sábado, 26 de fevereiro de 2011

ENTRAI EM VÓS MESMAS, MINHAS FILHAS; AÍ ENCONTRAREIS DEUS




Amigos,


Para a reflexão dos amigos, trago, abaixo, notícias e palavras referentes à Teresa de Ávila, sobre meditação e efeitos; os acréscimos entre parênteses se destinam a melhorar a compreensão.


Teresa de Ávila, santa dos católicos, doutora teologal da igreja de Roma, é considerada um dos maiores gênios que a humanidade já produziu. Mesmo ateus e livres-pensadores são obrigados a enaltecer sua viva e arguta inteligência, a força persuasiva de seus argumentos, seu estilo vivo e atraente e seu profundo bom senso. O Doutor da Igreja, Afonso Maria de Ligório, a tinha em tão alta estima que a escolheu como patrona, e a ela consagrou-se como filho espiritual, enaltecendo-a em muitos de seus escritos. Teresa por pouco não foi a julgamento pelo Tribunal da Santa Inquisição por afirmar coisas como esta: “Não precisamos ir aos céus para encontrar Deus, pois Ele está aqui dentro de nós; entrai, entrai em vós filhas minhas pois que é dentro de cada uma de nós que vamos encontra-Lo e compreende-Lo”.


Com base nas palavras de Jesus, ensinava: “Quando orardes, entrai dentro de vós mesmas (no vosso quarto) e, recolhidas as faculdades da alma (mentais; fechada a porta, cessada a ação dos sentidos e da mente) orai a vosso Pai que vos ouve no mais íntimo de vosso ser (que vos ouve em oculto)”. Orai em silêncio, a “oração de recolhimento” (ensinada por ela e pelos místicos, oração sem palavras ou pensamentos, em que todos os sentidos e a memória, esperanças são recolhidos, sem qualquer movimento da mente; essa oração pode resultar na “oração de quietude” (“Aquieta-te e sabe: eu sou Deus”), na qual há completo silêncio da mente, o ego cessa (“ou eu, ou Deus”, dos místicos) e a “coisa” pode acontecer... (como um relâmpago que corre do nascente para o poente).


Às noviças: “é insensato quererdes entrar no reino dos céus se não entrardes primeiramente em vós mesmas, pois é dentro de cada uma de nós que Deus está, e só ali vamos encontra-lo e compreende-lo”’.


“... comparado com a luz que percebemos em nós, tudo o mais é lixo”(...Por que é Deus quem, segundo o seu beneplácito, realiza em vós o querer e o fazer... Na verdade, julgo como perda todas as coisas, em comparação com esse bem supremo: o conhecimento de Jesus Cristo; tudo desprezei e tenho em conta de esterco, a fim de ganhar Cristo.’ Isto é, tudo é nada, comparado à experiência da verdade, e Deus é que nos leva a essa experiência, pois ele é que realiza em nós o pensar e o fazer; Maharish: “enquanto não chegamos “lá”, somos apenas subumanos”; Krishnamurti: “enquanto não conhecemos a verdade, tudo o mais é fútil e infantil; a vida só tem significado quando chegamos lá”; Teresa: “comparado com essa luz, tudo o mais é lixo”’; do Zen: “tudo o mais é coisa prosaica”).


“Uma benção tão feliz, tão gloriosa, que tudo o mais na vida é nada perto dela”.


“Deus está em toda parte. Onde está Deus, está o paraíso. Compreender esta verdade é ver que, para falar com o Pai, não se tem necessidade de ir ao céu, nem de clamar em altas vozes. Ele está tão perto que sempre nos ouvirá. Basta pôr-se em solidão (oração de quietude, meditação) e vê-lo dentro de si mesma”.


“...acostume-se a não olhar coisa alguma que a distraia... Não permaneça em lugar onde possam se distrair os sentidos exteriores...(pois a distração exterior causa distração interior); assim chegará a beber água na própria fonte. Caminha muito em pouco tempo. É viajar pelo meio mais rápido... chega-se mais depressa” (Leonardo Boff: “se podemos alçar o vôo da águia, por que voarmos rente ao chão como as galinhas”).


Às noviças: “atenção, atenção, atenção!”


“... durante a oração... recolhendo os sentidos para dentro de si mesmas. Quando o recolhimento é verdadeiro, sincero... produz tal efeito (a oração de quietude) que não sei como descrever. Entende a alma que tudo que há no mundo não é mais que um jogo, um divertimento (“tudo é fútil e infantil”). Eleva-se, ergue-se, de repente...”.


“...é deixar de lado todas as coisas exteriores, delas retirando os sentidos...(para isso só a cessação do eu/ego, que a meditação torna possível); cerram-se os olhos para não mais as ver, e para mais se aguçar a vista da alma. Nelas (nas que fazem essa oração) se acende mais prontamente a labareda do amor divino. Estando mais perto do fogo, com alguns sopros do intelecto, ao saltar uma fagulhinha, logo é total o incêndio... pois não há embaraços no exterior, e estão a sós com Deus (no interior)”. (a sós com Deus, porque o ego cessou de operar; “ou eu, ou Deus”; “Aquieta-te e sabe:Eu sou Deus”).


“...o palácio de Deus é nossa alma...” (“vós sois o templo do Altíssimo”, “O Senhor habita em vossos corações” Paulo).


“Há, dentro de nós, um mundo mais precioso que de modo nenhum se compara com esse mundo exterior que conhecemos...”.


“...se sempre vivêssemos com cuidado, lembrando-nos freqüentemente de que temos em nós tal hóspede (Deus)... veríamos que as coisas do mundo são mesquinhas comparadas às que temos dentro de nós”.


“... Não imitemos os animais (nas coisas do mundo) que, ao verem isca ou presa fácil, logo se precipitam para saciar a fome... Durante muito tempo não o compreendi tão claramente. Bem entendia que tinha alma, mas quanto ela merecia e quem estava dentro dela, eis o que me escapava... As vaidades da vida nos tapam os olhos (o véu do ego) e não enxergamos o que devíamos... “, “...mas o Senhor não se dá de todo enquanto não nos damos de todo a ele. Isto que vos digo é coisa certa e de tal importância que o repito tantas vezes”. (dar-se a Deus é a entrega de si mesmo, proporcionada pela oração de quietude resultante da oração de recolhimento; meditação, pois afasta nosso próprio ego pensante, dando lugar a Deus. “Quando o eu não é, Deus é”).


“...olhai para a intimidade de vossas almas; aí, achareis nosso Mestre, que jamais nos faltará...”, “...todos os favores humanos (os atrativos do mundo, ilusões).são mentira se desviam a alma da oração de recolhimento...”.


“...isso, o encontro (com Deus), sucede quando a alma quer, entendei bem; não se trata de coisa sobrenatural”. (quando a alma quer e, por isso, busca).


“...cumpre-nos desapegar-nos de tudo (desapego das coisas do mundo) para nos aproximarmos de Deus interiormente... Desejemos, sempre, retirar-nos ao mais íntimo de nós mesmas, ainda no meio das ocupações do dia-a-dia (é o que ensina o Zen). Embora dure um só instante, é de grande proveito a recordação do Senhor que nos faz companhia dentro de nós mesmas...”.


“...a alma sente-se penetrada de tal reverência... Interiormente e exteriormente as faculdades ficam numa espécie de desfalecimento (o eu/ego cessa e o amor e a bem-aventurança chegam)... o corpo experimenta suavíssimo deleite e a alma grande satisfação (alegria, felicidade). Tão contente está de se ver junto à fonte que se sente farta antes mesmo de beber... nada a penaliza, nada a aflige (não há mais sofrimentos, medos, pecados, culpas, remorsos)... enquanto dura esse estado de satisfação e deleite, fica de tal modo inebriada e absorta que nem pensa em desejar outra coisa...” (“... o demais vos virá por acréscimo”; “tudo o mais é lixo”).


“Jesus disse: “Eu estou em vocês”. Valha-me Deus! Como essas palavras são verdadeiras! Como as compreende bem a alma que, estando nessa oração (de quietude), sente-as (percebe-as) realizadas em si mesma”.


“... nossa alma é um castelo onde habita o Senhor; vejamos o que se há de fazer para penetrar no seu interior (para percebê-lo)...”.


“Esta é a grande descoberta que Teresa divulga com seus escritos: Deus habita no íntimo da alma... (o mesmo afirmaram Jesus, Paulo e muitos mais). Contra ela, por isso, se colocaram vários de seus padres confessores, os quais admitiam a presença divina apenas através da graça, nunca em essência. Teresa, porém, é clara: Deus se encontra na alma, como se encontra no céu (quase foi entregue ao tribunal da inquisição). Por isso mesmo, a própria alma é o céu, um castelo no qual se pode entrar... O corpo é a muralha do castelo, cuja entrada é a oração (meditação). ...uma alma é tão repleta quanto um mundo vivo e cheio de gente e de grandes segredos. A gente são as faculdades que, às vezes ajudam, às vezes atrapalham. Costumam se desorientar sobretudo quando o Hóspede se faz notar, quando sai de seu aposento para se comunicar com o espírito”. (Prof. Jacyntho J.L. Brandão, UFMG).


“...bem maior, que a dos animais irracionais, é nossa insensatez, pois desconhecemos o seu valor (da alma, que é criada à semelhança e imagem de Deus) e concentramos toda nossa atenção no corpo...; as riquezas que há na alma, quem nela habita, eis o que, raras vezes, consideramos. Todos os cuidados e atenção se consomem no grosseiro engaste, nas muralhas do castelo, que são nosso corpo, em vez de se consumirem naquele que ali habita”.


“... assim também não nos prejudica sabermos que é possível, ainda neste desterro (ainda nesta vida, sem esperar a morte; a Mansão da morte, de Krishnamurti), tão grande Deus comunicar-se a vermezinhos asquerosos como nós... (a igreja se esquecia que “O Senhor habita em nossos corações”). Pode-se objetar que isso é impossível... mas é menor mal não o crerem alguns, do que tirar do proveito espiritual os demais... Quem se recusa a crer dificilmente terá a experiência da presença divina em si.’ (Teresa afirma que, mesmo nesta vida, podemos perceber a divindade; mostra, também, a concepção que a igreja tem do homem – ‘verme asqueroso’; como ensinam os sábios, isso se destina a manter o homem preso à igreja, pois lhe incute a idéia de que, sozinho, não pode salvar-se, de que necessita de intermediários, sacerdotes e ministros, templos, penitências e orações, confissão e comunhão, do perdão de Deus).


“...pelo que eu entendo, a porta de entrada desse castelo é a oração, (a oração de recolhimento e de quietude, isto é, a meditação).


“...torno a afirmar: é sumamente importante entrar primeiro no aposento do conhecimento próprio (auto-conhecimento, para sabermos quem realmente somos). Aprofundar o conhecimento sobre nós mesmas, é este o caminho... todos os danos (sofrimentos e conflitos) vêm de não nos conhecermos devidamente”. (de não sabermos quem somos; quando chegamos ao autoconhecimento, percebemos que somos a própria divindade).


“...nossos defeitos (ignorância, distrações, suposições, crenças, ilusões) são como ciscos nos olhos que não nos deixam ver o Senhor, que está ali, bem à nossa frente...; embora a alma não esteja em mau estado e deseje sinceramente apreciar sua própria formosura (que é o próprio Deus), é quase impossível desvencilhar-se de tantos impedimentos (distrações)” (só pela meditação se pode fazê-lo).


“... mesmo mergulhados em nossos pensamentos, negócios, prazeres e seduções do mundo, ora caindo em pecado, ora levantando-nos, apesar de tudo o Senhor não deixa de chamar-nos para que nos aproximemos dele...” (Krishnamurti: “não ouvimos essa imensidade chamando”, e lamentava-se Jesus: “Os homens não me compreenderam... “).


“... Não vos desanimeis, portanto. Quando vos acontecer cair em pecado, não deixeis de querer ir adiante (na oração, na meditação)... peço aos que ainda não começaram, a recolher-se em si mesmos (a praticá-la). Aos que já começaram, que enfrentem todas as dificuldades para não voltar atrás... aí ela, a alma, as subjugará todas (às distrações, desatenções) e zombará de seus assaltos. Aí experimentará, mesmo nesta vida, tal abundância de bens, como jamais poderia supor (indizíveis, como disse Paulo)...” (Jesus: “Buscai primeiramente o reino de Deus, e tudo o mais vos virá por acréscimo”).


“... quando não achamos quem nos ensine, o Senhor fará tudo redundar em nosso proveito, contanto que não deixemos a oração (meditação)”.


“... é insensatez pensar que poderemos entrar nos céus sem primeiro entrarmos em nós mesmas...” (Jesus: “O eu é o caminho, a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai senão pelo eu”; o caminho é para o nosso interior, na direção do ‘eu’).


“O Senhor disse: “ninguém irá ao Pai senão por mim” e “quem vê a mim, vê o meu Pai”... Ora, se nunca pusermos os olhos nele que está dentro de nós (se não entrarmos na alma), não sei como o poderemos ver”.


“... a alma se sente segura se não recua no caminho começado...”.


“... Entrai, entrai em vós mesmas, filhas minhas!...” (são palavras sempre dirigidas às noviças, por Teresa; o caminho é para dentro).


“... mas, sempre e sempre, humildade; considere-se sempre servo inútil”. (da parábola de Lu 17:10; inútil deve ter, aí, o sentido de ignorante; não se impaciente, nem perca o ânimo; com humildade, persevere nas tentativas de meditação).


“...para que de tudo (de sucessos ou insucessos) tireis humildade, e não inquietação (impaciência, descrença etc)... pois somos mais amigos de prazeres que de cruzes...” (não deixe que os obstáculos o desanimem. Como falou Jesus: ‘Que te importa a ti; segue-me tu’).


Continua...










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