sábado, 20 de novembro de 2010

A ESCOLHA NÃO É NOSSA

Amigos

Como asseguram aqueles que tiveram a experiência mística, na qual se percebe que a consciência do “eu” e a consciência de Deus são uma só consciência (Jesus: “Eu e o Pai somos um”; Paulo: “Já não sou mais eu que vivo, mas o Cristo é que vive em mim”, e outros), e como assegura, hoje, a própria ciência mais avançada do mundo, nós não escolhemos, a escolha não é nossa.

Reflitam sobre esta afirmação do apóstolo dos gentios, que guarda coerência com o colocado acima e que deve ter enorme significado, mas que, parece, foi esquecida pelas doutrinas cristãs: “Não é por vossas obras que sereis salvos, mas pela graça de Deus”.

Essa afirmação é repetida nas epístolas de Paulo. Por ela, o ser humano já está salvo; melhor ainda, não há do que se salvar. As escrituras cristãs, e também os místicos e os iluminados de todas as épocas, e atualmente a filosofia da ciência quântica, afirmam, nesse mesmo sentido, que “é o Senhor que opera em nós o pensar, o querer e o fazer”.

Esta mesma concepção é reafirmada pelo mesmo apóstolo quando, noutra passagem, diz: “... como se tivéssemos algum pensamento como de nós mesmos, pois todos eles vêm de Deus”.

Como, então, podemos estar em “pecado”, ou sofrendo remorsos pelo que fizemos e que consideramos errado, ou sofrendo por receio das conseqüências, tantas vezes terríveis, do que fizemos, se nem sequer podemos afirmar que os pensamentos, as escolhas que fazemos, as decisões que tomamos são nossos? Pois é Deus que opera em nós o pensar!

Estão estranhando? Leiam as escrituras cristãs, mas leiam com atenção e questionando! E, como aconselham os sábios: “Não ponha outra cabeça acima da sua”, isto é, o que os outros dizem é apenas a opinião deles, interpretações, muitas vezes equivocadas, das percepções que tiveram. Por isso, recomendam que cada um procure ter sua própria experiência; que cada um veja por si mesmo. “Não pôr outra cabeça acima da sua” significa nada mais que: deixe de ser preconceituoso e investigue...

O mesmo sábio, citado e lido tantas vezes, Krishnamurti, afirmou: “Aquele que escolhe é imaturo”. Com respeito a essa afirmação, “parece” que, como sugerem os novos cientistas, temos certa autonomia no pensar; então, “acreditamos” que fazemos escolhas quando, na verdade, apenas pensamos que escolhemos e, por isso, ficamos decepcionados, frustrados e sofremos quando os eventos não se dão conforme “nossas” escolhas.

Como dizem sábios: “Não há ninguém aí onde pensas que está o teu eu; de tudo o que fazes, 99% é para teu “eu”, mas não há ninguém aí... Aí, como em tudo, só há a Divindade, Deus, que é quem pensa, reflete, memoriza, ouve, fala, vê, é ‘visto’, cheira, é ‘cheirado’, é ouvido, sente e é ‘sentido’ e percebe...”. “O ‘eu’ é, apenas, uma falácia, uma ilusão, um feixe de memórias de experiências que, por serem marcantes, ficaram gravadas no cérebro”.

Também dizem: “Somos apenas, máscaras de Deus; estamos todos num mega-drama universal cujo ‘único’ ator é Deus. Nós somos, todos nós, os sentidos, as mãos, os pés, olhos e ouvidos da Divindade... Através de nós, Deus ‘vê’ o mundo”. Como ensinou, também, Krishnamurti: “... como a Mente (Deus, o Espírito Universal) é vazia, o cérebro existe no espaço e no tempo”. Relembrem o “experimento das duas fendas”, um daqueles que dividiram a ciência em “antes” e “depois”: não havendo observador senciente, o que significa, não havendo cérebro e órgãos dos sentidos objetivos, o universo material não existe. É, mal comparando, como se fôssemos tentáculos de Deus, dando o retoque final em sua criação...

Novamente é Paulo que afirma, como todo o misticismo: “Deus está em cima e embaixo, à direita e à esquerda, à frente e atrás, fora e dentro. Enfim, tudo é Deus, que opera em nós o pensar e o fazer, o imaginar e o raciocinar, o sentir, o escolher e o decidir...” Como assegura Paulo: “A escolha nunca é nossa”. É o que diz a física quântica, também. Quando a Bíblia diz que o Senhor é quem opera em nós o pensar e o fazer, devemos concluir que não somos responsáveis, que não há “pecados”, nem culpas, pois que nada escolhemos ou decidimos.

Quando percebemos o universo, é Deus se percebendo; quando buscamos Deus, é Deus se buscando... Por isso, quando um monge perguntou a seu mestre Zen: “O que é buscar o Buda?”, o mestre respondeu: “É cavalgar o boi para procurar o boi”. Não há que buscar; o Buda (Deus) já está aqui. Lembrando, Jesus: “... não direis ei-lo aqui ou... pois o reino de Deus já está em vós”, e, novamente, Paulo: “Vós sois o templo do Altíssimo”, “O Senhor habita vossos corações”, e os grandes filósofos “Conhece-te a ti mesmo e serás Deus”. O que nos falta é, tão somente, conhecer-nos, conhecer a verdade que liberta; então, perceberemos...

Pela visão da física quântica, escolhemos, não nós sujeitos individuais, mas a consciência una, o Sujeito Universal, a Subjetividade Absoluta é que escolhe e, pela nossa observação, o resultado da escolha se manifesta. Somos “complementação” da Divindade.

Conforme a nova física, e o misticismo, tudo que percebemos nada mais é que “prolongamento” de nós mesmos, de nossa consciência; melhor ainda, da Consciência Divina. Assim, compreendemos que não há qualquer absurdo naqueles experimentos “da dupla fenda” e da “opção retardada” se abandonarmos a crença de que existe um mundo fixo, objetivo e independente, fora de nós, mesmo quando não o estamos observando. Afinal, tudo se resume no que o observador (consciência una), quer ver, realizar, produzir, concretizar.

Na consciência una, as miríades de respostas para cada problema ou estímulo recebido pelo ser senciente, são “objetos transcendentes”, fora do espaço-tempo, no campo das infinitas possibilidades, como diz Maharishi Maharesh Yogi, não locais; não são objetos físicos (assemelham-se aos arquétipos mentais da visão de Jung) até que, pela observação, lhes provocamos o colapso, trazendo-os para o mundo da manifestação.

Com o ato de observar, o mundo se torna objetivo. Há interferência do observador em relação aos acontecimentos no espaço-tempo, mas a escolha dos eventos não depende de qualquer observador em particular. Assim, qualquer que seja o observador, o evento será sempre o mesmo, isto é, a escolha definitiva é “aquele” evento, o evento determinado pela consciência unitiva.

O mundo se transformaria num caos se cada pessoa decidisse o comportamento do mundo objetivo. O fato é que não é a pessoa, uma consciência localizada, individual, condicionada, quem escolhe. A escolha é da consciência una, não-local, incondicionada, transcendental, mas o resultado só se manifesta quando é feita observação (medição) por um cérebro-mente senciente, uma consciência localizada. Há um único sujeito em todo o universo, um sujeito-consciência unitivo; a multiplicidade de consciências é apenas ilusão. A minha consciência não é separada da consciência dos demais seres e de Deus. Essa separação é que é "maya", do hinduísmo. Somos todos uma só consciência, embora não nos pareça assim. Por isso, Schröedinger disse: “A consciência é um singular para o qual não existe plural”. Logo que um ser consciente observa, a realidade torna-se manifestada no mundo material em um estado único, mas a ‘escolha’ de uma das soluções possíveis foi feita pela consciência una e não pelo ser senciente que faz, apenas, a chamada medição, o reconhecimento da escolha e, assim, provoca o colapso da onda do objeto que está em potência no domínio transcendental.

A ação da consciência transcendental escapa à nossa percepção comum. Ela escolhe entre alternativas coerentes quando manifesta a realidade material objetiva. O colapso quântico é um processo de escolha pela consciência única e de reconhecimento por um observador senciente. Em última análise, só existe “um” escolhedor para todas as escolhas, mas muitos cérebros-mentes observadores para a realização do colapso de onda e do reconhecimento do evento escolhido. Nós não escolhemos.

O cérebro/objeto não pode ter dentro dele o sujeito que faz as experiências, que faz as observações, que o sente. O sujeito é transcendente, é a consciência não-local, infinita, que não está no cérebro, mas em todo lugar.

Aparentemente, é algo dentro de nossa cabeça que faz as observações, pois que os sentidos da visão, audição etc., ali estão sediados, dando-nos essa ilusão. Porém, como afirmam os místicos, nossos olhos, ouvidos etc., são olhos e ouvidos do universo; ou, se quisermos, de “Deus”.

Fiquem em Deus.

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