sexta-feira, 29 de abril de 2011

O QUE É O ZEN: O QUE É E O QUE NÃO É SUA PRÁTICA.

ZEN

SEMPRE FOMOS O EU

Chuva nevoenta sobre o Monte Lu,
E ondas encapeladas no rio Che.
Se você ainda não esteve lá,
Muitos pesares, por certo, terá;
Mas, uma vez lá e no rumo de casa,
Como parecem prosaicas todas as coisas!
Chuva nevoenta sobre o Monte Lu,
E ondas encapeladas no rio Che.
   
(Su Tung-Po)

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O QUE É O ZEN

O Zen não é decididamente um sistema fundado na lógica e na análise. É algo antípoda da lógica e do modo dualístico de pensar. Pode haver um elemento intelectual no Zen, pois ele é a mente total onde encontramos muitas grandes coisas. Mas a mente não é um composto, que deva ser dividido em tantas faculdades, nada deixando após a dissecação. O Zen nada tem a ensinar, no que diz respeito à análise intelectual, nem impõe qualquer conjunto de doutrinas aos seus seguidores. A esse respeito, o Zen é caótico, se assim o quiserem chamar. Seus adeptos podem formular conjuntos de doutrinas, formulando-os, porém, por sua conta e para benefício próprio, e não do Zen. Portanto, não há, no Zen, livros sagrados ou assertivas dogmáticas, nem qualquer fórmula simbólica através da qual se obtenha um acesso à sua significação. Se me perguntassem o que ensina o Zen, responderia que ele nada ensina. Qualquer ensinamento que exista no Zen vem mediante nossa própria mente. Ensinamo-nos a nós mesmos. O Zen meramente aponta o caminho. A menos que consideremos este apontar como um ensinamento, nada há no Zen propositadamente estabelecido como doutrinas cardeais ou filosofia fundamental.

O Zen sustenta ser budista, mas todos os ensinamentos budistas, do modo por que são propostos nos sutras e sastras, são tratados pelo Zen como mero papel, cuja utilidade consiste em limpar o lixo do intelecto, e nada mais. O Zen, entretanto, não é niilista. Todo niilismo é autodestrutivo, não termina em lugar nenhum. O negativismo é puro como um método, mas a verdade mais alta é uma afirmação. Quando se diz que o Zen não tem filosofia, que nega toda autoridade doutrinária, que põe de lado toda a literatura sagrada como inútil, não se pode esquecer que o Zen está sustentando, com essa negativa, algo completamente novo, positivo e eternamente afirmativo. Isto se tornará claro à medida que prosseguirmos.

D.T.Suzuki

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MENTE DE PRINCIPIANTE

"Há muitas possibilidades na mente do principiante, mas poucas na do perito."

As pessoas dizem que é difícil praticar Zen, mas há um mal-entendido quanto ao "porquê". Não é difícil porque seja árduo sentar-se de pernas cruzadas ou atingir a iluminação. É difícil porque é árduo manter a mente pura ou a prática pura em seu sentido fundamental. A escola Zen desenvolveu-se, no decorrer do tempo, de muitas maneiras mas, ao mesmo tempo, tornou-se cada vez mais impura. Assim, o que desejo é ajudar você a manter sua prática (prática do Zen) livre de impurezas.

No Zen, dispomos do termo shoshin, que significa "mente de principiante", mente pura, sem preconceitos, sem se atirar à conclusões antecipadas. O objetivo da prática é conservar a "mente de principiante". Suponhamos que você recite um sutra (um ensinamento ou frase do Buda) uma só vez. Poderia ser uma boa recitação. Mas o que lhe acontecerá se o recitar duas, três, quatro ou mil vezes? Você poderia facilmente perder sua atitude original em relação a ele. O mesmo acontecerá com suas outras práticas Zen. Por algum tempo você manterá sua “mente de principiante”, porém, se continuar a prática um, dois, três anos ou mais, embora você possa melhorar em alguns aspectos, é possível que perca o sentido ilimitado e puro da "mente original”.

Para os estudantes do Zen, o mais importante é não serem dualistas. Nossa “mente original" inclui em si todas as coisas. Ela é sempre rica e auto-suficiente. Você não deve perder esse estado mental auto-suficiente. Isto não significa uma mente fechada e sim, na verdade, uma mente vazia e alerta. Se sua mente está vazia, está pronta para qualquer coisa; ela está aberta a tudo. Há muitas possibilidades na mente do principiante, mas poucas na do perito.

Se você discrimina demais, você se limita. Se é exigente ou ambicioso em excesso, sua mente não é rica nem auto-suficiente. Se nossa mente perder sua auto-suficiência original, todos os preceitos se perderão. Quando sua mente se torna exigente, quando você anseia por algo, você acaba por violar os preceitos: não mentir não roubar; não matar, não ser imoral; ela perde a tranqüilidade e assim por diante. Se você conservar sua mente original, os preceitos se manterão por si próprios.

Na mente do principiante não há pensamentos do tipo "eu alcancei algo". Todos os pensamentos centrados no ego/eu limitam a vastidão da mente. Quando não alimentamos nenhum pensamento de conquista, nem pensamentos egocentrados, somos verdadeiros principiantes e podemos então aprender alguma coisa de fato. A mente do principiante é a mente de compaixão. Quando nossa mente é compassiva, torna-se ilimitada. O mestre fundador da nossa escola, sempre enfatizou a importância de preservar nossa mente original ilimitada. Com ela somos verdadeiros conosco, estamos em comunhão com todos os seres e podemos, de fato, praticar para, afinal, alcançar a verdade.

Assim, a coisa mais importante é manter sua "mente de principiante". Não há necessidade de ter uma profunda compreensão do Zen. Mesmo que você leia muita literatura Zen, deve ler cada frase com uma mente virgem. Nunca deve dizer: "Eu sei o que é Zen' ou "eu atingi a iluminação". O real segredo das artes também é esse: ser sempre um principiante. Seja muito cuidadoso nesta questão. Se começar a praticar zazen (a prática de se sentar apenas sem se apegar a qualquer pensamento), você começará a valorizar sua mente de principiante. Este é o segredo da prática do Zen.

Shunryu Suzuki

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O QUE A PRÁTICA NÃO É

Muitas pessoas praticam e têm sólidas concepções do que a prática é. O que desejo expor (de meu ponto de vista) é o que a prática não é.

Em primeiro lugar, ela não diz respeito a causar mudanças psicológicas. Se praticarmos com inteligência, a mudança psicológica será causada; não estou questionando isto que, aliás, é algo maravilhoso. Estou dizendo que a prática não é efetuada com qualquer objetivo, como o de conquistar qualquer mudança, progresso, melhora íntima, salvação ou iluminação. Não deve existir qualquer objetivo; deve existir apenas a prática.

A prática não é para conhecer intelectualmente a natureza física da realidade, saber do que consiste o universo, ou como funciona, o que somos, o que é Deus. É verdade que, numa prática séria, persistente e bem feita, nossa tendência é ter algum conhecimento desses assuntos. Mas isso não é o objetivo da prática.

A prática não é atingir algum estado de graça, não é ter visões, não é ver luzes brancas, douradas ou brilhantes. Todas essas coisas podem mesmo acontecer se sentarmos durante tempo suficiente. Mas isso não é o objetivo da prática; a prática não tem objetivo. Se houver qualquer objetivo, propósito ou finalidade, a prática não é Zen.

A prática não é ter ou cultivar poderes especiais. Há muitos deles, e todos nós já os possuímos, naturalmente. Alguns os têm numa proporção extraordinária. No Centro Zen de Los Angeles, às vezes, eu tinha a útil capacidade de ver aquilo que estava sendo servido como jantar a duas portas de distância. Se era alguma coisa que eu não apreciava, eu não ia jantar. Essas aptidões são pequenas excentricidades e, repito, não constituem a verdadeira prática.

A prática não implica busca de poder pessoal; essa força pode vir após anos de prática do sentar; é apenas uma decorrência natural do zazen. Mas, insisto, esse não é o caminho.

A prática não é para ter sentimentos agradáveis, felizes. Não é para se sentir bem, em vez de mal. Não é uma tentativa de ser ou de sentir qualquer coisa especial. O produto ou a finalidade da prática, ou aquilo a que ela se refere, não é ser/estar sempre calmo ou controlado. Mais uma vez, nossa tendência é nos tornarmos assim após muitos anos de prática, no entanto essa não é a questão, esse não é o objetivo, pois não deve haver objetivo.

A prática não se relaciona a algum estado corporal de saúde absoluta, de proteção total contra qualquer tipo de doença grave. Sentar costuma produzir resultados benéficos na saúde de muitas pessoas, embora durante a prática possam escoar meses ou mesmo anos de desastres com a saúde. Mais uma vez, a busca da saúde perfeita não é o caminho; embora, sem sombra de dúvida, com o tempo, haverá um efeito benéfico na saúde da maioria das pessoas. Mas, não há qualquer garantia nesse sentido!

A prática não implica na busca de um estado de onisciência no qual a pessoa conhece tudo de tudo, estado em que a pessoa é uma autoridade a respeito de todo e qualquer problema mundano. Pode até mesmo despertar certa clareza relativa a respeito de algumas questões, mas as pessoas esclarecidas também são conhecidas por dizer e fazer tolices. Outra vez, a onisciência não é a questão.

A prática não quer dizer ser "espiritual", pelo menos não como esta palavra costuma ser entendida e empregada. Ela não é para ser coisa alguma. Portanto, a menos que tenhamos clara nossa “não-intenção” de ser "espirituais", a prática poderá ser prejudicada e não levará a coisa alguma.

A prática não envolve salientar todas as espécies de "boas" qualidades e livrar-se das supostas "más". Ninguém é "bom" ou "mau". A luta para ser bom não é a prática. Esse tipo de treino é uma forma sutil de atletismo mental; não é zazen.

Poderíamos, de modo quase incessante, continuar relacionando aspectos do que a prática não é. Na realidade, qualquer um na prática pode estar mobilizado por uma ou outra dessas ilusões. Todos esperamos mudar, chegar a algum lugar! Essa é em si uma falácia básica. Porém, o mero contemplar desse desejo começa a esclarecê-lo e a prática essencial de nossa vida se altera conforme a executamos. Começamos a compreender que nosso desejo frenético de ser melhor, de "chegar a algum lugar", nada mais é do que pura ilusão, é a fonte de todos os nossos sofrimentos.

Se nosso barco cheio de esperanças, ilusões e ambições (de chegar a algum lugar, de tornar-se espiritual, de ser perfeito, de alcançar a iluminação) vira de ponta-cabeça, o que será desse barco vazio? Quem seremos, então, nós? Não podemos depender daquilo que é incerto ou impermanente, daquilo que é apenas esperança e imaginação; temos de ir alem disso e o zazen pode nos levar “lá”.

Charlotte Joko Beck

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O QUE A PRÁTICA É

A prática é muito simples. Isso, entretanto, não significa que não irá transformar por completo nossa vida. Quero rever o que fazemos quando sentamos, ou praticamos o zazen. Vocês podem ate mesmo pensar que já estão além disso, mas estarão mesmo?

Sentar é essencialmente um espaço simplificado. Nossa vida diária está em constante movimento: acontecem muitas coisas, muitas pessoas falam, muitos acontecimentos ocorrem. Em meio a tudo isso, é muito difícil sentir o que somos verdadeiramente. Quando simplificamos a situação, quando deixamos os elementos externos de lado e nos retiramos do alcance do toque do telefone, da televisão, das pessoas que nos visitam, do cachorro que precisa passear, temos uma chance - que é, exatamente, a coisa mais valiosa que existe - de ficar de frente a frente conosco mesmos. A meditação não está relacionada com algum estado e, sim, com seu praticante. Não diz respeito a alguma atividade, ou a consertar ou a conseguir algo. Refere-se a nós. Se não simplificamos a situação, a oportunidade de dar uma boa olhada em nós mesmos fica muito reduzida, porque aquilo que nos propomos ver não somos nós e, sim, tudo o mais. Se algo dá errado, para o que olhamos? Olhamos para o que saiu errado e, em geral, para aqueles que, a nosso ver, foram os responsáveis pelo erro. Ficamos o tempo todo olhando para fora, e não para nós mesmos.

Quando digo que a meditação diz respeito a quem a pratica, não pretendo afirmar que devemos nos comprometer numa auto-análise. Não é isso. Então o que devemos fazer?

Depois de termos assumido nossa melhor postura (que deve ser equilibrada, fácil), ficamos “apenas sentados ali”, então sim, estamos praticando zazen. O que significa “apenas sentados ali"? Essa é a mais exigente de todas as atividades do Zen. Por via de regra, na meditação, não fechamos os olhos. Neste momento, porém, gostaria que fechassem os olhos e ficassem apenas sentados. O que está acontecendo? Toda espécie de coisas. Uma fisgada mínima no ombro esquerdo; uma pressão no lado... Percebam o rosto por um momento. Sintam-no. Estará tenso em algum lugar? Em torno da boca, na testa? Vamos descer um pouco mais. Observem o pescoço, somente sintam-no. Agora, os ombros, as costas, o peito, a região abdominal, os braços, as coxas. Continuem sentindo tudo que encontrarem. Agora sintam a respiração entrando e saindo. Não tentem controlá-la, apenas senti-la. Nossa primeira reação é tentar segurar a respiração. Deixe que aconteça naturalmente. No alto do peito, no meio, na barriga, pode parecer tensa. Apenas sinta como está. Sintam tudo isso. Se um carro passa lá fora, ouçam-no. Se um avião passar, observem-no. Talvez ouçam o barulho cíclico do motor da geladeira. Que seja! E o que vocês têm de fazer, positivamente é tudo o que vocês têm de fazer: experimentar isso e apenas ficar com essa experiência. Agora podem abrir os olhos.

Se conseguirem ficar fazendo isso durante três minutos, já é um milagre. O normal é que, decorrido um minuto, nossa atenção ao mundo cesse e começamos, novamente,a pensar. Nosso interesse em apenas acompanhar/testemunhar a realidade (que é o que acabamos de fazer) é muito reduzido. E alguém dirá: “Você quer dizer que zazen é só isso? Isso não nos interessa pois, o que queremos, é buscar a iluminação." Nosso interesse pela realidade é extremamente pequeno. Não queremos pensar. Queremos nos afligir com todas as nossas preocupações. Queremos entender qual é o sentido da vida. Assim, antes de nos darmos conta, teremos esquecido por completo deste momento de atenção e teremos divagado em pensamentos sobre as coisas: o namorado, a namorada, o filho, o patrão, o medo permanente... e por aí afora! Nada há de vergonhoso nesse fantasiar, exceto que, quando estamos imersos nele, perdemos alguma outra coisa. Quando estamos perdidos em nossos pensamentos, quando estamos sonhando, o que estamos perdendo? A própria realidade. Nossa vida nos escapou.

Isso é o que os seres humanos fazem. E não fazem isso só uma parte do tempo: fazem a maior parte do tempo, talvez todo o tempo. Por quê? Claro que vocês sabem a resposta. Fazemos porque estamos tentando nos proteger. Estamos tentando nos livrar de nossos medos de viver e de morrer, de nossas dificuldades atuais, do futuro incerto ou, pelo menos, de entendê-los. Não há nada de errado em nossos pensamentos autocentrados, exceto que, quando nos identificamos com eles, nossa visão da realidade fica bloqueada. Assim, o que devemos fazer quando os pensamentos aparecem? Devemos dar-lhes rótulos. Coloquem rótulos específicos: não só "pensamento, pensamento" ou "preocupação, preocupação", mas um rótulo específico. Por exemplo: "Estou pensando que ela é muito mandona"; "Estou pensando que ele é muito injusto comigo"; "Estou pensando que nunca faço as coisas certas". Sejam específicos. Se os pensamentos estiverem vindo em avalanche, numa velocidade tão grande que vocês não sintam mais nada senão confusão, então simplesmente rotulem essa confusão nebulosa de "confusão". Mas se insistirem em localizar pensamentos isolados, cedo ou tarde, eles virão e vocês estarão fazendo a prática certa.

Quando praticamos dessa maneira, passamos a nos conhecer, a saber como nossa vida funciona, o que estamos fazendo com ela. Se percebemos que determinados pensamentos reaparecem centenas de vezes, ficamos sabendo a nosso respeito algo que antes desconhecíamos. Talvez nosso pensamento incessante refira-se ao passado ou ao futuro. Algumas pessoas estão sempre pensando sobre acontecimentos, enquanto outras sempre estão pensando em pessoas, e outras no que realizaram ou vão realizar. Há quem pense sempre a respeito de si mesmo. Em algumas, os pensamentos são quase só julgamentos a respeito dos outros. Enquanto não os rotularmos durante todo o tempo, não conseguimos nos conhecer. Quando damos rótulos precisos e meticulosos a nossos pensamentos, o que acontece com eles? Eles começam a aquietar-se. Não é preciso que nos obriguemos, que nos forcemos a nos livrar deles. Quando eles se acalmam, podemos retornar à experiência do corpo e da respiração, muitas vezes seguidas. Não há como deixar de enfatizar que não fazemos isso apenas duas ou três vezes; fazemos dez mil vezes. Com isso, nossa vida se transforma. Essa é uma descrição teórica do “sentar”. E muito simples. Não há nada de complicado nela.

Consideramos agora uma situação da vida cotidiana. Suponhamos que você trabalha mima companhia de aviação, e lhe contam que o contrato com o governo está terminando e é provável que não seja renovado. Você pensa com seus botões: "Vou perder meu emprego. Vou ficar sem rendimentos e tenho uma família para sustentar. E terrível!". O que acontece então? Sua mente começa a remoer o problema sem parar. "O que acontecerá? O que faço?" A mente começa a ficar cada vez mais perturbada e rápida com a preocupação.

Claro que não há nada de errado em planejar com antecedência. Temos de planejar. Porém, quando ficamos aborrecidos, não é porque apenas planejamos, mas porque ficamos obcecados. Viramos a situação do avesso de todos os jeitos e não encontramos solução para o problema. Se não soubermos o que significa fazer uma prática com nossos pensamentos de preocupação, apenas rotulá-los, o que acontece em seguida? Os pensamentos produzem uma emoção e ficamos mais agitados ainda. Toda agitação emocional é causada pela mente. Se permitirmos que isso aconteça durante um certo tempo, acabaremos em muito provavelmente ficando doentes ou mentalmente deprimidos. Se a mente não solucionou a situação de modo conveniente, com discernimento, o corpo tentará faze-lo, tentará nos ajudar a “sair dessa”. É como se dissesse: "Se você não consegue resolver a situação, tomar conta da situação, eu tomarei conta". Assim, produzimos dores corporais, nosso próximo resfriado, nossa alergia seguinte, nossa próxima úlcera, seja qual for nosso estilo. A mente que não está consciente de si produzirá enfermidades. Muitas pessoas adoecem justamente por isso. Quando o desejo de nos preocupar é forte, criamos dificuldades. Com uma prática regular, podemos, aos poucos, nos desfazer delas, diminuí-las. Tudo aquilo de que não formos conscientes frutificará em nossa vida, de um jeito ou de outro.

Do ponto de vista humano, as coisas que dão errado em nossa vida são de dois tipos: primeiro tipo: são os fatos que acontecem fora de nós e, segundo tipo: os fatos que acontecem dentro de nós, como as doenças físicas. Ambas são a nossa prática e trabalhamos com elas do mesmo modo. Rotulamos todos os pensamentos que acontecem à volta deles e os vivenciamos em nosso corpo. O processo é o próprio pensar.

Falar a esse respeito parece, de fato, fácil. Entretanto, fazê-lo é terrivelmente difícil. Não conheço ninguém que possa fazê-lo o tempo todo. Conheço algumas pessoas que conseguem uma boa parte do tempo. Mas, quando praticamos desta forma, tomando consciência de tudo que entra em nossa vida (interna e externa), ela começa a transformar-se. Aumentamos nossa força e nosso discernimento; às vezes, conseguimos inclusive viver num estado de iluminação, que só significa experimentar a “vida como ela é”, sem ilusões e esperanças vãs. Não é nenhum mistério.

Se você é novato na prática, é importante saber que ficar apenas sentado na almofada durante quinze minutos já é uma vitória. E é ótimo ficar sentado com essa compostura, somente ficar ali.

Se tivéssemos medo de ficar na água e não soubéssemos nadar, a primeira vitória seria entrar na água. O próximo passo poderia ser molhar o rosto. Se fôssemos ótimos nadadores, o desafio poderia ser conseguir bater a mão na água numa determinada inclinação, a cada braçada. Isso significa que um é melhor do que o outro? Não. Ambos são perfeitos, cada qual em sua etapa do caminho. A prática, em qualquer estágio, é simplesmente “ser quem somos a cada momento”. Não é uma questão de sermos bons ou maus, melhores ou piores. Às vezes, depois das palestras, as pessoas comentam: "Não entendi isso". Pois esse comentário também está perfeito. Nosso entendimento aumenta com o tempo, contudo, a qualquer momento, somos perfeitos simplesmente por ser do “jeito que somos.”

Começamos a aprender que só existe uma coisa na vida em que podemos confiar. Qual é? Podemos dizer: "Confio em meu companheiro". Podemos amar nosso marido, nossa esposa; mas não podemos nunca confiar cegamente neles porque uma outra pessoa (assim como nós) é sempre não confiável até certo ponto. Não há uma pessoa na face da Terra em quem possamos confiar por completo, e sob todos os aspectos, embora, sem dúvida, possamos amá-la e desfrutar de sua companhia. Em que, então, podemos confiar? Se não é em uma pessoa, em quê é? Em que podemos confiar na vida?, perguntei a alguém que me respondeu: "Em mim". Você pode confiar em si mesmo? A autoconfiança é uma boa coisa, porém é inevitavelmente limitada.

Existe uma coisa na vida em que sempre podemos confiar: na vida tal como é. Vamos falar em termos mais concretos. Imagine que existe uma coisa que eu quero muito: talvez casar com uma certa pessoa, ou fazer um curso de especialização, ou ter um filho saudável e feliz. No entanto, a vida como é pode fazer acontecer exatamente o contrário do que eu desejo. Não sabemos se iremos ou não casar com aquele alguém. Quem sabe, se casarmos, aquela pessoa ideal morra amanhã. Pode ser que consigamos ser especialistas ou não. É provável que sim, mas não podemos contar com isso. Não podemos contar com coisa alguma, na vida e no mundo; tudo é incerto e impermanente. A vida será sempre do jeito que é. Então, por que não conseguimos confiar nesse fato? O que é tão difícil a esse respeito? Por que estamos sempre incomodados? Suponha que sua casa tenha acabado de ser destruída por um terremoto e você está quase perdendo um braço e todas as suas economias. Será que dá para confiar na vida tal qual ela se apresenta? Você consegue ser assim?

Perceber e confiar que as “coisas são como são” é o segredo da vida. Porém, desconhecendo que isto é uma verdade irretorquível, não queremos saber de nada disso. E, iludidos e esperançosos, podemos acreditar/pensar que, amanhã, que, no ano que vem, minha vida mudará, estará diferente e melhor, e, no entanto, a vida será sempre do que jeito que ela é, nada influindo nossos desejos e esperanças sobre ela. Se eu tiver um ataque cardíaco amanhã, posso confiar que, porque eu o tive, eu o tenho, pois é um fato; mas imaginar que será melhor, é apenas sonho e desejo. Assim, tenho de me apoiar na vida como ela é. Nada há que eu possa fazer para modificá-la.

Quando fazemos um investimento pessoal em nossos pensamentos, criamos o "eu"; então nossa vida começa a não funcionar. Eis por que devemos rotular os pensamentos, desfazendo o investimento. Depois de termos ficado sentados por tempo suficiente, podemos vir a perceber que nossos pensamentos são apenas como input sensorial (entrada de sensações causadas pelos sentidos; nada mais do que isso). Podemos nos ver atravessando os estágios preliminares a este: primeiro sentimos que nossos pensamentos são reais, e a partir deles criamos as emoções centradas no ego e, a partir destas, os obstáculos que nos impedem de ver a vida como ela é, porque, se estamos dominados pelas emoções centradas no ego, não conseguimos enxergar as pessoas e as situações com clareza. Um pensamento em si é só input sensorial, um fragmento de energia. Entretanto, tememos ver os pensamentos tais como são na verdade.

Quando rotulamos o pensamento, retrocedemos e nos desapegamos da identificação. Há uma enorme diferença entre dizer: "Ela é impossível" e " que ela é impossível". Se persistirmos na prática de rotular qualquer pensamento, as emoções começam a se dissolver e ficamos, enfim, com o fragmento impessoal de energia, ao qual não precisamos ficar apegados. Se, porém, acreditamos que nossos pensamentos são reais, nossa conduta se fundamentará neles. Se agirmos a partir deles, nossa vida ficará uma confusão. Portanto, devemos praticar e perseverar nessa prática até, com ela, tenhamos impregnado nossos ossos. A prática não se refere a só entender com a mente. Ela tem de ser nossa carne, nossos ossos, nós mesmos. Claro que temos de ter pensamentos orientados para a vida, como seguir uma receita, consertar um equipamento, planejar as férias. Mas não necessitamos dessa atividade emocionalmente autocentrada a que chamamos “pensar”. Isso não é de fato pensar; é uma aberração do pensar.

O zen refere-se a uma vida ativa, envolvida. Quando conhecemos bem nossas mentes e as emoções que nossos pensamentos criam, temos a possibilidade de ver melhor o que é a nossa vida e o que precisa ser feito nas diferentes situações; na próxima coisa que temos logo à frente. O zen tem que ver com uma vida de ações, não com uma vida de total passividade. No entanto, as ações têm de estar baseadas na realidade. Quando se baseiam em falsos sistemas de pensamento (fundamentados em nosso condicionamento), têm alicerces precários. Depois de compreendermos com clareza os sistemas de pensamento, seremos capazes de ver o que precisa ser feito para reforçar os alicerces.

O que estamos fazendo não é uma reprogramação nossa; é nossa libertação de todos os programas, pois vamos perceber que todos os programas são vazios, ilusórios, pois não têm realidade. Uma “reprogramação” só faz saltar de um caldeirão de água quente para outro. Pode ser que tenhamos aquilo que pensamos ser uma melhor programação; mas o propósito do sentar é exatamente o de não ser conduzido por nenhum programa. Imaginemos que há o programa chamado "Não tenho autoconfiança". Suponhamos que decidimos reprogramá-lo para "Tenho autoconfiança". Nenhum dos dois conseguirá se sair muito bem frente às pressões da vida, porque envolvem um "eu". Este "eu" é uma invenção muito frágil - aliás, irreal - e é com facilidade enganado. Na realidade, nunca houve um "eu". O que importa é enxergar que é vazio, uma ilusão, o que é totalmente diferente de fazer força para dissolvê-lo. Compreendendo que é vazio, que é ilusão, ele se desfaz por si mesmo. Quando falo que é vazio, quero dizer que não tem realidade, que é só uma criação de pensamentos autocentrados, um feixe de memórias que arquivamos em nossa mente.

Praticar o Zen não é tão fácil quanto falar sobre ele. Até mesmo os estudantes que têm um certo entendimento do que estão fazendo, às vezes, costumam se afastar da prática básica. Apesar disso, quando “sentamos” bem, tudo o mais se incumbe de si mesmo. Por essa razão, se estamos praticando o sentar há cinco ou vinte anos, ou estamos apenas no começo, é importante “sentar” com um grande e meticuloso cuidado.

Charlotte Joko Beck

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O ZEN E OS PRATICANTES

Qual é o objetivo da prática do Zen? É despertar o homem para a sua essência intrínseca verdadeira, e, além disso, torná-lo receptivo ao Ser Real que está no seu interior, a fim de manifestá-lo em todas suas ações no mundo, livremente e sem medo.

A prática do Zen exige três tipos de conhecimento: 1) o conhecimento de que é possível a Grande Experiência, pela qual o homem vem a conhecer sua “verdadeira essência, sua própria essencia", consequentemente escapando da armadilha que é a vida; 2) o conhecimento da natureza daquilo que o separa de tudo enquanto homem/ego, inconsciente da sua essência intrínseca, e da natureza e da razão do sofrimento; 3) o conhecimento de que o aprendizado do caminho o leva do erro à manifestação da sua verdadeira essência.

O conhecimento de tudo o que bloqueia o caminho do despertar é decisivo para toda prática que visa transforma-lo no “homem novo”. E qual é esse obstáculo? É o próprio “eu” que pensa, que planeja, que define, com sua forma de consciência e seu sistema de vida limitados e medíocres, a partir dos quais o homem se sente identificado com esse “eu” e se deixa levar por suas ilusões e interpretações falhas e incorretas. Portanto, o objetivo principal do Zen é destruir essa identificação, é derrubar o “eu” e a sua máscara de pseudo-defesa nossa, demolindo o seu sistema de vida, aquietando-o, para que a mente se aquiete.

A principio, todos os exercícios zen visam alcançar o mesmo objetivo: anular as ações do “ego”, as ilusões que lhe dá falsos valores e, ao fazê-lo, retirar de sob seus (do homem) pés o chão movediço e fictício sobre o qual ele se apóia, e que o impede de alcançar os seus verdadeiros alicerces. É preciso derrubar os valores estabelecidos pelo ego; rejeitar tudo aquilo a que se acredita ter direito; desligar-se de tudo aquilo a que se apega; não levar tão a sério aquilo que se pretende possuir; perceber a ilusão de todos os pensamentos e desejos; rir da “sabedoria” de que se julga possuidor. E, para conseguir tudo isso, o Zen lança mão de qualquer meio. Só se pode entender as afirmações e as ações, de outro modo incompreensíveis, do mestre, ao conhecer o elevado objetivo que justifica cada meio empregado. Tudo aquilo que é inconcebível e completamente inesperado para o ego/eu - a resposta sem sentido, a agressão gratuita, o golpe bem dirigido, o choque, o bofetão no rosto, a pancada, a implicância, o riso debochado, o grito assustador, o koan -, tudo aquilo que o eu tem de aceitar e suportar, aquilo que o derruba ao fazer cair por água abaixo tudo o que o sustenta, que lhe dá a ilusão de “elevação”, ou que o “defende” no dia a dia da vida, na ordem “habitual” das coisas, visa abrir esse eu à consciência da realidade do mundo. Pois é justamente nessa derrocada que o homem que busca poderá, talvez, vir a ter um vislumbre da verdade que está por trás da ordem ilusória, aparente. Aí ele vai perceber que os valores que julgava fixos e firmes e dignos de toda confiança, supostamente tidos como inabaláveis e duradouros, que até então lhe pareciam a única verdade aceitável e que lhe davam uma posição estável e satisfatória, não eram senão um enorme complexo de ilusões vindas da postura adotada pelo seu ego. E como esta postura do eu foi firmada através de sua compreensão condicionada e incorreta, acerca daquilo que julgava ser a verdade, ele obstruiu, colocou, inconscientemente, a sua frente, um véu que o impede de perceber a realidade.

Porém, tudo isto supõe um pré-requisito: é preciso que aquele que busca esteja realmente disposto a encontrar; que o praticante esteja realmente disposto a aprender, ou seja, que ele também se prontifique a seguir o seu guia, portanto, que se disponha a sentir-se e a manter-se como aprendiz. Mas quem pode ser chamado de discípulo? Só aquele que foi arrebatado de suas bases ilusórias pelo anseio, aquele cuja angústia o levou até o último limite e que sente que, se não romper essa derradeira barreira, morrerá. Só se pode chamar de discípulo aquele que foi aprisionado pela inquietude do coração, pelo fato de não conhecer, na verdade, o que a vida é, inquietude que não o largará jamais até que ele venha a ser satisfeito pelo conhecer a realidade, a verdade.

Só se pode chamar de discípulo quem começou a trilhar o caminho disposto a deixar-se conduzir e a obedecer.

Só se pode chamar de discípulo quem é capaz de ter uma inabalável confiança, e quem é capaz de seguir o caminho mesmo sem o entender, pronto a encarar qualquer desafio.

Só se pode chamar de discípulo quem é capaz de ser exigente consigo mesmo, quem está preparado para abandonar as atrações do mundo, e tudo o mais, para buscar a verdade que o empurra na direção da luz.

Só se pode chamar de discípulo quem, cativado pelo incondicional, é capaz de se submeter a qualquer situação, e suportar os rigores da senda através da qual o Zen o guia.

”Tudo ou Nada” está escrito em letras maiúsculas sobre o portal da sala de exercícios freqüentada pelo discípulo. Este deixa tudo para trás, e só uma certeza o acompanha: de agora em diante, ele não irá mais se deparar com a arbitrariedade, mas com o olhar da sabedoria que, ao se concentrar na sua essência intrínseca, se vale de qualquer meio para trazê-la à tona, para reavivá-la, Pois o significado da morte que dele se espera não é a morte propriamente dita, mas a VIDA que transcende a vida e a morte. Não se trata da destruição da existência é, ao contrário, a construção do SER que se irradia através da vida.

Karlfried Graf Dürckheim

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Às vezes as pessoas dizem que, sem um mestre, a meditação pode provocar confusão e desequilíbrio, mas nem sempre é possível encontrar um mestre altamente desenvolvido. Esses indivíduos são raros, embora com freqüência seja possível encontrar mestres que ainda não realizaram totalmente o Caminho. Se você não puder estudar com um mestre realizado, a maneira mais inteligente de praticar é confiar basicamente no mestre que existe dentro de você.

Thich Nhat Hanh
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NADA ESPECIAL OU MARAVILHOSO

"Se você continuar esta simples prática todos os dias, obterá um poder maravilhoso. Maravilhoso antes de ser atingido, mas nada especial uma vez obtido." (pois lhe vem a compreensão de que essa sempre foi sua natureza).

Depois do zazen, para que ainda falar alguma coisa? A prática do zazen é o bastante! Nada mais é necessário. Mas já que tenho que falar, gostaria de discorrer sobre como é maravilhoso praticar zazen. Nosso único propósito é manter essa prática para sempre. Ela começou no tempo sem início e continuará pelo futuro sem fim. A rigor, para o ser humano, não há outra prática a não ser essa; não há outra maneira de viver a não ser essa. A prática do Zen é a expressão direta de nossa verdadeira natureza.

Claro, qualquer coisa que façamos é expressão de nossa natureza, mas sem essa prática é difícil aperceber-se disso. Ser ativo é próprio da natureza humana, assim como de todas as formas de existência. Enquanto vivos, estamos sempre fazendo alguma coisa. Mas tão logo você pense: "Estou fazendo isto' ou "tenho que fazer isso" ou "preciso fazer ou conseguir aquilo", você, na verdade, não está fazendo nada que valha a pena. Quando você renuncia, quando não deseja mais coisa nenhuma, quando não tenta nada de especial, então você está fazendo verdadeiramente “alguma coisa”. Quando não há nenhuma idéia de ganho naquilo que faz, então está fazendo algo. Em zazen, você não faz o que faz quando deseja obter algo. Você pode sentir-se como que fazendo algo especial mas, na verdade simplesmente está expressando sua verdadeira natureza; essa é a atividade que aplaca seu mais profundo desejo. Praticar zazen com algum objetivo não é verdadeira prática.

Se você continuar esta simples prática todos os dias, obterá um poder maravilhoso. Uma coisa maravilhosa antes de ser atingido, mas nada de especial uma vez obtido. É simplesmente você mesmo, nada especial. Como diz um poema chinês: "Eu fui e voltei. Não era nada especial. Rozan é famosa por suas montanhas; Sekko por suas águas". As pessoas pensam que deve ser maravilhoso ver a famosa cadeia de montanhas abraçada pela bruma e a água que se diz cobrir toda a terra. Mas se você for lá verá apenas água e montanhas. Nada especial.

É intrigante o fato de que a iluminação seja uma coisa maravilhosa para aqueles que não têm experiência dela e, contudo, não seja nada para aqueles que a experimentam. E, no entanto, embora não seja nada não é apenas nada. Você entende? Para uma mulher com filhos, ter filhos não é nada especial. Zazen é assim. Portanto, se você perseverar nessa prática, mais e mais você obterá alguma coisa nada especial, porém alguma coisa. Você pode chamar essa coisa de "natureza universal' ou "natureza de Buda" ou "iluminação". Muitos nomes podem lhe ser conferidos, mas para a pessoa que a possui, é nada, e ao mesmo tempo, é tudo.

Quando expressamos nossa verdadeira natureza, nós somos verdadeiramente seres humanos. Quando não, nós não sabemos o que somos. Não somos animais comuns porque caminhamos sobre duas pernas. Somos diferentes dos animais comuns; mas, o que somos? Podemos ser um fantasma. Não sabemos como denominar a nós mesmos. Tal criatura na verdade não existe. É uma ilusão. Ainda não somos humanos, contudo pensamos que somos. Quando o Zen não é Zen nada existe. O que estou falando não faz sentido para o intelecto mas, se você já experimentou a verdadeira prática, entenderá o que estou dizendo. Se alguma coisa existe, é porque ela possui sua verdadeira natureza, sua própria natureza búdica. No Sutra Pari-nirvana, o Buda diz: "Tudo tem natureza de Buda". Todavia, o mestre Dogen interpreta isto da seguinte maneira: "Tudo é natureza de Buda". Aqui há uma diferença. Se você diz: "Tudo tem natureza de Buda', significa que a natureza búdica está em cada existência, portanto, natureza búdica e cada existência são diferentes. Mas quando você diz "tudo é natureza de Buda", significa que todas as coisas são a própria natureza de Buda, são o Buda. Quando não há natureza de Buda, nada existe. Qualquer coisa que não seja natureza búdica é apenas ilusão. Pode existir em sua mente, mas tal coisa de fato não existe.

Ser um ser humano portanto é ser um Buda. Natureza búdica é apenas outro nome para nossa verdadeira natureza humana. Assim, mesmo que você não faça nada, já está fazendo alguma coisa. Você está expressando a si próprio, está expressando sua verdadeira natureza. Seus olhos, sua voz, sua conduta a expressam. A coisa mais importante é expressar sua verdadeira natureza na forma mais simples e adequada e apreciá-la, mesmo na mais insignificante das existências.

Com a continuidade desta prática, semana após semana, ano após ano, sua experiência se tornará mais e mais profunda e abraçará todas as coisas que fizer em sua vida diária. O mais importante é deixar de lado toda e qualquer idéia de ganho, ou de perda, toda e qualquer idéia dualista. Em outras palavras, pratique zazen somente na postura correta. Não pense nada. Apenas permaneça sentado na sua almofada, sem expectativa alguma, Então você reassumirá finalmente sua verdadeira natureza. Ou seja, sua própria natureza se reassumirá. Você encontrou você.

Shunryu Suzuki

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SEMPRE FOMOS O EU

“Chuva nevoenta sobre o Monte Lu,
E ondas encapeladas no rio Che.
Se você ainda não esteve lá,
Muitos pesares, por certo, terá;
Mas, uma vez lá e no rumo de casa,
Como parecem prosaicas todas as coisas!
Chuva nevoenta sobre o Monte Lu,
E ondas encapeladas no rio Che”.

Se você ainda não teve o percebimento, a iluminação, os sofrimentos da vida continuarão, como para todos que ainda não chegaram lá; mas, se teve o percebimento, não por efeitos de drogas ou outra razão, mas no ‘rumo de casa’, isto é, na intenção de encontrar Deus, como tudo, a partir daí, passa a ter significado profundo se comparado às coisas da vida comum. E, depois de iluminado, a mesma chuva, as mesmas ondas, todos os eventos serão os mesmos de sempre, porque o mundo não mudou, mas, para quem chegou, a interpretação do mundo e da vida se transforma radicalmente.

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quinta-feira, 21 de abril de 2011

MANIFESTAÇÕES E EFEITOS DE DEUS

Amigos


Repito, aqui, o de sempre: “Esta é uma resposta cuja intenção é provocar reflexões. Já tentei mostrar que minhas colocações têm por objetivo fazer refletir.

Cito post de um amigo:

“... a informação da obra mediúnica diz que, em determinadas ocasiões, Deus se manifestou diretamente ao homem...”.

Blog: afinal, não é tudo manifestação de Deus, não é tudo emanação de Deus? Haverá, porventura, no universo, ou acima e além do universo, algo mais a partir do qual as coisas, seres, objetos, eventos e fenômenos se manifestem, e do qual sejam emanações? Assim, também o homem e, consequentemente, todas suas manifestações são resultantes das manifestações de Deus. Tudo que existe, que vemos, ouvimos, cheiramos, degustamos, sentimos, é manifestação ou, podemos dizer, efeito de Deus. Assim, o homem como a mulher, a beleza e a feiúra, a tranqüilidade e a impaciência, o alto e o baixo, o longo e o curto, os répteis peçonhentos, insetos, os animais de qualquer espécie e natureza, os fenômenos e eventos, as tempestades e tsunamis são também manifestações/efeitos de Deus. Nada está fora de seu domínio, de sua ação, de sua “permissão”. Deus, essa força poderosa que não conhecemos, é o criador de todas as coisas e “sem Ele nada se fez”, como diz João, no seu evangelho e como está dito em Gênesis.

Cito o post do amigo:

“E criou Deus o homem à sua imagem: à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou”.

Blog: me perdoem: ou há bíblias diferentes, e a minha é uma delas, ou faltou no texto a palavra “semelhança”: “E o criou a sua imagem e semelhança”. E o que significa semelhança, senão parecença? Assim, pelo que está nas escrituras, há semelhança entre os homens e Deus, evidentemente não semelhança física, semelhança de forma. E no que mais pode ser o homem semelhante ao Criador, senão na área psicológica ou mental? Não haverá de estranho nessas afirmações ou da bíblia ou de Swedenborg? Como é que seres, conforma as doutrinas, idealizados, planejados, desenhados, produzidos por um ser de infinitos amor e justiça, criados semelhantes ao Criador, podem se transformar em seres perversos, mentirosos, criminosos dos crimes mais hediondos, carregados de egoísmo e orgulho, perturbadores e destruidores da própria harmonia da criação!!! Estarão corretos esses conceitos contidos nas escrituras cristãs? Não devemos analisar essa questão ou, por injustificado preconceito, devemos aceita-las, passivamente, porque confiamos ou pensamos que devemos confiar nas fontes de onde vieram?

Post:

“Pergunta: “Que entendeis por: Deus é o próprio homem”? Resp. “Deus não é o homem, mas o homem é uma imagem de Deus”. Pergunta: “Devemos considerar o homem como uma parte de Deus?” Resp. “Não, o homem não é uma parte da Divindade...”.

Blog: sendo assim, isto é, não sendo Deus o próprio homem, e não sendo o homem parte de Deus, como afirma doutrinas, Deus deixa de ser infinito, pois existirão os homens e, num lugar imponderável do universo, existirá o Criador.

Post:

“Resp a uma pergunta. – “Digo que o homem é a imagem de Deus porque a inteligência, o gênio que ele recebe algumas vezes do céu é uma emanação da Onipotência Divina. Ele representa Deus na Terra pelo poder que exerce na Natureza inteira e pelas grandes virtudes que está em seu poder adquirir”.

Blog: como diz o post, a genialidade vem de Deus e pergunto: e o oposto da genialidade, vem de onde? Qual será a razão de se afirmar que tudo que nos é agradável, favorável, benéfico, belo, tranqüilo, causador de felicidade e alegria, correto, sábio, virtuoso, enfim, o bem... vem de Deus, e de se dizer que qualidades contrárias a essas, o que é desfavorável, desagradável, maléfico, feio, perturbador, causador de infelicidade e tristeza, incorreto, ignorante e despido de virtudes, enfim, o mal, vêm do homem? Do Criador Perfeito pode vir algo totalmente imperfeito? A doutrina dos espíritos afirma: “nada que procede de Deus pode ser mau, injusto, ininteligente”, isto é, nada pode ser imperfeito. Sendo assim, então, perguntaríamos: “de onde procedem os espíritos?”.

Post:

“Na questão “x” fica esclarecido que a atuação de Deus sobre nós é incessante...”

Blog: se é assim, como compreender os absurdos que o homem pratica? Temos mais poder do que Deus para sobrepujar sua incessante atuação sobre nós? Ou essa “atuação incessante sobre nós”, que nos permite tantos desacertos e perversidades pelas quais se justificam, como afirmam religões, castigos ou sofrimentos insuportáveis, para todos, sem exceção, tem outro significado?

Post:

“Enfim... essa questão não está bem esclarecida. Todos os modelos que tenho tido contato sobre isso até hoje não explicam de forma satisfatória, isto é, com clareza de ideias. Eu sei que somos ainda muito ignorantes para entender a divindade... O problema que estou colocando em questão é que os conceitos que têm sido apresentados estão conflitantes. As teorias não se alinham. Muito pelo contrário! são até bastante divergentes em determinados momentos”.

Blog: o amigo está coberto de razão por dizer isso; e são esses conceitos conflitantes que dão lugar a tantas crenças, religiões e divisões (que trazem ilusões aos homens), tão diferentes que até mesmo têm provocado guerras sangrentas, destruidoras de tudo que o próprio homem, criatura divina, construiu. A criatura divina de um Criador Perfeito, destrói a própria criatura divina, por ser absurdamente imperfeita! Não devemos questionar, analisar, estudar para compreender melhor, como Paulo aconselhou? “Estudai de tudo e guardai o que for bom”.

Fiquem em Deus.

A IGNORANCIA É A CAUSA DE TODOS OS SOFRIMENTOS E MALES.

Amigos



Esta, também, é uma resposta dada a uma mensagem e sua intenção é exatamente provocar reflexões. Já tentei mostrar, antes, que minhas colocações têm por objetivo fazer refletir, pois é a reflexão que nos ajuda a melhor compreender as coisas da vida e de Deus. Com o refletir podemos tornar mais claros determinados pensamentos, conceitos e lições.

Um amigo colocou:

“... na minha maneira de ver, o medo é um sentimento natural em todos nós, principalmente quando se trata do desconhecido”.

Blog: Amigos, observem: o medo só existe devido a nossa ignorância, imperfeição que, conforme as doutrinas cristãs, nos é imposta pelo próprio Criador, pois que, com ela, chegamos à existencia. A ignorância é a causadora de todos os sofrimentos e de todos os males do mundo (evidentemente, não dos males vindos dos desastres naturais). Sofremos exatamente por sermos ainda ignorantes; todos os sofrimentos são conseqüências da ignorância; de nada mais. SE ALGUÉM, AMIGO OU VISITANTE puder nos apresentar outra explicação para o sofrimento, agradeceríamos sinceramente. Mesmo que se afirme que os sofrimentos e males vêm do mau uso do livre-arbítrio, das erradas que o homem faz, porque o homem o usaria erradamente senão por ignorância? Se se disser que é por rebeldia, teimosia, egoísmo, orgulho, qual será a razão dessas qualidades ou características negativas do homem, senão a ignorância?! A vida, com suas “infinitas” lições de desde que vem à existência, é que o mantém num nível de aprendizado que ainda não o libertou da ignorância.

Por ser ignorante, o homem nem mesmo sabe exatamente o que ele é, porque está aqui, porque existe ou porque foi criado, porque tem de, obrigatoriamente, e sem exceção de ninguém, sofrer enquanto caminha em direção da morte física. Mesmo que se diga que não podemos penetrar ou os desígnios de Deus, continua novamente sendo a ignorância a causadora de nossas desditas (pois, como dito, não conhecemos os planos divinos e, esse desconhecimento nada mais é do que ignorância).

Nós temos a mente repleta de idéias, opiniões, ideais, suposições, crenças, medos e esperanças, por tantas coisas que nem sabemos, com absoluta, se, realmente, são verdades absolutas ou se algum dia realmente vão acontecer! Só sabemos que as doutrinas dizem que sim, embora entre elas, haja tantas contradições, crenças diferentes, concepções diferentes. E, novamente, se não estamos sabendo mostra que estamos ignorando, que temos ignorância acerca dessas coisas; e aí está novamente a “ignorância”.



O próprio mestre Jesus disse que é o a verdade que nos liberta (evidente mente, de todas as amarras, de todas as dependências e sujeições); logo, se devemos conhecê-la para nos libertarmos, implica em que ainda a ignoramos. A da verdade é que nos aprisiona a todos os sofrimentos e dependências e, ao contrario, o a verdade é que nos liberta de todos os sofrimentos.

Porque o homem pratica absurdos? Será que é simplesmente porque quer praticá-los? Se ele soubesse, isto é, se não fosse de que o mal que pratica, afinal, recai, e duramente, sobre ele mesmo (como também ocorre com o bem), como afirmam as religoões, porque o praticaria, senão por ignorância?! Se ele soubesse que os prazeres do espírito estão, como as próprias doutrinas ensinam, infinitamente acima dos prazeres da carne (isto é, dos atrativos do mundo, como poder, riqueza, prestígio, sexo, vícios, afetos, apegos que escravizam) porque recusaria a si mesmo os prazeres do espírito?

Se alguém tem resposta diferente, ou vê absurdos ou incoerências no que está colocado acima, por favor, aponte-os para nós. Essa providencia, com certeza, nos levaria a uma maior compreensão das coisas de Deus.

Fiquem em Deus.
Amigos



Este é um post para provocar reflexões. Já tentei mostrar, antes, que minhas colocações têm por objetivo fazer refletir, pois é a reflexão que nos ajuda a melhor compreender as coisas da vida e de Deus. Com o refletir podemos tornar mais claros determinados pensamentos, conceitos e lições.

Cito palavras de post de uma amiga:

"O homem, em grande número de casos, é o causador de seus próprios infortúnios. Mas, em vez de reconhecê-lo, acha mais simples, menos humilhante acusar a Providência, a má estrela, ao passo que... é apenas a sua incúria. Questão: “Por que os jovens escolhem o caminho das drogas?” Resp: “... a rejeição, caracterizada pelo abandono a que se sente relegado no lar, que o acompanha... em toda parte, tornando-o amargurado e infeliz. Sentindo-se impossibilitado de auto-realizar-se... foge para dentro de si, rebelando-se contra a vida... contra todos, o que é verdadeira desdita. Daí ao desequilíbrio, na desarmonia psicológica em que se encontra, é um passo."

Resp do Blog: observem que, ao mesmo tempo que se afirma que o homem é, em muitos casos, o causador de seus infortúnios, afirma, claramente, também o contrário, isto é, que ele não é responsável, ou o causador, de seus infortúnios; pois ele se desequilibra não porque quis se desequilibrar, mas porque a experiência com a família, com a vida, o levam a se desequilibrar... logo, não é ele o causador de seus infortúnios, mas as experiências que exercem constante influência sobre sua vida, seu caráter, valores etc, concordam?.

Post da amiga:

"Vício é o uso costumeiro... que nos acarreta prejuízo... é o costume de proceder mal... doença complexa que exige vontade para libertar-se... tem que enfrentar e vencer; se for vencido, torna-se escravo. Só estamos libertos se não tivermos vícios...”.

Blog: vejam, amigos, igual ao comentário anterior, novamente percebemos que não é o homem o causador de seus infortúnios, pois, esse “costume de proceder mal” é o homem que constrói em si mesmo, por sua própria vontade? Não são as influências da vida que formam seus costumes e pontos de vista no sentido do bem ou do mal?

Post:

"... vícios...no fundo de todos há o egoísmo. Por mais que lhe deis combate, não chegareis a extirpá-los, enquanto não atacardes o mal pela raiz...”.

Blog: aqui cabe outra questão: o que é e como fazer para extirpar, pela raiz, o mal, que é o egoísmo? Onde adquirimos essa imperfeição, que não tínhamos ao nascer, senão na própria escola do mundo, escola para a qual somos mandados, segundo doutrinas, justamente para aprender a nos livrar das imperfeições (que não tínhamos)? A própria escola onde viemos aprender a nos livrar das imperfeições é que nos ensina a elas nos aprisionarmos, não é verdade? Haverá alguma outra explicação?

E o egoísmo, ou qualquer outro “defeito” moral, somos nós que queremos tê-lo em nós mesmos? Somos nós que nos fazemos egoístas pela nossa própria vontade, ou é a vida que nos faz assim?

Post:

“Questão: “Pode o homem, pelos seus esforços, vencer as más inclinações?" Resp: Sim, e, frequentemente, fazendo esforços muito insignificantes. O que lhe falta é vontade. Ah! Quão poucos... fazem esforços!"

Blog: se com esforço “insignificante” o jovem pode vencer as más inclinações, e só não o faz porque não tem vontade de fazê-lo, isso não está significando que o esforço a se fazer não é, assim, tão insignificante? Pois o post diz que o jovem (os homens) pode facilmente vencer o vício, que faze-lo só exige esforço insignificante; no entanto, pelo colocado, a realização desse “insignificante” esforço exige “significante” esforço da vontade que ele não possui. Assim, o post diz ser fácil vencer o vício, que só exige esforço insignificante, mas é trermendamente difícil vencer a inércia da vontade, que “não é insignificante”, do que se depreende que o esforço para usá-la é gigantesco. Logo, não é, de modo algum, fácil vencer as más inclinações. Se fosse fácil, porque todos nós não as vencemos? E quem é que nos leva a não ter a força de vontade suficiente para vencê-las? Nós mesmos nos fazemos ser sem força de vontade, pelo nosso próprio desejo de ser fracos quanto à nossa própria vontade? Ou são as lições, influências vindas de todas as mais diversas experiências da vida, que nos fazem assim?

Post:

“Somos... sujeitos a várias etapas reencarnatórias em busca da nossa depuração moral. Todos os males ou gozos que vivenciamos tem sua origem na alma”.

Blog: aqui, outra pergunta a ser feita: se, pelas doutrinas, o espírito é criado portando apenas “uma” imperfeição (a ignorância), que lhe é imposta pelo próprio Criador, de onde vem a necessidade de se depurar moralmente? De onde lhe vêm tantas outras imperfeições que exigem sofrimentos muitas vezes insuportáveis e por um sem número de etapas na matéria? E se os males têm origem na alma, isso quer dizer que fomos nós que nela os colocamos? Ou (a mesma questão de sempre) foi a vida que os colocou em nós?

Post:

"Todos os atos que praticamos quando encarnados são por vontade do espírito: se somos glutões, levianos, jogadores, etc., é o nosso espírito que o é e não nosso corpo. Todos os dons de virtude e todos os vícios são qualidades do espírito. Os aleijões e as deficiências congênitas são do espírito que afeta o corpo. Ninguém nasce com uma deficiência sem que haja, em seu espírito, uma causa cármica”.

Blog: amigos, para reflexão: o espírito vem à existencia já possuidor de tremenda deficiência; deficiência que é a causa de todas suas imperfeições e sofrimentos: a ignorância. Não fosse a ignorância, única imperfeição inicial (e vinda da criação e que, portanto, não é de sua responsabilidade), de onde lhe viriam todas as demais numerosas imperfeições que apresenta, no dia a dia do mundo? De sua própria vontade? Analise, reflita! É a escola da vida que o faz viciado, leviano, perverso, e é a escola da vida que o faz comedido, sem vícios, bondoso. Se não é assim, o que é que faz o espírito inclinado para o mal? Se a escola da vida somente o beneficiasse com lições perfeitas, bons (perfeitos) exemplos, perfeita genética, perfeita constituição fisiológica e psicológica, o espírito/homem assim mesmo se tornaria carregado de imperfeições, como gula, leviandade, perversão, desonestidade, egoísmo, orgulho e tantas que vemos no mundo? Como, se todas as condições de sua vida na carne fossem perfeitas, o espírito poderia se tornar imperfeito? A <única> resposta a esta questão é que, ou adquiriu imperfeições pelo fato de a vida lhe ser imperfeita, ou já foi criado assim, pelo Criador. Há outra resposta?

SE ALGUÉM, UM AMIGO, UM COMPANHEIRO DE ESTUDOS, OU ALGUM VISITANTE CONHECE OUTRA EXPLICAÇÃO, POR FAVOR, A APRESENTE QUE CERTAMENTE SERÁ DE GRANDE IMPORTANCIA PARA NOSSO APRENDIZADO!!! Pois, aprender mais e melhor, tirar as dúvidas e esclarecer, é o principal objetivo deste Blog e a razão de nossa presença e participação nele.

Sabemos que, pela interpretação das doutrinas cristãs, o espírito vem com apenas uma imperfeição – a ignorância – e, mesmo não sendo admitido retrocesso moral (segundo a doutrina espírita), se torna, com o decorrer do tempo, mais e mais imperfeito, se enche de outras numerosas imperfeições. Como explicar isso?

Post:

“O Espírito é quem faz as escolhas e colhe o resultado delas”.

Blog: aí está outra coisa que necessita ser esclarecida; se o espírito é que faz as escolhas e se, podendo escolher o caminho do bem e, em conseqüência, ser mais feliz, porque escolhe o caminho do mal e, em conseqüência, ser mais infeliz? Podendo escolher ser feliz, escolhe ser infeliz!!! Assim, nesse aspecto, tanto os místicos, mestres e sábios e, hoje, a ciência moderna, afirmam: “a escolha não é nossa!”.

Post:

“Há o engano do homem encarnado quando pensa que os prazeres do corpo são os únicos pelos quais vale a pena viver. Em geral, não conhecem os prazeres do espírito, bem maiores e mais completos que os carnais”.

Blog: destas palavras, mais uma vez deduzimos que não é o homem o causador de suas desditas, pois ele age “enganado” e não porque “deseja” agir enganado; novamente, a explicação de seus sofrimentos está nas influências (que lhe causam enganos) que a vida lhe oferece e não em sua vontade (teria o espírito vontade de se enganar ou de se deixar ser enganado?! Teria o espírito o desejo de, por sua própria vontade, desconhecendo os prazeres do espírito, que são maiores que os da carne?! Ou, se os conhece, deseja deles se afastar, em busca dos prazeres “menores” da carne? Amigos, analisem!

Por tudo isso, percebemos que não é o homem o responsável causador de seus sofrimentos! É o aprendizado que a vida lhe dá, é seu nível de compreensão, cuja culpa não lhe cabe se for baixo, nem mérito lhe cabe se for elevado.

Fiquem em Deus.

terça-feira, 19 de abril de 2011

COMENTÁRIOS AO LIVRO "A FÍSICA DA ALMA", DE AMIT GOSWAMI

Amigos


Carta de um amigo, aboradando o livro "A Física da Alma", de Amit Goswami, físco quantico.

Diz o amigo que as concepções cristãs são diferentes das do hinduísmo, com constam na obra.

Resposta: É verdade: as concepções do hinduísmo, e de outras escolas tradicionais do misticismo, são muito diferentes das concepções das doutrinas cristãs (vejam bem, não do que Jesus ensinou!) e de todas as demais doutrinas religiosas.

O amigo apresenta um texto sobre a obra “A Física da Alma”, de Amit Goswami. Cito o texto:

“Nesse trabalho demonstramos que a referida obra é contrária ao Espiritismo”.

Resp: a obra não é contrária ao espiritismo; é contrária a determinadas concepções, não só espíritas, mas de todas as religiões do mundo.

Texto:

“... Goswami... propõe que a alma seja uma função de onda que, segundo a Física, não é algo fisicamente real, não passando de um método de cálculo das propriedades físicas de um sistema material...”.

R: e estaria Goswami errado ao dizer que a “alma não é algo fisicamente real”? E estas palavras: “não passando de um método de cálculo das propriedades físicas de um sistema material” estão induzindo a engano pois, para o próprio físico Amit, aquilo que denominamos matéria nada mais é do que consciência; logo, nada tem a ver com qualquer “propriedade física de um sistema material”. Para a ciência mais avançada do planeta, matéria não existe, senão para a percepção de nossos sentidos. O materialismo foi destruído, pois matéria é função da consciência, é espírito: só o espírito é real. Assim, Goswami deu, a outra obra sua, o subtítulo: “... como a consciência cria o mundo material”; para esse físico, e para a ciência atual, matéria e suas propriedades físicas, como as percebemos, pertencem ao mundo das ilusões, que só existe na percepção distorcida proporcionada pelo nosso “ego”. Não fosse o ego não perceberíamos a matéria, pois não existiria o colapso das ondas de probabilidades de coisas (ver o “experimento da dupla fenda”; está na internet).

Texto:

“Goswami, ao analisar a questão do colapso da função de onda pelo observador, diz: “A resposta do idealismo monista é que há apenas um a escolher, que a consciência é uma só”... temos pensamentos, sentimentos, sonhos etc. mas “não temos” consciência, muito menos consciências separadas; nós ‘somos’ a consciência”.

R: essa é outra conclusão também da ciência moderna mas, na colocação acima, há interpretação equivocada; e essa é tb a afirmação de todo misticismo desde séculos ou milênios antes de Jesus, até nossos dias, e de muitos dos chamados “santos”, mestres e iluminados, de todos os que passaram pela experiência mística; só “aparentemente” temos pensamentos; os pensamentos, escolhas, decisões, desejos etc vêm desse movimento eterno e poderoso da vida que, a cada instante, exerce sua influência sobre nós através de todas as experiências pelas quais passamos nesta escola do bem e do mal, que é a vida/mundo; concordando com isso, Paulo afirmou: “É o Senhor que opera em nós o pensar, o querer e o fazer”, tanto que, como numa tentativa de justificar essa condição de que os pensamentos não são nossos (e, consequentemente, nem as escolhas e decisões, nem os desejos e as ações), também disse: “Não sois salvos por vossas obras, mas pela graça de Deus” (disse também: “... como se tivésseis algum pensamento como de vós mesmos, pois todos eles vêm de Deus”).

Texto:

“É a mesma consciência, para todos nós”.

R: exatamente; esse é o entendimento da ciência moderna, de todo o misticismo, dos iluminados, de Jesus e de Paulo, entre tantos outros; por isso Jesus afirmou: “Eu e meu Pai somos um” (uma só consciência), e Paulo: “Não sou mais eu que vivo, mas é o Cristo que vive em mim” (sua consciência e a consciência crística são uma só). Não existe senão uma única e universal consciência: Deus. Essa consciência está em todos e em tudo; as expressões dela variam em face das diferenças de cérebros, de culturas e costumes; proporcionadas, entre outros muitos fatores, pela genética, que vem de nossos mais remotos ancestrais, e por toda a extensa gama de experiências pelas quais passamos desde que viemos à existência. Como diz tb Paulo: “O Senhor está à frente e atrás, à esquerda e à direita, acima e abaixo, dentro e fora”. As expressões são diferentes devido às diferenças entre culturas e seres. E como Jesus, Paulo também percebeu a verdade de que “eu e o Pai somos um”, pois afirmou: “é a consciência do Cristo que vive em mim”, como tb afirmou: “O Senhor habita em vossos corações” e “Vós sois o templo do Altíssimo”.

Texto:

“O conceito novo introduzido por Goswami, e que a Física não reconhece, é a não-localidade no tempo”.

R: devo discordar do autor: a não-localidade, tanto no espaço quanto no tempo, e além, no atemporal, é a única realidade do universo; a localidade de qualquer coisa que seja, inclusive “nossa” consciência, não passa de interpretação equivocada de nossas mentes “poluídas” pelo ego... E essa concepção da ciência é igual à do físico Goswami e de todos os místicos (com cujas visões a ciência, hoje, concorda).

Texto:

“A diferença no conceito de consciência se torna mais clara ao lermos as palavras de Goswami: “As almas, não podem ter percepção sujeito-objeto, não podem crescer espiritualmente... e não podem se libertar porque fizeram obras espirituais no Céu ”.

R: vejam, sendo “nossas consciências” a mesma consciência divina/universal, única, pois só ela é real, e só existindo “uma consciência” e mais nada, esvai-se totalmente o conceito dualista de sujeito e objeto, é evidente; sujeito e objeto são concepções do espaço-tempo, onde acreditamos que “nossa” consciência seja separada das demais. Também não há “crescimento espiritual” pois, como pode a consciência universal, Deus, ter ainda de crescer? Deus é o que é, como sempre disseram os sábios! O que normalmente chamamos de evolução é, apenas, um amadurecimento gradativo da compreensão do homem, em face das dificuldades que o mundo/vida lhe apresenta continuamente, no sentido de perceber que a sua consciência é e sempre foi perfeita, pois é a mesma consciência/alma/espírito único universal... Essa percepção é que “liberta” o homem de todas as dependências, ignorância e conseqüentes sofrimentos, pois é a percepção da “verdade libertadora”, como a designou Jesus.

Texto:

“... Se essa teoria estiver correta não poderia existir, por exemplo, Nosso Lar nem a história de André Luiz”.

R: essa é outra verdade; para a ciência moderna, para a visão mística, no domínio além do espaço-tempo, isto é, no domínio a que se dá o nome de “verdadeira pátria do espírito”, somente existe Deus; inexiste dualismo de “isto” e “aquilo”; eu e você, espíritos e Espírito, nós e coisas; dualismos, separações e divisões só existem no mundo da relatividade, mundo do espaço-tempo; no mundo do absoluto, tudo é Um.

Texto:

“A idéia de reencarnação, segundo Goswami, se baseia no conceito de “não-localidade” da Física Quântica. Ele diz que as “reencarnações de uma mesma vida (...) estão ligadas pelo fio da não-localidade quântica...”. Não-localidade é um conceito que surge em sistemas que são ligados de tal forma que uma ação sobre um afeta instantaneamente o outro, não importando a distância entre eles. Porém, Goswami parece criar um conceito novo a partir da não-localidade ao dizer que “A correlação se estende tanto para o passado como para o futuro ...”. O conceito novo introduzido por Goswami, e que a Física não reconhece, é a não-localidade no tempo, isto é, uma viagem instantânea no tempo para o passado ou para o futuro. No cap... ele diz: “Com o tempo, podemos intuir nossa situação específica com respeito à mônada humana – (...) – e, de forma sincronística, em parte no tempo não local, em parte na temporalidade, podemos nos tornar conscientes de como essa mônada-identidade está renascendo em um feto recém constituído, ou até partilhar a consciência com ela nos primeiros anos dessa nova vida...”.

R: essa é outra visão dos místicos e da física: primeiramente: tempo, como espaço, são entidades relativas, como já comprovara Einstein, pela teoria da relatividade; logo, não são a realidade; são tb ilusões. Por isso mesmo os sábios afirmaram: “Dez mil anos atrás ou ontem são, para a consciência divina, a mesma coisa, o mesmo presente eterno, a eternidade”; tb, quanto ao espaço, para a consciência una que somos, ou Deus, todo lugar é “aqui”; assim, além do mundo ilusório do ego, no atemporal, todo lugar é “aqui” e todo tempo é “agora”; conceitos de difícil compreensão, mas que se baseiam no testemunho de mestres, de iluminados, de todo o misticismo e, hoje, da própria ciência mais avançada do planeta. Somente na nossa visão através da vidraça embaçada do ego, equivocada portanto, é que existe tempo e espaço; mas, como na realidade só existe “uma” consciência e nós somos essa consciência, para nós tb, se libertos das ilusões, tempo e espaço inexistem. Einstein tb, como todos os místicos, afirma que tempo-espaço-objetos são apenas conceitos relativos e que, na realidade profunda, nada disso existe. Outra coisa: o que Goswami afirma é o mesmo que místicos e a nova ciência afirmam: a reencarnação se dá sempre e sempre, mas não é reencarnação do “eu”, pois este não tem continuidade, e, sim, da essência ou consciência universal; esta (como Jesus, Paulo e muitos outros afirmaram) estando em tudo (e sendo tudo; Goswami: o mundo material é criado pela consciência) continuamente se manifesta através dos diferentes cérebros que vêm à existência.

Texto:

“Goswami afirma que no momento da morte uma ligação do tipo não-local no tempo se forma ligando, instantaneamente, a alma... ao feto recém-constituído nos futuro... equivale a pularmos do passado para o futuro sem vivermos o período que se passou de um para outro”.

R: esta parte não posso comentar pois não tenho o livro à mão; apenas estranho essa colocação pois, na visão de Goswami, inexiste alma individual; somente a alma universal que se liga, como dissemos acima, a tudo e, portanto, inclusive aos cérebros recém-formados, continuamente, infinitamente e, através destes se manifesta. Quanto à questão de “não se viver o período que se passou do passado para o futuro”, como está no texto, sinto que o autor não tenha explicitado “o que é que existe entre passado e futuro”; e mais uma coisa, o que se observou (talvez o autor tenha baseado sua interpretação nisto) é que, elétrons “saltam” instantaneamente de uma órbita mais alta para uma mais baixa, sem passar pelo espaço entre elas. Isso é chamado “salto quântico” pelo qual, aquilo que julgamos seja um objeto ou coisa, desaparece do espaço-tempo, “sumindo” no atemporal, e surge no espaço tempo, noutra posição, instantaneamente. Nossa “deficiente” percepção não alcança os eventos do atemporal, do qual todos os fenômenos nascem instantaneamente, no espaço-tempo e no qual todos deixam de existir, um dia; dizem os místicos, como “um peixe que, de repente, salta na superfície de um lago tranqüilo”.

Texto:

“Para Goswami, a alma desencarnada não tem pensamento, não tem consciência...”.

R: pela concepção da ciência e do misticismo, é isso mesmo: a alma desencarnada não tem pensamento, do mesmo modo que a alma encarnada não o tem (“... pois todos eles vêm de Deus, que é quem opera em nós o pensar...”). Os amigos não percebem que não são donos de “seus” pensamentos? Eles apenas “chegam” e os percebemos; pensamentos de todas as naturezas, e não podemos comandá-los; não comandamos a “nossa” mente, ela é que nos comanda (“... opera em nós o querer e o fazer...”). Tente comandar seus pensamentos; com muito esforço poderá fazer isso mas por pouquíssimo tempo; os pensamentos apenas nos chegam, nos perturbam ou não, e se vão e voltam...

Texto:

“Sobre mediunidade afirma “... não existe colapso das ondas de possibilidades quânticas de uma mônada quântica desencarnada sem a ajuda de um corpo/cérebro físico correlacionado. Por conseguinte, a mônada quântica desencarnada é desprovida de qualquer experiência sujeito-objeto”.

R: essa é outra verdade: se a mônada/consciência fora da carne se confunde com a divindade, ela é “tudo” (“ o mundo material é consciência; só existe consciência”, “eu e o Pai somos um”), ela é tanto o sujeito como o objeto que, por conseqüência, deixam de existir; somente através de cérebros a mônada/consciência percebe o universo. Como dizem os sábios: “somos os olhos de Deus, através de nossos olhos Deus “vê” o universo”.

Texto:

“Ele, assim, confirma que a alma desencarnada não tem vida, não tem pensamento, não tem consciência independentes de um corpo físico material...”.

R: Amit diz que a alma fora da carne não tem vida?! O que ele afirma é justamente o contrário: a vida é indestrutível, eterna, independente do nascimento e da morte, do pensar; aquele que termina sua vida na matéria penetra num “novo” modo de existir, de bem-aventura, perfeito, muito mais gratificante do que tudo o que tenhamos imaginado em nossos mais ousados vôos de fantasia, e que faz que se veja o modo terreno como ilusões absurdas e enganosas (sofrimentos e ignorância). Como dizem os sábios, mas nós não percebemos ainda, “tudo é e sempre foi perfeito”; toda imperfeição é apenas percepção/interpretação equivocada do ego. Hinduísmo: “do perfeito, tirando o perfeito, o que resta é perfeito”; essa é a visão dos sábios e iluminados: imperfeição só existe para nossa mente limitada.

Texto:

“Sendo uma função de onda com possibilidades, um Espírito só pode “colapsar” em algum “lugar” material: o cérebro de um médium”.

R: é isso mesmo que Goswami afirma? Que espíritos colapsam? O que pode colapsar são os objetos materiais, colapso provocado pela observação de seres sencientes. A consciência, sim, mais do que penetra, está sempre no cérebro do médium como nos dos não-médiuns.

Texto:

“Quando um Espírito se manifesta e diz o que sente e o que pensa, na verdade isso não seria uma manifestação consciente de pensamento e sentimento, mas sim manifestações aleatórias das diferentes possibilidades da função de onda (cada uma com uma probabilidade) e não o fruto de um pensamento contínuo do Espírito. Num instante, o Espírito pode manifestar uma dessas possibilidades, e em instantes seguintes outras que, inclusive, podem ser opostas à primeira, já que o fenômeno ocorreria por leis quânticas probabilísticas...”

R: e não é isso o que ocorre o tempo todo? Temos pensamentos de amor e de ódio, nobres e abjetos, elevados e baixos, continuamente se revezando em nossa mente, e muitos frequentemente opostos entre si. Observe em você mesmo se isso não é verdade!

Texto:

“Os Espíritos influem em nossos pensamentos e em nossos atos muito mais do que imaginamos, pois frequentemente são eles que nos dirigem”.

R: observem: esse não é apenas mais um outro modo de dizer que “nossos” pensamentos não são nossos?

Texto:

“... a teoria... de Goswami não foi obtida seguindo-se os rigores formais da Física. Ele baseia sua tese em um novo tipo de paradigma científico, fora do esquema tradicional da Ciência, em que a unidade fundamental é a consciência e não a matéria”.

R: discordo totalmente: tudo que os cientistas quânticos fizeram está dentro das exigências formais da físic. O novo tipo de paradigma está realmente fora do esquema tradicional, pois se percebeu que a física anterior não lidava com o mundo, mas com uma cópia malfeita dele; por isso a estranheza. É apenas isso. E o que Goswami afirma está perfeitamente correto; antes supunha-se que tudo era matéria; essa era a tradição científica anterior; até o pensamente era fenômeno produzido pela matéria cerebral; hoje, sabe-se que matéria é apenas “energia” (Einstein) ou consciência, outro nome dado a Deus; a nova física destruiu o materialismo pois prova que só existe espírito, que o universo é apenas espírito. O que consideramos matéria é ilusão provocada pelo ego. A consciência é o fundamental, sim! Matéria é ilusão provocada pela observação; logo, matéria é irreal.

Texto:

“Segundo Goswami, não é possível termos experiências sem um corpo físico”.

R: Deus terá experiências? Se há uma só mente e somos essa mente, necessitamos de novas experiências? Experiências pertencem ao mundo da dualidade, da separatividade, em que o sujeito percebe o objeto, que este é sua experiência.

Texto:

“Estando fora da Ciência, ele não pode validar suas teorias de modo científico e, portanto, o conteúdo da obra não pode ser considerado científico, no sentido profissional dessa palavra, e não se pode dizer que a Física, de modo formal, o apóie...”.

R: como não pode validar suas teorias de modo científico?! Como está “fora” da ciência?! Pois Amit é o titular de Física Quântica do Instituto de Física Teórica da Universidade de Oregon, EUA; autor de numerosos livros e textos científicos. Está completamente apoiado pela ciência; isso que está em seu livro não vem de suas experiências individuais, mas das de numerosos cientistas. E experiências tão sérias e importantes que deram (Einstein) novo nome à física e dividiram a ciência em “antes” (a clássica, que por três séculos alimentou toda a sabedoria do mundo) e “depois” delas (a quântica, que fez o mundo, a ciência e os cientistas, tremerem pois as concepções anteriores sobre Deus, a vida e o homem têm de ser repensadas. De início, os resultados dos experimentos, que contrariavam toda a ciência anterior, perturbaram enormemente os cientistas; Einstein chegou a dizer: “não existe mais um palmo sequer de chão firme sobre o qual se possa construir alguma coisa; toda ciência anterior tem de ser reinterpretada” (foi quando disse que “Deus não joga dados”), e outros cientistas: “Como a natureza pode ser tão absurda?” e “a realidade está se mostrando mais estranha do que a ficção”.

Texto:

“... Goswami... supervaloriza a matéria...”.

R: pois é exatamente o contrário; para ele, como faz ver em todos seus escritos, matéria é ilusão criada pela consciência, como está colocado já acima. Quando ele fala da impossibilidade de termos experiências sem um corpo físico, não está supervalorizando a matéria; ao contrário, está dizendo que é exatamente pelo fato de experiências pertencerem ao mundo do dualismo, de sujeito e objeto é que só as temos quando no mundo material; livres da carne, estamos livres do mundo e suas ilusões de sujeito e objeto; logo não há experiências. Goswami está perfeitamente de acordo com as descobertas científicas de um século para cá. E viveríamos, sim, quando fora da carne pois, como vimos, a existência independe da carne, da vida e da morte.

Amigos, perdoem o longo texto. Fiquem em Deus.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

SE EXISTE MENTE, NÃO EXISTE REALIZAÇÃO.

Se existe Mente, não existe Realização.


O Aperfeiçoamento Espiritual

Instruções de Nisargadatta Maharaj (Vedanta):

Silencie o Diálogo Interno. Não Pense. Mate a Mente.

Mestre: Meu filho, abandone a mente; ela é o fator limitador que dá origem à individualidade, assim causando a grande enfermidade de repetidos nascimentos e mortes – e realize Brahman (Deus).

Discípulo: Mestre, como cessar a mente? Ela é vigorosa, inquieta e sempre inconstante como um cavalo selvagem.

M: Para o buscador decidido, sincero e sério, não enfeitiçado pelos sentidos e desapegado dos atrativos do mundo, abandonar a mente é tão fácil quanto amassar uma flor delicada.

A dificuldade só surge quando há uma mente a ser abandonada já que, verdadeiramente falando, não existe mente. Quando dizem: “um fantasma!”, a criança ignorante é levada a acreditar na existência do fantasma inexistente, ficando sujeita ao medo, ao sofrimento e aos incômodos. Da mesma forma ao imaginar coisas que não existem – como isto e aquilo – uma falsa entidade conhecida como “mente” surge como algo aparentemente real, funcionando como isto e aquilo e mostrando-se incontrolável e poderosa ao incauto; porém, para o buscador senhor de si e dotado de discernimento, ela é fácil de ser abandonada. Só um tolo, ignorante da natureza da mente, diz que é muito difícil.

D: Qual é a natureza da mente?

M: Pensar nisto e naquilo. Na ausência de pensamento, não existe mente. Cessando os pensamentos, a mente cessa; pois é apenas ilusão como o chifre de uma lebre. Assim, diz Vasishta: “Ouve, ó Rama, nada há chamado ‘mente’. Assim como o espaço existe sem forma, também a mente existe como um vazio inanimado. É apenas um nome; ela não tem forma. Não está no exterior, nem no coração. Entretanto, como o espaço, a mente, embora não tenha forma, ilusoriamente, “preenche” tudo. Onde quer que o pensamento surja como isto e aquilo, lá estará a mente.

D: Se existe mente onde há pensamento, mente e pensamento são diferentes?

M: Pensamento é o sinal da mente. Havendo pensamento, pressupõe-se uma mente. Não havendo pensamentos, não pode haver mente. A mente nada mais é do que pensamento. O pensamento é, em si, a mente.

D: O que é “pensamento”?

M: “Pensamento” é imaginação. O estado de “sem pensamentos” é a Suprema Bem-aventurança.

D: Como é possível extinguir a mente?

M: Esquecer tudo é o meio supremo. O mundo não surge a não ser pelo pensamento. Deixe de pensar e o mundo não surgirá. Quando nada surge na mente, a mente cessa. Portanto, não pense em nada; esqueça tudo. Este é o melhor modo de matar a mente.

Vasishta disse a Rama: Elimine os pensamentos de todos os tipos – de boas, elevadas, ou de coisas ruins, baixas.

Rama: Devo eu esquecer tudo, completamente?

Vasishta: Exatamente; esqueça tudo completamente e permaneça como a madeira ou a pedra, livre de pensamentos.

Rama: O resultado não será a estagnação, como a das pedras ou da madeira?

Vasishta: Não é assim. Tudo isso é apenas ilusão. Esquecendo a ilusão, você estará livre dela. Embora pareça estar estagnado, você será a própria Beatitude. O seu intelecto ficará inteiramente claro e aguçado. Sem se embaraçar na vida mundana, mas parecendo ativo aos outros, permaneça como a própria Beatitude de Brahman e seja feliz. Não permita que a ilusão do mundo renasça no puro Espaço do Ser-Consciência. Esquecer essa ilusão é o único modo de matar a mente e permanecer como Bem-aventurança. Sem isso, a realização é impossível. Sem esquecer tudo é impossível estabelecer-se como puro espírito. Portanto, esqueça tudo, absolutamente.

D: Não é muito difícil?

M: Embora seja difícil para o ignorante, é fácil para aquele que quer encontrar a luz. Nunca pense em nada, exceto, e sempre, em Brahman. Perseverando nisso, você esquecerá facilmente o não-Ser. Não deixe nenhum pensamento surgir na mente; pense sempre em Brahman. Assim, todos os pensamentos mundanos desaparecerão e só restará o pensamento de Brahman. Quando isso se tornar firme, esqueça até mesmo isso e, sem pensar “eu sou Brahman”, seja o próprio Brahman. Não é difícil de praticar.

Pare de pensar em qualquer outra coisa que não seja Brahman. Com isso, sua mente será extinta; você esquecerá tudo e permanecerá puramente como Brahman.

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ESQUEÇA O "eu" E PERCEBA O "EU".

Esqueça o "eu" e perceba o "Eu".


Instruções de Nisargadatta Maharaj.

Aprofunde-se na percepção do “Eu Sou” e você encontrará. Como se encontra algo que você ignora ou se esqueceu? Você o mantém em mente até se lembrar. A percepção de ser, do “Eu sou” é a primeira a emergir. Pergunte-se de onde ela vem ou apenas observe-a em silêncio. Quando a mente permanece no “Eu sou”, sem se mover, você entra em um estado que não pode ser verbalizado, mas pode ser experienciado. Tudo o que você precisa fazer é tentar e tentar novamente.

Eu vejo o que você também poderia ver, aqui e agora, se não fosse o foco errôneo de sua atenção. Você não dá atenção ao Ser. Sua mente está sempre com coisas, pessoas e idéias, nunca com seu Eu. Traga seu Eu para o foco, torne-se consciente de sua própria existência. Veja como você funciona, observe os motivos e resultados de suas ações. Estude a prisão que você, sem querer, construiu ao redor de si mesmo.

Olhe para seu mundo pessoal e suas muitas contradições. Você quer paz, amor, felicidade e trabalha arduamente para criar dor, ódio e guerra; quer viver muito e se empanturra, quer amizade e explora. Veja seu mundo como composto de tais contradições e remova-as – o seu próprio ver os fará ir embora.

Como você faz para conseguir algo que muito deseja? Mantendo sua mente e coração naquilo. Deve haver interesse e constante lembrança. Lembrar-se do que precisa ser lembrado é o segredo do sucesso. Você consegue isso através da seriedade de intenção.

Dê o primeiro passo. Todas as bênçãos vêm de dentro. Volte-se para dentro. O “Eu sou” você conhece. Fique com isto todo o tempo que puder, até que você sempre volte a isso espontaneamente. Não existe caminho mais fácil ou simples.

Somos escravos daquilo que não conhecemos; do que conhecemos, somos senhores. Quaisquer vícios ou fraquezas em nós que conhecemos, descobrimos e entendemos suas causas e seus mecanismos, nós os superamos pelo próprio saber; o inconsciente se dissolve quando trazido à consciência. A dissolução do inconsciente libera energia; a mente sente-se “em casa” e torna-se quieta.

Recuse todos os pensamentos, exceto um: o pensamento “Eu sou!”. A mente vai se rebelar no começo mas, com paciência e perseverança, ela vai ceder e permanecer quieta.

Esteja alerta. Questione, observe, investigue, aprenda tudo o que puder sobre a confusão, como isso opera, o que faz para você e para os outros. Ao ter clareza sobre a confusão você se liberta dela.

Eliminando os intervalos de desatenção durante as horas de vigília, você vai gradualmente eliminar o longo intervalo de inconsciência que chama de sono. Você, então, estará consciente que está adormecido.

Desapegue-se de tudo aquilo que deixa sua mente inquieta. Renuncie a tudo o que perturba a sua paz. Se você quer paz, mereça-a.

D: De que forma eu perturbo a paz?

M: Ao ser um escravo de seus desejos e medos. Pense clara e profundamente, mergulhe na estrutura de seus desejos e suas ramificações. Eles são uma das partes mais importantes na sua composição mental e emocional e afetam suas ações poderosamente. Lembre-se, você não pode abandonar o que não conhece. Para ir além de si mesmo, você deve conhecer a si mesmo. Você deve se observar continuamente – em particular a sua mente – de momento a momento, sem perder nada. Isso é essencial para a separação do Eu e do não Eu.

Já que é a Pura Consciência que faz a consciência ser possível, existe Pura Consciência em cada estado de consciência. Portanto, a própria consciência de ser consciente já é um movimento dentro da Pura Consciência. O interesse em seu fluxo de consciência leva-o para Pura Consciência.

Quando você entende que nomes e formas são coisas vazias sem qualquer conteúdo e o que é real é sem nome e forma – é pura energia de vida e luz da consciência – você está em paz, imerso no profundo silêncio da realidade.

Realizar o verdadeiro significado da única afirmação que você pode fazer: “ Eu sou”. Apenas mantenha em mente o sentimento “Eu sou”, absorva-se nisso, até que sua mente e sentimento tornem-se um. Perseverando, você vai se deparar com o equilíbrio correto entre atenção e sentimento e sua mente estará firmemente estabelecida no pensamento-sentimento “Eu sou”.

Comece com trabalho desinteressado, “deixando a Deus” o fruto de suas ações; então poderá cessar os pensamentos e, finalmente, os desejos. Desistir dos pensamentos é o fator operacional. Ou não se importe com as coisas que quer, pensa, faz, e apenas permaneça firme no pensamento e sentimento “Eu sou”, mantendo-o firmemente em sua mente. Todo tipo de experiência pode lhe acontecer – permaneça firme na certeza de que tudo que é perceptível é transitório e apenas o “Eu sou” é permanente.

D: Quando olho para dentro de mim, encontro sensações e percepções, pensamentos e sentimentos, desejos e medos, memórias e expectativas. Fico mergulhado nessa nuvem e não consigo ver nada mais.

M: Aquele que vê tudo isso, e o nada também, é o mestre interno. Apenas ele existe; todo o resto apenas parece existir. Ele é seu verdadeiro ser; encontre-o, agarre-se a ele e você estará realizado.

Ver o falso como falso é meditação. Isto deve ser contínuo, o tempo todo.

Vou falar-lhe sobre mim. Eu era um homem simples, mas confiei em meu mestre. Ele disse que me concentrasse no “Eu sou” – assim o fiz. Ele me disse que eu estou além de tudo o que é perceptível e concebível – eu acreditei. Dei a ele meu coração, minha completa atenção e todo meu tempo disponível. Como resultado do esforço dedicado, eu realizei o Ser.

Estabeleça-se na consciência de “Eu sou”. Este é o começo e também o fim de todo o esforço. Para saber o que você é, você deve primeiro saber e investigar o que você não é. E para saber o que você não é, você deve observar-se cuidadosamente, rejeitando tudo o que necessariamente não combina com o fato básico “Eu sou”. Nossa atitude comum é “Eu sou isso”. Separe firmemente o “eu sou” do “isto” e do “aquilo”, e tente sentir o que significa ser, apenas ser, sem ser “isto” ou “aquilo”. Estamos condicionados a pensar que somos “isto” e “aquilo”, e a tarefa de lutar contra isso é, às vezes, longa e árdua, mas o entendimento esclarecido ajuda muito. Quanto mais claramente você entender que no nível da mente você pode ser descrito apenas em termos negativos, mais rapidamente chegará ao fim de sua busca e realizará seu ser ilimitado. Permaneça com o “Eu sou”.

D: Como conseguir isso?

M: A ausência de desejo e de medo o levará lá. O Supremo é fácil de alcançar, pois é o seu próprio ser. É suficiente não desejar nem pensar em nada que não o Supremo, Eu sou.

É erro dizer que isso é difícil e que traz problemas. Ao contrário, sendo erro, essa crença é vazia, e está sempre em busca de confirmação e reconfirmação. Tem medo da inquirição e a evita; identifica-se com qualquer falso dizer que isso é difícil e nocivo. Prende-se a qualquer apoio, por mais fraco e momentâneo que seja. O que quer que consiga, perde, e pede mais.

Mesmo que eu diga que você é apenas testemunha, um observador silencioso, isto não significará nada para você a menos que encontre o caminho para seu próprio ser.

D: Como encontrar o caminho para o próprio ser?

M: Desista de todas as perguntas, exceto “Quem sou eu?” Pois, afinal, o único fato do qual você tem absoluta certeza é que você é. O “Eu sou” é certo. O “eu sou isto” não é. Esforce-se para encontrar o que você é na realidade. Lembrar-se de si mesmo é virtude; esquecer de si mesmo é pecado. O procedimento correto é aderir ao pensamento de que você é o campo de todo conhecimento, a Consciência imutável e perene de tudo o que acontece aos sentidos e à mente. A idéia “Eu sou apenas testemunha” purificará o corpo e a mente e abrirá o olho da sabedoria. Então, o homem vai além da ilusão e seu coração se liberta de todos os desejos.

Por sua própria natureza, o prazer é limitado e transitório. Da dor (insatisfação) nasce o desejo e a busca de alcançá-lo e tudo termina na dor da frustração e do desespero. A dor é o pano de fundo do prazer; toda busca de prazer nasce na dor e termina na dor.

Discriminar e descartar são absolutamente necessários. Tudo deve ser examinado cuidadosamente e o desnecessário deve ser impiedosamente destruído.

Acredite, não haverá destruição em excesso, pois na realidade nada tem valor. Seja apaixonadamente desapaixonado – isto é tudo.

Quando, através da prática da discriminação e desapego, você perder de vista os estados sensorial e mental, o puro ser emergirá como seu estado natural.

Por conhecer o mundo, você se esqueceu do Ser – para conhecer o Ser, você tem de se esquecer do mundo. O que é o mundo, afinal? Uma coleção de memórias. Agarre-se ao que importa, segure-se no “Eu sou” e abra mão de todo o resto. Isto é a prática da sabedoria. Esteja plenamente consciente de seu próprio ser e você estará na bem-aventurança conscientemente. É pelo fato de dirigir sua mente para fora de si mesmo e a fixar naquilo que você não é, que você perde sua tranqüilidade e passa a sofrer.

A individualidade é apenas um obstáculo. A auto-identificação com o corpo pode ser boa para uma criança, mas para a realização você tem de ir além do corpo. Há muitos que tomam uma experiência momentânea pela plena realização e destroem até mesmo o pouco que tinham conseguido, por excesso de orgulho. A humildade e o silêncio são essenciais para um buscador, por mais avançado que seja. Apenas um buscador plenamente amadurecido pode permitir-se completa espontaneidade.

Seja atento, investigue incessantemente. Isto é tudo.

Seja egoísta, mas da maneira correta. Deseje estar bem, trabalhe no que é bom para você. Destrua tudo o que se coloca entre você e a felicidade. Seja tudo – ame tudo – seja feliz – faça feliz.

A memória é material – destrutível, perecível, transitória. Sobre tais frágeis fundações construímos um sentido de existência pessoal, que consideramos real. Essa vaga persuasão: “Eu sou isto e isto” obscurece o estado imutável da Pura Consciência e nos faz acreditar que nascemos para sofrer e morrer.

Liberdade de fazer o que se quer é, na verdade, escravidão; liberdade para fazer o deve, o que é correto, é a real liberdade.

Tudo o que você tem a fazer é ver o sonho, o falso, esta vida, como sonho e como falso.

Se você deseja alguma coisa seriamente, faz uso de cada acontecimento, cada segundo de sua vida para esse propósito. Não desperdiça tempo e energia em outras coisas. É totalmente dedicado, chame a isto vontade, sinceridade, honestidade, atenção, mente focada ou amor. É assim que deve ser a busca.

Encontre o real e permanente no falso e transitório; o real, o “Eu sou” é o único fator constante em cada experiência.

Nada pode bloqueá-lo se você mesmo não permitir, pois isso mostra a falta de seriedade, sem a qual nada pode ser feito.

Comece desassociando-se de sua mente. Resolutamente lembre-se que você não é a mente e que os problemas dela não são seus problemas.

Dê atenção total ao que é mais importante em sua vida – você mesmo. Você é o centro de seu universo pessoal – se não conhecer esse centro, o que mais você pode conhecer?

Para ir além da mente, você deve manter sua mente em perfeita ordem. Você não pode deixar uma bagunça para trás e seguir em frente. A confusão vai lhe puxar para trás. “Recolha seu lixo” parece ser uma Lei Universal. E uma lei justa também.

Apenas lembre-se de você mesmo. “Eu sou” é suficiente para curar sua mente e levá-lo além. Apenas confie um pouco.

Se quiser conhecer sua verdadeira natureza, deve ter a si mesmo em mente todo o tempo, até que o segredo de seu ser lhe seja revelado

A CRIATURA BUSCANDO O CRIADOR = O ESPÍRITO BUSCANDO O ESPÍRITO

O Espírito buscando o Espírito.

Instruções de Ramana Maharshi:

Não há mistério maior que este: que, sendo a Realidade, nós buscamos alcançar a Realidade. Pensamos que existe algo ocultando a Verdade e que isso deve ser destruído a fim de que possamos atingi-la. Mas, chegará o dia em que você vai rir de todos os seus pretéritos esforços, para alcançar a Verdade. Aquilo que “será” no dia em que você rir, é o mesmo que “é” aqui e agora.

A libertação, que é bem-aventurança, é natural a todos, é da natureza de todos. A ignorância é uma ilusão da mente, uma falsa sensação/pensamento. Apenas o ego é prisão, e o espírito, livre do contágio do ego, é absoluta libertação. Não há engano maior do que acreditar que a libertação, que está sempre presente em nós, pois é nossa verdadeira natureza, será alcançada em um tempo futuro. Até mesmo o desejo pela libertação é fruto da ilusão. Portanto, “permaneça em silêncio”. Se você permanecer como mera consciência, “Eu sou”, a ignorância deixará de existir.

Portanto, a ignorância é falsa; apenas a Consciência é real. O pensamento “eu/ego” é como um fantasma que, apesar de ser impalpável e falso, surge simultaneamente com o corpo, vive e desaparece com ele. A consciência “eu sou este corpo/este corpo é meu corpo/estes pensamentos/estas lembranças, estes desejos são meus” é o falso eu, é o ego, apenas ilusão. Portanto, abandone-a. Você pode fazer isso buscando a fonte do sentimento “Eu sou”. O corpo não diz “eu sou”. É você que diz “eu sou o corpo”. Descubra o que é este “eu”; busque sua fonte e ele desaparecerá, restando apenas o “Eu”.

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domingo, 3 de abril de 2011

O QUE É ILUSÃO: SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA

(Este texto, de autoria do amigo de pseudônimo Monstrinho, trata de assunto relacionado ao "ego", o véu de ilusões que nos impede a percepção da Realidade)
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O QUE É ILUSÃO: SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA


Esse assunto que está sendo discutido no blog http://www.obuscadordedeus.blogspot.com, sobre a relação entre a Física Quântica e a Filosofia Oriental, já está, desde algumas décadas, formalizado na Antropologia, em termos acadêmicos.



Acredito que hoje, essas teorias estejam mais desenvolvidas e estão ganhando força, principalmente com a divulgação das doutrinas e filosofias orientais na internet.



Digo isso porque não precisamos unicamente recorrer à Filosofia Oriental para tentar trazer uma nova visão de mundo no Ocidente.



Também o blog http://www.esoestudos.blogspot.com contém espaço para a leitura e postagem de textos, relacionados, pois se refere a espiritualismo.



Voltando ao tema, enquanto a razão ocidental dizia que a diferença entre o homem e os outros animais é que "o homem é racional e o animal é irracional", a Antropologia veio desbancar essa descrição/definição pobre e arrogante e dizer que a diferença básica é que o homem é um animal simbólico, ou seja, ele constrói uma realidade simbólica a partir de representações, idéias e conceitos sobre o mundo em que vive.



A Antropologia e a Psicologia - que são as duas ciências caluniadas pelo cientificismo como "perfumaria" e "pó-de-arroz" - serão as ciências do futuro, pois que, são elas, principalmente a Antropologia, que estão a fazer a crítica da razão e do cartesianismo.



O Método Científico é uma modalidade de dogma defendido com unhas e dentes pelos seus partidários. Ele, o Método, estuda o mundo exterior, e diz que conceitos como "interior", alma, são invenções de pseudo-ciências e religiões.



É por isso que uma crítica à razão dualista e ao método científico só poderia vir da Antropologia e da Sociologia do Conhecimento.



Coube ao físico teórico e sociólogo e historiador da ciência, Tommas Kuhn, fazer a seguinte pergunta: "por que, entre várias hipóteses para se explicar um fenômeno, apenas uma é eleita como a verdadeira"? (e, isso, dentro da própria ciência).



Obviamente que a Filosofia da Ciência de Karl Popper, Gaston Bacherlard e Lakatos, tem resposta para esta questão.



Mas a resposta da Sociologia da Ciência era que a ciência não está desvinculada dos interesses econômicos e políticos.



O Sociólogo da Ciência Jorge Dias de Deus, diz que a ciência cumpre o papel que os mitos e, posteriormente, as religiões cumpriram no passado: explicar por que uma tal sociedade está organizada desta e não daquela maneira; explicar porque existem as desigualdades sociais, as doenças, a violência, as guerras etc. Diz que cabe á Ciência, hoje, fornecer esse tipo de explicação, fornecer o quadro explicativo de funcionamento da sociedade.



Antes, quando a Inquisição te queimava vivo, ela dizia que era para o fogo purificar os teus pecados de herege, e hoje, a Academia (= Ciência) te joga na fogueira do ridículo, ao asseverar, que, se você não é partidário do Método científico, no mínimo você é um impostor e charlatão defensor de alguma pseudo-ciência.



Então, a ciência - diz Jorge Dias de Deus - é o Mito Dominante. A poderosa construção simbólica das ciências físicas, o poderoso formalismo matemático da Física, retira a personalidade dos fenômenos: peras e maçãs são comparáveis quando submetidas à força da gravidade . E, continua Jorge Dias de Deus, apesar de saber que é a Terra que gira em torno do Sol, podemos perfeitamente continuar acreditando que é ele que gira em torno da Terra, sem que com isso haja qualquer mudança em nossas vidas.



Quando a Ciência estabelece que é a Terra que gira em torno do Sol, ela torna consenso na sociedade - pelo menos pretende isso e no mais das vezes consegue - que todas as demais teorias que dizem o oposto, são mentirosas, são pseudo-ciências.



A ciência é pois, o mito dominante da nossa sociedade, na medida em que, ela se constitui enquanto uma poderosa representação simbólica do que é a realidade e principalmente na medida em que ela se torna hegemônica, no sentido de ela pretender que só a sua explicação é válida, e todas as demais são falsas.



Jorge Dias de Deus vai além: diz que a Ciência é que, em última instância, legitima todas as práticas sociais, uma vez que, tendo ela estabelecido através da criação da realidade simbólica o que é certo e errado, feio e bonito, grandioso e desprezível, bom e mau, logo todas as práticas, convenções, condicionamentos, normas e representações sociais, são justificadas e legitimadas pela ciência.



Então esse trabalho de criticar o pensamento dualista é um trabalho de criticar a própria ciência, que é hoje, no ocidente, a que representa de modo hegemônico as teorias e práticas dualistas.



No brilhante livro - Sociologia do Conhecimento: pragmatismo e pensamento evolutivo - do sociólogo da ciência Renan Springer de Freitas, a tese defendida por Freitas é a de que, os vários paradigmas concorrentes, as várias explicações e visões de mundo advindas dos mitos, das religiões, da ficção científica, da própria ciência e etc, teriam, à maneira dos seres vivos, sofrido o processo de "Seleção Natural", de modo que o "espécime" sobrevivente seria a razão ocidental, ou seja, a ciência.



Assim, nem a religião, nem o mito, teriam sobrevivido no Processo Evolutivo, e nessa peneiragem da "Seleção Natural" das idéias, quem sobreviveu, quem "mostrou ser mais forte e consistente" foi o pensamento científico. Bastante controverso não acham? Obviamente que essa tese é aplaudida pelos partidários do método, que gostam de fingir que são os representantes da verdade.



A crítica antropológica sempre foi a seguinte: um pajé ou um xamã representa a "instituição cientifica" de uma tribo. Ele dá a explicação sobre como as coisas acontecem e porque acontecem. Assim, o que mata, não é o veneno de um líquido preparado a partir de uma planta, mas sim as orações que são feitas durante o seu preparo.



Qual explicação é a verdadeira: a da ciência, de que é o veneno da planta que mata, ou a do xamã, dizendo que são as orações durante o preparo do líquido que mata? Esse é o questionamento dos antropólogos, porque se o xamã estivesse equivocado no seu conhecimento, é fora de dúvida que a sua espécie teria se extingüido muito fácil e rapidamente.



Por falar de Xamanismo, vai aí um bom livro sobre o tema: http://www.4shared.com/document/L2dLgnBp/Carlos_Castaneda_-_A_Erva_do_D.html



Carlos Castañeda, "Ensinamentos de Dom Juan" (um Xamã) ou "A Erva do Diabo".



Bom, um grande abraço a todos e espero que essas considerações minhas em torno da Antropologia e da Sociologia da Ciência tenham contribuído para ajudar a compreender a problemática do pensamento dualista e suas conseqüências para a nossa sociedade.

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