(8) ‘TEMOS QUE MUDAR’ (Jan2008)
Extratos do livro ‘O Ponto de Mutação’, de Fritjoff Capra, físico quântico. Mostram que temos que mudar, pois chegamos a um ponto a partir do qual o mundo não pode continuar como está. Por isso, recomenda a prática de uma Ecologia Profunda, destinada a todas as espécies, ao planeta, ao universo como um todo, pois é aí onde vivemos nossa existência sem fim. É verdadeiramente uma ecologia espiritual, que tende a preparar o ser humano e seu habitat para o imprevisível amanhã.
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INTRODUÇÃO
A nova física, advinda da exploração do átomo, provocou profunda mudança em nossa visão de mundo; passou-se da concepção, de Descartes e Newton, de que o mundo seria uma máquina, como um relógio, para uma visão holística e ecológica semelhante às visões dos místicos de todas as épocas.
A essa física (quântica) levou os cientistas a uma estranha realidade que parecia desafiar qualquer explicação. No esforço para compreendê-la, eles se tornaram inteiramente convencidos de que seus conceitos básicos, sua linguagem e seu modo de pensar, não eram adequados para descrever os novos fenômenos. Nossa sociedade encontra-se, hoje, numa crise semelhante. Taxas elevadas de inflação e desemprego, crise na energia e na assistência à saúde, poluição e desastres ambientais, onda crescente de violência e crimes, etc. Tudo isso são apenas facetas diferentes de uma só crise que é, essencialmente, uma crise de percepção nascida do fato de se tentar aplicar os conceitos da visão de mundo anterior (da física clássica), a uma realidade que não pode mais ser entendida em função daqueles conceitos.
Vivemos num mundo globalmente interligado, no qual todos os fenômenos, biológicos, psicológicos, sociais, ambientais, econômicos, culturais etc. são interdependentes. A física anterior não possuía essa visão. A nova visão inclui uma visão sistêmica da vida, mente, consciência e evolução; uma abordagem holística da saúde e da cura; a integração dos enfoques ocidental e oriental da psicologia e psicoterapia; uma nova visão para a economia e tecnologia; uma perspectiva ecológica que é espiritual em sua natureza e acarretará profundas mudanças em nossas estruturas sociais e políticas. Essa visão é incompatível com nossa sociedade atual, que não possui o estado de inter-relacionamento e de harmonia visto em toda natureza. Para se chegar a tal estado será necessária uma radical revolução cultural. A sobrevivência da civilização pode depender disso: de uma mudança profunda no modo de pensar, na percepção e nos valores que formam a visão cartesiana da realidade que orientaram até agora a vida do ser humano. Isso exige que todas as idéias, conceitos e suposições anteriores, que pela nova visão são seriamente limitados, sejam totalmente revistos e reinterpretados (o mesmo afirmam Einstein, Ken Wilber e outros).
A ciência médica e a farmacologia, que deveriam proteger a vida e a saúde, estão pondo em perigo nossa saúde e nossa vida.
A física passou por enorme revolução de conceitos e hoje faz contato com aquilo que é a essência das religiões, o misticismo, pois seus conceitos mostram profunda semelhança com as visões dos místicos de todas as épocas e tradições.
Uma das primeiras lições que os físicos tiveram de aprender foi que todos os conceitos e teorias que temos acerca do mundo são limitados e que a ciência nunca poderá dar uma descrição completa da realidade. Isto é, os cientistas não trabalham, na verdade, com a própria realidade, mas apenas com descrições aproximadas e limitadas dela. Por isso, têm, agora, que reinterpretar muitos de seus mais caros e firmados conceitos acerca da natureza das coisas.
A física quântica, de maneira convincente, fez ver que o método cartesiano, considerado o único meio para se entender o mundo, e que teve, particularmente na cultura ocidental, papel fundamental em todos os mais variados setores da vida do ser humano, seja intelectivo ou de relação com os demais, foi a causa do atual ‘desequilíbrio’ em que a humanidade está mergulhada, sob todos os aspectos. Isso tem provocado, à toda a humanidade, erros, conflitos e sofrimentos sem conta.
A própria medicina interpretava, erradamente, muitas das enfermidades atuais mais importantes por estar também alicerçada na visão de mundo cartesiana e, como a farmacologia, está falhando e pondo em risco a saúde dos seres humanos.
As graves inadequações do modelo cartesiano, cuja base filosófica assenta na divisão (separação) mente e corpo, estão ficando evidentes em todas as áreas e ciências. Com as novas descobertas, essa divisão mostrou-se totalmente absurda, fato que também ocorreu com os conceitos de espaço e tempo absolutos, de partículas sólidas, de substância material fundamental, da natureza estritamente causal dos fenômenos físicos, da descrição objetiva da natureza e bem assim com o princípio de que as condições de qualquer parte de um sistema podem ser previstas com rigorosa certeza desde que determinados dados sejam conhecidos. Como é evidente, a nova visão provocou tremendo abalo nos próprios alicerces da ciência (Einstein e outros).
A investigação do átomo mostrou aos cientistas uma estranha realidade que destruiu a já consolidada visão de mundo e os obrigou a pensar de modo totalmente diferente. Todas as vezes que, num experimento atômico, faziam uma pergunta à natureza, esta respondia com um paradoxo que mais absurdo se tornava quanto mais se esforçavam para esclarecer a questão. Isso os convenceu de que os conceitos básicos, linguagem e forma de pensar, formados em função da física clássica, estavam totalmente inadequados para descrever os novos fenômenos observados.
A física quântica exigiu mudanças tão profundas naquilo que entendemos por espaço e tempo, matéria e objeto, causa e efeito, conceitos que tinham sido tão fundamentais para o nosso modo de viver e compreender o mundo, que Heisenberg chegou a dizer: ‘Será a natureza tão absurda quanto parece nestes experimentos?’ Einstein sentiu o mesmo choque: ‘Foi como se o chão tivesse desaparecido de debaixo de meus pés e não existisse mais qualquer base sólida sobre a qual se pudesse construir alguma coisa’.
Uma nova e consistente visão de mundo começava a surgir. O universo deixou de ser considerado uma máquina constituída de infinidade de objetos, e passou a ser visto como um sistema todo dinâmico, indivisível, cujas partes são inter-relacionadas e interdependentes, e só podem ser entendidas como modelos de um processo cósmico, o que iguala as novas concepções às visões do misticismo oriental. Com isso, numerosos físicos, educados numa cultura que associa misticismo a coisas anticientíficas, se sentiram tremendamente chocados. Hoje, essa atitude está mudando. A meditação não é mais considerada uma coisa ridícula ou suspeita, e o misticismo está sendo olhado com seriedade pelos cientistas, convencidos agora de que ele fornece importante e coerente base filosófica para a nova ciência, numa compreensão de que as descobertas científicas estão em perfeita harmonia com as tradições do misticismo oriental.
A mecânica quântica trouxe resultados sensacionais e inesperados. Ao invés de partículas sólidas, como eram vistos anteriormente, verificou-se que os átomos consistem de vastas regiões do espaço onde partículas extremamente pequenas, os elétrons, se movimentam ao redor de um núcleo. Átomos, elétrons, prótons e nêutrons não são objetos sólidos e, dependendo do modo como nós os observamos, apresentam-se ora como partículas, ora como ondas de energia. Essa natureza dual é muito estranha, pois parece impossível que alguma coisa possa ser, ao mesmo tempo, uma partícula, uma entidade confinada num espaço muito pequeno, e uma onda que se espalha por vasta região do espaço. Mas foi exatamente isso o que os cientistas tiveram de aceitar.
Um elétron apresenta aspectos de onda em algumas situações, e de partícula em outras, sofrendo modificações contínuas de onda para partícula e de partícula para onda, mostrando que nenhum objeto atômico possui propriedades independentemente do seu meio-ambiente. Suas propriedades dependem daquilo com que ele é forçado a interagir.
Em nível subatômico, a matéria não existe em lugares definidos; em vez disso, mostra tendências para existir; e os eventos não ocorrem em tempos ou de maneiras definidas, apenas mostram tendência de ocorrer. Nunca podemos prever com certeza um evento atômico; apenas podemos prever a probabilidade de sua ocorrência.
A descoberta desse aspecto dual da matéria destruiu a noção clássica de objetos sólidos. No mundo subatômico, todos os objetos se desfazem em ondas de energia, que não representam a probabilidade da existência de coisas, mas probabilidades da existência de interconexões. As partículas não têm significado quando observadas isoladamente; somente podem ser entendidas como interconexões ou inter-relações com outros sistemas. Portanto, partículas não são coisas, mas interconexões entre coisas, e essas coisas, por sua vez, são interconexões entre outras coisas’, e assim por diante. Desse modo, a nova física revela a unicidade total do universo, isto é, qualquer parte está unida a todas as outras partes (o universo é um único sistema, um único organismo). Quando penetramos na matéria, não encontramos qualquer elemento básico isolado, mas uma teia de relações e interconexões entre as várias partes de um todo que é indiviso (Teilhard de Chardin). A partícula não é uma entidade de existência independente; é um conjunto de relações que se estendem e interagem com outras partículas e coisas.
Enquanto, nas conexões locais (no espaço-tempo), nenhum sinal pode ser transmitido com velocidade maior que a da luz (conforme a teoria da relatividade de Einstein), nas conexões não-locais os sinais são instantâneos e não podem ser previstos com certeza matemática (o principio da incerteza, de Heisenberg). Cada evento, fato, fenômeno, é influenciado pelo universo todo, por conexões instantâneas com todos os demais eventos do universo e, embora a ciência ainda não consiga explicar essa influência, reconhece nela a existência de uma certa ordem.
Outra descoberta é que o observador influi de modo instantâneo no evento que ele observa mesmo que esteja a milhares de quilômetros. E é o todo que determina o comportamento das partes, e não o contrário, como sempre a ciência acreditou.
James Jean: ‘O universo agora parece mais com um grande pensamento do que com uma grande máquina’.
Pela nova ciência, a estrutura da matéria e a da mente apresentam evidentes semelhanças, e a mente determina, em grande medida, as características dos eventos observados. Na física quântica, os fenômenos observados só podem ser entendidos como correlações entre vários processos, e o fim dessa cadeia de processos reside, sempre, na consciência do observador. A característica mais importante da teoria quântica é que o observador é indispensável não só para que possam ser observadas as propriedades de um fenômeno, mas também para causar essas propriedades. A observação é que ocasiona, em certa medida, as propriedades do que está sendo observado. Um evento somente apresenta qualidades objetivas quando observado por uma mente senciente. Portanto, não existe divisão entre mente e matéria, pois não existe separação entre observador e coisa observada.
O universo é entendido como uma rede indivisa de relações interligadas, rede dinâmica, pois todos os objetos atômicos são de natureza ondulatória, agitando-se vertiginosamente na tendência inerente de se movimentarem. Tudo está turbilhonando em contínuo movimento. Mesmo aquilo que parece ‘morto’, pedra, metal etc, apresenta enorme atividade. Na natureza não existem formações estáticas, mas existe extraordinária estabilidade, a estabilidade do equilíbrio dinâmico.
De acordo com Einstein, espaço e tempo são interdependentes e relativos, um continuum. Assim, não existe ‘antes’ nem ‘depois’ nos processos observados e, portanto, nenhuma relação linear de ‘causa’ e ‘efeito’. Pois, como vimos, todos os eventos estão interligados e as conexões são não-causais.
Partículas são feixes de energia, entidades quadridimensionais, padrões dinâmicos que possuem dois aspectos: aspecto espacial, que determina que se apresentem como objetos com massa; e aspecto temporal, como processos de energia, com duração no tempo. A velha noção de substância perdeu todo sentido. Todos os objetos ‘materiais’ consistem de partículas que não têm qualquer substância material. Quando as observamos, só vemos modelos dinâmicos que se convertem continuamente uns nos outros, ondas em partículas e vice-versa, na ininterrupta e universal dança da energia.
As partículas não são grãos isolados de matéria, mas interconexões numa inseparável teia universal que inclui o observador humano e sua consciência. As inter-relações e interações entre as parte do todo são mais importantes do que as próprias partes. E há movimento vertiginoso e ininterrupto, mas não existem objetos se movendo; há dança, mas não há dançarinos (Krishnamurti: o movimento que não é movimento. Capra: a dança de Shiva).
Todos os componentes do universo, até às menores partículas, devem ser perfeitamente coerentes entre si. Não há entidades, nem leis, nem constantes, umas mais importantes do que as outras. Nenhuma das propriedades de qualquer parte dessa teia dinâmica universal é fundamental; todas elas decorrem das propriedades de todas as outras partes, e a coerência total de suas inter-relações determina a estrutura e a coerência da teia toda. Cada partícula consiste de todas as outras partículas. Tais concepções levam a ciência atual ao nível da filosofia budista ou taoísta (daí, a representação de Buda com um colar de pedras preciosas, no qual cada gema reflete o brilho e as cores de todas as outras).
O fato de as propriedades das partículas serem determinadas por princípios intimamente ligados à observação de seres sencientes mostra que as construções básicas do universo são determinadas pelo modo como nós as observamos, o que significa que os modelos de matéria são reflexos dos modelos de nossa mente, uma verdade que a ciência reconhece cada vez mais. A moderna física afirma que a consciência tem de ser um aspecto essencial do universo e que, sem sua compreensão, não poderá haver um conhecimento completo dos fenômenos naturais.
D. Bohm vê mente e matéria como interdependentes e correlacionadas, projeções mutuamente envolventes de uma realidade superior que não é nem matéria, nem mente.
(A mutação genética é causada por um erro aleatório (aleatório para nós?) no processo de multiplicação celular, que resulta em mudança permanente na informação transportada pelo gene).
(O corpo saudável exibe forte resistência a todo tipo de micróbio. Todo e qualquer organismo humano atua como hospedeiro para multidão de bactérias que só podem causar danos quando o corpo está debilitado, fato que produz enfraquecimento do sistema imunológico e diminuição da resistência geral, física e/ou mental).
Parece haver muito poucas doenças infecciosas em que as bactérias causam um dano real e direto ao organismo hospedeiro. Na maioria dos casos, o dano é causado por reação exagerada do organismo, que aciona defesas poderosas e diferentes simultaneamente. Assim, as doenças surgem o mais das vezes dessa falta de coordenação dentro do organismo e não de danos causados por bactérias invasoras.
Quando os sintomas da enfermidade física, que são apenas resultado do desequilíbrio orgânico, são suprimidos pela medicina, a doença pode manifestar-se de alguma outra forma (como sempre afirmou a homeopatia).
A saúde tem muitas dimensões que decorrem de complexas interações de aspectos físicos, psicológicos, ambientais, sociais e culturais da natureza do ser humano. O estado psicológico é importantíssimo tanto para a geração quanto para a extinção da doença. A interação psicológica paciente/médico talvez seja a parte mais importante de qualquer terapia.
A visão atual é que os sintomas de um distúrbio mental refletem a tentativa de o organismo curar a si mesmo e atingir um novo nível de integração. A prática psiquiátrica corrente interfere nesse processo de cura espontânea ao suprimir os sintomas, porque os psiquiatras, responsáveis pelo tratamento das doenças da psique, não possuem conhecimento completo do espectro total da consciência do ser humano.
Conquistas recentes em pesquisas da consciência, psicoterapia e psicologia transpessoal estimularam o interesse pelo misticismo oriental, que apresenta resultados fundados em experiências produzidas por estados de consciência que não podem ser entendidos pela ciência cartesiana, mas têm surpreendente concordância com as descobertas da física quântica. O misticismo é, sobretudo, caminho de libertação; busca a transformação da consciência, com técnicas que visam mudar, nos praticantes, a percepção consciente de sua própria existência e de sua relação com o universo. Tradições como o vedanta, budismo, ioga e taoísmo não são nem filosofias nem religiões, mas verdadeiras psicoterapias. Por isso, não é de admirar que, hoje, muitos psicoterapeutas ocidentais estejam mostrando profundo interesse pelas práticas do misticismo oriental (e, também por isso, Jung afirmou que a experiência de aproximação do divino é a verdadeira terapia).
Na psicanálise, a compreensão dos processos e estados da consciência é essencial. Talvez por isso, um dos maiores psicólogos do Ocidente, William James, tenha transferido sua atenção para questões mais filosóficas e místicas, como estados incomuns de consciência, fenômenos psíquicos e experiências religiosas, na intenção de sondar o espectro total da consciência humana.
Reich descobriu que emoções e atitudes mentais provocam resistência no organismo físico, que se expressam em padrões musculares (contrações e dores), e formulou técnicas de trabalho do corpo, hoje aperfeiçoadas e muito usadas.
O LADO SOMBRIO DO CRESCIMENTO DA TECOLOGIA
O excessivo crescimento tecnológico criou um meio ambiente no qual a vida se tornou física e mentalmente doentia. Ar poluído, congestionamento de tráfego, ruídos perturbadores, poluentes químicos dentro e fora das moradias, riscos de radiação e muitas fontes de estresse físico e psicológico são, hoje, parte ‘normal’ da vida da maioria. A tecnologia está perturbando seriamente os processos ecológicos que sustentam o meio ambiente natural, a própria base de nossa existência. Uma das mais sérias ameaças, quase totalmente negligenciada, é o envenenamento da água e do ar por resíduos químicos tóxicos. Milhões de pessoas terão, em futuro próximo, a saúde afetada pois, só nos Estados Unidos, calcula-se que, já em 1979, existiam mais de 50.000 locais conhecidos onde materiais, altamente perigosos para o organismo humano, são armazenados ou enterrados como lixo químico (o total, por ano, de lixo de alto risco subiu de 10 para 35 milhões de toneladas só nos anos 70). São verdadeiras bombas-relógio prontas a se converter numa das mais graves ameaças ambientais ao planeta. Enquanto os grandes fabricantes de produtos químicos afirmam que a vida seria impossível sem esses produtos, felizmente está despertando a consciência de que a indústria química mais destrói do que protege a vida.
Imensas quantidades de óleo são derramadas nos mares e rios, perturbando seriamente a vida marinha, trazendo riscos ecológicos ainda pouco compreendidos. A geração de eletricidade a partir do carvão é mais poluidora e nociva que a produzida pelo petróleo. Enormes áreas de terra são devastadas, mas o pior, para o meio ambiente e a saúde humana, está na queima do carvão. São lançados na atmosfera enormes quantidades de fumaça, cinzas, gases e compostos orgânicos, tóxicos e cancerígenos. A poluição produzida pelos automóveis pode causar graves lesões pulmonares, e uma única usina de queima de carvão pode expelir tanto óxido de nitrogênio quanto varias centenas de milhares de carros. Assim, nossa atmosfera está cheia de poluição invisível constituída de ácidos sulfúrico e nítrico, resultantes das reações químicas entre o que as usinas expelem e o oxigênio e vapor de água do ar.
Posteriormente, esses ácidos, carregados pelos ventos, são lançados em qualquer lugar com a neve ou chuva ácida, vindo a matar peixes, insetos e outras formas de vida. Em várias partes de nosso planeta, milhares de lagos estão completamente mortos ou em vias de extinção por não mais conseguirem neutralizar a acidez, e estruturas inteiras de vida, que levaram milhares de anos para evoluir, estão desaparecendo. E toda a culpa está na miopia ecológica dos governos e na ganância dos grandes empresários donos de usinas que têm poder político e o usam para impedir a implementação de medidas de controle porque, de um modo ou de outro, seus lucros serão afetados. Muitas dessas empresas, para ‘agradar’ as populações mais próximas, despejam seus lixos poluentes em ‘algum outro lugar’, esquecidas de que, num ecossistema finito como é nosso planeta, não existe ‘algum outro lugar’.
A energia solar é limpa, renovável, abundante, estável nos preços, benigna ao ambiente, mas é considerada, pelos poderosos da indústria de energia, como ‘antieconômica’ e ‘inviável’, apesar de numerosas provas em contrário. Por trás disso estão os interesses dos governos que, a todo custo, procuram aumentar seu poder bélico com a construção de armas nucleares de destruição em massa mais poderosas e em maior quantidade. A obsessão é ‘ter sempre vantagem’ sobre os demais.
Os estudiosos concluíram que o mundo não precisa de ‘mais’ energia, mas de ‘menos’, desde que sejam corrigidos os padrões gananciosos de crescimento exagerado e desnecessário que exaurem nossos recursos naturais e contribuem significativamente para muitos sintomas de doenças individuais e sociais. Mais energia significa acelerar o esgotamento de minerais, florestas e animais, mais poluição, mais envenenamento químico, mais injustiça social, mais câncer e mais crimes. Não precisamos de mais energia, mas de uma profunda mudança de valores e de estilo de vida.
Tornou-se já evidente que o uso de energia nuclear como fonte energética é total loucura, pois apresenta maiores riscos que os da energia do carvão e ameaça mesmo extinguir toda espécie humana. O poder nuclear, ao invés de proporcionar segurança é, hoje, a maior ameaça à nossa sobrevivência e bem-estar. Essa energia contamina o meio ambiente, afetando todos os organismos vivos, animais ou vegetais, e seus efeitos não são imediatos, mas a médio e longo prazos; o câncer pode aparecer de dez a quarenta anos depois, e as doenças genéticas, nas gerações futuras. E ainda mais: se um reator funde, toda massa de urânio derretido, que destruiria qualquer blindagem de proteção, penetraria na terra além de provocar a explosão do vapor que espalharia materiais radioativos mortais por todo o planeta. Milhares morreriam pela explosão e radiação, e esta produziria doenças matando, depois, outros milhares; vastas áreas ficariam contaminadas e inabitáveis por milhares de anos.
O plutônio, o mais perigoso subproduto radiativo, mantém seu efeito danoso por cerca de 500.000 anos, tempo inimaginável para nós e cem vezes maior do que toda a história documentada do homem. Que direito moral temos de deixar herança tão terrível a milhares e milhares de gerações futuras? Nenhuma tecnologia humana pode criar recipientes seguros para tempo tão longo; só meio quilo de plutônio uniformemente distribuído poderia causar câncer pulmonar a todas as pessoas do planeta, e cada reator produz, por ano, de 200 a 250 quilos de plutônio! Além disso, rotineiramente, toneladas de plutônio são transportadas por trens, caminhões e aviões, com todos os riscos decorrentes do transporte. Bilhões e bilhões de dólares são investidos para que os governos, na sua ânsia pelo poder, tenham essa energia perigosa, e é o contribuinte quem paga.
E quanto à indústria farmacêutica? Na obsessão de lucros, gigantescas verbas são gastas em publicidade para que as populações usem medicamentos que, muitas vezes, nem possuem justificativa científica, e muitos dos efeitos adversos nem mesmo são informados aos médicos que os receitam. Isso também acontece com antibióticos, drogas muito perigosas para os pacientes e que são o que mais os médicos receitam. Essa prescrição desnecessária ou negligente já matou milhares de pessoas.
As mulheres, as maiores vítimas dos medicamentos, tomam 60% de todos os psicoativos receitados e mais de 70% dos antidepressivos. Muitas indústrias oferecem prêmios aos médicos para que receitem seus produtos, e médicos e pacientes crêem, por condicionamento gerado pela propaganda da poderosa indústria farmacêutica, que o corpo humano, para permanecer saudável, precisa de contínua supervisão médica e de tratamento por medicamentos.
Do mesmo modo, a indústria petroquímica condicionou agricultores e agrônomos a acreditar que o solo necessita de maciças quantidades de agentes químicos para se manter produtivo. Venenos são lançados na terra, matando todos os organismos, enquanto o que o solo precisa é de bilhões de organismos vivos em cada centímetro cúbico para ser vivo e fértil. A energia do sol e os nutrientes naturais sustentam esse sistema e o mantêm em equilíbrio, desde que usadas convenientes técnicas ecológicas de plantio.
Indústrias farmacêuticas manipulam os médicos para receitarem mais e mais, e indústrias petroquímicas manipulam agrônomos e agricultores para que usem mais e mais produtos químicos ‘necessários’ a uma boa produção. Mas continuam existindo milhões de famintos pelo mundo, e os únicos que lucram são as grandes companhias de fertilizantes e pesticidas, cujos produtos estragam as terras, seus frutos e, conseqüentemente, a saúde de todos. Deixou de existir a agricultura limpa, familiar, sufocada pelas grandes empresas agrícolas que produzem para o lucro e a exportação, enquanto as populações próximas estão subnutridas. As grandes empresas produzem o que o mercado lhes pede. As culturas estão perdendo a capacidade de absorver os nutrientes do solo, ficando cada vez mais viciadas aos produtos químicos. O desequilíbrio ecológico vindo do excesso de química resultou em aumento de pragas e doenças, e combate-se o resultado do excesso de química com mais química.
O problema da fome no mundo não é técnico, mas social e político. Sérias pesquisas mostram não existir um único país no qual as populações não possam alimentar-se com seus próprios recursos, e que a totalidade de alimentos hoje produzidos no mundo basta para alimentar mais que o dobro da população do planeta. Mais alimentos estão sendo produzidos e, paradoxalmente, mais pessoas passam fome. É a desigualdade social o principal obstáculo a todas as tentativas de combate à fome. Milhões são expulsos do campo pelas grandes empresas agrícolas, e a agroindústria é altamente lucrativa apenas para pequena elite, que deixa de cultivar alimentos para as necessidades locais, optando por safras mais lucrativas destinadas à exportação, enquanto as populações locais morrem de fome. Na América Central, as terras mais férteis são usadas para culturas de exportação, enquanto 70% das crianças estão subalimentadas. A política correta seria que as culturas industriais só fossem plantadas depois de satisfeitas as necessidades básicas locais; e que a exportação venha depois. Grandes empresas multinacionais desmatam extensas áreas de terras férteis para a criação de gado para exportação, atividade mais simples e mais lucrativa para as empresas, mas mais nociva para as populações.
A CONCEPÇÃO SISTÊMICA DA VIDA
A nova visão da realidade dada pela nova física (quântica) baseia-se na consciência da inter-relação e interdependência de todos os fenômenos, sejam eles físicos, biológicos, psicológicos, sociais, culturais e econômicos. Nessa visão, nenhum modelo, parte ou lei é mais importante que o outro. A concepção sistêmica vê o mundo em termos de relações e de integrações. Os sistemas são totalidades integradas, que não podem ser reduzidas às unidades ou partes menores. Os exemplos de sistemas são abundantes na natureza. Todo e qualquer organismo, da menor bactéria aos seres humanos, é uma totalidade integrada, um sistema vivo, como o são as células, tecidos, órgãos do corpo, etc. Os mesmos aspectos são exibidos pelos sistemas sociais, como o formigueiro, a colméia, a família humana, a sociedade, as nações. Isso mostra a ilusão do ‘determinismo genético’, isto é, a crença de que as várias características físicas ou mentais do organismo individual são determinadas exclusivamente por sua constituição genética. A visão sistêmica deixa claro que os genes não são os determinantes exclusivos do funcionamento de um organismo, pois eles são também partes integrantes de um todo ordenado e adaptam-se, portanto, à organização sistêmica.
Diferentemente das máquinas, que são construídas, os organismos vivos crescem e são sistemas auto-organizadores, nos quais existe determinada ordem resultante de atividades coordenadoras próprias que não obrigam as partes, mas deixam espaço para a variação e flexibilidade que as habilitam a se adaptarem às novas circunstâncias. Os principais fenômenos dinâmicos da auto-organização são a auto-renovação, que é a capacidade de renovar e reciclar continuamente seus componentes, sem mexer com a integridade de sua estrutura global; e a auto-transcendência, que é a capacidade de se orientar criativamente para além das fronteiras físicas e mentais nos processos de aprendizagem, evolução e desenvolvimento.
A relativa autonomia dos sistemas auto-organizadores geralmente aumenta com sua complexidade, e atinge o auge nos seres humanos, o que evidencia que livre-arbítrio, determinismo e liberdade, são apenas conceitos relativos. Esse conceito relativo de livre-arbítrio é compatível com a visão das tradições místicas que encorajam seus adeptos a transcender a noção de um ‘eu’ separado e a tomar consciência de que todos somos partes inseparáveis do cosmo. O objetivo dessas tradições é o completo abandono de todas as sensações do ego e, em experiência mística, a obtenção da fusão com o todo cósmico. Alcançado esse estado, a questão do livre-arbítrio perde todo o seu significado. Se eu sou o universo, não pode haver influências exteriores e todas minhas ações são espontâneas e livres. Assim, na visão dos místicos, a noção de livre-arbítrio é relativa, limitada e ilusória, como todos os conceitos que usamos para descrever racionalmente a realidade.
Quanto mais estudamos os seres vivos, mais percebemos que a tendência para a associação, para o estabelecimento de vínculos e de cooperação entre eles, é uma característica essencial. Lewis Thomas: ‘Não somos seres solitários. Cada criatura está, de alguma forma, ligada a tudo o mais e desse tudo depende.’
A competição e o comportamento destrutivo ou excessivamente agressivo são predominantes apenas na espécie humana, e têm que ser tratados como conseqüência da cultura, e não considerados, pseudo-cientificamente, como fenômenos inerentes à natureza humana.
Todo subsistema é um organismo relativamente autônomo, mas também, ao mesmo tempo, é um componente de um organismo maior. A teoria dos sistemas considera que o meio ambiente é, em si mesmo, um sistema vivo capaz de adaptação e evolução, evolução que é basicamente aberta e indeterminada. Nela não existe meta ou finalidade (propósito, plano) e, no entanto, há um padrão reconhecível de desenvolvimento. Enquanto as religiões (populares) julgam que existe um propósito para a evolução, e a teoria de Darwin a supõe um jogo de dados cósmico, a nova teoria dos sistemas não aceita nenhuma dessas concepções. Embora não negue a espiritualidade, e possa até ser usada para formular um conceito de divindade, a nova visão não admite um plano evolutivo previamente estabelecido (é essa, também, a visão dos místicos). A evolução é uma aventura contínua e aberta que cria sua própria finalidade, ininterruptamente, em processos cujos desfechos detalhados são totalmente imprevisíveis (o princípio da incerteza, de Heisenberg). No entanto, o modelo geral de evolução pode ser reconhecido e é muito compreensível. Suas características incluem o aumento progressivo de complexidade, coordenação e interdependência; a integração de indivíduos em sistemas de múltiplos níveis; e o refinamento contínuo de certas funções e tipos de comportamento; portanto, uma progressão do caos para a ordem.
Para Batson e outros, os critérios relativos à mente estão intimamente relacionados com as características dos sistemas auto-organizadores. A mente é propriedade essencial dos sistemas vivos. Vida e mente são manifestações do mesmo conjunto de sistemas, de processos que representam a dinâmica da auto-organização. Mente e matéria não são categorias distintas, como acreditava Descartes, mas representam aspectos diferentes de um mesmo processo universal. A mente é uma organização intimamente inter-relacionada com a estrutura (matéria) e com a função (tempo), nos níveis mais baixos de complexidade, mas que vai além do espaço e do tempo, em níveis superiores.
Nossas mentes individuais são apenas subsistemas de outras manifestações mais amplas da mente (ver ‘Além do Ego’ e Theilhar de Chardin), fato que tem implicações radicais para nossas inter-relações com o meio ambiente natural. Se separarmos os fenômenos mentais dos sistemas maiores em que eles estão inseridos, e os limitarmos aos indivíduos humanos, veremos o meio ambiente como desprovido de mente e seremos inclinados a explorá-lo. Nossas atitudes, porém, serão radicalmente diferentes quando nos convencermos que o meio ambiente natural não só está vivo, como também possui mente, como todos nós.
O fato de o mundo vivo estar organizado em estruturas de múltiplos níveis significa que também existem múltiplos níveis mentais. A ação da mente, no cérebro, consiste em múltiplos níveis correspondentes a diferentes estágios da evolução. Essa noção de mente, da qual só temos conhecimento dos estados ordinários de consciência, é muito difundida em numerosas culturas não-ocidentais e tem sido agora estudada em profundidade por muitos psicólogos do Ocidente. Na ordem da natureza, as mentes humanas individuais estão inseridas nas mentes mais vastas dos sistemas sociais e ecológicos, e estes, por sua vez, estão integrados no sistema mental planetário, o qual deve participar, ao fim, de alguma espécie de mente universal ou cósmica. Nessa perspectiva, a divindade não manifesta qualquer forma antropomórfica, mas representa nada menos do que a dinâmica auto-organizadora do cosmo inteiro.
Apesar da neurociência vir estudando, intensamente e há décadas, esse sistema altamente complexo e de múltiplos níveis que é o cérebro, ele continua profundamente misterioso. É um sistema vivo por excelência. Embora após o primeiro ano de vida não mais sejam produzidos novos neurônios, continuam ocorrendo pelo resto da vida mudanças plásticas. Na medida em que o meio ambiente muda, o cérebro adapta-se em resposta a essas mudanças, e se a qualquer momento ele for danificado, por ferimento ou lesão, o sistema realiza ajustamentos muito rápidos. Ele nunca se desgasta ou exaure; ao contrário, quanto mais é usado, mais poderoso se torna. O cérebro está sempre em contínua atividade espontânea, seus neurônios transmitindo bilhões de impulsos por segundo, na transmissão de informações para todo o organismo. Os dois hemisférios estão envolvidos em funções opostas, mas complementares. O direito, que controla o lado esquerdo do corpo, funciona de modo holístico, apropriado à síntese; o esquerdo controla o lado direito e é especializado no pensamento analítico, que envolve o processamento linear da informação.
A mente humana é capaz de criar um mundo interior que reflete o exterior, mas possui existência própria e pode levar o indivíduo ou a sociedade a agir sobre o mundo exterior. O campo psicológico inclui a autoconsciência, o pensamento conceitual, a experiência consciente, a linguagem simbólica, os sonhos, a arte, a criação de cultura, senso de valores, interesse no passado remoto e preocupação com o futuro distante. A maior parte dessas características existe em forma rudimentar em várias espécies animais, de modo que parece não haver um critério único que permita diferenciar os humanos dos outros animais. Porém, o alto nível de refinamento dessas características combinadas existe apenas na espécie humana.
Estudos mostram que os aspectos fisiológicos da percepção não podem ser separados dos aspectos psicológicos da interpretação. Além disso, o novo conceito de percepção advindo da nova física, apaga a diferença convencional entre percepção sensorial e extra-sensorial ao mostrar que toda percepção é, em certa medida, extra-sensorial (Krishnamurti e o misticismo afirmam o mesmo).
Nossas reações ao meio ambiente são determinadas não tanto pelo efeito direto dos estímulos externos sobre nosso sistema biológico mas, antes, por nossa experiência passada, nossas expectativas, nossos propósitos, e pela interpretação simbólica individual de nossas percepções. Um suave perfume pode evocar alegria ou mágoa, prazer ou dor, através de associações com a experiência passada, e nossas respostas variam de acordo com isso. Assim, o mundo interior e o exterior estão sempre interligados no funcionamento do organismo humano; interagem e evoluem juntos (o exterior é o interior; o observador é a coisa observada). A autoconsciência parece manifestar-se somente em animais superiores, e está totalmente (?) desenvolvida no ser humano.
Como a concepção da mente não está limitada a organismos individuais, podendo ser estendida a sistemas sociais e ecológicos, podemos dizer que grupos de pessoas, sociedades e culturas têm uma mente coletiva (e assim a humanidade). Participamos de modelos mentais coletivos, somos moldados por eles e, por outro lado, os moldamos. Daí os conceitos de mente planetária e de mente cósmica que podem ser associados a níveis planetários e cósmicos de consciência.
A concepção científica ocidental considera a consciência característica de complexos modelos materiais que surgem num determinado estágio da evolução biológica. A concepção oriental está assentada nas tradições místicas e considera a consciência a realidade primária e a base de tudo. Em sua mais pura forma, de acordo com essa visão, a consciência é imaterial, informe e vazia de conteúdo; amiúde descrita como ‘consciência pura’, ‘realidade última’, ‘qüididade’ (aquilo que é o que é) etc, conceitos que estão associados ao Divino em muitas tradições espirituais. Afirma-se que a consciência pura é a essência do universo e que se manifesta em todas as coisas, todas as formas de matéria e em todos os seres.
A visão mística da consciência baseia-se na experiência de estados não comuns de consciência, atingidos pela meditação. Psicólogos modernos chamam essas experiências de transpessoais porque permitem à consciência individual estabelecer contato com modelos mentais coletivos e até cósmicos, além da personalidade do ego. De acordo com numerosos testemunhos, essas experiências envolvem relação forte, pessoal e consciente com a realidade, superando amplamente a atual estrutura científica ocidental. Não se pode esperar, portanto, que a ciência em seu atual estágio confirme ou contradiga a concepção mística da consciência. Entretanto, a visão sistêmica da mente é perfeitamente compatível com as concepções tanto científica moderna quanto mística de consciência e fornece forte base para a unificação das duas.
Cientificamente, não é exagero supor que todas as estruturas do universo, das partículas subatômicas às galáxias, das bactérias aos seres humanos, são manifestações da dinâmica auto-organizadora do universo, à qual identificamos com a mente cósmica (ou Deus). E é essa a concepção mística, com a única diferença de que os místicos enfatizam a possibilidade de se ter uma experiência direta da consciência cósmica, que vai muito além da possibilidade da ciência e da visão da psicologia ocidental.
As condições ambientais de vida mudaram e continuam mudando sempre em ritmo rápido e, a fim de se adaptar a essas mudanças, a espécie humana usou a consciência, o pensamento conceitual e a linguagem simbólica de que dispõe, para transferir-se de uma evolução genética individual para uma evolução social. No entanto, essa adaptação não é perfeita. Ainda carregamos conosco condicionamentos dos estágios iniciais de nossa evolução que, com freqüência, nos dificultam a tarefa de enfrentar os desafios do atual meio ambiente.
Em todo o mundo animal, a agressão raramente vai ao ponto de levar um dos adversários, da mesma espécie, à morte. A luta é mais um ritual e termina em geral com o perdedor aceitando a derrota. Na espécie humana, essa sabedoria desapareceu. No processo de criação de um mundo abstrato interior, parece que perdemos o contato com as realidades da vida e passamos a ser as únicas criaturas que, com freqüência, não são capazes de cooperar e que, por isso, chegam a matar indivíduos da própria espécie. A evolução da consciência nos deu, não só as sinfonias belíssimas e a teoria da relatividade, mas também a Inquisição, a queima das bruxas, o Holocausto e a bomba de Hiroxima.
Em raros momentos de nossas vidas (como na meditação profunda), podemos sentir que estamos em harmonia com o universo inteiro. Esses momentos de ritmo perfeito, quando tudo parece completamente certo e tudo é feito com facilidade, constituem elevadas experiências espirituais em que todo tipo de separação ou fragmentação é transcendido, e o eu e o não-eu (o eu e o todo, o eu e o mundo, o eu e o universo) se tornam um.
A concepção sistêmica da vida, como vimos, é espiritual em sua essência mais profunda e compatível com muitas idéias do misticismo. Os paralelos entre ciência e misticismo não se limitam à física moderna, mas se estendem com igual justificativa à nova biologia sistêmica. Dois temas básicos se destacam repetidamente ao estudarmos a matéria viva e a não-viva, temas que são sempre realçados no misticismo: a interligação e interdependência de todos os fenômenos universais, e a natureza intrinsecamente dinâmica da realidade. Em ambos os campos, os níveis da mente são considerados manifestações diferentes da consciência cósmica, e mesmo que as concepções místicas ultrapassem de muito o âmbito da ciência atual, elas não são, de modo algum, incompatíveis com os modernos conceitos sistêmicos de mente e matéria.
Nascimento e morte são considerados, por numerosas tradições místicas, tal como na física atual, estágios de ciclos infindáveis de auto-renovação contínua, característica da dança da vida. Teilhard de Chardin, sacerdote jesuíta e cientista eminente, entre os místicos ocidentais é aquele que mais se aproxima da nova biologia sistêmica. Sua teoria da evolução apresenta notáveis semelhanças com a nova teoria dos sistemas: a evolução biológica se desenrola na direção de uma crescente complexidade, que é acompanhada por correspondente elevação do nível de consciência, culminando na espiritualidade humana. Para ele, Deus é a fonte de todo ser e, em particular, a fonte do impulso e da força da evolução (no Cristianismo primitivo, as forças que nos fazem bons ou maus, inteligentes ou néscios). Embora seja freqüentemente menosprezado pelos cientistas que não conseguem ver além das concepções cartesianas, seu conceito de Deus pode muito bem ser o mais próximo da concepção da ciência moderna (por essa sua visão, diferente da teologia da igreja cristã, foi proibido, pelo Vaticano, de tornar público qualquer pensamento seu até o dia de sua morte).
A doença é conseqüência de desequilíbrio e desarmonia, e freqüentemente decorre da falta de coerência que se pode manifestar em vários níveis do organismo e é passível de gerar sintomas de natureza física, psicológica e social. Acredita-se que o estresse excessivo contribui de modo significativo para a origem e desenvolvimento da maioria das enfermidades, manifestando-se no desequilíbrio inicial do organismo e, em seguida, sendo canalizado, através de determinada característica da personalidade, para dar origem a distúrbios específicos. Aspecto importante desse processo é o fato de que a enfermidade é freqüentemente percebida, consciente ou inconscientemente, como uma saída para a situação estressante, representando, os vários tipos de enfermidades, diferentes vias de fuga. A cura não fará necessariamente que o paciente fique saudável, mas a enfermidade pode ser uma oportunidade para a introspecção que resolverá a raiz do problema.
O desenvolvimento da enfermidade envolve a interação contínua entre processos físicos e mentais que se reforçam mutuamente através de completa rede de canais de realimentação. Apresentam-se como manifestações de processos psicossomáticos subjacentes que devem ser enfrentados na terapia. Essa visão dinâmica da enfermidade reconhece especificamente a tendência inata do organismo para curar-se e restabelecer seu estado de equilíbrio, o que pode incluir fases de crise e de importantes transições vitais. Períodos de saúde precária, com sintomas de menor importância, são estágios normais e naturais que representam o meio de o organismo restabelecer o equilíbrio mediante a interrupção das atividades normais do indivíduo, forçando-o a uma mudança de ritmo. Por isso, os sintomas de enfermidades menores desaparecem depois de alguns dias, mesmo sem tratamento. As enfermidades mais sérias exigirão intervenção de terapeutas, e o resultado dependerá profundamente das atitudes mentais e expectativas do paciente. As enfermidades graves exigirão enfoque terapêutico que se ocupe tanto dos aspectos físicos e psicológicos do distúrbio, e também de mudanças no estilo de vida e na visão de mundo do paciente, que serão parte integrante do processo de cura. Toda doença é, afinal, conseqüência de alguma desarmonia em relação à ordem cósmica.
No xamanismo, a busca de uma causa da doença e a declaração formal de um diagnóstico são mais importantes do que a própria terapia. O diagnóstico pode referir-se a disputas, discussões e rixas entre famílias, sem que se dê muita atenção ao próprio paciente. Todo o acontecimento é, principalmente, um acontecimento social, no qual o paciente é meramente o símbolo do conflito no seio da sociedade. E a principal finalidade das técnicas consiste em reintegrar a condição do paciente na ordem cósmica. Não se trabalha com o inconsciente individual do paciente, mas com o inconsciente coletivo e social, compartilhado por toda a comunidade (nela inserido o paciente).
Já na antiga Grécia, ‘Ares, águas e lugares’, livro de Hipócrates, é um tratado sobre ecologia humana. Mostra como o bem estar dos indivíduos é influenciado pelo meio ambiente: a qualidade do ar, da água e dos alimentos, a topografia das terras e os hábitos de vida em geral. De acordo com esses escritos, a saúde requer um estado de equilíbrio entre influências ambientais, modos de vida e os vários componentes da natureza humana. A correlação entre mudanças súbitas nesses fatores e o aparecimento de doenças é enfatizada, sendo a compreensão dos efeitos ambientais considerada a base essencial da arte médica.
Quanto à cura, Hipócrates reconheceu a existência de forças curativas naturais nos organismos vivo, às quais chamou de ‘poder curativo da natureza’. O papel do médico consistia em ajudar, como mero assistente, essas forças naturais, criando condições favoráveis para sua ação no processo de cura.
Na medicina chinesa, o equilíbrio é fundamental no conceito de saúde. As doenças se manifestam quando o corpo perde o equilíbrio e o ch’i, o fluxo de energia vital que anima todo o cosmo, não mais circula adequadamente. São múltiplas as causas desse desequilíbrio: alimentação inadequada, falta de sono ou de exercício, desarmonia com a família ou a sociedade; com isso, o corpo perde o equilíbrio e a doença se instala. A doença não é considerada um agente intruso, mas o resultado de causas que culminam em desarmonia e desequilíbrio. Entretanto, a natureza de todas as coisas, incluindo o organismo humano, possui tendência natural para retornar ao estado dinâmico de equilíbrio (conforme o ‘I Ching’, depois de um período de decadência chega o ponto de mutação, num movimento natural e espontâneo; a transformação do antigo torna-se fácil e o novo é introduzido. Ambos, com o tempo, se harmonizam, não resultando daí nenhum dano).
A doença e a saúde são consideradas naturais e partes de uma seqüência contínua, aspectos de um mesmo processo, no qual o organismo continuamente muda para se adaptar ao meio ambiente inconstante. Sendo, portanto, inevitável a doença em certos momentos, no processo da vida, a saúde perfeita não é o objetivo essencial nem do terapeuta, nem do paciente. O objetivo da terapia é fazer a melhor adaptação possível do indivíduo ao meio ambiente como um todo. Nessa visão, o paciente é responsável pela manutenção da própria saúde e mesmo, em grande parte, pela recuperação do equilíbrio do organismo, devendo viver de acordo com as regras da sociedade e cuidando do corpo de modo eminentemente prático, tanto que, na China, os médicos recusavam pacientes quando o seu estado atingia certo grau de gravidade.
Enquanto na medicina ocidental o médico ideal é um especialista, com conhecimento detalhado sobre uma parte específica do corpo, na chinesa o médico ideal é um sábio, que entende que tudo no universo funciona em conjunto, inter-relacionado; que não classifica a doença específica do paciente, mas registra o mais completamente possível o seu estado de mente e de corpo, e como ele se relaciona com a natureza e a sociedade. Para isso, desenvolveram técnicas apuradas de observação e interrogatório para diagnosticar, além de uma arte incomparável de tomada de pulso, que lhes permite determinar o fluxo e os padrões de ch’i ao longo dos meridianos e, com isso, o estado dinâmico do organismo todo.
A concepção sistêmica de saúde baseia-se na concepção sistêmica de vida. Os organismos são sistemas auto-organizadores com alto grau de estabilidade profundamente dinâmica e caracterizada por flutuações contínuas, múltiplas e interdependentes. Para ser saudável, esse sistema precisa ser flexível e ter grande capacidade de opções para se adaptar e responder às mudanças do meio ambiente. A perda dessa flexibilidade significa perda de saúde.
O estresse é um desequilíbrio advindo da resposta às influências ambientais. O estresse temporário é um aspecto essencial e natural da vida, uma vez que a interação contínua com o meio ambiente envolve, freqüentemente, perdas temporárias de flexibilidade. Mas o estresse prolongado ou crônico é pernicioso e tem papel significativo no curso de muitas doenças. O estresse ocorre quando uma ou mais variáveis de um organismo são forçadas até seu limite extremo. No organismo saudável, as outras variáveis colaborarão para que se restabeleça a flexibilidade anterior.
Na visão sistêmica de mente, torna-se evidente que todas as doenças têm aspectos mentais. Adoecer e curar-se são partes integrantes da auto-organização do organismo e, como a mente, representam a dinâmica dessa auto-organização, esses processos são essencialmente fenômenos mentais. As atitudes e processos mentais desempenham importante papel não só no surgimento de doenças, como nos processos de cura. O primeiro passo nessa auto-cura é o reconhecimento, por parte do paciente, de que ele participou, consciente ou inconscientemente, da origem e desenvolvimento da doença e que, por conseguinte, poderá participar do processo de cura. Na prática, no entanto, a maioria dos pacientes não admite essa idéia.
A vontade do paciente de ficar bom e a confiança no tratamento são aspectos cruciais. A experiência tem mostrado repetidamente que pacientes aos quais é dito que têm apenas de seis a nove meses de vida não vivem, de fato, mais do que isso. Declarações desse tipo nunca devem ser feitas, pois exercem poderoso impacto sobre o sistema mente/corpo do doente e parecem agir como um feitiço.
A política a ser adotada na área de saúde pelos governos, dentro da nova visão sistêmica, holística e dinâmica do universo, consistirá numa legislação que deverá incluir, entre muitas outras, as sugestões seguintes:
-Proibição de toda propaganda de produtos prejudiciais à saúde.
-Impostos de assistência à saúde sobre indivíduos e empresas que gerem riscos à saúde, para que cubram os custos médicos decorrentes desses riscos (poluição, bebidas alcoólicas, cigarro, alimentos supérfluos e artificiais).
-Programas sociais para melhorar a educação, níveis de emprego, direitos civis e a situação das pessoas pobres.
-Incentivos à indústria para que produza alimentos nutritivos, com restrições a artigos oferecidos por máquinas automáticas, e especificações nutricionais para alimentos servidos em escolas, hospitais, prisões, cantinas de repartições públicas etc.
-Política para o desenvolvimento de métodos orgânicos na agricultura.
Há, porém, uma terapia que aborda o equilíbrio psicossomático através da mente. Com vários métodos de relaxamento e redução de tensões, tem fortes possibilidades de desempenhar papel importante em todas as terapias futuras. Em nossa cultura ocidental as concepções atuais com relação a esse assunto são muito primárias. Ver televisão, beber um drinque, ler livros, viajar, não reduzem tensão nem ansiedade. O relaxamento profundo para ser eficaz tem de ser exercitado regularmente. A respiração correta é processo psicofisiológico que requer prática cuidadosa como qualquer outra habilidade vital para redução do estresse. Respiração regular e profunda e relaxamento intenso são característicos das técnicas de meditação de muitas culturas, desde há milhares de anos, particularmente no Extremo Oriente. O recente interesse pelo misticismo tem levado número crescente de ocidentais à prática regular de meditação e fez se realizarem muitos estudos e pesquisas sobre os benefícios à saúde daí originados (Maharesh). Essas pesquisas têm indicado que a reação do organismo humano à meditação é oposta à sua reação ao estresse, fato que sugere que as técnicas de meditação têm importantes aplicações clínicas. Essas técnicas já estão sendo usadas para a supressão de muitas desarmonias mentais e físicas.
Com o organismo total completamente relaxado, consegue-se fazer contato com o próprio inconsciente, podendo obter importantes informações sobre seus problemas e aspectos psicológicos. A comunicação com o inconsciente ocorre através de uma linguagem altamente pessoal, visual e simbólica, semelhante a sonhos, como acontece em muitas técnicas de meditação. O que se procura é um estado meditativo de profundo relaxamento em que todo o esforço cessa. Então, os canais de comunicação entre a mente consciente e a mente inconsciente se abrem e facilitam a integração de funções psicológicas e biológicas (conexão mente-corpo).
Simonton, holístico, trouxe novo tratamento para o câncer, fenômeno típico de nosso tempo. O desequilíbrio e a fragmentação que impregnam nossa cultura ocidental desempenham papel importante no desenvolvimento desse mal e, ao mesmo tempo, não permitem que os pesquisadores compreendam a doença ou a tratem com êxito. Simonton desenvolveu uma terapia compatível com a nova visão de saúde e doença. Os resultados, em pacientes considerados incuráveis, têm sido extraordinários. A imagem popular do câncer foi condicionada pela visão fragmentada de mundo da cultura ocidental e pelo uso excessivo de tecnologias. O câncer é visto, assim, como poderoso invasor vindo de fora. Parece não haver esperança de controlá-lo e, para muitos, é sinônimo de morte. O tratamento convencional, com radiação, quimioterapia, cirurgia ou sua combinação, danifica mais o corpo. Os médicos estão, agora, cada vez mais inclinados a ver o câncer como distúrbio sistêmico, no início localizado, mas que, depois, se propaga por todo o corpo; o tumor original é apenas a ponta do iceberg. Os pacientes, no entanto, insistem em considerar seu próprio câncer um problema localizado, especialmente durante a fase inicial, vendo-o como um objeto estranho do qual querem se livrar o mais rapidamente e esquecer. Não percebem a interdependência dos aspectos psicológicos e fisiológicos.
Para Simonton, essa imagem tem que ser invertida. A moderna biologia molecular mostrou que as células cancerosas não são potentes como se pensa, mas fracas e confusas. Não invadem, não atacam nem destroem mas, apenas, se super-reproduzem. Principia com uma célula que tem informação genética incorreta, porque foi modificada por substâncias nocivas ou influências ambientais, ou simplesmente porque o organismo produziu ocasionalmente uma célula imperfeita. A informação defeituosa a impede de funcionar normalmente e, se ela produz outras com a mesma constituição genética incorreta, o resultado é um tumor constituído de células imperfeitas. As células normais se comunicam eficazmente com seu meio ambiente para determinar suas dimensões e taxa de reprodução, ao contrário do que ocorre com a comunicação e auto-organização das células imperfeitas. Estas se reproduzem a esmo. A coesão entre elas pode enfraquecer e algumas se desprendem da massa original, viajam para outras partes do corpo, formando novos tumores (metástase). Num organismo sadio, o sistema imunológico reconhece as células anormais e as destrói ou as cerca impedindo sua disseminação. Se o sistema imunológico, por alguma razão, está desequilibrado, deficiente, a massa de células defeituosas continua a crescer. O câncer, portanto, é uma falha do equilíbrio interno do organismo (como um todo).
Simonton reconhece a existência de substâncias e influências ambientais cancerígenas, e defende vigorosamente a implementação de uma política social apropriada para eliminar esses riscos. Mas concluiu que nem esses fatores, nem a radiação, nem a predisposição genética, explicam satisfatoriamente a causa da doença, pois o que faz que, a partir de certo momento, o sistema imunológico não mais reconheça e não destrua as células anormais, e permite que cresçam e formem tumores que ameaçam a vida? A resposta que encontrou é que devem ser considerados os aspectos mentais e emocionais da saúde e da doença. O desequilíbrio do sistema imunológico é produzido por estresse prolongado, canalizado através de determinada característica da personalidade, dando origem a distúrbios específicos. No caso, as tensões cruciais parecem ser aquelas que ameaçam algum papel ou relação importante da identidade da pessoa, ou as que criam situação para a qual aparentemente não há escapatória. Muitos estudos sugerem que tais tensões ocorrem de seis a dezoito meses antes do diagnóstico da doença. Elas são passiveis de gerar sentimentos de impotência e desesperança tão grandes, que uma doença grave e até a morte, podem tornar-se, consciente ou inconscientemente, desejáveis como solução potencial.
Fatores físicos e psicológicos contribuem para a instalação da doença e o estresse emocional tem dois efeitos principais: inibe o sistema imunológico e acarreta desequilíbrios hormonais, o que resulta em aumento da produção das células anormais. Esta produção é incentivada justamente quando o organismo está menos capaz de destruí-las. Quanto à personalidade, os estados emocionais parecem ser elemento crucial no desenvolvimento do mal. A ligação de câncer e emoções vem sendo observada desde dezenas de anos, hoje havendo provas substanciais de estados emocionais específicos. Certos perfis psicológicos permitem mesmo que se possa prever a incidência de câncer com notável precisão. Sentimentos de solidão, abandono e desespero, na juventude, quando relações interpessoais intensas parecem impossíveis ou perigosas; perda de uma relação forte com uma pessoa, ou de um papel julgado importante no início da vida adulta, coisas que constituíam o centro da vida do indivíduo, resultando em desespero; interiorização do desespero a ponto de ser incapaz de deixar outras pessoas saberem quando se sente magoado, colérico ou hostil, constituem o modelo típico de pacientes que poderão vir a ter câncer, conforme numerosos pesquisadores. Os processos psicológicos e biológicos são interdependentes e podem ser reconhecidos, e a seqüência dos eventos que leva à doença pode ser invertida de modo que o organismo aprenda a se tornar saudável novamente.
Os pacientes devem ser levados a identificar as principais tensões que ocorreram em sua vida de seis a dezoito meses antes do diagnóstico e, pela lista, procura-se analisar a participação do paciente no desencadeamento de sua enfermidade. O objetivo não é produzir um sentimento de culpa, mas criar base para a inversão dos processos psicossomáticos que culminaram na doença. Incute-se no paciente a certeza, crucial para a terapia, do poder das defesas naturais do seu corpo. Estudos verificaram que a resposta ao tratamento depende muito mais da atitude do paciente do que da gravidade da doença. Gerados sentimentos de esperança e expectativa, o organismo os transforma em processos biológicos que começam a restaurar o equilíbrio e a revitalizar o sistema imunológico, utilizando os mesmos caminhos que foram usados na instalação da doença. A produção de células anormais diminui, e o sistema imunológico se torna mais forte e eficiente para combatê-las.
O câncer, assim visto, é um problema da pessoa como um todo. Assim, a terapia deve ocupar-se do ser humano total. Usam-se exercícios físicos regulares para reduzir a tensão, aliviar a depressão e ajudar o paciente a manter contato mais estreito com seu próprio corpo. Provou-se que a prática regular de relaxamento e de mentalização, durante a qual a doença e a ação do sistema imunológico são descritas na própria linguagem simbólica do paciente, é extremamente eficaz para fortalecer o sistema imunológico, freqüentemente resultando em redução espetacular e mesmo na eliminação dos tumores. Além disso, a meditação é método excelente para os doentes se comunicarem com o inconsciente, fato que lhes pode trazer importantes informações para sua recuperação.
Simonton ensina que, como os processos psicossomáticos subjacentes podem ter sido gerados por vários problemas psicológicos e sociais, enquanto estes não forem resolvidos o paciente não ficará bom, ainda que o câncer possa temporariamente desaparecer. A terapia deve ser auxiliada por psicoterapeutas que conheçam os aspectos sociais, culturais, filosóficos e espirituais geralmente envolvidos no dia-a-dia do paciente. Para a maioria desses pacientes, o impasse produzido pelo acúmulo de eventos estressantes só pode ser superado se eles mudarem parte de seu sistema de crenças e sua visão de mundo. Para isso, eles são encorajados a procurar respostas alternativas às suas perguntas existenciais.
ALÉM DO ESPAÇO E DO TEMPO
Na visão sistêmica do mundo, e em conseqüência da saúde, toda doença é um fenômeno mental e, em muitos casos, o processo de adoecer é invertido de modo eficaz através da abordagem que integra terapias físicas e psicológicas. Jung foi quem levou a psicologia a essa área. Rompendo com Freud, abandonou os conceitos clássicos da psicanálise e desenvolveu outros perfeitamente compatíveis com a física atual e a teoria dos sistemas. Em estreito contato com os mais eminentes físicos de seu tempo, estava perfeitamente ciente dessas semelhanças. São proféticas suas palavras: ‘Mais cedo ou mais tarde, a física nuclear e a psicologia do inconsciente se aproximarão cada vez mais, já que ambas, independentes e vindo de direções opostas, avançam para território transcendental. Psique e matéria, uma participa da outra, pois, não fosse assim, qualquer interação seria impossível. E, à medida que as pesquisas avançam, aumenta essa concordância entre os conceitos fisiológicos e psicológicos’.
Jung distinguiu duas áreas na psique inconsciente: um inconsciente pessoal, do indivíduo, e um inconsciente coletivo, comum a toda a humanidade. Segundo ele, ‘a mente consciente emana de um inconsciente que é mais antigo do que ela e que funciona com ela e mesmo apesar dela’. O inconsciente coletivo vincula o indivíduo a toda a humanidade; mais ainda, ao universo todo, concepção não entendida dentro dos conceitos da física anterior, mas totalmente compatível com a visão sistêmica da mente, introduzida pela física quântica. Os arquétipos de Jung estão inseridos numa teia de relações, na qual cada arquétipo envolve todos os outros, e todos os eventos se interligam e se influenciam.
Jung convenceu-se, por suas próprias experiências religiosas, da realidade da dimensão espiritual da vida. Para ele, a religião e a mitologia constituem fonte inesgotável de informações sobre o inconsciente coletivo, e concluiu que a espiritualidade pura é parte integrante da psique humana. Afirmou que os padrões psicológicos estão ligados não só causal, mas também não-causalmente. Introduziu o termo ‘sincronicidade’ para as conexões não-causais entre imagens simbólicas da psique e eventos do mundo exterior, conexões que considerava exemplos de um estado de ‘ordem não-causal’ (fora do espaço-tempo) na mente e na matéria. Hoje, trinta anos após, esse ponto de vista está sendo apoiado por conquistas na física quântica, que indicam um estado de conexão ordenada, conceito central nessa física, e os físicos admitem a existência de conexões não-locais, não-causais e, portanto além do espaço-tempo; neste, todas as conexões são locais, causais. Além disso, matéria e mente são cada vez mais reconhecidas como reflexos recíprocos.
Para Jung, a mente é um sistema auto-organizador, e a neurose, um processo pelo qual esse sistema tenta superar os obstáculos que o impedem de funcionar como um todo integrado, processo que objetiva o desenvolvimento pessoal. Consiste na integração dos aspectos conscientes e inconscientes da psique, que levará à experiência de um novo centro da personalidade (nova identidade). Cabe ao terapeuta apoiar esse processo, procurando uma interação entre seu inconsciente e o do paciente. Jung dizia: ‘não reagimos somente com nossa consciência, mas também com o inconsciente. Devemos nos perguntar sempre: como meu inconsciente está vivendo esta situação? Cumpre-nos observar nossos sonhos e estudar a nós mesmos tão cuidadosamente como fazemos com o paciente (pois o inconsciente é coletivo)’. Por seu interesse na espiritualidade, esoterismo e misticismo, Jung não foi levado a sério nos círculos psicanalíticos, atitude que hoje está mudando em face da crescente compatibilidade entre sua psicologia e a ciência quântica.
Maslow, como Jung, rejeitou a idéia de Freud de que a humanidade é dominada por instintos inferiores e que estes constituem o inconsciente pessoal. Interessado no crescimento pessoal, a que chamou ‘auto-realização’, passou a estudar pessoas que tinham experiências transcendentes espontâneas. Depois, os aspectos espirituais que favoreciam a auto-realização conquistaram o interesse da psicologia, que passou a estudar estados alterados de consciência, o que muito aproximou a psicologia transpessoal das tradições místicas orientais. Hoje, surge uma nova psicologia compatível com a visão sistêmica da vida e harmonizada com as concepções místicas, e numerosos psicólogos transpessoais estão trabalhando no sentido de colocar a psicologia na busca espiritual, não mais considerando que a espiritualidade é baseada em superstições primitivas, aberrações patológicas ou crenças falsas insufladas pela cultura.
A visão sistêmica afirma que, não podendo o organismo físico ser entendido se analisado em partes separadas, as propriedades e funções da psique não podem ser entendidas se reduzidas a elementos separados. A nossa visão fragmentada da realidade, além de ser obstáculo para a compreensão da mente, é também aspecto característico da doença mental, surgindo sempre de falha da integração dos vários componentes do organismo total (corpo e mente). Sob esse ponto de vista, a divisão cartesiana entre corpo e mente e a crença na separação entre os indivíduos e seu meio ambiente, parecem ser sintomas de uma doença mental coletiva compartilhada pela maior parte da cultura ocidental (cultura prostituta), como são, de fato, freqüentemente considerados por outras culturas.
Seguindo Jung e Reich, muitos psicólogos e psicoterapeutas passaram a conceber a dinâmica mental como um fluxo de energia, acreditando que essa dinâmica reflete uma inteligência própria que habilita a psique não só a criar a doença mental, mas também a curá-la. O crescimento interior e a auto-realização espiritual são considerados essenciais à dinâmica da psique humana, em pleno acordo com a ênfase na autotranscendência da visão sistêmica de vida.
Atualmente, tem crescido a consciência de que, freqüentemente, muitas doenças mentais têm origem em anormalidades nas relações sociais. Daí a tendência para terapias de grupo e de família.
Um dos sistemas mais abrangestes dedicado a integrar diferentes escolas psicológicas é a psicologia do espectro da consciência humana proposta por Ken Wilber, que une as abordagens ocidental e oriental. Cada nível desse espectro caracteriza-se por um diferente sentimento de identidade, desde a identidade drasticamente limitada do ego, até a suprema identidade com a consciência cósmica. As experiências transpessoais envolvem uma expansão da consciência para além das fronteiras convencionais do ego e, assim, para um sentido mais amplo de identidade. Podem, também, envolver percepções (PSE) do meio ambiente que transcendem as limitações usuais da percepção sensorial.
O nível transpessoal é o nível do inconsciente coletivo e fenômenos a ele associados. Ali, o indivíduo percebe a realidade do cosmo como um todo, numa forma de consciência que transcende o raciocínio lógico e a análise intelectual, aproximando-se da experiência mística direta da realidade. Na extremidade do espectro, o nível transpessoal funde-se ao nível do Espírito (da Mente). É o nível da consciência cósmica no qual o indivíduo se identifica com o universo inteiro e se torna a realidade; é o verdadeiro estado místico, no qual todas as fronteiras e dualismos são transcendidos e toda individualidade se dissolve na unicidade universal. Esse nível é a preocupação preponderante das tradições místicas do Oriente e do Ocidente, que enfatizam que as identidades associadas aos demais níveis de consciência são ilusórias. No nível da Mente (na auto-realização), a pessoa encontra sua identidade suprema, que é a própria divindade (Deus).
A psicoterapia de Grof é original, pois envolve experiências perinatais numa revivência extremamente realista e autêntica das várias fases do processo de nascimento de uma pessoa - a serena bem-aventurança no ventre em absoluta união com a mãe; as perturbações dessa paz por substâncias tóxicas e contrações musculares; a condição de ‘sem saída’ da primeira fase do parto, o colo do útero ainda fechado e as contrações repercutindo no feto, proporcionando situação de claustrofobia acompanhada de intenso desconforto físico; a propulsão pelo canal natalino, numa luta enorme pela sobrevivência sob pressões esmagadoras, freqüentemente com um elevado grau de sufocação; e, finalmente, o súbito alivio e relaxamento, o primeiro fôlego, e o corte do cordão umbilical completando a separação física da mãe. Há, impressionantemente, estreita relação entre essas experiências de nascimento e as experiências de morte.
O encontro entre nascimento e morte no decorrer da psicoterapia equivale freqüentemente a uma verdadeira crise existencial, forçando a pessoa a examinar seriamente o significado de sua vida e seus valores. Ambições mundanas, impulsos competitivos, ânsia de status, poder ou bens materiais, tudo tende a dissipar-se quando visto contra o pano de fundo da morte potencialmente iminente. Como ensinou Castañeda, abandonamos uma quantidade imensa de mesquinhez quando a morte nos acena; a morte é a única conselheira sábia que possuímos.
A única maneira de superar o dilema existencial da condição humana é, em última análise, transcendê-lo, vivendo nossa existência dentro de um mais amplo contexto cósmico. Isso só é conseguido com as experiências transpessoais (pela meditação) que podem oferecer profundos insights sobre a importância e a natureza da dimensão espiritual da consciência. Podem, também, envolver fenômenos paranormais, inegavelmente difíceis de interpretar pelo pensamento racional e pela análise científica. De fato, parece existir uma relação complementar entre fenômenos paranormais e o método cientifico. Aqueles parecem manifestar-se em toda sua força somente fora dos limites do pensamento analítico, e progressivamente diminuir à medida que sua observação e análise vão ficando mais científicas. Realmente, os modelos de Wilber e Grof indicam que a compreensão essencial da consciência humana situa-se além das palavras e conceitos.
Na abordagem sistêmica, a doença mental é fenômeno que sempre envolve aspectos físicos, psicológicos e sociais interdependentes. Diferentemente das neuroses, que são distúrbios nervosos mais simples, desordens mais sérias como as psicoses e a esquizofrenia (=mente dividida), não podem ser plenamente compreendidas se não forem considerados os níveis biossocial, existencial e transpessoal da psique (ver Wilber em ‘O Espectro da Consciência’).
A maioria dos tratamentos psiquiátricos atuais procura eliminar os sintomas com o uso de drogas psicoativas, abordagem que não ajudou os psiquiatras a entenderem melhor a doença mental, nem permitiu aos pacientes resolverem seus problemas subjacentes. Em vista dessas deficiências, numerosos psicólogos e psiquiatras desenvolveram uma visão sistêmica dos distúrbios psicóticos que leva em conta as múltiplas facetas da doença mental (social, cultural, existencial, ambiental, etc). Atualmente, muitas pessoas são diagnosticadas como doentes mentais não com base em seu comportamento, mas no conteúdo de suas experiências, concepção errônea pois a nova definição do que é normal ou patológico não se baseia no conteúdo das experiências de uma pessoa, mas no modo como elas são manipuladas e no grau em que ela é capaz de integrar à sua vida essas experiências incomuns, fato crucial para a saúde mental. Pesquisas revelam que a ocorrência espontânea desse tipo de experiências da realidade é muito mais freqüente do que suspeita a psiquiatria. São claramente de natureza transpessoal e estão em evidente contradição com todo o senso comum e com a visão clássica ocidental, sendo muitas delas bem conhecidas dos místicos, pois ocorrem freqüentemente na meditação profunda.
A incapacidade de algumas pessoas para integrar experiências transpessoais é agravada por um ambiente hostil a isso. Em face da cultura local, se sentem isoladas e incapazes de compartilhar a experiência. O medo, que pode ser esmagador, mais do que qualquer outra coisa, é que produz muitos dos sinais de ‘insanidade’. O sentimento de isolamento e a perspectiva de hostilidade (advinda dos demais) são ainda mais acentuados pelo tratamento, que envolve com freqüência exame humilhante, diagnóstico estigmatizante e hospitalização forçada, invalidando por completo a pessoa como ser humano. Como afirmou um pesquisador, ‘nada pode transmitir a sensação esmagadora que invade a pessoa que é continuamente exposta à despersonalização do hospital psiquiátrico’. No caso da esquizofrenia, estudos mostram que a pessoa assim diagnosticada faz parte, quase sem exceção, de uma rede de padrões extremamente perturbados de comunicação no seio da família. A doença é, realmente, um distúrbio de todo o sistema familiar.
Bateson apurou que a esquizofrenia representa uma estratégia especial que a pessoa ‘inventa’ para conseguir viver uma situação insustentável, uma situação em que ela ‘nunca pode vencer’. Mensagens contraditórias verbais e não-verbais de um ou de ambos os pais, podem provocar na criança a situação de duplo vínculo, pois ambas as mensagens implicam punição ou ameaça à sua segurança emocional. Ou o comportamento esquizofrênico pode ser reconhecido como reação contra severo estresse social, esforços desesperados da pessoa para manter sua integridade em face de pressões paradoxais e contraditórias. Laing: ‘Hoje, uma criança tem dez vezes mais probabilidades de ingressar num hospital psiquiátrico do que numa universidade. Isso pode ser indicação de que estamos conduzindo nossas crianças à loucura com mais eficácia do que as estamos educando. Talvez seja mesmo nosso método de educá-las que as está levando à loucura’.
A própria cultura é fator do desenvolvimento da doença mental: gera grande parcela de ansiedade que culmina num comportamento psicótico, e fixa normas para o que é ou não considerado são. Em nossa cultura, os critérios usados para definir saúde mental, como sentimento de identidade, reconhecimento do tempo e do espaço, auto-imagem, percepção do meio ambiente etc, requerem que as percepções e concepções de uma pessoa sejam compatíveis com a estrutura cartesiana, considerada a única descrição verdadeira da realidade. Essa atitude restritiva reflete-se nos procedimentos dos profissionais ligados à saúde mental. Perceber a realidade exclusivamente no modo transpessoal é considerado incompatível com a sobrevivência no mundo de hoje; vivenciar uma mistura incoerente da forma considerada normal de viver e do modo transpessoal, sem integrá-los, é psicótico. Entretanto, viver limitado à forma cartesiana é loucura, a loucura de nossa cultura. Esta pode não apresentar sintomas, mas não pode ser considerada produtora de mentes saudáveis (para a saúde mental ótima, o transpessoal deve harmonizar-se com o modo considerado normal de viver).
Muitos se concentram em explorar o mundo externo e medem seu padrão de vida pela quantidade de bens materiais, enquanto se tornam cada vez mais alienados do mundo interior (e exterior) e incapazes de apreciar o processo da vida. Para eles nenhum tipo de riqueza, poder ou fama, trará satisfação verdadeira, sendo, por isso, invadidos por um sentimento de insignificância, futilidade, vazio e até de absurdo, que nenhum tipo de êxito externo pode eliminar (problemas existenciais). (Krishnamurti: o ser humano é, naturalmente, insano, corrupto e insalubre). Os sintomas dessa verdadeira loucura cultural predominam em todas as nossas instituições acadêmicas, empresariais e políticas, sendo, talvez, a corrida às armas nucleares a mais psicótica de suas manifestações.
A saúde mental genuína envolve uma interação equilibrada com a sociedade e com a natureza (na qual a preocupação com os bens materiais não deve ser obsessiva), uma atitude afirmativa em face da vida e uma profunda consciência da dimensão espiritual da existência. Esses conceitos foram enfatizados ao longo dos tempos por santos e sábios que vivenciaram a realidade transpessoal. É fato que as experiências desses místicos são, com freqüência, muito semelhantes às dos esquizofrênicos. Mas, os místicos não são considerados loucos, porque sabem integrar suas experiências às suas formas ordinárias de consciência. Por isso Laing afirmou: ‘Místicos e esquizofrênicos estão no mesmo oceano; mas os místicos nadam, ao passo que os esquizofrênicos se afogam’. Na extremidade profunda do transpessoal, a que Wilber chama Nível da Mente, os objetivos da terapia transpessoal confundem-se com os objetivos do misticismo.
As doenças mentais envolvem freqüentemente o surgimento espontâneo de experiências incomuns, e a melhor terapia consiste em criar um ambiente de compreensão e apoio que permita a ocorrência dessas experiências. Uma vez iniciada, uma crise esquizofrênica parece ter um curso tão definido quanto um ritual. Os terapeutas que favorecem tal abordagem têm observado que o drama, que é parte do processo de cura, parece desenrolar-se numa seqüência ordenada de eventos como uma viagem pelo mundo interior do paciente, como se este tivesse um percurso a percorrer, viagem que só terminará com seu retorno ao mundo normal, ao qual ele volta com insights diferentes dos apresentados pelos que não fizeram a mesma viagem. Em vez de suprimir os sintomas, as novas terapias os intensificam para produzir a experiência completa, o que pode resultar na integração do consciente (dividido) e na cura final do paciente.
Grof usou a hiper-aeração, música evocativa e trabalho com o corpo numa terapia que pode induzir experiências surpreendentemente intensas após um período relativamente curto de respiração rápida e profunda. O paciente deve concentrar-se na respiração e noutros processos físicos no interior do corpo, e desligar-se ao máximo de toda análise intelectual, entregando-se às sensações e emoções. Na maioria dos casos, a atenção à respiração e à música levam, por si só, à dissolução dos problemas apresentados.
A terapia mental deixou de ser considerada um tratamento, para ser vista como uma auto-exploração. Terapeuta e paciente devem deixar de lado, o quanto possível, seus pensamentos, lembranças, pressentimentos e expectativas, durante todo o processo terapêutico. A teimosia em acreditar na concepção cartesiana da realidade, na noção linear de tempo ou no velho conceito de causa e efeito, pode ser grave obstáculo ao surgimento das experiências transpessoais, prejudicando toda a terapia. Grof afirmou que os psicoterapeutas serão muito mais bem sucedidos se conhecerem o novo modelo que está nascendo da física quântica, da biologia sistêmica e da psicologia transpessoal.
A SABEDORIA DA NATUREZA
A sabedoria sistêmica baseia-se num profundo respeito pela sabedoria da natureza, a qual é totalmente compatível com os conceitos da ecologia como é concebida atualmente. Nosso meio ambiente natural consiste de ecossistemas habitados por incontáveis organismos que co-evoluíram durante bilhões de anos, usando e reciclando continuamente as mesmas moléculas de solo, água e ar. Seus princípios organizadores são considerados superiores aos da tecnologia humana baseados em invenções recentes. A visão da sabedoria da natureza é apoiada pela concepção atual de que a auto-organização dos ecossistemas é basicamente a mesma que a dos organismos vivos, o que nos força compreender que nosso meio ambiente natural é não só vivo, mas também inteligente. A inteligência dos ecossistemas, ao contrário de tantas instituições humanas, manifesta-se na tendência predominante de estabelecer relações de cooperação que facilitam a integração harmoniosa dos componentes sistêmicos em todos os níveis de organização (moléculas, células, órgãos, organismos, espécies, grupos, famílias, sociedades, raças etc.).
Nosso planeta está hoje tão densamente povoado que virtualmente todos os sistemas, até os econômicos, são interligados e interdependentes. A nova visão da realidade é ecológica num sentido que vai muito além das preocupações imediatas com a proteção ambiental. Filósofos e cientistas distinguem ‘ecologia profunda’ de ‘ambientalismo superficial’. Enquanto este se preocupa com o controle e administração mais eficientes do meio ambiente natural ‘em benefício do homem’, a ecologia profunda exige mudanças radicais em nossa percepção do papel dos seres humanos no ecossistema do planeta, e requer uma nova base filosófica e religiosa. A ecologia profunda é apoiada pela ciência moderna, em especial pela nova abordagem sistêmica, mas tem suas raízes numa percepção da realidade que transcende a estrutura científica e atinge a consciência intuitiva da unicidade de toda a vida, a interdependência e inter-relação de todas as suas múltiplas manifestações e seus ciclos de mudança e transformação. Quando o conceito de mente humana é entendido como o modo de consciência pelo qual o homem se sente ligado ao universo como um todo, torna-se evidente que a consciência ecológica é verdadeiramente espiritual.
A estrutura filosófica e espiritual da ecologia profunda não é nova, pois foi exposta muitas vezes ao longo da historia pelas grandes tradições espirituais. Do taoísmo: ‘Aqueles que seguem a ordem natural fluem na corrente do Tao’. Heráclito, na Grécia, e depois, o místico cristão Francisco de Assis, ensinaram a mesma filosofia. Portanto, o movimento ecológico não é novo. O que é novo, talvez, é a ampliação da visão ecológica para um nível planetário, apoiada pela poderosa experiência dos astronautas e expressa em imagens como ‘nave espacial Terra’, ‘toda a Terra’, e ‘pense globalmente e atue localmente’. Milhões de americanos, abandonaram suas boas posições na economia e reduziram drasticamente suas rendas, para a busca de um estilo de vida mais simples, preocupados por um consumo sem exageros, consciência ecológica e crescimento interior, fato que tem ocorrido, também, em outros países.
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quinta-feira, 17 de junho de 2010
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