segunda-feira, 26 de agosto de 2013

TRANSFORMAÇÃO MORAL

      É tão estranho...

      Amigos deste tópico

      Me perdoem aqueles a quem o que estou escrevendo possa aborrecer, mas acho tão estranho o fato de muitos se emocionarem e até tecerem elogios a certas mensagens, ou a seus autores, encarnados ou desencarnados, como tantas que vemos publicadas por aí, em textos, poesias, historietas, sermões, parábolas...

      Que me corrijam se eu estiver errado mas, se estivermos atentos, com certeza vamos ver que esses, como milhares de outros textos, estão sempre repetindo as mesmas coisas, as mesmas constatações, as mesmas recomendações, às vezes com novos enfoques, mas sempre a mesma coisa, e não passa disso.

      De que adianta dizer que a Terra vai ser promovida? De que o que o homem precisa fazer é amar mais os semelhantes, perdoar-lhes as ofensas? De que adianta dizer-lhe que está agindo erradamente e que precisa corrigir-se, que precisa crer em Deus etc etc etc?

      Pois é isso que todas essas mensagens lindas, emocionantes, fazem; aconselham, aconselham, aconselham. É esse o conteúdo de todas elas.

      É verdade  que isso pode ser novidade e vantajoso para os novos, para os que estão iniciando os estudos das doutrinas; mas só isso; nada mais.

      E, como vemos tantas vezes, muitos se congratulam com quem postou mensagens bonitas ou emocionantes (mesmo que estejam sempre lendo mensagens semelhantes, sempre lendo as mesmas coisas!).

      Mas o fato é que permanecem na mesma condição em que estavam em relação ao progresso moral/espiritual, porq achar linda ou ter emoção por algo que foi escrito, ou que foi dito por quem quer que seja, não faz ninguém evoluir.

      Meus amigos, sinceramente, não consigo entender essa tão grande aceitação e, me parece, essa grande satisfação, por lerem essas mensagens, quase todas elas de mesmo conteúdo, que nos aconselham a que melhoremos, a que façamos uma reforma ínterior (RI)!

      De que adianta aconselhar: seja bom, caridoso, ame seu próximo, seja mais paciente, mais humilde, menos egoísta, menos orgulhoso, menos violento etc etc etc? Quem é que já testemunhou, em todos os seus anos de vida, alguém melhorar intimamente porq lhe aconselharam a ser melhor? Nem Jesus conseguiu melhorar os demais por seus conselhos!

       O que acontece, e acredito que muitos amigos já perceberam isso, é que de nada adianta dizer : "faça assim, não faça assim, seja assim, não seja assim"... se não se diz o extremamente mais importante e sem o que de nada vale ensinar , se não se diz ou se não se ensina o como fazer para não ser mau, para não ser egoísta, orgulhoso, desonesto, para não ter desejos ou sentimentos ou pensamentos baixos, ou de ódio, vingança, cobiça, ambição.

      E, antes que alguém pergunte, esse  não é um mistério tão grande, pois está à vista de todos os que, determinados, obstinados, queiram encontrá-lo e saber o como fazer. 


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terça-feira, 25 de junho de 2013

(45)  O CHAMADO INTERIOR
(jcl, rib preto, mar 2006)

Senhor,
Inspira-me, todos os instantes, a procurar-Te,
      Na melodia,
             Na flor,
                     No ramo oscilando ao vento,
No pássaro que canta alegremente,
Na cor da nuvem tocada pelo sol poente,
No murmúrio das águas buliçosas,
No sorriso da criança inocente,
No olhar da mãe para o filhinho que dorme,
Na ternura dos enamorados,
Na pele enrugada da mulher sofrida,
No suor da testa do doente, que teima em sorver o ar precioso,
No olhar triste do pobre, cobiçando, pregado à vitrine,
                         O brinquedo impossível para o filho...

Senhor,
Parece que mais Te recordo naquelas coisas
       Tristes,
             Melancólicas,
                     Singelas.
Talvez porque nos toquem mais agudamente o coração,
E nos comovam
E levem a meditar na solução
Que não é nossa,
Mas que virá quando o homem se despir
De seu manto de ambição,
         Desamor,
                 Malícia,
                         Egoísmo,
                                 Ignorância,
E perceber que somos todos irmãos,
Semelhantes ou iguais,
Viajores do mesmo barco,
Atrás, sem o saber, das mesmas experiências,
Buscando, inconscientemente,
             O mesmo objetivo,
                           Que és Tu.

E, como a mim, inspiras a todos,
Mas não Te ouvimos o chamado.
Nossa mente está sempre cheia de outros apelos,
E não há, quase nunca, lugar para o Teu.
São apelos tentadores,
        Com vestes coloridas,
                Odores embriagantes,
                        Sons sedutores,
                                Roçares suaves e doces,
Mas que, após o atendimento,
Despem suas máscaras
Mostrando-nos a queda,
       A cilada,
             A decadência,
                     A escuridão.

Ó, Divino Inspirador,
Continua Teu trabalho
De nos chamar sutilmente,
       De longe e de perto,
               De fora e de dentro.
Aos poucos, nos voltaremos a Ti
Quando houver cansaço dos convites
         Das sereias do poder,
                  Da beleza,
                           Da embriaguez dos sentidos.
Das ilusões que cercam nossos dias,
         Com molduras tentadoras
                   E tentadoras circunstâncias.
Inspira-nos, Senhor, pois permanecemos nas trevas,
Ferindo pés e mãos nas quedas do caminho
E não percebemos que Tu
És a própria força que nos leva a procurar-Te,
E, de olhos mentais
        Fechados,
              Preconceituosos,
                     Iludidos,
Não percebemos que Te buscamos
Onde não podemos Te encontrar
Pois que Tu estás tão perto,
           Junto de nós,
                  Bem aqui,

                          No coração.
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meu email: luconfortijr@hotmail.com
(44)   ALÉM DOS SENTIDOS      (06/88 - jcl)

      Um novo sentido, além dos conhecidos.

      Na crosta planetária, de início, os seres humanos não agiam de modo diferente ao dos animais chamados (mas não são) irracionais, sem respeitos, sem qualquer lei que os limitasse na sua audácia para todas as condutas, as mais ignóbeis, se observadas na atualidade, mas perfeitamente naturais, então.
      Destituídos de sentimentos os mais simples, no que se refere ao respeito à liberdade, à livre determinação dos demais, era-lhes perfeitamente comum e normal matar, explorar, roubar o semelhante, nada os detendo nessas práticas, hoje consideradas baixas e amorais.
      Tais horrores ficaram no remoto passado. Com o sofrimento e a dor, por ter sido vitima, também, de desmandos iguais, o homem aprendeu aos poucos a burilar a mente, desenvolvendo sentimentos menos egoístas, a respeitar o semelhante como ele mesmo sujeito às leis instituídas.
      No entanto, antes como agora, os pontos de contato de sua mente com o mundo exterior, isto é, os canais pelos quais o homem toma conhecimento e se relaciona com os fenômenos e coisas de fora de si mesmo - os sentidos objetivos - sempre constituíram a mais poderosa e importante ligação com a vida. Não fossem o paladar, o olfato, o tato e, particularmente, a visão e a audição, o ser humano estaria isolado dentro de si mesmo, sem defesas, sem recursos quaisquer, sem possibilidade de sobreviver. Daí o valor imenso desses canais profundamente utilizados na luta pela vida, desde o nascimento até a morte biológica. Todas as relações do homem, sob qualquer aspecto, se prendem ao uso desses sentidos objetivos. Toda vida de relacionamentos com o mundo exterior, coisas, pessoas, fenômenos, deles dependem, embora muito facilmente enganem o homem quando portadores de defeitos, os quais a ciência tentou superar através de inúmeros artifícios que não lograram resolver a totalidade dos problemas.
      Hoje, contudo, o homem que tenta acordar de sua letargia em relação a uma vida superior, que tenta avançar além da autoconsciência, em busca de uma consciência maior, deve-se voltar com todo o empenho no sentido de despertar e desenvolver um novo canal de comunicação, mas agora para o seu próprio interior. Enquanto os canais dos sentidos o relacionavam com o mundo exterior, o novo canal deve relacioná-lo com o muitíssimo mais rico e belo mundo interior, inexplorado, mas muitas vezes percebido em momentos de relaxamento, recolhimento e quietude. 
      O acesso a esse novo canal é feito através da meditação. Por ela, a percepção e a conseqüente sabedoria abençoarão a vida do ser humano, como já aconteceu no passado, quando poucas mentes, é certo, mas privilegiadas, dessas experiências receberam e nos deixaram ensinamentos que perduram até hoje: as chamadas revelações.
      Mas, agora, o homem, particularmente aquele que deseja abandonar a repetição continuada dos mesmos passos, condutas, erros, procedimentos e hábitos, não deve se valer mais dessas mesmas revelações. Deve usá-las, obviamente, para seus passos iniciais, mas, em seguida, deve procurar ele mesmo desenvolver em si, pois potencial não lhe falta para tanto, a possibilidade da revelação particular, individual, que lhe faça adquirir convicção por experiência direta, das mesmas verdades que antes não aceitou plenamente por terem sido trazidas por outros.
      Agora, ele deve procurar se desenvolver, através de treinamento intensivo na meditação e na análise dos eventos que ocorrem no mundo à sua volta e em seu íntimo, buscando usar esse novo mecanismo, essa nova ponte de ligação, para perceber aquilo que está além do eu, além dos sentidos, do pensamento e da imaginação, que pode ser encontrado, e que lhe trará a satisfação de todas as demais necessidades. Por isso, a recomendação de Jesus: ‘Buscai em primeiro lugar o Reino de Deus, e tudo o demais vos virá por acréscimo’.
      Vale o esforço, o tempo ‘perdido’, o empenho, a renúncia, o sofrimento advindo da solidão e da incompreensão em que certamente ficará, pois dificilmente será tido como homem normal, inteligente ou prático. Será taxado de fanático, insensato, tolo, fora da realidade, ultrapassado. Mas, apesar disso, não se esquecendo que a ‘sabedoria de Deus é loucura para os homens’, como disse Paulo, deve tentar ir além dos sentidos para encontrar aquilo que está longe da sensibilidade exterior, mas tão próximo de seu ser que se confunde com seu próprio eu.

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      (43)  ALÉM DO INTELECTO                    
                                       (jcl-rp/12/88)

       Conforme os místicos orientais e ocidentais afirmam, a divindade, o sagrado, está além de todo raciocínio e imaginação. Assim, devemos ir além do intelecto, além da mente, para a tentativa de percebê-lo; a mente é limitada, finita e só o que é ilimitado e infinito pode perceber aquilo q está além da mente.
       Como poderá o homem deixar para trás o intelecto, o raciocínio, os fenômenos subjetivos da mente consciente e ir mais além? A mente consciente é produto do ‘ego’, que é apenas o passado, o conhecido; finita, portanto. Como poderá o finito que é fruto das culturas, emoções, imaginações, crenças, costumes, perceber o infinito?
       Quando poderá, o homem, penetrar a mente subconsciente, ou o inconsciente, onde não haja interferências dos processos sensórios e subjetivos, da imaginação, memória, raciocínio, ilusões bem como das sensações comuns que permeiam nossa vida de todos os dias?
       Quanta pureza de mente, de sentimentos, de amor, de compreensão, de vida, poderá, então, deparar sem a interferência desses processos mentais tão deteriorados, conturbados e maculados na faina do viver!
       Senhor, ensina-me a ir além do intelecto. Ensina-me a ultrapassar os estados mentais comuns e penetrar no mundo da mente pura, onde não há raciocínios, nem lembranças, nem esperanças e a mente é livre, soberana, simples, só.
       Tu estarás aí, Senhor? Aí poderei encontrar-te?
       Penso que é nesse estado que se alcança Paz Profunda, que se comunga contigo.
       Somente valerá o esforço de penetrar nesse estado, julgado sublime, bem-aventurado, se Tu aí estiveres; se Tu fores esse estado ou condição tão elevada.
       Ensina-me, Senhor, como proceder para ir-me aproximando de tão pura condição. Como, Senhor, como?
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       Meditação, mente aberta, entrega confiante, compreensão da totalidade da vida, sem preconceitos, sem faccionismos, sem condicionamentos, sem ilusões, e sem crenças. E nada de expectativas, de esperanças no que poderá vir (se vier, tudo bem; se não vier, tudo bem também). Expectativas e esperanças são apenas operações do ego, que assim, estará sendo reforçado quando o que deve ser feito é o seu enfraquecimento, o cessar de suas operações. O ‘eu’, o ego/mente individual (localizada no homem) é o único obstáculo a nos impedir de perceber a verdade; é o único obstáculo entre nós e Deus.          
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      (42)       COMO PRATICAR A AÇÃO CORRETA
                    (Adaptação de texto de Vernon Howard).

      O homem não tem a mínima idéia do que quer fazer consigo mesmo; está sempre perdido nas incertezas e na confusão que a vida é.
      Ansioso para fazer algo, mas sem a menor idéia do que seja esse algo, daí as ações mecânicas que repete sempre. A ‘única’ ação benéfica (correta) difere totalmente da ação nociva (incorreta) dos desejos distorcidos ou ambições que só servem ao ego.   
      (Quando você já pratica a ação correta, porque já está começando a abrir os olhos, pois q está analisando, questionando, usando sua cabeça para buscar entender as coisas da vida e, não encontrando respostas definitivas para suas dúvidas, está se perguntando e as está buscando, você começa a não ter mais desejos distorcidos ou ambições, pois que o ego está sendo afastado; você está começando a abrir os olhos).
      Só obtemos a ‘intuição suprema’ (a experiência de Deus) ao percebermos que precisamos apenas permitir que as ações sejam feitas para nós (isto é, ao nos entregarmos, sem expectativas, ao que vier, pois q elas vem espontaneamente. A escolha de decisões a tomar não é nossa. Essa questão de permitir ou não, não existirá mais). Essa rápida intuição vem quando começamos a perceber que o ego, que é o único obstáculo à percepção do que e de quem realmente somos, deve ser afastado, e estamos dispostos a permitir que o ‘eu’ verdadeiro (a quem damos o nome de Deus) viva sua natureza ‘através’ de nós.
      Se você (isto é, o ego) fizer algo, acontecerão enganos. Se nada fizer (isto é, se o ego não mais está ali, e, portanto, não mais interfere), não haverá enganos. Isso não é renunciar a coisa alguma valiosa. É encontrar o valor autêntico, é SER o valor autêntico e, por isso não mais existe algo a que renunciar; você já É AQUILO.
      O medo do homem (antes de chegar lá) é que muitas coisas (ruins, incorretas, nocivas) lhe aconteçam (pois está deixando para trás o ego que é quem, aparentemente, raciocina, planeja, acerta e erra e você pensa que ele é quem decide); assim, você pensa que não pode deixá-lo, (senão o que você será? Uma marionete?). (Mas não é nada disso. Coisa alguma lhe acontece. (O que você com sua decisão, medo de errar e de se frustrar, faria acontecer, é a mesma coisa que então irá acontecer, porq nós somos apenas testemunhas do q acontece na vida; mas não há mais medos de errar e se frustrar, e nem responsabilidades ou culpas). Talvez seja (não deveria dizer ‘talvez seja’ e sim afirmar que ‘é’) a coisa autêntica para o Eu verdadeiro.
      Precisamos ficar cansados (desencantados) dos velhos medos e tédio para dar inicio à ação correta (ficamos desencantados, pois verificamos, então, que as coisas nas quais acreditávamos e depositávamos confiança, apego, das quais dependíamos, são incertas e impermanentes e, portanto, inseguras, não merecedoras de nossa confiança). A ação correta começa, portanto, com o abandono do ego que acreditávamos fosse nosso verdadeiro ‘eu’).   
      Não precisamos planejar ou calcular a ação correta (acontecerá por si mesma, por ser, agora, da própria natureza daquele que abandonou o ego).
      Isso abre caminho para a ‘ação sem pensamentos condicionados’. Esta é sempre autêntica (não há mais pensamento, planejamento, dúvidas ou receios de se está certa ou errada).
      Tudo acontecerá como deve acontecer se deixamos de ter idéias preconcebidas (isto é, se o ego condicionado não interfere com seus medos e dúvidas ou incertezas) do que deve acontecer.
      Tempo virá que você não mais temerá estacionar (medo de estar ‘pecando’, de não estar cumprindo as leis de Deus e, por isso, de não estar avançando na sua evolução). Verá que já ‘chegou’ lá e que sempre esteve lá (apenas não tínhamos o percebimento disso). Só praticará ação correta (que era o que aconteceria mesmo que relutássemos contra ela, por a julgarmos erradas; a diferença está em que agora você sabe que é correta e não lutará para corrigir o que antes não achava correto e tentava corrigir (e por isso sofria).
.      (Todas as soluções já estão dentro de nós, no “eu” q somos, livres do ego. “O Senhor habita em vossos corações”).

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 (41)          ‘EXPERIÊNCIA’ de Finney                   (Jan2008)
    (Extrato de ‘Despertamento, a ciência de um milagre’).
          
        Charles G Finney, professor e advogado, pregador evangélico, por muitos comparado a Paulo, nem na juventude, nem adulto, dera atenção a assuntos religiosos. Em Adams, cidadezinha onde foi advogar, conheceu e ouviu o pastor Gale, formado em Princeton. Os dois tornaram-se amicíssimos, mesmo não se compreendendo um ao outro; o pastor não conseguia responder a todas as perguntas sobre a religião que pregava, que Finney lhe fazia. A perplexidade do advogado tornava-se cada vez maior diante da aparente incoerência entre as orações dos crentes e a falta de respostas. Oravam e oravam, pediam e pediam, e nada acontecia.
       Finney comentou com alguns vizinhos:
       ‘Desde que assisto aos cultos, vocês têm orado o suficiente para expulsar desta vila até mesmo o diabo, se é que há poder em suas orações. No entanto, vocês ainda continuam orando e se lastimando, como se suas orações nunca houvessem sido ouvidas’. (orações formais não passam de exterioridades; não levam a Deus. O que pode levar a Deus são as orações de recolhimento e de quietude, ensinadas por Tereza de Ávila e místicos).
       Ele viria a aprender, depois, que muitas questões não se resolvem nem com orações, nem com sermões, mas somente por meio do conhecimento pessoal (direto, a experiência mística) daquele em quem está toda sabedoria: Deus.
      Mais tarde, Finney se converteu, e a narrativa desse acontecimento, em muitos sentidos, assemelha-se à de Saulo, na estrada de Damasco. Finney não possuía instrução religiosa, mas era sério, enérgico, inteligente, de mente aberta. Como Saulo, ele também teve sua ‘visão’, e saiu, dessa transformadora experiência, resolvido a abrir os olhos e ouvidos dos demais.
       Em suas próprias palavras:
       ‘Certo domingo, no outono de 1821, decidi resolver, duma vez por todas, a questão da salvação de minha alma e reconciliar-me com Deus. Andava ocupadíssimo, de modo que sabia que jamais conseguiria realizar esse desejo se não me aplicasse a ele com total firmeza de propósito. Estava disposto a pôr de lado, até onde fosse possível, tudo quanto pudesse distrair-me a atenção, e a me dedicar exclusivamente a esse objetivo.
       ‘Nos dois dias seguintes, minhas convicções aumentaram, mas parecia que meu coração se endurecia cada vez mais. Não conseguia orar. A oração não passava de um sussurro e, às vezes, me parecia que, se estivesse sozinho onde ninguém pudesse me ouvir, ergueria a voz e gritaria minhas preces. Tornei-me esquivo, evitando falar com quem quer que fosse...
      ‘Na terça-feira, já estava muito nervoso, e durante a noite me veio uma estranha impressão, como se eu estivesse prestes a morrer. E eu sabia que, se morresse sem me reconciliar com Deus, seria condenado ao inferno, mas procurei acalmar-me o quanto pude até o amanhecer.
       ‘No dia seguinte, saí cedo para o escritório e, pouco antes de chegar, fui desafiado por perguntas que, parecia, vinham de dentro de mim, como se uma voz interior me dissesse: ‘Que está esperando? Não prometeu seu coração a Deus? Porque se esforça? Está querendo alcançar a justiça por você mesmo?’ (porque toda justiça e toda salvação vêm de Deus e não de nosso esforço).
       ‘Nesse momento, abriu-se diante de mim todo o plano de Deus para a salvação do homem, de uma forma que achei muitíssimo maravilhosa naquele instante. Parece-me que vi, então, tão claramente como nunca na minha vida, a realidade e plenitude da obra expiatória de Cristo. Vi que era obra consumada; que em lugar de ter ou precisar de algum esforço ou sacrifício meu para me reconciliar com Deus, eu tinha de me submeter à justiça de Deus, por intermédio do filho. A salvação apresentou-se-me como uma oferta a ser aceita: era plena e completa, e nada mais era necessário senão o meu próprio consentimento para abandonar meus pecados e aceitar Cristo. A salvação, assim me parecia agora, ao invés de ser conquistada pelas minhas próprias obras, devia ser encontrada somente em Cristo, que se apresentava diante de mim como meu Salvador. (pois ‘somos salvos, não por nossas obras, mas pela graça de Deus’).
       ‘Sem perceber, eu tinha parado na rua no momento em que a voz me intimara. Quanto tempo permaneci, ali, sem perceber, não sei precisar; mas depois que aquela revelação nítida ficara já algum tempo em minha mente, pareceu que me foi dirigida outra pergunta: ‘Você o aceitará hoje, agora?’ Respondi: ‘Sim, hei de aceitá-lo hoje, ou hei de morrer na tentativa. ’
       ‘No alto da colina, ao norte da povoação, havia um bosque, no qual eu costumava caminhar diariamente e, em vez de ir para o escritório, caminhei para lá, pois senti que precisava estar sozinho, distante de todo olho e ouvido humano, para que pudesse abrir meu coração para Deus...
       ‘Quando, porém, tentei orar, verifiquei que meu coração não queria orar. Parecera-me que, se ao menos pudesse estar em algum lugar onde, falando em voz alta, não fosse ouvido por ninguém, eu poderia orar livremente; mas, quando tentei, estava mudo, nada tinha a dizer a Deus; quando muito pude proferir umas poucas palavras, e mesmo assim, de forma mecânica. Quando tentava orar, parecia-me ouvir ruído de folhas; então, parava e olhava para ver se alguém se aproximava. Isso aconteceu várias vezes.
       ‘Por fim me vi chegando às raias do desespero. Disse a mim mesmo: ‘Não consigo orar. Meu coração está morto para Deus e não quer orar. ’ Reprovei então a mim mesmo, por ter prometido entregar meu coração a Deus ou morrer. Quando tentava orar, não conseguia. Não havia movimento do meu coração em direção a Deus. Comecei a sentir profundamente que era tarde, que eu devia ter sido abandonado por Deus, que não havia mais esperança para mim.
       ‘Angustiava-me ao pensar na imprudência de minha promessa, de entregar meu coração a Deus naquele dia, ou morrer na tentativa. Embora parecesse que aquele meu voto me comprometia, eu não iria poder cumpri-lo. Veio sobre mim tão grande e profundo desânimo e abatimento, que me senti fraco demais para me agüentar sobre meus joelhos.
       ‘Nesse preciso momento, novamente me pareceu ouvir a aproximação de alguém, e abri os olhos para verificar. Então, me foi claramente revelado que o orgulho de meu coração era o grande obstáculo que me entravava o caminho e não me deixava nem mesmo orar (pois lhe tirava a atenção).  Apoderou-se de tal modo de mim um sentimento esmagador de minha vileza, por me sentir envergonhado pelo fato de que outro ser humano pudesse me ver ajoelhado perante meu Deus, que, a plenos pulmões, gritei que não sairia daquele lugar ainda que me cercassem todos os diabos do inferno. ‘O quê’, eu disse, ‘um miserável pecador como eu, confessando de joelhos meus pecados ao grandioso e santo Deus, com vergonha de que um ser humano, pecador como eu mesmo, me veja de joelhos buscando reconciliar-me com quem tanto ofendi?!’ Esse pecado pareceu-me terrível, infinito, e me arrasou ainda mais.
       ‘Nesse instante, raiou em minha mente, como se fosse um dilúvio de luz, esta passagem da Escritura: ‘Então ireis a mim e a mim dirigireis vossa oração, e eu vos ouvirei. Então me buscareis e me achareis, quando me buscardes de todo o coração’ (isto é, sem receios, numa entrega total). Imediatamente me prendi a essas palavras. Naquele momento, eu estava tão consciente de haver confiado totalmente na verdade de Deus, quanto o estava de minha própria existência. De certa forma, eu sabia que aquela era uma passagem da Escritura, embora eu não tivesse consciência de a ter lido antes. Sabia que era a Palavra de Deus e, por assim dizer, a voz de Deus que me falava. Clamei: ‘Senhor, apego-me ao que dizes; sabes que na verdade eu te busco de todo meu coração, e que aqui vim para clamar a ti, e prometeste me ouvir’.
       ‘Isso parecia encerrar a questão de que eu poderia, naquele dia, cumprir meu voto. O Espírito pareceu dar ênfase a esta idéia no texto: ‘quando me buscardes de todo o coração’. Falei ao Senhor que me apegava à sua palavra; que, por isso, eu tinha certeza de que ele me ouvia a oração e havia de ser encontrado por mim...
       ‘Caminhei calmamente em direção ao povoado. Tão perfeita era minha calma que me parecia que toda a natureza a sentia. Eu fora para o bosque logo após o café, que tomara muito cedo; quando voltei à vila, vi que já era hora do almoço. Eu, porém, estivera de todo inconsciente da passagem do tempo que me pareceu que ficara pouco tempo lá no bosque.
       ‘Fui almoçar, mas não tinha apetite. Fui, então, para o escritório. Tentei tocar meu violoncelo, como costumava fazer, mas assim que tocava e cantava aquelas músicas sacras, de palavras inspiradas, começava a chorar. Parecia que meu coração estava se derretendo; era tal meu estado emocional que não podia ouvir nem minha própria voz cantar sem que minha sensibilidade extravasasse em lágrimas. Admirei-me disso e procurei reprimi-las, mas não consegui e guardei o instrumento...
       ‘Depois do almoço, estive muito ocupado transferindo livros e móveis para outra sala. Minha mente, porém, permanecia naquele estado de profunda tranqüilidade. Havia grande suavidade e amor em meus pensamentos e sentimentos. Tudo parecia correr bem; nada me perturbava ou incomodava.
       ‘Pouco antes de terminar, um pensamento tomou conta de mim: assim que estivesse a sós procuraria orar novamente; não me descuidaria mais da vida espiritual, de modo algum.
       ‘Até a noitinha estava tudo arrumado. Acendi um bom fogo na lareira, esperando passar sozinho as horas noturnas. Ao anoitecer, o Dr. W., vendo tudo pronto, deu-me boa-noite e foi para casa. Acompanhei-o até a porta e ao fechá-la e voltar-me, meu coração parecia estar, novamente, derretendo dentro de mim. Todos meus sentimentos pareciam transbordar, e a expressão de meu coração foi: ‘Quero derramar minha alma diante do Senhor’. Nesse instante, foi tal o arrebatamento que senti, que corri para o quarto, atrás do escritório, para orar.
       ‘No quarto não havia luz nem fogo; contudo, pareceu-me que ele estava totalmente iluminado. Ao entrar e fechar a porta atrás de mim, pareceu-me encontrar o Senhor Jesus, face a face. Não me ocorreu, naquele momento, que aquilo tudo se passava na minha mente. Na verdade, pareceu-me vê-lo como veria qualquer homem. Ele nada disse, mas olhou-me de tal modo que me derrubou a seus pés. Eu sempre havia considerado uma situação dessas como sendo um notável estado mental, mas pareceu-me que ele estava realmente em pé, ali, diante de mim. Caí a seus pés e abri-lhe minha alma. Chorei alto, como criança, e confessei-me como me permitiu minha voz engasgada de emoção. Pareceu-me que lhe banhei os pés com minhas lágrimas...
       ‘Assim que consegui me acalmar, voltei ao escritório e descobri que estava quase totalmente consumida a lenha grossa com que preparara o fogo na lareira. Ao voltar-me, porém, para me sentar à beira do fogo, recebi um poderoso batismo do Espírito Santo. Sem qualquer expectativa nesse sentido, sem jamais ter pensado que tal coisa pudesse me acontecer, sem qualquer lembrança de ter ouvido algo semelhante mencionado por alguém, o Espírito Santo desceu sobre mim de maneira que pareceu atravessar meu corpo e minha alma. Pude ter a impressão de ondas de eletricidade atravessando-me vez após vez. De fato, parecia vir em ondas e mais ondas de amor líquido; não sei de que outra maneira expressar o que senti. Parecia o próprio sopro de Deus. Recordo, claramente, que parecia soprar sobre mim como se fossem asas imensas abanando-me.
       ‘Não há palavras que exprimam o maravilhoso amor que se espalhou em meu coração. Chorei alto, de alegria e felicidade; e, não tenho certeza, mas eu diria que saiam aos borbotões as emoções inexprimíveis de meu coração. Essas ondas vieram sobre mim, e vieram, e vieram, uma após outra, sem cessar, até que, lembro-me de ter gritado: ‘Morrerei, se estas ondas continuarem a cair sobre mim.’ E disse ainda: ‘Senhor, não agüento mais!’, embora não sentisse mais qualquer medo da morte.
       ‘Não sei quanto tempo continuei nesse estado, com esse batismo me envolvendo e me atravessando. Sei que já era bem tarde quando um amigo veio me ver. Encontrou-me em prantos e perguntou: ‘Finney, o que aconteceu? Não está se sentindo bem?’ Durante algum tempo não pude responder. Ele perguntou: ‘E está sentindo alguma dor?’ Dominando-me da melhor forma que pude, respondi: ‘Não, mas estou tão feliz que nem posso mais viver... ’
       ‘Dormi logo, mas logo em seguida acordei de novo por que estava tão repleto de amor, que não conseguia dormir. Logo, dormi de novo, e acordei do mesmo modo. Assim continuei até altas horas.
       ‘Quando acordei o sol já derramava sua claridade no quarto. Palavras não podem exprimir a impressão que essa luz do sol me fez sentir. Imediatamente, o batismo, que eu recebera na noite anterior, voltou sobre mim, e do mesmo modo. Fiquei de joelhos sobre a cama e chorei alto de alegria; permaneci algum tempo de tal maneira arrebatado pelo batismo do Espírito, que nada podia fazer senão abrir minha alma para Deus. Pareceu-me que esse batismo matinal era acompanhado de suave censura; o Espírito parecia perguntar-me: ‘Duvidas?’ Gritei: ‘Não, não duvidarei jamais; não posso duvidar’. Ele então esclareceu aquele assunto em minha mente, de tal modo que era impossível duvidar que o Espírito de Deus controlava todo o meu ser.
       ‘Enquanto eu estava assim, pude entender a doutrina da justificação pela fé como experiência real. Esse assunto nunca impressionara minha mente a ponto de eu considerá-lo, distintamente, como doutrina fundamental do Evangelho. Na verdade, eu nem mesmo compreendia o que significava a passagem: ‘Sendo justificados pela fé, temos paz com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo. ’ Pude ver, então, que no momento em que cri, lá no bosque, que todo sentimento de condenação desaparecera completamente de meu pensamento, e que, a partir daquele instante, eu não mais conseguia, nem me esforçando, sentir qualquer sentimento de culpa ou de condenação por meus atos quaisquer que fossem eles. O sentimento de culpa se apagara, cessara, morrera; foram-se os meus pecados, e eu não tinha mais nenhum sentimento de culpa; era como se eu nunca tivesse cometido qualquer pecado.
       ‘Senti que me achava num estado no qual eu não mais poderia pecar. Ao invés de sentir que eu pecava sem cessar, meu coração estava tão cheio de amor e paz que transbordava. Meu cálice transbordava de bênçãos e de amor, e eu sentia que não mais estava pecando contra Deus. Além disso, nunca mais tive o menor sentimento de culpa pelos pecados que já cometera. ’
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(Para outras experiências da mesma espécie, ver ‘Consciência Cósmica’, de Richard M. Bucke).

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domingo, 26 de maio de 2013

TRECHOS PARA VOCÊ LER E ANALISAR

(19) TRECHOS PARA VOCÊ LER E ANALISAR   (Jan 2006)

               
No Ocidente, as religiões populares, religiões organizadas segundo livros ditos sagrados, muitas com hierarquias, são aquelas q recomendam aos adeptos (e estes tentam obedecer) q obedeçam aos preceitos tidos como ‘a palavra de Deus’.
Naturalmente, aquele que segue suas regras e ensinamentos se sente feliz, pois, se tem fé, estará certo de que, ao fim da sua vida, será recompensado, pois é essa a promessa dessas doutrinas.
No entanto, a fé tem de estar alicerçada em argumentos sólidos; caso contrário será apenas crença, sem valor algum, ilusão. Chega o tempo em que o homem começa a questionar suas crenças, e as vê sem base consistente. Por isso, sábios iluminados disseram que ‘aquele que se filia a religiões organizadas é imaturo’, que está ainda no ‘jardim da infância’ e, dificilmente, chegará à ‘Graduação Universitária’.
E que são argumentos sólidos? Apenas a afirmação daquele que foi considerado profeta ou que pregou a ‘palavra de Deus’? Depois de vinte séculos, temos certeza absoluta de que as escrituras cristãs, no caso dos ocidentais, não sofreram qualquer tipo de modificação? Lembrem-se que elas sofreram numerosas traduções, a influência de interesses, costumes, interpretações e diferentes gramáticas, até chegar ao que são na atualidade. Por isso, os sábios aconselham a ‘não pôr outra cabeça acima da sua’, isto é, a não confiar nas interpretações de outrem, mas que cada um busque sua própria interpretação ou confirmação, sua própria experiência pessoal, isto é, aconselham que, cada um, veja por si mesmo.
       Essas religiões apregoam a necessidade de adorar e louvar o Deus único; de obedecer, sem questionamento, as regras impostas aos fiéis como se fossem, como dizem os pregadores, a ‘palavra do Senhor’. Que, como Senhor, as recomendações, do homem Jesus, devem ser obedecidas à risca; qualquer desobediência grave poderá nos trazer a perdição até mesmo por toda a eternidade.
       Enquanto isso, os iluminados afirmam que a divindade está acima de toda necessidade de ser adorada ou glorificada, de ser obedecida; que as orações mais sentidas, as súplicas mais sinceras, não trazem qualquer deleite a Deus, e que já estamos todos desde sempre salvos, pois não há do que o homem se salvar. Tudo que fazemos em nossa vida, criaturas que somos de Deus, o fazemos com o beneplácito da divindade, que nos criou assim e, como reza a Sagrada Escritura, ‘é o Senhor que opera em nós o pensar, o querer e o fazer’.
       Concordando com essa afirmação, o Zen Budismo diz que ‘é até mesmo absurdo reivindicarmos a paternidade de nossos próprios pensamentos’, como disse Paulo: “... como se tivésseis algum pensamento como vosso, pois todos eles vêm de Deus!”.   
       Agora, se o homem almeja, não apenas obedecer, louvar e adorar o Ser Divino, como crente e temente a Deus que é, pelo temor de seu castigo, mas ir, além disso, para perceber e conhecer a divindade inefável, e até mesmo confundir-se com ela, não numa condição após a morte física, como apregoam as religiões populares, mas mesmo em vida, a questão não se resumirá em obedecer e louvar, mas em buscar a experiência dos místicos, de todas as eras e latitudes, como Jesus, Buda, Teresa de Ávila e muitos outros.
       Essa experiência leva ao percebimento da divindade e a com ela confundir-se, como afirmam, entre muitos outros, o místico cristão, padre jesuíta, cientista, teólogo e filósofo (famoso por suas visões místicas), Meister Eckhart (só não foi condenado, pela igreja, à morte pelo fogo, porq morreu durante o processo); e outro mistico cristão, padre dominicano, teólogo, filosofo e cientista, Teilhard de Chardin (condenado pelo Vaticano, ao silêncio até o dia de sua morte). Este logrou construir uma visão integradora entre ciência e religião (teologia).   
      Através de suas obras, legou-nos uma filosofia que reconcilia a ciência do mundo material com as forças sagradas do divino. Com isso, conseguiu ser mal visto pelos religiosos e cientistas. Ele escreveu que, em geral, o percebimento da unidade com Deus é obtido através da prática perseverante e regular da meditação.
      Esse percebimento, na visão de sábios, físicos modernos, psicólogos da psicologia transpessoal, místicos das tradições orientais e ocidentais, como Ramana, Heisenberg, Krishnamurti, Schrodinger, Godel, Pascal, CarlG. Jung, William James, Paulo, Buda e muitos outros, é o acontecimento mais sublime na vida do ser humano, modificando para sempre seu caráter, num sentido positivo, levando-o à sabedoria, compaixão e amor, além de despertar-lhe genuínas virtudes e criatividade.
       Aquele que tem esse percebimento vive, então, em perfeita harmonia com o Todo, numa condição de bem-aventurança sem fim. (Pascal: ‘Alegria, alegria, alegria, lágrimas de alegria! ’).
       Até o século vinte, a ciência ocidental, aí incluídos físicos, psicólogos, matemáticos, médicos, psiquiatras e outros cientistas, julgavam serem absurdas, ou superstições e mesmo patologias as afirmações dos místicos orientais de que, além de nosso estado comum de consciência, existem outros estados mais elevados que proporcionam experiência de bem-aventurança e que trazem sabedoria e compaixão ao ser humano, experiência que, no dizer de Buda, ‘liberta o homem de todo o sofrimento’ e, conforme C. G. Jung, ‘é a mais sublime e importante experiência na vida do ser humano’. 
       Experiências simples ocorrem a muitas pessoas, mas geralmente são reprimidas pelo medo do inusitado e da intolerância da sociedade, ou mal interpretadas em face da cultura vigente. Elas podem produzir mudanças benéficas e duradouras, tanto que Jung afirmou: ‘O fato é que a aproximação do divino é a verdadeira terapia e, na medida em que alcança essas experiências, a pessoa se liberta da maldição da patologia’ (semelhante a ‘todo mal e todo bem, mental ou fisiológico - pois mente e corpo são interdependentes - vêm de uma menor ou maior aproximação da percepção do divino’).      
       Maslow afirma que a experiência é ‘tão profunda e chocante que pode mudar o caráter de uma pessoa para sempre’. Ao retornar dela, a pessoa ‘sente-se, mais do que nunca, o centro responsável, ativo e criativo, de suas próprias percepções e atividades, mais determinada e confiante, mais livre para agir, pois com mais livre-arbítrio do que nunca’. E, dentro de uma ‘hierarquia das maiores necessidades do homem’, considera a busca de Deus o mais importante e sublime objetivo da vida do ser humano.      
       O apego ao drama ou história pessoal, que cada um tem para contar aos outros sobre si mesmo, é um luxo desnecessário, parte de nossa bagagem emocional. É benéfico para todos, porque evita dissipação de energia vital, cujo acúmulo é necessário para a aproximação do sagrado, desapegar-se de seu drama e dos dramas pessoais dos outros, coisas com as quais o homem está tão acostumado, ou mesmo condicionado, a conviver no dia-a-dia.
       Laing: ‘As nossas tentativas de ‘despertar’ costumam ser punidas, especialmente pelos que mais nos amam, porque eles, abençoados sejam, estão ‘dormindo’ e pensam que quem desperta, ou percebe que o que consideramos realidade não passa de um sonho, está ficando louco’.
       Bugental: ‘Deus é uma palavra usada para indicar nossa subjetividade inefável, o potencial indescritível e inimaginável que está dentro de cada um de nós’. É o que místicos e, hoje, também a filosofia da ciência quântica, afirmam.  
       Enquanto, na psicologia ocidental, o homem é levado a enaltecer o ‘eu’, a ter autoconfiança etc, coisas que reforçam o poder do ego, nas psicologias orientais a meta humana é calar o ego, tentativa que pode ampliar. cada vez mais, a própria consciência, o que traz saúde psicológica e sabedoria (e até a percepção de que nós e Deus somos um só; como disse Jesus: ‘Eu e o Pai somos um’).
       A ampliação da consciência está ligada estreitamente à saúde mental tanto que, para algumas psicologias, a inconsciência, isto é, a consciência restrita, é descrita como a única enfermidade. Daí a afirmação de que ‘toda patologia vem do fato de estarmos distantes daquilo a que chamamos Deus’. Quanto mais próximos estamos da percepção de Deus, mais saúde mental e menos enfermidades fisiológicas.
       Problemas e sofrimentos, conflitos, incompreensões e opostos (bem e mal, justo e injusto), que afligem a existência, cessam com o progresso na meditação. Nesta, não é o mundo que muda; nós mudamos. Ela elimina todos os sofrimentos e pode nos trazer a suprema felicidade.   
      Aquelas conhecidas palavras de Jesus: “Eu sou o caminho, a verdade, a vida! Ninguém vai ao Pai senão por mim!”, conforme rabinos, doutores da língua e da religião judaica, têm sua correta tradução em: “O é o caminho, a verdade, a vida! Ninguém vem ao Pai senão pelo !”, que modifica, profundamente, o sentido que antes lhes dávamos; o mesmo afirmam tantos outros sábios, místicos e iluminados? Pois é esse o objetivo da meditação: aprofundarmo-nos dentro de nós mesmos, na direção daquilo que denominamos nosso ‘eu’, atentos à fonte de nossos pensamentos. Se formos bem sucedidos, os pensamentos cessam, o ‘eu’ se afasta e, com o trabalho perseverante, virá aquilo que está além do ego, além do espaço-tempo: Deus. Como disse o maior profeta do Antigo Testamento: “Aquieta-te e sabe: eu sou Deus”
       Pensamento, fantasia, devaneio, raiva, inveja, preocupação, emoção, sexo, vícios levam à distração na meditação. Fazem perder tempo e energia vital. Assim, purificação psicológica significa afastar os pensamentos que distraem (essa, talvez, a razão do ensinamento das religiões sobre as virtudes, cuja prática traz tranqüilidade mental, o que prepara a mente para a meditação; no cristianismo primitivo eram denominadas pecados, pois aquelas ‘distrações’ afastam o homem da percepção do sagrado).
       A atenção afasta a distração. A essência da meditação é a atenção. O fluir dos pensamentos costuma ser aleatório e dispersivo; assim, devemos fixar a atenção, não nos pensamentos que variam constantemente, mas no fluir dos pensamentos, na respiração ou numa palavra ou som suave que não levem a associações mentais.
       Medard Boss: ‘Para que a cura das doenças mentais tenha verdadeira eficácia, os psicoterapeutas ocidentais terão que associar as técnicas da psicologia com as técnicas da meditação das tradições místicas. ’
       Há uma terapia que aborda o equilíbrio mente-e-corpo (“Conexão Saúde”, de Deepak Chopra). Com métodos de relaxamento e de redução de tensões, pode desempenhar importante papel em todas as terapias. Em nossa cultura ocidental, as concepções com relação a esse assunto ainda são muito primárias, mas já há provas insofismáveis de sua eficácia.
       Ver televisão, beber um drinque, ler livros, viajar, não reduzem tensão nem ansiedade, como muitos acreditam; somente nos ajudam, quando muito, a esquecê-las por algum tempo. O relaxamento profundo, que a meditação inegavelmente proporciona, é a verdadeira terapia para esses males; é um processo neuropsicofisiológico de inegáveis benefícios, como os cientistas modernos têm exaustivamente comprovado. 
       As pesquisas indicam que a reação do organismo humano à meditação é oposta à sua reação ao estresse, fato que sugere que a meditação tem importantes aplicações na clínica médica em geral. Essas técnicas já estão sendo usadas para a eliminação de muitas enfermidades mentais e físicas. Com essa constatação, numerosos cientistas, educados em nossa cultura ocidental, que associa misticismo a coisas misteriosas e anticientíficas, se sentiram tremendamente chocados. Mas, hoje, essa atitude está mudando. A meditação não é mais considerada ridícula ou suspeita, e o misticismo está sendo olhado com seriedade pelos cientistas, convencidos agora de que ele fornece importante e coerente base filosófica para a ciência moderna, numa compreensão de que as descobertas da ciência atual estão em perfeita harmonia com os ensinamentos milenares do misticismo oriental.
       O corpo saudável tem forte resistência a todo tipo de micróbio. Todo organismo humano é hospedeiro para multidão de bactérias que só podem causar danos quando o corpo está com seu sistema imunológico debilitado, fato que ocorre quando os cuidados com o corpo são negligenciados, em geral com o uso de alimentos e procedimentos (físicos e mentais) inadequados.  
      Experimentos sérios e recentes comprovam que a meditação praticada regularmente pode corrigir tais problemas.     
      Na psicanálise, é essencial a compreensão dos processos e estados de consciência. Talvez tenha sido por isso que, William James, por muitos considerado o maior psicólogo do Ocidente, tenha levado sua atenção da psicologia ocidental para a psicologia e misticismo das tradições orientais, estudando estados incomuns de consciência, fenômenos psíquicos e experiências religiosas, na intenção de conhecer o espectro total da consciência humana. Esses assuntos são abordados, também, por Ken Wilber, psicólogo contemporâneo, com esclarecimentos surpreendentes para nós, em várias de suas obras (“O Espectro da Consciência”, entre outras).      
       Os resultados das pesquisas sobre meditação alcançam tantas, senão todas as áreas de interesse do ser humano, que pesquisadores chegaram a afirmar que, “quando essa técnica for aplicada regularmente pelas populações em geral, não haverá problemas sem solução e o sofrimento será coisa do passado”.
       Os pesquisadores relatam que, no caso da asma brônquica, por exemplo, ocorre significativa redução dos sintomas, resultado devido, talvez, a expressivo aumento da entrada de ar nos pulmões, isto é, aumento da facilidade de respirar.
       Outras manifestações de má saúde foram solucionadas com a prática da meditação, que trouxe ao corpo o peso ideal e a possibilidade para sua manutenção, fato importante porque a obesidade, além de difícil problema médico, é sério fator de risco para o aparecimento de muitas enfermidades graves.
       Males das gengivas, a maior causa de desordens dos dentes, obtiveram grande melhora com a meditação regular. As gengivas são reflexo da saúde geral do corpo sendo, a cura de suas enfermidades, sinal evidente do crescimento do equilíbrio do sistema imunológico, o que implica em considerável aumento da resistência do organismo às doenças.
       O resultado da saúde psicológica nos que praticam a meditação deve-se ao aumento da coordenação do sistema nervoso, como foi observado em EEG de meditadores, que mostraram coerência e sincronismo de diferentes áreas do cérebro, bem como entre os dois hemisférios. Os estudos, nessa área, demonstram:
       -diminuição da ansiedade, fadiga, nervosismo;
       -crescimento da auto-satisfação e da personalidade;
       -redução do estresse, da tensão e da dificuldade de conciliar o sono.
       -devido ao enorme repouso produzido pela meditação, que dissolve a raiz profunda do estresse, muitas doenças podem ser prevenidas com êxito pela prática regular, pois o sistema nervoso se torna mais equilibrado, estável e ordenado, fazendo com que o organismo resista mais às tentativas da doença para se instalar.
       -a prática, pela alternação de repouso e atividade, traz fortalecimento e refinamento gradual do sistema nervoso. Ao passo que, para compensar o estresse e a fadiga necessitamos de sono e sonhos, que a insônia não permite, a prática meditativa elimina o estresse e a ansiedade que estão perturbando o sistema nervoso.
       A causa da eficácia da terapia pela meditação parece ser a recuperação global do equilíbrio entre a mente e o corpo.  Contudo, os resultados não se limitam à cessação de tendências negativas; produzem, também, grande integração da personalidade através de:
       - desenvolvimento da maturidade emocional e da saúde geral;
       - redução/ eliminação do nervosismo e irritabilidade;
       - maior sociabilidade e mais estabilidade emocional;
       - mais compreensão e auto-confiança;
       - menor inibição nos relacionamentos, na conduta e decisões;
       - aumento da calma, da satisfação e tolerância em situações frustrantes;
       - facilidade de se relacionar e fazer amigos; ânimo mais equilibrado.
       Comprovou-se, ainda, que a Meditação reduz, significativamente:
       -depressão, irritabilidade, agressividade, insociabilidade, tendência dominadora, inibições, desajustamento social, personalidade neurótica, inflexibilidade, teimosia, desconfiança, egoísmo, sensibilidade à crítica, necessidade de segurança, ansiedade, tendência a responder (mal), agressividade, impulsividade, imaturidade emocional, timidez, frustração fácil.
       E que aumenta, também significativamente, a:
       - auto-estima, satisfação com a vida, confiança em si e nas pessoas;
       - auto-disciplina, capacidade de acompanhar a evolução do meio, auto-aceitação, natureza construtiva (e não mais destrutiva), coordenação mente-corpo, tolerância, relacionamento interpessoal, altruísmo, fraternidade, amizade, capacidade de não ofender, estabilidade emocional.
       Em todos os praticantes ocorreu aumento da energia e clareza mental, da facilidade de relaxamento, tranqüilidade, franqueza, honestidade e sinceridade.
       Tais resultados recomendam o uso da meditação como terapia eficaz para doenças mentais e fisiológicas, tendo-se provado que a técnica deve ser usada nos casos de ansiedade, neurose obsessiva e neurose compulsiva, depressão, uso e abuso de drogas e medicamentos, e males psicossomáticos em geral.
       A meditação desenvolveu o raciocínio lógico e o raciocínio moral; melhorou o relacionamento com patrões, supervisores, chefes e colegas; aumentou a motivação e satisfação nas atividades profissionais.
       Os resultados indicam o potencial da meditação no campo da clínica médica, psicologia e psiquiatria, pois proporciona: integração corpo-mente, amadurecimento pessoal, maior adaptação às situações, estabilidade emocional e fisiológica, purificação (cerebral). O desenvolvimento desses 5 pontos pode ser a solução para a prevenção de toda conduta anti-social e sua mais importante conseqüência é a obtenção de um nível de consciência mais elevado.
       Outros resultados positivos:
       - grande crescimento do raciocínio lógico;
       - grande aumento da facilidade de se adaptar a situações novas;
       - maior habilidade para concentrar a atenção;
       - redução da instabilidade emocional;
       - aumento dos níveis de energia e de tolerância;
       - aumento do nível de inteligência e de solucionar problemas;
       - crescimento da habilidade de organização e de raciocínio;
       - aumento no desempenho intelectual e noutras variáveis psicológicas relativas a estudantes;
       - crescimento do equilíbrio fisiológico e psicológico com considerável redução da ansiedade e do nervosismo;
       - aumento da conduta positiva e da felicidade, do equilíbrio emocional, da harmonia e saúde física;
       - diminuição ou cessação da inquietação, depressão e tédio;
       - crescimento da participação em atividades coletivas;
       - redução ou cessação das infrações a leis, regras e regulamentos;
       - aumento da facilidade de se relacionar com outras pessoas;
       - o cérebro adquire funcionamento coerente e harmônico em todas suas funções e áreas.
       As pesquisas mostram que a prática traz imenso benefício, porque aperfeiçoa as funções neuropsicofisiológicas, que são a base da vida e dos valores do ser humano (saúde, bem estar, disposição, alegria, felicidade).
       Qualquer método que ajude a produzir um estado de relaxamento e de tensão reduzida pode levar à experiência da meditação, que pode oferecer total liberdade e completa extinção da principal causa de todo sofrimento do homem, e põe fim às nossas incessantes buscas de felicidade.
       Freud ensinou que, “no peito da mãe, a criança experimenta a condição primeira, depois idealizada para sempre, em que não se podem diferenciar a libido do objeto e a libido do ego;... a ‘ignorância’ (inocência) produz a experiência feliz da criança no peito da mãe... porque livre de todos os dualismos...”
      A psicanálise sugere a afirmação de que a humanidade não se libertará de suas enfermidades e de suas infelicidades enquanto não for capaz de abolir todo e qualquer dualismo’ (só se consegue na meditação).
       Todo bem ou mal psicológico, em geral, origina-se de uma maior ou menor percepção da Divindade. E, sendo psique e corpo uma unidade, todo mal ou bem fisiológico tem a mesma explicação. Por isso mesmo, a prática sistemática de meditação é altamente terapêutica tanto para as enfermidades emocionais, como para as fisiológicas. Pela prática, uma pessoa facilmente se livrará de suas neuroses individuais. Por isso, não é difícil compreender o imenso poder curativo dessa autêntica terapia. 
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(Dica para a meditação: Fique totalmente atento para surpreender o seu próximo pensamento, ou totalmente atento para sua respiração, sem, no entanto, usar a imaginação; faça isso o maior tempo q puder).
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       Wilber: ‘Quem não favorece Freud, não pode chegar a Buda’; isto é: para chegarmos àquela percepção que a meditação proporciona, temos que, primeiramente, ‘consertar’ nossa psique (coisa que a meditação realiza).                                            
       Jung: ‘Mais cedo ou mais tarde, a física quântica e a psicologia do inconsciente se aproximarão cada vez mais, já que ambas, independentes e vindo de direções opostas, avançam para território transcendental’.
       Jung convenceu-se, por suas próprias experiências, da realidade da dimensão espiritual da vida. Para ele, a religião e a mitologia constituem fonte inesgotável de informações sobre o inconsciente coletivo, e concluiu que a espiritualidade pura é parte integrante da psique humana.
       Hoje, surge uma nova psicologia compatível com a visão científica da vida e harmonizada com as concepções místicas, e numerosos psicólogos transpessoais estão trabalhando no sentido de levar essa psicologia à busca espiritual; não mais consideram a espiritualidade como sendo superstições primitivas, aberrações patológicas ou crenças falsas insufladas pela cultura.
       A única maneira de superar os problemas existenciais da condição humana é, em última análise, transcendê-los, vivendo nossa existência com mente aberta e atentos para as realidades da vida. Isso só é conseguido com as experiências da meditação que podem oferecer profundos insights sobre a natureza e importância da nossa dimensão espiritual. Nesse sentido, os objetivos da moderna psicologia transpessoal são os mesmos objetivos buscados pelas tradições místicas através da meditação.
       Conforme os místicos, ‘o ser humano normal é aquele que está livre de todo sofrimento’ (só a ‘iluminação’ traz esse resultado).
       Jung chamou a experiência conseguida pela meditação de ‘concórdia transcendental universal’ pois, independentemente de época ou lugar, é a mesma para todos os que a experimentam, e coloca o indivíduo em contato com o Divino. Para Jung, a mente universal e a mente individual são uma mesma coisa, isto é, nossa mente é a Mente Divina, verdade perfeitamente aceita no Oriente, embora no Ocidente isso pareça ser blasfêmia; porém, Jung afirmava que a obtenção dessa percepção é uma experiência mística incontestável, presente em todas as tradições religiosas, do Oriente e do Ocidente.
       Jung: “O atentar para a Mente intemporal é tarefa redentora para todas as pessoas. Em nosso tempo, essa tarefa é particularmente difícil porque colocamos, no dia-a-dia, nossa ênfase no aqui-agora, no fazer, no consumir, nos aspectos práticos, no progresso material. Como valorizamos o aspecto material, estamos separados dela. O resultado é patológico: tornamo-nos vítimas de nossos próprios impulsos inconscientes e o mundo tornou-se doente. Nossa mais importante tarefa na vida é exatamente o oposto: tornarmo-nos conscientes dos conteúdos que emergem do inconsciente, criar cada vez mais e mais consciência; esse o objetivo único da existência humana: acender uma luz na escuridão do ser”.
       Para ele, “Seguramente, a alma não é algo insignificante (como as religiões ocidentais a consideram), mas é a própria Divindade radiante”.
      Meister Eckhart: “A essência de Deus e a essência da alma são uma só e a mesma coisa. O conhecedor e o conhecido são um só. Os ingênuos imaginam poder ver Deus como se Ele estivesse ‘lá’ e nós ‘aqui’. Não é assim. Deus e nós somos um”.
      Koestler: “Não existe uma linha divisória nítida entre a cura das enfermidades e a percepção da divindade”. (elas se confundem).
      Po Chü-i: “Mantenha seus pensamentos longe das coisas passadas, pois pensar no passado provoca tristeza e dor. Evite pensar no que poderá acontecer, pois pensar no futuro é desalentador. É melhor sentar-se numa cadeira como um saco (relaxado), durante o dia; é melhor deitar-se numa cama como uma pedra, durante a noite; abrir a boca quando vier a comida, fechar os olhos quando vier o sono” (como disse Krishnamurti, para se suportar os eventos do dia-a-dia, precisamos de uma boa dose de humor e de indiferença).
       Huxley: “Onde há perfeição e unidade, não pode haver sofrimento. O sofrimento só surge onde há imperfeição, desunião e separação de uma totalidade que tudo abrange (Deus). Para o indivíduo que realiza a unidade em seu próprio ser (a união com o divino), o sofrimento cessa”.
       Buda: “A iluminação (que pode vir com a meditação), é o fim de todo o sofrimento”.
       A aproximação da percepção do divino é como “morfina espiritual”: reduz dor e sofrimento, e não dura só um momento, mas elimina a raiz e a fonte do sofrimento. E não é só o corpo que se comporta de modo coerente durante o estado de consciência pura: a experiência subjetiva, psicológica, também segue um padrão típico. Conforme relatou J.T. Farrow, sobre seus pacientes: “Há uma mudança gradual caracterizada por um estado mental cada vez mais tranqüilo e ordenado, por uma expansão da consciência e por uma redução das fronteiras da mente, até que, de repente, alcança-se um estado de ‘ilimitação’, de felicidade, essencialmente o mesmo para os diferentes indivíduos”. Por isso Jung afirmou ser, essa experiência, uma ‘concordância universal’.
       -‘Buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e tudo o mais vos virá por acréscimo... ’ (isto é, com o percebimento, estaremos completos, nada mais é necessário; à luz dessa percepção cessam todos os conflitos e dores).
      -‘Nem todo aquele que diz: ‘Senhor! Senhor!’ entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai... ’ (essa vontade é a vontade daquele que ensinou: ‘Buscai em primeiro lugar o reino de Deus...’).
       -‘Aquele que ouve minhas palavras e não as cumpre é semelhante a um homem insensato que construiu sua casa na areia. Caiu a chuva, vieram as enchentes, sopraram os ventos e investiram contra aquela casa, e ela caiu, e grande foi sua ruína... ’ (‘Buscai em primeiro lugar o reino de Deus, e tudo o mais vos será dado por acréscimo’, e ‘Conhecereis a Verdade e a Verdade vos libertará’; estas as palavras mais importantes pronunciadas por Jesus, para motivar o homem à busca. Quem o segue, nos seus ensinamentos, está construindo sua casa em lugar firme e seguro e, com certeza, chegará ao percebimento; não será como o insensato que ‘muitos pesares ainda terá’).
       -‘Nada sucede sem a vontade do Pai. ’ (a escolha não é nossa).
       -‘(a Pilatos:) Nenhum poder teríeis se do alto não vos fosse dado. (idem). 
       -‘Vinde a mim vós todos que estais aflitos e eu vos aliviarei. ’(os que chegam lá são aliviados. Jesus deve ter dito: ‘ide ao Eu’, isto é, penetrai no mais profundo de vós mesmos e, ali, achareis alívio; ali, todo sofrimento cessa. O caminho é para dentro; no íntimo, encontraremos Deus).       
       -‘Não te preocupes com muitas coisas... ’ (não adianta preocupar-se, que não vamos resolver nada; a escolha não é nossa; e, como a física moderna comprova, tudo é incerto).
       -‘A cada dia basta seu cuidado’, isto é, não fique pensando no que já passou, nem imaginando o que virá no amanhã; o que passou, não podemos modificar; o que virá, virá mesmo e nada poderemos fazer; cuide, pois, apenas de estar atento ao momento presente.
       -’... que cada um viva na condição na qual o Senhor o chamou...não te preocupes disto. Pois o escravo, que foi chamado pelo Senhor, conquistou a liberdade do Senhor’ (I Cor 7:22) (cada um é o que é, não há como modificar isso; mas, qualquer que seja sua condição, seja escravo ou senhor, aquele que teve o percebimento está absolutamente livre).
       -‘Não sabeis que sois o templo do Altíssimo e que o Espírito de Deus habita em vós?’ (I Co 3:16) (se Deus está em nós, como procurá-lo fora)?
       -‘Interrogado pelos fariseus sobre quando havia de vir o reino de Deus, respondeu-lhes: O reino de Deus não vem com aparência exterior. Nem se dirá: ‘Ei-lo aqui’, ou ‘Ei-lo acolá’, pois o reino de Deus já está dentro de vós. ’ (Lc 17:20) (sem comentário).
       O amor de Deus se estende a todos os seres, incondicionalmente, não importando se estes o amem ou não, creiam ou não, ou mesmo que neguem sua existência. Deus não exige serviço, nem adoração, nem oração, nem reverência. Ele está acima de tudo isso. Há, sim, recompensa àqueles que se abrem ao amor de Deus, pois podem se sentir plenificados. Mas o amor de Deus se dirige, oferecendo-se, incondicionalmente, a todos. O sábio reconhece que a oração mais sentida ou comovente não traz o favor de Deus; que Ele não se deleita com as orações dos homens, com suas súplicas ou louvores. Contudo, a oração é um benefício para o homem pois, por meio dela, ele pode entrar em harmonia com o infinito, com Deus, abrindo-se ao seu amor, poder e sabedoria.
       -’... pelo que eu entendo, a porta de entrada desse castelo (o nosso ser, onde Deus habita) é a oração, a meditação...’ (Teresa de Ávila, santa da igreja católica romana).
       -’... é insensatez pensar que poderemos entrar no céus sem primeiro entrarmos em nós mesmas...’ (Teresa) (o caminho é para o interior).
       -’... Assim, se alguém quer despertar, se quer compreender a si mesmo, deve enfrentar o fato de que o verdadeiro caminho para Deus é para dentro; deve dirigir-se diretamente para seu interior; ‘não há outro caminho’...’ (Paul Brunton, Ph.D., yoga).
       -‘Eu gostaria de deixar bem claro que, com o termo ‘religião’, não me refiro a uma dada profissão de fé religiosa. A verdade, porém, é que toda confissão religiosa, por um lado se funda originalmente na experiência do numinoso (transcendental) (que, na experiência religiosa pode ser o influxo de uma presença invisível que produz modificação especial na consciência; tal, pelo menos, é a regra universal) e, por outro lado, na fé e na confiança relativa a uma experiência de caráter numinoso e na mudança de consciência que daí resulta. Um dos exemplos mais frisantes, nesse sentido, é a conversão de Paulo. Poderíamos, portanto, dizer que o termo ‘religião’ designa a atitude particular de uma consciência transformada pela experiência do numinoso... ’ (Carl Gustav Jung).
       -‘Os sonhos que escolhi para ilustrar aquilo que chamo de ‘experiência mística’ certamente pouco significarão para um olhar inexperiente... Mas, apesar disso, a experiência individual... é sangue quente e rubro, que pulsa nas veias do homem (que a teve). Para quem busca a verdade, ela é mais persuasiva do que a melhor das religiões, do que a melhor das tradições... Se quisermos saber algo a respeito do significado da experiência religiosa para aqueles que a tiveram, esse algo é: tudo... ’ (C.G.Jung).    
      -’... (essa experiência é) exatamente como se o espírito e a carne, eternos inimigos na visão da fé cristã, tivessem feito as pazes... o espiritual e o profano se vêem conjugados numa inesperada situação de paz... A austera seriedade do espírito parece tocada por uma alegria semelhante àquela que a antiguidade pagã conhecia, perfumada de vinho e rosas. Seja como for, faz com que se esqueçam todas as dores e penas da alma... ’ (C.G.Jung).
       -‘Alegria, alegria, lágrimas de alegria; enfim Te conheço’ (Pascal).
       -‘Naturalmente é difícil compreender como essa figura abstrata (a experiência imediata, que nada é mais que uma experiência subjetiva, pois na psique do homem) desperta o sentimento da ‘mais sublime harmonia’... Contudo esse tipo de experiência não é, para mim, nem obscuro, nem longínquo. Muito ao contrário: trata-se de um fato que observo quase todos os dias em minha vida profissional (de psicoterapeuta)... Conheço um número consideravelmente grande de pessoas que, se quiserem viver, terão de levar a sério sua experiência íntima... ’ (isto é, a vida daqueles que tiveram a experiência de Deus, será transformada obrigatoriamente por força do novo conhecimento, a iluminação que lhes veio dela) (C.G.Jung).
       -‘Esse estado, produzido pela meditação, é o mais sublime estado da existência humana... Somente para a alma que o atingiu o mundo se torna realmente belo e vale a pena viver. ’ (Vivekananda).
       -‘Se pelo menos você olhasse (percebesse) sua alma - o reflexo de Deus totalmente perfeito dentro de você – encontraria a satisfação de todos os seus desejos (tudo o mais virá por acréscimo)! Nessa consciência divina – aquilo que, quando se tem, nada mais que se obtenha é maior – você permanecerá inabalável ainda que ganhasse o mundo inteiro; o elogio não envaideceria, nem a censura o magoaria. Sentiria apenas a alegria de Deus em seu interior’ (Yogananda).
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