quinta-feira, 29 de março de 2012

DÚVIDAS DE UMA AMIGA


      Uma amiga pergunta: Porq os homens sofrem, porq entram em depressão, se desesperam, porq seus pensamentos são tão negativos e os levam a tantos problemas? Porq ficam tristes? Possuem pensamentos e agem negativamente? Por que as pessoas querem moldar as outras? Por que todo mundo culpa todo mundo? Por que as pessoas simplesmente não compreendem o outro do jeito que o outro é? Se não cai uma folha da árvore sem que Deus seja servido.. Se Deus é amor. Por que as pessoas ainda pensam que possuem livre-arbítrio?
 
      Cel: Minha amiga; os pensamentos não são nossos; eles apenas surgem, por extensa gama de fatores, em nossa mente imperfeita e condicionada; a visão q o ego nos dá do mundo é totalmente distorcida, parcial mesmo, porq ele só age a nosso favor, nos defendendo de tudo q nos possa ser desagradável ou nocivo. Como vemos o mundo ao nosso derredor, julgamos-nos independentes e separados de tudo o mais; descobrimos um mundo ameaçador repleto de outros "eus", contra os quais, temos de nos defender a todo custo. Essa interpretação q o ego nos manda do mundo é q nos faz gozar ou sofrer e muito mais sofrer, pois tentamos encontrar a felicidade nas coisas do mundo, em seus atrativos; mas essas coisas, às quais nos agarramos, não são duradouras e, por isso, nos decepcionamos, nos desesperamos e, consequentemente, sofremos.
      Somos o resultado de todas  as causas e efeitos q ocorreram, desde os mais longínquos antepassados, e estão ocorrendo sem cessar, pelas influências q as experiências da vida, esta escola do bem e do mal, exercem sobre nós. Sofremos por ignorar o q somos realmente, "um com Deus". A vida no espaço-tempo simplesmente está acontecendo e ela nos joga daqui para lá e de lá para mais além, como uma correnteza irresistível, sempre cheia de incertezas, mudanças, conflitos etc. Cito a seguir trecho de um sábio e lhe digo q essa é a concepção dos místicos ocidentais e orientais, desde séculos a.C.; é assim q, também, compreendo a vida e o mundo:
          “Este mundo em que vivemos é um mundo de luta e labor, um mundo feroz, perigoso, destrutivo, devorador, no qual, a cada passo, queiramos ou não, algo é esmagado e destruído; no qual cada sopro de vida é também um sopro de morte.
          “Colocar a responsabilidade de tudo que nos parece mau ou terrível nos ombros de um demônio semi-impotente, ou deixá-la de lado, como sendo parte da natureza, criando uma oposição intransponível entre a natureza do mundo e a natureza de Deus, como se a natureza fosse independente de Deus, ou ainda lançar a responsabilidade sobre os homens e seus pecados, como se o homem tivesse voz ativa na criação deste mundo ou pudesse criar algo contra a vontade de Deus, tudo isso constitui estratagemas, artifícios cômodos... Erigimos, criamos, imaginamos um Deus de amor e misericórdia, justo, probo e virtuoso de acordo com as nossas concepções morais de justiça, virtude e retidão e, a todo o resto dizemos ‘Não é Ele’ ou ‘Não é dele’, isto é, ‘não foi Deus quem fez isso’ etc., mas que foi criado por um ser diabólico a quem, por um motivo qualquer, Ele permite cumprir sua vontade perversa e funesta; ou então foi culpa do homem egoísta e pecador, que estragou, pelo mau uso de seu livre-arbítrio, aquilo que foi criado originalmente perfeito.
          “Temos de encarar corajosamente a realidade e perceber que foi Deus, e ninguém mais, que criou este mundo em seu próprio ser (Paulo: ‘Em Deus vivemos e respiramos; Ele está acima e abaixo, à frente e atrás, à direita e à esquerda, fora e dentro de nós) e o fez como ele é. Temos que ver que a Natureza devorando seus filhos, o Tempo consumindo as vidas das criaturas, a Morte universal e inelutável e as violências no homem e na natureza são também o supremo Ser Divino em uma de suas representações cósmicas.  
          “Temos também de perceber que o Deus generoso, amoroso, o conservador, prestimoso, forte e benévolo é também o Deus devorador e destruidor”. O sofrimento, a dor e o mal com que somos torturados é também seu toque tanto quanto a felicidade, a suavidade e o prazer. Só quando vemos com a visão de completa união e sentimos essa verdade no âmago de nosso ser é que podemos descobrir totalmente, por trás dessa máscara, o rosto sereno e formoso da Divindade bem-aventurada.
          “As discórdias do mundo são as discórdias de Deus, são a vontade de Deus, e só aceitando-as e superando-as podemos ascender à concórdia maior de sua suprema harmonia, à vastidão, à imensidade transcendente. Porque a Verdade é o alicerce da verdadeira espiritualidade e coragem da alma” (Aurobindo).
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