domingo, 26 de junho de 2011

Amigos porq deus criou o homem



Um amigo colocou texto no qual se refere ao porquê dos sofrimentos. Para muitos ou é a ignorancia, ou o mau uso do livre-arbítrio, isto é, se somos maus, orgulhosos, egoístas, viciosos e corruptos sob todos os aspectos, por ignorância nossa ou porque, por nossa livre vontade, desejamos ser maus, egoístas, pervertidos, 0corruptos e viciosos. A doutrina nos adverte que, se praticamos o mal por nossa vontade livre de pratica-lo, a lei denominada de causa e efeito nos alcançará, inevitavelmente, impondo sobre nós penalidades expiatórias que implicam em sofrimentos inomináveis. Outros, inclusive doutrinas, afirmam que a consciência sempre nos alerta, censura e procura nos corrigir.


Então, pergunta-se: se a consciência sempre nos alerta, porque não agimos de acordo com ela? Qual será a razão pela qual não usamos nossa cabeça, nosso raciocínio e discernimento, pois sempre usamos as cabeças dos outros, que tudo já interpretaram de conformidade com seu raciocínio? Porq não pensamos, não questionamos, investigamos, refletimos pois, o que em geral fazemos, é somente aceitar, passivamente, tudo que nos ensinam, pelo fato de confiarmos em suas fontes? A codificação espírita, como o apóstolo dos gentios, sabiamente recomenda estudar os assuntos, pertinentes às nossas dúvidas, à luz de outras doutrinas, mas temos feito isso, temos atendido a essa recomendação?


Vamos a algumas considerações. As consciencias individuais são iguais entre os homens? Aprovam ou censuram seus atos igualmente, de conformidade com os alertas que, hipoteticamente, a mente nos envia?A mente do corrupto, do perverso e pervertido é igual à do honesto, virtuoso, de moral ilibada? Todos sentem, realmente, remorsos pelo que fazem, ou ficam perpetrando novos crimes semelhantes ou mais vantajosos, para a primeira oportunidade? Se podemos escolher entre fazer o bem e fazer o mal, poque escolhemos erradamente se sabemos que fazer o bem nos trará felicidade e que fazer o mal trará infelicidade? Se não sabemos disso, estamos errando por ignorancia. Se sabemos, porque procuraríamos a nossa própria infelicidade?


Contudo, pergunto: nossas escolhas são realmente livres, ou estão totalmente presas às experiências que já tivemos? Pois, observem que sempre decidimos pelo que é mais vantajoso ou benéfico para nós mesmos e/ou para outrem, ou pelo que é mais desvantajoso e maléfico, conforme nossas intenções sejam no sentido do bem ou no sentido do mal. E não escolhemos simplesmente como num jogo de cara-ou-coroa; sempre, antes de fazermos a escolha, analisamos, refletimos, com base naquilo que já conhecemos. Até para uma decisão simples, como a escolha de um lápis, ou para as mais complexas, perigosas e de consequencias incertas, como matar um desafeto, ou declarar uma guerra, planejamos, pesamos as conseqüências e riscos etc, e fazemos tudo isso totalmente ao que já sabemos de acordo com o que a vida já nos ensinou. Portanto, não escolhemos definitivamente livres ou por nós mesmos, mas pelas experiências que já tivemos. Logo, não sendo nossas escolhas livres, como dizer-se que há liberdade de escolha? Devemos refletir a respeito e buscar a resposta mais satisfatória para esta pergunta.


Para não me alongar mais e, dentro da idéia de refletir sobre o tema à luz das diferentes doutrinas, afirmo que a ignorância está, sim, por trás de os nossos atos, pensamentos, imaginação, desejos e medos. Se verdadeiramente não ignorássemos quem somos dentro desse Todo manifestado ou imanifestado; se não ignorássemos as conseqüências de nossos erros, que nos trazem (conforme a DE) reencarnações multiplicadas e dolorosas, recheadas de sofrimentos terríveis e, até mesmo, com eternidades mais alongadas, expiações e castigos; se não ignorássemos como dominar nossos ímpetos de maldade, ódio, ciúmes, inveja, orgulho, egoísmo, não erraríamos, independente de existir ou não essa faculdade de livre-escolha; não existiria ignorância (a única razão de todos e tantos desacertos), nem existiriam todas as mazelas que dela decorrem. Dentro desta colocação, devemos refletir se é a ignorância a causa de todos os erros de todos os homens, sem exceção. Se não é a ignorancia a causa de usarmos de maneira errada a faculdade de livre escolha.


Sempre vemos os homens procedendo desigualmente: uns preferem aceitar provações e outros praticam atos indignos. De que fator decorrem essas desigualdades de procedimentos? Do livre-arbítrio, isto é, da vontade do homem que quer escolher, por vontade própria, ser errado, e trilhar o caminho do mal, ou de seu nível de aprendizado nesta escola, do bem e do mal, que é a vida?


Outro ponto a se refletir: é sequer possível imaginar que um ser presciente, que, portanto, sabe desde sempre, o que cada uma das criaturas planejadas, idealizadas, desenhadas e produzidas por sua infinita sabedoria e perfeição, fará, no futuro, de bom ou de mau, e que, também, sabe o que cada uma, uma a uma, terá que sofrer como conseqüência de seus desacertos, assim mesmo permite que tudo decorra como vemos no mundo?


Pela sua onisciência, já sabe que este terá multiplicadas suas encarnações, muitas com sofrimentos terríveis, e que não se dobrará às leis do amor senão à força de lágrimas e dores e, mesmo assim, o produz?! Porque não refletir sobre isso?


Será que o homem erra, simplesmente porque quer errar, mesmo conhecendo as consequencias dolorosas que virão de seus erros? Erra por sua livre vontade ou porque errar ainda é uma característica de sua natureza? Somos, realmente, nós que nos modelamos o caráter, o discernimento, a compreensão, ou tudo isso é resultante do nível em que estamos nesta escola, do bem e do mal, que é a vida? Não somos, todos nós, cada um, o resultado de todas as causas e efeitos, sem fim, que ocorreram antes de nós? De todas as inumeráveis influencias exercidas sobre nós pelas também inumeráveis experiências/lições pelas quais passamos no dia-a-dia? Somos o que somos, por nossa vontade de sermos o que somos? Ou somos o que somos devido à força das lições que a vida nos ministra a cada instante? Será verdade que alguém é bom, simplesmente, porque quer ser bom? Será verdade que alguém é mau, simplesmente, porque quer ser mau? Ou é a escola da vida que, com todas suas inumeráveis influencias, vinda de suas também inumeráveis lições/experiências, nos faz o que somos? Será que é a escola da vida (as experiências do mundo), que nos coloca no nível de aprendizado em que estamos? Ou estamos nesse nível de ainda errar porque nele queremos ficar? Se acertamos ou erramos conforme tenhamos, nesta escola, aprendido mais ou menos com suas lições, ninguém é responsável ou culpado pelo que faz de errado, pois foi a escola da vida que nos ensinou a agir assim como agimos. Se há um culpado, esse culpado não será a escola, que não permitiu a seu aluno crescer em compreensão e discernimento?


Mais um ponto a refletir: se o Criador prevê o que faremos sempre, é evidente que deixou que o fizéssemos; mas, e a lei que prevê penalidades expiatórias e impõe locais de castigos? Se o Criador nos criou com conhecimento de que suas criaturas apresentariam, no futuro, tremendos defeitos e que trariam aos semelhantes dores e lágrimas, porque elaboraria leis punitivas? Não seria como aquele que sabe que seu filho explorará o semelhante, matará, praticará toda sorte de desgraças e tragédias e, assim mesmo, lhe dá liberdade para fazer tudo isso e, depois, o pune por ter feito tudo isso?! Pois, o Pai sabe, desde sempre, que seremos, embora idealizados por um Criador perfeito, tremendamente imperfeitos. E, mais interessante, se o Criador prevê o que acontecerá com cada um, como sua previsão poderá se modificar, no futuro, e por Ele mesmo? Ou o Criador terá sido surpreendido pelos defeitos de suas criaturas e, a partir daí, iniciasse um procedimento punitivo-corretivo? Este pensamento se harmoniza com a concepção que se faz sobre os atributos de Deus? O supremo amor, justiça, e onisciencia criaria filhos fadados à imperfeição e, depois, os pune por serem imperfeitos? Sabe, desde sempre, o que acontecerá pela imperfeição que possuem, concede liberdade para que aconteça e, depois que aconteceu o que sempre soube que ia acontecer, pune ou permite sofrimentos terríveis para aquele que, desde sempre, sabia que praticaria crimes e absurdos! Onde estariam a sabedoria suprema, a presciência, o poder supremo, os infinitos amor e justiça? Não precisamos refletir sobre estas coisas à luz dos ensinamentos doutrinários? Ou, preconceituosos, nos negamos a questionar, a investigar, a comparar, escolher e tentar compreender?


Abraços.










SEXO - AMOR - ASCETISMO





Amigos,


Apenas lembro, aqui, duas coisas: uma acerca da energia sexual e do poder do amor; outra, acerca do ascetismo.


- a energia sexual é, em nosso mundo, uma das mais poderosas forças; isso foi reconhecido, inclusive, por sábios autores de livros bíblicos pois, após a criação, a primeira recomendação atribuída ao Criador de todas as coisas foi: “crescei e multiplicai-vos”.


Certamente, mais poderoso do que essa força, é o sentimento de amor, tão enaltecido por Jesus e Paulo, como a mais excelsa das virtudes.


Não me refiro a esse sentimento de amor/afeto, amizade, admiração, respeito, cumplicidade, identificação, dependência, atração, necessidade; refiro-me ao amor/Amor, só encontrado naqueles que conheceram a verdade que liberta de todas as amarras e dependências que nos prendem à vida e ao mundo. Esse é, na verdade, o verdadeiro amor, o genuíno, que não necessita da análise das conseqüências ou das condições para se tornar ação; não necessita de vontade ou esforço; é espontâneo e natural. Esse é o verdadeiro amor, sentimento ainda desconhecido pelo mundo, e que torna, quem o possui e o manifesta, rico de felicidade, mesmo que lhe custe sofrimentos ou a perda da vida. Como dizem os que o experimentaram, com a cessação das ilusões com que interpretamos a vida e, a ela e a seus atrativos nos prendemos, desperta-lhes, ao perceberem a realidade de sua verdadeira identidade, um amor quase insuportável pelos semelhantes. Compreendem, então, que estes necessitam de conhecer aquela verdade que eles já conhecem e, muitos, por toda vida, até que a morte lhes cerre os lábios, tentam apontar o caminho que eles mesmos já trilharam.






- quanto ao ascetismo, sua interpretação necessita, em face do que foi colocado pelo amigo Moura, ser repensada. O verdadeiro asceta é aquele que, depois de observar a totalidade da vida, o mundo e o sofrimento dos homens; depois de perceber que ciências, psicologias, filosofias e crenças não têm a solução para o sofrimento, tenta encontra-la, não através de dores provocadas em si mesmo, desprezando o corpo como coisa inútil, mas buscando-a dentro dele mesmo. É, portanto, a busca, não do sofrimento físico, com alguns entendem, mas da libertação e do fim da incerteza e da ignorância.


Buscam, investigam, comparam, questionam a vida em todos seus níveis, dos miseráveis sofredores, humanos ou não, aos poderosos aparentemente envoltos em felicidade; dos efeitos das tragédias naturais, à desditas produzidas pelo homem; e, compreendendo, afinal, que o fim dos sofrimentos não é oferecido, senão de modo efêmero, nem pela saúde, nem pela riqueza, pelo poder e prestígio, pelas alegrias, aventuras, desejos e ideais concretizados, honestidade, satisfação de necessidades de qualquer natureza, vícios e sexo, nem em afetos de toda espécie, ou pela pratica de sacrifícios por amor ao próximo, mergulham neles mesmos, ensimesmando e meditando.


Esse trabalho, eventualmente, os leva a ver que a solução está aqui mesmo, junto a todos, como uma imensidade que tudo permeia e que, incessantemente, a todos chama. Percebe-a, mas ela lhe escapa, pela perturbação nascida dos movimentos da vida, dos ruídos das cidades, das atenções dos semelhantes, dos toques do telefone, do barulho dos motores, do alarido. Então, como um ladrão ambicioso, que sabe que atrás da parede a sua frente, está aquele tesouro que, mesmo inconscientemente, sempre desejou, e na impossibilidade de derrubá-la, se desespera, fere as mãos nas tentativas infrutíferas, mas não desiste: a solução para todos os problemas do mundo está ali, ele já sabe, bem perto dele.


Então se aparta do movimento e dos ruídos, da confusão e se isola na busca do silêncio e da tranqüilidade, onde está a estreita porta para a luz. Eventualmente e, como o corisco que, inopinadamente, corta o céu, lhe vem a libertação de todas as algemas e, como disse Jesus, com o amor que daí nasce, cobre a multidão dos pecados. Assim, outro sábio se referiu a essa empresa, afirmando: “cada homem que se liberta, elimina o ódio de milhões”. Aquilo que, de início, para alguns desavisados se afigurara nada mais que egoísmo, se transforma em doação total ao mundo, verdadeira ascese do espírito.






REGRAS PARA A SALVAÇÃO - REGRAS PARA BEM-CONVIVER

AS RELIGIÕES POPULARES NÃO ENSINAM “REGRAS DE SALVAÇÃO”.



As religiões mais nos enchem de ilusões, dúvidas e, sobretudo, esperanças em coisas que nem temos certeza de que, um dia, vão acontecer. O que ocorre é que, pela nossa ignorância, incapacidade de pesquisar, “necessidade” de sermos acalentados pelas esperanças (ilusórias) de um futuro melhor que o presente, e por condicionamentos a nós impostos, desde que viemos à existência, pelas tradições, culturas, costumes, crenças, religiões, sociedade e suposições, facilmente passamos a crer nas promessas das religiões. Chegamos até a acreditar que, pelo fato de alguma coisa ter sido considerada verdade por muito tempo, séculos ou milênios, por isso seja mesmo verdade.


As religiões dão-nos esperanças de recompensas, nos dão medos e remorsos pelos erros que fizemos, sentimentos de culpa e medo de penalidades, sofrimentos e preocupações. É certo que suas regras objetivavam trazer um mais harmonioso relacionamento entre as já tão sofridas criaturas divinas. Veja o Decálogo: não matar, não roubar, não cobiçar o que seja do próximo, não desonrar, não dar falso testemunho, não adulterar. Observem que aí nada tem que signifique “regra para a salvação”. Quanto aos dois primeiros mandamentos são inócuos, pois apenas visavam a que se respeitasse aquele ser poderoso que o homem tão somente “imaginava” o que poderia ser. E não só que se respeitasse, mas que se temesse, como ainda hoje ocorre com tantas ameaças que as religiões, não só as ocidentais, apregoam.


Vejam o que todos os líderes, depois tidos por criadores de religiões, tiveram que fazer inicialmente: organizar e trazer tranqüilidade ao povo. Esse é o exemplo de Moisés, liderando uma fuga pelo deserto, e durante quarenta anos, de, fora as crianças, 600 mil pessoas, rebeldes, sofridas, desorganizadas, indisciplinadas, prontas para matar, roubar, cobiçar etc. Como esse povo o obedeceria, quando não tinha nem mesmo qualquer recurso para comunicar suas ordens, para se fazer obedecido? Um povo cansado e em fuga de muitos anos de escravidão no Egito! Somente despertando-lhe medo, o que fez apresentando-lhe um “Deus poderoso e cruel, impaciente, nervoso, orgulhoso e parcial”, com ordens que, se negligenciadas, resultariam castigos terríveis e assustadores, como ocorreu tantas vezes.


Observem e verão que, ainda hoje, aquele medo persiste. Essa a razão de confissões e comunhões, promessas, sacrifícios, auto-flagelações, forçar a própria natureza para perdoar, para agir com amor ao próximo, penitências, orações etc. Como não podemos deixar de perceber, é o medo que está por trás de tudo isso; medo de não estar protegido, de não agradar ou de ofender a divindade; de não cumprir os mandamentos de sua crença e vir a ser, em conseqüência, sentenciado a penalidades torturantes e cruéis muitas vezes denominadas educativas.


E o medo dos ancestrais ainda hoje está em nós. E a crença de que agradando os “deuses” seremos favorecidos, também. Quanta coisa o homem faz para agradar e, assim, conseguir o favor de Deus? O sacrifício nas diferentes promessas de fazer ou não fazer isto ou aquilo; o sacrifício do próprio corpo no jejum, subindo escadarias, caminhando longos percursos de joelhos; rezas e orações, serviços e atos forçados de caridade ao próximo, imitação dos exemplos dos mestres, obediência aos mandamentos e a regras éticas de sua crença pessoal etc.


Quantas vezes a natureza do indivíduo ainda não tem condições de amar, mas ele a força, pois acredita que deve seguir os conselhos da doutrina religiosa que abraça e, assim, poderá conseguir um futuro recompensador. Por isso os sábios dizem que, enquanto não se “conhecer a verdade que liberta”, como disse Jesus, todas as virtudes são ou prematuras, imitações, forçadas ou falsas. O homem, muito do que faz quando parece virtuoso, o faz por receio da desaprovação de Deus. A expressão comum “sou temente a Deus” é significativa.


As lições de Jesus, em geral, tinham o mesmo objetivo: uma vida menos sofrida alicerçada no fato de todos se respeitarem, pela obediência àquelas imposições dos mandamentos. Quando esse Mestre disse “perdoai, não sete vezes, mas...”, “... dali não sairás até que tenhas pago o último ceitil...”, “... serás atirado ao fogo da geena...”, “... teu credor te levará ao juiz...”, “oferece a outra face”, “perdoai e abençoais os vossos inimigos”, observem que tudo visava a um relacionamento mais harmonioso com vistas a suavizar a vida daqueles homens já sujeitos a tantas infelicidades, sobretudo em tempos em que os poderosos eram a lei. Como no decálogo, nas palavras de Jesus não há qualquer “regra de salvação” mas, sim, “regras de bem conviver”.


Isso é a religião, sobretudo a religião popular, organizada: leva os homens a melhor se conduzirem e se respeitarem, sobretudo por temerem as conseqüências, tantas vezes inenarráveis, de seus “erros”. Por isso, sérios pesquisadores do cristianismo primitivo afirmaram que “‘pelo cristianismo de hoje, ninguém chega a Deus”, que “a igreja cristã falhou, por estar fazendo a humanidade ocidental caminhar contra um muro, sem conseguir dar um passo na direção do Criador”.


Por isso, também, os mestres chegam a afirmar que “as religiões populares impedem o acesso à verdade”, que “aquele que se liga a religiões organizadas é imaturo; está, ainda, no jardim da infância e dificilmente chegará à graduação universitária”. As religiões visam trazer ordem e tranqüilidade, mas não levam a Deus.


As lições que se destinam ao buscador de Deus, felizmente, ao menos algumas, foram preservadas nas escrituras, mesmo depois de séculos de alterações introduzidas, que lhe suprimiram textos e acrescentaram conceitos à conveniencia dos poderosos. Essa lições estão nas palavras de Jesus, como: “Buscai, em primeiro lugar, o reino de...”, “... a verdade vos libertará”, “não direis: ei-lo aqui, ou ei-lo acolá, pois o reino de Deus está dentro de vós”, em muitas parábolas, como a daquele que, encontrando um tesouro num campo, se desfez de tudo para possuir aquele campo, na afirmação de que aquele que não abandona pai e mãe não é digno de segui-lo, na história do jovem que desejava, primeiro, enterrar seu pai, nas parábolas das virgens insensatas, do servo que, atento, aguardava a chegada do patrão... Nas afirmações de Paulo: “Vós sois o templo do Altíssimo”, “o Senhor habita em vossos corações”, “É o Senhor que opera em nós o pensar e o fazer”, “Não sois salvos por vossas obras, mas pela graça de Deus”, “Deus não faz acepção de pessoas...” e em outras passagens. Aqui sim, estão as “regras para a salvação”; as outras, anteriormente vistas, são apenas “regras para bem conviver”, como são os mandamentos apresentados por Moisés.


Atentem para isso.






RELIGIÇAO OU CETICISMO? HÁ UMA TERCEIRA ALTERNATIVA?

Religião ou ceticismo? Há uma terceira alternativa?




Vejam amigos, inegavelmente, o mundo e a vida são mais cheios de sofrimentos, confusão e conflitos do que de alegrias, felicidades e harmonia.

Todas as perguntas referentes ao porquê da vida e de todos os seus problemas e sofrimentos, invariavelmente caem nas respostas da religião ou dos céticos: para os primeiros, todo os males e sofrimentos se devem à desobediência do homem, a criatura, às leis de Deus, o criador, e não há o que fazer senão levar o homem, em geral pelo sofrimento, a repensar seus erros e a obedecer às leis de Deus. Para os céticos, os males e sofrimentos, ou as alegrias e a felicidade, se devem ao acaso, ao “tudo é assim porque é assim”, e não há o que fazer, senão esperar pelo progresso da ciência para tentar minimizar os sofrimentos.

Essa é a condição em que vive o ser humano.

Contudo, para certas mentes mais abertas, há uma terceira alternativa: Freud afirmou que o sofrimento é inevitável e que a solução é tentar derrotá-lo pelo que a ciência oferece. No entanto, há outra solução: alterar os processos da consciência comum e buscar o “estado de Cristo ou de Buda”, isto é, aniquilar o “ego” e fazer resplandecer o “Eu”. Este acaba com todos os sofrimentos, sejam quais forem e é atingido principalmente pela meditação e, uma vez alcançado, extingue os demais estados - ignorância, medo, ansiedade, depressão, orgulho, egoísmo, ciúme, inveja, violência etc - que são os causadores de todos os sofrimentos do mundo.

O estado de Cristo ou Buda possui uma coerência de ordem mais elevada do que tudo que é oferecido por qualquer ramo da psicologia ocidental. A psicologia oriental ensina, e os ocidentais, hoje, estão compreendendo, com apoio nas descobertas da física quântica que, pela meditação, esse estado pode ser atingido por “todos”.

Nos últimos anos ficou comprovado que as suposições ocidentais, acerca de quem e do que somos e do que podemos vir a ser, estavam erradas. É que nós não conhecíamos o extraordinário potencial para o bem-estar e para o crescimento psicológico extremo, que o ser humano possui.

Como muitas dessas novas descobertas não são aceitas pela psicologia ocidental, surgiu a psicologia “transpessoal”, com apoio, principalmente, na física quântica e na sabedoria das tradições místicas. Seus interesses incluem pesquisas sobre estados transpessoais de consciência, isto é, consciência além do ego; consciência cósmica, bem-aventurança, êxtase, experiência mística, caminhos espirituais, compaixão, percepção e práticas de meditação. É transpessoal porque leva a experiências que estão além da identidade e da personalidade do “ego”. Esse potencial pode ser alcançado pela meditação e até, mas muitíssimo raramente, por maneira espontânea.

A psicoterapia e a psicologia do Ocidente só eram dirigidas à cura de doenças da psique, nunca com muito sucesso, e ao enaltecimento do ego; nunca à saúde ou ao crescimento do ser pela ampliação da consciência.

Aqui, no Ocidente, não era aceita a existência de estados alterados de consciência, estados verdadeiramente superiores ao nosso estado de consciência ordinário ou comum. Esses estados, alterados ou superiores, muitas vezes trazem expansão da consciência para além das fronteiras do ego e do espaço e tempo. Comuns na tradição oriental, eram considerados, pelos cientistas ocidentais, como regressões patológicas e mesmo doença mental.

Utilizando psicodélicos (que causam embrutecimento mental), e práticas de meditação, muitas pessoas começaram a viver experiências extraordinariamente poderosas de estados não comuns de consciência, que iam além das experiências do dia-a-dia ou de qualquer conhecimento da psicologia do Ocidente. Isso incluía experiências que, pela história, só ocorreram, rara e espontaneamente, em indivíduos que haviam dedicado a vida a disciplinas meditativas ou religiosas, como os místicos e os chamados ‘santos’.

Aquilo que, durante séculos, os ocidentais julgaram ser superstições, mentiras ou patologias, tornou-se, sem sombra de dúvida, verdadeiro e, sempre, o acontecimento mais importante na vida de grande número de pessoas. Assim, Jung afirmou: “é a mais importante e sublime experiência do ser humano” e ainda: “O fato, que tenho comprovado numerosas vezes, em meu consultório, é que a experiência mística é a verdadeira terapia e, na medida em que as pessoas passam por essa experiência, elas se afastam da maldição da patologia”. Assim, quanto mais próximos estamos de “sentir” Deus, mais longe nós estamos das doenças do corpo e da mente.

Anteriormente, entre os ocidentais, e quase sempre por meio de procedimentos equivocados, a meditação era praticada com o objetivo de se eliminar o estresse e trazer um pouco mais de calma ante os normais eventos perturbadores de nossa tranqüilidade, que ocorrem no dia-a-dia da vida. Hoje, em face de revelações trazidas ao Ocidente e vindas de tradições orientais milenares e, atualmente, apoiadas pela nova ciência – a física quântica – compreende-se que a meditação pode levar àqueles estados superiores de consciência que, eventualmente, podem permitir acesso à dimensão divina.

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Se és assim... estão és um Homem.

SE – (“If...”, de Rudyard Kipling)



Se conservas a calma quando em volta de ti

Estão todos a perdê-la e, por isso, a te culparem;

Se crês em ti mesmo quando de ti todos duvidam,

Mas lhes és tolerante por duvidarem assim;

Se esperas e não ficas cansado de esperar,

Ou, sendo caluniado, calúnias não dizem teus lábios,

Ou, sendo odiado, não cedes à senda dessas feras,

Sem pareceres o bom, nem falares como o sábio;



Se sonhas – e não fazes dos sonhos o teu mestre;

Se pensas – e não fazes dos pensamentos tua mira;

Se quando te encontras com o triunfo e o desastre,

Esses dois impostores tratas de igual maneira;

Se suportas ouvir a verdade que dissestes

Pervertida por patifes que armam ardis aos idiotas,

Ou observar desfeita as coisas pelas quais a vida destes,

E abaixas e as reconstróis com ferramentas gastas;



Se fazes uma pilha de todos os teus sucessos

E os arriscas num lance de cara ou coroa,

E perdes e partes outra vez do começo,

E nunca murmuras nada sobre o que te se esboroa;

Se forças teus tendões e coração e nervos

A servirem ao teu lance quando exaustos estão,

E então persistes quando em ti nada há de enlevo

Exceto a Vontade de dizer-lhes: “Persistam”;



Se conversas com corjas e conservas tua virtude,

Ou caminhas com reis – mantendo o senso comum;

Se nem amado amigo, nem inimigo te ofende;

Se todos contam contigo, mas em excesso nenhum;

Se preenches o minuto para o qual não há perdão

Com os sessenta segundos do plano que traçastes,

Tua é a terra e todas as coisas que nela estão,

E – ainda mais – és um Homem; meu filho!

quarta-feira, 22 de junho de 2011

QUANDO CHEGARÁ AQUELE DIA GLORIOSO?

Amigos, resposta a uma amiga.




Pergunta:

"Porq é q “será glorioso o dia em que passemos a amar verdadeiramente”?”

Resp: veja, o amor verdadeiro, q não mede conseqüências, incondicional portanto, só desperta qdo o ego é eliminado, e isso significa que passamos a perceber quem verdadeiramente somos, isto é, “eu e o Pai somos um”. Isso é a “iluminação”, é “encontrar” o reino de Deus (q está sempre em nós, mas o ego impede de perceber). Como disse o Buda: “é o fim de todos os sofrimentos”, e o Cristo: “tudo o mais virá por acréscimo” e outros “é o fim da ignorancia, a felicidade absoluta, a bem-aventurança"; esse não é um instante glorioso? Isso é o q chamamos de “salvação”.

Perg:

“Qdo saberemos? Será qdo chegar o dia de conhecer a verdade? A verdade que nos fará tirar o véu do ego?”

R: só saberemos qdo acontecer. Como diz o evangelho: “ao soar da última trombeta”, ou “como o relampago que corre do leste para o oeste”: conhecer a verdade, encontrar o Reino, eliminar o ego, são expressões que significam a mesma coisa.

Perg:

“E pq a uns o véu do ego (o não querer abrir os olhos) é forte? E pq a outros o véu está caindo? e pq outros o véu já caiu?”

R: tudo se deve “àquela” poderosa força irresistível, q tudo arrasta; por ele, o homem se desencanta do mundo de ilusões e parte em busca de algo verdadeiro, real e duradouro; assim, uns nada compreendem ainda, outros estão compreendendo e outros já compreendem.

Perg:

“Isso é em razão da experiência passada de cada um?”

R: experiência passada em razão desse movimento.

Perg:

“Se Deus opera em nós, e somos apenas testemunhas, pq deixa Deus que um filho dele mate/calunie/judie o outro?

R: veja, minha amiga, o q vou dizer poderá parecer absurdo: nós, desde q nascemos, somos condicionados, pelas religiões, cultura, tradições, sociedade etc, a crer numa coisa chamada “justiça divina” mas nunca nos ensinam (porq desconhecem) q nosso mundo é maya, um mundo de ilusões, irreal; assim sofremos e fazemos outros sofrerem pq desconhecemos a verdade; apenas isso. Tudo isso, está “dentro” daquilo a q damos o nome de Deus: belo e feio, bondade e maldade, bem e mau, eu e não-eu, espírito e matéria, mente e corpo, vida e morte etc. Contudo, como esses, todos demais opostos, só existem no mundo de maya. Além do espaço-tempo, além do ego, nenhum oposto existe: tudo é um; essa é a percepção que vem naquele dia “glorioso”.

Perg:

“Há lei da ação e reação? Quer dizer que todos nós já matamos/caluniamos/roubamos um dia? Que hoje a nossa conduta se pautada no não roubar/matar/desejar mulher de outrem é pq já fizemos isso antes e agora temos o conhecimento de que não é o melhor caminho? A única responsabilidade é de Deus, por ter nos feito simples e ignorantes? Se se somos perfeitos, somos simples e ignorantes? Perfeição pra quem?”

R: há lei de ação e reação apenas no mundo dos opostos, das ilusões; além deste mundo “tudo é Um”. Do mesmo modo, ignorancia e sabedoria, perfeição e imperfeição, honestidade e desonestidade, são apenas opostos e pertencem ao mundo do ego.

Perg:

“Se tudo é/advém da vontade de Deus, jamais na Terra acontecerá em que todos se amarão... Quer dizer que de nada adianta nosso esforço em querer melhorar? Pq eu iria me comportar de acordo com as normas de conduta dos mandamentos cristãos ou buscar as normas de salvação?”.

R: enqto existirem egos dificilmente haverá amor, pois são eles q nos fazem não confiar no mundo ao nosso redor e desconfiança é antônimo de amor.

E qdo vc se esforça ou busca a “salvação”, não é pq vc quis fazer assim; sempre é aquela “força” q a está levando a fazer assim. Não temos livre-arbítrio, nem os pensamentos são nossos. Os mestres dizem: “aquele q pensa q escolhe á imaturo. Está no jardim da infância e dificilmente chegará à graduação universitária”.

Perg:

“Repito, somos "marionetes" na mãos do nosso Pai?”

R: nossas mãos, olhos, pés são marionetes nossas? Ou são complementação/funções (termos não apropriados) nossas? Podemos dizer q somos “complementação” de Deus, q nossos olhos e ouvidos são os olhos e ouvidos de Deus. Reflita sobre o “experimento das duas fendas” (está na Internet) e poderá compreender.

Perg:

“Não vejo muita graça nesse pai bondoso, onipresente, imensamente justo, misericordioso...”

R: vc não está vendo “graça” somente devido ao ego. “Quando o ego é anulado, Deus se manifesta!”; e vc perceberá q tudo é perfeito e felicidade.

Perg:

“Se alguém quiser ser o primerio, seja o último de todos e servo de todos".

R:‘Não te sentes no primeiro lugar... aquele que se exalta será humilhado.’ (orgulho, arrogância, presunção, são sinais daquele que ainda não chegou lá; a humildade verdadeira vem da percepção do divino). ‘Os últimos serão os primeiros... ’ (porque estes já estão compreendendo a verdade; assim, tornam-se mais humildes e se colocam no último lugar; estão mais próximos da percepção do sagrado...). ‘... aquele que quiser tornar-se grande entre vós, se faça vosso servo... ’ (idem)”.

Perg:

"Mas Livra-nos do mal”.

R: “Que perdoemos sempre os nossos devedores (pois as ações que fazemos, como as que eles fazem, não são nossas; nada escolhemos, pois “É o Senhor que opera em nós o pensar e o fazer”). Que não caiamos na tentação de praticar atos errados, dos quais mais tarde nos arrependamos (e, por isso, soframos remorsos); e saibamos, pois, livrar-nos da prática do mal e, por experiência própria, que o reino divino de poder e glória já é nosso desde todo o sempre”.

A libertação do mal só vem da destruição do ego; não somos, nem os demais, culpados por praticá-lo ou mesmo por senti-lo pois, com a destrução do ego, só o sentiremos em nós se quisermos.

Abraços.

domingo, 12 de junho de 2011

TODOS NÓS SOMOS 'UM SÓ'

Amigos, muitos reagem à afirmação dos místicos de que ‘todos somos um’. Jesus mesmo disse ‘Eu e o Pai somos um’. Para leitura e reflexão de todos, coloco abaixo algumas palavras sobre o assunto e relacionados.


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CORPUS HERMETICUM.

A obra ‘Corpus Hermeticum’, um dos exemplos mais impressionantes de apelo à não-localização (ao transcendental, ao que está além do ‘eu’), que data de pelo menos dois mil anos, diz: “A não ser que te faças igual a Deus, não poderás entendê-lo, pois o semelhante não é inteligível senão pelo semelhante. Cresce até atingires grandeza além da medida; de um salto (a instantaneidade produzida pela meditação; a criatividade do salto quântico?) liberta-te do corpo (dos condicionamentos; do ego); ergue-te acima do tempo (penetra no atemporal, na não-localização), torna-te a Eternidade; então perceberás e entenderás Deus. Acredita que nada é impossível (as infinitas possibilidades de Maharish) para ti; pensa-te imortal e capaz de tudo compreender, imaginando estares em toda parte, na terra, no céu, na água, no não nascido, adolescente, velho, morto, além da morte. Se abraçares de uma só vez, em teu pensamento, tudo isso, isto é, tempos, lugares, coisas, substâncias, qualidades, quantidades, poderás entender e “ser” Deus”.

O autor dessas palavras nos leva para além de eventos singulares, para todos os eventos; além do aqui, para toda parte; além do agora, para todo tempo, à eternidade; além do ego, para a unidade com Deus. E afirma que devemos destruir nossa concepção de uma realidade localizada (o ego) se queremos conhecer Deus. Isso não significa usurpar o poder divino, como alguns pensam e, assim, julgam blasfemas tais palavras. Para o autor de ‘Hermeticum’, tornar-se igual a Deus é impossível, porque é impossível vir a ser o que já se é. Além disso, quando se percebe que o “eu” individual não existe, que é ilusão (uma falácia, como dizem Wilber, os místicos e a ciência quântica), percebe-se, também, que não há quem esteja fazendo a usurpação.



EINSTEIN E O EU

Einstein afirmava, com ênfase, a importância de acabar com a servidão ao eu pessoal, a importância de acabar com o sentimento de um eu localizado (no cérebro), numa filosofia decididamente oriental: “O verdadeiro valor de um ser humano é determinado basicamente pela proporção e pelo sentido em que ele se libertou do eu/ego”.



ENTRE EM VOCÊ MESMO

Teresa de Ávila, santa e doutora teologal da Igreja Católica, às noviças:

“... É insensatez querermos entrar no reino de Deus sem primeiro entrarmos em nós mesmas, porque é dentro de nós que Deus está e só ali é que vamos encontrá-lo e compreendê-lo. Entrai, entrai em vós mesmas, filhas minhas!”

Por dizer coisas como esta, por pouco não foi condenada, pela Igreja, à morte pelo fogo.



TEILHARD DE CHARDIN, cientista, filósofo, teólogo e sacerdote da Igreja Católica Romana afirma enfaticamente em várias de suas obras o que vai abaixo. Esta citação é de seu livro ‘O Fenômeno Humano’:

“Todos nós, todos os seres humanos e todos os animais, compartilhamos a mesma consciência”.

Por afirmações como essa foi proibido, pelo Vaticano, de expor qualquer pensamento seu até o dia de sua morte.

(Todo o misticismo e, atualmente, a ciência mais avançada do mundo asseguram a mesma coisa).



SCHRÖDINGER e BOHM, dois dos mais notáveis cientistas da física quântica:

É notável a semelhança de concepções entre Bohm e Schröndiger, pois este afirma, em perfeito acordo com aquele, que, “todos os dias, ela, a mãe terra, nos engole milhares e milhares de vezes, assim como nos faz nascer, não uma vez, mas milhares e milhares de vezes. Pois, eternamente e sempre, há apenas o agora, aquele mesmo agora; o presente é a única coisa que não tem fim”. As teorias destes físicos sobre a “unicidade da consciência” fazem parte de uma tradição dentro da física moderna que inclui, como vimos, alguns dos mais aclamados cientistas de nosso tempo. Suas teorias dão apoio à idéia de uma mente não-localizada (a mente que está em todo lugar, universal, portanto), não “confinada em cérebros e corpos”, infinita e imortal, aquilo a que as religiões dão o nome de Deus.



A MENTE É DEUS

CARL G. JUNG:

“O atentar para a Mente intemporal é tarefa redentora para todas as pessoas. Em nosso tempo, essa tarefa é particularmente difícil porque colocamos, no dia-a-dia, nossa ênfase no aqui-agora, no fazer, no consumir, nos aspectos práticos, no progresso material. Como valorizamos o aspecto material, estamos separados dela. O resultado é patológico: tornamo-nos vítimas de nossos próprios impulsos inconscientes e o mundo ‘demonizou-se’. Nossa verdadeira tarefa de vida é exatamente o contrário: tornarmo-nos conscientes dos conteúdos que emergem do inconsciente, criar cada vez mais consciência; esse o objetivo único da existência humana:... acender uma luz na escuridão do ser”.

“Seguramente, a alma não é algo insignificante (como as religiões ocidentais a consideram); ela é a própria Divindade radiante”.



A NOVA VISÃO DA CIÊNCIA

UM CIENTISTA QUÂNTICO:

“Se concordarmos com as implicações da moderna visão do universo dada pela mais bem arquitetada ciência de nosso mundo, a física quântica, talvez possamos confirmar as percepções dos visionários e místicos, a visão de que todos nós somos eternos, infinitos e Um”.



NADA É SEPARADO OU INDEPENDENTE

NM, um buscador da verdade:

“Desejo e medo vêm da visão do mundo como separado de mim mesmo. Assim como você pensa ser, do mesmo modo você pensa que o mundo é. Se você se imagina separado do mundo, o mundo aparecerá como separado de você, cheio de atrativos e de ameaças, e você experimentará desejo e medo. Eu não vejo o mundo como separado de mim e assim não há nada para eu desejar ou para temer. Eu e o mundo somos um”.



NOSSA GRANDE ILUSÃO

PYR VILAYAT, antropólogo:

“Nossa grande limitação é supor que somos indivíduos, que somos seres e mentes separadas; isso não é verdade: somos um só.



O INCONSCIENTE COLETIVO E A MENTE

CARL G. JUNG:

“O inconsciente coletivo apresenta as características da mente não-localizada (mente fora o espaço-tempo, no atemporal, isto é, a mente una, cósmica, universal, Deus); não pode ser fixado no espaço e no tempo, e transcende o ego individual, envolvendo “todas” as mentes”.

“O inconsciente tem o seu próprio tempo à medida que passado, presente e futuro, juntos, combinam-se nele”.

“Uma vez que todas as distinções, diferenças, desaparecem na condição inconsciente, é lógico que a “distinção entre mentes separadas deve desaparecer” também”.



OS OLHOS E OS OUVIDOS DE DEUS

FEEMAN DYSON, físico:

“Não há uma distinção clara entre mente (nossa mente humana) e Deus (mente universal). Deus é o que a mente se torna quando ultrapassa a escala da compreensão (quando vai além do ego, além de seus condicionamentos). Somos as principais vias da manifestação de Deus”.

(Somos os olhos e ouvidos de Deus; Deus percebe o universo por nossos olhos e ouvidos, por todos nossos sentidos objetivos).



PERCEBA-O E ESTARÁ SALVO

NM, um sábio buscador da verdade:

"Este que vê o tudo e também vê o nada, é o mestre interior (aquilo a que damos o nome de Eu, Eu superior, Deus). Só ele é; todo o restante “parece ser”. Ele é seu próprio ser, sua esperança e segurança de liberdade: encontre-o e una-se a ele (isto é, perceba-o) e você estará a salvo e seguro”.



SOMOS IMORTAIS

SCHRÖDINGER, um dos formuladores da física quântica:

“... Olhando e pensando dessa maneira, talvez você possa ver, num lampejo, a impossibilidade de que essa unidade de conhecimento, sentimento e vontade que você chama de “eu”, tenha nascido num dado momento há não muito tempo atrás; ao contrário, esse conhecimento, sentimento e vontade são eternos e imutáveis em essência, sendo um, em termos numéricos, em todos os homens ou, ainda mais, em todos os seres dotados de sentidos. Mas, isso tudo, não no sentido de que você seja uma parte, uma peça de um ser infinito e eterno, ou um aspecto (ou fagulha, ou prolongamento) ou modificação dele. Não! Conquanto pareça inconcebível à razão comum, você, e todos os outros seres conscientes, são tudo em tudo. Portanto, sua vida não é apenas uma peça da existência total, mas, em certo sentido,é a existência total, é o todo; só que esse todo não é constituído de forma que possa ser examinado num único relance... Assim, você pode atirar-se ao chão, estender-se sobre a Mãe Terra, com a convicção de ser um com ela e ela com você. Você está tão solidamente estabelecido, e tão invulnerável quanto ela - na verdade, mil vezes mais. Tão certo quanto ela irá engolfá-lo amanhã, ela fará com que nasça de novo para lutar e sofrer. E não só “algum dia”: agora, hoje, todos os dias ela o faz nascer, não uma só vez, mas milhares de vezes, assim como todos os dias o engolfa milhares de vezes. Pois, eternamente e sempre, há apenas o agora, aquele mesmo eterno agora, (pois) o presente é a única coisa que não tem fim”.



A ALMA E DEUS: Somos Um só.

MEISTER ECKHART, místico cristão, condenado pela Igreja à morte pelo fogo por afirmar que nós somos o próprio Deus, a própria divindade:

“A essência de Deus e a essência da alma são uma só e a mesma coisa. O conhecedor e o conhecido são um só. Os ingênuos imaginam poder ver Deus como se Ele estivesse ‘lá’ e nós ‘aqui’. Não é assim. Deus e nós somos um”.

(Como Jesus afirmou: ‘Eu e o Pai somos um’, e Krishnamurti: ‘O observador é a coisa observada’; todo o misticismo tem essa mesma concepção: ‘nós somos o todo’; hoje, até mesmo a física quântica tem essa mesma visão: ‘há uma só mente e nós somos essa mente’).



SOMOS UMA SÓ CONSCIÊNCIA

TEILHARD DE CHARDIN, cientista, filósofo, teólogo e sacerdote da Igreja Católica Romana afirma enfaticamente em várias de suas obras o que vai abaixo. Esta citação é de seu livro ‘O Fenômeno Humano’:

“Todos nós, todos os seres humanos e todos os animais, compartilhamos a mesma consciência”.

Por afirmações como essa foi proibido, pelo Vaticano, de publicar qualquer pensamento ou concepção sua até o dia de sua morte.



UMA ILUSÃO COLETIVA

SCHRÖDINGER, sem qualquer dúvida, um dos mais notáveis arquitetos da física moderna. Foi ele que, com suas famosas equações de onda, formou a base da mecânica quântica:

“A consciência da raça humana forma uma unidade e é imortal no tempo e infinita no espaço. O mundo, particularmente o ocidental, sofre de uma grande ilusão coletiva: a suposição de que a mente e a consciência são pessoais e individuais. ‘Nós nos acostumamos a pensar na personalidade de um ser humano como estando localizada no interior de seu corpo. Descobrir que ela realmente não pode ser encontrada ali é tão surpreendente que tal idéia esbarra na dúvida e na hesitação, e muito relutamos em admiti-la. Estamos acostumados a localizar a personalidade consciente de uma pessoa, eu diria, três a cinco centímetros atrás do ponto médio entre os olhos. É muito difícil para nós compreendermos o fato de que a localização da personalidade, da mente consciente, dentro do corpo, é apenas simbólica, e só um apoio para uso prático”.



NADA É SEPARADO OU INDEPENDENTE

NM, um buscador da verdade:

“Desejo e medo vêm da visão do mundo como separado de mim mesmo. Assim como você pensa ser, do mesmo modo você pensa que o mundo é. Se você se imagina separado do mundo, o mundo aparecerá como separado de você, cheio de atrativos e de ameaças, e você experimentará desejo e medo. Eu não vejo o mundo como separado de mim e assim não há nada para eu desejar ou para temer, pois eu e o mundo somos um”.



SOMOS TODOS UM

TEILHARD DE CHARDIN, místico, cientista e padre católico, condenado, pelo Vaticano, para sempre ao silêncio por dizer coisas como estas:

“Para que os homens de toda a Terra aprendam a se amar uns aos outros, não basta que saibam que pertencem a uma mesma coisa; devem adquirir a consciência, não de que pertencem, mas de que todos somos tão somente uma e a mesma coisa um só ser. Assim, devemos abrir os olhos para a natureza imortal e onipresente e para a Mente Una que somos, para a realidade de que tudo e todos somos apenas Um”.



PLOTINO, místico;

“Cada ser contém em si mesmo todo o universo. Portanto, Tudo está em toda parte. Cada um é Tudo e Tudo é cada um”.

“A libertação só pode ser alcançada pela percepção da “identidade do espírito individual”, eu, com o Espírito Universal (‘Eu e o Pai somos um’). Por mais nada. Nem pela pratica de cerimônias religiosas, nem por associar-se a qualquer religião (Krishnamurti: ‘Os cerimoniais e as religiões impedem o acesso à Verdade’).

Não se cura a doença pela repetição do nome do medicamento, mas tomando o medicamento. Assim, não se atinge a libertação repetindo a palavra Brahaman, mas vivenciando Brahaman diretamente”.



“Não tem nome nem forma, transcende mérito e demérito, bem e mal, saúde e doença; está alem do tempo, do espaço e dos objetos de nossa experiência. Supremo e indizível ainda assim Brahman pode ser apreendido pelo olho que ‘vê’. Assim é Brahman e ‘tu és Isto’. Medita nessa verdade dentro de tua consciência’.



KABIR:

“Contempla só Um em todas as coisas; a segunda é que te extravia”.



TANTA CATARINA DE GÊNOVA

“O meu eu é Deus e não reconheço outro Eu senão meu Deus”.



SÃO BERNARDO

“Se a alma difere de Deus, a alma difere de si mesma”.



ECKHART

“Para compreender a alma temos que compreendê-la como Deus, pois o fundamento (a essência) de Deus e o fundamento (a essência) da alma são uma só coisa”.

“O conhecedor, o conhecido e o conhecimento são uma coisa só. As pessoas simples imaginam que Deus está lá e elas aqui. Não é assim. Deus e eu somos um só no conhecimento”.



PAULO

“Eu vivo, mas não sou eu quem vive; é o Cristo que vive em mim”.



MEHER BABA

“Quem sou eu?” é a eterna pergunta do homem. Essa busca de auto-compreensão, do significado último da personalidade, vem sendo respondida ao longo da história de várias maneiras, todas apontando para uma experiência na qual o buscador e o objeto de sua busca se fundem na percepção: “Eu sou Deus; não existe outro”.

“Existe uma só pergunta: “Quem sou eu?” e, para essa pergunta só existe uma resposta: “Eu sou Deus!” E quando você conhecer a resposta a essa pergunta, não há mais nada a perguntar (‘...a verdade vos libertará’). O problema é que as pessoas não sabem quem realmente são: “Você é o infinito, você está de fato em toda parte; mas você acha que é o corpo, os sentidos, a memória e, por isso, se acha limitado. Se você olhar para dentro de seu íntimo e vivenciar sua própria alma em sua verdadeira natureza, você perceberá que é infinito e eterno e que está além de toda criação”.



“Tu és Ele”, eis a verdade eterna. ‘Tu és Isto’, ‘Eu sou Aquilo’, ‘Eu sou Ele’, ‘Não conheço nenhum Deus senão meu próprio Eu’, ‘Conhece-te a ti mesmo e serás Deus’, eis as verdades que todos os antigos mistérios ensinavam e que, as religiões q vieram depois, se esqueceram de ensinar. Assim, também, ‘Eu e o Pai somos Um’.



SCHROENDIGER

“Por mais inconcebível que pareça à razão comum, ao nosso modo de conhecer ordinário, dualístico, isto é, nós ‘aqui’, e o que conhecemos, ‘lá’, separado de nós, nós e todos os seres conscientes somos tudo em tudo. Daí que a vida que estamos vivendo, não seja apenas um fragmento da existência inteira, mas, em certo sentido, é o Todo (a vida total)... Assim, podemos atirar-nos ao chão, estender-nos sobre a Mãe Terra, com a convicção absoluta de estarmos em comunhão com ela e ela conosco. Estamos firmemente estabelecidos e somos tão invulneráveis como ela; na verdade, mil vezes mais firmes e mais invulneráveis. Tão certo quanto ela nos engolirá amanhã, trar-nos-á outras vezes novas lutas e novos sofrimentos. E não somente ‘algum dia’. Agora, hoje, todos os dias, ela nos traz à vida, não uma só vez, mas milhares e milhares de vezes, exatamente como nos engole, todos os dias, milhares e milhares de vezes”.



FÍSICOS QUANTICOS

O dualismo (isto é, divisão) primário (a percepção de eu e não-eu, eu e mundo, sujeito e objeto), mostrou-se insustentável pela opinião da própria autoridade da física. Bronowski: ‘A relatividade deriva da análise filosófica que insiste em que não há um fato e um observador, mas uma junção dos dois numa observação; que o evento e o observador são inseparáveis’. E Schroedinger, pai da mecânica quântica: ‘O sujeito e o objeto são apenas um. Não se pode dizer que a barreira entre eles caiu como resultado das recentes descobertas da ciência; essa barreira nunca existiu’.

Pelas descobertas da moderna física quântica, os novos físicos tiveram de abandonar o dualismo ilusório de sujeito e objeto, onda e partícula, mente e corpo, espírito e matéria e, com ajuda de Einstein, o de espaço e tempo, energia e matéria, espaço e objetos. A nova física provou que tudo isso é ilusão. Como as costas e a frente são apenas modos diferentes de ver um mesmo homem, nenhum modo sendo mais real do que o outro, assim sujeito e objeto, psique e corpo físico, energia e matéria, são apenas modos diferentes de ver a mesma realidade (a mesma manifestação de energia, ou de Deus).



RAMANA

“A suposição de que o Vedor é diferente do Visto está na mente. Para os sábios, o Vedor é o Visto”. O que é visto é aquele mesmo que está vendo (é aquilo a que as religiões dão o nome de Deus; Deus é tudo).

“Somos, apenas, máscaras de Deus; estamos todos num mega-drama cujo único ator é Deus. Nós somos, todos nós, os sentidos, as mãos, os pés, olhos e ouvidos da Divindade... “



KEN WILBER

“Deste modo, aquilo em nós que, neste momento, vê esta página e o ambiente em torno dela, é a Divindade, a Mente, Brahman, Deus e, por isso, não pode ser visto nem conhecido como objeto, nem encontrado quando o procuramos. O que quer que eu veja, pense, perceba, sinta ou saiba acerca de meu ‘eu’, é um emaranhado de objetos percebidos, o ego. O visto é o ego; o que está realizando o ato de ver é o Eu, a Mente, Deus. Nós nos identificamos, erradamente, com o que pode ser visto ou percebido, o ego, e, portanto, já não nos identificamos com toda a manifestação fenomênica, pois estamos ilusoriamente separados de tudo o que parece ser o ‘não-eu’. Separados, assim, do meio-ambiente, este passa a ser uma ameaça”.



HUANG PO, o mestre de Rinzai

“Não existe nada a ser atingido. Sempre te identificaste com o Buddha (ou Cristo, ou Deus); portanto, nunca poderás atingir essa identificação por meio de quaisquer práticas. Se, neste momento, pudesses convencer-te disso, estarias iluminado. É difícil compreender esta afirmação? É para te ensinar a não buscares o estado de Buddha, pois toda busca se destina ao fracasso”. (já que o somos, a tentativa de buscá-lo é absurda. Temos apenas de buscar a percepção da verdade, dessa verdade. Disse Jesus: ‘Buscai em primeiro lugar o reino de Deus...’, e ‘Conhecereis a verdade e verdade vos libertará).



RAMANA

“Não há alcançar o Eu. Se o Eu devesse ser alcançado, significaria que o Eu não está aqui agora. Por isso digo que não se alcança o Eu. Você é o Eu; você já é Aquilo”.

“A suposição de que o Vedor é diferente do Visto está na mente. Para os sábios, o Vedor é o Visto. O que é visto é aquele mesmo que está vendo”.



KEN WILBER

“Aquilo que você procura e não pode encontrar é VOCÊ mesmo. O motivo porque a Mente não pode ser encontrada é porque é Ela que está realizando o ato de procurar. Quando isso é profundamente compreendido, atinge-se o fim da busca, e nada mais há a ser buscado (‘Buscai em primeiro lugar o reino de Deus, que o demais vos virá por acréscimo’). Quando isso acontece, nossa identidade se une com tudo o que é experimentado. Não há mais um experimentador separado de objetos experimentados separados; há somente experimentação não-dual. Então, quando olhamos para dentro (de nós mesmos) à procura do eu-Percebedor encontramos o universo inteiro (como disse Jacob Boeme), que não é mais um objeto ameaçador lá fora, e percebemos que Ele é quem está procurando”.

“Somos apenas, máscaras de Deus; estamos todos num mega-drama cujo único ator é Deus. Nós somos, todos nós, os sentidos, as mãos, os pés, olhos e ouvidos da Divindade...”



ZEN

“A realidade final reside bem no centro da existência diária’. Ramana: ‘A idéia de que o observador é diferente do observado está na mente. Para aqueles que estão na Subjetividade Absoluta, o observador é o observado’. Em suma, a Subjetividade Absoluta se acha em comunhão (pois é o próprio) com seu universo de conhecimento, de modo que nós somos aquilo que observamos” (Krishnamurti: ‘observador é a coisa observada’).



KEN WILBER

“Aquilo em nós que vê, ouve, tem e exercita a vontade e o fazer e o querer, é Deus em nós. E a Bíblia afirma: ‘O Senhor é quem opera em nós o pensar, o querer e o fazer’, ou melhor, aquilo em nós que está realizando o ato de ler esta página é a própria Divindade; somos os olhos com que Deus vê o universo”.



RAMANA

”O Eu, a Mente, a pura Consciência, tem conhecimento de tudo, é o Vedor Final. Tudo o mais: ego, mente, corpo etc. são simplesmente seus objetos; cada um deles é um objeto exteriorizado e não pode ser o verdadeiro Vedor. O Eu não pode ser objetivado, nem ser conhecido por qualquer outra coisa, e já que o Eu é o Vedor que vê tudo o mais, a relação sujeito-objeto, a aparente subjetividade do eu, só existe no plano da relatividade, no espaço-tempo, e se desvanece no atemporal, no Absoluto. Não há outro senão o Eu” (nada mais além de Deus).



CATARINA, mística cristã, séc. XV: “Meu ser é Deus, não por uma simples participação (minha nele), mas por uma transformação autêntica de todo meu ser”.



HUI-NENG, séc. VI, fundador do Zen Budismo: “Nossa própria natureza do ser é Buda (desperto, iluminado, livre do sofrimento) e, fora dessa natureza, não há outro Buda”. (isto é, só há Um e somos esse Um).



IBN AL-ARABI, sufista, séc. XII: “Tu és Ele, sem qualquer limitação, se conheceres tua própria existência dessa maneira”. (Novamente, o ‘Conhece-te a ti mesmo’).



MOISÉS DE LEON, cabalista, séc. XIV: “Deus, em sua manifestação suprema, na plenitude de seu ser, é chamado “Eu”. (Bíblia: “Eu sou aquele que sou“).



PADMASMBHAVA, budista, séc. VII: “A única verdade está dentro de nós”.



MEISTER EKHART, místico cristão, monge, séc. XIII: “Percebo que Deus e eu somos um só”.



MONSOR AL-HALAJ, sufista, séc. X: “Eu sou a verdade”.



SHANKARA, hindu, séc. VIII: “Não participo da ilusão ‘eu’ e ‘tu’, ‘isto’ e ‘aquilo’. Sou a realidade sem começo e sem fim. Sou Brahman, o primeiro sem segundo, a bem-aventurança sem fim, a verdade eterna e imutável. Resido em todos os seres. Agora, eu sei que sou Tudo”.



E JESUS: “Eu e o meu Pai somos um”.

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Ciao.

sábado, 11 de junho de 2011

Introdução. de Carl G Jung ao livro 'Introdução ao Zen', de Suzuki

PREFÁCIO, de C.G. Jung ao livro ‘Introdução ao Zen’, de Suzuki.

Tentar explicar o satori é inútil. Para alguns é a percepção da verdadeira natureza do ser; o consciente livra-se da ilusória (falsa) idéia de um ‘eu’ que tem existência própria e separada no tempo e que temos de defender contra os demais ‘eus’. Essa ilusão referente à natureza do ser é a confusão que todos fazem do ‘ego’ com o ‘ser’. Ser é a consciência total, absoluta, cósmica, o Cristo, o Buda, o reino dos céus, Deus. O ego é apenas um feixe de lembranças, ilusões, expectativas e interpretações erradas das coisas do mundo.

Quando pensamos que há algo de bom em nós, isso vem da ilusão de que possuímos alguma coisa, de que possuímos bondade, de que somos bons, mas, isso é sinal de imperfeição e insensatez. Fôssemos nós conscientes da verdade, saberíamos que não somos bons, que o bem não vem de nós. Por isso, o iluminado diz:

‘Que pobre tolo eu era! Estava na ilusão de que eu era isto ou aquilo: agora vejo que isto ou aquilo é Deus’.

O satori é uma ruptura da consciência condicionada, apenas limitada ao ego, repleta de ilusões, impurezas, de todo lixo mental ali depositado pelos costumes, tradições, culturas, suposições e crenças durante toda nossa vida. O satori faz com que a consciência adquira a forma de consciência ilimitada, infinita, de não-eu, não-ego, pura como é o ser. Jesus diz no seu sermão: ‘Bem-aventurados os pobres de espírito’, isto é, aqueles que perderam seu ego, sua ‘personalidade’, pois, agora, têm ‘a’ de Deus. Por isso, bem-aventurados. O satori é o reconhecimento de nossa face original, o homem antes de ser criatura, o reconhecimento, a percepção da verdade de que ‘eu sou’.

Exceto alguns místicos ocidentais, parece, numa visão superficial, que, no Ocidente, nada há que possa ser comparado ao satori. Da prática (da meditação) surge um novo estado de consciência que não é influenciado pelas coisas externas. Daí brota uma consciência vazia, pura, que permanece aberta a outra influência. Essa influência não será mais sentida como a própria atividade da mente, do ego, do ‘eu’, e sim como o trabalho do não-ego, do ser absoluto, que tem a consciência como seu objeto. É como se o ego fosse invadido por um sujeito (a Subjetividade Absoluta, Deus) que tivesse tomado o seu lugar, o seu controle. Como disse Paulo,

‘Não sou mais eu que vivo, mas o Cristo é que vive em mim. ’

Quando isso ocorre, aparece em cena um homem completamente transformado, um homem ‘renascido’, um ‘novo homem’.

O Zen difere de todas as outras práticas de meditação em virtude do ‘koan’ que rejeita qualquer resposta lógica. O próprio Buda é rejeitado por ser apenas uma imagem, um símbolo, um rótulo. Nada deve interferir a não ser o que realmente está lá, isto é, o homem com suas completas, mas inconscientes, suposições, ilusões, crenças, condicionamentos, dos quais, por ser inconsciente, não pode se libertar.

Na experiência maravilhosa da iluminação, a resposta parece surgir do vácuo como ‘da superfície do lago, salta, repentinamente, um peixe’. O inconsciente é a soma de todos os fatores psíquicos que estão fora da percepção consciente. Ele representa a totalidade de onde a consciência, aos poucos, arranca fragmentos. Caso a consciência seja esvaziada de todos seus conteúdos, cairá num estado de inconsciência total (um vazio, no qual, se se perseverar, nasce um estado indizível e ilimitado de consciência). Isso é obtido no Zen como regra, porque a energia do ser consciente é, pela prática, retirada dos conteúdos mentais (que sempre a iludem e onde sempre está) e se transfere para uma concepção de vazio. Aí, a concepção de imagens, pensamentos, ilusões, cessa e poderá vir a se produzir a tensão máxima que permitirá a final eclosão dos conteúdos inconscientes no consciente.

Os conteúdos mentais que afloram não são, em absoluto, inespecíficos. A experiência psiquiátrica com a loucura mostra que existem relações peculiares entre os conteúdos do inconsciente e as imagens e delírios que afloram ao consciente. São as mesmas relações que existem entre os sonhos e a consciência comum em todos os homens ditos ‘normais’. Ali está um ‘quarto de despejo’, de segredos inconfessáveis semi-esquecidos. O inconsciente é a matriz de todas as concepções metafísicas, mitológicas e filosóficas, de todas as idéias acerca da vida que estão baseadas em premissas psicológicas (suposições, crenças). Cada invasão do consciente no inconsciente é uma resposta a uma condição definida do consciente, e esta resposta vem da totalidade das idéias-possibilidades que estão armazenadas no inconsciente. A divisão em unidades, a fragmentação dessa totalidade, é produzida pela consciência localizada (a consciência individual, condicionada), pois essa é sua natureza.

A reação conseqüente ao satori sempre tem um caráter total, pois reflete uma natureza que não foi dividida por qualquer consciência discriminativa; é, agora, uma consciência indivisa, integral, absoluta. Por isso seu efeito é avassalador. É uma resposta inesperada, total e completamente esclarecedora desde o momento em que o consciente se encontra num beco sem saída, em que não encontra resposta alguma para suas perguntas mais profundas.

Quando, após dura prática e enérgica destruição da compreensão racional, lógica, o devoto Zen recebe uma resposta da natureza - a única resposta verdadeira -, tudo que foi dito sobre o satori poderá ser compreendido. Cada um verá, por si mesmo, que são a simplicidade e a naturalidade da resposta que chocam; que envolvemos a verdade simples e pura, com a construção, sobre e em torno dela, de uma vasta estrutura de suposições, ilusões e crenças que, agora, são destruídas totalmente.

Embora o valor imenso do Zen para a compreensão do processo religioso transformador, sua prática entre os ocidentais é muito problemática. No Ocidente não existe uma educação mental (cultural) para o Zen. Quem, dentre os ocidentais, confiará nas atitudes incompreensíveis de um roshi (mestre zen)? Isso só é encontrado no Oriente. Quem poderá crer numa transformação ilimitada da mente humana e está disposto, para isso, a sacrificar anos de vida no trabalho da busca? No Ocidente houve quem se submetesse a tudo isso para alcançar o satori, mas se mantém em silêncio, não por timidez, mas por saber que é inútil qualquer tentativa de transmitir a experiência aos outros (‘coisas inefáveis’, como disse Paulo).

Em nossa civilização ocidental nada há que incentive essas aspirações, nem mesmo a igreja cristã, que se julga a única guardiã dos valores religiosos. O único movimento dentro da civilização ocidental que tem, ou deveria ter, algum entendimento dessas tentativas é a psicoterapia. Não é por acaso que um psicoterapeuta está escrevendo este prefácio.

O psicoterapeuta, seriamente interessado no resultado de sua terapia, não pode ficar insensível quando vê o objetivo do método oriental de cura psíquica. Seu objetivo é ‘reconstruir o todo’ em face da fragmentação produzida pelo consciente racional. No Ocidente, nessa luta de cerca de dois mil anos, foram desenvolvidos métodos e doutrinas que simplesmente obscurecem as tentativas dos ocidentais a esse respeito. Nossas tentativas têm, com poucas exceções, descambado para a magia e cultos dos mistérios, entre os quais, forçosamente, está o Cristianismo. A igreja, com seus dogmas e fantasias, embaraçou seus fiéis num mundo de crenças sem nexo e imagens confusas. Não é a boa intenção, a imitação da vida dos ‘santos’, nem as acrobacias intelectuais (raciocínio, imaginação), que conduzem à reconstrução do todo (e, sim, a cessação do ego).

Se o homem for escravo de sua crença quase biológica, sempre tentará reduzir o que observa a algo banal, trazendo suas experiências até a um denominador racional que só agrada indivíduos que se satisfazem com ilusões. Se o psicoterapeuta reflete um pouco a esse respeito, poderá entender como são vazias, sem importância e contrárias à vida, todas as reduções racionalísticas que versam sobre algo que está vivo e em desenvolvimento. E poderá ter idéia do que significa ‘abrir as portas pelas quais alguém poderá escapar satisfeito e completo’ (João da Cruz?). (Jesus: ‘... tudo mais virá por acréscimo’ e ‘Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará’).

Não quero dar conselhos, mas, quando os ocidentais começam a falar do Zen, considero meu dever mostrar onde está a entrada para o caminho que conduz ao satori. E quais as dificuldades que juncam esse caminho, somente trilhado por uns poucos grandes homens, que são como faróis, numa alta montanha, brilhando do enevoado futuro.

Para uma experiência completa não há nada mais barato que o Todo. Para isso é preciso uma expansão indefinida da consciência. Não existem condições fáceis, nem substitutivos. O Zen mostra quanto significa, para o Oriente, o ‘tornar-se integral’, o tornar-se um Todo, uma mente só, indivisa.

A preocupação com os enigmas do Zen pode, ou fazer o ocidental sem força de vontade desistir, ou dar-lhe óculos para sua miopia, de modo que, através da escuridão, possa ter, ao menos, um vislumbre do mundo da experiência mística. O Zen não tem complicadas técnicas como as da yoga, que dão ao ocidental, falsas esperanças de que a luz pode ser conquistada pelo ato de sentar e respirar. Ao contrário, exige inteligência e força de vontade, como o exigem todas as grandes coisas que desejamos tornar reais.

ZEN - TEORIA E PRÁTICA DA MEDITAÇÃO

O QUE É O ZEN?

Vejam que não é nada daquilo que podemos imaginar.

O Zen não é decididamente um sistema fundado na lógica e na análise. É algo antípoda da lógica e do modo dualístico de pensar. Pode haver um elemento intelectual no Zen, pois ele é a mente total onde encontramos muitas grandes coisas. Mas a mente não é um composto, que deva ser dividido em tantas faculdades, nada deixando após a dissecação.O Zen nada tem a ensinar, no que diz respeito à análise intelectual, nem impõe qualquer conjunto de doutrinas aos seus seguidores. A esse respeito, o Zen é caótico, se assim o quiserem chamar. Seus adeptos podem formular conjuntos de doutrinas, formulando-os porém por sua conta e para benefício próprio, e não do Zen. Portanto, não há, no Zen, livros sagrados ou assertivas dogmáticas, nem qualquer fórmula simbólica através da qual se obtenha um acesso à sua significação. Se me perguntassem o que ensina o Zen, responderia que ele nada ensina. Qualquer ensinamento que exista no Zen vem mediante nossa própria mente. Ensinamo-nos a nós mesmos. O Zen meramente aponta o caminho. A menos que consideremos este apontar como um ensinamento, nada há no Zen propositadamente estabelecido como doutrinas cardeais ou filosofia fundamental.


MENTE DE PRINCIPIANTE

O Zen sustenta ser budista, mas todos os ensinamentos budistas, do modo por que são propostos nos sutras e sastras, são tratados pelo Zen como mero papel, cuja utilidade consiste em limpar o lixo do intelecto, e nada mais. O Zen, entretanto, não é niilista. Todo niilismo é autodestrutivo, não termina em lugar nenhum. O negativismo é puro como um método, mas a verdade mais alta é uma afirmação. Quando se diz que o Zen não tem filosofia, que nega toda autoridade doutrinária, que põe de lado toda a literatura sagrada como inútil, não se pode esquecer que o Zen está sustentando, com essa negativa, algo completamente positivo e eternamente afirmativo. Isto se tornará claro à medida que prosseguirmos.

As pessoas dizem que é difícil praticar Zen, mas há um mal-entendido quanto ao "porquê". Não é difícil porque seja árduo sentar-se de pernas cruzadas ou atingir a iluminação. É difícil porque é árduo manter a mente pura ou a prática pura em seu sentido fundamental. A escola Zen desenvolveu-se de muitas maneiras depois de estabelecida na China mas, ao mesmo tempo, tornou-se cada vez mais impura. Contudo, não é sobre o Zen chinês ou sobre a história do Zen que eu quero falar. O que me interessa é ajudar você a manter sua prática livre da impureza.

No Japão, dispomos do termo shoshin, que significa "mente de principiante". O objetivo da prática é conservar nossa "mente de principiante". Suponhamos que você recite o Prajna Paramita Sutra uma só vez. Poderia ser uma boa recitação. Mas o que lhe acontecerá se o recitar duas, três, quatro ou mais vezes? Você poderia facilmente perder sua atitude original em relação a ele. O mesmo acontecerá com suas outras práticas Zen. Por algum tempo você manterá sua mente de principiante, porém, se continuar a prática um, dois, três anos ou mais, embora você possa melhorar em alguns aspectos, é possível que perca o sentido ilimitado da "mente original".

Para os estudantes do Zen, o mais importante é não serem dualistas. Nossa 'mente original" inclui em si todas as coisas. Ela é sempre rica e auto-suficiente. Você não deve perder esse estado mental auto-suficiente. Isto não significa uma mente fechada e sim, na verdade, uma mente vazia e alerta. Se sua mente está vazia, está pronta para qualquer coisa; ela está aberta a tudo. Há muitas possibilidades na mente do principiante, mas poucas na do perito.

Se você discrimina demais, você se limita. Se é exigente ou ambicioso em excesso, sua mente não é rica nem auto-suficiente. Se nossa mente perder sua auto-suficiência original, todos os preceitos se perderão. Quando sua mente se torna exigente, quando você anseia por algo, você acaba por violar os preceitos: não mentir não roubar; não matar, não ser imoral e assim por diante. Se você conservar sua mente original, os preceitos se manterão por si próprios.

Na mente do principiante não há pensamentos do tipo "eu alcancei algo". Todos os pensamentos egocentrados limitam a vastidão da mente. Quando não alimentamos pensamento nenhum de conquista, nem pensamentos egocentrados, somos verdadeiros principiantes e podemos então aprender alguma coisa de fato. A mente do principiante é mente de compaixão. Quando nossa mente é compassiva, torna-se ilimitada. O mestre Dogen, fundador da nossa escola, sempre enfatizou a importância de preservar nossa mente original ilimitada. Com ela somos verdadeiros conosco, estamos em comunhão com todos os seres e podemos, de fato, praticar.

Assim, a coisa mais importante é manter sua "mente de principiante". Não há necessidade de ter uma profunda compreensão do Zen. Mesmo que você leia muita literatura Zen, deve ler cada frase com uma mente virgem. Nunca deve dizer: "Eu sei o que é Zen' ou "eu atingi a iluminação". O real segredo das artes também é esse: ser sempre um principiante. Seja muito cuidadoso nesta questão. Se começar a praticar zazen, você começará a valorizar sua mente de principiante. Este é o segredo da prática do Zen.


O QUE A PRÁTICA NÃO É

Muitas pessoas praticam e têm sólidas concepções do que a prática é. O que desejo expor (de meu ponto de vista) é o que a prática não é.

Em primeiro lugar, ela não diz respeito a causar mudanças psicológicas. Se praticarmos com inteligência, a mudança psicológica será causada; não estou questionando isto que, aliás, é algo maravilhoso. Estou dizendo que a prática não é efetuada com o objetivo de originar tal alteração.

A prática não é para conhecer intelectualmente a natureza física da realidade, saber do que consiste o universo, ou como funciona. E, repetindo, numa prática séria, nossa tendência é ter algum conhecimento desses assuntos. Mas isso não é a prática.

A prática não é atingir algum estado de graça. Não é ter visões. Não é ver luzes brancas (ou róseas ou azuladas). Todas essas coisas podem ocorrer e, se sentarmos durante tempo suficiente, talvez elas aconteçam mesmo. Porém isto não é a prática.

A prática não é ter ou cultivar poderes especiais. Há muitos deles, e todos nós já os possuímos, naturalmente. Algumas pessoas os têm numa proporção extraordinária. No ZCLA (Zen Center de Los Angeles), às vezes, eu tinha a útil capacidade de ver aquilo que estava sendo servido como jantar a duas portas de distância. Se era alguma coisa que eu não apreciava, eu não ia. Essas aptidões são pequenas excentricidades e, novamente, não constituem a verdadeira prática.

A prática não implica poder pessoal ou jôriki, a força que é desenvolvida após anos de prática do sentar. Outra vez repito, o jõriki é uma decorrência natural do zazen. E, insisto, esse não é o caminho.

A prática não é para ter sentimentos agradáveis, felizes. Não é para se sentir bem, em vez de mal. Não é uma tentativa de ser ou de sentir qualquer coisa especial. O produto ou a finalidade da prática, ou aquilo a que ela se refere, não é ser/estar sempre calmo ou controlado. Mais uma vez, nossa tendência é nos tornarmos assim após muitos anos de prática, no entanto essa não é a questão.

A prática não se relaciona a algum estado corporal de saúde absoluta, de proteção total contra qualquer tipo de doença grave. Sentar costuma produzir resultados benéficos na saúde de muitas pessoas, embora durante a prática possam escoar meses ou mesmo anos de desastres com a saúde. Mais uma vez, a busca da saúde perfeita não é o caminho; embora, sem sombra de dúvida, com o tempo, haverá um efeito benéfico na saúde da maioria das pessoas. Não há qualquer garantia nesse sentido!

A prática não significa alcançar um estado de onisciência no qual a pessoa conhece tudo de tudo, estado em que a pessoa é uma autoridade a respeito de todo e qualquer problema secular. Pode até haver uma certa clareza relativa a respeito de algumas questões, mas as pessoas esclarecidas também são conhecidas por dizer e fazer tolices. Outra vez, a onisciência não é a questão.

A prática não quer dizer ser "espiritual", pelo menos não como esta palavra costuma ser entendida e empregada. Ela não é para ser coisa alguma. Portanto, a menos que tenhamos clara nossa não-intenção de ser "espirituais", essa meta pode tornar-se sedutora e prejudicial.


A prática não envolve salientar todas as espécies de "boas" qualidades e livrar-se das supostas "más". Ninguém é "bom" ou "mau". A luta para ser bom não é a prática. Esse tipo de treino é uma forma sutil de atletismo.

Poderíamos, de modo quase incessante, continuar relacionando aspectos do que a prática não é. Na realidade, qualquer um na prática pode estar mobilizado por uma ou outra dessas ilusões. Todos esperamos mudar, chegar a algum lugar! Essa é em si uma falácia básica. Porém, o mero contemplar desse desejo começa a esclarecê-lo e a prática essencial de nossa vida se altera conforme a executamos. Começamos a compreender que nosso desejo frenético de ser melhor, de "chegar a algum lugar", é a ilusão em si, a fonte de nosso sofrimento.

Se nosso barco cheio de esperanças, ilusões e ambições (de chegar a algum lugar, de tornar-se espiritual, de ser perfeito, de alcançar a iluminação) vira de ponta-cabeça, o que é este barco vazio? Quem somos nós? O que, em termos de nossas vidas, podemos perceber, conhecer?


E O QUE É, AFINAL, A PRÁTICA?

A prática é muito simples. Isso, entretanto, não significa que não irá transformar por completo nossa vida. Quero rever o que fazemos quando sentamos, ou praticamos o zazen. Se acreditarem que já estão além disso, bem, podem pensar que estão além.

Sentar é essencialmente um espaço simplificado. Nossa vida diária está em constante movimento: acontecem muitas coisas, muitas pessoas falam, muitos acontecimentos ocorrem. Em meio a tudo isso, é muito difícil sentir o que somos em nossa vida. Quando simplificamos a situação, quando deixamos os elementos externos de lado e nos retiramos do alcance do toque do telefone, da televisão, das pessoas que nos visitam, do cachorro que precisa passear, temos uma chance - que é, exatamente, a coisa mais valiosa que existe - de ficar de frente para nós mesmos. A meditação não está relacionada com algum estado e, sim, com seu praticante. Não diz respeito a alguma atividade, ou a consertar ou a conseguir algo. Refere-se a nós. Se não simplificamos a situação, a oportunidade de dar uma boa olhada em nós mesmos fica muito reduzida, porque aquilo que nos propomos a ver não somos nós e, sim, tudo o mais. Se algo dá errado, para o que olhamos? Olhamos para o que saiu errado e, em geral, para aqueles que a nosso ver foram os responsáveis. Ficamos o tempo todo olhando para fora, e não para nós.

Quando menciono que a meditação diz respeito a quem a pratica, não pretendo que nos comprometamos numa auto-análise. Não é isso também. Então fazemos o quê?

Depois de termos assumido nossa melhor postura (que deveria ser equilibrada, fácil), ficamos apenas sentados ali, praticamos zazen. O que significa 'apenas sentados ali"? Essa é a mais exigente de todas as atividades. Por via de regra, na meditação, não fechamos os olhos. Neste momento, porém, gostaria que fechassem os olhos e ficassem apenas sentados. O que está acontecendo? Toda espécie de coisas. Uma fisgada mínima no ombro esquerdo; uma pressão no lado... Percebam o rosto por um momento. Sintam-no. Estará tenso em algum lugar? Em torno da boca, na testa? Vamos descer um pouco mais. Observem o pescoço, somente sintam-no. Agora, os ombros, as costas, o peito, a região abdominal, os braços, as coxas. Continuem sentindo tudo que encontrarem. Agora sintam a respiração entrando e saindo. Não tentem controlá-la, apenas senti-la. Nossa primeira reação é tentar segurar a respiração. Deixe que aconteça naturalmente. No alto do peito, no meio, na barriga, pode parecer tensa. Apenas sinta como está. Sintam tudo isso. Se um carro passa lá fora, ouçam-no. Se um avião passar, observem-no. Talvez ouçam o barulho cíclico do motor da geladeira. Que seja! E o que vocês têm de fazer, positivamente é tudo o que vocês têm de fazer: experimentar isso e apenas ficar com essa experiência. Agora podem abrir os olhos.

Se conseguirem ficar fazendo isso durante três- minutos, é um milagre. O normal é que, decorrido um minuto, começamos a pensar. Nosso interesse em apenas acompanhar a realidade (que é o que acabamos de fazer) é muito reduzido. 'Você quer dizer que zazen é só isso?" Não gostamos dele. "Estamos em busca da iluminação, não?" Nosso interesse pela realidade é extremamente pequeno. Não queremos pensar. Queremos nos afligir com todas as nossas preocupações. Queremos entender qual é o sentido da vida. Assim, antes de nos darmos conta, teremos esquecido por completo deste momento e teremos divagado em pensamentos sobre as coisas: o namorado, a namorada, o filho, o patrão, o medo permanente... e por aí afora! Nada há de vergonhoso nesse fantasiar, exceto que, quando estamos imersos nele, perdemos alguma outra coisa. Quando estamos perdidos em nossos pensamentos, quando estamos sonhando, o que perdemos? A realidade. Nossa vida nos escapou.

Isso é o que os seres humanos fazem. Não fazemos isso só uma parte do tempo: fazemos a maior parte do tempo. Por quê? Claro que vocês sabem a resposta. Fazemos porque estamos tentando nos proteger. Estamos tentando nos livrar de nossas dificuldades atuais, ou pelo menos entendê-las. Não há nada de errado em nossos pensamentos autocentrados, exceto que, quando nos identificamos com eles, nossa visão da realidade fica bloqueada. Assim, o que deveríamos fazer quando os pensamentos aparecem? Deveríamos rotulá-los. Coloquem rótulos específicos: não só "pensamento, pensamento" ou "preocupação, preocupação", mas um rótulo específico. Por exemplo: "Estou pensando que ela é muito mandona"; "Estou pensando que ele é muito injusto comigo"; "Estou pensando que nunca faço as coisas certas". Sejam específicos. Se os pensamentos estiverem vindo em avalanche, numa velocidade tão grande que vocês não sintam mais nada senão confusão, então simplesmente rotulem essa confusão nebulosa de "confusão". Mas se insistirem em localizar pensamentos isolados, cedo ou tarde, eles virão.

Quando praticamos dessa maneira, passamos a nos conhecer, a saber como nossa vida funciona, o que estamos fazendo com ela. Se percebemos que determinados pensamentos reaparecem centenas de vezes, ficamos sabendo a nosso respeito algo que antes desconhecíamos. Talvez nosso pensamento incessante refira-se ao passado ou ao futuro. Algumas pessoas estão sempre pensando sobre acontecimentos, enquanto outras pensam em pessoas. Há quem pense sempre a respeito de si mesmo. Em algumas, os pensamentos são quase só julgamentos a respeito dos outros. Enquanto não os rotularmos durante quatro ou cinco anos, não nos conheceremos bem. Quando damos rótulos precisos e meticulosos a nossos pensamentos, o que acontece com eles? Eles começam a aquietar-se. Não é preciso que nos obriguemos a livrar-nos deles. Quando eles se acalmam, podemos retornar à experiência do corpo e da respiração, muitas vezes seguidas. Não há como deixar de enfatizar que não fazemos isso apenas duas ou três vezes; fazemos dez mil vezes. Com isso, nossa vida se transforma. Essa é uma descrição teórica do sentar. E muito simples. Não há nada de complicado nela.

Consideramos agora uma situação da vida cotidiana. Suponhamos que você trabalha mima companhia de aviação, e lhe contam que o contrato com o governo está terminando e é provável que não seja renovado. Você pensa com seus botões: "Vou perder meu emprego. Vou ficar sem rendimentos e tenho uma família para sustentar. E terrível!". O que acontece então? Sua mente começa a remoer o problema sem parar. "O que acontecerá? O que faço?" Amente começa a ficar cada vez mais rápida com a preocupação.

Claro que não há nada de errado em planejar com antecedência. Temos de planejar. Porém, quando ficamos aborrecidos, não é porque apenas planejamos, mas porque ficamos obcecados. Viramos a situação do avesso de todos os jeitos. Se não soubermos o que significa fazer uma prática com nossos pensamentos de preocupação, o que ocorre em seguida? Os pensamentos produzem uma emoção e ficamos mais agitados ainda. Toda agitação emocional é causada pela mente. Se permitirmos que isso aconteça durante um certo tempo, acabaremos em muitos casos ficando doentes ou mentalmente deprimidos- Se a mente não se incumbir da situação com discernimento, o corpo o fará. Ele nos ajudará a sair dessa. E como se dissesse: "Se você não tomar conta da situação, creio que eu terei de fazê-lo". Assim, produzimos nosso próximo resfriado, nossa alergia seguinte, nossa próxima úlcera, seja qual for nosso estilo. A mente que não está consciente de si produzirá enfermidades. Isto não é uma crítica, porém, não conheço quem nunca adoeça, inclusive eu. Quando o desejo de nos preocupar é forte, criamos dificuldades. Com uma prática regular, apenas o fazemos menos. Tudo aquilo de que não formos conscientes frutificará em nossa vida, de um jeito ou de outro.

Do ponto de vista humano, as coisas que dão errado em nossa vida são de dois tipos. Um são os fatos que acontecem fora de nós e o outro são os que acontecem dentro, como as doenças físicas. Ambas são a nossa pratica e trabalhamos com elas do mesmo modo. Rotulamos todos os pensamentos que acontecem à volta deles e os vivenciamos em nosso corpo. O processo é o próprio pensar.

Falar a esse respeito parece, de fato, fácil. Entretanto, fazê-lo é terrivelmente difícil. Não conheço ninguém que possa fazê-lo o tempo todo. Conheço algumas pessoas que conseguem uma boa parte do tempo. Mas, quando praticamos desta forma, tomando consciência de tudo que entra em nossa vida (interna e externa), ela começa a transformar-se. Aumentamos nossa força e nosso discernimento; às vezes, conseguimos inclusive viver num estado de iluminação, que só significa experimentar a vida como ela é. Não é nenhum mistério.

Se você é novato na prática, é importante saber que ficar apenas sentado na almofada durante quinze minutos já é uma vitória. E ótimo ficar sentado com essa compostura, somente ficar ali.

Se tivéssemos medo de ficar na água e não soubéssemos nadar, a primeira vitória seria apenas mergulhar. O próximo passo poderia ser molhar o rosto. Se fôssemos ótimos nadadores, o desafio poderia ser conseguir bater a mão na água numa determinada inclinação, a cada braçada. Isso significa que um é melhor do que o outro? Não. Ambos são perfeitos, cada qual em sua etapa do caminho. A prática, em qualquer estágio, é simplesmente ser quem somos a cada momento. Não é uma questão de sermos bons ou maus, melhores ou piores. As vezes, depois das palestras, as pessoas comentam: "Não entendi isso". Isso também está perfeito. Nosso entendimento aumenta com o tempo, contudo, a qualquer momento, somos perfeitos em ser do jeito que somos.

Começamos a aprender que só existe uma coisa na vida em que podemos confiar. Qual é? Podemos dizer: "Confio em meu companheiro". Podemos amar nosso marido, nossa esposa; mas não podemos nunca confiar cegamente neles porque uma outra pessoa (assim como nós) é sempre não confiável até certo ponto. Não há uma pessoa na face da Terra em quem possamos confiar por completo, embora, sem dúvida, possamos amá-la e desfrutar sua companhia. Em que, então, podemos confiar? Se não é em uma pessoa, em quê? Em que podemos confiar na vida?, perguntei a alguém que me respondeu: "Em mim". Você pode confiar em si mesmo? A autoconfiança é uma boa coisa, porém é inevitavelmente limitada.

Existe uma coisa na vida em que sempre podemos confiar: na vida tal como é. Vamos falar em termos mais concretos. Imagine que existe uma coisa que eu quero muito: talvez casar com uma certa pessoa, ou fazer um curso de especialização, ou ter um filho saudável e feliz. No entanto, a vida como é poderia ser exatamente o inverso do que eu desejo. Não sabemos se iremos ou não casar com aquele alguém. Quem sabe, se casarmos, aquela pessoa ideal morra amanhã. Pode ser que consigamos ser especialistas ou não. É provável que sim, mas não podemos contar com isso. Não podemos contar com coisa alguma. A vida será sempre do jeito que é. Então, por que não conseguimos confiar nesse fato? O que é tão difícil a esse respeito? Por que estamos sempre incomodados? Suponha que sua casa tenha acabado de ser destruída por um terremoto e você está quase perdendo um braço e todas as suas economias. Será que dá para confiar na vida tal qual ela se apresenta? Você consegue ser assim?

Confiar que as coisas são como são é o segredo da vida. Porém, não queremos saber de nada disso. Posso confiar absolutamente que, no ano que vem, minha vida mudará, estará diferente, e, no entanto, será sempre do que jeito que é. Se eu tiver um ataque cardíaco amanhã, posso confiar que, porque eu o tive, eu o tenho. Posso me apoiar na vida como ela é.

Quando fazemos um investimento pessoal em nossos pensamentos, criamos o "eu" (como diria Krishnamurti), então nossa vida começa a não funcionar. Eis por que rotulamos os pensamentos, desfazendo o investimento. Depois de termos ficado sentados por tempo suficiente, podemos notar nossos pensamentos apenas como input sensorial. Podemos nos ver atravessando os estágios preliminares a este: primeiro sentimos que nossos pensamentos são reais, e a partir deles criamos as emoções autocentradas e, a partir destas, os obstáculos que nos impedem de ver a vida como ela é, porque, se estamos contidos pelas emoções autocentradas, não conseguimos enxergar as pessoas e as situações com clareza. Um pensamento em si é só input sensorial, um fragmento de energia. Entretanto, tememos ver os pensamentos tais como são.

Quando rotulamos o pensamento, retrocedemos e nos desapegamos da identificação. Há uma enorme diferença entre dizer: "Ela é impossível" e "Estou pensando que ela é impossível". Se persistirmos na prática de rotular qualquer pensamento, o revestimento emocional começa a dissolver-se e ficamos, enfim, com o fragmento impessoal de energia, ao qual não precisamos ficar apegados. Se, porém, acreditamos que nossos pensamentos são reais, nossa conduta se fundamentará neles. Se agirmos a partir deles, nossa vida ficará uma confusão. Mais uma vez, a prática é o trabalho com este processo até que o tenhamos impregnado em nossos ossos. A prática não se refere a entender com a mente. Ela tem du ser nossa carne, nossos ossos, nós mesmos. Claro que temos de ter pensamentos orientados para a vida, como seguir uma receita, consertar um equipamento, planejar as férias. Mas não necessitamos dessa atividade emocionalmente autocentrada a que chamamos pensar. Não é de fato pensar; é uma aberração do pensar.

O zen refere-se a uma vida ativa, envolvida. Quando conhecemos bem nossas mentes e as emoções que nosso pensamento cria, temos a possibilidade de ver melhor o que é a nossa vida e o que precisa ser feito; em geral, é a próxima coisa que temos logo à frente. O zen tem que ver com uma vida de ações, não com um fazer nada passivo. No entanto, as ações têm de estar baseadas na realidade. Quando se baseiam em falsos sistemas de pensamento (fundamentados em nosso condicionamento), têm alicerces precários. Depois de enxergarmos com clareza os sistemas de pensamento, seremos capazes de ver o que precisa ser feito.

O que estamos fazendo não é nossa reprogramação; é nossa libertação de todos os programas, notando que são vazios, sem realidade. A reprogramação é só saltar de um caldeirão para outro. Pode ser que tenhamos aquilo que pensamos ser uma melhor programação; mas o propósito do sentar é não ser conduzido por nenhum programa. Imaginemos que há o programa chamado "Não tenho autoconfiança". Suponhamos que decidimos reprogramá-lo para "Tenho autoconfiança". Nenhum dos dois conseguirá se sair muito bem frente às pressões da vida, porque envolvem um "eu". Este "eu" é uma invenção muito frágil - aliás, irreal - e é com facilidade enganado. Na realidade, nunca houve um "eu". O que importa é enxergar que é vazio, uma ilusão, que é diferente de dissolvê-lo. Quando falo que é vazio, quero dizer que não tem uma realidade básica; ésó uma criação de pensamentos autocentrados.

Praticar o zen nunca é tão fácil quanto falar sobre ele. Até mesmo os estudantes que têm um certo entendimento do que estão fazendo, às vezes, costumam se afastar da prática básica. Apesar disso, quando sentamos bem, tudo o mais se incumbe de si mesmo. Por essa razão, se estamos praticando o sentar há cinco ou vinte anos, ou estamos apenas no começo, é importante sentar com um grande e meticuloso cuidado.

Qual o sentido da prática do Zen? É o despertar do homem para a sua essência intrínseca verdadeira, e, além disso, a disposição de permanecer receptivo ao Ser no seu interior, a fim de manifestá-lo no seu mundo, livremente e sem medo.

A prática do Zen exige três tipos de conhecimento: 1) saber que é possível a Grande Experiência na qual o homem conhece sua essência intrínseca; 2) o conhecimento da natureza daquilo que o separa enquanto homem consciente da sua essência intrínseca; 3) o aprendizado do caminho leva do erro à manifestação da sua verdadeira essência.

O conhecimento de tudo o que bloqueia o caminho do despertar e da renovação é decisivo para toda prática que visa forjar um homem novo. E qual é esse obstáculo? O eu que define, com sua forma de consciência e seu sistema de vida, a partir dos quais o homem identificado com esse eu sente e pensa. Portanto, o objetivo central do Zen é abolir essa identificação. é derrubar o eu e a sua carapaça, demolindo o seu sistema de vida.

A principio, todos os exercícios zen visam alcançar o mesmo objetivo: suprimir o ego e seus valores e, ao fazê-lo, puxar de sob os seus pés o chão fictício sobre o qual o homem se apoia, impedindo-o de alcançar os seus verdadeiros alicerces. É preciso derrubar os valores estabelecidos. Rejeitar aquilo a que se crê ter direito. Arrancar aquilo a que nos apegáramos. Ridicularizar aquilo que se pretendia. Desmascarar o que se pensava. Tomar absurdo aquilo que se julgava saber. E, para lográ-lo, o mestre zen lança mão de qualquer meio. Só se pode entender as afirmações e as ações, de outro modo incompreensíveis, do mestre, ao conhecer o elevado objetivo que justifica cada meio empregado. Tudo aquilo que é inconcebível e completamente inesperado para o eu - a resposta sem sentido, a agressão gratuita, o golpe bem dirigido, o choque, o bofetão no rosto, a pancada, a implicância, o riso debochado, o grito assustador -, aquilo que o eu tem de aceitar e suportar, aquilo que o derruba ao fazer cair por água abaixo tudo o que o sustenta, eleva ou abriga na ordem habitual, visa abrir esse eu à consciência de mundo. Pois é justamente nessa derrocada que o homem que busca poderá talvez ter um vislumbre da verdade que está por trás da ordem. Aí ele reconhece que os valores fixos e firmes, supostamente tidos como inabaláveis, que até então lhe pareciam a única verdade imaginável e que lhe davam uma posição estável, não eram senão a mera correlação objetiva da postura adotada pelo seu eu. E como esta sua postura do eu foi afirmada através de sua compreensão fixa, obstruiu aquilo que não era passível de ser determinado.

Porém, tudo isto supõe um pré-requisito: é preciso que aquele que busca esteja realmente disposto a encontrar; que o praticante esteja realmente disposto a aprender, ou seja, que ele também se prontifique a seguir o seu guia, portanto, que se disponha a sentir-se e a manter-se como aluno. Pois o que seria do mestre sem o discípulo? Mas quem pode chamar-se de discípulo? Só aquele que foi arrebatado de suas bases pelo anseio, aquele cuja angústia o levou até o último limite e que sente que, se não romper essa derradeira barreira, morrerá.Só se pode chamar de discípulo aquele que foi aprisionado pela inquietude do coração, que não o largará mais até ser satisfeita.

Só se pode chamar de discípulo quem começou a trilhar o caminho disposto a deixar-se conduzir e a obedecer.

Só se pode chamar de discípulo quem é capaz de ter uma inabalável confiança, e quem é capaz de seguir mesmo sem entender, pronto a encarar qualquer desafio.

Só se pode chamar de discípulo quem é capaz de ser exigente consigo mesmo, quem está preparado para abandonar tudo pela Unidade que o empurra na direção da luz.

Só se pode chamar de discípulo quem, cativado pelo incondicional, é capaz de se submeter a qualquer situação, e suportar os rigores da senda através da qual o mestre o guia.

TUDO OU NADA está escrito em letras maiúsculas sobre o portal da sala de exercícios freqüentada pelo discípulo. Este deixa tudo para trás, e só uma certeza o acompanha: de agora em diante, ele não irá mais se deparar com a arbitrariedade, mas com o olhar da sabedoria que, ao se concentrar na sua essência intrínseca, se vale de qualquer meio para trazê-la à tona, para reavivá-la, Pois o significado da morte que dele se espera não é a morte propriamente dita, mas a VIDA que transcende a vida e a morte. Não se trata da destruição da existência, mas do SER que se irradia através da vida.

Às vezes as pessoas dizem que, sem um mestre, a meditação pode provocar confusão e desequilíbrio, mas nem sempre é possível encontrar um mestre altamente desenvolvido. Esses indivíduos são raros, embora com freqüência seja possível encontrar mestres que ainda não realizaram totalmente o Caminho. Se você não puder estudar com um mestre realizado, a maneira mais inteligente de praticar é confiar basicamente no mestre que existe dentro de você.


NADA DE ESPECIAL

Depois do zazen não tenho vontade de falar. Sinto que a prática do zazen é o bastante. Mas já que tenho que falar, gostaria de discorrer sobre como é maravilhoso praticar zazen. Nosso único propósito é manter essa prática para sempre. Ela começou no tempo sem início e continuará pelo futuro sem fim. A rigor, para o ser humano, não há outra prática a não ser esta Não há outra maneira de viver a não ser esta. A prática do Zen é a expressão direta de nossa verdadeira natureza.

Claro, qualquer coisa que façamos é expressão de nossa natureza, mas sem essa prática é difícil aperceber-se disso. Ser ativo é próprio da natureza humana, assim como de todas as formas de existência. Enquanto vivos, estamos sempre fazendo alguma coisa. Mas tão logo você pense: "Estou fazendo isto' ou "tenho que fazer isso" ou "preciso conseguir aquilo", você, na verdade, não está fazendo nada. Quando você renuncia, quando não deseja mais coisa nenhuma, quando não tenta nada de especial, então você está fazendo alguma coisa. Quando não há nenhuma idéia de ganho naquilo que faz, então está fazendo algo. Em zazen. você não faz o que faz objetivando algo. Você pode sentir-se como que fazendo algo especial mas, na verdade simplesmente está expressando sua verdadeira natureza; é a atividade que aplaca seu mais profundo desejo. Praticar zazen com algum objetivo não é verdadeira prática.

Se você continuar esta simples prática todos os dias, obterá um poder maravilhoso. Uma coisa maravilhosa antes de ser atingido, mas nada de especial uma vez obtido. É simplesmente você mesmo, nada especial. Como diz um poema chinês: "Eu fui e voltei. Não era nada especial. Rozan é famosa por suas montanhas; Sekko por suas águas". As pessoas pensam que deve ser maravilhoso ver a famosa cadeia de montanhas abraçada pela bruma e a água que se diz cobrir toda a terra. Mas se você for lá verá apenas água e montanhas. Nada especial.

É intrigante o fato de que a iluminação seja uma coisa maravilhosa para aqueles que não têm experiência dela e, contudo, não seja nada para aqueles que a atingiram. E, no entanto, não é apenas nada. Você entende? Para uma mulher com filhos, ter filhos não é nada especial. Zazen é assim. Portanto, se você perseverar nessa prática, mais e mais você obterá alguma coisa -nada especial, porém alguma coisa. Você pode chamar essa coisa de "natureza universal' ou "natureza de Buda" ou "iluminação". Muitos nomes podem lhe ser conferidos, mas para a pessoa que a possui, é nada, e ao mesmo tempo, é algo.

Quando expressamos nossa verdadeira natureza, nós somos seres humanos. Quando não, nós não sabemos o que somos. Não somos animais porque caminhamos sobre duas pernas. Somos diferentes dos animais, mas, o que somos? Podemos ser um fantasma. Não sabemos como denominar a nós mesmos. Tal criatura na verdade não existe. E uma ilusão. Ainda não somos humanos, contudo existimos. Quando o Zen não é Zen nada existe. O que estou falando não faz sentido para o intelecto mas, se você já experimentou a verdadeira prática, entenderá o que estou dizendo. Se alguma coisa existe, é porque ela possui sua verdadeira natureza, sua própria natureza búdica. No Sutra Pari-nirvana, o Buda diz: "Tudo tem natureza de Buda". Todavia, Dogen interpreta isto da seguinte maneira: "Tudo é natureza de Buda". Aqui há uma diferença. Se você diz: "Tudo tem natureza de Buda', significa que a natureza búdica está em cada existência, portanto, natureza búdica e cada existência são diferentes. Mas quando você diz "tudo é natureza de Buda", significa que todas as coisas são a própria natureza de Buda. Quando não há natureza de Buda, nada existe. Qualquer coisa que não seja natureza búdica é apenas ilusão. Pode existir em sua mente, mas tal coisa de fato não existe.

Ser um ser humano portanto é ser um Buda. Natureza búdica é apenas outro nome para nossa verdadeira natureza humana. Assim, mesmo que você não faça nada, já está fazendo alguma coisa. Você está expressando a si próprio, está expressando sua verdadeira natureza. Seus olhos, sua voz, sua conduta a expressam. A coisa mais importante é expressar sua verdadeira natureza na forma mais simples e adequada e apreciá-la, mesmo na mais insignificante das existências.

Com a continuidade desta prática, semana após semana, ano após ano, sua experiência se tornará mais e mais profunda e abraçará todas as coisas que fizer em sua vida diária. O mais importante é deixar de lado toda e qualquer idéia de ganho, toda e qualquer idéia dualista. Em outras palavras, pratique zazen somente na postura correta. Não pense nada. Apenas permaneça sentado na sua almofada, sem expectativa alguma, Então você reassumirá finalmente sua verdadeira natureza. Ou seja, sua própria natureza se reassumirá.

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