(41) ‘A EXPERIÊNCIA’ de um Evangélico (Jan2008)
(Extrato
de ‘Despertamento, a ciência de um milagre’).
Charles
G Finney, professor e advogado, pregador evangélico, por muitos comparado a
Paulo, nem na juventude, nem adulto, dera atenção a assuntos religiosos. Em
Adams, cidadezinha onde foi advogar, conheceu e ouviu o pastor Gale, formado em Princeton. Os dois
tornaram-se amicíssimos, mesmo não se compreendendo um ao outro; o pastor não
conseguia responder a todas as perguntas sobre a religião que pregava, que Finney
lhe fazia. A perplexidade do advogado tornava-se cada vez maior diante da
aparente incoerência entre as orações dos crentes e a falta de respostas.
Oravam e oravam, pediam e pediam, e nada acontecia.
Finney comentou com alguns vizinhos:
‘Desde
que assisto aos cultos, vocês têm orado o suficiente para expulsar desta vila
até mesmo o diabo, se é que há poder em suas orações. No entanto, vocês ainda
continuam orando e se lastimando, como se suas orações nunca houvessem sido
ouvidas’. (orações formais não passam de exterioridades; não levam a Deus. O
que pode levar a Deus são as orações de recolhimento e de quietude, ensinadas
por Tereza de Ávila e místicos).
Ele
viria a aprender, depois, que muitas questões não se resolvem nem com orações,
nem com sermões, mas somente por meio do conhecimento pessoal (direto, a
experiência mística) daquele em quem está toda sabedoria: Deus.
Mais
tarde, Finney se converteu, e a narrativa desse acontecimento, em muitos
sentidos, assemelha-se à de Saulo, na estrada de Damasco. Finney não possuía
instrução religiosa, mas era sério, enérgico, inteligente, de mente aberta.
Como Saulo, ele também teve sua ‘visão’, e saiu, dessa transformadora
experiência, resolvido a abrir os olhos e ouvidos dos demais.
Em
suas próprias palavras:
‘Certo
domingo, no outono de 1821, decidi resolver, duma vez por todas, a questão da
salvação de minha alma e reconciliar-me com Deus. Andava ocupadíssimo, de modo que
sabia que jamais conseguiria realizar esse desejo se não me aplicasse a ele com
total firmeza de propósito. Estava disposto a pôr de lado, até onde fosse
possível, tudo quanto pudesse distrair-me a atenção, e a me dedicar exclusivamente
a esse objetivo.
‘Nos
dois dias seguintes, minhas convicções aumentaram, mas parecia que meu coração
se endurecia cada vez mais. Não conseguia orar. A oração não passava de um
sussurro e, às vezes, me parecia que, se estivesse sozinho onde ninguém pudesse
me ouvir, ergueria a voz e gritaria minhas preces. Tornei-me esquivo, evitando
falar com quem quer que fosse...
‘Na
terça-feira, já estava muito nervoso, e durante a noite me veio uma estranha
impressão, como se eu estivesse prestes a morrer. E eu sabia que, se morresse
sem me reconciliar com Deus, seria condenado ao inferno, mas procurei
acalmar-me o quanto pude até o amanhecer.
‘No
dia seguinte, saí cedo para o escritório e, pouco antes de chegar, fui
desafiado por perguntas que, parecia, vinham de dentro de mim, como se uma voz
interior me dissesse: ‘Que está esperando? Não prometeu seu coração a Deus?
Porque se esforça? Está
querendo alcançar a justiça por você
mesmo?’ (porque toda justiça e toda salvação vêm de Deus e não de nosso
esforço).
‘Nesse momento, abriu-se diante de mim
todo o plano de Deus para a salvação do homem, de uma forma que achei
muitíssimo maravilhosa naquele instante. Parece-me que vi, então, tão
claramente como nunca na minha vida, a realidade e plenitude da obra expiatória
de Cristo. Vi que era obra consumada;
que em lugar de ter ou precisar de algum esforço ou sacrifício meu para me reconciliar
com Deus, eu tinha de me submeter à justiça de Deus, por intermédio do filho. A
salvação apresentou-se-me como uma oferta
a ser aceita: era plena e completa, e nada mais era necessário senão o meu
próprio consentimento para abandonar meus pecados e aceitar Cristo. A salvação,
assim me parecia agora, ao invés de ser conquistada pelas minhas próprias
obras, devia ser encontrada somente em Cristo, que se apresentava diante de mim
como meu Salvador. (pois ‘somos salvos, não por nossas obras, mas pela graça de
Deus’).
‘Sem
perceber, eu tinha parado na rua no momento em que a voz me intimara. Quanto
tempo permaneci, ali, sem perceber, não sei precisar; mas depois que aquela
revelação nítida ficara já algum tempo em minha mente, pareceu que me foi
dirigida outra pergunta: ‘Você o aceitará hoje, agora?’ Respondi: ‘Sim, hei de
aceitá-lo hoje, ou hei de morrer na tentativa. ’
‘No
alto da colina, ao norte da povoação, havia um bosque, no qual eu costumava
caminhar diariamente e, em vez de ir para o escritório, caminhei para lá, pois
senti que precisava estar sozinho, distante de todo olho e ouvido humano, para
que pudesse abrir meu coração para Deus...
‘Quando,
porém, tentei orar, verifiquei que meu coração não queria orar. Parecera-me
que, se ao menos pudesse estar em algum lugar onde, falando em voz alta, não
fosse ouvido por ninguém, eu poderia orar livremente; mas, quando tentei,
estava mudo, nada tinha a dizer a Deus; quando muito pude proferir umas poucas
palavras, e mesmo assim, de forma mecânica. Quando tentava orar, parecia-me
ouvir ruído de folhas; então, parava e olhava para ver se alguém se aproximava.
Isso aconteceu várias vezes.
‘Por
fim me vi chegando às raias do desespero. Disse a mim mesmo: ‘Não consigo orar.
Meu coração está morto para Deus e não quer orar. ’ Reprovei então a mim mesmo,
por ter prometido entregar meu coração a Deus ou morrer. Quando tentava orar,
não conseguia. Não havia movimento do meu coração em direção a Deus. Comecei a
sentir profundamente que era tarde, que eu devia ter sido abandonado por Deus,
que não havia mais esperança para mim.
‘Angustiava-me
ao pensar na imprudência de minha promessa, de entregar meu coração a Deus
naquele dia, ou morrer na tentativa. Embora parecesse que aquele meu voto me
comprometia, eu não iria poder cumpri-lo. Veio sobre mim tão grande e profundo
desânimo e abatimento, que me senti fraco demais para me agüentar sobre meus
joelhos.
‘Nesse
preciso momento, novamente me pareceu ouvir a aproximação de alguém, e abri os
olhos para verificar. Então, me foi claramente revelado que o orgulho de meu
coração era o grande obstáculo que me entravava o caminho e não me deixava nem
mesmo orar (pois lhe tirava a atenção).
Apoderou-se de tal modo de mim um sentimento esmagador de minha vileza,
por me sentir envergonhado pelo fato de que outro ser humano pudesse me ver
ajoelhado perante meu Deus, que, a plenos pulmões, gritei que não sairia
daquele lugar ainda que me cercassem todos os diabos do inferno. ‘O quê’, eu
disse, ‘um miserável pecador como eu, confessando de joelhos meus pecados ao
grandioso e santo Deus, com vergonha de que um ser humano, pecador como eu
mesmo, me veja de joelhos buscando reconciliar-me com quem tanto ofendi?!’ Esse
pecado pareceu-me terrível, infinito, e me arrasou ainda mais.
‘Nesse
instante, raiou em minha mente, como se fosse um dilúvio de luz, esta passagem
da Escritura: ‘Então ireis a mim e a mim dirigireis vossa oração, e eu vos
ouvirei. Então me buscareis e me achareis, quando me buscardes de todo o
coração’ (isto é, sem receios, numa entrega total). Imediatamente me prendi a
essas palavras. Naquele momento, eu estava tão consciente de haver confiado
totalmente na verdade de Deus, quanto o estava de minha própria existência. De
certa forma, eu sabia que aquela era uma passagem da Escritura, embora eu não
tivesse consciência de a ter lido antes. Sabia que era a Palavra de Deus e, por
assim dizer, a voz de Deus que me falava. Clamei: ‘Senhor, apego-me ao que
dizes; sabes que na verdade eu te busco de todo meu coração, e que aqui vim
para clamar a ti, e prometeste me ouvir’.
‘Isso
parecia encerrar a questão de que eu poderia, naquele dia, cumprir meu voto. O
Espírito pareceu dar ênfase a esta idéia no texto: ‘quando me buscardes de todo
o coração’. Falei ao Senhor que me apegava à sua palavra; que, por isso, eu
tinha certeza de que ele me ouvia a oração e havia de ser encontrado por mim...
‘Caminhei
calmamente em direção ao povoado. Tão perfeita era minha calma que me parecia que
toda a natureza a sentia. Eu fora para o bosque logo após o café, que tomara
muito cedo; quando voltei à vila, vi que já era hora do almoço. Eu, porém,
estivera de todo inconsciente da passagem do tempo que me pareceu que ficara
pouco tempo lá no bosque.
‘Fui
almoçar, mas não tinha apetite. Fui, então, para o escritório. Tentei tocar meu
violoncelo, como costumava fazer, mas assim que tocava e cantava aquelas
músicas sacras, de palavras inspiradas, começava a chorar. Parecia que meu
coração estava se derretendo; era tal meu estado emocional que não podia ouvir
nem minha própria voz cantar sem que minha sensibilidade extravasasse em
lágrimas. Admirei-me disso e procurei reprimi-las, mas não consegui e guardei o
instrumento...
‘Depois
do almoço, estive muito ocupado transferindo livros e móveis para outra sala.
Minha mente, porém, permanecia naquele estado de profunda tranqüilidade. Havia
grande suavidade e amor em meus pensamentos e sentimentos. Tudo parecia correr
bem; nada me perturbava ou incomodava.
‘Pouco
antes de terminar, um pensamento tomou conta de mim: assim que estivesse a sós
procuraria orar novamente; não me descuidaria mais da vida espiritual, de modo
algum.
‘Até a
noitinha estava tudo arrumado. Acendi um bom fogo na lareira, esperando passar
sozinho as horas noturnas. Ao anoitecer, o Dr. W., vendo tudo pronto, deu-me
boa-noite e foi para casa. Acompanhei-o até a porta e ao fechá-la e voltar-me,
meu coração parecia estar, novamente, derretendo dentro de mim. Todos meus
sentimentos pareciam transbordar, e a expressão de meu coração foi: ‘Quero
derramar minha alma diante do Senhor’. Nesse instante, foi tal o arrebatamento
que senti, que corri para o quarto, atrás do escritório, para orar.
‘No
quarto não havia luz nem fogo; contudo, pareceu-me que ele estava totalmente
iluminado. Ao entrar e fechar a porta atrás de mim, pareceu-me encontrar o
Senhor Jesus, face a face. Não me ocorreu, naquele momento, que aquilo tudo se
passava na minha mente. Na verdade, pareceu-me vê-lo como veria qualquer homem.
Ele nada disse, mas olhou-me de tal modo que me derrubou a seus pés. Eu sempre
havia considerado uma situação dessas como sendo um notável estado mental, mas
pareceu-me que ele estava realmente em pé, ali, diante de mim. Caí a seus pés e
abri-lhe minha alma. Chorei alto, como criança, e confessei-me como me permitiu
minha voz engasgada de emoção. Pareceu-me que lhe banhei os pés com minhas
lágrimas...
‘Assim
que consegui me acalmar, voltei ao escritório e descobri que estava quase
totalmente consumida a lenha grossa com que preparara o fogo na lareira. Ao
voltar-me, porém, para me sentar à beira do fogo, recebi um poderoso batismo do
Espírito Santo. Sem qualquer expectativa nesse sentido, sem jamais ter pensado
que tal coisa pudesse me acontecer, sem qualquer lembrança de ter ouvido algo
semelhante mencionado por alguém, o Espírito Santo desceu sobre mim de maneira
que pareceu atravessar meu corpo e minha alma. Pude ter a impressão de ondas de
eletricidade atravessando-me vez após vez. De fato, parecia vir em ondas e mais
ondas de amor líquido; não sei de que outra maneira expressar o que senti.
Parecia o próprio sopro de Deus. Recordo, claramente, que parecia soprar sobre
mim como se fossem asas imensas abanando-me.
‘Não
há palavras que exprimam o maravilhoso amor que se espalhou em meu coração.
Chorei alto, de alegria e felicidade; e, não tenho certeza, mas eu diria que
saiam aos borbotões as emoções inexprimíveis de meu coração. Essas ondas vieram
sobre mim, e vieram, e vieram, uma após outra, sem cessar, até que, lembro-me
de ter gritado: ‘Morrerei, se estas ondas continuarem a cair sobre mim.’ E
disse ainda: ‘Senhor, não agüento mais!’, embora não sentisse mais qualquer
medo da morte.
‘Não
sei quanto tempo continuei nesse estado, com esse batismo me envolvendo e me
atravessando. Sei que já era bem tarde quando um amigo veio me ver. Encontrou-me
em prantos e perguntou: ‘Finney, o que aconteceu? Não está se sentindo bem?’
Durante algum tempo não pude responder. Ele perguntou: ‘E está sentindo alguma
dor?’ Dominando-me da melhor forma que pude, respondi: ‘Não, mas estou tão
feliz que nem posso mais viver... ’
‘Dormi
logo, mas logo em seguida acordei de novo por que estava tão repleto de amor,
que não conseguia dormir. Logo, dormi de novo, e acordei do mesmo modo. Assim
continuei até altas horas.
‘Quando
acordei o sol já derramava sua claridade no quarto. Palavras não podem exprimir
a impressão que essa luz do sol me fez sentir. Imediatamente, o batismo, que eu
recebera na noite anterior, voltou sobre mim, e do mesmo modo. Fiquei de
joelhos sobre a cama e chorei alto de alegria; permaneci algum tempo de tal
maneira arrebatado pelo batismo do Espírito, que nada podia fazer senão abrir
minha alma para Deus. Pareceu-me que esse batismo matinal era acompanhado de
suave censura; o Espírito parecia perguntar-me: ‘Duvidas?’ Gritei: ‘Não, não
duvidarei jamais; não posso duvidar’. Ele então esclareceu aquele assunto em
minha mente, de tal modo que era impossível duvidar que o Espírito de Deus
controlava todo o meu ser.
‘Enquanto
eu estava assim, pude entender a doutrina da justificação pela fé como
experiência real. Esse assunto nunca impressionara minha mente a ponto de eu
considerá-lo, distintamente, como doutrina fundamental do Evangelho. Na
verdade, eu nem mesmo compreendia o que significava a passagem: ‘Sendo
justificados pela fé, temos paz com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo. ’ Pude
ver, então, que no momento em que cri, lá no bosque, que todo sentimento de
condenação desaparecera completamente de meu pensamento, e que, a partir
daquele instante, eu não mais conseguia, nem me esforçando, sentir qualquer
sentimento de culpa ou de condenação por meus atos quaisquer que fossem eles. O
sentimento de culpa se apagara, cessara, morrera; foram-se os meus pecados, e
eu não tinha mais nenhum sentimento de culpa; era como se eu nunca tivesse
cometido qualquer pecado.
‘Senti
que me achava num estado no qual eu não mais poderia pecar. Ao invés de sentir
que eu pecava sem cessar, meu coração estava tão cheio de amor e paz que
transbordava. Meu cálice transbordava de bênçãos e de amor, e eu sentia que não
mais estava pecando contra Deus. Além disso, nunca mais tive o menor sentimento
de culpa pelos pecados que já cometera. ’
................................................
(Para outras experiências da mesma espécie, ver
‘Consciência Cósmica’, de Richard M. Bucke).
Olá, gostaria de fazer uma pergunta você, pois preciso de ajuda, com urgência.
ResponderExcluirMeu problema é o seguinte: desde criança sempre fui um menino diferente dos demais, com muito medo de tudo, de uns 3,4 anos para cá não consegui mais viver normalmente, tenho acompanhamento psiquiatrico para me ajudar a sobreviver. Depois que conheci o espiritismo sinto um alivio em meu coração, mas ainda é pouco diante de tanto tormento que me encontro.
Tenho depressão, síndrome do pânico... E o que me traz total desespero é o medo da morte. Larguei meu trabalho, minha faculdade, vivo trancado em meu quarto... Já não aguento mais tanto desespero, saio pelas ruas, nas madrugadas, correndo desesperado e "prejudicando" minha familia, que também já não vive mais em paz, por causa do meu problema. Para falar a verdade eu não acredito muito na vida após a morte, embora, de uma certa forma eu deseje que exista uma plano espiritual. No entanto, quando paro para pensar em uma outra vida sinto um medo desesperador. Amigo, sinto pânico da "eternidade", essa palavra me deixa tão transtornado que só para escrever esse texto eu já parei mais de 3 vezes. Como posso encarar isso? Já não vejo mais saída, acho a vida uma grande tragédia. Se eu não tivesse tanto pânico da morte, tenho certeza que já teria me matado. Penso muito nisso.
Vivo desesperado. Me ajude, por favor. Não vejo saída!
B. F. (Natal/RN)