(38) ILUMINAÇÃO 2 – Outros testemunhos
Sri Aurobindo: Foi caminhando no pátio da prisão onde, por ter sido, por engano, confundido com um terrorista, esteve por certo tempo, que ele sentiu uma mudança de consciência: ‘Contemplei a prisão que me separava dos homens, e já não estava aprisionado por seus altos muros: era Vasudeva (Deus) que me cercava. Caminhei sob os ramos da árvore diante de minha cela, mas ela já não era mais a árvore. Eu sabia que era Krishna (Deus) que eu via ali, estendendo-me sua sombra. Olhei para a grade de minha cela e novamente vi que a grade era Deus. Era Deus que me guardava na figura da sentinela. Deitei sobre os cobertores ordinários q me serviam de cama e senti que me aconchegava nos braços de Deus. Olhei para os prisioneiros, os assassinos de todas as espécies e vi que era Deus que eu encontrava naquelas almas entristecidas e naqueles corpos maltratados. Quando fui a julgamento, com cerca de 200 testemunhas, já não via a turba hostil nem os juízes, mas eu não os via senão como Vasudeva, risonho. Tudo era Deus, que se tornou o próprio mundo.
Assim dizem os Upanishades: ‘Ele está em todas as coisas e comanda todos os atos (Paulo: ‘É o Senhor q opera em nós o pensar, o querer e o fazer’). Ele se tornou conhecimento e ignorância, verdade e falsidade, bem e mal. Ele se tornou tudo que existe. Para o olho que ‘vê’, tudo é Um, tudo é Vasudeva’.
Este mundo em que vivemos é um mundo de luta e labor, um mundo feroz, perigoso, destrutivo, devorador, no qual, a cada passo, queiramos ou não, algo é esmagado e destruído; no qual cada sopro de vida é também um sopro de morte.
Colocar a responsabilidade de tudo que nos parece mau ou terrível nos ombros de um demônio semi-impotente, ou deixá-la de lado, como sendo parte da natureza, criando uma oposição intransponível entre a natureza do mundo e a natureza de Deus, como se a natureza fosse independente de Deus, ou ainda lançar a responsabilidade sobre os homens e seus pecados, como se o homem tivesse voz ativa na criação deste mundo ou pudesse criar algo contra a vontade de Deus, tudo isso constitui estratagemas, artifícios cômodos... Erigimos, criamos, imaginamos um Deus de amor e misericórdia, justo, probo e virtuoso de acordo com as nossas concepções morais de justiça, virtude e retidão e, a todo o resto dizemos ‘Não é Ele’ ou ‘Não é dele’, isto é, ‘não foi Deus quem fez isso’ etc., mas que foi criado por um ser diabólico a quem, por um motivo qualquer, Ele permite cumprir sua vontade perversa e funesta; ou então foi culpa do homem egoísta e pecador, que estragou, pelo mau uso de seu livre-arbítrio, aquilo que foi criado originalmente perfeito.
Temos de encarar corajosamente a realidade e perceber que foi Deus, e ninguém mais, que criou este mundo em seu próprio ser (Paulo: ‘Em Deus vivemos e respiramos; Ele está acima e abaixo, à frente e atrás, à direita e à esquerda, fora e dentro de nós) e o fez como ele é. Temos que ver que a Natureza devorando seus filhos, o Tempo consumindo as vidas das criaturas, a Morte universal e inelutável e as violências no homem e na natureza são também o supremo Ser Divino em uma de suas representações cósmicas.
Temos também de perceber que o Deus generoso, amoroso, o conservador, prestimoso, forte e benévolo é também o Deus devorador e destruidor. O sofrimento, a dor e o mal com que somos torturados é também seu toque tanto quanto a felicidade, a suavidade e o prazer. Só quando vemos com a visão de completa união e sentimos essa verdade no âmago de nosso ser é que podemos descobrir totalmente, por trás dessa máscara, o rosto sereno e formoso da Divindade bem-aventurada.
As discórdias do mundo são as discórdias de Deus, são a vontade de Deus, e só aceitando-as e superando-as podemos ascender à concórdia maior de sua suprema harmonia, à vastidão, à imensidade transcendente. Porque a Verdade é o alicerce da verdadeira espiritualidade e coragem da alma’ (Aurobindo).
‘Tu és Ele’, eis a verdade eterna. ‘Tu és Isto’, ‘Eu sou Aquilo’, ‘Eu sou Ele’, ‘Não conheço nenhum Deus senão meu próprio Eu’, ‘Conhece-te a ti mesmo e serás Deus’, eis as verdades que todos os antigos mistérios ensinavam e que, as religiões q vieram depois, se esqueceram de ensinar. Assim, também, ‘Eu e o Pai somos Um’.
Jesus, o Cristo, também não disse ‘Este é meu corpo e este é meu sangue’ escolhendo esses dois símbolos mais materiais, mais triviais e terrenos do pão e do vinho para comunicar a idéia de que tudo é um corpo só, o corpo do divino? (Aurobindo).
‘Quando Isto é conhecido, Tudo é conhecido’ (Upanishades).
Roger N. Walsh: ‘O grande psicólogo Gordon Alportt lamentava-se: ‘Nada temos na psicologia acerca da libertação’. Ele lastimava o fato de a psicologia clinica e a psiquiatria ocidentais serem essencialmente voltadas para a patologia e terem poucos conhecimentos da saúde psicológica e, muito menos, da ‘iluminação’. Esses temas são bastante mal compreendidos. Muitos profissionais da saúde mental ainda consideram fenômenos como a maturação psicológica além das normas culturais, as experiências místicas e a iluminação como lendas na melhor das hipóteses, e patológicas, na pior ‘regressão psicológica no caso mais extremo, como descreve um conhecido tratado de psicologia.
‘Prazer e dor, louvor e censura, fama e vergonha, perda e ganho, mal e bem, são a mesma coisa. Assim eu e você’ (Buda).
‘Todos os Budas e todos os seres sencientes nada mais são do que Mente Universal. Acima e abaixo, fora e dentro de você, tudo existe espontaneamente, pois nada existe fora da Mente Buda’ (Zen).
‘Vê esse sereno homem do Tão, que abandona o aprendizado e não se empenha? Ele nem evita falsos pensamentos, nem busca a verdade, pois, na verdade, o ‘desconhecimento’ é a natureza búdica, e este corpo ilusório e mutável é o corpo da Verdade’ (Zen).
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