SEMPRE FOMOS O EU
Chuva nevoenta sobre o Monte Lu,
E ondas encapeladas no rio Che.
Se você ainda não esteve lá,
Muitos pesares, por certo, terá;
Mas, uma vez lá e no rumo de casa,
Como parecem prosaicas todas as coisas!
Chuva nevoenta sobre o Monte Lu,
E ondas encapeladas no rio Che.
(Su Tung-Po)
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O QUE É O ZEN
O Zen não é decididamente um sistema fundado na lógica e na análise. É algo antípoda da lógica e do modo dualístico de pensar. Pode haver um elemento intelectual no Zen, pois ele é a mente total onde encontramos muitas grandes coisas. Mas a mente não é um composto, que deva ser dividido em tantas faculdades, nada deixando após a dissecação. O Zen nada tem a ensinar, no que diz respeito à análise intelectual, nem impõe qualquer conjunto de doutrinas aos seus seguidores. A esse respeito, o Zen é caótico, se assim o quiserem chamar. Seus adeptos podem formular conjuntos de doutrinas, formulando-os, porém, por sua conta e para benefício próprio, e não do Zen. Portanto, não há, no Zen, livros sagrados ou assertivas dogmáticas, nem qualquer fórmula simbólica através da qual se obtenha um acesso à sua significação. Se me perguntassem o que ensina o Zen, responderia que ele nada ensina. Qualquer ensinamento que exista no Zen vem mediante nossa própria mente. Ensinamo-nos a nós mesmos. O Zen meramente aponta o caminho. A menos que consideremos este apontar como um ensinamento, nada há no Zen propositadamente estabelecido como doutrinas cardeais ou filosofia fundamental.
O Zen sustenta ser budista, mas todos os ensinamentos budistas, do modo por que são propostos nos sutras e sastras, são tratados pelo Zen como mero papel, cuja utilidade consiste em limpar o lixo do intelecto, e nada mais. O Zen, entretanto, não é niilista. Todo niilismo é autodestrutivo, não termina em lugar nenhum. O negativismo é puro como um método, mas a verdade mais alta é uma afirmação. Quando se diz que o Zen não tem filosofia, que nega toda autoridade doutrinária, que põe de lado toda a literatura sagrada como inútil, não se pode esquecer que o Zen está sustentando, com essa negativa, algo completamente novo, positivo e eternamente afirmativo. Isto se tornará claro à medida que prosseguirmos.
D.T.Suzuki
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MENTE DE PRINCIPIANTE
"Há muitas possibilidades na mente do principiante, mas poucas na do perito."
As pessoas dizem que é difícil praticar Zen, mas há um mal-entendido quanto ao "porquê". Não é difícil porque seja árduo sentar-se de pernas cruzadas ou atingir a iluminação. É difícil porque é árduo manter a mente pura ou a prática pura em seu sentido fundamental. A escola Zen desenvolveu-se, no decorrer do tempo, de muitas maneiras mas, ao mesmo tempo, tornou-se cada vez mais impura. Assim, o que desejo é ajudar você a manter sua prática (prática do Zen) livre de impurezas.
No Zen, dispomos do termo shoshin, que significa "mente de principiante", mente pura, sem preconceitos, sem se atirar à conclusões antecipadas. O objetivo da prática é conservar a "mente de principiante". Suponhamos que você recite um sutra (um ensinamento ou frase do Buda) uma só vez. Poderia ser uma boa recitação. Mas o que lhe acontecerá se o recitar duas, três, quatro ou mil vezes? Você poderia facilmente perder sua atitude original em relação a ele. O mesmo acontecerá com suas outras práticas Zen. Por algum tempo você manterá sua “mente de principiante”, porém, se continuar a prática um, dois, três anos ou mais, embora você possa melhorar em alguns aspectos, é possível que perca o sentido ilimitado e puro da "mente original”.
Para os estudantes do Zen, o mais importante é não serem dualistas. Nossa “mente original" inclui em si todas as coisas. Ela é sempre rica e auto-suficiente. Você não deve perder esse estado mental auto-suficiente. Isto não significa uma mente fechada e sim, na verdade, uma mente vazia e alerta. Se sua mente está vazia, está pronta para qualquer coisa; ela está aberta a tudo. Há muitas possibilidades na mente do principiante, mas poucas na do perito.
Se você discrimina demais, você se limita. Se é exigente ou ambicioso em excesso, sua mente não é rica nem auto-suficiente. Se nossa mente perder sua auto-suficiência original, todos os preceitos se perderão. Quando sua mente se torna exigente, quando você anseia por algo, você acaba por violar os preceitos: não mentir não roubar; não matar, não ser imoral; ela perde a tranqüilidade e assim por diante. Se você conservar sua mente original, os preceitos se manterão por si próprios.
Na mente do principiante não há pensamentos do tipo "eu alcancei algo". Todos os pensamentos centrados no ego/eu limitam a vastidão da mente. Quando não alimentamos nenhum pensamento de conquista, nem pensamentos egocentrados, somos verdadeiros principiantes e podemos então aprender alguma coisa de fato. A mente do principiante é a mente de compaixão. Quando nossa mente é compassiva, torna-se ilimitada. O mestre fundador da nossa escola, sempre enfatizou a importância de preservar nossa mente original ilimitada. Com ela somos verdadeiros conosco, estamos em comunhão com todos os seres e podemos, de fato, praticar para, afinal, alcançar a verdade.
Assim, a coisa mais importante é manter sua "mente de principiante". Não há necessidade de ter uma profunda compreensão do Zen. Mesmo que você leia muita literatura Zen, deve ler cada frase com uma mente virgem. Nunca deve dizer: "Eu sei o que é Zen' ou "eu atingi a iluminação". O real segredo das artes também é esse: ser sempre um principiante. Seja muito cuidadoso nesta questão. Se começar a praticar zazen (a prática de se sentar apenas sem se apegar a qualquer pensamento), você começará a valorizar sua mente de principiante. Este é o segredo da prática do Zen.
Shunryu Suzuki
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O QUE A PRÁTICA NÃO É
Muitas pessoas praticam e têm sólidas concepções do que a prática é. O que desejo expor (de meu ponto de vista) é o que a prática não é.
Em primeiro lugar, ela não diz respeito a causar mudanças psicológicas. Se praticarmos com inteligência, a mudança psicológica será causada; não estou questionando isto que, aliás, é algo maravilhoso. Estou dizendo que a prática não é efetuada com qualquer objetivo, como o de conquistar qualquer mudança, progresso, melhora íntima, salvação ou iluminação. Não deve existir qualquer objetivo; deve existir apenas a prática.
A prática não é para conhecer intelectualmente a natureza física da realidade, saber do que consiste o universo, ou como funciona, o que somos, o que é Deus. É verdade que, numa prática séria, persistente e bem feita, nossa tendência é ter algum conhecimento desses assuntos. Mas isso não é o objetivo da prática.
A prática não é atingir algum estado de graça, não é ter visões, não é ver luzes brancas, douradas ou brilhantes. Todas essas coisas podem mesmo acontecer se sentarmos durante tempo suficiente. Mas isso não é o objetivo da prática; a prática não tem objetivo. Se houver qualquer objetivo, propósito ou finalidade, a prática não é Zen.
A prática não é ter ou cultivar poderes especiais. Há muitos deles, e todos nós já os possuímos, naturalmente. Alguns os têm numa proporção extraordinária. No Centro Zen de Los Angeles, às vezes, eu tinha a útil capacidade de ver aquilo que estava sendo servido como jantar a duas portas de distância. Se era alguma coisa que eu não apreciava, eu não ia jantar. Essas aptidões são pequenas excentricidades e, repito, não constituem a verdadeira prática.
A prática não implica busca de poder pessoal; essa força pode vir após anos de prática do sentar; é apenas uma decorrência natural do zazen. Mas, insisto, esse não é o caminho.
A prática não é para ter sentimentos agradáveis, felizes. Não é para se sentir bem, em vez de mal. Não é uma tentativa de ser ou de sentir qualquer coisa especial. O produto ou a finalidade da prática, ou aquilo a que ela se refere, não é ser/estar sempre calmo ou controlado. Mais uma vez, nossa tendência é nos tornarmos assim após muitos anos de prática, no entanto essa não é a questão, esse não é o objetivo, pois não deve haver objetivo.
A prática não se relaciona a algum estado corporal de saúde absoluta, de proteção total contra qualquer tipo de doença grave. Sentar costuma produzir resultados benéficos na saúde de muitas pessoas, embora durante a prática possam escoar meses ou mesmo anos de desastres com a saúde. Mais uma vez, a busca da saúde perfeita não é o caminho; embora, sem sombra de dúvida, com o tempo, haverá um efeito benéfico na saúde da maioria das pessoas. Mas, não há qualquer garantia nesse sentido!
A prática não implica na busca de um estado de onisciência no qual a pessoa conhece tudo de tudo, estado em que a pessoa é uma autoridade a respeito de todo e qualquer problema mundano. Pode até mesmo despertar certa clareza relativa a respeito de algumas questões, mas as pessoas esclarecidas também são conhecidas por dizer e fazer tolices. Outra vez, a onisciência não é a questão.
A prática não quer dizer ser "espiritual", pelo menos não como esta palavra costuma ser entendida e empregada. Ela não é para ser coisa alguma. Portanto, a menos que tenhamos clara nossa “não-intenção” de ser "espirituais", a prática poderá ser prejudicada e não levará a coisa alguma.
A prática não envolve salientar todas as espécies de "boas" qualidades e livrar-se das supostas "más". Ninguém é "bom" ou "mau". A luta para ser bom não é a prática. Esse tipo de treino é uma forma sutil de atletismo mental; não é zazen.
Poderíamos, de modo quase incessante, continuar relacionando aspectos do que a prática não é. Na realidade, qualquer um na prática pode estar mobilizado por uma ou outra dessas ilusões. Todos esperamos mudar, chegar a algum lugar! Essa é em si uma falácia básica. Porém, o mero contemplar desse desejo começa a esclarecê-lo e a prática essencial de nossa vida se altera conforme a executamos. Começamos a compreender que nosso desejo frenético de ser melhor, de "chegar a algum lugar", nada mais é do que pura ilusão, é a fonte de todos os nossos sofrimentos.
Se nosso barco cheio de esperanças, ilusões e ambições (de chegar a algum lugar, de tornar-se espiritual, de ser perfeito, de alcançar a iluminação) vira de ponta-cabeça, o que será desse barco vazio? Quem seremos, então, nós? Não podemos depender daquilo que é incerto ou impermanente, daquilo que é apenas esperança e imaginação; temos de ir alem disso e o zazen pode nos levar “lá”.
Charlotte Joko Beck
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O QUE A PRÁTICA É
A prática é muito simples. Isso, entretanto, não significa que não irá transformar por completo nossa vida. Quero rever o que fazemos quando sentamos, ou praticamos o zazen. Vocês podem ate mesmo pensar que já estão além disso, mas estarão mesmo?
Sentar é essencialmente um espaço simplificado. Nossa vida diária está em constante movimento: acontecem muitas coisas, muitas pessoas falam, muitos acontecimentos ocorrem. Em meio a tudo isso, é muito difícil sentir o que somos verdadeiramente. Quando simplificamos a situação, quando deixamos os elementos externos de lado e nos retiramos do alcance do toque do telefone, da televisão, das pessoas que nos visitam, do cachorro que precisa passear, temos uma chance - que é, exatamente, a coisa mais valiosa que existe - de ficar de frente a frente conosco mesmos. A meditação não está relacionada com algum estado e, sim, com seu praticante. Não diz respeito a alguma atividade, ou a consertar ou a conseguir algo. Refere-se a nós. Se não simplificamos a situação, a oportunidade de dar uma boa olhada em nós mesmos fica muito reduzida, porque aquilo que nos propomos ver não somos nós e, sim, tudo o mais. Se algo dá errado, para o que olhamos? Olhamos para o que saiu errado e, em geral, para aqueles que, a nosso ver, foram os responsáveis pelo erro. Ficamos o tempo todo olhando para fora, e não para nós mesmos.
Quando digo que a meditação diz respeito a quem a pratica, não pretendo afirmar que devemos nos comprometer numa auto-análise. Não é isso. Então o que devemos fazer?
Depois de termos assumido nossa melhor postura (que deve ser equilibrada, fácil), ficamos “apenas sentados ali”, então sim, estamos praticando zazen. O que significa “apenas sentados ali"? Essa é a mais exigente de todas as atividades do Zen. Por via de regra, na meditação, não fechamos os olhos. Neste momento, porém, gostaria que fechassem os olhos e ficassem apenas sentados. O que está acontecendo? Toda espécie de coisas. Uma fisgada mínima no ombro esquerdo; uma pressão no lado... Percebam o rosto por um momento. Sintam-no. Estará tenso em algum lugar? Em torno da boca, na testa? Vamos descer um pouco mais. Observem o pescoço, somente sintam-no. Agora, os ombros, as costas, o peito, a região abdominal, os braços, as coxas. Continuem sentindo tudo que encontrarem. Agora sintam a respiração entrando e saindo. Não tentem controlá-la, apenas senti-la. Nossa primeira reação é tentar segurar a respiração. Deixe que aconteça naturalmente. No alto do peito, no meio, na barriga, pode parecer tensa. Apenas sinta como está. Sintam tudo isso. Se um carro passa lá fora, ouçam-no. Se um avião passar, observem-no. Talvez ouçam o barulho cíclico do motor da geladeira. Que seja! E o que vocês têm de fazer, positivamente é tudo o que vocês têm de fazer: experimentar isso e apenas ficar com essa experiência. Agora podem abrir os olhos.
Se conseguirem ficar fazendo isso durante três minutos, já é um milagre. O normal é que, decorrido um minuto, nossa atenção ao mundo cesse e começamos, novamente,a pensar. Nosso interesse em apenas acompanhar/testemunhar a realidade (que é o que acabamos de fazer) é muito reduzido. E alguém dirá: “Você quer dizer que zazen é só isso? Isso não nos interessa pois, o que queremos, é buscar a iluminação." Nosso interesse pela realidade é extremamente pequeno. Não queremos pensar. Queremos nos afligir com todas as nossas preocupações. Queremos entender qual é o sentido da vida. Assim, antes de nos darmos conta, teremos esquecido por completo deste momento de atenção e teremos divagado em pensamentos sobre as coisas: o namorado, a namorada, o filho, o patrão, o medo permanente... e por aí afora! Nada há de vergonhoso nesse fantasiar, exceto que, quando estamos imersos nele, perdemos alguma outra coisa. Quando estamos perdidos em nossos pensamentos, quando estamos sonhando, o que estamos perdendo? A própria realidade. Nossa vida nos escapou.
Isso é o que os seres humanos fazem. E não fazem isso só uma parte do tempo: fazem a maior parte do tempo, talvez todo o tempo. Por quê? Claro que vocês sabem a resposta. Fazemos porque estamos tentando nos proteger. Estamos tentando nos livrar de nossos medos de viver e de morrer, de nossas dificuldades atuais, do futuro incerto ou, pelo menos, de entendê-los. Não há nada de errado em nossos pensamentos autocentrados, exceto que, quando nos identificamos com eles, nossa visão da realidade fica bloqueada. Assim, o que devemos fazer quando os pensamentos aparecem? Devemos dar-lhes rótulos. Coloquem rótulos específicos: não só "pensamento, pensamento" ou "preocupação, preocupação", mas um rótulo específico. Por exemplo: "Estou pensando que ela é muito mandona"; "Estou pensando que ele é muito injusto comigo"; "Estou pensando que nunca faço as coisas certas". Sejam específicos. Se os pensamentos estiverem vindo em avalanche, numa velocidade tão grande que vocês não sintam mais nada senão confusão, então simplesmente rotulem essa confusão nebulosa de "confusão". Mas se insistirem em localizar pensamentos isolados, cedo ou tarde, eles virão e vocês estarão fazendo a prática certa.
Quando praticamos dessa maneira, passamos a nos conhecer, a saber como nossa vida funciona, o que estamos fazendo com ela. Se percebemos que determinados pensamentos reaparecem centenas de vezes, ficamos sabendo a nosso respeito algo que antes desconhecíamos. Talvez nosso pensamento incessante refira-se ao passado ou ao futuro. Algumas pessoas estão sempre pensando sobre acontecimentos, enquanto outras sempre estão pensando em pessoas, e outras no que realizaram ou vão realizar. Há quem pense sempre a respeito de si mesmo. Em algumas, os pensamentos são quase só julgamentos a respeito dos outros. Enquanto não os rotularmos durante todo o tempo, não conseguimos nos conhecer. Quando damos rótulos precisos e meticulosos a nossos pensamentos, o que acontece com eles? Eles começam a aquietar-se. Não é preciso que nos obriguemos, que nos forcemos a nos livrar deles. Quando eles se acalmam, podemos retornar à experiência do corpo e da respiração, muitas vezes seguidas. Não há como deixar de enfatizar que não fazemos isso apenas duas ou três vezes; fazemos dez mil vezes. Com isso, nossa vida se transforma. Essa é uma descrição teórica do “sentar”. E muito simples. Não há nada de complicado nela.
Consideramos agora uma situação da vida cotidiana. Suponhamos que você trabalha mima companhia de aviação, e lhe contam que o contrato com o governo está terminando e é provável que não seja renovado. Você pensa com seus botões: "Vou perder meu emprego. Vou ficar sem rendimentos e tenho uma família para sustentar. E terrível!". O que acontece então? Sua mente começa a remoer o problema sem parar. "O que acontecerá? O que faço?" A mente começa a ficar cada vez mais perturbada e rápida com a preocupação.
Claro que não há nada de errado em planejar com antecedência. Temos de planejar. Porém, quando ficamos aborrecidos, não é porque apenas planejamos, mas porque ficamos obcecados. Viramos a situação do avesso de todos os jeitos e não encontramos solução para o problema. Se não soubermos o que significa fazer uma prática com nossos pensamentos de preocupação, apenas rotulá-los, o que acontece em seguida? Os pensamentos produzem uma emoção e ficamos mais agitados ainda. Toda agitação emocional é causada pela mente. Se permitirmos que isso aconteça durante um certo tempo, acabaremos em muito provavelmente ficando doentes ou mentalmente deprimidos. Se a mente não solucionou a situação de modo conveniente, com discernimento, o corpo tentará faze-lo, tentará nos ajudar a “sair dessa”. É como se dissesse: "Se você não consegue resolver a situação, tomar conta da situação, eu tomarei conta". Assim, produzimos dores corporais, nosso próximo resfriado, nossa alergia seguinte, nossa próxima úlcera, seja qual for nosso estilo. A mente que não está consciente de si produzirá enfermidades. Muitas pessoas adoecem justamente por isso. Quando o desejo de nos preocupar é forte, criamos dificuldades. Com uma prática regular, podemos, aos poucos, nos desfazer delas, diminuí-las. Tudo aquilo de que não formos conscientes frutificará em nossa vida, de um jeito ou de outro.
Do ponto de vista humano, as coisas que dão errado em nossa vida são de dois tipos: primeiro tipo: são os fatos que acontecem fora de nós e, segundo tipo: os fatos que acontecem dentro de nós, como as doenças físicas. Ambas são a nossa prática e trabalhamos com elas do mesmo modo. Rotulamos todos os pensamentos que acontecem à volta deles e os vivenciamos em nosso corpo. O processo é o próprio pensar.
Falar a esse respeito parece, de fato, fácil. Entretanto, fazê-lo é terrivelmente difícil. Não conheço ninguém que possa fazê-lo o tempo todo. Conheço algumas pessoas que conseguem uma boa parte do tempo. Mas, quando praticamos desta forma, tomando consciência de tudo que entra em nossa vida (interna e externa), ela começa a transformar-se. Aumentamos nossa força e nosso discernimento; às vezes, conseguimos inclusive viver num estado de iluminação, que só significa experimentar a “vida como ela é”, sem ilusões e esperanças vãs. Não é nenhum mistério.
Se você é novato na prática, é importante saber que ficar apenas sentado na almofada durante quinze minutos já é uma vitória. E é ótimo ficar sentado com essa compostura, somente ficar ali.
Se tivéssemos medo de ficar na água e não soubéssemos nadar, a primeira vitória seria entrar na água. O próximo passo poderia ser molhar o rosto. Se fôssemos ótimos nadadores, o desafio poderia ser conseguir bater a mão na água numa determinada inclinação, a cada braçada. Isso significa que um é melhor do que o outro? Não. Ambos são perfeitos, cada qual em sua etapa do caminho. A prática, em qualquer estágio, é simplesmente “ser quem somos a cada momento”. Não é uma questão de sermos bons ou maus, melhores ou piores. Às vezes, depois das palestras, as pessoas comentam: "Não entendi isso". Pois esse comentário também está perfeito. Nosso entendimento aumenta com o tempo, contudo, a qualquer momento, somos perfeitos simplesmente por ser do “jeito que somos.”
Começamos a aprender que só existe uma coisa na vida em que podemos confiar. Qual é? Podemos dizer: "Confio em meu companheiro". Podemos amar nosso marido, nossa esposa; mas não podemos nunca confiar cegamente neles porque uma outra pessoa (assim como nós) é sempre não confiável até certo ponto. Não há uma pessoa na face da Terra em quem possamos confiar por completo, e sob todos os aspectos, embora, sem dúvida, possamos amá-la e desfrutar de sua companhia. Em que, então, podemos confiar? Se não é em uma pessoa, em quê é? Em que podemos confiar na vida?, perguntei a alguém que me respondeu: "Em mim". Você pode confiar em si mesmo? A autoconfiança é uma boa coisa, porém é inevitavelmente limitada.
Existe uma coisa na vida em que sempre podemos confiar: na vida tal como é. Vamos falar em termos mais concretos. Imagine que existe uma coisa que eu quero muito: talvez casar com uma certa pessoa, ou fazer um curso de especialização, ou ter um filho saudável e feliz. No entanto, a vida como é pode fazer acontecer exatamente o contrário do que eu desejo. Não sabemos se iremos ou não casar com aquele alguém. Quem sabe, se casarmos, aquela pessoa ideal morra amanhã. Pode ser que consigamos ser especialistas ou não. É provável que sim, mas não podemos contar com isso. Não podemos contar com coisa alguma, na vida e no mundo; tudo é incerto e impermanente. A vida será sempre do jeito que é. Então, por que não conseguimos confiar nesse fato? O que é tão difícil a esse respeito? Por que estamos sempre incomodados? Suponha que sua casa tenha acabado de ser destruída por um terremoto e você está quase perdendo um braço e todas as suas economias. Será que dá para confiar na vida tal qual ela se apresenta? Você consegue ser assim?
Perceber e confiar que as “coisas são como são” é o segredo da vida. Porém, desconhecendo que isto é uma verdade irretorquível, não queremos saber de nada disso. E, iludidos e esperançosos, podemos acreditar/pensar que, amanhã, que, no ano que vem, minha vida mudará, estará diferente e melhor, e, no entanto, a vida será sempre do que jeito que ela é, nada influindo nossos desejos e esperanças sobre ela. Se eu tiver um ataque cardíaco amanhã, posso confiar que, porque eu o tive, eu o tenho, pois é um fato; mas imaginar que será melhor, é apenas sonho e desejo. Assim, tenho de me apoiar na vida como ela é. Nada há que eu possa fazer para modificá-la.
Quando fazemos um investimento pessoal em nossos pensamentos, criamos o "eu"; então nossa vida começa a não funcionar. Eis por que devemos rotular os pensamentos, desfazendo o investimento. Depois de termos ficado sentados por tempo suficiente, podemos vir a perceber que nossos pensamentos são apenas como input sensorial (entrada de sensações causadas pelos sentidos; nada mais do que isso). Podemos nos ver atravessando os estágios preliminares a este: primeiro sentimos que nossos pensamentos são reais, e a partir deles criamos as emoções centradas no ego e, a partir destas, os obstáculos que nos impedem de ver a vida como ela é, porque, se estamos dominados pelas emoções centradas no ego, não conseguimos enxergar as pessoas e as situações com clareza. Um pensamento em si é só input sensorial, um fragmento de energia. Entretanto, tememos ver os pensamentos tais como são na verdade.
Quando rotulamos o pensamento, retrocedemos e nos desapegamos da identificação. Há uma enorme diferença entre dizer: "Ela é impossível" e "
O zen refere-se a uma vida ativa, envolvida. Quando conhecemos bem nossas mentes e as emoções que nossos pensamentos criam, temos a possibilidade de ver melhor o que é a nossa vida e o que precisa ser feito nas diferentes situações; na próxima coisa que temos logo à frente. O zen tem que ver com uma vida de ações, não com uma vida de total passividade. No entanto, as ações têm de estar baseadas na realidade. Quando se baseiam em falsos sistemas de pensamento (fundamentados em nosso condicionamento), têm alicerces precários. Depois de compreendermos com clareza os sistemas de pensamento, seremos capazes de ver o que precisa ser feito para reforçar os alicerces.
O que estamos fazendo não é uma reprogramação nossa; é nossa libertação de todos os programas, pois vamos perceber que todos os programas são vazios, ilusórios, pois não têm realidade. Uma “reprogramação” só faz saltar de um caldeirão de água quente para outro. Pode ser que tenhamos aquilo que pensamos ser uma melhor programação; mas o propósito do sentar é exatamente o de não ser conduzido por nenhum programa. Imaginemos que há o programa chamado "Não tenho autoconfiança". Suponhamos que decidimos reprogramá-lo para "Tenho autoconfiança". Nenhum dos dois conseguirá se sair muito bem frente às pressões da vida, porque envolvem um "eu". Este "eu" é uma invenção muito frágil - aliás, irreal - e é com facilidade enganado. Na realidade, nunca houve um "eu". O que importa é enxergar que é vazio, uma ilusão, o que é totalmente diferente de fazer força para dissolvê-lo. Compreendendo que é vazio, que é ilusão, ele se desfaz por si mesmo. Quando falo que é vazio, quero dizer que não tem realidade, que é só uma criação de pensamentos autocentrados, um feixe de memórias que arquivamos em nossa mente.
Praticar o Zen não é tão fácil quanto falar sobre ele. Até mesmo os estudantes que têm um certo entendimento do que estão fazendo, às vezes, costumam se afastar da prática básica. Apesar disso, quando “sentamos” bem, tudo o mais se incumbe de si mesmo. Por essa razão, se estamos praticando o sentar há cinco ou vinte anos, ou estamos apenas no começo, é importante “sentar” com um grande e meticuloso cuidado.
Charlotte Joko Beck
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O ZEN E OS PRATICANTES
Qual é o objetivo da prática do Zen? É despertar o homem para a sua essência intrínseca verdadeira, e, além disso, torná-lo receptivo ao Ser Real que está no seu interior, a fim de manifestá-lo em todas suas ações no mundo, livremente e sem medo.
A prática do Zen exige três tipos de conhecimento: 1) o conhecimento de que é possível a Grande Experiência, pela qual o homem vem a conhecer sua “verdadeira essência, sua própria essencia", consequentemente escapando da armadilha que é a vida; 2) o conhecimento da natureza daquilo que o separa de tudo enquanto homem/ego, inconsciente da sua essência intrínseca, e da natureza e da razão do sofrimento; 3) o conhecimento de que o aprendizado do caminho o leva do erro à manifestação da sua verdadeira essência.
O conhecimento de tudo o que bloqueia o caminho do despertar é decisivo para toda prática que visa transforma-lo no “homem novo”. E qual é esse obstáculo? É o próprio “eu” que pensa, que planeja, que define, com sua forma de consciência e seu sistema de vida limitados e medíocres, a partir dos quais o homem se sente identificado com esse “eu” e se deixa levar por suas ilusões e interpretações falhas e incorretas. Portanto, o objetivo principal do Zen é destruir essa identificação, é derrubar o “eu” e a sua máscara de pseudo-defesa nossa, demolindo o seu sistema de vida, aquietando-o, para que a mente se aquiete.
A principio, todos os exercícios zen visam alcançar o mesmo objetivo: anular as ações do “ego”, as ilusões que lhe dá falsos valores e, ao fazê-lo, retirar de sob seus (do homem) pés o chão movediço e fictício sobre o qual ele se apóia, e que o impede de alcançar os seus verdadeiros alicerces. É preciso derrubar os valores estabelecidos pelo ego; rejeitar tudo aquilo a que se acredita ter direito; desligar-se de tudo aquilo a que se apega; não levar tão a sério aquilo que se pretende possuir; perceber a ilusão de todos os pensamentos e desejos; rir da “sabedoria” de que se julga possuidor. E, para conseguir tudo isso, o Zen lança mão de qualquer meio. Só se pode entender as afirmações e as ações, de outro modo incompreensíveis, do mestre, ao conhecer o elevado objetivo que justifica cada meio empregado. Tudo aquilo que é inconcebível e completamente inesperado para o ego/eu - a resposta sem sentido, a agressão gratuita, o golpe bem dirigido, o choque, o bofetão no rosto, a pancada, a implicância, o riso debochado, o grito assustador, o koan -, tudo aquilo que o eu tem de aceitar e suportar, aquilo que o derruba ao fazer cair por água abaixo tudo o que o sustenta, que lhe dá a ilusão de “elevação”, ou que o “defende” no dia a dia da vida, na ordem “habitual” das coisas, visa abrir esse eu à consciência da realidade do mundo. Pois é justamente nessa derrocada que o homem que busca poderá, talvez, vir a ter um vislumbre da verdade que está por trás da ordem ilusória, aparente. Aí ele vai perceber que os valores que julgava fixos e firmes e dignos de toda confiança, supostamente tidos como inabaláveis e duradouros, que até então lhe pareciam a única verdade aceitável e que lhe davam uma posição estável e satisfatória, não eram senão um enorme complexo de ilusões vindas da postura adotada pelo seu ego. E como esta postura do eu foi firmada através de sua compreensão condicionada e incorreta, acerca daquilo que julgava ser a verdade, ele obstruiu, colocou, inconscientemente, a sua frente, um véu que o impede de perceber a realidade.
Porém, tudo isto supõe um pré-requisito: é preciso que aquele que busca esteja realmente disposto a encontrar; que o praticante esteja realmente disposto a aprender, ou seja, que ele também se prontifique a seguir o seu guia, portanto, que se disponha a sentir-se e a manter-se como aprendiz. Mas quem pode ser chamado de discípulo? Só aquele que foi arrebatado de suas bases ilusórias pelo anseio, aquele cuja angústia o levou até o último limite e que sente que, se não romper essa derradeira barreira, morrerá. Só se pode chamar de discípulo aquele que foi aprisionado pela inquietude do coração, pelo fato de não conhecer, na verdade, o que a vida é, inquietude que não o largará jamais até que ele venha a ser satisfeito pelo conhecer a realidade, a verdade.
Só se pode chamar de discípulo quem começou a trilhar o caminho disposto a deixar-se conduzir e a obedecer.
Só se pode chamar de discípulo quem é capaz de ter uma inabalável confiança, e quem é capaz de seguir o caminho mesmo sem o entender, pronto a encarar qualquer desafio.
Só se pode chamar de discípulo quem é capaz de ser exigente consigo mesmo, quem está preparado para abandonar as atrações do mundo, e tudo o mais, para buscar a verdade que o empurra na direção da luz.
Só se pode chamar de discípulo quem, cativado pelo incondicional, é capaz de se submeter a qualquer situação, e suportar os rigores da senda através da qual o Zen o guia.
”Tudo ou Nada” está escrito em letras maiúsculas sobre o portal da sala de exercícios freqüentada pelo discípulo. Este deixa tudo para trás, e só uma certeza o acompanha: de agora em diante, ele não irá mais se deparar com a arbitrariedade, mas com o olhar da sabedoria que, ao se concentrar na sua essência intrínseca, se vale de qualquer meio para trazê-la à tona, para reavivá-la, Pois o significado da morte que dele se espera não é a morte propriamente dita, mas a VIDA que transcende a vida e a morte. Não se trata da destruição da existência é, ao contrário, a construção do SER que se irradia através da vida.
Karlfried Graf Dürckheim
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Às vezes as pessoas dizem que, sem um mestre, a meditação pode provocar confusão e desequilíbrio, mas nem sempre é possível encontrar um mestre altamente desenvolvido. Esses indivíduos são raros, embora com freqüência seja possível encontrar mestres que ainda não realizaram totalmente o Caminho. Se você não puder estudar com um mestre realizado, a maneira mais inteligente de praticar é confiar basicamente no mestre que existe dentro de você.
Thich Nhat Hanh
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NADA ESPECIAL OU MARAVILHOSO
"Se você continuar esta simples prática todos os dias, obterá um poder maravilhoso. Maravilhoso antes de ser atingido, mas nada especial uma vez obtido." (pois lhe vem a compreensão de que essa sempre foi sua natureza).
Depois do zazen, para que ainda falar alguma coisa? A prática do zazen é o bastante! Nada mais é necessário. Mas já que tenho que falar, gostaria de discorrer sobre como é maravilhoso praticar zazen. Nosso único propósito é manter essa prática para sempre. Ela começou no tempo sem início e continuará pelo futuro sem fim. A rigor, para o ser humano, não há outra prática a não ser essa; não há outra maneira de viver a não ser essa. A prática do Zen é a expressão direta de nossa verdadeira natureza.
Claro, qualquer coisa que façamos é expressão de nossa natureza, mas sem essa prática é difícil aperceber-se disso. Ser ativo é próprio da natureza humana, assim como de todas as formas de existência. Enquanto vivos, estamos sempre fazendo alguma coisa. Mas tão logo você pense: "Estou fazendo isto' ou "tenho que fazer isso" ou "preciso fazer ou conseguir aquilo", você, na verdade, não está fazendo nada que valha a pena. Quando você renuncia, quando não deseja mais coisa nenhuma, quando não tenta nada de especial, então você está fazendo verdadeiramente “alguma coisa”. Quando não há nenhuma idéia de ganho naquilo que faz, então está fazendo algo. Em zazen, você não faz o que faz quando deseja obter algo. Você pode sentir-se como que fazendo algo especial mas, na verdade simplesmente está expressando sua verdadeira natureza; essa é a atividade que aplaca seu mais profundo desejo. Praticar zazen com algum objetivo não é verdadeira prática.
Se você continuar esta simples prática todos os dias, obterá um poder maravilhoso. Uma coisa maravilhosa antes de ser atingido, mas nada de especial uma vez obtido. É simplesmente você mesmo, nada especial. Como diz um poema chinês: "Eu fui e voltei. Não era nada especial. Rozan é famosa por suas montanhas; Sekko por suas águas". As pessoas pensam que deve ser maravilhoso ver a famosa cadeia de montanhas abraçada pela bruma e a água que se diz cobrir toda a terra. Mas se você for lá verá apenas água e montanhas. Nada especial.
É intrigante o fato de que a iluminação seja uma coisa maravilhosa para aqueles que não têm experiência dela e, contudo, não seja nada para aqueles que a experimentam. E, no entanto, embora não seja nada não é apenas nada. Você entende? Para uma mulher com filhos, ter filhos não é nada especial. Zazen é assim. Portanto, se você perseverar nessa prática, mais e mais você obterá alguma coisa nada especial, porém alguma coisa. Você pode chamar essa coisa de "natureza universal' ou "natureza de Buda" ou "iluminação". Muitos nomes podem lhe ser conferidos, mas para a pessoa que a possui, é nada, e ao mesmo tempo, é tudo.
Quando expressamos nossa verdadeira natureza, nós somos verdadeiramente seres humanos. Quando não, nós não sabemos o que somos. Não somos animais comuns porque caminhamos sobre duas pernas. Somos diferentes dos animais comuns; mas, o que somos? Podemos ser um fantasma. Não sabemos como denominar a nós mesmos. Tal criatura na verdade não existe. É uma ilusão. Ainda não somos humanos, contudo pensamos que somos. Quando o Zen não é Zen nada existe. O que estou falando não faz sentido para o intelecto mas, se você já experimentou a verdadeira prática, entenderá o que estou dizendo. Se alguma coisa existe, é porque ela possui sua verdadeira natureza, sua própria natureza búdica. No Sutra Pari-nirvana, o Buda diz: "Tudo tem natureza de Buda". Todavia, o mestre Dogen interpreta isto da seguinte maneira: "Tudo é natureza de Buda". Aqui há uma diferença. Se você diz: "Tudo tem natureza de Buda', significa que a natureza búdica está em cada existência, portanto, natureza búdica e cada existência são diferentes. Mas quando você diz "tudo é natureza de Buda", significa que todas as coisas são a própria natureza de Buda, são o Buda. Quando não há natureza de Buda, nada existe. Qualquer coisa que não seja natureza búdica é apenas ilusão. Pode existir em sua mente, mas tal coisa de fato não existe.
Ser um ser humano portanto é ser um Buda. Natureza búdica é apenas outro nome para nossa verdadeira natureza humana. Assim, mesmo que você não faça nada, já está fazendo alguma coisa. Você está expressando a si próprio, está expressando sua verdadeira natureza. Seus olhos, sua voz, sua conduta a expressam. A coisa mais importante é expressar sua verdadeira natureza na forma mais simples e adequada e apreciá-la, mesmo na mais insignificante das existências.
Com a continuidade desta prática, semana após semana, ano após ano, sua experiência se tornará mais e mais profunda e abraçará todas as coisas que fizer em sua vida diária. O mais importante é deixar de lado toda e qualquer idéia de ganho, ou de perda, toda e qualquer idéia dualista. Em outras palavras, pratique zazen somente na postura correta. Não pense nada. Apenas permaneça sentado na sua almofada, sem expectativa alguma, Então você reassumirá finalmente sua verdadeira natureza. Ou seja, sua própria natureza se reassumirá. Você encontrou você.
Shunryu Suzuki
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SEMPRE FOMOS O EU
“Chuva nevoenta sobre o Monte Lu,
E ondas encapeladas no rio Che.
Se você ainda não esteve lá,
Muitos pesares, por certo, terá;
Mas, uma vez lá e no rumo de casa,
Como parecem prosaicas todas as coisas!
Chuva nevoenta sobre o Monte Lu,
E ondas encapeladas no rio Che”.
Se você ainda não teve o percebimento, a iluminação, os sofrimentos da vida continuarão, como para todos que ainda não chegaram lá; mas, se teve o percebimento, não por efeitos de drogas ou outra razão, mas no ‘rumo de casa’, isto é, na intenção de encontrar Deus, como tudo, a partir daí, passa a ter significado profundo se comparado às coisas da vida comum. E, depois de iluminado, a mesma chuva, as mesmas ondas, todos os eventos serão os mesmos de sempre, porque o mundo não mudou, mas, para quem chegou, a interpretação do mundo e da vida se transforma radicalmente.
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