quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

NÃO TEMOS CONTROLE SOBRE NADA

NADA ESTÁ SOB NOSSO CONTROLE



Um amigo:
“Como não temos controle sobre nada? Será assim? Claro que somos surpreendidos por vários acontecimentos durante a vida, até concordo, mas tudo vai depender de como percebemos estes acontecimentos; essa boa dose de indiferença e de humor é válida, mas também não deixa de ser uma forma de defesa diante de situações inesperadas. É muito comum rir da própria desgraça, mas isso acontece depois do susto, quando a cabeça esfria”.

Resp: é exatamente assim; nós estamos sendo, agora, o que tudo que está atrás de nós nos está fazendo ser. Até mesmo, usando suas expressões, a compreensão que temos, as surpresas perante os acontecimentos da vida, nossa percepção deles, o humor ou indiferença, o uso de defesas, a capacidade de usá-las, o susto, as reações ao susto, o esfriar ou esquentar a cabeça, vem desse movimento universal.

Amigo:
“O amigo X uma vez citou um provérbio ou pensamento muito válido. Disse que tem dois cães dentro dele , um feroz e um manso, sobrevive o que ele alimentar. Penso que diante das nossas experiências, cultura e aprimoramento moral podemos ter controle sobre as situações que nos aflige. Basta não ser arrastados por elas. Tudo depende da dimensão que vamos dar ao fato.

Resp: o que o amigo X disse está correto; o alimentar o cão feroz ou o manso, a decisão de alimentar um ou outro vem também desse movimento ininterrupto...; o achar o pensamento muito válido, também. Outros não o acharão válido porque esse movimento não os levou à compreensão ou ao ponto de achar esse pensamento válido. Tudo, nossas experiências, cultura, aprimoramento moral, controle que possamos ter sobre o que nos aflige, ou sobre qualquer coisa, vem desse movimento. Tudo o que somos, o que pensamos etc, é resultante dessa “força”, sempre e sempre impelindo todos para frente, desde a origem do cosmos, passando pelos nossos mais longínquos ancestrais, e fazendo que sejamos o que somos agora.

Amigo:
“Porém isso é individual; uma exposição a um trauma para um individuo pode ser facilmente superada, quanto que para outro pode ser uma catástrofe que o imobiliza enquanto ele se apegar ao ocorrido”.

Resp: pois é isso mesmo. Qual o motivo pelo qual um superará um trauma, ou o que for, mais facilmente do que outro? Pelas experiências passadas, pela cultura, vivencia, genética, meio, que de algum modo lhe permitem maior compreensão ou força moral etc, para essa superação; e tudo isso faz parte desse movimento irresistível. Quando pensamos que superamos algo ou quando superamos realmente, é o mesmo movimento nos levando a pensar que superamos ou a ter forças para superar.
Lembre-se que não temos comando sobre o ego e, por isso, somos levados inapelavelmente pelas circunstancias e ilusões... Mesmo a compreensão e o trabalho de tentar eliminar o ego, são frutos desse movimento absoluto. Isso mostra bem a coerência das palavras de Paulo: “É o Senhor que opera em nós o pensar, o querer e o fazer” e “Não sois salvos por vossas obras, mas pela graça de Deus”; e de Jesus: “Nenhum poder teríeis se do Alto não vos fosse dado” e “Ninguém vem a mim se o Pai, que me mandou, não o mandar a mim”. O Senhor, Deus, o Alto, o Pai se confundem com esse poder que impulsiona as engrenagens desse movimento sem fim.
Quando um mestre abre a boca e ensina, é o mesmo movimento que o está levando a isso; quando compreendemos o que ele ensina, ou quando não compreendemos, é o mesmo movimento atuando. Quando seguimos ou não seus ensinamentos, idem. Quando acertamos ou erramos, é a mesma coisa. Por isso é que já estamos salvos ou melhor, não há de que nos salvarmos, pois nunca estivemos necessitando de salvação, senão em nossas ilusões; tudo que pensamos que é obstáculo à salvação é resultado das ilusões que esse movimento nos traz através do ego. Por isso, aqueles que compreenderam, que conheceram a verdade afirmam: “... no mesmo instante me vi banhado por uma emoção de alegria, confiança, triunfo, salvação; esta palavra “salvação” não é aprópriada para exprimir a realidade, pois é uma absoluta convicção de que a salvação não é necessária, pois o esquema do universo já é nesse sentido...”. “... naquele momento pude ver que todo sentimento de condenação desaparecera completamente de meu pensamento, e que, a partir daquele instante, eu não mais conseguia, nem me esforçando, sentir qualquer sentimento de culpa ou de condenação por meus atos quaisquer que fossem eles. O sentimento de culpa se apagara, cessara, morrera; foram-se os meus pecados; era como se eu jamais tivesse cometido qualquer pecado. Achava-me num estado no qual eu não mais podia pecar... Ao invés de sentir que eu pecava sem cessar, percebia que não restava em mim o menor sentimento de culpa pelos pecados que já cometera... e de que nunca houve pecados dos quais tivesse de ser perdoado”.
Como podemos pecar se é esse movimento eterno que nos leva a fazer isto e aquilo? Se é o Senhor (esse movimento) que opera em nós o pensar e o fazer? O que ocorre é que estamos num labirinto de ilusões e o único trabalho para sair desse labirinto é o trabalho da eliminação do ego. Então, veremos aquilo que o ego não deixava ver: que tudo é e sempre foi perfeito...

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