quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Libertação do abraço asfixiante do Ego



Aldous Huxley, suas percepções e testemunho, durante e logo após a experiência mística de se desvencilhar, momentaneamente, do ego:

‘... palavras como Graça e Transfiguração me vieram à mente. A Beatífica Visão, Sat-Chit-Ananda (Existência, Consciência, Beatitude) pela primeira vez entendi, não vagamente ou por insinuações, mas precisa e completamente, o que querem significar essas palavras prodigiosas. Lembrei-me, então, de uma passagem que lera de Suzuki: ‘O que é o Dharma-Corpóreo do Buda?’ (o Dharma-Corpóreo do Buda é outro modo de nos referirmos à Mente, ao Vazio, à Divindade, a Deus). A pergunta foi feita, em um mosteiro Zen, por um indeciso noviço. E, com a vivaz insensatez de um dos Irmãos Marx, respondeu o superior: ‘A sebe no fundo do jardim’. ‘Eu poderia perguntar’, retrucou timidamente o noviço, ‘quem foi que concebeu essa verdade?’ Ao que o superior, dando-lhe uma pancada nas costas com seu bastão, respondeu: ‘Um leão de cabelos de ouro!’

“Quando li esse diálogo, achei-o um amontoado de pura insensatez, de total loucura. Agora, porém, tudo está tão claro como o dia, tão evidente quanto o postulado de Euclides. Não há a menor dúvida de que o Dharma-Corpóreo do Buda seja a sebe do fim do jardim. Ao mesmo tempo, e com igual certeza, ele é estas flores; ele é qualquer coisa que desperte a atenção de meu ego, ou melhor, de minha bem-aventurada despersonalização (além do ego), liberta, por um momento, de meu abraço asfixiante (do abraço asfixiante de meu ego). Assim também os livros, as estantes, os móveis de meu escritório...” (e tudo o mais, são o Vazio, a Divindade, Deus).

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