terça-feira, 25 de junho de 2013

(44)   ALÉM DOS SENTIDOS      (06/88 - jcl)

      Um novo sentido, além dos conhecidos.

      Na crosta planetária, de início, os seres humanos não agiam de modo diferente ao dos animais chamados (mas não são) irracionais, sem respeitos, sem qualquer lei que os limitasse na sua audácia para todas as condutas, as mais ignóbeis, se observadas na atualidade, mas perfeitamente naturais, então.
      Destituídos de sentimentos os mais simples, no que se refere ao respeito à liberdade, à livre determinação dos demais, era-lhes perfeitamente comum e normal matar, explorar, roubar o semelhante, nada os detendo nessas práticas, hoje consideradas baixas e amorais.
      Tais horrores ficaram no remoto passado. Com o sofrimento e a dor, por ter sido vitima, também, de desmandos iguais, o homem aprendeu aos poucos a burilar a mente, desenvolvendo sentimentos menos egoístas, a respeitar o semelhante como ele mesmo sujeito às leis instituídas.
      No entanto, antes como agora, os pontos de contato de sua mente com o mundo exterior, isto é, os canais pelos quais o homem toma conhecimento e se relaciona com os fenômenos e coisas de fora de si mesmo - os sentidos objetivos - sempre constituíram a mais poderosa e importante ligação com a vida. Não fossem o paladar, o olfato, o tato e, particularmente, a visão e a audição, o ser humano estaria isolado dentro de si mesmo, sem defesas, sem recursos quaisquer, sem possibilidade de sobreviver. Daí o valor imenso desses canais profundamente utilizados na luta pela vida, desde o nascimento até a morte biológica. Todas as relações do homem, sob qualquer aspecto, se prendem ao uso desses sentidos objetivos. Toda vida de relacionamentos com o mundo exterior, coisas, pessoas, fenômenos, deles dependem, embora muito facilmente enganem o homem quando portadores de defeitos, os quais a ciência tentou superar através de inúmeros artifícios que não lograram resolver a totalidade dos problemas.
      Hoje, contudo, o homem que tenta acordar de sua letargia em relação a uma vida superior, que tenta avançar além da autoconsciência, em busca de uma consciência maior, deve-se voltar com todo o empenho no sentido de despertar e desenvolver um novo canal de comunicação, mas agora para o seu próprio interior. Enquanto os canais dos sentidos o relacionavam com o mundo exterior, o novo canal deve relacioná-lo com o muitíssimo mais rico e belo mundo interior, inexplorado, mas muitas vezes percebido em momentos de relaxamento, recolhimento e quietude. 
      O acesso a esse novo canal é feito através da meditação. Por ela, a percepção e a conseqüente sabedoria abençoarão a vida do ser humano, como já aconteceu no passado, quando poucas mentes, é certo, mas privilegiadas, dessas experiências receberam e nos deixaram ensinamentos que perduram até hoje: as chamadas revelações.
      Mas, agora, o homem, particularmente aquele que deseja abandonar a repetição continuada dos mesmos passos, condutas, erros, procedimentos e hábitos, não deve se valer mais dessas mesmas revelações. Deve usá-las, obviamente, para seus passos iniciais, mas, em seguida, deve procurar ele mesmo desenvolver em si, pois potencial não lhe falta para tanto, a possibilidade da revelação particular, individual, que lhe faça adquirir convicção por experiência direta, das mesmas verdades que antes não aceitou plenamente por terem sido trazidas por outros.
      Agora, ele deve procurar se desenvolver, através de treinamento intensivo na meditação e na análise dos eventos que ocorrem no mundo à sua volta e em seu íntimo, buscando usar esse novo mecanismo, essa nova ponte de ligação, para perceber aquilo que está além do eu, além dos sentidos, do pensamento e da imaginação, que pode ser encontrado, e que lhe trará a satisfação de todas as demais necessidades. Por isso, a recomendação de Jesus: ‘Buscai em primeiro lugar o Reino de Deus, e tudo o demais vos virá por acréscimo’.
      Vale o esforço, o tempo ‘perdido’, o empenho, a renúncia, o sofrimento advindo da solidão e da incompreensão em que certamente ficará, pois dificilmente será tido como homem normal, inteligente ou prático. Será taxado de fanático, insensato, tolo, fora da realidade, ultrapassado. Mas, apesar disso, não se esquecendo que a ‘sabedoria de Deus é loucura para os homens’, como disse Paulo, deve tentar ir além dos sentidos para encontrar aquilo que está longe da sensibilidade exterior, mas tão próximo de seu ser que se confunde com seu próprio eu.

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Meu email: luconfortijr@hotmail.com

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