segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

SOBRE A MEDITAÇÃO

    
   
      Sobre a MEDITAÇÃO.

      Sua finalidade é levar à extinção do ego (eu inferior, mente inferior, mente condicionada). Com isso se consegue conquistar o domínio sobre os pensamentos, os desejos, a vontade e, conseqüentemente, sobre as escolhas. Extinto o ego, cessa o único obstáculo entre nós e Deus.  
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      Um amigo escreveu:

      “Há algum tempo, venho tentando praticar a meditação. Apesar da correria do dia-a-dia e do pouco tempo de que disponho, pude perceber algumas coisas.

      "Não sei se estou de todo correto porém, com esses exercícios, senti que a nossa mente tem vida própria e o tempo todo tentei “expulsá-la” de mim. Insistente, ela vai e volta, trazendo lembranças, pensamentos muitas vezes sem sentido, desnecessários e mesmo indesejáveis...

      "Pude constatar que não somos a nossa mente e conseqüentemente não somos o que pensamos ser...

      "Como posso ir mais além? Como posso me conectar com o sagrado? Me vejo, muitas vezes, sem caminho a seguir.

      "Um abraço"
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      Resp: É assim mesmo pois, desde q abrimos os olhos para a vida, somos condicionados, pelas tradições, culturas, costumes, religiões, sociedade, suposições... a crer q somos nós mesmos q pensamos, que decidimos, que escolhemos, que fazemos de nós o que somos, que somos os construtores de nosso futuro, de nossa felicidade ou infelicidade. 

      No entanto, como vc percebeu, nenhum comando, ou controle, temos sobre os pensamentos. Eles se originam de percepções de eventos que ocorrem fora de nós (fora ou além de nós espíritos; não fora de nós corpo material), que captamos com nossos canais de relacionamento com o mundo. 

      Eles apenas vêm, permanecem pouco ou muito tempo, e se vão, nos fazendo bem ou mal, e também nos levando a fazer o bem ou o mal, independentemente de nossa vontade, pois tantas vezes contra ela. Como disse Paulo, o porta-voz do cristianismo: “É o Senhor que opera em nós o pensar, o querer e o fazer!”, e mais: “... como se tivésseis algum pensamento como de vós mesmos, pois todos os pensamentos vêm de Deus!” 

      (A palavra 'Deus', aí, significa esse Todo infinito, esse fluir incessante que é a vida, essa força, ou energia, que cria e movimenta desde os mais insignificantes "quantas" de energia e partículas, aos mais imensuráveis universos e que, como uma correnteza irresistível, nos leva daqui para lá, e de lá para mais além, nos colocando em jardins floridos e perfumados, ou em fétidos lodaçais).     

      Por isso, como agimos sempre de acordo com os pensamentos, pois acreditamos que são verdadeiramente nossos, fazemos tantas coisas absurdas, e sofremos e fazemos outros sofrerem, muitas vezes qdo queremos fazer exatamente o contrário. E, tb exatamente, devido ao fato de estarem fora de nosso controle ou comando, é que somos levados daqui para lá e de lá para mais além, e q somos o q somos neste instante.

      Se tivéssemos comando sobre eles, eventualmente, chegaríamos a eliminar o ego e estaríamos naquela condição a que damos o nome de "iluminação"; saberíamos quem e o que somos; a ignorância e seus consequentes medos, sofrimentos etc cessariam. Como disse o Buda: "essa percepção de o que somos realmente, a iluminação, é o fim de todos os sofrimentos", como disse Jesus: "conhecereis a verdade e a verdade vos libertará"; como disseram outros, "é a bem aventurança, a felicidade sem mácula".

      E como os pensamentos não são verdadeiramente nossos, também não são nossos os desejos, as vontades que eles despertam e, conseqüentemente, nem as escolhas (livre-arbítrio) de fazer isto ou aquilo. Logo, nem mesmo somos responsáveis por nossas obras (pelo fazer), como disse o sábio e místico Paulo: "é o Sr que opera em nós o querer e o fazer!". 

      Assim, talvez para q não pensemos ou estranhemos q sofremos por obras que “fazemos”, mas q verdadeiramente não fazemos, Paulo, também afirmou: “Não é por vossas obras que sereis salvos, mas pela graça de Deus!”. Jesus, também, falou coisas nesse mesmo sentido, mostrando que as escolhas não são nossas, que a escolha não é nossa nem mesmo para seguir seus ensinamentos: "Ninguém vem a mim, se o Pai que me enviou não o mandar a mim!"

      A prática da meditação tem somente esse objetivo: assumir o comando sobre os pensamentos, sobre a mente, o que implica em eliminar o ego. Se conseguirmos isso, o ego, único obstáculo entre nós e Deus, se vai, e podemos perceber e dizer, como Jesus e tantos outros: "Eu e o Pai somos um!".

      Por isso, disse o maior (?) profeta do Antigo Testamento: "Aquieta-te e sabe: eu sou Deus!", isto é, se vc conseguir controlar sua mente, fazendo-a cessar de operar, aquietar-se, vc perceberá q não é mais você que está aí onde vc está, mas Deus. Como os mestres afirmam: “Ou o eu; ou Deus!”. 

      Esse é o único trabalho q precisamos fazer: dominar a mente, aquietar a mente, resultado que somente se alcança com a meditação. (Obs: meditar não é uma palavra apropriada pois meditar, no sentido em que os espiritualistas usam essa palavra, é estar "absolutamente atento"). E isso é realmente trabalhoso e difícil devido a estarmos num corpo material, devido a nossos condicionamentos e a nossa cultura ocidental, que impõem enormes dificuldades para esse trabalho.

      Assim, no Bagavad Gita, a “Sublime Canção da Imortalidade”, do Mahabarata, épico clássico do hinduísmo, 
considerado um verdadeiro manual de psicologia-evolutiva do ser humano, escrito há mais de cinco mil anos (3 mil anos antes de Cristo), está:

      “Arjuna, o ‘representante’ dos homens, desolado se lamenta: “Como dominar a mente? Ela é como um cavalo selvagem, indomável!”, ao q Krishna, o ‘representante’ de Deus, afirma: “Sim, é difícil, mas não é impossível!””.

      Os pensamentos são a mente; a mente são os pensamentos. No mesmo sentido do que disse o profeta do Antigo Testamento, como citado mais acima, H.P. Blavatysk, uma das figuras mais notáveis do século XIX, fundadora da Teosofia (literalmente, “Sabedoria Divina”), e que
 surgiu em um momento histórico em que a religião estava sendo rapidamente desacreditada pelo avanço da Ciência e da Tecnologia, disse: 

      “A mente é a assassina de Deus; mate a assassina!”

      E, Masaharu Taniguchi, fundador da Seicho-no-ie (“A casa, ou o lugar, ou o caminho do progredir infinito”), disse: 

      “Quando o ego se afasta, Deus se manifesta!”.

      Nas práticas da Raja-Yoga (yoga real, a yoga da meditação, da ligação com Deus) usa-se a repetição do mantra “Om... na... mo” q, para uns, tem o significado de “Om (Deus)... na (não)... mo (eu)”; do mesmo modo, para uns, “Seicho-no-ie” tem o mesmo significado: “Deus-não eu”.

      Isso mostra q a percepção a q devemos chegar é q “não sou eu q estou aqui; é Deus”. Para mestres e sábios, e para a ciência moderna, e para muitos outros, todos somos Deus, todos somos um só. (“Eu e o Pai somos um!”), “OS” espíritos são “O” Espírito.

      Como afirmam cientistas quânticos, “a mente é a única coisa q não tem plural” e, ainda, “só existe uma mente, e nós somos essa mente!”

       Muitos outros afirmaram a mesma coisa e, por isso, tantos foram, devido à ignorância de poderosos, como mostra a história antiga e a da Idade Média, penalizados com a morte pela crucificação, pelo fogo, esfolados ou sepultados vivos; outros, obrigados a se calarem para sempre, outros... 

      Assim, aconteceu com Jesus, e outros, naqueles tempos mais longínquos. Mais perto de nós, Giordano Brunno, monge (queimado vivo), Meister Eckart, monge (que só não foi executado pelo fogo, porq morreu durante o processo), Teilhard de Chardin, sacerdote (obrigado ao silêncio até o dia de sua morte) e, bem mais recente, Leonardo Boff, monge, que teve de se afastar, ou foi excomungado (?) da Igreja de Roma.

      Tereza de Ávila, hoje santa e doutora teologal da igreja de Roma, que por pouco não foi também levada ao tribunal da igreja, por dizer coisas como esta: "Atenção! Atenção! Atenção!", e “... é insensatez tentar ir aos céus para encontrar Deus, pois Ele está desde sempre dentro de cada um de nós”; e João da Cruz, hoje santo dos católicos, que passou grande parte de sua vida de sacerdote da Igreja, preso nos cárceres dos conventos, por dizer coisas semelhantes. 


      MEDITAÇÃO – PORQ TENTAR?

      Amigos,
      A "tentativa" de meditar nada mais é, do que uma tentativa de permanecer exatamente no “aqui – agora”. Observem que o ego não “funciona”, não opera, não existe, no presente/presente, no exato instante (no agora); e que nós só podemos operar com nossos sentidos, ou com memórias do passado e expectativas qto ao futuro, exatamente no presente/presente (no agora).

      O pensamento (ação do ego) nunca está focado no presente mas, ou no futuro imediato ou distante, ou no passado imediato ou distante (por isso, podemos dizer que o ego é resultado da desatenção, da desatenção). E é essa desatenção que nos leva a todas as alegrias e acertos e/ou a todas as tristezas e desacertos, portanto aos sofrimentos que vemos no mundo. 

      Tanto que, no primitivo cristianismo, a maior virtude era a “atenção” e o maior pecado, a “desatenção” (os chamados "pecados mortais" se baseiam nisso). Nós, ninguém, vê, ouve, cheira, saboreia, toca, sente ou pensa ou se recorda do passado, ou planeja ou imagina o amanhã, senão no presente (no agora), nunca no passado ou no futuro; nossos sentidos só agem no agora e no aqui. 

      Assim, quando há “total atenção” na ação de cada sentido, ou pensamento ou o que quer que seja, o ego não está presente, cessa de operar, pois suas operações só existem qdo estamos “desatentos” pensando, imaginando, devaneando (espírito perfeito + ego = espirito obscurecido = homem; homem, ou espirito obscurecido – ego = espírito perfeito). E a total e absoluta atenção "mata" o ego, pois impede o nascimento de pensamentos, já que pensamentos etc, como está acima, só surgem qdo estamos desatentos. 

      Krishnamurti (em mais de 80 livros),  Yogananda (Sociedade da Auto-Realização), Nisagardatta ("I am that", "Eu sou Aquilo"), Benoit ("A Doutrina Suprema") e muitos outros, mais antigos ou mais modernos (como Ken Wilber - em "O Espectro da Consciencia", Amit Goswami - em "O Universo Autoconsciente, como a consciência cria o mundo material", enfatizam sobremaneira a "atenção": quando a atenção ao presente é total não nascem pensamentos; dizem que façamos, assim (me parece que está num texto do “máscaras de Deus”): atenção total às diferentes partes do corpo, sentir cada centímetro, sentir os pontos onde há tensão, pontadas, leves dores, mais sensíveis, a testa, o couro cabeludo, boca, a nuca, indo descendo, assim, até a sola dos pés; se essa atenção é desviada por um ruído, luz, o que for, retomar a atenção às partes do corpo; fique atento a tudo, inclusive, ao ruído do carro ou do avião que passa, a tudo, às paredes da sala, aos móveis, às cores das roupas dos demais, mas, sempre voltando às partes do corpo; tudo com atenção total. (Muita literatura diz: atenção absoluta à ponta do nariz, atenção ao umbigo, ao centro da testa etc. Na AMORC, à luz de uma vela; na yoga e outras, a um som, ou mantra). 

      Diz Nisagardatta que, se se consegue, nas primeiras práticas, permanecer totalmente atento por 1 minuto que seja, já é uma vitória. Todos esses exercícios, como os de Ramana, de atenção ao “eu sou”, têm o mesmo objetivo: tirar o comando da mente/ego, dos pensamentos de sobre nós, e o assumirmos. Repito o que já foi dito anteriormente: no Bhagawad Gita, a Sublime Canção da Imortalidade, Arjuna, simbolizando o homem, diz, consternado, para Krishna, q simboliza Deus: “Senhor, como dominar a mente? Ela é como um cavalo selvagem!”, e Krishna lhe responde: “Sim, é difícil, mas não é impossível!”. 

      À medida que se fazem mais e mais tentativas, deve acontecer que o tempo de atenção melhore e, quando se consegue atenção total e completa por tempo mais longo (?) sente-se que, naqueles intervalos, o ego se foi. Então, cessadas as operações do ego, aquietada a mente, entra-se em contato com o próprio eu, espírito puro e perfeito que sempre foi; percebemo-nos identificados e nos confundimos com o Espírito que sempre fomos (”Eu e o Pai somos um!”), mas que o ego não nos permitia perceber. Quanto mais exercícios, mais avançamos na tentativa de meditar.

      Abraços a todos.
   
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