REENCONTRO COM A ALMA. (Jan 2008)
(Baseado na obra homônima de Larry Dossey)
Uma introdução ao presente estudo, exortando os homens a se abrirem, não às crenças populares, sem base, mas para a tradição perdida que, hoje, está sendo redescoberta pela mais avançada ciência do planeta.
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Imortal...
Aqui, lá, em todo lugar,
Estendendo-se às regiões mais longínquas do cosmo...
Envolvendo todas as mentes...
Existindo em todos os momentos, incluindo passado e futuro,
Para todo o sempre...
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“Nossa grande limitação é supor que somos indivíduos” (Pyr Vilayat).
“O importante é o que você vê com os olhos fechados” (curandeiro dacota).
“A linguagem pode tornar-se um véu entre o pensador e a realidade (entre observador e a coisa observada). É por isso que a verdadeira criatividade, em geral, começa onde a linguagem cessa” (‘O Ato da Criação’, de Koestler).
“A palavra não é a coisa; a palavra é condicionamento” (Krishnamurti).
“As palavras, a linguagem... parecem não representar qualquer papel no mecanismo de meu pensamento...” (Einstein).
“Tudo isso incendeia minha alma... e meu tema se expande, torna-se ordenado e definido, e o todo, embora possa ser extenso, mostra-se quase completo e acabado em minha mente, de modo que sou capaz de examiná-lo, como um belo quadro, num relance. Não ouço, em minha imaginação, as partes sucessivas, mas ouço-as, por assim dizer, todas de uma vez. Não consigo descrever esse prazer! Toda essa ideação ocorre num sonho vívido e aprazível” (Mozart).
“O fato de uma idéia emergir subitamente e já amadurecida pressupõe a existência... de uma função intuitiva especial. O conteúdo dessa idéia é mais bem descrito em termos... intemporais... não-espaciais. O caráter repentino e ativo do evento intuitivo é inequívoco, assim como sua tendência de ocorrer num estado de relaxamento, depois de prolongado período de meditação... Isso não pode ser atribuído... a funções superiores do pensamento” (Knoll, inventor do microscópio eletrônico, professor do Departamento de Engenharia Elétrica da Universidade de Princeton).
“... Estamos sofrendo de uma espécie de hipnose coletiva, de um transe cultural que nos impede de ver as coisas como realmente são. Somos como moscas rastejando pelo teto da Capela Sistina... Não vemos os anjos e os deuses que estão sob o limiar de nossas percepções. Não vivemos na realidade; vivemos em nossos paradigmas, em nossas percepções habituais, nossas ilusões (condicionamentos); chamamos de realidade as ilusões que partilhamos por meio da cultura, mas a verdadeira realidade de nossa condição nos é invisível” (William Irwin Thompson, filósofo).
“Dia após dia vivemos bem além dos limites da nossa consciência. Sem sabermos, a vida do inconsciente também se desdobra dentro de nós... comunicando-nos coisas... fenômenos de sincronicidade, premonições e sonhos” (Carl G. Jung).
Jung descobriu que o inconsciente coletivo apresenta as características da mente não-localizada (mente una); não pode ser fixado no espaço e no tempo, e transcende o ego individual, envolvendo todas as mentes. Conforme ele disse: “O inconsciente... tem o seu próprio tempo à medida que passado, presente e futuro, juntos, combinam-se nele”. Disse, também: “Uma vez que todas as distinções desaparecem na condição inconsciente, é lógico que a distinção entre mentes separadas deve desaparecer também. Toda vez que há diminuição do nível consciente, deparamos com exemplos de identidade inconsciente”.
Jung percebeu que uma das manifestações mais comuns da mente inconsciente era a sensação mística fundamental de unicidade e unidade com tudo o que existe. Essa experiência, como o próprio inconsciente coletivo, era universal. Jung chamou-a de “concórdia transcendental”, que coloca o indivíduo em contato com a Mente Una. E, para ele, em última análise, a mente universal e a mente individual são a mesma coisa, isto é, nossa mente é a Mente. Essa é uma verdade perfeitamente aceita no Oriente e, embora no Ocidente isso pareça blasfêmia, Jung afirmava que essa percepção era uma experiência mística incontestável, presente em todas as tradições religiosas, do Oriente e do Ocidente.
Jung tinha convicção da imortalidade, o que se adequava à sua crença de que a Mente está além das limitações do tempo. Disse: “Nossa psique atinge uma região que não está subordinada nem à mudança temporal, nem à limitação espacial. Tempo e espaço, dois elementos indispensáveis à mudança, têm pouca importância para a psique” (portanto, para Jung, nossa mente não sofre mudanças, logo, também não sofre qualquer processo de aperfeiçoamento). “... A psique, até certo ponto, não está sujeita à corruptabilidade”. E mais: “Esse sentimento pelo infinito pode ser realizado apenas se estivermos isolados ao máximo. Ao nos percebermos únicos... fundamentalmente limitados... gozaremos da capacidade de nos tornarmos conscientes do infinito. Mas, só então!”.
Disse ainda: “O atentar para a Mente intemporal é tarefa redentora para todas as pessoas. Em nosso tempo, essa tarefa é particularmente difícil porque colocamos, no dia-a-dia, nossa ênfase no aqui agora, no fazer, no consumir, nos aspectos práticos, no progresso material. Como valorizamos o aspecto material, estamos separados dela. O resultado é patológico: tornamo-nos vítimas de nossos próprios impulsos inconscientes e o mundo ‘demonizou-se’. Nossa verdadeira tarefa de vida é exatamente o contrário: tornarmo-nos conscientes dos conteúdos que emergem do inconsciente, criar cada vez mais consciência; esse o objetivo único da existência humana:... acender uma luz na escuridão do ser”. Para Jung, “Seguramente, a alma não é algo insignificante (como as religiões ocidentais a consideram), mas a própria Divindade radiante”.
“O que está aqui, também está lá; e o que está lá, também está aqui. Quem só vê a multiplicidade, mas não vê o Eu indivisível em tudo, continua a vagar de morte em morte” (Upanishad).
R. Byrd, cardiologista da universidade da Califórnia, realizou talvez o estudo mais controlado sobre os efeitos da oração. Durante dez meses, um computador distribuiu 393 cardíacos do Hospital de São Francisco em dois grupos: o primeiro, de 192 pacientes, foi lembrado nas preces feitas por vários grupos domiciliares; o segundo, de 201 pacientes, não foi lembrado. O estudo foi feito sob os critérios mais rigorosos de clínica médica e ninguém, nem médicos, nem enfermeiros, nem pacientes, sabiam a qual grupo pertencia qualquer paciente. Os rezadores receberam os nomes dos pacientes e foram solicitados a orarem todos os dias, sem qualquer outra instrução adicional. Os resultados obtidos no grupo que foi favorecido com orações - precisaram de menos remédios, menos intervenções de aparelhos respiratórios, tiveram menos edema pulmonar, faleceram menos pacientes - levaram os médicos a afirmar: “... talvez nós, médicos, devêssemos escrever, em nossas receitas: rezar três vezes por dia!”.
Não houve, na continuação das pesquisas, qualquer diferença nos efeitos das orações se os que orassem estivessem no hospital ou a centenas de quilômetros dali; a distância não tinha a menor influência.
Plotino, há quase dois milênios: “O Todo está em toda parte. Cada um é o Todo, e o Todo é cada um... O homem quando deixa de ser um indivíduo (quando deixa de ser o eu) eleva-se novamente à categoria do Todo” (‘ou eu, ou Deus’).
Kabir, do Islã: “Vê apenas o Um em todas as coisas; o segundo é que te induz ao erro”.
Santa Catarina de Gênova: “Meu eu é Deus, e não reconheço outro eu exceto o próprio Deus”.
Meister Eckhart: “A essência de Deus e a essência da alma são uma só e a mesma coisa. O conhecedor e o conhecido são um só. Os ingênuos imaginam poder ver Deus como se Ele estivesse ‘lá’ e nós ‘aqui’. Não é assim. Deus e nós somos um” (como afirmou Krishnamurti: o observador é a coisa observada).
Para Huxley, os desígnios mais elevados da experiência humana não estão subordinados ao desenvolvimento (já são o que são; não necessitam de aperfeiçoamento) sendo, portanto, desprovidos de qualquer história. Nossa preocupação com o tempo linear, fluente e histórico é uma doença, resultando em alienação em relação à Divindade. Todo o objetivo da Filosofia Perene, famosa obra sua, era o de desfazer essa ilusão de separação e dualismo. “A alma não encontra Deus através do tempo, não em uma condição futura, nem é salva pela benevolência divina, mas agora e sempre, a alma e Deus são uma única coisa. É nossa costumeira atitude em relação ao espaço e ao tempo que nos restringe e gera a impressão de um eu separado. Nossa consciência, como a Divindade, é infinita no espaço e no tempo e, fundamentalmente, Uma”.
Pesquisas rigorosas sobre o efeito da prece sobre organismos vivos, que não o corpo humano (sementes de centeio e outros), mostraram resultados extremamente positivos, bem como o fato de que a consciência humana não está confinada ao cérebro e ao corpo. A oração funcionou melhor ainda quando o organismo estava sob tensão (no caso, adicionou-se água salgada). Quanto mais sal, mais intenso o efeito; isto é, a oração é tão mais eficiente quanto piores são as condições físicas do organismo. Do mesmo modo, verificou-se que, no combate à dor, o placebo, pílula de açúcar sem nenhum efeito biológico, funciona melhor quando a dor é mais forte. A oração funciona melhor com a tensão crescente sobre o organismo. O efeito da oração é proporcional à quantidade de oração. Quanto mais consciente a pessoa que ora está, maior o efeito. Quanto mais experiente é na oração o indivíduo que ora, melhores resultados sobre o paciente. Não há perda da eficiência à medida que aumenta o número de pacientes.
A oração não-dirigida é mais eficaz, tendo resultados duas vezes maiores ou mais do que a oração dirigida. Nada de visualizações, associações ou imaginações (nada de pensamentos). Também as características físicas, emocionais e pessoais do paciente devem ser excluídas do pensamento e substituídas por uma “pura e sagrada consciência qualitativa do paciente, seja ele quem for ou o que for”. É preciso apenas orar para que aconteça o normal, o melhor, igual ao “seja feita a vossa vontade”, porque, na verdade, não sabemos o que é “o melhor” em cada caso.
Einstein: “O indivíduo sente a futilidade dos desejos e objetivos humanos e a maravilhosa ordem que a natureza revela... A pessoa iluminada é aquela que se libertou dos grilhões dos desejos egoístas e está absorta em pensamentos, sentimentos e aspirações (elevados)”.
LeShan: “O curandeiro não ‘faz’ ou ‘dá’ algo para o paciente, mas ajuda-o a voltar-se para o Todo, para a unidade com o Universo e, nesse encontro, o paciente se torna mais completo e isso é a cura” (‘Buscai em primeiro lugar o reino de Deus que o demais vos virá por acréscimo’).
Koestler: “Não há uma linha divisória nítida entre a auto-reparação (cura) e a auto-realização” (a doença é fruto do afastamento da percepção de Deus).
Heidegger: “Uma pessoa não é nem uma coisa, nem um processo, mas uma abertura, uma clareira, por onde o Absoluto pode se manifestar” (as pessoas e, talvez todos os seres cerebrados, são os olhos e ouvidos do Absoluto).
O autor, Dossey, diz que, como médico, teve tantas experiências que o levaram a concluir que o mundo da medicina é verdadeiramente imprevisível, um mundo onde quase tudo é possível. E diz mais, que a maioria dos médicos concorda com ele, pois quase todos têm uma lista pródiga de acontecimentos estranhos inexplicáveis pela ciência comum. E que, a ciência médica não deu a última palavra e, dificilmente já emitiu a primeira, sobre como funciona o mundo, especialmente no que diz respeito à mente. Há um sem número de casos de curas inexplicáveis, ou doenças consideradas incuráveis que simplesmente, “desapareceram” e, em todos esses casos, de algum modo, a mente teve papel decisivo.
Como a oração pode ser eficiente à distância, o mesmo ocorre com a cura psíquica, embora esta, geralmente, seja executada próxima ao paciente. Muitos dos curandeiros relatam que uma irresistível sensação de unicidade e unidade com o mundo e tudo que há nele, incluindo o paciente, parece dominá-los. Indo além do sentido do “eu”, eles se fundem com o mundo, deixando a identidade pessoal para trás (‘Além do ego’).
Stace: “Toda a multiplicidade de seres que conformam o universo são idênticos entre si e, portanto, constituem uma coisa só, uma unidade pura”.
Dossey: “O aspecto mais proeminente da Realidade Não-localizada (além da percepção do ego) é a unidade fundamental com todos os acontecimentos e coisas. Passado, presente e futuro são ilusões que projetamos, e não realidades essenciais. Dentro desse contexto de união, o mal (como a doença) é mera aparência, como tudo o mais, pois faz parte do todo e está relacionado com o bem. Quando chegamos a uma compreensão profunda dessa verdade, os opostos irreconciliáveis nos revelam sua unidade (amor-ódio, bem-mal, belo-feio); e começamos a perceber que há um modo alternativo de obter essa informação, que não pelos sentidos. Para a maior parte dos curandeiros, entrar no estado de Realidade Não-localizada envolve a participação num estado alterado de consciência, muito semelhante ao da meditação ou à oração. Nesse estado, eles vêem a si próprios e aos pacientes como um só, uma vez que a separação entre sujeito e objeto é completamente superada. Esse estado de consciência vai além da usual consideração do real ou irreal, consciente ou inconsciente, orgânico ou inorgânico, subjetivo ou objetivo, até a totalidade do ser. O paciente e o ego, simplesmente, não fazem parte do repertório do curador”.
Stanford: “Só o amor pode gerar o fogo da cura. Se a operação não tem amor, é vazia e estéril”.
O amor é o estímulo que existe por trás da cura. Quando temos amor, no coração, vivemos segundo a vontade de Deus. Nada se ganha simplesmente entrando num estado de consciência não-localizada; o segredo é o amor para com os demais. Quando ocorre uma cura psíquica, as experiências de amor e de não-localização encontram-se tão fortemente unidas que nada pode separá-las. Os curandeiros experimentam uma sensação de sagrado e de totalidade e o universo lhes parece divino, encantado e cheio de amor, de tal modo que têm consciência de que são o próprio Universo. O curandeiro não precisa preocupar-se em adicionar o elemento amor às suas curas; não, pois o amor é inerente à autêntica sensação de totalidade não-localizada. Sem amor a cura simplesmente não acontece (como diz Krishnamurti, o amor é atemporal e traz compaixão).
Ruysbroeck: “A imagem de Deus é encontrada essencialmente em toda humanidade. Cada um a possui toda, inteira, indivisa e todos juntos não são mais do que um. Somos todos um”.
Dossey diz que a medicina moderna pode estar limitando sua eficiência pela insistência crônica em que a realidade localizada do aqui-agora é a única que existe, a única em que pode ocorrer a cura. A cura psíquica, de existência provada, dá-nos forte evidência de que há uma qualidade não-localizada no tempo e no espaço em nossa psique (a mente quântica), e mostra que o nosso tempo transcende o tempo, e que nosso lugar não é apenas aquele em que estamos agora, mas está em toda parte. E cita um caso clínico, entre muitos, que chama de “milagre”, um caso extremamente investigado pelas autoridades médicas:
Vittorio Michelle, em 1962, deu entrada num hospital italiano com uma grande massa na região da nádega esquerda, tão extensa que limitava os movimentos no quadril e era extremamente dolorosa. Os raios X mostraram ampla destruição dos ossos da pelve e dos quadris, corroendo o esqueleto de Vittorio. A biópsia revelou uma agressiva e destrutiva forma de câncer. Sua perna esquerda foi imobilizada numa armação que a cobria toda até o pé. Foi enviado a outro centro médico para terapia radioativa mas, não se sabe qual a razão, nenhuma radiação foi feita e foi mandado para outro hospital (seria talvez porque o considerassem um caso perdido?).
Nos dez meses seguintes não recebeu qualquer tratamento e os raios X mostravam progressiva destruição dos ossos dos quadris o que fez que perdesse todos os movimentos da perna. A anca estava destruída e o homem estava literalmente caindo aos pedaços. A perna começava a desprender-se do corpo à medida que cartilagens, tendões e ligamentos eram destruídos. Então, após cerca de um ano do primeiro diagnóstico, em 1963, ele banhou-se nas águas de Lourdes, ainda no seu aparelho de gesso.
O relatório da Comissão Médica de Lourdes diz que o homem estava em sérias condições quando veio ao santuário; perdera muito peso e nem podia comer. Mas, após ter-se banhado, o apetite e as energias voltaram imediatamente e Vittorio sentiu estranhas ondas de calor por todo corpo. Levado ao hospital, começou a ganhar peso e a aumentar os níveis de atividade. Cerca de um mês depois, foi tirado o molde de gesso para mais raios X e descobriram que o câncer tinha diminuído de tamanho. Então, para surpresa dos médicos, em algumas semanas o câncer desapareceu totalmente. Mas, outro evento ocorreu, ainda mais espantoso que o desaparecimento do tumor: os ossos da pelve, dos quadris e o fêmur se regeneraram completamente. Dois meses depois do banho em Lourdes, Vittorio saiu andando para dar um passeio.
Segundo os médicos: “Havia ocorrido uma notável regeneração do osso ilíaco e da cavidade pélvica. Os raios X comprovam categoricamente e sem sombra de dúvida, a ocorrência de uma inopinada e irresistível regeneração dos ossos, até então desconhecida dos anais da medicina mundial”. Os médicos, experimentados em dezenas de anos dedicados em grande parte ao estudo dos tumores e neoplasmas em todos os tipos de estruturas ósseas, tendo tratado de centenas de casos semelhantes, nunca haviam encontrado uma regeneração óssea espontânea dessa natureza. Assombrados, procuraram explicações para a cura do sarcoma de Vittorio, mas não se chegou a qualquer resposta. “O paciente não passou por nenhum tratamento específico, não sofreu qualquer infecção intercorrente que pudesse ter influenciado na evolução do câncer” (algumas infecções parecem estimular o corpo a rejeitar o câncer). “Uma articulação completamente destruída foi totalmente regenerada sem qualquer intervenção cirúrgica. O membro, inutilizado pelo câncer, ficou perfeito; o paciente está vivo e em próspero estado de saúde, ainda nove anos depois de seu retorno de Lourdes”.
Não devemos esquecer o aspecto não-localizado de nosso ser - a mente - infinito no espaço e no tempo e, embora não-material, capaz de produzir profundas mudanças no corpo físico. Só assim poderemos entender o que aconteceu ao paciente.
Hermann Hess: “Eu fui, e ainda sou, um aspirante, mas deixei de interrogar as estrelas e os livros; comecei a ouvir os ensinamentos que meu sangue (meu subconsciente) murmura para mim”.
Depressão, agitação, ansiedade, tranqüilidade, medo - estas e outras muitas emoções estão decisivamente vinculadas às ações de certos compostos chamados neurotransmissores e neuropeptídios. Muitas células do sangue produzem substâncias que, em alguns casos, são idênticas àquelas sintetizadas pelas células do cérebro, como as endorfinas, potentes analgésicos naturais que também afetam nossos ânimos. As células do sangue, além disso, possuem sítios receptores para vários hormônios e substâncias químicas, idênticos aos existentes no cérebro. Isso indica que existe um cérebro anatômico (no crânio) e um cérebro funcional disseminado pelo corpo, tecidos e substâncias que desempenham funções cerebrais, pois existem, fora do cérebro, substâncias que atuam, em muitos aspectos, como o tecido cerebral, embora distantes do crânio. Assim, vemos um cérebro liberto e percorrendo todo o corpo, acompanhando o fluxo sanguíneo. Dentro dessa perspectiva, a mente, à medida que não está vinculada ao cérebro, permeia cada canto e cada fresta do corpo.
Candace Pert, Chefe de Química do Cérebro da Divisão de Neurociência Clínica do Instituto Nacional de Saúde Mental, dos EEUU, descobridora das endorfinas, com suas descobertas revolucionou nossas crenças sobre a origem das sensações, bem como sobre a suposição de que a mente está apenas localizada no cérebro. Descobriu que cada sítio receptor presente no cérebro também é encontrado nos monócitos, célula do sangue de papel fundamental no sistema imunológico. Verificou, também, que certas substâncias químicas que afetam a emoção também controlam o trajeto e a migração dos monócitos e que essas células, não só possuem receptores para vários neuropeptídios, iguais aos que controlam o ânimo, no cérebro, mas também sintetizam esses compostos e que todo o revestimento do trato intestinal, do esôfago até o intestino grosso, está forrado de células que contêm neuropeptídios e seus receptores. Talvez por isso, muitas pessoas sintam o efeito das emoções no estômago ou nos intestinos. Isso é tão verdadeiro que, ultimamente, o Tagamet, utilizado no tratamento de hiperacidez e úlceras, tornou-se o medicamento mais receitado nos EU. Gastrite, indigestão, gases, dor e sangramento são o preço que pagamos pelo fato de “canalizarmos” nossos sentimentos para o trato gastrointestinal e, a cada ano, milhares de pessoas morrem de hemorragia por úlceras gástricas e duodenais.
Pert descobriu que a boca, esôfago, duodeno, intestino delgado, cólon e os rins têm receptores para endorfinas e para outros hormônios compartilhados pelo cérebro, e capacidade de sintetizar essas substâncias alteradoras da mente. O fato de cérebro e trato intestinal sintetizarem os mesmos hormônios, mensageiros químicos, e terem sítios receptores dessas substâncias, faz com que perguntemos: Afinal, quem está no comando? O cérebro anatômico ou o funcional? Como podemos considerar o cérebro como o único local onde se encontra a mente se até células do sangue compartilham hormônios com o cérebro? Onde a mente se localiza no corpo? De onde vêm as mudanças de ânimo que sentimos? Parecem originar-se na cabeça, no cérebro, mas como ter certeza? Pois sabemos que nossas sensações são não-confiáveis em relação ao local de onde surgem. Um ataque cardíaco faz doer o braço ou a mão, o pescoço ou o queixo, mas não o peito. A dor num membro ausente, amputado, é sentida como se o membro ainda existisse.
Outra descoberta de Pert sobre neurotransmissores, hormônios e sítios receptores é a semelhança dessas substâncias e estruturas com as encontradas em formas de vida não-humana. Até um microscópico e primitivo protozoário, o tetraimena, ser monocelular, sintetiza insulina e endorfinas iguais às dos seres humanos, e seu sítio receptor é igual ao nosso. Outros animais estudados (ratos, por exemplo) têm receptores para endorfinas. Isso aponta para a simplicidade e unidade da vida. Cérebros de homens, ratos e protozoários microscópicos estão vinculados funcionalmente, com componentes moleculares idênticos, que nos seres humanos influenciam as emoções. E agora? Essas outras formas de vida têm vida emocional, já que apresentam requisitos fisiológicos e químicos para tal? Por que precisam de receptores para endorfinas, substâncias muito mais potentes que a morfina? Terão sentimentos os ratos e protozoários? Em resumo, essas descobertas desafiam a maneira um tanto arrogante com que temos menosprezado o potencial de sentimento de formas de vida inferiores.
Sendo a mente não-localizada a ponto de manifestar-se fora do corpo, poderiam os cérebros (mentes), ou órgãos semelhantes de outras formas de vida, também manifestar-se fora de suas estruturas? Há estudos de psicologia experimental que evidenciam a ocorrência de conexão mental não-localizada entre o homem e formas de vida ditas inferiores. Essa relação com outras formas de vida exige que tenhamos respeito pela vida de todas as criaturas, sejam grandes ou pequenas, numa concepção mais ampla e mais humilde de nossa posição no esquema da natureza - não mais como soberanos, como se supunha, mas como participantes.
Jung: “O inconsciente possui uma extensão que alcança qualquer lugar;... assim como não podemos dizer onde o mundo acaba, não podemos afirmar onde acaba o inconsciente, ou mesmo... se ele acaba”.
Watzlawwick por uma série de experimentos mostrou que “a realidade percebida por nós como ‘exterior’ (o mundo lá fora), realidade que simplesmente espera que a descubramos, é uma noção falsa”. Hoje, sabemos que as pessoas diferem nas suas percepções, mesmo em situações idênticas. Nossas experiências passadas, crenças e expectativas moldam (condicionam) de forma impressionante a maneira como vemos, ouvimos, cheiramos, degustamos e sentimos. Mesmo a estimativa do comprimento de uma linha ou do peso de um objeto, coisa tão simples, varia tremendamente de um indivíduo para outro. Todos os nossos sentidos objetivos nos enganam.
Poderão percepções ou crenças sobre o mundo chegar a mudá-lo? Descobertas em psicologia experimental sugerem que a convicção de uma pessoa sobre o mundo pode chegar a mudá-lo, sim. Essa idéia é muito perturbadora para as habituais concepções sobre a mente, sugerindo que esta pode, de fato, influenciar eventos à distância - que pode até mesmo “mover a matéria” e, assim, moldar o mundo ao nosso redor. (Chopra disse que um mero pensamento sempre cria uma partícula de matéria em algum lugar no universo).
Embora seja mais fácil acreditar que, em nosso planeta, há 5 bilhões de mentes separadas e individuais, do que acreditar que só existe uma mente não-localizada manifestando-se através das diferentes pessoas, ou de todos os seres sencientes, a ciência moderna leva-nos na direção de uma mente não-localizada, universal ou grupal; em suma, afirma que só há uma mente.
Estudos nos quais se levou aos participantes a convicção de que algo era verdade (como que um grupo de estudantes seria bem mais inteligente do que um outro, por exemplo, o que era inverdade; ou que um grupo de ratos seria de linhagem e inteligência muito superior em relação a outro grupo, outra inverdade), resultou, no final dos testes, que os “mais inteligentes ou bem dotados” se saíssem muito melhor que os do outro grupo, somente pela convicção dos professores ou aplicadores dos testes. Comprovaram-se, assim, os efeitos da convicção dos professores ou aplicadores de testes que ignoravam completamente a finalidade dos experimentos; apenas estavam convencidos que a inverdade era total verdade. E provou-se, também, que houve interações sutis que moldaram o desempenho dos estudantes e dos ratos, bem como a existência de comunicação mental entre humanos e entre humanos e outras formas de vida.
Tais fatos só serão compreensíveis pelo conceito de mente não-localizada - Mente Una - uma envolvente comunhão mental, uma consciência universal abrangendo, de igual modo, as mentes dos professores, experimentadores, estudantes, ratos, invertebrados etc. Como a mente se manifesta por intermédio de observadores individuais, cria a ilusão de “eus” separados e a sensação de egos dotados de mente separada.
Os xamãs, convencidos de que os animais tinham conhecimento do passado e do futuro, e de que poderiam se transformar nesses animais, passavam a poder “ver” o passado e o futuro, encontrando companheiros perdidos na floresta, animais, água, e faziam previsões sobre a colheita, caça e clima, sobre quem morrerá e quem viverá, resultado das batalhas etc. Tudo isso porque tinham convicção de que a mente animal não tinha limitações no tempo e no espaço. Não vem ao caso saber-se se a mente animal tem ou não essas faculdades; é o convencimento, dos xamãs, que lhes possibilita o florescimento desses elevados níveis de percepção.
Há experimentos também, com animais, grandes ou pequenos, que comprovam que eles se comunicam, de alguma forma, entre eles, e que animais “pressentem” coisas (como, por exemplo, em que local do piso da gaiola onde se encontram irá ser aplicada determinada carga elétrica, tanto que se posicionam em lugar seguro antes que o choque seja provocado aleatoriamente e com desconhecimento do próprio experimentador). Esses experimentos sugerem ao menos a possibilidade de que a mente de hamsters e outras cobaias, não está confinada ao presente, podendo estender-se em direção ao futuro, examiná-lo e trazer informações significativas ao animal.
Caso interessante, amplamente investigado, é o de uma collie que se perdeu entre dois estados norte-americanos (Ohio e Oregon), quando seus donos se mudavam para local onde nunca havia estado antes. Numa parada, ela se desgarrou e, por mais que fosse procurada, não foi encontrada. Três meses depois, ela apareceu na porta de seu novo lar, em Oregon. Não houve engano: ela ainda tinha seu nome na coleira além de várias marcas e cicatrizes identificadoras. Com anúncios nos jornais, conseguiu-se localizar muitas pessoas que durante o período tinham cuidado de uma collie perdida que correspondia à descrição do animal. “Quando o caminho foi mapeado, verificou-se que Bobbie escolhera um trajeto razoável, com poucos desvios”.
Coisa semelhante tem ocorrido com animais que, em vista de sua abundância, são apanhados e relocados para outros lugares, para fins de controle de população. Capturados, são etiquetados para perfeita identificação e transportados, às vezes, a mais de 600 quilômetros. Muitos deles, em poucos dias, são encontrados novamente na reserva de onde foram retirados, com suas etiquetas de identificação. São casos irrefutáveis, tendo havido apenas um caso de um animal ser encontrado vagueando para direção que o afastava da reserva de origem.
A idéia de mente não-localizada implica que nossa mente individual faz parte de algo maior, algo que não podemos reclamar como sendo propriedade nossa. Aceitar esta idéia requer certa humildade, não a humildade como uma gentileza existencial que não passa de máscara para o engenhoso ego, mas a verdadeira humildade. É ela que nos permite perceber que a consciência não é uma propriedade exclusiva do ego; que é partilhada não apenas pelas outras pessoas mas, talvez, como muitas pesquisas científicas parecem afirmar, como vimos acima, por outros seres vivos também.
Sir Arthur Eddington: “A idéia de uma mente Universal seria... uma interferência plausível na situação atual da teoria científica; ao menos, está em harmonia com ela”.
Sir James Jean: “Quando nos percebemos no espaço e no tempo, nossas consciências são, evidentemente, entidades separadas dentro de um quadro multifacetado. Mas, quando vamos além do espaço e do tempo (pela meditação), elas talvez consistam em componentes de um único fluxo de vida. Assim como acontece com a luz e a eletricidade, é possível que aconteça com a vida: os fenômenos podem ser entidades que levam existências separadas no espaço e no tempo, enquanto que, na realidade mais profunda, além do espaço e do tempo, seríamos todos membros de um só corpo”.
Para a ciência clássica, quando o cérebro morre, a mente morre, num processo totalmente localizado. Mas, nem todos concordam com isso. As concepções de alguns dos maiores cientistas do mundo mostram que a mente não-localizada não é uma simples teoria. Três dos mais eminentes cientistas do séc. XX acreditavam na mente atemporal: Schrödinger, físico quântico, Gödel, matemático e Einstein.
Schrödinger acreditava numa consciência coletiva, grupal, para toda a humanidade, a qual denominava Mente Una. Uma mente eterna e indestrutível pelo tempo, concepção contida na sabedoria antiga (mas esquecida pelas tradições ocidentais) e cujas características podem ser inferidas da ciência moderna (mecânica quântica).
Schrödinger acreditava numa consciência coletiva, grupal, para toda a humanidade, a qual denominava Mente Una. Uma mente eterna e indestrutível pelo tempo, concepção contida na sabedoria antiga (mas esquecida pelas tradições ocidentais) e cujas características podem ser inferidas da ciência moderna (mecânica quântica).
Gödel também acreditava que todas as pessoas fazem parte dessa mente una.
Einstein tinha idéias extremamente não-convencionais e, em grande parte, não-localizadas sobre o ser humano. Não admitia uma vontade individual independente.
Schrödinger: “Dividir ou multiplicar a consciência é algo que não faz sentido. Não há, em todo o mundo, nenhum tipo de estrutura dentro da qual possamos encontrar a consciência no plural; isso é, simplesmente, algo que construímos por causa da pluralidade espaço-temporal, mas é uma construção falsa... As categorias de número, totalidade e partes simplesmente não se aplicam no caso da consciência; a expressão mais adequada dessa situação é a seguinte: as autoconsciências dos membros individuais são numericamente idênticas tanto entre si quanto em relação àquele Eu que, pode-se dizer, elas formam num nível mais elevado”.
Schrödinger foi, sem qualquer dúvida, um dos mais notáveis arquitetos da física moderna. Suas famosas equações de onda formam a base da mecânica quântica. Ele demonstrou que a consciência da raça humana forma uma unidade e é imortal no tempo e infinita no espaço. Para ele, o mundo, particularmente o ocidental, sofre de uma grande ilusão coletiva: a suposição de que a mente e a consciência são pessoais e individuais. “Nós nos acostumamos a pensar na personalidade de um ser humano... como estando localizada no interior de seu corpo. Descobrir que ela realmente não pode ser encontrada ali é tão surpreendente que uma tal idéia esbarra na dúvida e na hesitação, e muito relutamos em admiti-la. Estamos acostumados a localizar a personalidade consciente de uma pessoa, eu diria, três a cinco centímetros atrás do ponto médio entre os olhos... É muito difícil para nós compreendermos o fato de que a localização da personalidade, da mente consciente, dentro do corpo, é apenas simbólica, e só um apoio para uso prático”.
Essa concepção conflita com o sentimento inato de que o “eu” está atrás dos olhos, em algum lugar dentro de nossa cabeça, idéia aceita pelo senso comum que faz surgir a crença de que somos observadores percebendo o mundo através de nossos sentidos objetivos. Essa suposição teve papel importantíssimo em toda nossa história cultural, ocupando posição central na ciência clássica. Esta afirma que podemos observar e medir o mundo a partir de um ponto de vista exterior, como se ele estivesse lá e nós aqui. Na física moderna tal concepção foi totalmente abolida.
Hoje, a maior parte dos físicos acredita que não se pode explicar as descobertas da física moderna enquanto se mantiver essa concepção. Para estes cientistas, no nível atômico simplesmente não existe um mundo real “lá fora” até que sobre ele seja feita uma observação. Antes desse momento, há somente uma variedade de resultados possíveis (as superposições coerentes) para cada evento subseqüente, cada um com sua própria probabilidade de ocorrência uma vez seja feita a observação. O observador - mesmo que haja um dispositivo de medida interposto - desempenha a ação fundamental de reunir todas as possibilidades num resultado único e coerente, que só então se manifesta no espaço-tempo. Antes desse momento não é legítimo falar de um mundo real de coisas e acontecimentos verdadeiros, mas apenas de possibilidades com potencial de se realizarem.
John A. Wheeler, eminente cosmólogo e teórico quântico, expressa o papel crucial do observador assim: “Antiga lenda descreve breve diálogo entre Abraão e Jeová. Este repreende Abraão: “Sequer existirias se não fosse por mim!”. “Sim, Senhor, eu sei’, responde Abraão, ‘mas o senhor também não seria conhecido se não fosse por mim”. Em nossa época, mudaram os participantes do diálogo. São eles o homem e o universo” (a parte que vê e a parte que é vista). (A ciência mais recente, presume, como os sábios, que os seres sencientes nada mais são que os olhos de Deus).
A imagem atual do mundo só faz sentido quando se combina o observador e a coisa observada numa única totalidade. Esta é uma das diferenças mais radicais que separa a visão de mundo da ciência clássica da visão de mundo da ciência quântica. A idéia de uma realidade externa, “lá fora”, seguindo seu curso, totalmente independente de um observador, foi transcendida, na física quântica, por outra imagem que incorpora a participação dos seres sencientes, da humanidade.
Wheeler: “Nada é mais importante no princípio quântico do que isso: que ele destrói o conceito de mundo como algo ‘lá fora’, com o observador separado dele, em segurança. Hoje vemos que é preciso em lugar da palavra observador, colocar ‘participante’, pois o universo é ‘participatório”.
Físicos sustentam que uma máquina poderia fazer a observação, mas que o efeito ocorreria somente quando um observador-participante senciente, por sua vez, observar o resultado obtido pela máquina. A ciência quântica, a ciência mais precisa arquitetada pela humanidade, transcendeu a noção de uma realidade fixa existente ‘lá fora’, embora a teoria da relatividade já afirmasse que “não existem um fato e um observador, mas a combinação de ambos numa observação... que evento e observador não são separáveis” (Bronowski). E, Schrödinger: “Sujeito e objeto são um só. Não se pode dizer que a barreira entre eles foi derrubada como resultado das recentes experiências nas ciências físicas, pois essa barreira nunca existiu”. (E, para Krishnamurti, o observador e a coisa observada, o sujeito e o objeto, são uma só e a mesma coisa).
Schrödinger encontrou nos Vedas, de 1500 a. C., e nos Upanishades, de 800 a. C., a confirmação de que sujeito e objeto são inseparáveis e de que a Realidade Última procurada é o ‘eu’ individual: “Aquele que é a mais pura essência, este mundo o tem como alma. Aquele é a Realidade. Aquele é Atman. Aquele és tu”. E mais: “O Eu (atman)... está livre do mal, da velhice, da morte, da aflição, da fome e da sede; seu desejo é real e seus pensamentos são verdadeiros”.
Tais afirmações impressionaram profundamente Schrödinger, bem como outro famoso físico quântico, Bohr, pois estavam coerentes com a nova física. Concluíram que a mente e o eu individual não podem ser limitados, pois fazem parte, intrinsecamente, de um todo maior.
Um dos enigmas sempre provocadores é referente ao fato de que, se há tantos egos conscientes, como é que existe uma única visão de mundo elaborada por todos eles? Schrödinger deu a resposta: “É óbvio que há uma única alternativa: a unificação das mentes ou consciências. A multiplicidade é apenas aparente; na verdade existe apenas uma única mente”. “E, se há apenas uma única mente, isso significa que ela não é localizada no indivíduo, mas é transpessoal, universal, isto é, não-localizada, transcendendo espaço e tempo”. E, apoiado nos Vedas, continua: “A união mística com Deus geralmente acarreta essa atitude (a idéia de Mente Una)”. E afirma que mais respostas virão “quando a ciência ocidental assimilar a doutrina oriental de identidade das mentes”.
Para Schröndiger, há razões válidas para se afirmar que a Mente Una é imortal, afirmativa alicerçada nas novas concepções acerca da natureza do tempo. Na física moderna, um tempo exterior, assim como um mundo exterior, não existem. A ciência quântica suprimiu a idéia do mundo como objeto e, com ela, a idéia de tempo como objeto. Simplesmente não há nenhum mundo exterior, objetivo, em que um tempo exterior, objetivo, possa existir. Como o mundo depende da mente, o tempo também depende dela. E, à questão de como poderia a mente ser destruída pelo tempo, Schrödinger responde que não pode: “Eu me arrisco a chamá-la de indestrutível, pois a mente é sempre agora. Não há antes nem depois para a mente. Apenas existe o agora, que inclui memórias (passado) e expectativas (futuro). Podemos, assim, afirmar que a teoria física, no presente estágio, sugere nitidamente o caráter indestrutível da Mente pelo Tempo... O tempo é invenção de nosso pensamento”. (...) “O mundo expandido no espaço e no tempo não passa de uma representação nossa... A experiência não nos dá a menor pista de que seja qualquer coisa além disso”.
Do físico Paul Davies: “... em conseqüência das estranhas e assombrosas idéias novas sobre espaço e tempo, mente e matéria,... os físicos aprenderam a abordar seu objeto de estudo de maneiras inesperadas e inusitadas, que parecem virar o senso comum de cabeça para baixo, em concordância mais próxima com o misticismo do que com o materialismo. Como resultado, a ciência realmente avançou até um ponto onde as questões religiosas podem ser seriamente enfrentadas”.
Schröndiger: “... Olhando e pensando dessa maneira, talvez você possa ver, num lampejo, a impossibilidade de essa unidade de conhecimento, sentimento e vontade que você chama de “eu”, ter nascido num dado momento há não muito tempo atrás; antes, esse conhecimento, sentimento e vontade são eternos e imutáveis em essência, sendo um, em termos numéricos, em todos os homens ou, ainda mais, em todos os seres dotados de sentidos. Mas, isso tudo, não no sentido de que você seja uma parte, uma peça de um ser infinito e eterno, ou um aspecto (ou fagulha, ou prolongamento) ou modificação dele... Não! Conquanto pareça inconcebível à razão comum, você, e todos os outros seres conscientes, são tudo em tudo. Portanto, essa sua vida não é apenas uma peça da existência total, mas, em certo sentido, é o todo; só que esse todo não é constituído de forma que possa ser examinado num único relance... Assim, você pode atirar-se ao chão, estender-se sobre a Mãe Terra, com a convicção de ser um com ela e ela com você. Você está tão solidamente estabelecido, é tão invulnerável quanto ela - na verdade, mil vezes mais. Tão certo quanto ela irá engolfá-lo amanhã, ela fará com que nasça de novo para lutar e sofrer. E não só “algum dia”: agora, hoje, todos os dias ela o faz nascer, não uma vez, mas milhares de vezes, assim como todos os dias o engolfa milhares de vezes. Pois, eternamente e sempre, há apenas o agora, aquele mesmo eterno agora, (pois) o presente é a única coisa que não tem fim”.
Gödel, matemático austríaco, assombrou a comunidade internacional de lógicos e matemáticos, apresentando dois espantosos teoremas, de cujos efeitos o mundo científico ainda se ressente - os chamados “teoremas da incompletude”, os quais, em resumo, dizem: (1) seja qual for a riqueza de um sistema lógico, ele nunca poderá ser completo, e (2) não há garantias de que o sistema seja coerente. As provas de Gödel têm sido examinadas por matemáticos e lógicos por mais de meio século e não revelaram qualquer incoerência (Para este estudo isso implica no seguinte: para se pensar sobre a mente, tem-se que empregar a mente; é preciso posicionar-se fora dela. Nessa situação a mente funciona, ao mesmo tempo, como sujeito e como objeto. Mas surge um dilema: a mente torna-se incompleta, pois algo foi retirado dela; e isto afetará, a partir daí, qualquer observação sobre ela (pois estará incompleta). Mas, se o indivíduo não se coloca “fora” da mente para observá-la, a observação não é possível. Pelo processo inerente de pensar sobre a mente com a mente, tanto a integridade quanto a coerência de nosso raciocínio estão fadados a ser prejudicados, a ficar incompletos).
Como conseqüência disso, é impossível ao pensamento racional penetrar a verdade suprema e verdadeira. Por isso, tem-se que sair da mente, ir além da mente, para se “penetrar” o atemporal, a não-localidade, segundo Krishnamurti. (pela nova física, o salto quântico, a percepção advinda da meditação).
Indagado se acreditava que a Mente está em todo lugar, em oposição a estar localizada no cérebro das pessoas, Gödel respondeu: “É claro. Este é o ensinamento básico do misticismo”. E, à outra indagação, sobre o que é que causa a ilusão da passagem do tempo: “A ilusão da passagem do tempo surge ao se confundir o suposto com o real (com o que é). A passagem do tempo surge porque pensamos ocupar diferentes realidades quando, na verdade, ocupamos apenas diferentes suposições. Há uma só realidade”. E enfatizou o abandono da crença na passagem do tempo para se chegar a vivenciar a Mente Una do misticismo (como Krishnamurti, também, enfatizou).
Eisntein via toda criação e tudo com impressionante sentimento de sacralidade. Todos nós teríamos vínculos indissolúveis com todas as coisas e com todos os eventos do mundo, uma afinidade tão íntima que toda questão referente à “liberdade individual” torna-se absurda. Para ele, o livre-arbítrio está ligado a uma interminável cadeia de eventos que se estendem infinitamente na direção do passado (não sendo, pois, ‘livre’ arbítrio). O mundo, assim, deve ser entendido como um conjunto de relações (e reações). Evento e observador não podem ser definidos separada ou independentemente um do outro: “Um ser humano é uma parte limitada no tempo e no espaço de um todo por nós chamado de ‘universo’. Ele tem pensamentos e sentimentos como algo separado do restante, uma espécie de ilusão de ótica da consciência. Essa ilusão é como uma prisão para o ser humano, restringindo-o a decisões pessoais e ao afeto por algumas pessoas mais próximas. A tarefa que nos cabe é libertar a nós mesmos dessa prisão, ampliando nosso círculo de compaixão para abraçar todas as criaturas vivas e toda a natureza em sua beleza”.
Einstein afirmava, com ênfase, a importância de acabar com a servidão ao eu pessoal, com o sentimento de um eu localizado, numa filosofia decididamente oriental: “O verdadeiro valor de um ser humano é determinado basicamente pela proporção e pelo sentido em que ele atingiu a libertação do eu”.
Lama Govinda, erudito budista: “... a individualidade e a universalidade não são mutuamente excludentes mas, sim, dois lados da mesma realidade, lados que se compensam e se complementam entre si, tornando-se um na experiência da iluminação. Essa experiência não dissolve a mente num todo amorfo mas, antes, traz a percepção de que o próprio indivíduo contém a totalidade (o todo) dentro de si mesmo”. (conforme Jacob Boheme).
E ainda Einstein: “... Para nós, físicos crentes, a distinção entre passado, presente e futuro é só uma ilusão, mesmo que teimosa”.
Aqueles três grandes cientistas citados acima, cada um a sua maneira, afirmam que nossas interpretações da mente e do eu, baseadas no senso comum, apresentam graves falhas; que a realidade, incluindo tempo, espaço, indivíduo, mente e morte, não é aquilo que sempre pensamos que seja; apenas estamos acostumados, condicionados, a pensar que seja assim.
Henry Margenau, Professor Emérito de Física e Filosofia Natural da Universidade de Yale, eminente teórico de física molecular e nuclear, declara que “a mente é universal” é a Mente Una. No seu livro “O Milagre da Existência”, talvez a mais vigorosa e excitante exposição dos últimos anos desde as propostas de Schrödinger, revela, sem qualquer dúvida, nítidas implicações espirituais, pois não é, apenas, mais um livro sobre física; é um livro de física, mas um livro de física sobre Deus.
Heisenberg, outra figura central da física quântica, afirma que certos conceitos fundamentais do senso comum como “ser composto de” e “ter partes distintas e/ou designáveis” podem não ter mais sentido para as realidades extremas com as quais a física procura lidar.
E Bohm, outra figura central: “Assim, chega-se a uma nova noção de totalidade ininterrupta, que nega a idéia clássica da possibilidade de se analisar o mundo em partes separadas e independentes” (como diz, também, Theilhard de Chardin).
Para Margenau, o fato de percebermos o mundo de maneira igual evidencia a existência da Mente Universal e Una. E explica que, como há uma equivalência muito aproximada entre nossas percepções das coisas, equivalência de que ninguém duvida, depois de recebermos os estímulos sensoriais que nos chegam, eles são ‘transcritos... para uma realidade física, em essência a mesma para todos... Essa unidade do todo implica a universalidade da mente...”.
A razão de essas percepções serem coerentes, não é porque nossos cérebros sejam semelhantes ou funcionem do mesmo modo, mas porque nossas mentes são uma só Mente. É preciso uma única consciência para ter-se uma única imagem do mundo, especialmente quando essa imagem é partilhada por cinco bilhões de cérebros neste planeta. Só a Mente Una, uma Mente Universal, pode fazer tal coisa. Para funcionar dessa maneira, ela deve ser não-localizada, no sentido de estar além, de transcender os cérebros e corpos individuais. Se a Mente Una não estivesse operante, moldando a grande quantidade de dados sensoriais processados a cada instante pelos bilhões de cérebros que há na Terra, poderíamos esperar a formação de imagens de mundo tão díspares (diferentes) quanto incomunicáveis (numa confusão total).
Há quem discorde dessa proposta, dizendo que as imagens que fazemos do mundo são uma só porque existe um só mundo lá fora, mas a física moderna já provou que, na realidade, não há um mundo “lá fora”, exterior, objetivo, nada e muito menos algo que seja igual para todos. O que há é uma realidade mais profunda que a dos objetos “lá fora” que, em última instância, é a Mente Una Universal, e que, em sua expressão mais abrangente, é aquilo a que chamamos Deus.
A idéia de Mente Una é coerente com a física quântica e com muitas das grandes tradições espirituais da humanidade. E, se a Mente é una, fazemos parte dela, mas não apenas “parte”, pois assim violaríamos a relação não-dual (a Mente Una e nós). Em última instância, temos que ir além da idéia de que nossa mente faz parte de alguma outra coisa, reconhecendo, como afirmou Schrödinger, que, em algum nível, somos a Mente Una, pois se alguma coisa estivesse fora dela, incluindo nossas mentes, ou nós mesmos, ela não poderia ser Una, total, completa. Trata-se, nada menos, da relação do homem com Deus.
Conforme disse Margenau: “Se minhas conclusões estão corretas, cada individuo é parte da Mente Universal. Uso a expressão “parte de” com hesitação, lembrando sua imprecisão e inaplicabilidade na física recente. Uma forma melhor de colocar a questão é dizer que cada um de nós é a Mente Universal, porém com limitações que obscurecem tudo menos uma pequena fração de seus aspectos e propriedades”. (limitações causadas pelo ego).
Há um enigma advindo da afirmação da física quântica de que a mente é não-material. Como poderia afetar o cérebro se, sendo não-material, não tem energia para isso como exige a física clássica? Pois bem, na física moderna tal fato é perfeitamente admissível, não violando qualquer lei, em perfeita concordância com os princípios conhecidos: a mente não tem e não fornece energia.
Nesse sentido, afirma Margenau: “Há casos em que o princípio de conservação de energia na sua forma habitual (como conhecido) não se aplica; como exemplos podemos citar... e, talvez, o mais miraculoso de todos: uma massa física pode ser criada do nada sem contradição ás leis da física” (o mesmo afirma Chopra e os místicos adiantados).
Margenau: “Seu conhecimento compreende não só o presente, mas também todos os eventos passados. (...) A Mente universal pode ‘viajar’ à vontade para trás e para frente no tempo” (como, hoje, a física quântica aceita).
Se nossa mente faz “parte” dessa Mente Universal, então ela também é não-localizada no espaço-tempo. Mas se é assim, porque nos sentimos tão localizados? Tão individuais, trancados dentro do corpo, da cabeça? Margenau e outros físicos afirmam que nossa noção de universalidade é obscurecida pelas limitações físicas do corpo. Mas tais limitações não são absolutas, sendo que, durante toda a história, muitas pessoas conseguiram superá-las. Todas as grandes tradições espirituais estão repletas de evidências de que, se certas prescrições forem seguidas (em especial a prática da meditação), a natureza não-localizada, universal, divina, será percebida.
Uma das mais incômodas limitações é a maneira como percebemos o tempo: dele só vemos uma pequena parcela, o “agora”. Essa limitação contribui para nos sentirmos presos, encalhados no tempo, limitados a uma única vida, irremediavelmente mortais. Além disso, temos a sensação dominante de isolamento individual, de que possuímos uma identidade pessoal, um “ego”. Mas, nada disso é absoluto. Sentimo-nos rodeados de incertezas em nossas vidas, porque o mundo, no nível invisível e silencioso dos processos subatômicos, é incerto (Heinsenberg). E é essa incerteza que permite a possibilidade do livre-arbítrio humano. Mas, nem a limitação relativa ao tempo, nem a relativa ao espaço, são absolutas, como dissemos acima. Sob certas circunstâncias, muitas das quais podemos aprender a controlar, elas podem se tornar “menos opacas”.
Segundo os físicos quânticos, não há limites para o nível mais elevado da mente: “... a Mente Universal não precisa de memória, uma vez que todas as coisas e todos os processos - passados, presentes e futuros - estão abertos a ela” (Segundo S. Agostinho, para Deus, dez mil anos atrás ou ontem é a mesma coisa: é agora).
Contudo, o encontro inesperado com a realidade não-localizada pode ser chocante e avassalador. Isso pode ocorrer, por exemplo, com o uso de drogas que alteram a consciência. Dependendo de fatores inúmeros, essa experiência pode ser descrita como êxtase, iluminação ou puro terror. Houve mesmo quem recorresse ao suicídio ao realizar repentino contato com a realidade não-localizada em experiências com drogas. Como disse Campbell, “Aqueles que não resistem à experiência se afogam nas águas onde os místicos nadam com deleite. Para atravessar esse oceano, é preciso estar preparado”. (Pietro Ubaldi afirma o mesmo).
Se seguirmos as implicações da moderna visão do universo dada pela ciência quântica, talvez possamos confirmar as percepções dos visionários e místicos: de que somos eternos, infinitos e Um.
Bohm: “Em última análise, todo o universo (com todas suas partículas, incluindo aquelas que constituem todos os seres humanos, seus laboratórios, instrumentos... etc.) tem de ser entendido como uma totalidade indivisa, em que a análise em partes separadas e independentes não possui status fundamental”. Bohm sustenta que a informação de todo o universo está contida em cada uma de suas partes. E exemplifica com o holograma, no qual, qualquer de seus pedaços, se iluminado com luz coerente (laser), fornece uma imagem do holograma inteiro.
É da natureza (ou ilusão) da mente individual enxergar o mundo exterior como real, tomando como válida a separação entre os seres (e coisas), o que reforça a impressão de que somos mentes separadas em indivíduos separados. Essa sensação vem também do modo como compartimentamos o tempo em passado, presente e futuro, confinando nosso eu individual a apenas um deles, o presente. Mas, tais divisões não são fundamentais. Ao contrário, nosso mundo é uma “estrutura de vínculos indivisíveis” na qual, todas as partes, inclusive as mentes, estão unidas.
E Bohm afirma: “Bem lá no fundo, a consciência da humanidade é una. Isto é, praticamente, uma certeza pois, mesmo no vácuo, a matéria é una; e se não estamos vendo isso é porque vendamos nossos olhos”.
Mas Bohm vai além da unicidade de consciência; suas idéias levam à conclusão de que a mente é imortal: “Em última análise, todos os momentos são realmente um,... portanto agora é a eternidade... todas as coisas, incluindo a mim, estão morrendo e nascendo a cada momento na eternidade”. (Como Krishnamurti, o movimento indiviso; e, como Schrödinger, a mente imortal).
É notável a semelhança de concepções entre Bohm e Schröndiger, pois este afirma em perfeito acordo com aquele que, “todos os dias, ela (a mãe terra) o faz nascer, não uma vez, mas milhares e milhares de vezes. Pois, eternamente e sempre, há apenas o agora, aquele mesmo agora; o presente é a única coisa que não tem fim”. As teorias destes físicos sobre a unicidade da consciência fazem parte de uma tradição dentro da física moderna que inclui, como vimos, alguns dos mais aclamados cientistas de nosso tempo. Suas teorias dão apoio à idéia de uma mente não-localizada no espaço-tempo, não confinada em cérebros e corpos, infinita e imortal.
Nick Herbert, autoridade das mais influentes em efeitos não-localizados na física, em seu excelente livro ‘Realidade Quântica’, sustenta que “as influências não-localizadas não são mediadas nem por campos nem por nenhuma outra coisa. Quando A se relaciona com B de forma não-localizada, nada atravessa o espaço intermediário (como a física atual: quando um elétron salta de uma órbita para outra, não passa pelo espaço interveniente), portanto nenhuma quantidade ou espécie de matéria, nenhuma barreira, pode evitar essa interação. Desse modo, as influências não-localizadas não enfraquecem com a distância. Diferentemente dos efeitos localizados, são tão potentes a um milhão de quilômetros como a um milímetro. Mais ainda, as influências não-localizadas agem instantaneamente. Sua velocidade não é limitada pela velocidade da luz. Assim, uma interação (ação entre um lugar e outro) não-localizada associa um local a outro sem atravessar o espaço, sem enfraquecimento e sem demora. Uma interação não-local é não-mediada, não-atenuada e imediata.” (mediada, no caso, seria possuir um suporte para se propagar, como a eletricidade que se propaga através de fios de metal etc.)”.
Enquanto a ciência clássica sustenta que um mundo não-localizado é impossível, John S. Bell, físico irlandês, com prova matemática, confirmada por numerosas experiências, chamada teorema de Bell, mostrou que a suposição da ciência clássica é errada. Herbert descreve a situação criada pelo teorema: “Apesar de toda rejeição dos físicos quanto à interação não-localizada, apesar de todas as forças conhecidas serem sem dúvida localizadas, apesar da proibição de Einstein às conexões mais rápidas que a luz, Bell sustenta que o mundo está repleto de inumeráveis influências não-localizadas. Mais ainda, que as conexões não-mediadas estão presentes não apenas em circunstâncias raras, mas são a base de todos os eventos da vida diária. As conexões não-localizadas estão em toda parte porque a própria realidade é não-localizada” (Krishnamurti: universo meditativo).
Bell mostra que todas as teorias localizadas, por mais que pareçam dar certo, deixam alguma coisa de fora. Herbert diz que “Bell, simplesmente não apenas sugere que a realidade é não-localizada; ele prova isso, com a clareza e o poder do raciocínio matemático. Este aspecto inegável da prova desagrada aos físicos mais afinados com a realidade localizada”. Bell e outros mostraram que “nenhuma realidade localizada pode explicar o mundo em que vivemos... Embora os fenômenos do mundo pareçam estritamente localizados, a realidade subjacente a esses fenômenos deve ser supraluminosa (mais rápida que a luz). A realidade profunda do mundo é sustentada por uma conexão quântica invisível, cuja influência ubíqua (que está em toda parte) é não-mediada, não-atenuada e imediata” (instantânea).
Para os físicos, que consideram que o teorema de Bell será, um dia, rejeitado à luz de novas teorias, Herbert argumenta que tudo pode acontecer mas o teorema de Bell sempre será válido por que se baseia em fatos, independente de a teoria quântica ser correta ou não. Semelhante ao teorema de Bell, a ordem implícita de Bohm, a teoria dos campos morfogenéticos de Sheldrake, o modelo de Mente Universal de Margenau, a teoria de Mente Una de Schrodinger, todos falam de um mundo existente além dos mundos dos objetos e das pessoas, das mentes individuais separadas, um mundo subjacente aos fenômenos, afirmando que há uma unidade fundamental primária (antes de qualquer coisa).
Outros provaram a mesma coisa, como Robert Jahn, Decano Emérito da Faculdade de Engenharia da Universidade de Princeton, físico do Instituto de Pesquisas Stanford, em seu livro “As bordas da Realidade”, um trabalho valioso que abala de maneira convincente a suposição de uma realidade localizada. (Um “transmissor” transmite para o “receptor”, a 10.000 km de distância uma mensagem que é registrada num computador. Não só provou que a distância espacial é irrelevante, como que, às vezes, o receptor capta a informação até três dias antes de enviada, fatos impossíveis num mundo localizado. A transmissão é até mais rápida do que “imediata”, pois antes mesmo de acontecer a transmissão ocorre a recepção, como se a mente do receptor penetrasse o futuro. Como os resultados estão baseados em fatos, mesmo que a teoria quântica seja substituída por outra, os fatos permanecerão. Rhine já havia provado a ocorrência do efeito antes da causa, em experimentos com estudantes universitários, que recebiam imagens que lhes eram projetadas telepaticamente, às vezes dois a três dias antes da projeção).
Mas, pergunta-se, havendo bilhões de mentes individuais, porque não há uma interpretação do mundo diferente para cada mente? A resposta que esses físicos propõem é que há “um Observador Único e Último” que, no final das contas, é o responsável pela coordenação das observações separadas de todos os observadores individuais, sendo assim responsável por trazer à existência todo o Universo; em resumo, um fortíssimo argumento a favor de Deus. (O universo autoconsciente, de Goswami).
E o físico Freeman Dyson: “Não há uma distinção clara entre mente e Deus. Deus é o que a mente se torna quando ultrapassa a escala da compreensão. Somos as principais vias da manifestação de Deus, neste planeta, no presente estágio de sua evolução” (somos os olhos e ouvidos de Deus).
“Embora um, Ele perambula em várias formas” (dos Vedas).
“Em vão acreditas, oh artista, seres o criador das coisas. Por séculos elas vagaram pelo ar, invisíveis aos nossos olhos” (Tolstoi).
“A mente não surgiu como um produto secundário da evolução da vida, mas sempre existiu... É a fonte e a condição da realidade física” (George Wald, Nobel de Biologia).
O fitofisiologista Sheldrake trouxe uma teoria que abalou o mundo científico. Para ele a mente é não-localizada no espaço e no tempo, é atemporal, não está no aqui-agora, é imaterial e não-energética pelo que seu efeito não diminui com a separação espacial. Não está no cérebro, nem é produzida por ele, embora possa atuar por meio dele, assim como eletricidade age por meio de um fio metálico sem ser gerada por este. Shelkdrake apóia a hipótese de consciência una. Sua afirmação de que a mente é não-localizada no espaço e no tempo, podendo, assim, persistir no tempo e estar além do corpo, traz implicações tremendas a favor da imortalidade. Além disso, para ele, a consciência não se limita aos seres humanos, mas é compartilhada, em graus variados, entre as muitas formas de vida. Se a origem do universo atual é o ‘bing-bang’, se as leis antes disso não existiam, para ele não existem leis absolutas, eternas, pois as leis, então, são derivativas e evolucionárias.
A idéia de que o cérebro é um receptor ou instrumento sobre o qual a mente, ou consciência una, opera, é antiga. Já no séc. IV antes de Cristo, Hipócrates disse que “o cérebro é o intérprete da consciência” e “o cérebro é o mensageiro da consciência” (como na escritura cristã: ‘é o Senhor (a consciência una) que opera em nós o pensar e o fazer’).
O DNA conduz o código genético que, se supõe, governa tudo o que ocorre com as criaturas vivas. Células de ossos, ouvido, fígado, unhas, todas contêm, num mesmo indivíduo, o mesmo DNA, de modo que deve haver algo mais além do próprio DNA que seja responsável por elas se tornarem tão diferentes entre si no organismo. Sheldrake, ao postular que o código genético, como um dispositivo ordenador todo-poderoso, de alguma maneira impele a célula na direção de um objetivo - tornar-se uma célula vermelha ou branca do sangue, em lugar de uma célula de rim ou de cabelo, por exemplo -, afirma que isso indica a existência de algo mais que, num determinado momento, toma a iniciativa de as diferenciar.
Sheldrake: “Muitas vezes ele (referindo-se a Bergson) mostrou que nossa mente inclina-se a negar a criatividade. Não podemos explicá-la. Ela envolve aquilo que é completamente novo, original. Assim, preferimos dizer que a criatividade não é de forma alguma uma nova criação, mas tão-somente a expressão de algo “arquetípico” que já existe numa forma latente. Isto (porém) nega a verdadeira criatividade. É como dizer que tudo já está estabelecido de antemão, e que a evolução é mais ou menos como o desenrolar de um grande tapete, que é simplesmente desenrolado no tempo”. “Tanto a criatividade como o próprio universo requerem uma explicação. E isso só pode ser explicado em termos de algo que esteja acima ou além do universo, isto é, que o transcenda. Isto corresponde à explicação teística tradicional, a qual postula um Deus que estaria além, acima e no interior da natureza... Eu fico com essa concepção” (o novo e o original de Krishnamurti, o atemporal).
Numerosos experimentos com cobaias mostraram, sem qualquer dúvida, e com resultados assombrosos, nenhum biólogo podendo encontrar falhas neles, resultados que apontam para a herança de características adquiridas por outra via que não a genética. Quando as cobaias deveriam apresentar desempenho cada vez pior a cada geração subseqüente, em vez disso, se saíram muito melhor. Estudos foram realizados por 25 anos e mostraram que gerações sucessivas nas linhagens treinadas de ratos tendiam a aprender cada vez mais rápido. Até aí, tudo bem. Mas o mesmo ocorria com os ratos das linhagens de controle (que não eram submetidos aos testes, nem descendiam dos treinados). Os resultados eram os mesmos para as linhagens de controle e para as linhagens treinadas; logo, não podiam ser devidos à transmissão de genes que pudessem ter sido modificados pelo aprendizado, isto é, pela transmissão de características genéticas. Esses resultados, até hoje, não foram explicados e são uma característica totalmente incompatível com os conceitos convencionais da genética (na física clássica não há lugar para o atemporal, pelo que, se presume, ser pela via mental (consciência una) a transmissão dessas características herdadas) (o centésimo macaco).
Experimentos com bactérias geneticamente incapazes de metabolizar o açúcar lactose, mostraram que elas podem tornar-se consumidoras desse açúcar quando colocadas num meio em que essa espécie de açúcar seja a única fonte de alimentação. A fim de consumir o açúcar, e assim evitar morrer de fome, as bactérias tinham de sofrer mutações num ritmo bem mais rápido que o que normalmente ocorre com elas. Rapidamente adquiriam as novas características e as transmitiam às novas gerações, contrariando as proibições científicas usuais. Foram submetidas a tarefas mais difíceis como, além de metabolizar o novo açúcar, que era seu único nutriente, terem de realizar duas mutações, uma das quais era a eliminação de instruções genéticas já existentes. A probabilidade de as duas mutações terem ocorrido aleatoriamente durante o mesmo período é de uma para um trilhão. E as bactérias passavam as habilidades recém-adquiridas às gerações subseqüentes. O significado dessas experiências é tema de intenso debate. Os resultados limitam-se às bactérias? Tais resultados sugerem que toda variação não é aleatória, mas que o pacote genético de uma célula individual (já existente) pode beneficiar-se da experiência. Segundo os experimentadores: “Hoje, quase tudo parece possível”.
Rainer Maria Rilke: “Devemos imaginar nossa existência da maneira mais ampla que pudermos; tudo, mesmo o inaudito, deve ser possível. Isto é o que devemos exigir de nós: ter coragem para aquilo que de mais estranho, mais singular e mais inexplicável possamos encontrar (talvez aí esteja o milagre). Nesse sentido, a humanidade tem sido covarde, causando à vida (em seu sentido mais amplo) um mal contínuo: as experiências chamadas “visões”, o chamado “mundo dos espíritos”, a morte, todas essas coisas que nos são tão intimamente afins, têm sido tão excluídas da (nossa) vida que os sentidos com os quais poderíamos percebê-las estão atrofiados. Isso sem falar de Deus”.
Walt Whitman: “Consideramos as bíblias e as religiões como divinas; não digo que não sejam divinas; digo que todas se originam de você, e ainda poderão originar-se de você. Não são elas que dão a vida; é você que dá a vida. As folhas brotam tanto das árvores, ou as árvores brotam da terra, quanto brotam de você” (porque você é Tudo).
Inayat Khan: “Ninguém viu Deus e continuou vivendo. Para ver Deus, temos de ser não-existentes” (Quando o eu existe, Deus não existe; quando Deus existe, o eu não existe; isto é, para percebermos Deus o ‘ego’ deve ser afastado).
Santo Agostinho: “Senhor, perambulei como uma ovelha desgarrada, procurando-Te lá fora, com a mente angustiada, e não Te encontrei, porque em vão procurei fora de mim aquele que estava dentro de mim”.
Swinburne: “Mas o que fazes, referindo-te a Deus e te lamentando: ‘eu sou eu, Tu és Tu; eu sou fraco, Tu és poderoso’? Pois Eu sou tu mesmo que procuras encontrar-Me. Encontra-Me em ti mesmo, pois tu és Eu”.
Emerson: “Traça, se puderes, a linha que separa com exatidão o Dele do teu, o que é humano do que é divino”.
A concepção não-localizada coloca a mente do homem e a consciência fora do indivíduo, do cérebro e do corpo, levando à teoria de uma Mente Una, ilimitada no espaço e no tempo. Há muitíssimas razões para se levar a sério essa possibilidade, razões que surgem, não das antigas falas de videntes e visionários, mas das modernas descobertas científicas. O próximo passo não apenas nos coloca fora do cérebro e do corpo, como nos leva além da humanidade como um todo. Faz com que pousemos diretamente no colo de Deus - do Uno, Brahman, Logos, Tao, Buda, Krishna, Alá, do Princípio Universal. Nesse ponto, a não-localização assume proporções colossais porque percebemos as implicações espirituais envolvidas. Porque a mente não-localizada é infinita e ilimitada, e porque essas são precisamente as qualidades de Deus, isto significa que, em algum nível, partilhamos algo com a divindade, que os limites de Deus e do homem se confundem. Isto significa que, no homem, existe um elemento divino (quântico), que se manifesta por meio de qualidades não-localizadas. Assim, a não-localização é o lugar onde Deus e o homem se encontram, não como dois, mas como Um.
Sempre se condenou a idéia de “ser Deus” como blasfema, irreverente e herética (para as tradições religiosas ocidentais), isto mostrando o caráter próprio de nossas religiões, limitadas que são pelo tempo e espaço. Em essência, elas estão construídas sobre noções dadas pela ciência clássica, enfatizando o tempo linear com ênfase no “vir a ser”, no chegar a algum ponto ou lugar que não aquele onde estamos agora. Isto pode vir por meio da graça, das boas obras, da combinação das duas, ou de alguma outra forma. Uma melhoria é sempre necessária, nessa visão localizada do mundo e do ser, e a melhoria depende sempre do Tempo. É uma condição que ainda não existe e que deve ser realizada em algum momento, no futuro. É o ser separado que está necessitando de aperfeiçoamento e de salvação, devendo tornar-se diferente (melhor) do que ele é neste momento. Este modo de pensar é, evidentemente, localizado, enfatizando o tempo linear, o espaço localizado e a pessoa separada do todo.
Contudo, as tradições orientais apresentam acentuadas características não-localizadas, o que ocorre, também, em escolas da tradição cristã ocidental. Essas tradições não enfatizam a necessidade de o homem tornar-se radicalmente diferente, por meio de um processo de aperfeiçoamento, para obter a salvação no futuro. Em vez disso, conclamam todos os homens a despertarem (a terem percebimento) para a já presente unidade que existe entre eles e o Criador, e para a perfeição e divindade existentes em todos. Essas tradições exigem a iluminação, que significa tornar-se consciente do que já é presente e não uma condição ainda por realizar (um vir a ser futuro). Reiteradamente, elas declaram que a crença num eu isolado, no ego localizado no corpo ou cérebro das pessoas, não passa de ficção. Os líderes dessas tradições deram o Grande Salto não-localizado (quântico) na direção da realidade do Eu.
Em todo o decorrer da história, as principais culturas produziram porta-vozes desse ponto de vista. Especialmente no Ocidente, esses homens pagaram com a vida por externarem suas concepções não-localizadas (veja-se na idade média).
‘Corpus Hermeticum’, um dos exemplos mais impressionantes de apelo à não-localização, que data de pelo menos dois mil anos, diz: “A não ser que te faças igual a Deus, não poderás entendê-lo, pois o semelhante não é inteligível senão pelo semelhante. Cresce até atingires grandeza além da medida; de um salto (a criatividade do salto quântico?) liberta-te do corpo (dos condicionamentos; do ego); ergue-te acima do tempo (penetra no atemporal, na não-localização), torna-te a Eternidade; então entenderás (perceberás) Deus. Acredita que nada é impossível (o campo das infinitas possibilidades) para ti; pensa-te imortal e capaz de tudo compreender, imaginando estares em toda parte, na terra, no céu, na água, no não nascido, adolescente, velho, morto, além da morte. Se abraçares de uma só vez, em teu pensamento, tudo isso, isto é, tempos, lugares, coisas, substâncias, qualidades, quantidades, poderás entender (e ser) Deus”.
O autor dessas palavras nos leva para além de eventos singulares, para todos os eventos; além do aqui, para toda parte; além do agora, para todo tempo, à eternidade; além do ego, para a unidade com Deus. E afirma que devemos destruir nossa concepção de uma realidade localizada (o ego) se queremos conhecer Deus. Isso não significa usurpar o poder divino, como alguns pensam e, assim, julgam blasfemas tais palavras. Para o autor de ‘Hermeticum’, tornar-se igual a Deus é impossível, porque é impossível vir a ser o que já se é. Além disso, quando se percebe que o eu individual não existe, que é ilusão (falácia, como diz Wilber), percebe-se, também, que não há quem esteja fazendo a usurpação.
Alan Watts: “Até hoje não existiu uma religião ou filosofia em que houvesse um verdadeiro casamento (sem reservas) entre o Céu e a Terra... Os teólogos cristãos parecem ter a incumbência de proteger a divindade contra a união plena com as criaturas, como se isso, de algum modo, fosse subverter sua moral (ou glória). Eles permitem que a criatura possa participar, refletir, ser adotada (salva), transfigurada pelo seu Criador e a Ele unir-se, mas sempre, no fim da linha, há alguém sacudindo o dedo e dizendo ‘Mas, nunca se esqueça, pequena criatura, de que você não é nada, nada até na sua miserável essência, pois o seu ser não lhe pertence’. Portanto, meu corpo é de Deus, minha mente é de Deus, meu próprio ser é de Deus, tudo emprestado para nada e para ninguém... O importante é ver todas as faces como máscaras da Divindade, todas as personalidades como papéis de Deus. Assim, Kabir (sufi) olhava em volta e via a face e a atividade de seu Bem-amado em tudo e em todas as direções”.
Paul Brunton: “Aqueles que desconfiam desse misterioso ensinamento, muitas vezes afirmam que a divinização do eu é uma tentativa de destituir a Divindade para cultuar uma parte da sua criação. Isso é um mal-entendido. Quem quer que realize a experiência de ir às profundezas de seu ser só poderá imergir com uma reverência ainda mais profunda por Deus. Em vez de divinizar o eu pessoal, ele o humilha completamente. Para que Deus possa surgir, o eu, em seu sentido comum, deve ser extinto”. (Para que Deus possa revelar-se em nós, nosso eu deve deixar de existir. Mantra da raja ioga: “Om namo”, isto é, “Deus, não eu”(?).
Schrodinger: “Essa visão não é nova. Os registros mais antigos, de 2.500 anos ou mais, já a continham. O empenho de todos os eruditos do Vedanta era no sentido de se chegar a assimilar em suas mentes este que é o maior de todos os pensamentos: ‘Deus factus sum’ (eu tornei-me Deus)” (‘Eu e Pai somos Um’).
Há um ponto em que concordam todas as grandes tradições: Deus é onipresente e eterno, isto é, não-localizado no espaço e no tempo. Se pudermos compreender isso, talvez achemos mais fácil entender porque o anseio em relação a Deus é, em última análise, um anseio em relação à não-localização.
Robert D. Wells: “O cristianismo perdeu os ensinamentos de Jesus. Fez dele um indivíduo especial (diferente de nós), cujos dons não possuímos. No entanto Jesus disse: ‘As obras que eu faço também tu poderás fazer, e obras maiores ainda’. Ele falou da mente ‘localizada’ em relação à Mente Una quando disse: ‘Eu e meu Pai somos um’ e ‘Meu Pai é maior do que eu’, a mente ‘localizada’ é uma com a Mente Una, mas é claro que esta é maior do que aquela. Ele referiu-se à mesma idéia de um ângulo diferente quando disse: ‘Dai e ser-vos-á dado’, porque a pessoa está dando para si própria, como uma individualização da Mente Una. Do mesmo modo: ‘com a mesma medida que medirdes, sereis medidos’. Mesmo o preceito áureo do Evangelho, na sua forma negativa ou positiva, repete a questão: ‘Não faças aos outros o que não queres que façam a ti’, ou ‘Faze aos outros o que gostarias que fizessem a ti’, isto é, o que você não faz ou faz aos outros é o que você não faz ou faz a si próprio, porque só há uma Mente (e somos essa mente)”.
O cristianismo é ostensivamente localizado em suas concepções, com a marca do tempo e espaço familiares e comuns. Supõe-nos indivíduos alienados e distantes de Deus (almas “perdidas”), e que a Ele devemos retornar em algum momento no futuro. No entanto, sempre existiu uma semente não-localizada, que surge, de tempos em tempos, nas visões dos místicos cristãos.
Assim, na visão de Meister Eckhart, místico cristão, a importância do tempo e espaço lineares é abolida, suprimindo-se, desse modo, as barreiras entre o homem e Deus: “Não há maior obstáculo à união com Deus que o tempo” e “... enquanto a alma estiver ocupada com o tempo ou com o lugar, ou com qualquer imagem desse tipo, não poderá conhecer Deus”.
Não há lugares distantes para onde não se possa ir num mundo não-localizado. Todo lugar é aqui e todo momento é agora. “Isso é verdadeiro: quando um homem sai de si próprio para encontrar ou buscar a Deus, ele está errado. Eu não encontro Deus fora de mim mesmo, nem o imagino exceto como algo meu e em mim. Algumas pessoas imaginam credulamente que verão Deus como se Ele estivesse lá e elas aqui. Não é assim. Deus e eu somos um em conhecimento; eu-Ele e Ele-eu, nem mais nem menos: o mesmo, Um só”.
Jesus: “Eu estarei convosco até a consumação dos séculos”. Tremenda verdade, pois todos estamos juntos sempre e sempre, por toda a eternidade. Não há, entre o homem e Deus, nenhum abismo a ser transposto. O importante é ter percebimento desse relacionamento. Essa visão é extremamente chocante para a maioria dos ocidentais, para os quais o pensamento religioso é ostensivamente localizado, definindo a relação entre o homem e Deus como uma intransponível separação de tal maneira que suscitou extrema hostilidade dos não-místicos contra estes que, muitas vezes, foram punidos com a morte. O próprio Eckhart só não foi condenado à morte pelo fogo porque morreu antes de terminado seu julgamento.
Ainda Eckhart: “... este é o nível supremo no qual pensador e pensamento são um só; no qual não há mais discriminação, no qual tudo é Deus”.
Os místicos do Sufismo e do Budismo sempre falaram da união do homem com Deus. No Sufismo, Abu Yazid propôs a morte do eu individual por meio de técnicas meditativas, o que envolvia a perda da consciência da individualidade do sujeito (do ego), isto é, a passagem de uma participação localizada para uma não localizada. Poucas tradições expressaram a experiência de mente não-localizada tão profundamente como o Taoísmo. Sendo uma tradição não-teísta, não fala de Deus, mas do caminho, o Tao, o Princípio Universal que guia o mundo. Além de não ser uma entidade pessoal, como é considerada a Divindade entre os ocidentais, o Tao não é localizado no tempo e no espaço como uma “coisa” o seria. O Tao é além do espaço e do tempo, além das pessoas e seres, além até de qualquer expressão. É entre Chuang Tsé, um dos fundadores do Taoísmo, e Tung-kuo, um buscador, este diálogo:
Tung: “Essa coisa chamada o Caminho, onde ela existe?”
Tsé: “Não há lugar onde ela não exista.”
“Vamos, seja mais específico!”
“Está na formiga.”
“É uma coisa tão baixa assim?”
“Está no painço.” (semente de grama)
“Mas isso é ainda mais baixo!”
“Está no ladrilho e em seus cacos.”
“Como pode ser tão vil?”
“Está na urina e no estrume.”
A concepção budista de Deus e do homem como co-criador parece ser coerente com a física quântica. Nesta, vimos que, antes da observação, não se pode falar em um mundo exterior, fora de nós, existindo independentemente. Os físicos John D. Barrow e Frank J. Tipler: “Talvez todas as propriedades, e por conseguinte o Universo inteiro, sejam trazidas à existência por observações feitas em algum momento por seres conscientes”, como afirma, também, Amit Goswami em “O Universo Auto-consciente”.
É cada dia mais difícil encontrar, especialmente no Ocidente, homens ou mulheres que não vejam o mundo sem preconceitos (condicionamentos). A maioria já adotou uma ou outra fé baseada na realidade localizada. Mas, devemos ir além dos dogmas. Aldous Huxley escreveu que, na história do mundo, geralmente as guerras religiosas mais horríveis foram iniciadas pelas religiões baseadas no tempo. Por comparação, talvez nunca as religiões orientais, baseadas na eternidade, engajaram-se em fazer cruzadas, inquisições, guerras santas, fogueiras para bruxas (e dissidentes) e coisas desse tipo. Essas diferenças são assombrosas e refletem a tendência para a maldade que flui das visões localizadas da realidade (pela incompreensão ou interpretação incorreta da realidade).
As religiões baseadas no tempo não só se empenharam em freqüentes investidas contra outros seres humanos, como também têm feito o mesmo com o planeta ao abraçarem, quase que sem críticas, a religião do progresso, fé que é um viver no futuro, no vir-a-ser, a negação do agora.
Na meditação e nos estados profundos de relaxamento, o indivíduo vai além do aqui-agora. A pessoa percebe o espaço e o tempo, não em bocados e pedaços, mas como se estivesse experimentando a infinidade e a eternidade; muitos descrevem que transcenderam a noção de um eu localizado, fundindo-se com o ambiente e com o mundo (entre eles, Jacob Boheme). Tais mudanças são acompanhadas, em geral, por mudanças na fisiologia do corpo, quase sempre levado a um estado mais saudável, beneficiando, também, a mente pois esta e o corpo comportam-se como um todo único. É o “estado vigilante hipometabólico da meditação” (‘Meditação Transcendental’, de Mahaesh Maharish Yogi).
Enquanto acreditarmos que somos criaturas limitadas quanto ao tempo, será impossível para nós descansarmos no momento presente. Estamos sempre olhando para trás, no tempo, desejando a saúde imaculada da juventude, ou para diante, temerosos do que pode nos acontecer no futuro.
Po Chü-i: “Mantenha seus pensamentos longe das coisas já passadas e concluídas, pois o pensamento no passado provoca tristeza e dor. Evite pensar no que poderá acontecer; pensar no futuro é desalentador. É melhor sentar-se numa cadeira como um saco, durante o dia; é melhor deitar-se numa cama como uma pedra, durante a noite. Abrir a boca quando vier a comida, fechar os olhos quando vier o sono.”
Huxley: “Onde há perfeição e unidade, não pode haver sofrimento. Esta condição surge onde há imperfeição, desunião e separação de uma totalidade abrangente. Para aquele que realiza a unidade em seu próprio organismo e a união com o fundamento divino (meditação), o sofrimento tem fim”. (idem, afirmou o Buda).
A participação no ser não-localizado é como “morfina espiritual”: reduz dor e sofrimento, mas não dura só um momento, pois elimina a raiz e a fonte do sofrimento (não é como a satisfação temporária que se obtém nas práticas religiosas populares). O eu isolado está preso ao tempo e ao espaço e caminha rumo à destruição. Mas, ser mais “espiritual” realmente torna a pessoa mais saudável? Muitos observadores ficaram impressionados com a extraordinária condição física dos iogues. Um dos estudados passava quase o todo o dia e a noite toda praticando pranaiama, uma técnica especial de respiração, nunca comia mais de um punhado de arroz por dia, tinha o corpo perfeito como de um atleta e não mostrava sinal de fadiga ou subnutrição.
A vida de Sri Ramana Maharshi, porém, mostra que a realização do ser não-localizado não traz garantia de saúde perfeita ou vida longa. Ele morreu de câncer. Seus adeptos perguntaram-lhe se o seu estado de “iluminação” não impediria tal sofrimento. Ramana abriu largo sorriso: “Vocês tomam este corpo por Bhagavam (por mim) e a ele atribuem sofrimento. Sou o Eu; por não estar identificado com o corpo, permaneço em bem-aventurança apesar da dor”. Não há, portanto, nenhuma associação imediata entre realização espiritual e saúde perfeita, mas o sofrimento pode ser superado.
Assim, Huxley disse que, quando criamos o vazio em que a Eternidade pode fluir, percebemos que a “cura” e a “longevidade” são coisas que dizem respeito, não à Eternidade, mas ao Tempo. O funcionamento físico perfeito é assunto para o corpo temporal. Na Eternidade, o ser não está no tempo e essas considerações perdem toda importância. Do ponto de vista da eternidade, esses problemas não existem. (Talvez seja, também, nesse sentido a afirmação de Krishnamurti, quando inquirido por Bohn, sobre o significado da morte: a morte tem pouquíssimo significado).
Contudo, para outros, a iluminação vem acompanhada de mais saúde. Assim, disse Po Chü-i: “Onde estão eles (os amigos de outrora) agora? Só eu consegui chegar à velhice. Já estou na sétima sucessão de meus anos. No entanto, como até me fartar e durmo tranqüilamente. Bebo, enquanto posso, o vinho de minha caneca, e tudo o mais confio aos cuidados do Céu.”
Para compreendermos isso basta lembrarmo-nos do “efeito Maharishi”, um quarto estado de consciência (além do sono, sonho e vigília), fisiológica e bioquimicamente sem igual. A abordagem tem sido tão cientificamente rigorosa que deixou os críticos de boca aberta. E o que é esse “efeito”? É o processo pelo qual o ambiente social torna-se mais harmonioso e coeso, em conseqüência da participação de um grupo de pessoas em experiências de “consciência pura”. Esta consciência é um estado mental, no qual os conteúdos específicos da mente, todas suas imagens e pensamentos (seu lixo), ficam em segundo plano, deixando apenas a “consciência sem conteúdo” como experiência primária. Isto é, é a “mente sem pensamento, vazia”, por mais inconcebível que seja esta idéia para nossas mentes modernas, ocupadas e barulhentas. Esse estado era conhecido há milênios por muitas tradições espirituais, que falaram sobre ele de modo claro e convincente, e o chamaram de “pura contemplação”. (Em “A nuvem do Desconhecimento”, séc. XIV; experiência do “amor puro”, de São João da Cruz; o “nada divino” e o “zero”, na tradição judaica; e samadhi, satori, iluminação, não-mente, nirvana etc.).
E o que a ciência tem a dizer sobre essa experiência, uma descoberta que, segundo se afirma, pode mudar o mundo? Em primeiro lugar, essa experiência é mais do que uma idéia ou pensamento. Alterações físicas importantes acompanham a condição de “não-mente”. O corpo fica muito mais tranqüilo, mais atento e desperto, apesar de uma diminuição geral no ritmo do metabolismo. A respiração torna-se drasticamente mais lenta, o ritmo cardíaco diminui, a resistência da pele (uma medida do relaxamento) aumenta bastante, as ondas cerebrais, medidas pelo EEG, tornam-se mais coerentes entre as diferentes partes do cérebro. Trata-se de um quadro totalmente diferente de qualquer outro dos três estados conhecidos de consciência, vigília, sono e sonho, e mesmo da hipnose.
Mas não é só o corpo que se comporta de modo coerente durante o estado de consciência pura: a experiência subjetiva, psicológica, também segue um padrão típico. Conforme relatou J.T. Farrow, sobre seus pacientes: “Há uma mudança gradual caracterizada por um estado mental cada vez mais tranqüilo e ordenado, por uma expansão da consciência e por uma redução das fronteiras da mente, até que, de repente, alcança-se um estado de “ilimitação” (sem limites), essencialmente o mesmo para os diferentes indivíduos” (concordância universal, conforme Einstein, Jung).
Nessa experiência, a percepção do aqui-agora gradualmente desaparece e a pessoa se funde com algo maior do que o eu individual, estado que parece idêntico àquele da Realidade Não-localizada descrito até agora, no qual se transcende o ego e a percepção do eu individual (‘eu e meu Pai somos um’).
Maharishi Mahesh Yogi, que nos trouxe a MT, da tradição védica da antiga Índia, numa conferência com cientistas de várias áreas, em Arosa, Suíça, sobre o estado de consciência pura, sugeriu que, se ao menos um por cento de uma dada população começasse a meditar e experimentasse a consciência pura, os restantes 99 por cento também seriam beneficiados pelos resultados. E a mudança não ocorreria por alguma coisa que os meditadores fizessem ou dissessem, mas como resultado da experiência de consciência pura em si mesma.
O sociólogo Landrith resolveu fazer o teste. Descobriu que, em 1973, o ano mais recente para o qual todos os dados necessários estavam disponíveis entre aquelas cidades dos Estados Unidos com população de 25.000 pessoas ou mais, onze delas tinham 1 por cento ou mais de seus habitantes praticando MT. Para estabelecer uma comparação, selecionou onze cidades que tinham menos de 1 por cento de praticantes de MT, que se assemelhavam àquelas de “1 por cento”, em termos de população, região do país, contingente universitário e tendências anteriores de taxas de criminalidade. Descobriu que, para as cidades de menos de 1 por cento de praticantes, as taxas de criminalidade entre 1972 e 1973 seguiram a tendência nacional, aumentando a taxa de criminalidade em média 8,3 por cento. Mas, em cada uma das cidades de 1 por cento, havia uma diminuição nessas taxas de 8,2 por cento. A probabilidade de que isso fosse obra do acaso era de menos de um em mil.
As descobertas de Landrith têm sido confirmadas em muitos outros estudos que utilizam série de sofisticadas medidas estatísticas e procedimentos de coleta de dados conhecidos dos cientistas sociais. Essas pesquisas, tomadas conjuntamente, fizeram com que o professor Orme-Johnson calculasse que a probabilidade da associação entre porcentagem de praticantes de MT e declínio da taxa de criminalidade ser uma coincidência era de... menos de um em cinco bilhões. Outros estudos, numa amostragem aleatória adicional de oitenta áreas metropolitanas dos EEUU, confirmaram esses resultados sem qualquer sombra de dúvida.
Desde então, os sociólogos estudaram os efeitos da MT em várias cidades, coligindo ampla variedade de indicadores de qualidade de vida, como a incidência de suicídio, homicídio, divórcio, casamento, morte, fatalidades no trânsito, cirrose alcoólica, estupro, roubo, furto, agressão, arrombamento, desemprego, furto de automóvel, vendas de bebidas alcoólicas e cigarro, total de desempregados, e até índices ambientais, como dias de sol e poluição por monóxido de carbono e ozônio. Estados inteiros, e não só cidades específicas, foram examinados com as mesmas técnicas usadas originalmente nas áreas metropolitanas. Além disso, foram feitas experiências em que centenas de meditadores são inseridos em áreas problemáticas, como países em situação de caos político e social. Empregando as mais sofisticadas técnicas de estudo disponíveis aos modernos sociólogos e criminologistas, os resultados mostraram, de forma incontestável, que algo como uma Mente Grupal está em operação, isto é, que quando um grupo de pessoas intencionalmente entra num estado de consciência em que a percepção do Eu Ilimitado é vivenciada, o mundo simplesmente muda para melhor.
A ciência clássica não conseguiu explicar o efeito Maharish. Mas alguns cientistas começaram a buscar explicações apoiados nas recentes descobertas da moderna física quântica. Há certos sistemas físicos, os lasers, por exemplo, onde uma mudança, objetivando ordenamento numa pequena parte, amplifica-se e põe em ordem o sistema todo. Outros exemplos há na natureza; a água, sob forma de vapor de moléculas largamente desordenadas, à medida que é resfriada, passa por uma transição, para o estado líquido, mais ordenado, e para o sólido, o gelo, onde a disposição interna das moléculas é extremamente ordenada. Assim, também, os fenômenos de superfluidez e de supercondutividade. Se a temperatura do hélio for baixada até alguns graus perto do zero absoluto, ocorre uma coisa notável: o hélio sofre uma chamada “transição de fase”, transformando-se num superfluido, um quarto estado da matéria, diferente do gasoso, do líquido e do sólido. O hélio torna-se “incontido”, escapando de recipientes de vidro, e sua capacidade de conduzir calor torna-se infinita - propriedades essas devidas ao alto grau de ordenamento ou coesão entre seus átomos. Segundo Wallace, todos os átomos individuais “comportam-se como se fossem um único átomo de hélio; as propriedades da mecânica quântica do átomo manifestam-se em escala macroscópica”.
O chumbo exibe comportamento semelhante quando em temperatura perto do zero absoluto: seus elétrons se arranjam em pares, tornam-se coesos entre si (fenômeno plenamente descrito pela mecânica quântica); sua natureza de onda torna-se sincronizada, num ordenamento que permite que, subitamente, se manifestem novas propriedades, até então não conhecidas, como a supercondutividade, que não existia antes do ordenamento das partículas.
Isso poderá estar acontecendo com a consciência no estado de pura consciência? Se certo número de mentes se torna ordenado e coeso, esse fato poderia mudar a sociedade (e a vida) como um todo? Uma subpopulação de mentes individuais poderia causar uma “transição de fase” na mente da população maior? Sendo a mente não-localizada, não existindo, portanto, separação entre mentes individuais, isso proporcionaria um modo automático de a informação circular da mente individual para mente grupal.
Essa possibilidade não é tão remota como pode parecer. A possibilidade de sincronização (ordenamento) entre padrões de ondas cerebrais em seres humanos já foi demonstrada em vários experimentos quando os indivíduos estão isolados um do outro e bastante separados. Numa das experiências, quando os indivíduos tentaram comunicar-se simplesmente tornando-se cientes da presença um do outro, eles “sentiram que se misturavam entre si”, e os registros de suas ondas cerebrais tornaram-se idênticos. Tal fato sugeriu aos experimentadores que os “campos neuronais” podem interagir e alterar-se mutuamente. E, recentemente, foram desenvolvidos modelos matemáticos sugerindo que uma rede de neurônios pode exibir “transições de fase” para estados ordenados na forma de padrões de atividades persistentes (sustentáveis?).
O físico Lawrence Domash sugeriu que o grau de consciência pura está relacionado ao grau de ordenamento interior dos bilhões de neurônios cerebrais. O valor da MT, ou técnicas semelhantes, está em oferecer um meio de intensificar a transição da desordem para a coesão (para a perfeita ordem) - desestimulando o sistema nervoso, ou baixando sua “temperatura”, por assim dizer -, permitindo que os extraordinários efeitos transfiram-se das subpopulações meditantes para toda a massa. No caso do hélio, da água e do chumbo, a “massa” seria toda a quantidade de substância física existente no experimento; no caso da mente, a massa seriam todas as mentes existentes (devido à natureza não-localizada da consciência).
O físico John S. Hagelin, reconhecido líder na tentativa de unificar as quatro forças fundamentais da natureza numa única estrutura teórica (uma teoria do campo unificado), como tentou Einstein, sugere que a experiência de consciência pura - a “expansão infinita sem limites”, que as pessoas costumam descrever - é, na verdade, uma experiência direta de campo unificado. Nesse estado, as qualidades de totalidade, completude (nada mais falta, tudo está completo, perfeito) e unidade do campo unificado são diretamente apreendidas pela psique, e a percepção do atemporal e do infinito salta para a consciência. São momentos de não-localização durante os quais, como disse Whitman, “de nada valem o tempo e o lugar”, isto é, o espaço, o tempo e distância perdem toda importância e significado. (Campo unificado seria comparável ao campo eletromagnético que se forma ao derredor de fios ou aparelhos elétricos energizados).
As implicações do efeito Maharishi são enormes. É absurdo ignorar a possibilidade de que a entrada voluntária de um grupo de pessoas num estado específico de consciência possa, literalmente, mudar o mundo para melhor. Enquanto políticos e estadistas tentam, sem êxito, realizar a ordem no mundo pelos meios tradicionais, devemos reconhecer que pode haver, para realizar a ordem e a harmonia, outros caminhos incrivelmente simples e eficientes. Esses caminhos dependem de coisas tão simples como sentar-se, clarear a mente, e entrar num estado de consciência único - nada de gastos colossais com a defesa, nada de políticas exterminadoras, de punições e guerras; apenas a “não-ação” e a experiência do “Nada Divino”, do “Vazio”, do Absoluto, da Mente Una, a percepção não-localizada do Eu. Mas, essas idéias são “ofensivas” à nossa mente ocidental, porque parecem extravagantes, orientais e psíquicas. No entanto, suas origens perdem-se na antiguidade. Se elas nos ofendem, talvez seja por isso que o mundo oscila à beira de um abismo, pois, aos poucos nos esquecemos do que significa estar “realmente” consciente.
Há cerca de duas décadas, surgiu, na história da cura, a medicina “mente-corpo” (ver Chopra, com “Conexão-Saúde”), quando começou a se dar importância à mente pelas mudanças que poderia produzir no corpo. Demonstrou-se, cientificamente (coisa que quase todas as pessoas já sentiram), que percepções, emoções, atitudes e significados percebidos afetam a carne, às vezes de forma dramática, às vezes sendo questão de vida ou de morte. Todas as principais doenças atuais - moléstias cardíacas, câncer, hipertensão, ulceras gástricas e outras - são, ao menos em certo grau, influenciadas pela mente (pelo que pensamos, imaginamos, acreditamos, pelo condicionamento). Mas, hoje, com as descobertas e implicações da ciência moderna, podemos dizer que a medicina está num estágio ainda mais avançado - a medicina não-localizada. Neste estágio, as mentes se espalham através do espaço e do tempo; são onipresentes, infinitas e imortais; são unas, podendo se considerar que saúde e cura não são mais questões meramente pessoais, mas coletivas. Os exemplos mais provocativos são os fenômenos de terapia não-localizada, tais como pesquisas com prece, do cardiologista Randolph Byrd, vistos atrás, ou como as experiências que demonstram a ação curativa da mente sobre sistemas biológicos simples (plantas, seres microscópicos e outros), além de o efeito Maharishi mostrar como ambientes inteiros, cidades e países podem ser curados pela ação não-localizada da mente.
Mas há um lado negro dos efeitos da mente não-localizada. A Mente Una pode ocasionar tanto a cura como a doença. Na Mente tanto o bem como o mal têm sua força. (conforme os místicos, bem e mal são apenas concepções humanas) A luz e a sombra existem juntas como partes legítimas do todo, do qual nada está excluído - nem a doença, nem a tragédia. Há, portanto um lado negro da Mente Universal, raramente reconhecido. Mas, curiosamente, admiti-lo e conhecê-lo tão profundamente quanto pudermos, equivale a libertarmo-nos da sua tirania e do fustigamento periódico que ele provoca. Conforme Jung (e como assegura Krishnamurti) ao percebermos esse aspecto inconsciente de nós mesmos, “criando, assim, mais consciência”, podemos ficar livres dele.
Em toda a história da ciência, jamais algum experimento demonstrou que o tempo flui. Nossa fixação nas divisões rígidas do tempo pode ser nada mais que ilusão. Segundo Sheldrake, cada novo evento na natureza cria um campo morfogenético, o que torna mais provável a ocorrência de um evento similar. Este, por sua vez, influencia e fortalece o campo que lhe deu origem e, assim, a influência desses campos tende a ser cumulativa no tempo. O resultado é a criação, na natureza, de hábitos maleáveis, em oposição a leis rígidas e imutáveis. Podem-se conceber eventos imortais, existindo através do tempo na forma de campos morfogenéticos, afetando eventos futuros e sendo, por sua vez, afetados por estes (porventura, explicaria o condicionamento e as superposições coerentes?). Os pensamentos podem estabelecer seus próprios campos morfogenéticos e, assim, ajudam a manifestação de eventos coerentes com eles. Desse modo, quando um curador psíquico opera, operam com ele todos seus milhões de predecessores (através dos sinais seus deixados nos campos morfogenéticos em todas as eras).
Se a Fada Madrinha deixar que façamos um pedido para nossa saúde, pediremos uma vida interminável e perfeita? Devemos pensar muito antes do pedido; lembremo-nos da lenda do rei Midas, para não nos esquecermos de que há uma armadilha em se acreditar em que se uma pequena quantidade de alguma coisa é bom, uma quantidade maior é melhor. Um pouco de potássio no sangue é bom; em demasia, pode causar a morte. E o dinheiro? São inúmeras as histórias do seu poder corruptor mas, nem mesmo o rico acha que já possui o suficiente. Isso mostra que há perigos ocultos em se desejar de modo insensato.
O desejo de uma fonte de energia mais poderosa - um típico pedido à Fada Madrinha - trouxe desastres como Chernobyl e outros. E o problema, aparentemente insolúvel, do lixo radiativo que sempre mantém seu poder nocivo e que ninguém aceita no seu quintal? O mesmo acontece com a arma ofensiva fundamental. Pediu-se uma arma atômica para derrotar os inimigos, mas agora estes também a possuem para usá-la contra nós.
A natureza engenhosamente se opõe às nossas tentativas de dominá-la. Um exemplo entre muitos: recentemente revelou-se que o uso de compostos químicos contra infecções do gado por parasitas intestinais causa efeito colateral surpreendente. O medicamento não atua apenas contra os vermes da vaca mas, ao ser excretado nas fezes, ele continua a fazer seu trabalho; besouros do esterco, minhocas e micróbios, que costumam decompor o estrume transformando-o num rico fertilizante e que arejam o solo de modo que este possa reter a água, não conseguem mais fazer o seu serviço. Nem tocam no excremento porque este continua tão venenoso quanto o era para os parasitas. Os excrementos ficam intactos nos campos e, com o passar do tempo, podem cobrir área considerável. Como as vacas têm o hábito de pastar longe de seus excrementos, isto faz com que parcela apreciável das pastagens fique fora de uso, diminuindo os lucros do fazendeiro - que pretendia aumentá-los, é claro, com o uso do vermífugo.
A medicina está cheia de casos semelhantes. É o caso dos antibióticos, contra os quais as bactérias rapidamente desenvolvem resistência de modo que, nem mesmo os especialistas sabem onde o processo terminará. O programa é mantido em face dos lucros que proporciona e pela presunção de que os químicos farmacêuticos sempre acharão mais uma solução.
Em alguns dos melhores hospitais do mundo, revelou-se que um terço de internações para tratamento crítico vem de doenças causadas por ações médicas. Não de maus médicos, mas de excelentes médicos. É que a perfeição pura não existe em nenhum lugar na ordem natural. E os médicos passam a praticar medicina defensiva, com medo de serem processados. O que acontece é que essa medicina defensiva vem provocar, muitas vezes, mal maior, pois nem tudo que se poderia fazer foi feito, pelo temor dos riscos de processos. A falibilidade é um problema inerente à natureza (a ‘teoria da incerteza’, de Heisenberg).
Epílogo. Se as mentes não são limitadas pelo espaço e pelo tempo, devemos admitir, mesmo que nos pareça absurdo, que todos nós somos dotados das características divinas da imortalidade, da onipresença e unidade. Como somos incapazes de perceber que já as possuímos, para encobrir nossa cegueira as religiões populares freqüentemente insistem na mensagem de que somos criaturas desprezíveis, indignas, sem qualidades próprias redimíveis. E quando, ao longo da história, surgiram homens que perceberam sua divindade interior, foram acusados de heresia e blasfêmia e, particularmente no Ocidente, muitos foram torturados e queimados.
Jung concluiu, já no fim da vida, que “as nações cristãs chegaram a uma situação deplorável: seu cristianismo dorme, pois descuidaram de fazer evoluir seu mito no correr dos séculos. Os homens não percebem que um mito está morto se deixa de viver e crescer. Nosso mito tornou-se mudo e não nos dá mais nenhuma resposta. A falha não está nele, tal como foi revelado pelas Escrituras, mas em nós, que não o desenvolvemos e que suprimimos qualquer tentativa nesse sentido”.
Hoje, quanto ao cristianismo e outras tradições, a questão é como despertar os velhos mitos, isto é, levar a sério as idéias do Velho Testamento como o “casamento divino”, a noção subseqüente de “Cristo em nós”, confiar nas palavras de Jesus quando disse “Vós sois deuses”, ou “o Reino de Deus está dentro de vós”. Porém, existe uma resistência enorme a essa revitalização. E, enquanto isso, o mundo se aproxima de uma catástrofe global, por falta de uma visão que o sustente. Essa resistência vem também da ciência que, como a religião, assegura que somos débeis criaturas nascidas para sofrer, deteriorar-se e morrer, o conhecido caminho do que é localizado. As religiões prometem salvação pela graça de Deus; a ciência, pelo progresso científico. Mas, ambas nos despojaram da nossa alma, da nossa oniconsciência.
Há a história de um estudante que perguntou ao rabino: “Antigamente havia homens que viam a face de Deus. Porque, hoje, não há mais?”. O rabino respondeu: “Porque, hoje em dia, ninguém consegue abaixar-se tanto”. Verdadeiro paradoxo: para ver o mais alto, devemos estar dispostos a nos curvarmos, a anular-nos, isto é, a anular o ego. (Somente quando o ego não está presente é que Deus está, disse Krishnamurti, como também diz a Bíblia: “Aquieta-te e sabe: eu sou Deus”, isto é, quando o eu se cala totalmente, até no pensamento e na memória, Deus se faz conhecido; é este, precisamente, o objetivo da meditação). Hoje, somos lembrados da necessidade de nos abaixarmos para que reconheçamos um fato gigantesco e inelutável: a Terra não precisa de nós (?), seres humanos e, na verdade, poderia estar bem melhor sem nossa presença. Somos a maior ameaça à sobrevivência do planeta, - ao solo, ao ar, à água, à flora e à fauna, a nossos próprios semelhantes - e não é preciso grande imaginação para perceber que o fim da nossa espécie não parece estar muito longe. Será que só com o risco de ficar o planeta sem água, ar ou comida é que nos voltaremos à busca da alma, à busca de Deus? Que só na iminência de desastres ecológicos é que abriremos os olhos para nos voltarmos para nossos velhos mitos? Estaria a própria Terra nos ensinando a lição da qual mais precisamos: que ‘temos’ uma alma, que somos um? Como disse o grande místico Teilhard de Chardin, “para que os homens de toda a Terra aprendam a se amar uns aos outros, não basta que saibam que pertencem a uma mesma coisa; devem adquirir a consciência, não de que pertencem, mas de que são tão somente uma e a mesma pessoa” (um só ser). Assim, devemos abrir os olhos para natureza imortal e onipresente e para a Mente Una que somos, para a realidade de que tudo e todos somos apenas Um. ...................................
segunda-feira, 10 de maio de 2010
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