terça-feira, 13 de dezembro de 2011

QUEM CONHECE DEUS?

Conversa com um amigo.


Renato: Mas, por que Deus já desfruta em Ato a perfeição, e nós somente em Potência?


Cel: amigo, quem conhece aquilo a q damos o nome de Deus, Criador, Absoluto etc etc...? Na verdade, nem podemos imaginar o q seja (somente o imaginamos pelas palavras, sempre estranhas, das religiões, ou por suposições nossas!) e, mesmo assim, lhe conferimos uma série de atributos, sempre baseados nas virtudes humanas elevadas à mais alta potência; e uma série de nomes, meros rótulos q, de modo algum, interpretam o conteúdo! Julgamo-lo perfeito e, na realidade, nem temos idéia do q seja perfeição!... Estamos condicionados ao q as tradições, culturas, religiões, sociedade, imaginações e suposições, nos levam a crer ou imaginar. Aqueles q, como Jesus, conheceram a verdade podem dizer: “eu o Pai somos um”, mas essas palavras não nos trazem a explicaça~do q seja Deus. E ficamos discutindo “o que é Deus”, “quem é Deus”!


Renato: ... Que para nós terá de ser uma conquista futura, diz você... Vejo uma contradição aí, pois, se não existe o passado e o futuro, por que razão nós demandamos tempo para chegar até Deus? Se o tempo não existe, então estamos sempre parados no mesmo lugar? (Em caso de ficar reencarnando sucessivamente).


Cel: amigo, não existe tempo (q Einstein, na teoria da relatividade, já afirmava, pertence ao continuum espaço–tempo–objetos, no qual, um não existindo, os demais não existem). Tempo, nem mesmo em nosso mundo de ilusões, é uma entidade absoluta, pois depende, para existir, dos outros termos do continuum. Para nós, escravos do ego, q nos dá distorcida interpretação do mundo, temos de viver o tempo, como se fosse realidade; nossa mente, condicionada, não tem condições de entender isso! Como dizia Sto Agostinho e místicos, para Deus (logo, no Nirvana) um milhão de anos atrás ou agora são a mesma coisa. Talvez por isso certas passagens dos evangelhos confundem: “antes que Elias fosse, eu sou”, “o que pedirdes a Deus crede q já o tendes recebido”, e outras. Samsara, mundo do espaço-tempo, ilusões, ignorância e conseqüentes sofrimentos; Nirvana, “atemporal”, bem-aventurança...


Renato; A única possibilidade aí seria aceitar que Deus é causa e efeito ao mesmo tempo ou não?


Cel: e como aceitar? Quem tem a fórmula mágica? E, veja, tudo q dissermos sobre Deus será especulação... Muitos crêem q tudo q observamos é efeito de Deus, mas como afirmar isso se Deus é o Desconhecido? Nós mesmos, não temos certeza do q somos; apenas sabemos aquilo q lemos ou ouvimos. Somos, para nós mesmos, uma tremenda interrogação. Pelo q religiões populares ensinam, Deus nem é a causa de todas as coisas, pois para elas, muita coisa é causada pela vontade do homem (aquilo q toma conta do mundo, o mal). Eqto isso, os Ant e Novo Testamentos, afirmam q, Ele é o “criador de todas as coisas”. q “tudo foi feito por Ele, e sem Ele nada foi feito”. Então, para religiões e doutrinas, “tudo” não tem o significado “tudo”; significa “parte”! E durma-se com um barulho desses! A DE, por ex, mudou o sentido de muitas palavras, para poder explicar certas coisas.


Renato: Nas três concepções de Deus, segundo a Vedanta:

Dualistas: Deus e a criação são coisas distintas; Deus é causa, e a criação o efeito.

Não dualistas-qualificados (Espiritualistas): Deus é causa, mas está presente no efeito... tudo são emanações... mas não são Deus.

Não dualismo: Deus é causa e efeito ao mesmo tempo. Os espíritas rejeitam essa tese somente por causa da questão da "perda da individualidade", pois, aqui, teríamos um suposto panteísmo, no qual, tudo e todos, após a morte, retornariam a Deus em forma de Princípio Inteligente, se confundindo com Deus, e perdendo sua individualidade.


Cel: não esquecer q “panteísmo” não passa de filosofia, fruto de lucubrações mentais. E tb não esquecer q os místicos não afirmam q Deus é efeito e causa e efeito e... mas q tudo é ilusão, q não existem efeitos, pois não existem causas.

Pra nós, leigos, é difícil ou impossível compreender, mas esse é seu ensinamento, se bem q muitos nada ensinam; apenas dizem “venha e tenha sua própria experiência!”; assim, qdo visitantes pediram a um roshi (mestre Zen), que lhes explicasse o q era o Zen, ele disse: “Ah, isso?!”, se retirou. Buda, tb, qdo inquirido: “Essas perguntas são irrelevantes!” Jung: “falar sobre a iluminação é impossível!”; Paulo: “... lá vi e ouvi coisas inefáveis!”.


Renato: Não é que as Individualidades se dissipem após a morte, mas a questão pontuada pelos Não-dualistas, é que (LE/32) – (há) apenas uma Existência Única, que nós chamamos Deus, de modo algum os Espíritos perdem a sua individualidade. O que eles podem e devem perder, é a percepção dual, de que há duas coisas no Universo: Deus e criação, e com isto gera-se o problema inexplicável de, como sendo Deus perfeito se explica a existência do mal no mundo?


Cel: a DE afirma isso?! Pela codificação há “três” coisas ou entidades distintas e separadas no universo: Deus, espíritos e matéria. E, para muitos, tão separadas q nem os espíritos procedem de Deus (pois “de Deus nada pode proceder q seja mau, injusto ou sem inteligência”!).


Renato: ... algo está errado, pois estamos voltando à pátria do Espíritos com temores, sofrimentos, dores, e além de sofrer, os Espíritos humanizados ainda permanecem agarrados aos seus afetos, àquilo à que estão apegados. Isto vale para idéias, coisas e pessoas.


Cel: e, pela DE, vêm obrigatoriamente ao mundo material para aqui, q é onde aprendem todas as espécies de imperfeições, aprenderem a viver no mundo espiritual!! Como se entender isso?


Renato: Quando Jesus diz que "Aquele que odeia seu pai e sua mãe não está apto a me seguir", está se referindo à problemática e séria questão dos apegos que temos, e que chamamos, erroneamente, "amor".


Cel: meu amigo, Jesus disse isso? Ou disse: “Aquele q não ‘abandona’ pai e mãe...”, (abandonar é bem diferente de não amar) com isso enfatizando o bem maior q é seguir seus ensinamentos e, eventualmente, encontrar o Reino, coisa q deve ser feita “em primeiro lugar”?

O encontro com a verdade é tão extraordinário, que foi exaltado, por todos os que por ele passaram, como a experiência mais sublime que o ser humano pode ter. Jung, pelos depoimentos de muitos, usou palavras semelhantes, e Jesus a considerou a pérola, o tesouro que quem encontra “vende tudo o que tem”, isto é, desiste de tudo o mais, e “compra aquele campo”. Jesus chegou até a afirmar que, “quem não abandona pai e mãe para segui-lo”, isto é, para buscar essa experiência, “não é digno dela”, com essas palavras fazendo ver que esse tesouro é muito mais importante do que qualquer outra coisa, do que qualquer outro bem, conquista ou posse.

Outros, como Teresa de Ávila, afirmaram que “comparado com essa experiência tudo mais é lixo”; Krishnamurti, que “tudo o mais é fútil e infantil”; e um poema Zen “se você já esteve lá”, isto é, se você já teve a experiência, “como lhe parecem sem importância todas as outras coisas”. Maharish Maharesh, que trouxe a Meditação Transcendental, afirma que, enquanto não temos essa experiência, somos meramente subumanos, e Krishnamurti diz que a vida só tem significado quando chegamos “lá”. Por isso, Jesus aconselhou que devemos “em primeiro lugar” buscar Deus; disse que, conhecida a verdade, de nada mais necessitamos. Vamos perceber, então, que a morte não existe e que não há necessidade de salvação, pois que desde sempre estamos salvos porque “eu e o Pai somos um”.


Renato: Claro que não há nada de mal em curtir, gostar das nossas amizades, nossos amores, mas o problema é esse: nos agarramos em outrem, e criamos nossa identidade a partir da alteridade. Só sabemos quem somos pelo outro, e quando faltar esse outro fazemos o que? Arrumamos outro para substituir, assim como, terminamos com uma namorada, e logo logo, arrumamos outra.


Cel: essa é uma verdade; sempre temos um “buraco”, um vazio em nós mesmos e, não sabendo como preenchê-lo definitivamente, procuramos afetos, entretenimento, fugas, vícios, sexo, fama, dinheiro, religiões etc (os atrativos ilusórios do mundo); mas, como tudo é incerto e impermanente, aquilo q nos preenchia cessa, ou nos cansamos dele, e procuramos outro meio de encher o vazio e, assim, passamos a vida.


Renato: ... o rico pede para que os seus parentes sejam avisados para não levar uma vida como ele levou, e também lhe é negado, dizendo-lhe que "Eles têm a Moisés e os profetas; se não os ouviram, quanto mais a nós",


Cel: essa é mais uma estranheza; quem foi Moisés, senão um líder dos hebreus e q, mesmo suportando a escabrosidade de, sem recurso algum, comandar seu povo por 40 anos, o levou a Canaã? Essa afirmação, de q Moisés está ligado à Primeira Revelação, não tem sentido pois, o q se considerou ser o Deus q lhe deu o decálogo, era apenas um ser poderoso q, pelo seu poder, alta tecnologia e crueldade, trouxe medo e obteve a obediência dos hebreus, para explora-lo, enqto existissem hebreus na face da Terra.


Renato: Quando a gente supera a paixão que sentíamos por aquela pessoa, na verdade superamos um grande mal; este é o amor incondicional!l.


Cel: esse ainda é amor condicional, ou só incondicional relativamente àquela pessoa. O incondicional não tem endereço certo, nem mesmo razões (condições) para q se manifeste.


Renato: É isto que as filosofias dualistas ensinam em termos práticos,


Cel: e ensinam apenas isso, pois se apegaram (e se apegam, ainda) às instruções daqueles líderes (de cujas palavras se convencionaram religiões) cuja primeira necessidade foi a de ordenar e organizar seu povo. Isso ocorreu com Moisés, Jesus, Maomé e muitos outros. O povo hebreu era constituído, como diz o AT, por 600.000 adultos q, após anos de escravidão, fugiam, cansados, nervosos, irritados, broncos, prontos para matar, roubar, mentir, cobiçar bens dos demais. E menos conflitos se tentava conseguir com ordens e ameaças àqueles q não as cumprissem. Assim, por determinação desse “deus”, foram assassinados muitos milhares de hebreus.


Renato: E a questão do tempo? Como fica? Ainda que o tempo seja uma ilusão, se não conseguimos nos livrar desses apegos numa vida, precisamos de outra, e assim sucessivamente.


Cel: esse necessitar de outras vidas é, apenas, a interpretação das doutrinas reencarnacionistas.


Renato: Baseados nessa releitura de O Livro dos Espíritos à luz da Filosofia Vedanta, muita coisa pode ser melhor compreendida, e com isso, pode-se dar um primeiro passo, que é livrar os espíritas dos SENTIMENTOS DE CULPA, cujos apontamentos culposos, encontramos às mancheias em O Céu e o Inferno; livrar o espírita da perniciosa idéia de que ele é um coitadinho que está colhendo o que plantou, e por isso tem que sofrer, ou então, se é feliz, é porque na vida passada foi bonzinho e agora está colhendo os frutos da sua boa semeadura, quando todas as situações vividas pelos Espíritos encarnados não passam de PROVAS. Há um erro de interpretação aí. Como eu disse, as Obras Básicas foram escritas para um público que só tinha condições de entender a coisa a partir dessa linguagem, afinal, não éramos todos católicos antes de nos tornarmos espíritas?


Cel: perfeito, Renato!


Renato: O movimento espírita precisa de uma reforma, mas esta reforma não pode ser feita exteriormente por órgãos como a FEESP e a FEB. Ela tem que ser feita por intelectuais como vocês, que se preocupam com as questões espíritas verdadeiramente relevantes. Ela tem que ser feita pelos intelectuais e estudiosos espíritas que estão buscando e buscando, e não por aqueles que estão acomodados com um corpo doutrinário que oferece apenas uma tábua de salvação.


Cel: mas, será q os espíritas, como o espiritismo q qualquer ou religião, admitirão uma reforma? Observe q, há cem anos, a ciência tem trazido revelações q, nenhuma religião aceitou (pois até agora, não se manifestaram a respeito, talvez pelo receio de terem de modificar premissas básicas).


Renato: Por que não dizer: "Não sou espírita, nem umbandista, sou apenas um BUSCADOR DA VERDADE", e aí, quem sabe, se não podemos beber em várias fontes, e extrair das Obras básicas, apenas os ensinamentos que estão de acordo com as Filosofias Espiritualistas e os mestres de todos os tempos?


Cel: essa é outra verdade; em geral, aquele q segue uma doutrina só tem olhos para ela, esquecendo-se de Paulo: “Estudai de tudo e guardai o q for bom!”, conselho repetido, com mais ênfase, na Codificação (LM, cap 3; item 35).

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