘Eu e o Pai somos um’). O caminho hinduísta para a libertação dessa ilusão envolve a prática regular da meditação, cujo objetivo é realizar a união com Brahman (ou com Deus), embora, para o homem comum, a forma de se aproximar do Divino seja adorá-lo sob a forma de um deus, ou deusa, pessoal. O prazer sensual nunca foi suprimido do hinduísmo, uma vez que o corpo sempre foi tido como parte integral do ser humano. A mente ocidental é confundida com o grande número de deuses da mitologia hindu, que são, na verdade, apenas aspectos diferentes da mesma realidade divina.

84. BUDISMO - É voltado totalmente para o psicológico. Buda ensinou a origem do sofrimento humano e a forma de superá-lo. O intelecto é visto apenas como meio de preparar o caminho que leva à experiência mística, ao ‘despertar’. Buda, imediatamente após seu despertar, passou a ensinar a todos a doutrina das Quatro Verdades.

85. Primeira Verdade - a característica mais relevante da condição humana é o sofrimento, nascido de nossa dificuldade de enfrentar o fato básico da vida, isto é, que tudo aquilo que nos cerca é impermanente e transitório (‘Todas as coisas surgem e vão-se embora’, como o peixe que, repentinamente, salta na superfície do lago), e que o fluir e a mudança são características próprias da natureza. O sofrimento surge quando resistimos a esse fluir e nos apegamos às formas, por considerá-las permanentes; contudo, quer sejam coisas, fatos, pessoas ou idéias, todas são maya. A impermanência inclui a noção de que não existe o ego, o Si-mesmo, o sujeito persistente e ilusório de nossas experiências (o eu é apenas uma ilusão).

86. Segunda Verdade - a causa de todo sofrimento é o apego ou avidez, baseados em ponto de vista errado (ignorância), pelo qual dividimos o mundo que percebemos em coisas individuais e separadas, e interpretamos, inconscientemente, as coisas impermanentes que fluem, como coisas fixas e permanentes, e passamos a confiar nelas. Com isso, só teremos frustração sobre frustração. Apegando-nos a coisas que julgamos permanentes (beleza, amor, poder, prestígio, status, amizades, riqueza, saúde, coisas, pessoas, objetos etc.), mas que, na realidade, são transitórias, pois se acham em contínua mudança, caímos num círculo vicioso onde cada ação gera uma nova ação e a resposta a uma indagação gera nova indagação. Esse círculo vicioso é ‘samsara’, a roda do nascimento e da morte, a cadeia infindável de causa e efeito (no espaço-tempo).

87. Terceira Verdade - o sofrimento e a frustração podem chegar a um fim. É possível alcançar um estado de libertação total, denominado nirvana, no qual a falsa visão de um ‘eu’ separado desaparece para sempre e a unidade da vida é percebimento constante. O nirvana, sendo um estado além da mente, é indescritível (conforme Paulo: ‘vi e ouvi coisas inefáveis’); é o estado desperto do Buda. (Inquirido sobre o significado da iluminação, o Buda respondeu: ‘É a libertação de todo sofrimento’).

88. Quarta Verdade - para despertar e extinguir todo o sofrimento, existe o Caminho do autoconhecimento, que conduz ao correto conhecimento (‘Conhecereis a Verdade e a Verdade vos libertará’), à visão correta, à compreensão correta, isto é, ao insight acerca da condição humana, o ponto de partida necessário. Depois, vêm a ação correta, o Caminho do Meio, sem os exageros que o homem pratica, e a meditação correta. Esse caminho era considerado, pelo Buda, a forma de se atingir a iluminação, o nirvana. Ele enfatizou a impermanência de todas as coisas (‘O declínio é inerente a todas as coisas compostas’), a necessidade de nos libertarmos de toda autoridade espiritual, inclusive a sua própria, afirmando que só indicava o caminho, e que cabia a cada indivíduo percorrê-lo até o fim por seus próprios esforços (Krishnamurti: ‘Não ponha outra cabeça acima da sua’; Zen budismo: ‘tudo é apenas o dedo apontando para a lua; não é a lua’).

89. O Budismo oferece doutrinas que vão da fé religiosa a complexas filosofias cujos conceitos se aproximam muito do moderno pensamento científico. Enfatizam as limitações de todos os conceitos e idéias sobre a realidade, que não pode ser descrita. Por isso deu à realidade o nome de ‘vazio’ ou ‘vácuo’, que implica em que todos os conceitos e idéias acerca dela são, em última instância, vazios, inócuos, sem valor. Mas, o ‘vazio’ é a fonte de toda a vida, a essência de tudo que existe, é o Todo.

90. O tema central é a unidade e inter-relação de todas as coisas e eventos, uma concepção que não é apenas a própria essência da visão oriental do mundo, mas que oferece as mais impressionantes semelhanças com a visão de mundo advindas da física moderna, a física quântica.

91. FILOSOFIA CHINESA - Seu mais elevado objetivo é o de transcender o mundo social e cotidiano, e alcançar um plano de consciência além do ego. Esse é o caminho, o Tao, que se alcança agindo espontaneamente e confiando na própria intuição. O mundo é um contínuo fluir, uma mudança contínua: ‘Para aquele que age em conformidade com o curso do Tao, seguindo os processos naturais do céu e da terra (da natureza), é fácil manipular o mundo todo’.

92. A característica principal do Tao é a natureza cíclica de seu movimento e sua incessante mudança. Todos os desenvolvimentos naturais, quer no mundo físico, quer nas relações humanas, são cíclicos, de idas e vindas. ‘O retorno é o movimento do Tao’, e ‘Afastar-se significa retornar’ (Lao Tsé). Sempre que uma situação se desenvolve até atingir seu ponto extremo, é compelida a voltar e a se tornar o oposto do que era, assim como aquele que indo sempre para o leste acaba chegando ao oeste (I Ching). Aquele que acumula muito acaba na pobreza. Nesse padrão cíclico surgiram os opostos yang e yin, pólos que estabelecem os limites para os ciclos de mudança: ‘O yang, tendo atingido seu apogeu, dá lugar ao yin; o yin, tendo atingido seu apogeu, dá lugar ao yang’.

93. Na visão chinesa, todas as manifestações do Tao são geradas pela inter-relação dinâmica dessas duas forças: “Aquilo que ora nos mostra a escuridão e ora nos mostra a luz é o Tao’. ‘A vida é a harmonia combinada do yin e do yang’. Nessa concepção, a doença é vista como o rompimento dessa harmonia. I Ching, o Livro das Mutações, é uma das obras mais importantes da literatura mundial, segundo grandes pensadores. Ele contém a sabedoria reunida em milhares de anos de observação dos processos da natureza, coisas e seres”.

94. TAOÍSMO - Por sua orientação mística, é relevante para a percepção das semelhanças entre misticismo e Física moderna. Nele, também, a visão é a transformação e a mudança, características essenciais da natureza: ‘No crescimento e transformação de todas as coisas, cada característica, cada broto, têm sua forma própria. Nesta, observamos o amadurecimento e a decadência graduais, o fluxo sem fim de transformação e mudança. Todas as mudanças na natureza são consideradas manifestações da interação dinâmica entre as polaridades dos opostos yin e yang. (‘Ir além de todos os opostos é essencial para se chegar à iluminação’).

95. ‘O ‘isto’ é também ‘aquilo’; o ‘aquilo’ é também ‘isto’... Quando o ‘aquilo’ e o ‘isto’ deixam de ser opostos, eis aí a essência do Tao’ (Jesus: ‘Quando fizerdes do macho e da fêmea um só, então entrareis no reino’) e ‘Aquele que preza os que fazem boas obras, e despreza os que fazem más obras, mostra que não conhece os princípios fundamentais da natureza e da vida; é como se honrasse o yin e desprezasse o yang. É claro que esse modo de pensar é totalmente equivocado’. (eu sou assim, você é assim, ele e ela são assim, todos são assim e não há o que fazer com relação a isso).

96. Tudo flui e o fluir é inteiramente imprevisível; a mudança é contínua, mas é cíclica em face da interação da forças yin e yang. Todos os opostos são polares e, assim, unidos, são as faces da mesma moeda. O caminho para cima e o caminho para baixo são um único e o mesmo caminho. Disse Heráclito: ‘Deus é dia e noite, inverno e verão, guerra e paz, saciedade e fome’ (o tsumami e a bonança; todos os opostos, inclusive aquilo que chamamos de mal e de bem).

97. A espontaneidade é o princípio ativo do Tao; por isso, deveria ser a característica de toda ação humana. Huai Nan Tsé: ‘Aqueles que seguem a ordem natural fluem na corrente do Tao’. Pela filosofia taoísta, ‘não-ação’ é refrear-se de toda ação contrária à natureza: ‘A não-ação não significa não fazer nada; é deixar que tudo ocorra como deve ocorrer naturalmente, espontaneamente, de tal forma que sua natureza seja satisfeita’. Se refrearmos nosso desejo de agir contra a natureza das coisas estaremos em harmonia com o Tao. Disse Lao Tsé: ‘Através da não-ação, tudo pode ser feito’.

98. ZEN - Vem da palavra ‘ch’an’, meditação. Seu único objetivo é chegar-se à iluminação, essência de todas as escolas de filosofia orientais, sendo o Zen a única que trata exclusivamente dessa experiência, não possuindo qualquer filosofia ou doutrina especiais. Para o Zen, o despertar de Buda não tem nenhum interesse por qualquer modalidade de interpretação. O ensinamento de que todos podemos chegar a esse despertar, é a essência do Budismo; o resto é acessório. Por isso, entendendo que as palavras jamais poderão expressar a experiência mística (satori), nem a verdade última, o Zen dedica-se somente à iluminação. Contudo, a experiência Zen pode ser transmitida, por métodos especiais, do mestre ao discípulo: ‘É uma transmissão fora das escrituras, que não se baseia em palavras, mas aponta diretamente para a mente humana, olhando dentro da natureza do homem e alcançando o estado de Buda’.

99. Esse ‘apontar diretamente’, feito com ações ou palavras repentinas e espontâneas (koan), que expõem paradoxos do pensamento conceitual, objetiva parar o processo do pensamento de modo a levar o discípulo à experiência mística (enquanto existe pensamento, existe o ego pensante, que interfere; para a experiência mística, o ego deve cessar e o pensamento cessa).

100. Um monge, buscando instrução, diz ao mestre: ‘Minha mente não tem paz; por favor, pacifique-a’. Respondeu o mestre: ‘Traga-me sua mente e eu a pacificarei. ’ Falou o monge: ‘Estou buscando minha própria mente, mas não consigo encontrá-la.’ E o mestre: ‘Pronto! Sua mente já está pacificada’. (a atenção dirigida à mente faz cessarem seus movimentos).

Outro monge pediu ao mestre: ‘Por favor, ensine-me!’ O mestre: ‘Já comeu seu mingau de arroz?’ O monge: ‘Já o comi’, e o mestre: ‘Então, vá lavar sua tigela. ’ (A ênfase está em mostrar que ninguém tem de se isolar, pois pode-se despertar em meio às questões do dia-a-dia, ao viver com a atenção inteira no presente, no agora, no que esteja fazendo). A perfeição, no Zen, é viver a vida diária com naturalidade e espontaneidade. Assim, solicitado a definir o Zen, um mestre replicou: ‘Quando tiver fome, coma; quando tiver sono, durma. ’ Embora, isso pareça simples de fazer, não é (pois, em geral, não comemos nem dormimos apenas, mas ficamos ruminando pensamento atrás de pensamento). Retornar à naturalidade de nossa natureza original exige longo e difícil treinamento: ‘Antes de estudar o Zen, montanhas são montanhas e rios são rios; enquanto estudamos o Zen, as montanhas deixam de ser montanhas e os rios deixam de ser rios; alcançado o objetivo Zen, as montanhas voltam a ser montanhas e os rios voltam a ser rios’ (tudo sempre é o que é; o mundo não muda; o que muda é nossa visão do mundo, agora interpretado corretamente).

101. Indagado acerca da busca da natureza do Buda, Po-chang respondeu: ‘É como cavalgar o boi à procura do boi. ’ (não há o que buscar pois nossa mente já é a mente do Buda).

102. A meditação é praticada diariamente por horas nos mosteiros Zen, e é considerada o mais importante caminho para a iluminação (como ensinavam os padres do cristianismo primitivo, a meditação é a coisa mais importante que a humanidade tem a fazer; e Jung: ‘ela pode proporcionar a experiência mais importante e sublime que o ser humano pode ter’).

103. Tudo tem de ser natural, não devemos usar qualquer esforço; por isso:

‘Sentado tranqüilamente, nada fazendo,

Surge a primavera e a grama cresce por si mesma. ’

104. A unidade de todas as coisas - As visões de mundo das tradições orientais são baseadas na experiência direta e não-intelectual da realidade e, embora a origem geográfica, histórica ou cultural do místico sejam diferentes, as características dessas visões se assemelham àquelas que estão surgindo com a Física moderna. A essência da visão oriental é a unidade e inter-relação de tudo, coisas e eventos, a percepção de que todos os fenômenos são interdependentes e inseparáveis do todo cósmico e manifestações da mesma realidade última. Budismo, hinduísmo e taoísmo afirmam: ‘Aquilo que conhece a alma como qüididade é a unidade da totalidade de todas as coisas, o grande todo que tudo integra. ’ E ‘Na pureza do samadhi, obtém-se o insight que tudo penetra e que nos torna conscientes da unidade absoluta do universo’. A Física moderna nos tem mostrado o mesmo insight: os componentes da matéria e os fenômenos que os envolvem são todos interligados, interdependentes e agem em interação mútua, isto é, não podem ser entendidos como partes isoladas, mas como partes integrantes do todo cósmico. Revela um estado de interconexão absoluta do universo, cada evento dependendo de todos os outros eventos. À medida que penetramos mais e mais na matéria, descobrimos que ela é feita de partículas, mas essas partículas não são os ‘blocos de construção básicos’ como a Física clássica supunha. Simplesmente são abstrações úteis sob o ponto de vista prático, mas desprovidas de significado fundamental. Niels Bohr: ‘As partículas materiais são abstrações, e suas propriedades só podem ser compreendidas e observadas através de sua interação com outros sistemas’. E David Bohm: ‘Temos uma nova noção da totalidade intacta, que refuta a idéia clássica anterior de que se pode analisar o mundo em partes separadas e com existência independente... o inseparável estado de interconexão de todo o universo é a realidade fundamental, e as partes capazes de comportamento relativamente independente são simplesmente formas particulares desse todo’.

105. No nível subatômico, os objetos materiais sólidos da física clássica dissolvem-se em padrões de probabilidades, padrões que não representam probabilidades de coisas, mas de interconexões; o universo não é composto de objetos físicos mas, em vez disso, é formado por uma complexa teia de relações (dinâmicas) entre as diferentes partes do todo uno.

105. Os místicos: ‘O objeto material torna-se algo diferente daquilo que conhecemos; não é um objeto separado, destacado do meio ambiente, do restante da natureza, mas uma parte indivisível e até mesmo uma expressão da unidade de tudo que vemos. ’ E ‘As coisas recebem seu ser e sua natureza por dependência mútua e, em si mesmas, elas nada são.’

106. Os cientistas: ‘Uma partícula elementar não é uma entidade analisável e de existência independente. É, em essência, um conjunto de relações que se voltam para fora em direção a outras coisas. ’ E ‘O mundo afigura-se como um complicado tecido de eventos, no qual, conexões de diferentes tipos se alternam, se sobrepõem, ou se combinam, determinando, assim, a contextura do todo’.

107. No hinduísmo, Brahman é o fio unificador dessa teia cósmica: ‘Aquele no qual o céu, a terra, a atmosfera e todos os sopros vitais (tudo) se acham entrelaçados, esse é a Alma única’. No budismo, a visão de mundo é uma perfeita teia de relações mútuas onde todas as coisas e eventos interagem de forma infinitamente complexa. Na visão do budismo tibetano, suas escrituras são denominadas ‘tantras’, termo cuja raiz significa ‘tecer’ e que se refere ao estado de entrelaçamento e interdependência de todas as coisas e eventos.

108. Na visão da Física, o observador (nós) não é necessário apenas para observar as propriedades de um objeto, mas, igualmente, para a definição dessas propriedades; estas só possuem significado no contexto da interação do objeto com o observador. Heisenberg: ‘O que vemos não é a natureza real, mas a natureza interpretada pelo nosso questionamento’. O observador está envolvido com o mundo que observa na medida em que influencia as propriedades dos objetos observados. ‘A observação perturba a natureza; depois da observação, o universo jamais será o mesmo’, isto é, observador e coisa observada não estão separados, verdade que levou à substituição da palavra ‘observador’ por ‘participante’. Esta idéia é familiar ao misticismo que, pela experiência da meditação, afirma que sujeito e objeto se fundem num todo único e indiferenciado (Krishnamurti: ‘o observador é a coisa observada’). Upanishads: ‘Onde existe uma dualidade, um pode perceber o outro... Mas onde tudo se tornou um único ser, a quem se pode perceber?’ E, ‘Minha ligação com o meu corpo e suas partes é dissolvida; meus órgãos de percepção não mais agem e torno-me Um com o Grande Todo. A isso denomino ‘sentar-se e esquecer todas as coisas’ (meditação).

109. A Física age num âmbito totalmente diverso e não pode ir tão longe na experiência da unidade de todas as coisas. Mas, na teoria atômica, deu um grande passo em direção à visão do mundo dos místicos orientais: aboliu a noção de objetos materiais separados, introduziu o conceito de que o homem é participante e viu ser necessário incluir a consciência em sua observação do mundo; vê o universo como uma teia interligada de relações físicas e mentais, cujas partes só podem ser definidas através de suas vinculações com o todo cósmico. Essa visão da Física se assemelha à visão mística, como as palavras do lama budista Anagarika indicam: ‘O budista não crê num mundo externo independente, existindo separadamente, em cujas forças dinâmicas possa se inserir. O mundo externo e seu interior são apenas dois lados do mesmo tecido, no qual os fios de todas as forças e de todos os eventos, de todas as formas de consciência e de seus objetos, se acham entrelaçados numa rede indivisível de relações intermináveis que se condicionam mutuamente’. (é o que afirma, também, o monge cientista Teilhard Chardin, que, por isso foi, pela igreja, proibido de tornar públicas suas idéias, até o dia de sua morte).

110. Os místicos reconhecem a individualidade das coisas, mas, ao mesmo tempo, estão conscientes de que todas as diferenças e contrastes são relativos dentro de uma unidade que tudo abrange. Em nosso estado normal de consciência, essa unidade de todos os contrastes e, especialmente, a unidade dos opostos, é muito difícil de ser aceita; mas ela constitui uma das características mais enigmáticas da filosofia oriental, um insight que se situa na própria raiz da concepção mística do mundo. Para o místico, os opostos são apenas os dois lados da mesma moeda, os extremos de um todo único. ‘Enquanto em tua mente houver o mais leve resquício de diferença entre o bem e o mal, ainda não és dos nossos’). Suzuki: ‘A idéia fundamental do budismo consiste em ultrapassar o mundo dos opostos, construído pelas concepções intelectuais (abstratas) e corrupções emocionais do homem e em compreender o mundo da não-distinção (o atemporal, onde tudo é um), que implica a obtenção de um ponto de vista absoluto’ (satori).

111. Todo o misticismo oriental gira em torno desse ponto de vista absoluto que é alcançado no mundo do ‘não pensamento’ (meditação), onde se tem a experiência da unidade de todos os opostos. A noção de que luz e escuridão, vencer e perder, bem e mal, vida e morte, masculino e feminino, não passam de aspectos polares diferentes do mesmo fenômeno, é princípio básico do modo de vida oriental; todos os opostos, sendo interdependentes, seu conflito jamais pode resultar na vitória total de apenas um dos lados; em vez disso, será sempre uma manifestação da interação entre os dois lados. Tao é a unidade oculta sob o yin e o yang, as duas forças polares que interagem no mundo: ‘Aquilo que faz aparecer ora a escuridão, ora a luz, ora o mal, ora o bem, é o Tao’.

112. A busca de equilíbrio entre os opostos é bem ilustrada nas obras de arte; daí as esculturas aparentemente eróticas do oriente, as três faces de Shiva (masculina, feminina e a união desses dois opostos), união que só pode ser conseguida num plano superior de consciência, onde o reino do pensamento e da linguagem é transcendido. Esse plano foi alcançado pela Física moderna, que revelou uma realidade que transcende a linguagem e o raciocínio, e verificou a unidade dos conceitos que nos pareciam opostos e irreconciliáveis. Assim, no nível subatômico, as partículas são igualmente destrutíveis e indestrutíveis, a matéria é igualmente contínua e descontínua, e força e matéria não passam de aspectos diferentes do mesmo fenômeno, enquanto, tempo e espaço, que pareciam totalmente diferentes, foram unificados na teoria da relatividade. Objetos que parecem separados, num plano a duas dimensões, se revelam partes de um todo único, num plano a três dimensões. O plano de nossos sentidos é tridimensional e, objetos que nesse plano nos aparentam estar separados, mostram-se unificados no plano quadridimensional da Física moderna, onde força e matéria se mostram unificadas, onde a matéria pode aparecer como partículas descontínuas ou como um campo contínuo (ondas de energia). Os físicos modernos podem vivenciar o plano quadridimensional nas suas teorias e experimentos e, os místicos, no estado de meditação profunda. Lama Govinda: ‘A experiência de dimensão superior é alcançada por um estado de consciência elevado, que se obtém na meditação. Aí, deparamo-nos com certas experiências que são indizíveis, pois o plano de consciência comum, ao qual retornamos, limita nosso processo de pensamento’ (e de nossa linguagem).

112. A busca de equilíbrio entre os opostos é bem ilustrada nas obras de arte; daí as esculturas aparentemente eróticas do oriente, as três faces de Shiva (masculina, feminina e a união desses dois opostos), união que só pode ser conseguida num plano superior de consciência, onde o reino do pensamento e da linguagem é transcendido. Esse plano foi alcançado pela Física moderna, que revelou uma realidade que transcende a linguagem e o raciocínio, e verificou a unidade dos conceitos que nos pareciam opostos e irreconciliáveis. Assim, no nível subatômico, as partículas são igualmente destrutíveis e indestrutíveis, a matéria é igualmente contínua e descontínua, e força e matéria não passam de aspectos diferentes do mesmo fenômeno, enquanto, tempo e espaço, que pareciam totalmente diferentes, foram unificados na teoria da relatividade. Objetos que parecem separados, num plano a duas dimensões, se revelam partes de um todo único, num plano a três dimensões. O plano de nossos sentidos é tridimensional e, objetos que nesse plano nos aparentam estar separados, mostram-se unificados no plano quadridimensional da Física moderna, onde força e matéria se mostram unificadas, onde a matéria pode aparecer como partículas descontínuas ou como um campo contínuo (ondas de energia). Os físicos modernos podem vivenciar o plano quadridimensional nas suas teorias e experimentos e, os místicos, no estado de meditação profunda. Lama Govinda: ‘A experiência de dimensão superior é alcançada por um estado de consciência elevado, que se obtém na meditação. Aí, deparamo-nos com certas experiências que são indizíveis, pois o plano de consciência comum, ao qual retornamos, limita nosso processo de pensamento’ (Paulo: ‘vi e ouvi coisas indizíveis’).

113. A partícula, por ser apenas um padrão de probabilidades (onda), tende a existir em diversos lugares, manifestando estranha modalidade de realidade física entre a existência e a não-existência: não está presente num local definido, nem está ausente; não altera sua posição, nem permanece em repouso; nas palavras da Física: ‘Se se indagar se a posição do elétron permanece a mesma, respondemos ‘não; se a posição varia com o tempo, respondemos ‘não’; se ele permanece em repouso, respondemos ‘não’; se está em movimento, respondemos ‘não’. Essa afirmação é semelhante às palavras dos Upanishads: ‘Move e não se move; está longe e está perto; está dentro de tudo e está fora de tudo. ’

114. Força e matéria, partículas e ondas, movimento e repouso, existência e não-existência - são alguns dos conceitos opostos ou contraditórios que a Física moderna transcendeu. Destes, o mais estranho e fundamental é o último e, no entanto, na Física moderna, somos obrigados a ir além até mesmo do conceito de existência e não-existência. Esta é a característica da teoria quântica mais difícil de ser aceita e de interpretar, e é um dos aspectos mais enigmáticos do misticismo oriental, que também lida com uma realidade que se situa além da existência e da não-existência. Govinda: ‘A qüididade não é aquilo que é existência, nem é aquilo que é não-existência, nem aquilo que é ao mesmo tempo existência e não-existência, nem aquilo que não é ao mesmo tempo existência e não-existência’.

115. Nas palavras dos místicos como nas dos físicos quânticos, os opostos são complementares, se complementam, se integram (yang e yin). Bohr introduziu a noção de complementaridade; para Bohr, partícula e onda são duas descrições da mesma realidade. Essa noção tornou-se essencial à maneira pela qual os físicos modernos pensam acerca da natureza, mas, já há dois mil e quinhentos anos, tem papel importante no antigo pensamento chinês, devido ao insight de que os conceitos opostos são complementares. Os místicos representavam essa complementaridade pelo par yin e yang, considerando sua interação a essência de todos os fenômenos naturais e de todas as situações humanas. Tão impressionado ficou Bohr ao conhecer a noção chinesa de opostos polares que, nomeado cavaleiro, fez desenhar no seu brasão o símbolo ‘t’ai-chi’, que representa a relação complementar dos opostos yin e yang com a inscrição ‘Contraria sunt complementa’ (os opostos são complementares), que é a base da filosofia oriental, reconhecendo a profunda harmonia existente entre a antiga sabedoria oriental e a moderna ciência ocidental.

116. ESPAÇO-TEMPO - A Física atual confirmou, de forma dramática, uma das idéias básicas do misticismo oriental: a de que todos os conceitos que utilizamos para descrever a natureza são limitados, e não características da realidade, como acreditávamos, mas criações da mente, partes do mapa, mas não do território. Nossas noções de espaço e tempo figuram, de forma destacada, em nosso mapa da realidade, razão pela qual são de suprema importância em nossa vida do dia-a-dia. Todas as leis da Física usam os conceitos de espaço e tempo para sua formulação e só compreendemos a natureza e os fenômenos usando esses conceitos. Por isso, as profundas modificações desses conceitos básicos, advindas da teoria da relatividade, constituíram uma das maiores revoluções na história da ciência.

117. A Física clássica baseava-se na noção de um espaço absoluto, de três dimensões, independente dos objetos materiais que contém e, obedecendo às leis da geometria euclidiana, e, também, na noção de tempo, dimensão separada, absoluta, fluindo de maneira uniforme, independentemente do mundo material. A geometria era inerente à natureza, como se considerou por mais de dois mil anos; contudo, Einstein mostrou que a geometria é construção da mente humana. Margenau: ‘O reconhecimento central da teoria da relatividade é de que a geometria é uma construção do intelecto. Só quando esta descoberta é feita, pode a mente sentir-se livre para lidar com as noções de espaço e tempo.’

118. O misticismo oriental sempre sustentou que espaço e tempo são construções mentais e, assim, noções relativas, limitadas e ilusórias: ‘Foi ensinado por Buda, ó monges, que o passado, o futuro, o espaço físico... e os indivíduos não passam de nomes, formas de pensamento, realidades meramente superficiais’. Govinda: ‘Fique bem claro que espaço nada mais é que um modo de particularização, não possuindo existência própria. Ele existe unicamente em relação à nossa consciência particularizadora’. Igual observação aplica-se à nossa idéia de tempo. Os místicos orientais ligam as noções de espaço e tempo a estados particulares de consciência, porque, pela meditação, que os levou além do estado comum, compreenderam que as noções convencionais de espaço e tempo não constituem a verdade última. As noções requintadas de espaço e tempo resultantes da meditação assemelham-se às noções da Física moderna advindas da teoria da relatividade. As especificações espaciais ‘esquerda’, ‘direita’, ‘acima’, ‘abaixo’, etc. dependem da posição do observador sendo, pois, relativas. No tocante ao tempo, a ordem temporal de dois eventos era tida como independente de qualquer observador. As especificações temporais ‘antes’, ‘depois’, ‘simultaneamente’, eram tidas como absolutas, independentes de qualquer sistema de coordenadas; Einstein, contudo, provou que também são relativas e que dependem da posição do observador.

119. A relatividade do tempo exige que se abandone a noção de espaço absoluto. Um evento distante que ocorre em algum instante particular para um observador pode ocorrer antes ou depois para outro observador. Espaço absoluto, independente do observador, não existe. Afirmou o físico moderno, Mendel Sachs: ‘A verdadeira revolução advinda da teoria de Einstein... foi o abandono da suposição de que o sistema de coordenadas do espaço-tempo possui significado absoluto como entidade física isolada. Em vez disso, a teoria da relatividade implica o fato de que essas coordenadas são apenas elementos de uma linguagem utilizada por um observador para descrever seu meio ambiente’.

120. Essa afirmação mostra a semelhança entre as noções de espaço e tempo da Física atual e aquelas dos místicos orientais que afirmam que ‘espaço e tempo não passam de nomes, de formas de pensamento, de palavras de uso comum’.

121. Minkowski (conferência, 1908): ‘As novas concepções de espaço e tempo vieram da Física experimental e aí está sua força. São concepções radicais. Daqui por diante, espaço e tempo estão condenados a desaparecer como simples sombras e só uma espécie de união (são um continuum) entre ambos preservará uma realidade independente’.

122. Em face da velocidade finita da luz (300 mil km/seg.), nunca vemos o universo como ele é no presente mas, sempre, como era no passado. A luz gasta oito minutos para vir do Sol à Terra; por isso, quando vemos o Sol em qualquer momento, estamos vendo como ele era oito minutos atrás. Vemos a estrela mais próxima como ela existia há quatro anos e, com os potentes telescópios, vemos galáxias como elas eram há milhões de anos.

123. Em todo o misticismo oriental existe essa visão de que espaço e tempo são relativos e interdependentes. Suzuki: ‘O Avatamsaka (visão do mundo na iluminação) é ininteligível, a menos que cheguemos a um estado de completa dissolução onde não mais exista distinção entre mente e corpo, sujeito e objeto; onde cada objeto se acha relacionado com cada um dos demais objetos, não apenas temporal como também espacialmente. Como fato de pura experiência, inexiste espaço sem tempo, inexiste tempo sem espaço; eles se interpenetram’. Essas novas noções de espaço e tempo se baseiam na experiência: experimentos científicos, num caso; experiência na meditação, no outro.

124. Devido à compreensão de que espaço e tempo se acham intimamente vinculados e se interpenetram, e que a mudança (impermanência) é elemento essencial, vê-se, igualmente, impressionante semelhança entre a visão da Física atual e a do misticismo oriental quanto a estes dois elementos básicos da concepção do mundo: a unidade básica do universo e sua natureza total e intrinsecamente dinâmica.

125. Os sábios orientais falam de uma ampliação de sua experiência do mundo nos estados superiores de consciência, e enfatizam que, não apenas ultrapassam o espaço tridimensional pela meditação, como transcendem a experiência comum de tempo. Em vez de uma sucessão linear de instantes, experimentam um presente infinito, eterno e dinâmico, que denominam de ‘eterno agora’ (eternidade). Suzuki: ‘No mundo atemporal não existem divisões de tempo, passado, presente e futuro; tais divisões contraíram-se num único momento do presente, no qual a vida palpita em seu verdadeiro sentido. Esse momento não é parado; ele, incessantemente, se move’.

126. Broglie: ‘No espaço-tempo, tudo que para nós constitui o passado, o presente e o futuro, é dado em bloco. Cada observador, à medida que seu tempo ‘passa’, ‘descobre’ novas porções de espaço-tempo que lhe parecem aspectos sucessivos do mundo material, embora, na realidade, o conjunto dos eventos que constituem o espaço-tempo exista anteriormente ao seu conhecimento dos mesmos. ’

127. Govinda: ‘Na meditação, a experiência de espaço é totalmente diferente da usual; e a seqüência temporal é convertida numa coexistência simultânea; nada permanece estático; tudo é um ‘continuum’ vivo no qual espaço e tempo acham-se integrados’.

128. Mestre Zen: ‘A maioria das pessoas acredita que o tempo passa; na verdade, o tempo permanece onde está. Essa idéia de passagem é chamada tempo; trata-se, contudo, de uma idéia incorreta, já que, na medida em que (condicionados) o encaramos como passagem, não podemos perceber que ele permanece onde está’. O Zen enfatiza que o pensamento tem lugar no tempo mas que a visão (mística) o transcende: ‘A visão é levada a um espaço-tempo de dimensão superior e, por isso, eterno’. O espaço-tempo da visão da Física moderna também é espaço-tempo eterno e infinito de uma dimensão mais elevada. Aí, todos os fenômenos estão interligados, mas as interligações não são causais... nesse contexto, inexiste o ‘antes’ e o ‘depois’ e, por isso, inexiste causalidade. De modo semelhante, os místicos orientais asseguram que ao transcender o tempo (pela meditação), eles transcendem igualmente o mundo de causa e efeito. Vivekananda: ‘Tempo, espaço e causalidade assemelham-se ao vidro através do qual se vê o Absoluto. No Absoluto, inexistem espaço, tempo e causalidade. ’ Afirma-se, então, que o misticismo constitui uma forma de libertação do tempo. Pode-se dizer o mesmo da Física moderna.

129. Segundo o misticismo oriental, a realidade é a essência do Todo, sustentando e unificando todas as coisas e eventos do universo. Para os hindus, isso é Brahman; para os budistas, Tathata (Qüididade); para os taoístas, Tao. Eles afirmam que essa realidade última está além de nossos conceitos intelectuais, desafiando qualquer descrição (Paulo: ‘vi e ouvi coisas indizíveis’). A sua característica central está no fato de se manifestar em incontáveis formas que assumem sua existência e se desintegram, transformando-se em outras formas num processo sem fim. Em sua unidade fenomenal, a Unidade cósmica é intrinsecamente dinâmica e a percepção dessa natureza dinâmica é básica para todas as escolas de misticismo oriental. Budismo: ‘A idéia central está na apreensão dinâmica do universo cuja característica consiste em mover-se sempre, em estar sempre num movimento sem fim, e isso é a vida’. (o movimento que não é movimento, movimento indiviso, de Krtishnamurti). Shiva, o Dançarino Cósmico, é talvez a personificação mais perfeita do universo eternamente em movimento. (a dança sem dançarinos, conforme Capra).

130. A visão geral que emerge do hinduísmo é a de um cosmos orgânico, crescendo e movendo-se ritmicamente, onde tudo fluí em permanente mudança; todas as forças estáticas são ‘maya’, isto é, existem apenas como conceitos mentais e, portanto, ilusórios. Este ponto, a impermanência de todas as coisas, é a base do budismo. Buda ensinou que ‘todas as coisas compostas são impermanentes’ e que todo o sofrimento presente no mundo vem de nossa tentativa de nos apegarmos a formas fixas, o que é impossível (pois todas as formas são impermanentes, transitórias) - objetos, pessoas ou idéias - em vez de aceitarmos o mundo à medida que este se move e se transforma: ‘Há 2500 anos, Buda formulou a maravilhosa filosofia do dinamismo universal. Impressionado com a mutação incessante de todas as coisas, reduziu substâncias, almas, coisas, forças, movimentos, seqüências e processos, a coisas apenas transitórias, e adotou uma concepção dinâmica da realidade’. Esse mundo de mudança é ‘sansara’ (movimento sem fim) e o iluminado é aquele que não opõe resistência ao fluxo da vida, mas permanece em movimento com ele. Tao é o processo cósmico que abrange todas as coisas no seu fluir sem fim e, por isso, os taoístas afirmam que o sábio é aquele que ‘flui na corrente do Tao’.

131. Em todos os textos religiosos e filosóficos hindus, budistas e taoístas está evidente que o mundo é concebido em termos de movimento, fluxo e mudança, qualidade dinâmica que é uma de suas características básicas; o universo é uma teia indivisível, inseparável, e cujas interconexões, não são estáticas, mas dinâmicas. Essa teia é viva; move-se, cresce e se transforma incessantemente. À semelhança disso, a Física, hoje, concebe o universo como uma teia de relações intrinsecamente dinâmicas. O aspecto dinâmico emerge da teoria quântica como uma conseqüência da natureza ondulatória das partículas subatômicas, e da teoria da relatividade que revelou a unificação do espaço e tempo, o que implica que a existência da matéria não pode ser separada de sua atividade, em termos de movimento, interação e transformação sem fim. A matéria jamais está em repouso, mas em permanente estado de movimento. Quanto menor o volume de seu confinamento, as partículas respondem a ele agitando-se a velocidades inimagináveis. Lowell: ‘Atingimos (na Física moderna) a grande barreira do pensamento, pois nos pomos a lutar com os conceitos de espaço e tempo (que ali não têm o significado que lhes damos). Por isso, sinto-me como se houvesse sido empurrado para uma espessa neblina onde desaparece o mundo que nos é familiar’.

132. A transformação incessante das partículas que compõem todas as coisas é ilustrada no misticismo: ‘Brahman se transforma no próprio mundo; o Um se transforma nos muitos e os muitos retornam ao Um’; ‘Ao findar-se a noite do tempo, todas as coisas retornam à minha natureza; ao começar o novo dia do tempo, trago-as novamente à luz. Dessa forma, processam-se todos os ciclos do mundo’. (O inspirar e o expirar de Brama, a noite e o dia do Buda).

133. A descoberta, de que a massa é apenas uma modalidade de energia, levou-nos a modificar totalmente o conceito de partícula, que deixou de ser associada à substância material, razão pela qual elas não são mais vistas como consistindo de um estofo material ‘básico’, mas como pacotes de energia (confinada) e, considerando que energia está associada à atividade, a ‘processos’, resulta daí que a natureza das partículas é intrinsecamente dinâmica. Esses pacotes dinâmicos de energia formam as estruturas nucleares, atômicas e moleculares estáveis que constituem a ‘matéria’ e lhe conferem seu aspecto macroscópico sólido, levando-nos a acreditar que ela é feita de alguma substância material. Contudo, observando as partículas, não podemos ver qualquer substância: o que vemos são padrões dinâmicos que se transformam continuamente uns nos outros, uma contínua dança de energia, e isso é o universo e isso somos nós.

134. As partículas não são grãos isolados de matéria, mas padrões de possibilidades, interconexões na teia cósmica indivisível. Sua atividade incessante é a essência de sua existência. Os místicos, em seus não usuais estados de consciência (meditação), chegaram à percepção da interpenetração do espaço e do tempo a nível macroscópico e vêem os objetos macroscópicos de forma muito semelhante à dos físicos. Um dos principais ensinamentos do Buda era que ‘todas as coisas compostas são não-permanentes’; o termo usado para ‘coisas’ é ‘samskara’, que significa primariamente ‘evento’, ‘acontecimento’, ‘ação’ que é o que as coisas são: um evento que surge e se desfaz, um processo dinâmico em incessante transformação. Suzuki: ‘Os budistas concebem um objeto como um evento e não como uma coisa ou substância’.

135. Como o físico moderno, o místico encara os objetos como processos num fluxo universal, negando a existência de qualquer substância material. No taoísmo é a mesma concepção: um Tao que flui perenemente. A Física moderna conhece, hoje, mais de duzentas partículas (do átomo), a maioria criada nos processos de colisão e vivendo muito menos que um milionésimo de segundo. É evidente que essas partículas de vida curtíssima representam padrões meramente transitórios de processos dinâmicos, e é delas que todos os objetos do universo, incluindo nossos corpos, são constituídos.

136. A visão clássica do mundo baseava-se no conceito de partículas sólidas e indestrutíveis deslocando-se num espaço vazio. A nova Física trouxe uma revisão radical dessa concepção, transformando totalmente a noção do que sejam partículas e vazio. Este foi substituído pelo campo magnético, produzido por cargas em movimento, isto é, correntes elétricas, e as forças elétricas daí resultantes podem ser sentidas por outras cargas em movimento. Contudo, o campo existe independentemente da existência de corpos materiais (contrariando a concepção clássica). Ele pode deslocar-se através do espaço na forma de ondas de rádio, de luz ou outras modalidades de energia ou radiação eletromagnética. Matéria e espaço, cheio e vazio, eram os conceitos contrários em que se baseava a Física clássica. Na relatividade de Einstein, esses dois conceitos não podem mais ser separados e, sempre que exista um corpo ‘sólido’, existirá a força gravitacional que ‘curva’ o espaço; e o campo é o espaço curvo. Matéria e espaço são, pois, partes inseparáveis e interdependentes de um único todo. Vimos, antes, que tempo e espaço são interdependentes e inseparáveis; logo, matéria, espaço e tempo, são totalmente inseparáveis e interconexos. A inércia dos objetos materiais, isto é, a resistência à aceleração, não é propriedade intrínseca da matéria, mas uma medida de sua interação (e interdependência) com o restante do universo.

137. Assim, a Física moderna mostra-nos, agora no nível macroscópico, que os objetos materiais não são entidades isoladas, mas se encontram inseparavelmente vinculados ao espaço e ao tempo; que suas propriedades só podem ser compreendidas em termos de sua interação com o meio, com o restante do universo; e essa interação volta-se para o universo como um todo, para as estrelas e galáxias distantes. A unidade básica do universo manifesta-se, pois, não só no mundo do muito pequeno, mas também no mundo do muito grande. Hoyle: ‘Nossa experiência cotidiana, até mesmo nos detalhes mais insignificantes, mostra-se tão intimamente integrada às características em grande escala do universo que é impossível encará-las como coisas separadas’.

138. O campo é compreendido como entidade física fundamental, um meio contínuo que está presente em todos os pontos do espaço. As partículas são condensações do próprio campo, concentrações de energia que surgem e se desfazem, perdendo seu caráter individual e desaparecendo no campo subjacente. Einstein: ‘... a matéria é constituída por regiões do espaço nas quais o campo é extremamente intenso. Nesse novo tipo de Física não há lugar para campo e matéria; campo é a única realidade’. Também os místicos orientais consideram essa entidade subjacente como a realidade última e, portanto, todas as manifestações fenomênicas são vistas como transitórias e ilusórias.

139. Logo, o espaço vazio, o Vazio, não deve ser visto como um simples nada. Ao contrário, é a essência de todas as formas e a fonte de toda a vida. Upanishads: ‘Brahman é vida, é alegria, é o vazio. Alegria, na verdade, é o mesmo que Vazio. Vazio, na verdade, é o mesmo que alegria’. O Vazio que possui o potencial de gerar uma infinidade de coisas (o campo das infinitas possibilidades, de Maharesh) e pode ser comparado ao campo quântico da Física moderna. À semelhança do mundo subatômico do físico, o mundo fenomênico do místico oriental é o mundo de samsara, de nascimento e morte contínuos. Por serem manifestações transitórias do Vácuo, as coisas neste mundo não possuem qualquer identidade fundamental, ponto enfatizado particularmente no budismo, que nega a existência de qualquer substância material e sustenta que a idéia de um Si-mesmo (ego, eu) constante, e que passa por experiências sucessivas, é ilusão. Os budistas comparam essa ilusão de substância material e de um Si-mesmo individual ao fenômeno de uma onda de água, na qual os movimentos de subida e descida das partículas de água nos fazem acreditar que uma ‘parte’ da água se move sobre a superfície. É interessante observar que os físicos utilizaram a mesma analogia no contexto da teoria de campo para indicar a ilusão de uma substância material criada por uma partícula em movimento. Weyl: ‘Conforme a teoria de campo, uma partícula material - por exemplo, um elétron - é apenas um pequeno domínio do campo elétrico no qual a intensidade do campo assume valores extremamente elevados, indicando que uma energia de campo comparativamente elevada acha-se concentrada num espaço bastante pequeno. Um tal nó de energia, que de forma alguma está claramente delineado contra o campo restante, propaga-se através do espaço vazio como uma onda de água através da superfície de um lago. Não existe algo que seja uma substância única da qual o elétron se compõe sempre’ (os objetos não são constituídos sempre das mesmas partículas).

140. Os confucionistas desenvolveram a noção do ‘ch’i’ que apresenta a mais notável semelhança com o conceito de campo na Física moderna. Ch’i é concebido como uma forma tênue e não perceptível de ‘matéria’ presente em todo o espaço e que pode condensar-se em objetos materiais. Chuang Tsai: ‘Quando o ch’i se condensa, sua visibilidade torna-se evidente de modo que existem, então, as formas (os objetos e coisas materiais). Quando se dispersa, sua visibilidade não é mais evidente e não mais há formas. No momento de sua condensação, podemos afirmar outra coisa a não ser que se trata de algo temporário? E, no momento de sua dispersão, podemos afirmar que se torne, então, inexistente?’

141. Assim, ch’i se condensa e se dissolve ritmicamente, gerando todas as formas que, de maneira imprevista, se dissolvem no Vácuo. Chuang Tsai: ‘O Grande Vácuo não pode consistir senão em ch’i; ch’i não pode condensar-se senão para formar todas as coisas; e as coisas não podem dissolver-se senão para formar uma vez mais o Grande Vácuo’ (ch’i).

142. À semelhança do que se verifica na teoria quântica do campo, o campo ou o ch’i não é apenas a essência subjacente a todos os objetos materiais como, igualmente, transporta suas interações mútuas sob a forma de ondas. Física: ‘A física moderna colocou nossa visão acerca da matéria num contexto diferente. Desviou nosso olhar do que é visível - partículas, objetos - para a entidade subjacente (invisível), o campo. A matéria é simplesmente uma perturbação do estado perfeito do campo nesse lugar, algo acidental, pode-se dizer, um mero ‘defeito’ na perfeição do campo’. Misticismo: ‘O universo constitui um todo perfeitamente contínuo. O ch’i condensado em matéria palpável não está particularizado em qualquer sentido importante, mas os objetos individuais agem e reagem com todos os demais objetos individuais de maneira vibratória ou semelhante a ondas, dependentes, em última instância, da alternância rítmica, em todos os níveis, das duas forças fundamentais, yin e yang. Dessa forma, os objetos individuais possuem ritmos intrínsecos e estes estão integrados no padrão geral da harmonia do universo’. (interdependência total).

144. A forma manifesta-se através da troca de energia entre partículas em interação, e todas as interações ocorrem através da troca de partículas. Uma característica fundamental do mundo subatômico é a criação e destruição incessante de partículas. Força (energia) e matéria, dois conceitos tão nitidamente separados na física clássica, têm origem comum nos padrões dinâmicos a que denominamos partículas. Essa concepção acerca das forças é também característica do misticismo oriental, que considera o movimento e a mudança propriedades essenciais e intrínsecas de todas as coisas. Chuang Tsai: ‘Todas as coisas possuem uma força espontânea e dessa forma seu movimento não lhes é imposto a partir do exterior’. I Ching: ‘As leis naturais não são forças externas às coisas, mas representam a harmonia do movimento a elas imanente’.

145. Igualmente, na física quântica do campo, as forças entre as partículas refletem padrões dinâmicos inerentes a essas partículas. Essa teoria mostra que as partículas não podem ser separadas do espaço que as circunda, que elas determinam a estrutura desse espaço, sendo vistas como condensações do campo contínuo que está presente em cada ponto do espaço. O campo é visto como a base de todas as partículas e de suas interações mútuas: ‘O campo existe sempre e por toda parte; jamais pode ser removido. É o portador de todos os fenômenos naturais. É o Vácuo a partir do qual todas as partículas (toda a matéria) surgem (são criadas) e no qual todas as partículas desaparecem (são destruídas). A criação e a destruição das partículas não passam de movimentos do campo’.

146. Quando se tornou evidente que as partículas podem passar a existir espontaneamente a partir do vácuo e desaparecer novamente no vácuo, sem que esteja presente qualquer força de qualquer outra partícula, a diferença entre espaço vazio e matéria teve de ser abandonada. Partículas são formadas a partir do nada e desaparecem em seguida no nada. Eventos desse tipo ocorrem a todo instante. O vácuo, o chamado Vazio, está longe de ser vazio; ao contrário, contém um número sem limites de partículas que passam a existir e que deixam de existir ininterruptamente. O vácuo, da teoria de campo, como o vazio, do misticismo, não é um estado de um simples nada, mas contém a potencialidade para todas as formas do mundo das partículas. Essas formas não são entidades físicas independentes mas, apenas, manifestações transitórias do campo subjacente. Chuang Tsai: ‘Quando se sabe que o Grande Vácuo está pleno de ch’i, compreende-se que não existe coisa alguma que seja o nada’. (Mahareshi: ‘O campo das infinitas possibilidades’. Física: ‘a singularidade, o ponto infinitamente pequeno, onde estavam reunidas todas as forças que deram origem ao ‘bigbang’).

147. A Dança Cósmica. A matéria tem natureza intrinsecamente dinâmica. Os componentes dos átomos, as partículas subatômicas, são padrões dinâmicos que não existem como partes isoladas, mas partes integrantes de uma rede inseparável de interações. Essas interações envolvem um fluxo incessante de energia que se manifesta como troca de partículas, uma interação na qual as partículas são criadas e destruídas interminavelmente numa variação contínua de padrões de energia, dando origem às estruturas ‘estáveis’ (objetos e coisas) do mundo material, as quais não permanecem estáticas mas oscilam em movimentos rítmicos. Todo o universo está em movimento e atividade incessantes, numa permanente dança cósmica de energia.

148. O estudo das partículas revela alto grau de ordem. Todos os átomos e, conseqüentemente, todas as formas de matéria em nosso meio ambiente, são compostos apenas de três partículas maciças: o próton, o nêutron e o elétron; a quarta partícula, o fóton, não possui massa e representa a unidade de radiação magnética. Todas podem desintegrar-se num processo de colisão. Para cada partícula existe uma anti-partícula de massa igual e carga oposta. A força que mantém os prótons e nêutrons unidos no núcleo atômico é a mais poderosa da natureza. Essa força é de dez milhões de unidades (elétrons-volts) enquanto a força que liga os elétrons ao núcleo é de dez unidades apenas.

149. ‘Todas as coisas são agregados de átomos que dançam e, por meio de seus movimentos, produzem ‘sons’. Quando o ritmo da dança se modifica, o som que produz também se modifica. Cada átomo canta incessantemente sua canção e o som, a cada instante, cria novas formas densas e sutis... ’ ‘Dançando, Brahman envia ondas vibratórias do som que desperta, cria e sustenta todas as coisas, formas e fenômenos e, na plenitude do tempo, dançando ainda, Ele destrói todas as coisas e lhes concede novo repouso. Isto é poesia e, contudo, é também ciência. ’

150. Shiva faz-nos lembrar que as múltiplas formas do mundo são maya, ilusórias e em permanente mudança, que esse deus cria e destrói no fluxo incessante de sua dança, a contínua criação-destruição do universo que é envolvido por seu ritmo. Para os físicos modernos, a dança de Shiva é a dança da matéria subatômica, de criação e destruição, que envolve a totalidade do cosmos e constitui a base de toda existência e de todos os fenômenos naturais.

151. Heisenberg: ‘Na física moderna, dividimos o mundo não em grupos de diferentes objetos, mas de diferentes conexões... O mundo aparece, assim, como complicado tecido de eventos, no qual conexões de diferentes tipos se alternam ou se sobrepõem ou se combinam e, com isso, determinam a textura do todo’.

152. Ashvagosha: ‘Quando a unidade da totalidade das coisas não é compreendida, a ignorância e a particularização têm início e todas as fases da mente corrompida são, então, desenvolvidas... Todos os fenômenos do universo nada mais são do que manifestações ilusórias da mente, não possuindo realidade própria’.

153. Sutra budista: ‘Da mente nascem coisas inumeráveis, condicionadas pela discriminação, que são aceitas pelas pessoas como o mundo externo (o mundo fora de nós, o mundo dos objetos e coisas). Mas, o que se afigura como mundo externo não existe na realidade; é, de fato, a mente que é vista como multiplicidade; os corpos, as propriedades... tudo isso, nada mais é que a mente’.

154. Radhaskrishnan: ‘Como podemos pensar em coisas em vez de em processos nesse fluxo absoluto, sem fim? É uma atitude artificial da mente que secciona a corrente de mudança e a essas secções denomina coisas. Quando percebermos essa verdade, perceberemos o absurdo de adorar produtos isolados da série sem fim de transformações como se eles fossem eternos e reais. A vida não é plena de ‘coisas’ mas de processos; é uma mudança sem fim’. Do I Ching: ‘... aqui só a mudança atua’.

155. Bootstrap (levantar-se puxando pelas próprias botas; auto-suficiência), uma visão científica moderna, tem explicação nas palavras de Ch’en Shun, 1200 a.C.: ‘Há uma lei natural e inescapável que governa as questões (humanas) e as coisas (naturais); seu significado é que todas as questões e coisas são feitas de modo a se encaixarem exatamente no seu lugar, sem que haja o mais ligeiro excesso ou deficiência’. (Assim, tudo no universo está exatamente onde deve estar; todos os processos, procedimentos, condutas, pensamentos e ações são exatamente como devem ser, seja no âmbito particular ou geral, nos fenômenos materiais ou mentais).

156. Budismo: ‘No céu de Indra, diz-se existir uma rede de pérolas dispostas de tal forma que, se contemplamos uma, vemos todas as demais nela refletidas. Da mesma forma, cada objeto do mundo não é simplesmente ele mesmo, mas envolve todos os demais objetos e, de fato, é tudo o mais. Por isso, diz-se: ‘Em cada partícula de poeira estão presentes incontáveis Budas’, ou, William Blake: ‘... ver o mundo num grão de areia, segurar o infinito na palma da mão, e a eternidade numa hora’.

157. Leibniz: ‘Cada porção de matéria pode ser concebida como um jardim cheio de plantas e um açude cheio de peixes. Mas cada ramo de planta, cada escama de peixe, cada gota de seus humores, é também um novo jardim cheio de plantas ou um novo açude cheio de peixes’. (Sem fim).

158. Levada a seu extremo, a visão bootstrap implica que a existência da consciência, juntamente com todos os demais aspectos da natureza, é necessária para a auto-consistência (e auto-consciência) do todo.

159. EPÍLOGO - As filosofias das tradições orientais se interessam pelo conhecimento místico, eterno, que se situa além do raciocínio, além do ego, e não pode ser adequadamente expresso em palavras. A relação desse conhecimento com a Física moderna é apenas um de seus múltiplos aspectos e, como todos os outros, não pode ser demonstrada de forma conclusiva, tendo de ser experimentada de forma intuitiva direta (pela meditação; ‘venha e veja por si mesmo’). As teorias e modelos principais da Física moderna levam-nos a uma visão de mundo que é internamente consistente e está em perfeita harmonia com as concepções do misticismo oriental. Para aqueles que já experimentaram essa harmonia, o paralelismo entre as duas visões está fora de qualquer dúvida. Os diferentes caminhos que homens e mulheres têm seguido na tentativa de compreender o mistério da Vida, entre eles o caminho do cientista e o do místico, deram origem a diferentes descrições do mundo que enfatizam diferentes aspectos. Todas elas, contudo, não passam de descrições ou representações da mesma realidade procurada e são, portanto, limitadas. Nenhuma fornece uma representação completa do mundo; apenas uma representação aproximada.

160. A visão de mundo da Física clássica é útil para a descrição dos fenômenos de nossa vida diária; logo, é apropriada para lidar com o nosso meio ambiente de todos os dias e, muito bem sucedida como base para a tecnologia, cujo objetivo é nos proporcionar melhor qualidade de vida. É, contudo, inadequada para descrição dos fenômenos do mundo subatômico. Em oposição a essa visão mecanicista, está a visão dos místicos, ‘orgânica’ (sistêmica), uma vez que eles encaram todos os fenômenos do universo como partes integrantes de um todo (sistema) harmonioso e inseparável. Essa visão surge a partir de estados de meditação. Em sua descrição do mundo, os místicos utilizam conceitos derivados dessas experiências não usuais que são, em geral, inadequados para uma descrição científica macroscópica. Na vida diária, as duas visões são úteis e válidas: uma, para a ciência e a tecnologia; outra, para uma vida espiritual equilibrada e plena.

161. As duas visões surgem quando se questiona sobre a natureza essencial das coisas: na Física, para dentro dos reinos mais profundos da matéria; no Misticismo, para dentro dos reinos mais profundos da consciência. Nas duas visões se descobre uma realidade diferente por trás da aparente mecanicista superficial da vida cotidiana. Mas, embora usem métodos de investigação totalmente diferentes, a semelhança entre as duas visões é impressionante. Os físicos obtêm seu conhecimento dos experimentos; os místicos, da meditação. O místico olha para dentro e explora sua consciência em seus vários níveis, o que inclui o corpo como a manifestação física da mente, isto é, o místico experimenta o universo como uma extensão de seu corpo. Govinda: ‘Para o homem iluminado, cuja consciência abarca o universo, este se torna seu ‘corpo’, ao passo que seu corpo físico torna-se uma manifestação da Mente Universal; sua visão interior, uma expressão da realidade mais elevada, e sua palavra, uma expressão da verdade eterna e do poder mântrico’.

162. O físico, penetrando nas profundezas da matéria, torna-se consciente da unidade essencial de todas as coisas e eventos. Mais ainda: compreende que ele mesmo e sua consciência são partes integrantes, inseparáveis, e dependentes desse todo que é a unidade universal, cujas ‘partes’ estão inter-relacionadas com todas outras partes e eventos do cósmico. Portanto, físico e místico chegam à mesma conclusão: o primeiro, a partir do mundo exterior; o outro, a partir do mundo interior. A harmonia entre suas visões confirma a antiga sabedoria indiana segundo a qual Brahman (ou Deus), a realidade última, que está em tudo e é tudo, é idêntica a Atman (a alma), a realidade última interna.

163. Uma outra semelhança é que suas observações têm lugar em reinos inacessíveis aos sentidos comuns. Na Física moderna, o mundo atômico e o subatômico, inacessíveis aos sentidos humanos; no misticismo, os estados não usuais de consciência, os quais, para atingi-los, temos que transcender os sentidos. Assim, os caminhos do místico e do físico moderno, que pareciam totalmente sem qualquer relação, têm, de fato, muito em comum. Contudo, embora as teorias científicas levem os cientistas a uma visão de mundo semelhante à dos místicos, é impressionante notar quão pouco isso afetou as atitudes da maioria dos cientistas frente à vida, enquanto no misticismo, ao contrário, o conhecimento (leva à ação) não é separado de um determinado modo de encarar a vida do dia-a-dia, que é manifestação viva desse conhecimento. Assim, adquirir conhecimento místico equivale a passar por tremenda transformação; ou melhor, esse conhecimento é a transformação. No entanto, o conhecimento científico tem freqüentemente permanecido apenas na teoria. A maioria dos físicos não compreendeu ainda as importantes implicações filosóficas, culturais e espirituais de suas teorias, e apóia ativamente uma sociedade que ainda se baseia numa visão de mundo fragmentada e, logo, equivocada. Não perceberam que a ciência aponta para além dessa visão, em direção à unidade e à totalidade do universo, que inclui não somente o ambiente natural do qual vivemos e dependemos, mas, também, todos os seres, humanos ou não.

Nagarjuna: ‘Todas as coisas recebem seu ser e sua natureza por mútua dependência. ’

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