A FILOSOFIA DO EU SOU
(Baseado nas palavras de dois sábios, Nisagardatta e Ramana)
Conversávamos sobre um texto que dizia:
“O simples conhecimento sobre as coisas do mundo, sobre nós mesmos, sobre causas e efeitos de tudo q ocorre no mundo e em nossa vida, não é suficiente para a emancipação do espírito; esse conhecimento só tem valia para a sobrevivência, neste mundo “material”; necessitamos é de conhecer o “conhecedor””.
Mas, quem é o conhecedor?
Somos nós mesmos! O dualismo sujeito-objeto não existe, senão no mundo do espaço-tempo, no mundo ilusório, mundo de sofrimentos, em Samsara; logo o conhecedor é o único que existe: a subjetividade absoluta, aquilo a q dão o nome de Deus.
Todos os conhecimentos, afinal, devem ser esquecidos para que “cheguemos” a conhecer o conhecedor, nós mesmos, a consciência total. Por isso, no Budismo Zen, todo o trabalho pode ser definido com uma única palavra: “Esvazia-te!”.
Existe somente uma consciência, a consciência q tudo abrange e q é tudo, a Consciência Universal, a q as religiões dão nome de Deus; existe só essa consciência e nós somos essa consciência (Paulo: “Ele está acima e abaixo, à esquerda e à direita, à frente e atrás, dentro e fora!”; “Nele vivemos, nele respiramos!”; “Ele opera em nós o pensar, o desejar, o escolher, o fazer!”).
Podemos conhecer muitas coisas, mas qual é a finalidade de todo esse conhecimento, senão para a sobrevivência neste mundo ilusório, se o conhecedor não é conhecido? Sem o conhecimento do conhecedor, continuaremos na ignorância, na roda infindável de sofrimentos e não pode haver paz, nem felicidade.
É o que afirmam todos os mestres: o conhecimento apenas aponta a lua; não é a lua. Para chegarmos à Lua, temos de abandonar todos os conhecimentos; serão apenas estorvos a preencher a mente; eles, apenas, apontam a Lua. Se ficarmos observando os dedos que apontam para a Lua, nunca chegaremos a ela (Osho).
Enquanto você acreditar que é um corpo, você atribuirá causas a tudo. Isto não significa que as coisas não têm causas. Cada coisa tem causas inumeráveis, que se arrastam desde o remoto passado. E isso é assim como é, porque o mundo é assim como é. Nós, neste mundo ilusório, somos o resultado exato de todas as causas e efeitos q ocorreram antes deste instante presente, em nossa linha ascendente, desde os mais longínquos antepassados e, antes deles, as causas e efeitos q contribuíram para sua existência. Cada causa cobre o universo nas suas ramificações sem fim. No entanto, na verdade, não há causas, mas apenas uma: a sua ignorância do seu Ser real, o qual é perfeito e além de qualquer causa. Porque todo o universo é responsável por qualquer acontecimento, e você, embora não perceba, agora, é o próprio universo e a fonte do universo.
No fim das contas, lá no íntimo, você sabe que não há pecado, não há culpa, nem penas, nem retribuição; há apenas vida, nas suas transformações sem fim, no mundo da manifestação. Com a dissolução do “eu/ego/mente individual, o sofrimento pessoal desaparece (pois o ego é o fazedor das ilusões). O que permanece é a grande tristeza da compaixão (amor incondicional pelos semelhantes), o horror da dor desnecessária, pois todos os males e sofrimentos são gratuitos; não têm razão de ser; por esse motivo, todos aqueles q compreenderam, movidos pela compaixão ante os sofrimentos dos semelhantes, só cessaram de tentar ensinar-lhes o “caminho”, qdo a morte lhes cerrou os lábios.
Foi essa compaixão que levou muitos à morte, por não se calarem na tentativa de, aos demais, apontarem a Lua. E a dor não é necessária; apenas nos acontece porque somos vítimas da ilusão de que existimos como um “eu”, ou espírito, q tem de se defender dos outros “eus” e do mundo ameaçador ao derredor. Aqui, se percebe o logro da reencarnação do “eu”. O “eu” é falso; só o “EU” é real.
Só há problemas quando você se prende a alguma coisa, aos atrativos do mundo. Quando você não se prende a nada, nenhum problema aparece. O abandono do menor é o ganho do maior. Abandone tudo e ganhe tudo. A vida se torna o que deveria ser: pura radiação de uma fonte inexaurível. Sob essa luz, a luz da verdade, o mundo aparece, pálido como um sonho, e surge o Real.
Novamente, percebemos os apegos e a necessidade de, para eliminá-los, eliminar o ego.
O estado natural só pode ser descrito pela negação, como sendo não causado, não dependente, não relativo, não divisível, não composto, não abalável, não questionável, não alcançável pelo esforço. Toda definição positiva vem da memória condicionada e é, por essa razão, inaplicável. E mesmo assim o meu estado, o seu estado, o estado de todos, é supremamente atual e por essa razão possível, realizável, alcançável.
O segredo é a negação de tudo que nossos sentidos, desejos... percebem e querem. Se tivéssemos discernimento ou compreensão suficiente e a coragem “total, absoluta”, de fazer essa negação ou abandono agora, estaríamos iluminados; mas não temos, pois há tantos apegos! A família, os compromissos, as responsabilidades, os deveres... e, assim, continuamos escravos das ilusões...
Todo pensamento está na dualidade. Na identidade real com a consciência, que sempre foi e é nossa identidade real, não há dualismo, não há pensamento.
Mas, então, eu não volto para uma nova vida? Você não volta porque você não existe como um “eu”; só Deus existe. O “eu” é irreal; só o “EU” é real!
Desigualdades, sofrimentos, gozos, atribulações tudo nasce da ilusão da armadilha da vida, em que caímos, e na qual somos mantidos pelo ego...
Perceba como estas palavras fazem estranhas todas as concepções reencarnacionistas!
Até mais...
Nenhum comentário:
Postar um comentário