Este mundo em que vivemos é um mundo de luta e labor, um mundo feroz, perigoso, destrutivo, devorador, no qual, a cada passo, queiramos ou não, algo é esmagado e destruído; no qual cada sopro de vida é também um sopro de morte.
Colocar a responsabilidade de tudo que nos parece mau ou terrível nos ombros de um demônio semi-impotente, ou deixá-la de lado, como sendo parte da natureza, criando uma oposição intransponível entre a natureza do mundo e a natureza de Deus, como se a natureza fosse independente de Deus, ou ainda lançar a responsabilidade sobre os homens e seus pecados, como se o homem tivesse voz ativa na criação deste mundo ou pudesse criar algo contra a vontade de Deus, tudo isso constitui estratagemas, artifícios cômodos... Erigimos, criamos, imaginamos um Deus de amor e misericórdia, justo, probo e virtuoso de acordo com as nossas concepções morais de justiça, virtude e retidão e, a todo o resto dizemos ‘Não é Ele’ ou ‘Não é dele’, isto é, ‘não foi Deus quem fez isso’ etc., mas que foi criado por um ser diabólico a quem, por um motivo qualquer, Ele permite cumprir sua vontade perversa e funesta; ou então foi culpa do homem egoísta e pecador, que estragou, pelo mau uso de seu livre-arbítrio, aquilo que foi criado originalmente perfeito.
Temos de encarar corajosamente a realidade e perceber que foi Deus, e ninguém mais, que criou este mundo em seu próprio ser (Paulo: ‘Em Deus vivemos e respiramos; Ele está acima e abaixo, à frente e atrás, à direita e à esquerda, fora e dentro de nós) e o fez como ele é. Temos que ver que a Natureza devorando seus filhos, o Tempo consumindo as vidas das criaturas, a Morte universal e inelutável e as violências no homem e na natureza são também o supremo Ser Divino em uma de suas representações cósmicas.
Temos também de perceber que o Deus generoso, amoroso, o conservador prestimoso, forte e benévolo é também o Deus devorador e destruidor. O sofrimento, a dor e o mal com que somos torturados é também seu toque tanto quanto a felicidade, a suavidade e o prazer. Só quando vemos com a visão de completa união e sentimos essa verdade no âmago de nosso ser é que podemos descobrir totalmente, por trás dessa máscara, o rosto sereno e formoso da Divindade bem-aventurada.
As discórdias do mundo são as discórdias de Deus, são a vontade de Deus, e só aceitando-as e superando-as podemos ascender à concórdia maior de sua suprema harmonia, à vastidão, à imensidade transcendente. Porque a Verdade é o alicerce da verdadeira espiritualidade e coragem da alma’ (Aurobindo).
sexta-feira, 13 de agosto de 2010
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