sábado, 20 de novembro de 2010

SOMOS UM

(Ler com atenção)


Embora pareça para nós ocidentais absurdos ou blasfêmias, reflitam, afastando todos e quaisquer preconceitos, sobre as palavras abaixo, todas afirmando o que Jesus afirmou: “Eu e o Pai somos um”:

Bankei, mestre Zen: “A mente de Buda e a nossa são uma só mente”.

Ramana, iluminado hindu: “Somos uma só e idêntica Mente neste Agora, para sempre, aqui, ali e em toda parte. Somo todos um com Brama”.

Misticismo: “Se você procura Deus, como se pudesse vê-lo aqui ou ali, desista! Você não pode vê-lo como objeto! O seu próprio não-ver é Ele, e se você persistir nessa condição de não-ver, nesse momento e nesse lugar, a coisa pode acontecer, porque você está exatamente diante do que está procurando. O Vazio que você vê quando olha atento para o nascedouro dos pensamentos pode, num relâmpago, mostrar a Realidade de que você e Deus são uma só coisa”.

Misticismo e física moderna: “Quando se elimina o ego, percebe-se que o “eu” e a Realidade Final são uma coisa só”

Krishnamurti: “Só conhecemos a Realidade sendo, nós mesmos, essa Realidade”.

Meister Eckhart, monge e teólogo cristão, condenado pela Inquisição: “Ao conhecermos Deus, nós nos confundiremos nele, pois vamos perceber que somos um só”.

Cristianismo: I Coríntios, 16:15-17: ‘Não sabeis que os vossos corpos são membros de Cristo? Aquele que se une ao Senhor é um espírito com ele”.

João, 17:21: “A fim de que todos sejam um; e como és tu, ó Pai, em mim, e eu em ti, também sejam eles um em nós”.

Zazen de Hakuin, mestre Zen: “Todos os seres são Budas desde o princípio. Fora dos seres vivos, onde encontramos Buda? Não sabendo quão perto está a Verdade, as pessoas a procuram muito longe; que pena! São como aquele que, no meio da água, chora de sede com acentos tão lastimosos. As ilusões impedem o encontro”.

Eckhart, místico cristão: “Conforme a crença dos simples, sentimos Deus como se Ele estivesse lá e nós aqui. Não é assim; Deus e eu somos um só no ato de percebê-lo”.

Amazuki Sessan: “A verdadeira paz e felicidade, a percepção do Absoluto, o Caminho de Buda - o grande erro é pensar consegui-lo em algum céu ou mundo do outro lado, no futuro. Nunca deixamos o Caminho por um momento sequer. O que podemos deixar não é o Caminho. Nós somos o Buda”.

Huang Po, mestres Zen: “Busca-o e ele te escapa; corre dele e ele segue junto a ti. Nunca podes conquistá-lo e nunca podes deixar de possuí-lo. Portanto, não precisas preocupar-te com essas coisas. Tu já és o que buscas. Tu já és Aquilo”.

Niu-tou: “Se fugires do Vazio, nunca poderás livrar-te dele; se o buscares, nunca poderás alcançá-lo. Como alcançá-lo se tu já és Ele? Assim, nunca poderás fugir dele, nem dele livrar-te e nem alcançá-lo, pois ele já está aí”.

Yung-Chi: “Como o céu vazio, ele não tem limites e, no entanto, está bem aqui, sempre tranqüilo e claro. Quando o procuras, não podes encontrá-lo, mas também não podes perdê-lo, pois és tu que, não sabendo, estás a procurar a ti mesmo”.

Física moderna: “Se Deus, ou a Mente, é o que, até inconscientemente, estamos buscando, e fora da Mente não há nada, pois a Mente é todos os lugares e tempos, conclui-se que já estamos lá, que o que somos agora é Mente, e que apenas não temos percepção dessa verdade”.

Norwich: “Vê! Eu sou Deus. Estou em todas as coisas! Levo todas as coisas até o fim que ordenei desde o sem começo, com a mesma força, sabedoria e amor com que as fiz. Como é possível que alguma coisa esteja errada?”

Ramana: ‘Você precisa livrar-se da idéia de que ainda precisa compreender o Eu. Você é o Eu. Terá havido algum tempo em que você não se dava conta do Eu? Assim, quer você o compreenda, quer não, Você o é, sempre o foi e sempre o será”.

Ramana: ‘Não há alcançar o Eu. Se o Eu devesse ser alcançado, significaria que o Eu não está aqui agora. Por isso digo que não se alcança o Eu. Você é o Eu; você já é Aquilo”.

Rinzai, mestre Zen: “Estás colocando outra cabeça acima da tua! O que te falta? O que fazes neste exato momento é exatamente o que um Buda faz. Mas não acreditas nisso e teimas em buscá-lo fora de ti”.

E de Huang Po, o mestre de Rinzai: “Não existe nada a ser atingido. Sempre te identificaste com o Buda; portanto, nunca poderás atingir essa identificação por meio de quaisquer práticas. Se, neste momento, pudesses convencer-te disso, estarias iluminado. É difícil compreender esta afirmação? É para te ensinar a não buscares o estado de Buda, pois já és o Buda e, toda busca, se destina ao fracasso”.

Huang Po: ‘A Mente Una é o Buda e não há separação entre Buda e os seres sensíveis; estes, como estão ligados às formas, buscam o estado de Buda nas coisas exteriores e, assim, o perdem, pois isso é buscar o Buda pelo Buda, é usar a Mente para encontrar a Mente”.

Bankei: “A mente de Buda e a nossa são uma só”.

Misticismo e ciência moderna: “A busca implica investigação ou procura de objeto ou coisa lá fora, mas a Mente não é objeto lá fora, e sim o próprio Sujeito Absoluto em todos nós. A busca supõe uma carência atual, mas não carecemos de nada; só a falta de compreensão cria em nós um ilusório sentido de carência. O sujeito da busca e o objeto da busca são, na verdade, o mesmo. Aquilo que eu estou procurando é exatamente aquilo que está realizando o ato de procurar: eu mesmo. Aquilo que estou observando outra coisa não é senão eu mesmo que estou realizando o ato de observar”.

Huang Po: “Quando se ouve dizer que os Budas transmitem a Doutrina da Mente, supõe-se que existe alguma coisa para ser atingida ou compreendida e, em seguida, utiliza-se a mente para procurar a Mente, sem saber que a mente que procura e a mente procurada são a mesma coisa”.

Krishnamurti: “O observador é a coisa observada, o universo, o Todo”.

E como aquele que está procurando é exatamente aquele que está sendo procurado, só por causa disso, aquilo nunca poderá ser conhecido ou visto como objeto, pois Ele é quem busca, quem observa, é o próprio sujeito, é o único Conhecedor, o único Vedor, o único, pois tudo é um.

Upanishad: “Nunca poderás ver o vedor da visão, nem ouvir o ouvidor da audição, nem perceber o percebedor da percepção, nem conhecer o conhecedor do conhecimento. Vedor, ouvidor, percebedor e conhecedor são o Eu, o Absoluto, Um”.

Ciência: “Por isso, nunca poderemos perceber nosso Eu. E aqui está a origem do dualismo primário, pois imaginamos ver e perceber nosso Eu, sem compreender que tudo o que vemos ou percebemos é apenas um complexo de objetos percebidos e, assim, não pode ser o Eu, pois “o percebido não pode perceber” e o Eu não é um objeto e sim o Sujeito Absoluto. Assim, nenhum eu de que possamos ter consciência ou percepção é, absolutamente, o Eu!”

Ramana: ‘Você não é o corpo grosseiro, nem os cinco órgãos dos sentidos; não é a mente que pensa, nem a memória, nem os sentimentos, nem as emoções... Você é Aquilo”.

Wei Wu Wei: “Ainda não compreenderam que nosso eu é apenas um objeto de nossa percepção, e que se ele pode ser percebido, não pode ser quem está percebendo? Logo, ele não pode ser o que somos”. E, portanto, o que na realidade somos está além disso que chamamos de “eu” Não somos o eu; somos o Eu”.

Talvez não percebamos isso porque é tão evidente. Não podemos ver o vedor, ouvir o ouvidor etc., mas pensamos que podemos e aí está a criação dos dualismos, sujeito/objeto, eu/não-eu, eu/mundo, eu/você.

O que acontece é o seguinte: o Vedor, aquilo em nós que conhece e vê, na realidade não está separado daquilo que ele vê; é o que vê, pois o Vedor vê uma coisa “sendo” aquela coisa. Como disse Tomás de Aquino: “O conhecimento só acontece quando o objeto conhecido está dentro do conhecedor”. Esta página, por exemplo, é idêntica àquela dentro de nós que a estamos lendo. Tudo que percebemos dentro de nós é exatamente aquilo que está fora de nós, no caso, a página e a área circundante.

William James: “A página vista e o vedor são somente dois nomes dados a uma mesma e indivisível experiência”. Isto não significa que a página não existe se eu fechar os olhos, mas que ela não existe como objeto “lá fora”. Entre o Vedor e a página, entre o sujeito e o objeto, não há distância, não há espaço! Não havendo Vedor, não há visão, nem coisa vista. Vedor, visão e coisa vista estão estreitamente ligados no processo de ver; são um só. Seria interessante rever o “experimento da dupla fenda”, que mostra que, não havendo observador, não há universo material; lembrar Krishnamurti, que afirma: “O observador é a coisa observada”.

Entretanto, como supomos ver o vedor, como quando dizemos “Sei quem sou” ou “Estou cônscio de mim mesmo lendo está página”, sentimos, muito naturalmente, que quem está vendo está dentro de nós. Como disse Wittgenstein: “O que nos perturba é a tendência para acreditar que a mente é como um ‘homenzinho’ em nosso interior”. Assim, cremos que o vedor, o eu, está separado do que vê, e este é o nascimento do dualismo. Ou melhor, ao imaginar que vemos o Vedor, ou que conhecemos o Eu como objeto, erradamente fazemos da Subjetividade Absoluta um objeto chamado “eu”, que não passa de um complexo de idéias, sentimentos, identidades, memórias, avaliações. Tomamos esse complexo de objetos pelo Sujeito; tomamos o que podemos ver por aquele que está realizando o ato de ver, sem compreender que a Subjetividade nunca é um objeto, exceto na nossa ilusão. Nosso eu nem é um sujeito real. Já que podemos percebê-lo objetivamente, isto é, já que podemos percebe-lo como um objeto, ele é um pseudo-sujeito, um pseudo-eu, um puro caso de identidade trocada pois, na realidade, inexiste divisão entre eu e universo, entre eu e Deus. Identificado com esse falso-sujeito, todos os demais objetos parecem separados de mim; aí está o primeiro dualismo. Não houvesse o dualismo, não haveria Maya, a ilusão da separatividade, nem Sansara, a roda do nascimento e da morte, nem conflitos, sofrimentos, nem o universo. Aqui entrou o “logos” do evangelho de João, o logos (palavra, pensamento, que cria a ilusão) “sem o qual nada foi criado”. O logos, portanto, é o criador de todas as ilusões, sofrimentos e problemas do mundo.

Deste modo, aquilo em nós que, neste momento, vê e lê esta página, é a Divindade, a Mente, Brahman e, por isso, não pode ser visto nem conhecido como objeto, nem encontrado quando o procuramos. O que quer que eu veja, pense, perceba, sinta ou saiba acerca de meu eu, é um emaranhado de objetos percebidos, o ego. O visto é o ego; o que está realizando o ato de ver é o Eu, a Mente, Deus, que vê o universo através de nossos olhos, que “são os próprios olhos da divindade”. Nós nos identificamos, erradamente, com o que pode ser visto, o ego, e, portanto, já não nos identificamos com toda a manifestação fenomênica (universo), pois estamos ilusoriamente separados de tudo o que parece ser o não-eu. Separados, assim, do meio-ambiente, este passa a ser uma ameaça.

Esse dualismo provoca o debate entre o “ser” e o “não-ser”, a nulidade, o que resulta na repressão da morte pelo homem e na sua batalha, permanente, contra o universo, tentando desesperadamente colocar a maior distância possível, chamada segurança, entre ele e o meio ambiente, movido pelo medo e pela ansiedade. Mas, o triste não é que essa seja uma batalha difícil, e sim que a causa da batalha seja uma ilusão. O eu separado simplesmente não está lá para ser protegido, nem para ser salvo, de modo que passamos a vida na fútil tentativa de salvar algo que não existe: o eu não está ali; não há o que salvar, a não ser em nossa ilusão.

Wei Wu Wei: “Porque és infeliz? Porque 99,9 por cento de tudo o que pensas e fazes, é para ti, e não há ninguém aí onde pensas que está o teu eu”.

Ora, se ao lermos esta página, decidirmos ir para trás do eu, a fim de descobrir quem está realmente realizando o ato de ler, encontraremos apenas: esta página! Não haverá nenhum de nós como sujeito nem página alguma como objeto, pois tanto o sujeito como o objeto terão desaparecido na Subjetividade não-dual, pois aí só existe o um. Neste momento, somos a página que se lê a si mesma. Pois todos os objetos são seus próprios sujeitos, e sujeito e objeto nada mais são do que duas maneiras diferentes de abordar a mesma realidade chamada Mente, ou Deus, como “frente” e “costas” são duas maneiras de abordar, p. exp., um mesmo homem. (Lembram-se da história dos cegos que foram conhecer o elefante, que um apalpou as pernas, outro a tromba, a orelha etc e, cada qual deu sua interpretação do que era um elefante? Várias interpretações diferentes para aquilo que era um só).

Essa divisão da totalidade, da unidade absoluta, em sujeito-objeto é o início do leque da consciência; opera em todos os seus níveis, provocando a separação ilusória entre observador e coisa observada, eu e não-eu, e o sentimento persistente de um eu separado. Esse espaço entre eu e não-eu tem necessariamente um componente temporal, pois tempo e espaço não são separados, mas um continuum. O componente temporal vem do dualismo, que divide a unidade vida-morte e empurra o homem para fora do Agora intemporal, onde vida e morte são uma só, para o mundo imaginário do tempo, onde ele tenta escapar de uma morte ilusória, assegurando para si um futuro de fantasia. Pois viver no atemporal é não ter futuro, o que significa morrer. Mas, como o homem não aceita a morte, não pode viver no atemporal, acima do tempo, fora do espaço-tempo. Assim, o dualismo é que gera o tempo. Quando o homem se identifica com o Todo, com a cessação do ego que, por sua vez, faz cessar qualquer dualismo, absolutamente nada há fora dele que possa ameaçar sua existência e, por isso, não existe o debate entre o ser e a nulidade, nem o desejo de fuga da morte. Por outro lado, quando a vida e a morte são vistas como uma só, já que cessou o dualismo, nada pode ameaçar a existência do homem e este se percebe imortal, “eterno”; do mesmo modo, cessa a separação entre o homem e o universo, homem e Deus e o homem se percebe “um com tudo o mais”. Por isso, como outros, Jesus afirmou: “Eu e o Pai somos um”.

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