(14) EXTRATOS CONVENIENTES (Jan 2008)
(jcl-06-ribpreto)
Extratos de ‘’O Tao da
Física”, de Fritijof Capra, conforme conceituados comentaristas do mundo
científico, um dos livros mais fascinantes da atualidade.
Os físicos
modernos, investigando os átomos, não conseguiam entender os tremendos
‘absurdos’ que os experimentos lhes mostravam, o que só foi possível com o
auxílio das tradições místicas orientais, antes consideradas superstições e
patologia pelos cientistas ocidentais. Mostra que, hoje, a moderna ciência e o misticismo
milenar têm idêntica visão de mundo.
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1. Ansiedade, emoção,
imaginação, preocupação, pensamento, lembrança, expectativa, ilusão, remorso,
desejo, são estática, ruído, que não permite que a mente sintonize o
Absoluto. Do mesmo modo, aquilo que as religiões chamam de ‘pecados capitais’
(gula, avareza, ira, preguiça, orgulho, luxuria, inveja) não permitem a tranqüilidade
mental necessária para a tentativa de meditação. O objetivo da meditação é
eliminar essa estática.
2. As noções gerais acerca
da compreensão humana..., ilustradas pelas descobertas da física atômica, estão
longe de constituir algo inteiramente desconhecido, inédito, novo. Essas noções
possuem uma história em nossa própria cultura, desfrutando de uma posição mais
destacada e central no pensamento budista ou hindu. Isso que deparamos (com a
filosofia relativa à Física atômica), não passa de uma exemplificação, um
encorajamento, uma redescoberta da velha
sabedoria do misticismo oriental. (Oppenheimer).
3. Se buscamos um paralelo
para a lição da física moderna... devemos nos lembrar de pensadores, como Buda
e Lao Tse, em suas tentativas de harmonizar nossa posição como expectadores e
atores do grande drama da vida. (Niels Bohr).
5. Quando a mente é
perturbada, produz-se a multiplicidade de coisas; quando a mente é aquietada, a
multiplicidade de coisas desaparece. (Tudo, o Todo é um vazio que nossos sentidos ajudam a preencher; “a
Mente, a Consciência Universal, é vazia; por isso o cérebro existe no espaço e
no tempo”, Krishnamurti). (‘Aquieta-te e sabe: eu sou Deus’, do Velho Testamento).
6. Do irreal, conduze-me ao
real!/ Das trevas, à luz!/ Da morte, à imortalidade! (Upanishad).
7. Aquele que deseja
compreender a natureza de Buda deve observar as estações e as relações causais
(observar as ações da natureza, isto é, tudo é simplesmente natural, inclusive
o amadurecimento psicológico, o avanço na direção de Deus).
8. Aquele que é a essência
mais fina - o mundo todo o tem como sua alma. Aquele é a realidade (Deus),
Aquele é Atman, Aquele és Tu. (Upanishad).
9. Todas as ações são realizadas no espaço-tempo pelo entrelaçamento
das forças da natureza; contudo, o homem, perdido na ilusão egotista, acredita que ele próprio é o autor. Mas,
aquele que conhece a relação entre as forças da natureza e suas ações, vê a
forma pela qual umas forças da natureza agem sobre as outras, e não se torna
seu escravo. (Bagavad Gita).
11. Uma filosofia
maravilhosa do dinamismo foi formulada por Buda, há 2500 anos... Impressionado
com a transitoriedade dos objetos, a mutação e as transformações incessantes
das coisas, reduziu as substâncias, almas, mônadas e coisas, a forças,
movimentos, seqüências e processos, e adotou uma concepção dinâmica da
realidade (tudo flui e nada é permanente, nem saúde, beleza, riqueza,
juventude, amor, amizade, prazer, dor, nada enfim).
12. O budismo concebe um
objeto como um evento (processo em
movimento) e não como uma coisa ou substância... Isso torna claro que o budismo
entende nossa experiência em termos de tempo e movimento. (Suzuki).
13. Podemos então considerar
a matéria como constituída por regiões do espaço nas quais o campo (elétrico,
de energia, vibrações) é extremamente intenso...
Na física não há lugar para as duas
coisas, campo e matéria; campo é a
única realidade. (Einstein).
14. Uma partícula material,
p.ex. um elétron, é apenas um pequeno domínio do campo elétrico dentro do qual
a intensidade de campo assume valores extremamente elevados, indicando que uma
energia de campo comparativamente elevada está concentrada num espaço muito
pequeno. Tal nó de energia, que de forma alguma está claramente delineado
contra o campo restante, propaga-se através do espaço vazio (campo) como uma
onda de água na superfície de um lago. Não existe algo que seja uma substância
única constituída sempre pelos mesmos elétrons. (Weyl).
15. Quando o ‘chi’ (energia)
se condensa, sua visibilidade torna-se evidente de modo que existem, então, as
formas (coisas, objetos). Quando se dispersa, sua visibilidade não é mais
evidente e não há mais formas. No momento de sua condensação, podemos dizer que
não seja algo temporário? E, no momento de sua dispersão, podemos afirmar que
se torna, então, não-existente? ... O Grande Vácuo (campo) não pode consistir
senão em chi; este chi não pode condensar-se senão para formar todas as coisas;
e essas coisas não podem dispersar-se senão para formar (uma vez mais) o Grande
Vácuo (Vazio). (Chuang Tsai).
17. O universo físico chinês
constitui um todo perfeitamente contínuo. Os objetos, formados pela condensação
de chi, dependem, em última instância, da alternância rítmica de todos os
níveis das duas forças fundamentais, yin e yang. Os objetos, com seu ritmo
intrínseco, estão integrados no padrão geral da harmonia (do ritmo) do mundo
(do universo). (idem).
19. As leis naturais não são
forças externas às coisas, mas representam a harmonia do movimento a elas imanente. (I Ching).
20. O campo existe sempre e
por toda parte; jamais pode ser removido. É o portador de todos os fenômenos
naturais. É o ‘vácuo’ a partir do qual são criadas todas as coisas. O
aparecimento, a existência e o desaparecimento de partículas não passam de formas de movimento do campo. (Física) (do
bramanismo: Brama, Shiva e Vichnu, o criador, o mantenedor e o destruidor).
21. Quando se percebe que o
Grande Vácuo está pleno de chi, compreende-se que não existe coisa alguma que
seja o nada. (Chang Tsai).
22. Todas as partículas são
apenas ‘ressonância’ (do campo).
23. Todos os átomos dançam
e, assim, produzem sons. Quando o ritmo da dança se modifica, o som também se
modifica. Cada átomo canta sem cessar sua canção, e o som, a cada momento, cria
formas densas e sutis. (David-Néel).
24. Dançando, o átomo
sustenta seus fenômenos multiformes. Na plenitude dos tempos, dançando ainda,
ele destrói todas as formas. (Coomaraswamy).
25. Na física moderna,
dividimos o mundo, não em grupos de diferentes objetos, mas em grupos de
diferentes conexões... O mundo
aparece, assim, como um complicado tecido de eventos, no qual conexões de
diferentes tipos se alternam ou se sobrepõem ou se combinam e, dessa maneira,
determinam a textura do todo. (Heisenberg; Teilhard de Chardin disse coisa
semelhante).
26. Se a unidade da
totalidade das coisas não é reconhecida, a ignorância e a particularização
surgem em cena, e todas as fases da mente corrompida são, então, desenvolvidas
(...). Todos os fenômenos do mundo nada mais são que manifestação ilusória da mente, não possuindo nenhuma realidade própria. (budismo).
27. Da mente (iludida, perturbada)
nascem coisas inumeráveis, condicionadas pela discriminação (...) Essas coisas
são aceitas pelas pessoas como um mundo exterior (lá fora). O que se afigura
como externo não existe na realidade; é, de fato, a mente que é vista como multiplicidade. As propriedades, os
corpos e o que foi dito acima, tudo isso, afirmo, nada mais é que a mente.
(budismo).
28. Como podemos pensar em
coisas em vez de processos nesse fluxo absoluto (o eterno movimento que não é
movimento)? Fechando nossos olhos aos eventos sucessivos. Trata-se de uma
atitude artificial que secciona a corrente da mudança e a essas secções
denomina coisas... Quando percebemos essa verdade, compreendemos o absurdo de
adorarmos produtos isolados (coisas, dinheiro, objetos, pessoas, etc) dessa
série incessante de transformações como se eles fossem eternos e reais. A vida
não é uma coisa ou estado de uma coisa, mas uma mudança ou movimento contínuo e
sem fim. (idem).
29. Modificação, movimento
sem descanso, fluindo, subindo e descendo sem cessar... Aqui só a mudança
atua. (só a mudança é permanente).
30. ‘Li’ é uma lei natural e
inescapável acerca das questões e coisas... O significado de ‘natural e
inescapável’ é que todas as questões humanas e coisas naturais são feitas de
modo a se encaixarem exatamente cada uma no seu lugar (próprio). Esse
encaixar-se ocorre sem que se verifique o mais ligeiro excesso ou
deficiência... Os homens da antiguidade, ao investigarem as coisas até o último
limite, e ao buscarem ‘li’, desejavam elucidar a inescapabilidade natural das
questões humanas e coisas naturais, e isso significa, simplesmente, que
buscavam todos os lugares exatos onde as coisas se encaixam juntas com
precisão. Apenas isso. Portanto, na visão oriental, tudo no universo está conectado com tudo o mais e nenhuma parte é
fundamental. As propriedades das partes são determinadas pelas propriedades
de todas as outras partes. (budismo e física).
31. Todas as coisas em sua
natureza essencial não podem ser nomeadas ou explicadas, não podem ser adequadamente expressas em qualquer forma
de linguagem. (budismo e física).
32. Quando dividimos alguma
matéria bruta, podemos reduzi-la a átomos. Mas como também os átomos estão
sujeitos a novas divisões, todas as formas da existência material, bruta ou
não, nada mais são que a sombra da particularização, e não podemos
conferir-lhes qualquer grau de realidade (independente ou absoluta. (budismo e
física).
32. Nada é realmente finito;
tudo está em cada coisa e cada coisa está em tudo.
33. No céu de Indra, diz-se
existir uma rede de pérolas dispostas de tal forma que, se contemplamos uma,
vemos todas as demais nela refletidas. Da mesma forma, cada objeto do mundo não
é simplesmente ele mesmo, mas envolve todos os demais objetos e, de fato, é tudo o mais. (budismo). (Lembra-nos o
‘colar’ do Buda, ao sair de sob a árvore onde se iluminou: cada gema refletia
todas as outras gemas. Aí está, exatamente, a visão da física moderna relativa
ao bootstrap, o levantar-se pelas próprias botas, a auto-suficiência de
todo o universo).
34. Cada porção de matéria
pode ser concebida como um jardim cheio de plantas e um açude cheio de peixes.
Mas, cada ramo de planta, cada peixe e cada gota de seus humores é também um
novo jardim ou um novo açude (Leibniz); ou, nas palavras de William Blake:
‘...ver o mundo num grão de areia, o céu numa flor silvestre; o infinito na
palma da mão e a eternidade numa hora.’
35. Levada ao seu extremo
lógico, a teoria bootstrap implica que a existência da consciência,
juntamente com todos os outros aspectos da natureza, é necessária para a
autoconsciência do todo. (Geoffrey Chew).
36. Para o homem iluminado, sua consciência abarca o
universo; o universo se torna o seu ‘corpo’, ao passo que seu corpo físico
torna-se uma das manifestações da Mente Universal, sua visão interior, uma
expressão da realidade mais elevada, e sua palavra (e pensamentos), uma
expressão da verdade eterna. (budismo).
37. Todas as coisas recebem
seu ser e sua natureza por mútua
dependência e, em si mesmas, nada são. (budismo e física).
39. ‘Criação’ e ‘fim’ do
mundo ocorrem a todo instante (budismo e física; ‘bigbangs regionais’; o choque
recente de quatro galáxias).
40. O misticismo oriental
fornece uma consistente moldura filosófica capaz de abranger nossas mais avançadas teorias científicas acerca do mundo
físico. (Capra).
41. O misticismo é, acima de
tudo, uma experiência que não se pode aprender com a leitura de livros... mas,
o envolvimento com esse tipo de experiência, é altamente gratificante. (Capra).
42. Em face das descobertas da física atual, os paralelos
relativos ao misticismo oriental estão aparecendo, não apenas na física, mas
também na Biologia, Psicologia, Medicina, e nas ciências humanas, sociais,
políticas... com profunda influência sobre quase todos os aspectos da sociedade
humana (Capra).
43. As semelhanças entre a
física quântica e o misticismo oriental são tantas que nos deparamos com
declarações frente as quais é quase impossível dizer se seu autor é um místico oriental ou um físico.
(Capra) (Assim, o livro de Ken Wilber: ‘Questões quânticas; escritos místicos
dos maiores físicos do mundo’).
45. No espaço-tempo, tudo
que julgamos permanente é um logro
(tudo, fatos, eventos, seres, emoções, poder, riqueza, beleza, saúde etc. não
são para sempre e, ainda mais, são totalmente incertos; a impermanência e a
incerteza de tudo são o fundamento da filosofia do Buda). (do mesmo modo, não é
permanente ou realidade, aquilo que denominamos ‘eu’, alma, a continuidade após
a morte biológica etc.).
46. O conhecimento absoluto é uma experiência da realidade
inteiramente não intelectual, nascida
de um estado de consciência não usual
que pode ser denominado ‘meditação’,
ou místico. (Capra). (É levar a atenção e o olhar para dentro de si mesmo e
esquecer-se).
47. Nossa natureza original é a mesma
natureza do Buda iluminado; os estudantes do Zen são desafiados a descobrir sua
‘face original’, e a súbita ‘recordação’
dessa face constitui a iluminação.
48. Em face da semelhança
entre o estado de meditação (que demanda total atenção a um ponto apenas, ou a
nada) e o estado de alma de um guerreiro, a imagem deste desempenha papel
importante na vida espiritual e cultural do Oriente. No Bhagavad Gita, o
campo de batalha e as artes marciais são parcelas relevantes das culturas da
Índia, China e Japão. Em ‘o caminho do guerreiro’, enfatiza-se a arte da luta
onde a atenção alcança seu máximo de perfeição; o alerta total, a
atenção que afasta da mente os pensamentos, afasta a lembrança do passado e da
expectativa do futuro, mantêm o indivíduo no agora, no eterno momento
presente.
49. Como a palavra não é a
coisa (isto é, não faz perceber a realidade da coisa), como afirmam os
místicos, estes se voltam principalmente para a experiência da realidade, que traz verdadeiro auto-conhecimento, e
não para a descrição dessa experiência (esta, apenas, tem valor para motivar os
demais à busca da mesma experiência).
52. Todas as tentativas de
adaptar os fundamentos da física (anterior, clássica, newtoniana, cartesiana) a
esse novo tipo de conhecimento (física quântica) falharam completamente. Era
como se o solo tivesse sido retirado de sob nossos pés, sem que se conseguisse
vislumbrar qualquer base confiável e sólida sobre a qual pudéssemos erguer
alguma coisa (Einstein).
54. Todas as coisas, de
fato, transformam sua natureza e sua aparência. A experiência que possuímos do
mundo é radicalmente diferente... Existe uma forma nova, mais vasta e profunda,
de experimentar, de ver, de conhecer, de entrar em contato com as coisas (o
conhecer não dualista) (Sri Aurobindo).
55. As três primeiras
décadas do século XX transformaram radicalmente toda a visão da física. Dois
desenvolvimentos separados, a teoria da relatividade e a física quântica,
esfacelaram os principais conceitos da visão de mundo da física clássica: a
noção de espaço e tempo absolutos, as partículas sólidas elementares, a
natureza estritamente causal dos fenômenos físicos e o ideal de uma descrição
objetiva da natureza, tudo isso ruiu, com tremendo
choque para o mundo científico. Sabemos, hoje, que não existe qualquer
fluir de tempo; que a matéria, a massa, a substância, nada mais é que uma forma
de energia, um ‘defeito’ ou ‘acidente’ no campo contínuo de energia do cosmos
(Capra).
57. O conceito de objetos sólidos foi destruído pela moderna
física. O fenômeno da radioatividade forneceu a prova definitiva da natureza
composta dos átomos, demonstrando que átomos de substâncias radioativas não só
emitem diversos tipos de radiação como se transformam, também, em átomos de
substâncias inteiramente diversas. Rutherford descobriu que as chamadas
partículas alfa, emanadas das substâncias radioativas, eram, na verdade,
projéteis extremamente velozes, de dimensões subatômicas, que, posteriormente,
foram utilizados na exploração do interior dos átomos. Estes, longe de serem
partículas sólidas e duras, inesperadamente se percebeu serem imensas regiões
de espaço nas quais partículas extremamente pequenas, os elétrons, giram em
movimentos ondulatórios em torno do núcleo, ligados a ele por forças elétricas
(o núcleo, invisível aos mais sofisticados instrumentos; os elétrons,
semelhantes a nuvens de poeira girando em torno dele). O diâmetro de um átomo
aproximadamente mede um centésimo milionésimo de centímetro. Para visualizarmos
essa dimensão ínfima, imaginemos uma laranja com as dimensões de nosso planeta.
Os seus átomos terão, então, o tamanho de cerejas; um número inconcebível de
cerejas comprimidas num globo do tamanho da Terra: eis uma imagem aproximada
dos átomos de uma laranja.
58. Um átomo, portanto, é
extremamente pequeno se comparado a objetos macroscópicos, mas é enorme se
comparado a seu núcleo; na imagem acima, de átomos do tamanho de cerejas, o
núcleo de um deles seria tão pequeno que não poderíamos vê-lo; se ampliássemos
o átomo ao tamanho de uma bola de futebol, seu núcleo seria ainda invisível a
olho nu. Para que pudéssemos ver o núcleo, teríamos de ampliar o átomo até o
tamanho da maior abóbada do mundo, a da Catedral de São Pedro, em Roma; nesse
átomo, o núcleo teria o tamanho de um grão de sal! Um grão de sal no centro da
abóbada da Catedral de São Pedro e poeira girando em torno dele: eis uma imagem
do núcleo e dos elétrons de um átomo. O número de elétrons nos átomo determina
suas propriedades químicas. As interações entre os átomos dão origem aos
diversos processos químicos, de tal forma que a Química pode ser, agora,
entendida a partir da física atômica (quântica).
59. Os efeitos da teoria
quântica na imaginação dos físicos foi devastador. Os experimentos demonstraram
que os átomos nada mais tinham a ver com os objetos sólidos da Física clássica.
Em vez de sólidos e indestrutíveis, consistiam de vastas regiões do espaço nas
quais se moviam partículas extremamente pequenas (submicroscópicas). Essas
partículas são extremamente abstratas e de aspecto dual: dependendo da forma
como são abordadas, aparecem às vezes como partículas, às vezes como ondas (de
energia), natureza estranha exibida também pela luz. Parece impossível aceitar
que algo possa ser, ao mesmo tempo, uma partícula - uma entidade confinada a um
volume extremamente pequeno - e uma onda, que se espalha por uma extensa região
do espaço. Isso deu origem à teoria quântica. Plank descobriu que a energia da
radiação térmica não é emitida continuamente, mas aparece sob a forma de
‘pacotes de energia’, os ‘quanta’, como denominou Einsten.
62. Enigmas surgidos em
conexão com a estrutura dos átomos e que não podiam ser explicados, foram
solucionados. Se os átomos que compõem a matéria consistem quase integralmente
de espaço vazio, o que nos impede de caminharmos através de portas fechadas? O
que dá à matéria seu aspecto sólido? (A vertiginosa velocidade dos elétrons).
63. Outro ponto é a
extraordinária estabilidade mecânica dos átomos. No ar, colidem milhões de
vezes a cada segundo e, no entanto, voltam à forma original após a colisão. Um
elétron de oxigênio, por exemplo, sempre conservará sua configuração original
de elétron, indiferentemente à freqüência com que colida com outros átomos ou
elétrons. Essa configuração, ademais, é exatamente a mesma para todos os átomos
de determinado tipo. Dois átomos de ferro e, conseqüentemente, dois pedaços de
ferro puro, são completamente idênticos, qualquer que seja sua origem ou o
tratamento que tenham recebido no passado.
64. Essas incríveis
propriedades dos átomos decorrem da natureza ondulatória de seus elétrons. O
aspecto sólido da matéria é devido a um típico ‘efeito quântico’, vinculado ao
aspecto dual (onda-partícula) dos elétrons e, conseqüentemente, da matéria.
Sempre que uma partícula é confinada a uma pequena região do espaço, ela reage
a esse confinamento movendo-se circularmente, sendo seu movimento tanto mais
rápido quanto menor for a região do confinamento. No átomo, há duas forças que
concorrem entre si. Por um lado, os elétrons são ligados ao núcleo por forças
elétricas que buscam conservá-los tão próximos ao núcleo quanto possível. Por
outro lado, respondem a esse confinamento girando em torno do núcleo e sua
velocidade será tanto maior quanto mais firmemente estiverem ligados a ele
(cerca de 960 km/seg!). Essas velocidades fazem com que o átomo aparente ser
uma esfera rígida, como uma hélice em alta rotação aparece-nos como um disco. É
impossível comprimir ainda mais os átomos e, dessa forma, eles conferem à
matéria seu aspecto sólido que nos é familiar.
65. No átomo, os elétrons
instalam-se de tal forma nas órbitas que existe um equilíbrio ótimo entre a
atração do núcleo e a relutância dos elétrons ao confinamento. Suas órbitas
diferem muito das dos sistemas planetários (como se ensinava nas escolas),
devido à natureza ondulatória dos elétrons. Em vez de partículas girando em
torno do núcleo, temos de imaginar ondas de probabilidade dispostas na
diferentes órbitas. Sempre que fazemos uma medição (observação), encontramos o
elétron em ‘algum’ ponto dessas órbitas, mas não podemos dizer que eles ‘giram
em torno do núcleo’, no sentido da Física clássica.
66. Nas órbitas, os elétrons
têm de estar dispostos de tal modo que formam padrões conhecidos como ‘ondas
estacionárias’; esses padrões aparecem sempre que ondas são confinadas a uma
região finita, como as ondas numa corda de violão posta em movimento. Isso
mostra que tais ondas podem assumir apenas um número limitado de formas bem
definidas. O fato de que os detalhes atômicos, como número quântico (número da
órbita) etc., que indicam a localização e a forma das órbitas, o primeiro sendo
o número da órbita e determinando a energia que o elétron deve possuir para estar
nessa órbita, só poderem ser expressos por números inteiros, significa que o
elétron não pode alterar sua rotação com continuidade, pois nunca é encontrado
entre órbitas, mas ou numa ou noutra; isso porque o elétron salta de uma órbita
para outra, nunca sendo encontrado entre duas órbitas (salta de um número
inteiro para outro na representação das órbitas).
67. Tendências de existir,
partículas reagindo ao confinamento, átomos passando repentinamente de um
‘estado quântico’ para outro e uma interligação essencial de todos os fenômenos
- eis algumas das facetas incomuns apresentadas pelo mundo atômico. A força
básica que origina todos os fenômenos atômicos é a gravitacional. Trata-se da
força de atração elétrica entre o núcleo atômico positivamente carregado, e os
elétrons negativamente carregados. A interação dessa força com os elétrons
ondulatórios origina a tremenda variedade de estruturas e fenômenos em nosso
meio ambiente, bem como todas as reações químicas, e a formação de moléculas,
isto é, agregados de diversos átomos reunidos pela força de atração mútua; constitui
a base de todos os sólidos, líquidos e gases, e de todos os organismos vivos e de
todos os processos biológicos a eles associados.
68. Nesse mundo imensamente
rico dos fenômenos atômicos, os núcleos desempenham o papel de centros
extremamente pequenos e estáveis, que constituem a fonte da força elétrica e formam a grande variedade de estruturas
moleculares. O núcleo contém, praticamente, toda a massa do átomo. O núcleo é
constituído de prótons e nêutrons, partículas que têm aproximadamente a mesma
massa - mas cerca de duas mil vezes a massa do elétron -, sendo que o nêutron
não dispõe de carga elétrica. A força nuclear, que mantém essas partículas tão
rigidamente ligadas dentro do núcleo, é um fenômeno inteiramente novo (força
ainda desconhecida pela física), não podendo ser de origem eletromagnética, já
que o nêutron é eletricamente neutro. Os físicos viram que se trata de uma nova força, a mais poderosa força da natureza, e que não se manifesta em lugar
algum fora do núcleo atômico. Este é cerca de cem mil vezes menor do que o
átomo todo e, contudo, contém quase toda a massa deste, o que significa que a
matéria dentro do núcleo é extremamente densa se comparada com as formas de
matéria com as quais estamos familiarizados. Se todo o corpo humano fosse
comprimido até a densidade nuclear, não ocuparia mais espaço que a cabeça de um
alfinete. Essa elevada densidade, contudo, não constitui a única propriedade
insólita da matéria nuclear. Possuindo a mesma natureza quântica dos elétrons,
os ‘núcleons’, como são chamados os prótons e nêutrons, reagem ao confinamento
com elevadas velocidades e, como são comprimidos num volume muito mais reduzido
que os elétrons, sua reação é muito mais violenta, chegando a percorrer o
núcleo de um lado para o outro a cerca de 64.000km/seg! A matéria nuclear é,
portanto, uma forma de matéria inteiramente diferente de tudo aquilo com que
estamos familiarizados no mundo macroscópico. Podemos figurá-la sob a forma de minúsculas
gotas de um líquido extremamente denso que ferve e borbulha da forma mais
intensa possível. A forte força nuclear é que responde por todas essas
propriedades, e a característica que a torna tão estranha é seu alcance
extremamente curto; age apenas quando a distância entre núcleos é da ordem
aproximada de duas a três vezes o seu diâmetro. A essa distância, a força é
tremendamente atrativa. Contudo, se a
distância se torna menor, torna-se fortemente repulsiva, de modo que os núcleos não podem se aproximar mais.
Assim, a força nuclear mantém o núcleo em equilíbrio estável, embora altamente
dinâmico. (o movimento que não é movimento).
70. Essas formas de matéria,
com suas complexas estruturas, só conseguem existir sob condições muito
especiais, e quando a temperatura não é muito elevada, de modo que as
partículas não se agitem em
demasia. Quando a energia térmica aumenta cerca de cem vezes
mais, como ocorre na maioria das estrelas, todas as estruturas atômicas e
nucleares são destruídas, estado em que se acha a maior parte da matéria
existente no universo. O Sol, nosso elo vital com o mundo dos corpos de grandes
dimensões, por exemplo, nos envia um contínuo fluxo de energia resultante de
reações nucleares, fenômenos do mundo dos corpos infinitamente pequenos.
74. As partículas são,
então, padrões (modelos) dinâmicos, que envolvem certa quantidade de energia
que se manifesta, a nós, como massa. Num processo de colisão, a energia das
duas partículas envolvidas é redistribuída de modo a formar um novo padrão, que
poderá, se a energia cinética for suficiente, formar partículas adicionais.
75. Experimentos realizados
nas últimas décadas têm mostrado, de modo inquestionável, a natureza dinâmica e em perpétua mudança do
mundo das partículas. A matéria é completamente inconstante. Todas as partículas podem ser transmutadas em outras
partículas; podem ser criadas da energia e podem desfazer-se em energia. Assim , as
idéias de ‘substância material’, ‘objeto isolado’, ‘matéria’, perderam qualquer
significado. A totalidade do universo aparece-nos como uma teia dinâmica de
padrões inseparáveis de energia. A partícula não pode mais ser encarada como
entidade isolada, mas como parte integrante e inseparável do todo universal.
77. Evidências têm
demonstrado que os próprios nêutrons e prótons são objetos compostos, e que as
forças que os mantém coesos ou (o que é a mesma coisa) as velocidades de seus
componentes são elevadíssimas, sendo difícil
diferenciar entre forças e partículas.
78. Na Física moderna, o
universo é, então, experimentado como um todo
dinâmico e indivisível, que sempre
inclui o observador; os conceitos clássicos e tradicionais de espaço e tempo,
objetos isolados e causa e efeito não têm
mais significado. Essa visão é muito semelhante à dos místicos orientais,
sendo mais forte nos modelos ‘quântico-relativísticos’, onde as teorias da
relatividade e a da mecânica quântica se combinam e produzem os mais surpreendentes paralelos com o misticismo oriental.
79. HINDUÍSMO - Seu objetivo
é a experiência mística direta da
realidade. Quase todo o pensamento da Índia é, de certa forma,
filosófico-religioso, pois o hinduísmo influenciou de maneira quase total, ao
longo de muitos séculos, a vida intelectual, social e cultural do país. As
manifestações do hinduísmo vão desde filosofias altamente intelectuais, com
concepções de alcance e profundidade fabulosos, às práticas rituais ingênuas e infantis das massas (do
povo). Sua fonte espiritual está nos Vedas, escritos por ‘videntes’ védicos, e
os Upanishads têm a essência de sua mensagem espiritual, que inspirou as
maiores mentes da Índia nos últimos vinte e cinco séculos, em consonância com o
conselho de seus versos que, no Bhagavad Gita, retratam a batalha do bem contra
o mal da natureza humana. Aí, o homem é um guerreiro em busca da iluminação. ‘Tomando
como arco a grande arma do Upanishad, nele deve-se pôr a flecha afiada pela meditação.
Distendendo-o com o pensamento voltado para a essência d’Aquele, penetra o
imperecível como alvo,... Mata, com a espada da sabedoria, a dúvida nascida da
ignorância que jaz em teu coração. Entra em harmonia contigo mesmo, em
meditação, e ergue-te, grande guerreiro, ergue-te (para o infinito)... ‘!
82. O tema básico da
mitologia hindu é a criação do mundo pelo auto-sacrifício de Deus, pelo qual
Deus se torna o mundo e, no final, o mundo torna-se novamente Deus. O universo
é o palco para o drama divino da criação, no qual Deus se faz todas as criaturas (somos máscaras de Deus e Deus é o
único ator do mega-drama universal). Enquanto não percebemos a unidade de
Brahman, continuaremos na escuridão da ilusão e da ignorância (maya).
83. Libertar-se de maya
significa compreender a unidade e
harmonia de todas as coisas, de toda
a natureza, incluindo a nós mesmos: Todas as ações (no espaço-tempo) são
realizadas por combinações das forças da natureza, mas o homem, perdido na
ilusão egotista, acredita ser ele o autor. Contudo, aquele que conhece a
relação entre essas forças e as ações, percebe a forma pela qual umas forças
agem sobre as outras, e não se torna seu escravo. Libertar-se do encantamento
de maya e dos laços do karma (força da criação da qual provêm todas as coisas)
significa compreender que todos os
fenômenos são partes da mesma e única realidade; significa perceber, direta
e pessoalmente, o fato de que tudo,
inclusive nosso ser, é Brahman. (‘Eu e o Pai somos um’). O caminho
hinduísta para a libertação dessa ilusão envolve a prática regular da meditação, cujo objetivo é realizar a união
com Brahman (ou com Deus), embora, para o homem comum, a forma de se aproximar
do Divino seja adorá-lo sob a forma de um deus, ou deusa, pessoal. O prazer
sensual nunca foi suprimido do hinduísmo, uma vez que o corpo sempre foi tido
como parte integral do ser humano. A mente ocidental é confundida com o grande
número de deuses da mitologia hindu, que são, na verdade, apenas aspectos
diferentes da mesma realidade divina.
84. BUDISMO - É voltado
totalmente para o psicológico. Buda ensinou a origem do sofrimento humano e a
forma de superá-lo. O intelecto é visto apenas como meio de preparar o caminho
que leva à experiência mística, ao ‘despertar’. Buda, imediatamente após seu
despertar, passou a ensinar a todos a doutrina das Quatro Verdades.
85. Primeira Verdade - a característica mais relevante da condição
humana é o sofrimento, nascido de nossa dificuldade de enfrentar o fato básico
da vida, isto é, que tudo aquilo que nos cerca é impermanente e transitório
(‘Todas as coisas surgem e vão-se embora’, como o peixe que, repentinamente,
salta na superfície do lago), e que o
fluir e a mudança são características próprias da natureza. O sofrimento surge quando resistimos a esse fluir
e nos apegamos às formas, por considerá-las permanentes; contudo, quer sejam coisas, fatos, pessoas
ou idéias, todas são maya. A impermanência
inclui a noção de que não existe o ego,
o Si-mesmo, o sujeito persistente e ilusório de nossas experiências (o eu é
apenas uma ilusão).
86. Segunda Verdade - a
causa de todo sofrimento é o apego ou avidez, baseados em ponto de vista errado
(ignorância), pelo qual dividimos o mundo que percebemos em coisas individuais
e separadas, e interpretamos, inconscientemente, as coisas impermanentes que fluem, como coisas fixas e permanentes, e
passamos a confiar nelas. Com isso,
só teremos frustração sobre frustração. Apegando-nos a coisas que julgamos permanentes (beleza, amor,
poder, prestígio, status, amizades, riqueza, saúde, coisas, pessoas, objetos etc.),
mas que, na realidade, são transitórias,
pois se acham em contínua mudança, caímos num círculo vicioso onde cada ação
gera uma nova ação e a resposta a uma indagação gera nova indagação. Esse
círculo vicioso é ‘samsara’, a roda do nascimento e da morte, a cadeia
infindável de causa e efeito (no espaço-tempo).
87. Terceira Verdade - o
sofrimento e a frustração podem chegar a
um fim. É possível alcançar um estado de libertação total, denominado nirvana, no qual a falsa visão de um ‘eu’ separado desaparece para sempre e a unidade da vida é percebimento constante.
O nirvana, sendo um estado além da mente, é indescritível (conforme
Paulo: ‘vi e ouvi coisas inefáveis’); é o estado desperto do Buda. (Inquirido
sobre o significado da iluminação, o Buda respondeu: ‘É a libertação de todo
sofrimento’).
88. Quarta Verdade - para
despertar e extinguir todo o sofrimento, existe o Caminho do autoconhecimento, que conduz ao correto
conhecimento (‘Conhecereis a Verdade e a Verdade vos libertará’), à visão
correta, à compreensão correta, isto é, ao insight acerca da condição humana, o
ponto de partida necessário. Depois, vêm a ação correta, o Caminho do Meio, sem
os exageros que o homem pratica, e a meditação correta. Esse caminho era considerado,
pelo Buda, a forma de se atingir a iluminação,
o nirvana. Ele enfatizou a impermanência
de todas as coisas (‘O declínio é
inerente a todas as coisas compostas’), a necessidade de nos libertarmos de
toda autoridade espiritual, inclusive a sua própria, afirmando que só indicava o
caminho, e que cabia a cada indivíduo percorrê-lo até o fim por seus próprios
esforços (Krishnamurti: ‘Não ponha outra cabeça acima da sua’; Zen budismo:
‘tudo é apenas o dedo apontando para a lua; não é a lua’).
89. O Budismo oferece
doutrinas que vão da fé religiosa a complexas filosofias cujos conceitos se
aproximam muito do moderno pensamento científico. Enfatizam as limitações de
todos os conceitos e idéias sobre a realidade, que não pode ser descrita. Por
isso deu à realidade o nome de ‘vazio’ ou ‘vácuo’, que implica em que todos os
conceitos e idéias acerca dela são, em última instância, vazios, inócuos, sem
valor. Mas, o ‘vazio’ é a fonte de toda a vida, a essência de tudo que existe,
é o Todo.
90. O tema central é a unidade e inter-relação de todas as coisas e
eventos, uma concepção que não é apenas a própria essência da visão
oriental do mundo, mas que oferece as mais impressionantes semelhanças com a
visão de mundo advindas da física moderna, a física quântica.
91. FILOSOFIA CHINESA - Seu
mais elevado objetivo é o de transcender o mundo social e cotidiano, e alcançar
um plano de consciência além do ego.
Esse é o caminho, o Tao, que se alcança agindo
espontaneamente e confiando na própria intuição. O mundo é um contínuo fluir, uma mudança contínua: ‘Para aquele que age em conformidade com o curso
do Tao, seguindo os processos naturais do céu e da terra (da natureza), é fácil
manipular o mundo todo’.
93. Na visão chinesa, todas
as manifestações do Tao são geradas pela inter-relação dinâmica dessas duas
forças: “Aquilo que ora nos mostra a escuridão e ora nos mostra a luz é o Tao’.
‘A vida é a harmonia combinada do yin e
do yang’. Nessa concepção, a doença é vista como o rompimento dessa
harmonia. I Ching, o Livro das Mutações, é uma das obras mais importantes da
literatura mundial, segundo grandes pensadores. Ele contém a sabedoria reunida
em milhares de anos de observação dos processos da natureza, coisas e seres”.
94. TAOÍSMO - Por sua
orientação mística, é relevante para a percepção das semelhanças entre misticismo e Física moderna. Nele, também, a
visão é a transformação e a mudança, características essenciais da natureza:
‘No crescimento e transformação de todas as coisas, cada característica, cada
broto, têm sua forma própria. Nesta, observamos o amadurecimento e a decadência
graduais, o fluxo sem fim de
transformação e mudança. Todas as mudanças na natureza são consideradas
manifestações da interação dinâmica entre as polaridades dos opostos yin e
yang. (‘Ir além de todos os opostos é
essencial para se chegar à iluminação’).
95. ‘O ‘isto’ é também
‘aquilo’; o ‘aquilo’ é também ‘isto’... Quando o ‘aquilo’ e o ‘isto’ deixam de
ser opostos, eis aí a essência do Tao’ (Jesus: ‘Quando fizerdes do macho e da
fêmea um só, então entrareis no reino’) e ‘Aquele
que preza os que fazem boas obras, e despreza os que fazem más obras, mostra
que não conhece os princípios fundamentais da natureza e da vida; é como se
honrasse o yin e desprezasse o yang. É claro que esse modo de pensar é
totalmente equivocado’. (eu sou
assim, você é assim, ele e ela são assim, todos são assim e não há o que fazer
com relação a isso).
96. Tudo flui e o fluir é
inteiramente imprevisível; a mudança é contínua, mas é cíclica em face da
interação da forças yin e yang. Todos os opostos são polares e, assim, unidos, são
as faces da mesma moeda. O caminho para cima e o caminho para baixo são um
único e o mesmo caminho. Disse Heráclito: ‘Deus é dia e noite, inverno e verão,
guerra e paz, saciedade e fome’ (o tsumami e a bonança; todos os opostos,
inclusive aquilo que chamamos de mal e de bem).
98. ZEN - Vem da palavra
‘ch’an’, meditação. Seu único objetivo é chegar-se à iluminação,
essência de todas as escolas de filosofia orientais, sendo o Zen a única que
trata exclusivamente dessa
experiência, não possuindo qualquer filosofia
ou doutrina especiais. Para o Zen, o despertar de Buda não tem nenhum interesse por qualquer modalidade de interpretação. O
ensinamento de que todos podemos
chegar a esse despertar, é a essência do
Budismo; o resto é acessório. Por isso, entendendo que as palavras jamais poderão expressar a experiência
mística (satori), nem a verdade última, o Zen dedica-se somente à iluminação. Contudo, a experiência Zen
pode ser transmitida, por métodos especiais, do mestre ao discípulo: ‘É uma
transmissão fora das escrituras, que não se baseia em palavras, mas aponta
diretamente para a mente humana, olhando dentro da natureza do homem e
alcançando o estado de Buda’.
99. Esse ‘apontar
diretamente’, feito com ações ou palavras repentinas e espontâneas (koan), que
expõem paradoxos do pensamento conceitual, objetiva parar o processo do pensamento de modo a levar o discípulo à
experiência mística (enquanto existe pensamento, existe o ego pensante, que
interfere; para a experiência mística, o ego deve cessar e o pensamento cessa).
100. Um monge, buscando
instrução, diz ao mestre: ‘Minha mente não tem paz; por favor, pacifique-a’.
Respondeu o mestre: ‘Traga-me sua mente e eu a pacificarei. ’ Falou o monge:
‘Estou buscando minha própria mente, mas não consigo encontrá-la.’ E o mestre:
‘Pronto! Sua mente já está pacificada’. (a atenção dirigida à mente faz
cessarem seus movimentos).
Outro monge pediu ao mestre:
‘Por favor, ensine-me!’ O mestre: ‘Já comeu seu mingau de arroz?’ O monge: ‘Já
o comi’, e o mestre: ‘Então, vá lavar sua tigela. ’ (A ênfase está em mostrar
que ninguém tem de se isolar, pois pode-se despertar em meio às questões do
dia-a-dia, ao viver com a atenção inteira
no presente, no agora, no que esteja fazendo). A perfeição, no Zen, é viver a vida diária com naturalidade e espontaneidade. Assim,
solicitado a definir o Zen, um mestre replicou: ‘Quando tiver fome, coma;
quando tiver sono, durma. ’ Embora, isso pareça simples de fazer, não é (pois,
em geral, não comemos nem dormimos apenas, mas ficamos ruminando pensamento
atrás de pensamento). Retornar à naturalidade de nossa natureza original exige
longo e difícil treinamento: ‘Antes de estudar o Zen, montanhas são montanhas e
rios são rios; enquanto estudamos o Zen, as montanhas deixam de ser montanhas e
os rios deixam de ser rios; alcançado o objetivo Zen, as montanhas voltam a ser
montanhas e os rios voltam a ser rios’ (tudo sempre é o que é; o mundo não
muda; o que muda é nossa visão do mundo, agora interpretado corretamente).
101. Indagado acerca da
busca da natureza do Buda, Po-chang respondeu: ‘É como cavalgar o boi à procura
do boi. ’ (não há o que buscar pois nossa mente já é a mente do Buda).
103. Tudo tem de ser
natural, não devemos usar qualquer esforço; por isso:
‘Sentado tranqüilamente, nada fazendo,
Surge a primavera e a grama cresce por
si mesma. ’
105. No nível subatômico, os
objetos materiais sólidos da física clássica dissolvem-se em padrões de
probabilidades, padrões que não representam probabilidades de coisas, mas de
interconexões; o universo não é composto de objetos físicos mas, em vez disso,
é formado por uma complexa teia de
relações (dinâmicas) entre as diferentes partes do todo uno.
105. Os místicos: ‘O objeto
material torna-se algo diferente daquilo que conhecemos; não é um objeto
separado, destacado do meio ambiente, do restante da natureza, mas uma parte indivisível e até mesmo uma expressão da unidade de tudo que vemos. ’
E ‘As coisas recebem seu ser e sua natureza por dependência mútua e, em si mesmas, elas nada são.’
106. Os cientistas: ‘Uma
partícula elementar não é uma entidade analisável e de existência independente.
É, em essência, um conjunto de relações que se voltam para fora em direção a
outras coisas. ’ E ‘O mundo afigura-se como um complicado tecido de eventos, no
qual, conexões de diferentes tipos se alternam, se sobrepõem, ou se combinam,
determinando, assim, a contextura do todo’.
107. No hinduísmo, Brahman é
o fio unificador dessa teia cósmica: ‘Aquele no qual o céu, a terra, a
atmosfera e todos os sopros vitais (tudo) se acham entrelaçados, esse é a Alma
única’. No budismo, a visão de mundo é uma perfeita teia de relações mútuas
onde todas as coisas e eventos interagem de forma infinitamente complexa. Na
visão do budismo tibetano, suas escrituras são denominadas ‘tantras’, termo
cuja raiz significa ‘tecer’ e que se refere ao estado de entrelaçamento e interdependência de todas as coisas e eventos.
108. Na visão da Física, o
observador (nós) não é necessário apenas para observar as propriedades de um
objeto, mas, igualmente, para a definição
dessas propriedades; estas só possuem significado no contexto da interação
do objeto com o observador. Heisenberg: ‘O que vemos não é a natureza real, mas
a natureza interpretada pelo nosso
questionamento’. O observador está envolvido com o mundo que observa na
medida em que influencia as propriedades dos objetos observados. ‘A observação
perturba a natureza; depois da observação, o universo jamais será o mesmo’,
isto é, observador e coisa observada não estão separados, verdade que levou à
substituição da palavra ‘observador’ por ‘participante’. Esta idéia é familiar
ao misticismo que, pela experiência da meditação, afirma que sujeito e objeto
se fundem num todo único e indiferenciado (Krishnamurti: ‘o observador é a
coisa observada’). Upanishads: ‘Onde existe uma dualidade, um pode perceber o
outro... Mas onde tudo se tornou um único ser, a quem se pode perceber?’ E,
‘Minha ligação com o meu corpo e suas partes é dissolvida; meus órgãos de percepção
não mais agem e torno-me Um com o Grande Todo. A isso denomino ‘sentar-se e
esquecer todas as coisas’ (meditação).
110. Os místicos reconhecem
a individualidade das coisas, mas, ao mesmo tempo, estão conscientes de que
todas as diferenças e contrastes são relativos dentro de uma unidade que tudo abrange. Em nosso
estado normal de consciência, essa unidade de todos os contrastes e, especialmente,
a unidade dos opostos, é muito difícil de ser aceita; mas ela constitui uma das
características mais enigmáticas da filosofia oriental, um insight que se situa
na própria raiz da concepção mística do mundo. Para o místico, os opostos são
apenas os dois lados da mesma moeda, os extremos de um todo único. ‘Enquanto em
tua mente houver o mais leve resquício de diferença entre o bem e o mal, ainda
não és dos nossos’). Suzuki: ‘A idéia fundamental do budismo consiste em
ultrapassar o mundo dos opostos, construído pelas concepções intelectuais
(abstratas) e corrupções emocionais do homem e em compreender o mundo da não-distinção
(o atemporal, onde tudo é um), que implica a obtenção de um ponto de vista
absoluto’ (satori).
111. Todo o misticismo
oriental gira em torno desse ponto de vista absoluto que é alcançado no mundo
do ‘não pensamento’ (meditação), onde
se tem a experiência da unidade de todos
os opostos. A noção de que luz e escuridão, vencer e perder, bem e mal,
vida e morte, masculino e feminino, não passam de aspectos polares diferentes
do mesmo fenômeno, é princípio básico do modo de vida oriental; todos os
opostos, sendo interdependentes, seu conflito jamais pode resultar na vitória
total de apenas um dos lados; em vez disso, será sempre uma manifestação da
interação entre os dois lados. Tao é a unidade oculta sob o yin e o yang, as
duas forças polares que interagem no mundo: ‘Aquilo que faz aparecer ora a
escuridão, ora a luz, ora o mal, ora o bem, é o Tao’.
113. A partícula, por ser apenas um padrão de
probabilidades (onda), tende a existir em diversos lugares, manifestando
estranha modalidade de realidade física entre a existência e a não-existência:
não está presente num local definido, nem está ausente; não altera sua posição,
nem permanece em repouso; nas palavras da Física: ‘Se se indagar se a posição
do elétron permanece a mesma, respondemos ‘não; se a posição varia com o tempo,
respondemos ‘não’; se ele permanece em repouso, respondemos ‘não’; se está em
movimento, respondemos ‘não’. Essa afirmação é semelhante às palavras dos
Upanishads: ‘Move e não se move; está longe e está perto; está dentro de tudo e
está fora de tudo. ’
114. Força e matéria,
partículas e ondas, movimento e repouso, existência e não-existência - são
alguns dos conceitos opostos ou contraditórios que a Física moderna transcendeu. Destes, o mais estranho e
fundamental é o último e, no entanto, na Física moderna, somos obrigados a ir
além até mesmo do conceito de existência e não-existência. Esta é a
característica da teoria quântica mais difícil de ser aceita e de interpretar,
e é um dos aspectos mais enigmáticos do misticismo oriental, que também lida
com uma realidade que se situa além da existência e da não-existência. Govinda:
‘A qüididade não é aquilo que é existência, nem é aquilo que é não-existência,
nem aquilo que é ao mesmo tempo existência e não-existência, nem aquilo que não
é ao mesmo tempo existência e não-existência’.
115. Nas palavras dos
místicos como nas dos físicos quânticos, os opostos são complementares, se
complementam, se integram (yang e yin). Bohr introduziu a noção de
complementaridade; para Bohr, partícula e onda são duas descrições da mesma realidade. Essa noção tornou-se
essencial à maneira pela qual os físicos modernos pensam acerca da natureza,
mas, já há dois mil e quinhentos anos, tem papel importante no antigo
pensamento chinês, devido ao insight de que os conceitos opostos são
complementares. Os místicos representavam essa complementaridade pelo par yin e
yang, considerando sua interação a essência de todos os fenômenos naturais e de
todas as situações humanas. Tão impressionado ficou Bohr ao conhecer a noção
chinesa de opostos polares que, nomeado cavaleiro, fez desenhar no seu brasão o
símbolo ‘t’ai-chi’, que representa a relação complementar dos opostos yin e
yang com a inscrição ‘Contraria sunt complementa’ (os opostos são
complementares), que é a base da filosofia oriental, reconhecendo a profunda
harmonia existente entre a antiga sabedoria oriental e a moderna ciência
ocidental.
116. ESPAÇO-TEMPO - A Física
atual confirmou, de forma dramática, uma das idéias básicas do misticismo
oriental: a de que todos os conceitos que utilizamos para descrever a natureza
são limitados, e não características da realidade, como acreditávamos, mas criações
da mente, partes do mapa, mas não do território. Nossas noções de espaço e
tempo figuram, de forma destacada, em nosso mapa da realidade, razão pela qual
são de suprema importância em nossa vida do dia-a-dia. Todas as leis da Física
usam os conceitos de espaço e tempo para sua formulação e só compreendemos a
natureza e os fenômenos usando esses conceitos. Por isso, as profundas
modificações desses conceitos básicos, advindas da teoria da relatividade,
constituíram uma das maiores revoluções
na história da ciência.
118. O misticismo oriental
sempre sustentou que espaço e tempo são
construções mentais e, assim, noções relativas, limitadas e ilusórias: ‘Foi
ensinado por Buda, ó monges, que o passado, o futuro, o espaço físico... e os
indivíduos não passam de nomes, formas de pensamento, realidades meramente
superficiais’. Govinda: ‘Fique bem claro que espaço nada mais é que um modo de
particularização, não possuindo existência própria. Ele existe unicamente em
relação à nossa consciência particularizadora’. Igual observação aplica-se à
nossa idéia de tempo. Os místicos orientais ligam as noções de espaço e tempo a
estados particulares de consciência,
porque, pela meditação, que os levou além do estado comum, compreenderam que as
noções convencionais de espaço e tempo não constituem a verdade última. As
noções requintadas de espaço e tempo resultantes da meditação assemelham-se às
noções da Física moderna advindas da teoria da relatividade. As especificações
espaciais ‘esquerda’, ‘direita’, ‘acima’, ‘abaixo’, etc. dependem da posição do
observador sendo, pois, relativas. No tocante ao tempo, a ordem temporal de
dois eventos era tida como independente de qualquer observador. As
especificações temporais ‘antes’, ‘depois’, ‘simultaneamente’, eram tidas como
absolutas, independentes de qualquer sistema de coordenadas; Einstein, contudo,
provou que também são relativas e que
dependem da posição do observador.
120. Essa afirmação mostra a
semelhança entre as noções de espaço e tempo da Física atual e aquelas dos
místicos orientais que afirmam que ‘espaço e tempo não passam de nomes, de
formas de pensamento, de palavras de uso comum’.
121. Minkowski (conferência,
1908): ‘As novas concepções de espaço e tempo vieram da Física experimental e
aí está sua força. São concepções radicais. Daqui por diante, espaço e tempo
estão condenados a desaparecer como simples sombras e só uma espécie de união (são um continuum) entre ambos preservará uma realidade independente’.
122.
Em face da velocidade finita da luz (300 mil km/seg.), nunca vemos o universo
como ele é no presente mas, sempre, como era no passado. A luz gasta oito
minutos para vir do Sol à Terra; por isso, quando vemos o Sol em qualquer
momento, estamos vendo como ele era oito minutos atrás. Vemos a estrela mais
próxima como ela existia há quatro anos e, com os potentes telescópios, vemos
galáxias como elas eram há milhões de anos.
123. Em todo o misticismo
oriental existe essa visão de que espaço e tempo são relativos e
interdependentes. Suzuki: ‘O Avatamsaka (visão do mundo na iluminação) é
ininteligível, a menos que cheguemos a um estado de completa dissolução onde não mais exista distinção entre mente e corpo,
sujeito e objeto; onde cada objeto se acha relacionado com cada um dos demais
objetos, não apenas temporal como também espacialmente. Como fato de pura
experiência, inexiste espaço sem tempo,
inexiste tempo sem espaço; eles se interpenetram’. Essas novas noções de
espaço e tempo se baseiam na experiência: experimentos científicos, num caso;
experiência na meditação, no outro.
124. Devido à compreensão de
que espaço e tempo se acham intimamente vinculados e se interpenetram, e que a
mudança (impermanência) é elemento essencial, vê-se, igualmente, impressionante
semelhança entre a visão da Física atual e a do misticismo oriental quanto a
estes dois elementos básicos da concepção do mundo: a unidade básica do
universo e sua natureza total e intrinsecamente dinâmica.
125. Os sábios orientais
falam de uma ampliação de sua experiência do mundo nos estados superiores de
consciência, e enfatizam que, não apenas ultrapassam o espaço tridimensional
pela meditação, como transcendem a experiência comum de tempo. Em vez de uma sucessão
linear de instantes, experimentam um presente infinito, eterno e dinâmico, que
denominam de ‘eterno agora’ (eternidade). Suzuki: ‘No mundo atemporal não
existem divisões de tempo, passado, presente e futuro; tais divisões
contraíram-se num único momento do presente, no qual a vida palpita em seu
verdadeiro sentido. Esse momento não é parado; ele, incessantemente, se move’.
126. Broglie: ‘No
espaço-tempo, tudo que para nós constitui o passado, o presente e o futuro, é
dado em bloco. Cada
observador, à medida que seu tempo ‘passa’, ‘descobre’ novas porções de
espaço-tempo que lhe parecem aspectos sucessivos do mundo material, embora, na
realidade, o conjunto dos eventos que constituem o espaço-tempo exista
anteriormente ao seu conhecimento dos mesmos. ’
127. Govinda: ‘Na meditação,
a experiência de espaço é totalmente diferente da usual; e a seqüência temporal
é convertida numa coexistência simultânea; nada permanece estático;
tudo é um ‘continuum’ vivo no qual espaço e tempo acham-se integrados’.
128. Mestre Zen: ‘A maioria
das pessoas acredita que o tempo passa; na verdade, o tempo permanece onde
está. Essa idéia de passagem é chamada tempo; trata-se, contudo, de uma idéia
incorreta, já que, na medida em que (condicionados) o encaramos como passagem,
não podemos perceber que ele permanece onde está’. O Zen enfatiza que o
pensamento tem lugar no tempo mas que a visão (mística) o transcende: ‘A visão
é levada a um espaço-tempo de dimensão superior e, por isso, eterno’. O
espaço-tempo da visão da Física moderna também é espaço-tempo eterno e infinito
de uma dimensão mais elevada. Aí, todos os fenômenos estão interligados, mas as
interligações não são causais... nesse contexto, inexiste o ‘antes’ e o
‘depois’ e, por isso, inexiste causalidade. De modo semelhante, os místicos
orientais asseguram que ao transcender o tempo (pela meditação), eles
transcendem igualmente o mundo de causa e efeito. Vivekananda: ‘Tempo, espaço e
causalidade assemelham-se ao vidro através do qual se vê o Absoluto. No
Absoluto, inexistem espaço, tempo e causalidade. ’ Afirma-se, então, que o
misticismo constitui uma forma de libertação do tempo. Pode-se dizer o mesmo da
Física moderna.
129. Segundo o misticismo
oriental, a realidade é a essência do
Todo, sustentando e unificando todas as coisas e eventos do universo. Para
os hindus, isso é Brahman; para os budistas, Tathata (Qüididade); para os
taoístas, Tao. Eles afirmam que essa realidade última está além de nossos
conceitos intelectuais, desafiando qualquer descrição (Paulo: ‘vi e ouvi coisas
indizíveis’). A sua característica central está no fato de se manifestar em
incontáveis formas que assumem sua existência e se desintegram,
transformando-se em outras formas num processo sem fim. Em sua unidade
fenomenal, a Unidade cósmica é intrinsecamente dinâmica e a percepção dessa
natureza dinâmica é básica para todas as escolas de misticismo oriental.
Budismo: ‘A idéia central está na apreensão dinâmica do universo cuja
característica consiste em mover-se sempre, em estar sempre num movimento sem
fim, e isso é a vida’. (o movimento que não é movimento, movimento indiviso, de
Krtishnamurti). Shiva, o Dançarino Cósmico, é talvez a personificação mais
perfeita do universo eternamente em movimento. (a dança sem dançarinos, conforme
Capra).
131. Em todos os textos
religiosos e filosóficos hindus, budistas e taoístas está evidente que o mundo
é concebido em termos de movimento, fluxo e mudança, qualidade dinâmica que é
uma de suas características básicas; o universo é uma teia indivisível,
inseparável, e cujas interconexões, não são estáticas, mas dinâmicas. Essa teia é viva; move-se, cresce e se
transforma incessantemente. À semelhança disso, a Física, hoje, concebe o
universo como uma teia de relações intrinsecamente dinâmicas. O aspecto
dinâmico emerge da teoria quântica como uma conseqüência da natureza
ondulatória das partículas subatômicas, e da teoria da relatividade que revelou
a unificação do espaço e tempo, o que implica que a existência da matéria não
pode ser separada de sua atividade, em termos de movimento, interação e
transformação sem fim. A matéria jamais está em repouso, mas em permanente
estado de movimento. Quanto menor o volume de seu confinamento, as partículas
respondem a ele agitando-se a velocidades inimagináveis. Lowell: ‘Atingimos (na
Física moderna) a grande barreira do pensamento, pois nos pomos a lutar com os
conceitos de espaço e tempo (que ali não têm o significado que lhes damos). Por
isso, sinto-me como se houvesse sido empurrado para uma espessa neblina onde
desaparece o mundo que nos é familiar’.
134. As partículas não são
grãos isolados de matéria, mas padrões de possibilidades, interconexões na teia
cósmica indivisível. Sua atividade incessante é a essência de sua existência. Os
místicos, em seus não usuais estados de consciência (meditação), chegaram à
percepção da interpenetração do espaço e do tempo a nível macroscópico e vêem
os objetos macroscópicos de forma muito semelhante à dos físicos. Um dos
principais ensinamentos do Buda era que ‘todas as coisas compostas são
não-permanentes’; o termo usado para ‘coisas’ é ‘samskara’, que significa
primariamente ‘evento’, ‘acontecimento’, ‘ação’ que é o que as coisas são: um
evento que surge e se desfaz, um processo dinâmico em incessante transformação.
Suzuki: ‘Os budistas concebem um objeto como um evento e não como uma coisa ou substância’.
135. Como o físico moderno,
o místico encara os objetos como processos
num fluxo universal, negando a existência de qualquer substância material.
No taoísmo é a mesma concepção: um Tao que flui perenemente. A Física moderna
conhece, hoje, mais de duzentas partículas (do átomo), a maioria criada nos
processos de colisão e vivendo muito menos que um milionésimo de segundo. É
evidente que essas partículas de vida curtíssima representam padrões meramente
transitórios de processos dinâmicos, e é delas
que todos os objetos do universo, incluindo nossos corpos, são constituídos.
137. Assim, a Física moderna
mostra-nos, agora no nível macroscópico,
que os objetos materiais não são entidades isoladas,
mas se encontram inseparavelmente vinculados ao espaço e ao tempo; que suas
propriedades só podem ser compreendidas em termos de sua interação com o meio,
com o restante do universo; e essa interação volta-se para o universo como um
todo, para as estrelas e galáxias distantes. A unidade básica do universo
manifesta-se, pois, não só no mundo do muito pequeno, mas também no mundo do
muito grande. Hoyle: ‘Nossa experiência cotidiana, até mesmo nos detalhes mais
insignificantes, mostra-se tão intimamente integrada às características em
grande escala do universo que é impossível encará-las como coisas separadas’.
138. O campo é compreendido
como entidade física fundamental, um meio contínuo que está presente em todos
os pontos do espaço. As partículas são condensações do próprio campo, concentrações
de energia que surgem e se desfazem, perdendo seu caráter individual e
desaparecendo no campo subjacente. Einstein: ‘... a matéria é constituída por
regiões do espaço nas quais o campo é extremamente intenso. Nesse novo tipo de
Física não há lugar para campo e matéria; campo
é a única realidade’. Também os místicos orientais consideram essa entidade
subjacente como a realidade última e,
portanto, todas as manifestações
fenomênicas são vistas como transitórias e ilusórias.
139. Logo, o espaço vazio, o
Vazio, não deve ser visto como um
simples nada. Ao contrário, é a essência
de todas as formas e a fonte de toda a vida. Upanishads: ‘Brahman é vida, é alegria, é o
vazio. Alegria, na verdade, é o mesmo que Vazio. Vazio, na verdade, é o mesmo
que alegria’. O Vazio que possui o potencial de gerar uma infinidade de coisas
(o campo das infinitas possibilidades, de Maharesh) e pode ser comparado ao campo quântico da Física moderna. À
semelhança do mundo subatômico do físico, o mundo fenomênico do místico
oriental é o mundo de samsara, de nascimento e morte contínuos. Por serem manifestações transitórias do Vácuo, as coisas
neste mundo não possuem qualquer identidade fundamental, ponto enfatizado
particularmente no budismo, que nega a existência de qualquer substância
material e sustenta que a idéia de um
Si-mesmo (ego, eu) constante, e que passa por experiências sucessivas, é ilusão.
Os budistas comparam essa ilusão de substância material e de um Si-mesmo
individual ao fenômeno de uma onda de água, na qual os movimentos de subida e
descida das partículas de água nos fazem acreditar que uma ‘parte’ da água se
move sobre a superfície. É interessante observar que os físicos utilizaram a
mesma analogia no contexto da teoria de campo para indicar a ilusão de uma
substância material criada por uma partícula em movimento. Weyl :
‘Conforme a teoria de campo, uma partícula material - por exemplo, um elétron -
é apenas um pequeno domínio do campo elétrico no qual a intensidade do campo
assume valores extremamente elevados, indicando que uma energia de campo
comparativamente elevada acha-se concentrada num espaço bastante pequeno. Um
tal nó de energia, que de forma alguma está claramente delineado contra o campo
restante, propaga-se através do espaço vazio como uma onda de água através da
superfície de um lago. Não existe algo que seja uma substância única da qual o
elétron se compõe sempre’ (os objetos não são constituídos sempre das mesmas
partículas).
140. Os confucionistas
desenvolveram a noção do ‘ch’i’ que apresenta a mais notável semelhança com o
conceito de campo na Física moderna. Ch’i é concebido como uma forma tênue e não perceptível de ‘matéria’
presente em todo o espaço e que pode condensar-se em objetos materiais.
Chuang Tsai: ‘Quando o ch’i se condensa, sua visibilidade torna-se evidente de
modo que existem, então, as formas (os objetos e coisas materiais). Quando se
dispersa, sua visibilidade não é mais evidente e não mais há formas. No momento
de sua condensação, podemos afirmar outra coisa a não ser que se trata de algo
temporário? E, no momento de sua dispersão, podemos afirmar que se torne,
então, inexistente?’
141. Assim, ch’i se condensa e se dissolve ritmicamente,
gerando todas as formas que, de maneira imprevista, se dissolvem no Vácuo.
Chuang Tsai: ‘O Grande Vácuo não pode consistir senão em ch’i; ch’i não pode
condensar-se senão para formar todas as coisas; e as coisas não podem
dissolver-se senão para formar uma vez mais o Grande Vácuo’ (ch’i).
142. À semelhança do que se
verifica na teoria quântica do campo, o campo ou o ch’i não é apenas a essência
subjacente a todos os objetos materiais como, igualmente, transporta suas
interações mútuas sob a forma de ondas. Física: ‘A física moderna colocou nossa
visão acerca da matéria num contexto diferente. Desviou nosso olhar do que é
visível - partículas, objetos - para a entidade subjacente (invisível), o
campo. A matéria é simplesmente uma perturbação do estado perfeito do campo
nesse lugar, algo acidental, pode-se dizer, um mero ‘defeito’ na perfeição do campo’. Misticismo: ‘O universo constitui
um todo perfeitamente contínuo. O
ch’i condensado em matéria palpável não está particularizado em qualquer
sentido importante, mas os objetos
individuais agem e reagem com todos os demais objetos individuais de maneira
vibratória ou semelhante a ondas, dependentes, em última instância, da
alternância rítmica, em todos os níveis, das duas forças fundamentais, yin e
yang. Dessa forma, os objetos individuais possuem ritmos intrínsecos e estes
estão integrados no padrão geral da harmonia do universo’. (interdependência
total).
145. Igualmente, na física
quântica do campo, as forças entre as partículas refletem padrões dinâmicos
inerentes a essas partículas. Essa teoria mostra que as partículas não podem
ser separadas do espaço que as circunda, que elas determinam a estrutura desse
espaço, sendo vistas como condensações do campo contínuo que está presente em
cada ponto do espaço. O campo é visto como a base de todas as partículas e de
suas interações mútuas: ‘O campo existe sempre e por toda parte; jamais pode
ser removido. É o portador de todos os fenômenos naturais. É o Vácuo a partir
do qual todas as partículas (toda a matéria) surgem (são criadas) e no qual todas as partículas desaparecem (são destruídas). A criação
e a destruição das partículas não passam de movimentos do campo’.
146. Quando se tornou
evidente que as partículas podem passar a existir espontaneamente a partir do
vácuo e desaparecer novamente no vácuo, sem que esteja presente qualquer força
de qualquer outra partícula, a diferença entre espaço vazio e matéria teve de
ser abandonada. Partículas são formadas a partir do nada e desaparecem em seguida no nada. Eventos desse tipo ocorrem a todo instante. O vácuo, o
chamado Vazio, está longe de ser vazio; ao contrário, contém um número sem
limites de partículas que passam a existir e que deixam de existir
ininterruptamente. O vácuo, da teoria de campo, como o vazio, do misticismo,
não é um estado de um simples nada, mas contém a potencialidade para todas
as formas do mundo das partículas. Essas formas não são entidades físicas
independentes mas, apenas, manifestações transitórias do campo
subjacente. Chuang Tsai: ‘Quando se sabe que o Grande Vácuo está pleno de ch’i,
compreende-se que não existe coisa alguma que seja o nada’. (Mahareshi: ‘O
campo das infinitas possibilidades’. Física: ‘a singularidade, o ponto
infinitamente pequeno, onde estavam reunidas todas as forças que deram origem
ao ‘bigbang’).
148. O estudo das partículas
revela alto grau de ordem. Todos os átomos e, conseqüentemente, todas as formas
de matéria em nosso meio ambiente, são compostos apenas de três partículas
maciças: o próton, o nêutron e o elétron; a quarta partícula, o fóton, não
possui massa e representa a unidade de radiação magnética. Todas podem
desintegrar-se num processo de colisão. Para cada partícula existe uma
anti-partícula de massa igual e carga oposta. A força que mantém os prótons e
nêutrons unidos no núcleo atômico é a mais poderosa da natureza. Essa força é
de dez milhões de unidades (elétrons-volts) enquanto a força que liga os
elétrons ao núcleo é de dez unidades apenas.
149. ‘Todas as coisas são agregados
de átomos que dançam e, por meio de seus movimentos, produzem ‘sons’. Quando o
ritmo da dança se modifica, o som que produz também se modifica. Cada átomo
canta incessantemente sua canção e o som, a cada instante, cria novas formas
densas e sutis... ’ ‘Dançando, Brahman envia ondas vibratórias do som que desperta,
cria e sustenta todas as coisas, formas e fenômenos e, na plenitude do tempo,
dançando ainda, Ele destrói todas as coisas e lhes concede novo repouso. Isto é
poesia e, contudo, é também ciência. ’
150. Shiva faz-nos lembrar
que as múltiplas formas do mundo são
maya, ilusórias e em permanente mudança, que esse deus cria e destrói no fluxo incessante de sua dança, a
contínua criação-destruição do universo que é envolvido por seu ritmo. Para
os físicos modernos, a dança de Shiva é a dança da matéria subatômica, de
criação e destruição, que envolve a totalidade do cosmos e constitui a base de
toda existência e de todos os fenômenos naturais.
151. Heisenberg: ‘Na física
moderna, dividimos o mundo não em grupos de diferentes objetos, mas de
diferentes conexões... O mundo aparece, assim, como complicado tecido de
eventos, no qual conexões de diferentes tipos se alternam ou se sobrepõem ou se
combinam e, com isso, determinam a textura do todo’.
152. Ashvagosha: ‘Quando a
unidade da totalidade das coisas não é compreendida, a ignorância e a
particularização têm início e todas as fases da mente corrompida são, então,
desenvolvidas... Todos os fenômenos
do universo nada mais são do que manifestações ilusórias da mente, não
possuindo realidade própria’.
153. Sutra budista: ‘Da
mente nascem coisas inumeráveis, condicionadas pela discriminação, que são
aceitas pelas pessoas como o mundo externo (o mundo fora de nós, o mundo dos
objetos e coisas). Mas, o que se afigura como mundo externo não existe na realidade; é, de fato, a mente que é
vista como multiplicidade; os corpos, as propriedades... tudo isso, nada mais é que a mente’.
154. Radhaskrishnan: ‘Como
podemos pensar em coisas em vez de em processos nesse fluxo absoluto, sem fim?
É uma atitude artificial da mente que secciona a corrente de mudança e a essas
secções denomina coisas. Quando percebermos essa verdade, perceberemos o absurdo de adorar produtos isolados da série
sem fim de transformações como se eles fossem eternos e reais. A vida não é plena de ‘coisas’ mas de
processos; é uma mudança sem fim’. Do I Ching: ‘... aqui só a mudança
atua’.
155. Bootstrap (levantar-se
puxando pelas próprias botas; auto-suficiência), uma visão científica moderna,
tem explicação nas palavras de Ch’en Shun, 1200 a .C.: ‘Há uma lei
natural e inescapável que governa as questões (humanas) e as coisas (naturais); seu significado é que todas as questões e coisas são feitas de modo a se encaixarem
exatamente no seu lugar, sem que haja o mais ligeiro excesso ou deficiência’.
(Assim, tudo no universo está
exatamente onde deve estar; todos os processos, procedimentos, condutas,
pensamentos e ações são exatamente como devem ser, seja no âmbito particular ou
geral, nos fenômenos materiais ou mentais).
156. Budismo: ‘No céu de
Indra, diz-se existir uma rede de pérolas dispostas de tal forma que, se
contemplamos uma, vemos todas as demais nela refletidas. Da mesma forma, cada objeto do mundo não é simplesmente ele
mesmo, mas envolve todos os demais objetos e, de fato, é tudo o mais. Por isso, diz-se: ‘Em cada partícula de
poeira estão presentes incontáveis Budas’, ou, William Blake: ‘... ver o mundo
num grão de areia, segurar o infinito na palma da mão, e a eternidade numa
hora’.
157. Leibniz: ‘Cada porção
de matéria pode ser concebida como um jardim cheio de plantas e um açude cheio
de peixes. Mas cada ramo de planta, cada escama de peixe, cada gota de seus
humores, é também um novo jardim cheio de plantas ou um novo açude cheio de peixes’.
(Sem fim).
158. Levada a seu extremo, a
visão bootstrap implica que a existência da consciência, juntamente com
todos os demais aspectos da natureza, é necessária para a auto-consistência (e
auto-consciência) do todo.
159. EPÍLOGO - As filosofias
das tradições orientais se interessam pelo conhecimento
místico, eterno, que se situa além do raciocínio, além do ego, e não pode ser
adequadamente expresso em
palavras. A relação desse conhecimento com a Física moderna é
apenas um de seus múltiplos aspectos e, como todos os outros, não pode ser
demonstrada de forma conclusiva, tendo de ser experimentada de forma intuitiva
direta (pela meditação; ‘venha e veja por si mesmo’). As teorias e modelos
principais da Física moderna levam-nos a uma visão de mundo que é
internamente consistente e está em perfeita harmonia com as concepções do
misticismo oriental. Para aqueles que já experimentaram essa
harmonia, o paralelismo entre as duas visões está fora de qualquer dúvida. Os diferentes caminhos que homens e
mulheres têm seguido na tentativa de compreender o mistério da Vida, entre eles
o caminho do cientista e o do místico, deram origem a diferentes descrições do
mundo que enfatizam diferentes aspectos. Todas elas, contudo, não passam de
descrições ou representações da mesma realidade procurada e são, portanto,
limitadas. Nenhuma fornece uma representação completa do mundo; apenas uma
representação aproximada.
161. As duas visões surgem
quando se questiona sobre a natureza essencial das coisas: na Física, para
dentro dos reinos mais profundos da matéria; no Misticismo, para dentro dos
reinos mais profundos da consciência. Nas duas visões se descobre uma realidade
diferente por trás da aparente mecanicista superficial da vida cotidiana. Mas,
embora usem métodos de investigação totalmente diferentes, a semelhança entre
as duas visões é impressionante. Os físicos obtêm seu conhecimento dos
experimentos; os místicos, da meditação. O místico olha para dentro e explora
sua consciência em seus vários níveis, o que inclui o corpo como a manifestação
física da mente, isto é, o místico experimenta o universo como uma extensão de
seu corpo. Govinda: ‘Para o homem iluminado, cuja consciência abarca o
universo, este se torna seu ‘corpo’, ao passo que seu corpo físico torna-se uma
manifestação da Mente Universal; sua visão interior, uma expressão da realidade
mais elevada, e sua palavra, uma expressão da verdade eterna e do poder
mântrico’.
162. O físico, penetrando
nas profundezas da matéria, torna-se consciente da unidade essencial de todas as coisas e eventos. Mais ainda:
compreende que ele mesmo e sua
consciência são partes integrantes, inseparáveis, e dependentes desse todo que
é a unidade universal, cujas ‘partes’ estão inter-relacionadas com todas outras
partes e eventos do cósmico. Portanto, físico e místico chegam à mesma
conclusão: o primeiro, a partir do mundo exterior; o outro, a partir do mundo
interior. A harmonia entre suas visões confirma a antiga sabedoria indiana
segundo a qual Brahman (ou Deus), a realidade última, que está em tudo e é tudo, é idêntica a Atman (a alma), a realidade
última interna.
163. Uma outra semelhança é
que suas observações têm lugar em reinos inacessíveis aos sentidos comuns. Na
Física moderna, o mundo atômico e o subatômico, inacessíveis aos sentidos
humanos; no misticismo, os estados não usuais de consciência, os quais, para
atingi-los, temos que transcender os sentidos. Assim, os caminhos do místico e do físico moderno, que pareciam totalmente sem
qualquer relação, têm, de fato, muito em comum.
Contudo , embora as
teorias científicas levem os cientistas a uma visão de mundo semelhante à dos
místicos, é impressionante notar quão pouco isso afetou as atitudes da maioria
dos cientistas frente à vida, enquanto no misticismo, ao contrário, o
conhecimento (leva à ação) não é separado de um determinado modo de encarar a
vida do dia-a-dia, que é manifestação viva desse conhecimento. Assim, adquirir
conhecimento místico equivale a passar por tremenda transformação;
ou melhor, esse conhecimento é a transformação. No entanto, o
conhecimento científico tem freqüentemente permanecido apenas na teoria. A
maioria dos físicos não compreendeu ainda as importantes implicações
filosóficas, culturais e espirituais de suas teorias, e apóia ativamente uma
sociedade que ainda se baseia numa visão de mundo fragmentada e, logo,
equivocada. Não perceberam que a ciência
aponta para além dessa visão, em direção à unidade e à totalidade do universo,
que inclui não somente o ambiente natural do qual vivemos e dependemos, mas,
também, todos os seres, humanos ou não.
Nagarjuna: ‘Todas as coisas
recebem seu ser e sua natureza por mútua dependência. ’
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