domingo, 29 de maio de 2011

EGO E ILUSÃO

Ego e ilusão




Nossa identificação com o “ego/eu/mente” e seus conteúdos, é a causa de todos os problemas do mundo.

Quando se consegue ir além dessa ilusão, com a eliminação do ego, todos os males cessam.

Os conteúdos e processos mentais (que estão na mente/eu/ego) vêm do condicionamento trazido pelas tradições, culturas, costumes, sociedade em que vivemos, crenças, religiões, suposições. Todas essas coisas nos enchem a mente de ilusões, que formam um verdadeiro véu que não nos permite uma visão correta da realidade. A identificação com esses conteúdos nos trás a experiência de um ‘eu/ego’ condicionado e ficamos presos às ilusões.

Transcendida essa identificação com o ego, cessam os condicionamentos e, com eles, cessa o ‘eu pessoal’, que nada mais é que um “feixe” de memórias que provocam os conteúdos da consciência com os quais nos identificamos.

Após essa transcendência, pensamentos e emoções ainda passam pela mente, mas não há mais qualquer identificação com eles, e tem-se a experiência a que damos o nome de bem-aventurança porque, não havendo identificação com conteúdos mentais dolorosos (pensamentos e emoções dolorosos), não há mais experiência de sofrimento.

Sem condicionamentos, ficamos livres das identificações com conteúdos inconscientes ou conscientes que destorcem a interpretação da realidade, e a consciência é capaz de uma percepção clara e precisa que, no budismo, chamam de ‘espelho de cristal’, porque reflete fielmente a realidade. Cessam toda a ignorância, sofrimentos, conflitos, problemas.

Por isso o Cristo afirmou: “Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará” e o Buda: “A iluminação é o fim de todos os sofrimentos”.

Não havendo mais identificação, o espelho e aquilo que ele reflete, o sujeito e o objeto, são percebidos como uma coisa só. A consciência, agora, é percebida como sendo aquilo que antes ela observava (Krishnamurti: o observador é a coisa observada), porque percebe-se que o observador ou ego, produto ilusório da identificação, é irreal. O indivíduo se vê como consciência pura em unidade com tudo, idêntico a qualquer outro indivíduo. Vem daí a conhecida afirmação dos místicos de que ‘todos somos um’ (Jesus: “Eu e o Pai somos um”), e não mais surgem pensamentos que possam ferir os ‘outros’. Amor e compaixão são expressões naturais desse estado.

Todos os relatos de experiências dessa espécie deixam bem claro que elas só acontecem quando se vai além dos limites da mente, além do ego condicionado. E como a comunicação entre diferentes estados/níveis de consciência é difícil, as descrições em geral são incompreensíveis na visão do homem comum. Assim, é fácil rejeitar essas experiências sem qualquer análise, considerando-as sem sentido ou patologias, erro cometido por alguns dos mais notáveis profissionais de saúde mental do mundo.

Nesse estado, a pessoa se vê como pura percepção, incondicionada, eterna e, também, experimenta ser tudo o que existe. Nas profundezas da psique humana, cessadas as identificações (que nos limitam) com os conteúdos mentais, isto é, com o ego, a percepção não encontra limites à sua identidade e se percebe como aquilo que está além do espaço e do tempo, aquilo a que a humanidade deu o nome de Deus (‘eu e o Pai somos um’). Por isso, afirmou Bugental: ‘Para mim, Deus é uma palavra usada para indicar nossa subjetividade inefável, o potencial indescritível e inimaginável que está dentro de cada um de nós’.



Palavras de alguns que passaram pela experiencia:

Catarina, mística cristã, séc. XV: “Meu ser é Deus, não por uma simples participação (minha nele), mas por uma transformação autêntica de todo meu ser”.

Hui-Neng, séc. VI, fundador do Zen Budismo: “Nossa própria natureza do ser é Buda (desperto, iluminado, livre do sofrimento) e, fora dessa natureza, não há outro Buda. Só há Um e somos esse Um”.

Ibn al-Arabi, sufista, séc. XII: “Tu és Ele, sem qualquer limitação, se conheceres tua própria existência dessa maneira”. .

Moisés de Leon, cabalista, séc. XIV: “Deus, em sua manifestação suprema, na plenitude de seu ser, é chamado “Eu”.

Padmasambhava, budista, séc. VII: “A única verdade está dentro de nós. Ela é Buda e Buda somos nós”.

Meister Ekhart, monge cristão, séc. XIII: “Percebo que Deus e eu somos um só”.

Monsoor al-Halaj, sufista, séc. X: “Eu sou a verdade”.

Shankara, hindu, séc. VIII: “Não participo da ilusão ‘eu’ e ‘tu’, ‘isto’ e ‘aquilo’. Sou a realidade sem começo e sem fim. Sou Brahman, o primeiro sem segundo, a bem-aventurança sem fim, a verdade eterna e imutável. Resido em todos os seres. Agora, eu sei que sou Tudo”.

E Jesus: “Eu e o meu Pai somos um”.

Santa Catarina de Gênova: ‘O meu eu é Deus e não reconheço outro Eu senão meu Deus’.

São Bernardo: “Se a alma difere de Deus, a alma difere de si mesma”.

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