domingo, 27 de março de 2011

SOFRIMENTO E EVOLUÇÃO, PECADO E CASTIGO, O BEM E O MAL

CARTA A UM AMIGO

Um amigo, estranhando a afirmação de que os sofrimentos não têm por finalidade a evolução, de que a Divindade a ninguém faz sofrer, senão nas concepções das religiões populares, diz o seguinte:

“Conhece algum pai que consiga controlar integralmente o seu filho, a ponto de poder impedi-lo de errar, ao longo de toda a sua vida? Mais, são sempre os pais os responsáveis pelos erros dos filhos? Logo, Deus faz sofrer, sim, para tirar o homem do caminho do mal e coloca-lo no caminho do bem”.

Resp: não estamos falando de pais/espíritos/homens/cheios de ignorância, ilusões, imperfeitos, falíveis, de mente limitada e finita; estamos falando do Pai/Espírito Universal, infinito e eterno, pura sabedoria, infalível, perfeição suprema, ilimitado, para o qual o futuro, a eternidade, todo tempo é agora, e o infinito, o longe e todo lugar é aqui. No caso que você citou, nem os pais, nem os filhos são culpados, pois não há culpas; observe que nem pais nem mães “planejam”, “desenham”, criam seus filhos sabendo de tudo que lhes ocorrerá pela eternidade afora. O pai é apenas o recebedor do já planejado, desenhado, e criado; pai e mãe são apenas criaturas que servem de acesso à vida no espaço tempo; o Pai/Deus é infinito e eterno, nunca erra, nunca se arrepende, nunca subestima ou superestima sua criação e lhe conhece, a todo “instante”, seu passado e seu futuro; os pais biológicos são finitos, sujeitos a todas as espécies de erros, frequentemente se arrependendo de ter feito este ou aquele pseudo-planejamento, de ter tomado esta ou aquela psudo-decisão ou escolha; de haver buscado um filho quando as circunstâncias não eram convenientes; não conhecem sequer o minuto seguinte de sua “cria”, nem o deles próprios. Os pais finitos erram e se arrependem e se enchem de ira e de remorsos frequentemente; se preocupam com o futuro incerto; com a vida, o patrimônio, a saúde. O Pai infinito é sabedoria e poder. Como fazer essa comparação, meu amigo? Não existe termo algum de referência senão a palavra com que são designados: Pai e pai.

Cito o amigo:

“E essa questão de "castigos", provenientes de Deus?”

Resp: essa idéia da existência de corretivos, até mesmo torturantes, penalidades, punições, provas, expiações, locais de castigo, como mundo de expiações, inferno, umbral ou coisas semelhantes, estão em todas as doutrinas e religiões populares do mundo. São concepções equivocadas pois nada disso existe que seja imposto pelo Criador; esses conceitos apenas surgiram devido aos sofrimentos do homem e aos males do mundo. O homem, enquanto homem do espaço-tempo está sujeito a todos os tipos de sofrimentos pelo fato de ser um “ego”; este lhe dá uma interpretação distorcida do mundo, uma interpretação que não retrata a verdade. Eliminada a ação do ego, o homem, agora espírito, percebe-se infinito, eterno, sabedoria, amor, bem-aventurança e luz, pois une-se ao que sempre esteve unido mas que, antes, não percebia: Deus.

O amigo:

“O que o leva a afirmar que Deus cria seres destinados ao sofrimento?”

Resp: essa é a imagem que as religiões nos dão. O que é a vida? Como se realiza a evolução? Dentro da idéia de justiça soberana, infinita, existirão seres que não sofrem, ou não sofreram e chegaram à realização espiritual livres da dor? Se tais seres existem, poderíamos argüir o Criador de injustiça absurda, pois criou uns para alcançarem ilesos o fim da caminhada evolutiva, e outros para se debaterem, em encarnações sem conta, eternidades sem fim, na dor e sofrimentos inenarráveis ou até mesmo destinados a sofrimentos eternos. No entanto, essa é uma imagem equivocada pois, como vimos acima, o ego é que interpreta erradamente a vida e, com isso, traz a visão de sofrimentos que afetam a todos, sem exceção. O único obstáculo entre o homem e a felicidade total, que o conhecimento da verdade que liberta traz, é o ego. Cessado o ego, vê-se que sofrimentos pertencem ao mundo das ilusões. Sentimo-los, sim, mas eles nos vêm através da vidraça embaçada do ego; rompida a “vidraça”, os sofrimentos cessam.

Amigo:

“O que é isso a que as religiões chamam de "pecado"?”

Resp: nada mais do que a prática de qualquer ato que prejudique o semelhante; no entanto, chama-se “pecado” porque evidencia que o homem ainda não se libertou daquelas ações que lhe estorvam a eliminação do ego; são aquelas ações que as religiões sempre lembram e que, com relação às originárias do cristianismo, estão sintetizadas nos “dez mandamentos”: mas, à medida que o homem aprende, com as lições que a escola da vida lhe oferece, a se libertar delas, sua caminhada em direção à realização se torna mais fácil pois, libertando-se desses “defeitos” morais, a mente se torna mais livre e “leve” para continuar sua marcha em direção à verdade. Pecar é, nas palavras de um sábio, “como comer palha”; nem faz bem, nem faz mal, não tem sabor... não causa o afastamento de Deus; apenas mostra que ainda estamos afastados de Deus. Nem mesmo há leis, senão a dos homens, que nos punam por isso; pois o homem erra porque é de sua natureza ainda errar. A escola da vida ainda não lhe proporcionou lições suficientes para que perceba ou compreenda que essa prática deve cessar para o “aperfeiçoamento” espiritual. E, como a natureza do homem é aquela que o “ego” lhe dá, somente destruindo o ego, poderá se “aproximar” de Deus.

Amigo:

“Onde se dá a "escola" a que se refere e como tem um desenvolvimento mais ou menos positivo?”

Resp: a escola está aí mesmo onde você está, e onde vc estiver, e aqui mesmo onde eu estou e onde estiver; a escola é a vida; a sala de aula é o mundo com todas suas circunstâncias.

Como pode ter um desenvolvimento mais ou menos positivo? Não depende dos alunos, é evidente; estes estão, cada um, no seu aprendizado, cada um no nível escolar que lhe cabe, pelo que já aprendeu. O desenvolvimento mais ou menos positivo depende da “competência” dos professores, isto é, do sem número de experiências e influências de todas as espécies que a vida proporciona a cada um desde que vem à existência.

Amigo:

“Considerando que, pelo que vemos no mundo, a criação de Deus está acometida de tantos fracassos, qual a sua solução para as criaturas?”

Resp: não há qualquer fracasso ou erro da suprema inteligência, dessa inteligência que está acima e além do universo. O erro é de interpretação, fruto das ilusões de que o ego está repleto; por isso lhe disse que o espírito é perfeito como Deus é perfeito, que não há culpas nem responsabilidades, nem pecados, nem ações das quais se atribua méritos ou deméritos a quem quer que seja. Lembre-se de Paulo: “É o Senhor que opera em nós o pensar, o querer e o fazer” (não temos nem mesmo a paternidade de nossos pensamentos!) e, novamente, Paulo: “Não é por vossas obras que sereis salvos, mas pela graça de Deus”. Porque isso? Porque não há de que se salvar; já estamos desde sempre “salvos”; essa é a visão de todos que chegaram à luz. E qual é a solução? Eliminar as ilusões; como disse H. Blavatsky (teosofia ou “ciência divina”): “O ego é o assassino de Deus: matai esse assassino!”, e como disse M. Taniguchi (Seicho-No-Ie, ou “o progredir infinito”): “Quando o ego é anulado, Deus se manifesta”, como dizem os sábios: “ou o ego, ou Deus”, e o profeta do Antigo Testamento: “Aquieta-te e sabe: eu sou Deus”, isto é, aquiete seu ego e vc perceberá que o ego se afasta e que Deus toma seu lugar; como os conhecidos filósofos gregos: ”Conhece-te a ti mesmo e será Deus”.

Amigo:

“Por fim, o que é o bem e o que é o mal?”

Resp: é o que é para você; no mundo de ilusões é, respectivamente, o que favorece e o que prejudica. Mas, como são ilusões, os sábios dizem: “Enquanto houver em sua mente o menor resquício de diferença entre o bem e o mal, você ainda não é dos nossos”, isto é, enquanto vc não perceber que bem e mal são apenas ilusões, você ainda não está compreendendo e, por isso, está ainda longe de Deus.

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Um comentário:

  1. Em outras palavras: "cito vc" rsrsrs

    Um grande abraço amigo Coronel, e, estou atento ás novas postagens.

    Não se esqueça de visitar http://mascarasdedeus.blogspot.com/ onde estamos sempre atualizados com novas postagens relativas à "crítica à ciência dualista", Espiritualismo Oriental, Física Quântica e História da Ciência.

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