domingo, 5 de junho de 2011

SAMSARA (Sofrimentos, mundo ilusório), NIRVANA (Felicidade, mundo real)

Para masc anjo forum BLOG


Uma resposta a uma amiga que trouxe um texto muito bom mesmo para reflexão sobre reencarnação; continuidade do “eu”; morte do “ego”; o “novo homem”; ressurreição; “carma” (chamada, por muitos, como conseqüências da “lei de causa e efeito”), sofrimento e felicidade, nirvana...

Ela viu, na Wikipedia, definição para a palavra “samsara”, a roda de renascimento e morte.

Msg de resposta à amiga:

Viu quantas definições de “samsara”, umas levando ao sentido de vidas sucessivas (reencarnações), outras levando ao sentido de o oposto da felicidade e da libertação?

E viu qual o significado da palavra, conforme a tradução, “perambulação”? É andar sem rumo, sem norte, vaguear, andar ao acaso, sem objetivo ou destino, viver ou andar na incerteza ou na inconstância. Veja que “pode” ser entendido como o fluxo incessante de renascimentos... e pode ser entendido como não ter ainda encontrado o “rumo de casa”, estar perdido e, por isso, sofrendo; assim, samsara pode significar, para uns, algo como “reencarnação”, para outros, o “oposto de nirvana”, cessação de todos os sofrimentos, felicidade total. Observe ‘poema’ de um roshi:

“Chuva nevoenta sobre o Monte Lu,

E ondas encapeladas no rio Che.

Se você ainda não esteve lá,

Muitos pesares, por certo, terá;

Mas, uma vez lá e no ‘rumo de casa’,

Como parecem prosaicas todas as

coisas!

Chuva nevoenta sobre o Monte Lu,

E ondas encapeladas no rio Che”.

Uma tentativa de interpretar: Se você ainda não teve o percebimento do Real (iluminação), os sofrimentos da vida continuarão, como para todos que ainda não chegaram lá; mas, se teve o percebimento, não por efeitos de drogas ou outra razão, mas no ‘rumo de casa’, isto é, na intenção de encontrar Deus, como tudo, a partir daí, passa a ter significado profundo se comparado às coisas prosaicas da vida comum. E, depois de iluminado, a mesma chuva, as mesmas ondas, todos os eventos serão os mesmos de sempre, porque o mundo não mudou, mas, para quem chegou, a interpretação do mundo e da vida se transforma radicalmente.

Texto da amiga:

“Na maioria das tradições filosóficas da Índia... o ciclo de morte e renascimento é encarado natural.,, diferem na terminologia com que descrevem o processo e na forma como o interpretam. A maioria das tradições observa o Samsara de forma negativa, uma condição a ser superada”.

Cel: esta ultima frase é a conceituação trazida do misticismo: samsara, ‘o modo de viver a ser superado’, se se desejar livrar-se dos sofrimentos. É a busca da identidade com a realidade absoluta, Deus, pela experiência direta, como ensinava o primitivo cristianismo. (Jesus, em todas suas palavras que não fossem “regras de bem-conviver”, mostrou-se místico).

Texto:

Do livro de Jakob Böhme "O Príncipe dos Filósofos Divinos"[2], o misticismo se define por: o misticismo, em seu mais simples e essencial significado, é um tipo de religião (?!) que enfatiza a atenção imediata da relação direta e íntima com Deus, ou com a consciência da Divina Presença. É a religião em seu mais apurado e intenso estágio de vida. Aquele que alcançou o "segredo" (que busca alcançar o segredo, o mistério, a verdade, como escapar das ilusões, do ego) é chamado um místico. Os antigos cristãos empregavam a palavra "contemplação" para designar a experiência mística.

"O místico é aquele que aspira a uma união pessoal, ou a unidade com o Absoluto, que ele pode chamar de Deus, Cósmico, Mente Universal, Ser Supremo, etc. (Ralph M Lewis, Imperator da AMORC).



“Por exemplo, na escola Advaita de Vedanta hindu, o Samsara é visto como a ignorância do verdadeiro eu, ignorância de que somos Brahman (por isso disse Jesus: “... e a verdade vos libertará”), e a alma é ‘levada a crer’ na realidade do mundo temporal e fenomenal (são só ilusões, mundo do espaço-tempo).

No Vedanta, o samsara tem o mesmo significado em diversas escolas, designando o ciclo da transmigração do atma (alma, espirito) em mundos materiais. Shankara, considerado o fundador das escolas modernas de vedanta, definia o samsara como sendo o caminho atemporal realizado pela alma no mundo de ignorância (mundo ilusório, ou de ilusões). Uma vez que vidya (a sabedoria, a verdade) é alcançada através de jñana (caminho do saber, do conhecer a verdade) o conceito dual e egocêntrico de aham (ilusão de pensar-se um eu separado de Brahman, um ego) e mamata (ego/mente condicionada, localizada, individual) se esvai, o ciclo se extingue e o atma se funde em Brahman (eu e Pai somos um) alcançando moksha (iluminação, nirvana, bem-aventurança).

Shankara afirmava que o karma (desejo, do ego iludido, de realizar atividades materiais) é simplesmente devido à sua ignorância de que é um só com Brahman (“Eu e o Pai somos um”). Contudo, com a destruição do sentimento de aham (mente pessoal, ego, falso ‘eu’), o atma vê que ele “é” Brahman, e o samsara deixa de existir.

No vedanta, e na maioria das tradições hindus baseadas no Vedanta, o ciclo de transmigração da alma, ou samsara, não é feito exclusivamente do passado para o presente, numa temporalidade linear como a concebida pela cosmologia Ocidental. O ciclo pode se deslocar para qualquer posição na espiral do tempo (conforme os sábios e a ciência quântica, tempo e espaço são ilusões, como Einstein afirmou com sua teoria da relatividade), de acordo com as diferentes inferências feitas pelos sábios, isto é, em quaisquer universos da criação material, e em quaisquer tipos de corpos, entre as 8,4 milhões de espécies transmigráveis, podendo haver evolução ontogênica (evolução dos organismos tanto no sentido de melhorar ou de piorar em relação ao meio, como conhecemos) ou filogênica (evolução da espécie no sentido que consideramos o normal, o natural), nos dois sentidos: elevação e degradação; de semi-deus a larva, de planta a ser humano, e vice-versa. (pois não é o ‘eu/ego/mente individual’ q transmigra, mas alma universal – q pode vir a animar qualquer coisa – se manifestar onde existir um cérebro, logo como um virtuoso santo, quanto como um idiota ou um facínora). Assim, as possibilidades de tipos de transmigração são infinitas (pois são apenas ilusões).

Alguns textos clássicos do hinduísmo, explicam como a alma transmigra, de onde, para onde e por que.



Samsara no Budismo Tibetano

(Cel: um alerta: não esquecer que o budismo tibetano é reencarnacionista, e que as religiões têm uma fase exoterica e uma esotérica; na exotérica, a reencarnação é a explicação de porque o homem sofre (mau uso do livre-arbítrio, ações erradas, desejos não concretizados...).

É a perpétua repetição do nascimento e morte, desde o passado até o presente e o futuro, através dos ilusórios reinos: do Inferno (sofrimento)... dos Animais (irracionais)... do Ser humano (animais irracionais) até a Bem-Aventurança (iluminação, “Um com Deus”). A menos que se adquira a perfeita sabedoria (iluminação), não se poderá escapar desta roda da transmigração, ou Roda do Samsara.

Os que se libertaram dessa roda (“... a verdade vos libertará”) são considerados lamas, iluminados, cristos ou budas.



Samsara como metáfora psicológica

À parte da cosmologia e mitologia tradicional de renascimento do corpo físico (veja: não do espírito!): no budismo também pode-se compreender este ensinamento como o ciclo de morte e renascimento da consciência de um mesmo ‘eu’ (continuidade ininterrupta de renascer e morrer, a todo instante, no mesmo corpo físico – Krishnamurti, ciência quantica).

Momentos de distração, de inconsciência de si mesmo, são momentos em que a consciência morre para despertar em seguida em momentos de atenção, compreensão e lucidez. Nesta visão, skandhas (os agregados impuros, imperfeições), são levados adiante para o momento seguinte em que a consciência toma uma nova forma diferente.

O budismo ensina que, por meio de cuidadosa observação da mente (pela meditação), é possivel ver a consciência como sendo uma sequência de ‘momentos’ (intermitentes, sim-não-sim-não da física monista) conscientes e inconscientes, ao invés de um contínuo de auto-consciência. Cada momento é a experiência de um estado mental específico: um pensamento, uma memória, uma sensação, uma percepção. Um estado mental nasce, existe e, sendo impermanente, cessa dando lugar ao próximo estado mental que surgir. Assim a consciência de um ser senciente pode ser entendida como uma série contínua de nascimentos e mortes ‘de estados mentais (não de corpos físicos, ou de desencarnações e reencarnações do espírito). Neste contexto, o renascimento é simplesmente a persistência deste processo (Jesus: “aquele que não nascer de novo, não pode entrar no reino dos céus”, evidentemente significando “aquele que não vier a ter o estado mental de compreender”, o “novo homem”, a ressurreição).

Esta explicação do renascimento como um ciclo de consciência é consistente com os demais conceitos budistas, como anicca (impermanência), dukkha (insatisfação que vem do conjunto de nossas experiências no corpo físico), anatta, ou ego (perda da identificação com Brahaman) e, assim, é possivel entender o conceito de karma como um elo de causas e consequências destes estados mentais.

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Abraços para todos.

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