Conversa com o amigo “G”
Amigo G:
“Você afirma que não é necessário fazer nenhuma reformar interior e ao mesmo tempo fala que é necessário a afastar o ego. Isso é ilógico”.
“Você afirma que não é necessário fazer nenhuma reformar interior e ao mesmo tempo fala que é necessário a afastar o ego. Isso é ilógico”.
Cel:
“Meu amigo, o que é a “reforma
interior” a que todos, em geral, se referem? É se tornar honesto, bom, prestar
serviços de amor ao próximo, ser caridoso, humilde, solidário etc, não é isso?
E como é que todos, em geral, e como as doutrinas aconselham, fazem? No interesse
de reformar-se intimamente, de serem recompensados num futuro incerto, de
receberem méritos pelo bem que fazem, forçam a própria natureza, que não está
ainda preparada para amar, para perdoar, ajudar etc.
Não é isso o que acontece? E, pelo que se ensina,
o ato de “bondade” é tanto mais digno de méritos quanto mais se tiver de forçar
a própria natureza pessoal, a própria vontade, para realizá-lo. Mas, isso é
“reforma interior” ou é apenas uma “reforma exterior”, uma reforma de atitudes
exteriores? Isso não é amor! É apenas imitação de amor, pseudo-amor, amor
falso, pois realizado por interesse de recompensas, ou porque as doutrinas, os
mestres, os mandamentos, a ética religiosa recomendam que assim se faça,
concorda? Esse é um amor que se realiza “sob condições”: de que haja
reconhecimento das religiões ou de Deus; ou do próximo beneficiado, ou da
sociedade; que, sobretudo mereçamos reciprocidade do beneficiado, ou recompensas
no futuro, nesta ou noutra vida ou situação, não é?
Isso não é amor; é amor-forçado, simulacro de amor, “treinamento” de amor. E, será
possível que pelo esforço, pelo treinar, alguém possa substituir o desamor que
ainda tem no coração, por amor? O amor pode brotar pelo “hábito” ou costume de
praticar atos de amor? É um costume pessoal a ser adquirido? Ou é um sentimento
espontâneo que brota do coração, sem que nem saibamos como? Isto é o que, em
geral, e erradamente, todos chamam de “reforma íntima”: acostumar-se a praticar
atos de pseudo-amor. O amor não nasce do esforço, mas da compreensão profunda
(eventualmente) e se o indivíduo já estiver a ele receptivo.
Muito diferente é o afastar, eliminar,
calar o “ego”. Isto se dá pela ampliação da compreensão provocada pela
observação da totalidade da vida, de como ela é conosco e com os demais,
humanos ou não humanos. Essa compreensão vai despertar em nós (pela constatação
de que os atrativos do mundo a nada levam; que, ao contrário, só perturbam e
prejudicam, e não nos dão satisfação duradoura), um desencanto ou desapego das
coisas que, antes, nos escravizavam; vamos também perceber que nem as ciências,
aí incluídas as medicinas, nem psicologias, filosofias, crenças e religiões
oferecem solução duradoura para aquilo que mais afeta os homens, desde o nascer
até o morrer: o sofrimento, de qualquer natureza que seja.
Desencantados, confusos e perdidos, pois não vemos como fugir da
armadilha que, então, percebemos que a vida é, iniciamos a busca da solução
definitiva; não mais ficamos hipnotizados pelas nossas crenças, que prometem felicidade
para um futuro incerto e q nunca chega; procuramos noutras direções até que compreendemos
que o remédio está em “esquecer” o mundo e seus atrativos, aos quais estamos apegados, acorrentados.
Então, verificamos que, para esquecer o mundo, temos de, obrigatoriamente, esquecer,
afastar, isolar, matar aquilo que nos relaciona com ele, que nos liga a ele: o “ego”.
Por isso, eu disse que a chamada “reforma íntima” não é necessária, pois a “verdadeira”
reforma íntima só se concretiza com o afastamento do ego.
Amigo G:
Amigo G:
“Você não defende o abandono da
paixão? Da raiva? Da delusão?”.
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(Delusão: você vê, mas não consegue perceber a realidade subjacente, isto é, vc vê o falso e o
toma pelo real. A delusão engana a experiência e impede qualquer raciocínio!)
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Cel: certamente; e onde estão a raiva, a paixão, a delusão, a maldade e todos os demais “defeitos” morais, senão no ego? A essência, o espírito é puro, é perfeito. Essas qualidades “negativas” cessarão com o cessar do ego”. O caminho não é a bondade, o amor, a caridade; o caminho é afastar o ego, com o que conheceremos a verdade de qual é nossa verdadeira e eterna identidade. “Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”.
Cel: certamente; e onde estão a raiva, a paixão, a delusão, a maldade e todos os demais “defeitos” morais, senão no ego? A essência, o espírito é puro, é perfeito. Essas qualidades “negativas” cessarão com o cessar do ego”. O caminho não é a bondade, o amor, a caridade; o caminho é afastar o ego, com o que conheceremos a verdade de qual é nossa verdadeira e eterna identidade. “Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”.
Amigo G:
“Entendo que o amigo deseja falar
sobre a realidade última, mas os seres em sua maioria vivem na realidade
conceitual e convencional, tornando muitas vezes perigoso este tipo de
reflexão que o amigo demonstra, pois leva alguns a acreditar que a sujeira não
deve ser limpa e que as tendências más não devem ser eliminadas”.
Cel: não, amigo; tudo é como deve
ser, independente de nossa vontade e até mesmo contra ela; somos apenas
testemunhas do fluir dos eventos, aí incluídos a emissão de palavras,
conselhos, lições, sejam ou não consideradas apropriados à época em que estamos
e às condições pessoais dos que as ouvem. Todas as palavras que pronunciamos, a
vida é que nos faz pronunciar, pois somos o resultado de todas as causas e de todos
os seus efeitos ocorridos desde os mais remotos ancestrais e do que existiu
antes deles. Nada fazemos por nós; o que é, o que acontece agora, é exatamente
o que é e o que tem que acontecer agora; não que isto signifique um “destino
programado, para seres programados”, mas um fluir (impermanência e incerteza,
do Buda)) eterno, um movimento que nos leva eternamente a fazer o que fazemos,
a passar pelo que passamos, seja isso prazeroso ou dolorido; e contra ele nada
podemos. Esse é o incessante fluir da vida. Apenas não compreendemos que é
assim devido à visão equivocada do ego. Enquanto existir o ego, nada podemos
fazer para mudar isso; somos apenas testemunhas.
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