quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

COMENTANDO COMENTÁRIOS

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Um amigo comentou:

"O perdão é prescrito... mas não devemos ser tolos".

Por essa frase vê-se que isso de que o amigo fala não é perdão. Está certo se o que o amigo quis dizer com “não ser tolos” se refere à segregação de alguém perigoso aos demais, está correto; é como o escorpião cuja natureza o faz picar; como este deve ser afastado para que não cause danos, o mesmo ocorre com aquele que é perigoso. Mas, para o julgamento desse dano, para esse comportamento, não há agravantes, mas enormes atenuantes, ou melhor, justificativas; e deve existir amor. Não praticamos o amor e não admitimos justificativas, naturalmente, pela nossa imperfeição.

Outra coisa: se o perdão é praticado por que assim está prescrito, também não é perdão; perdão é amor e se o praticamos porque está prescrito, não é amor; é apenas busca de obedecer a regras ou à ética religiosa. O verdadeiro perdão vem do coração e não do dever de perdoar.

O amigo diz, também:

“As doutrinas ensinam a "não confundir as pessoas de bem com as más, a termos discernimento".

Qual a finalidade dessa recomendação? Se for para que nos afastemos das más, para não sofrermos, tudo bem, mas só por isso. Qualquer outra objeção seria apenas preconceito. Paulo diz: "O Senhor não faz acepção de pessoas" e Jesus: "Não vim para os sãos, mas para os doentes", isto é, o maldoso é apenas um “doente” que ainda não se curou da maldade. É doente por sua ignorância e conseqüente imperfeição. Ou será que o homem é mau porque quer ser mau? Ou são as experiências e circunstancias da vida, esta escola do bem e do mal, que o levam ser mau?

O amigo diz que:

“Tentar explicar que o mau é mau devido ao que a escola da vida o ensinou, justificando, portanto, sua maldade, é falsa, que não acreditemos nela, pois que Deus é amor e sabedoria e suas leis refletem sua sapiência”.

No entanto, dentro das doutrinas, é exatamente essa a colocação perfeitamente correta. Para nós, parece absurdo "dar a outra face", mas esta recomendação é do ponto de vista de um iluminado, de alguém que já “compreendeu”, que já abriu os olhos, despertou. Achamos essas coisas absurdas porque ainda estamos “dormindo”, hipnotizados pelas ilusões que a vida, através dos costumes, tradições, cultura, sociedade nos dá. Assim, consideramos covardia dar a outra face, não reagir à altura da ofensa etc. Esquecemos, portanto, o amor, como também esquecemos que todos os atos errados são fruto da ignorância. E o ignorante não pode ser punido por ser ignorante.

O amigo comentou acerca do perdão absoluto:

“Não é isso que Deus exige de nós”.

• Com isso o amigo diz que Deus exige algo de nós. Mas, porque Ele exigiria de nós alguma coisa, se já sabia, de antemão, de tudo que faríamos em nossa vida de certo ou de errado pois, para Ele está tudo na sua onisciencia; tudo, portanto, para Ele está determinado (pela visão das doutrinas), está perfeitamente claro tudo que vai acontecer no futuro e o futuro para Deus é agora. Até certos profetas, como dizem, chegavam a conhecer algum tempo futuro; como o Criador não conheceria? E, se não conhecesse, onde estaria, então, sua onisciência?

O amigo diz:

• “Perdoar os criminosos, maus, perversos, egoístas, orgulhosos etc, é algo que deve ser entendido com bom-senso e nos limites rígidos da condição humana”.

• Mas, o que é “bom-senso” senão ponderação, juízo, avaliação? Será que todos temos o mesmo bom-senso? Que as avaliações dos homens não são diferentes, e totalmente diferentes?! E “nos limites da condição humana", o que quer dizer com isso? Que o perdão é de acordo com cada um, nos limites da compreensão de cada um, não é? Outra vez vemos, então, que o amigo quer significar que cada um só pode fazer aquilo que já está dentro dos limites de sua compreensão, aquilo que já aprendeu a fazer, com todos os erros, ignorância, imperfeição, que nos são próprios. Pois deve pensar também assim com relação àquele que erra, que “peca”: ele age assim porque é assim que ele está: dentro dos limites de sua compreensão, por tudo aquilo que já aprendeu, com todos os seus erros, ignorancia e imperfeição.

• As doutrinas, contudo, não ensinam isso: para elas, o perdão, como o amor (são semelhantes) é incondicional, concorda? Jesus disse: “Perdoai aos vossos inimigos. Amai os que vos perseguem, os que vos querem fazer o mal...”; não estabeleceu condições para o perdão.

E, é importante lembrar aqui. Paulo diz que “É o Senhor que opera (realiza, produz, cria) em nós o pensar, o querer e o fazer”, tanto que, em concordância com essas palavras, disse que já estamos todos salvos, pois não são nossas obras boas que nos salvam e não são nossas obras más que nos condenam. Pense nisso.

Continuando, o amigo disse:

"Quero dizer que devemos perdoar quem nos fez mal; que não devemos nos sentir ofendidos por ele, mas não devemos livrar de que lhe sejam aplicadas todas as conseqüências decorrentes de seus atos, independentemente de sabermos que também terá de sofrer as conseqüências “cármicas”.

Contudo, se perdoamos e, assim mesmo, esperamos que lhe sejam aplicadas todas as conseqüências de seus atos, isso não é verdadeiro perdão. Perdoar é compreender que ele errou porque ainda não aprendeu a acertar; perdoar é esquecer, não se esforçando para esquecer, mas esquecendo porque nossa compreensão nos faz esquecer. O ato não existe mais. Está certo que o perigoso deve ser afastado de onde possa reincidir e causar danos a outros, apenas isso. Tudo que ele pratica não passa de ignorância das coisas, vamos dizer, das coisas de Deus.

E o amigo disse uma frase de Jesus: “Dai a César o que é de César”, como justificando seu pensamento de que o bom deve receber felicidade, e que o mau deve receber castigo; será que isso significa que se “achamos” que alguém errou, deve ser castigado? Nós nada conhecemos das causas mais profundas e intimas que o levaram ao “crime”! Por isso, por nossa ignorância, apenas “achamos” que deve ser castigado pois assim é que se faz justiça. E quantas vezes erramos! E está escrito “A vingança pertence ao Senhor”. Não a nós; ao Senhor.

O amigo também disse, talvez se justificando por seu modo de pensar:

“Não faço milagres; o ódio, a vingança falam mais alto e eu sucumbo. Destroçaria o agressor ou morreria tentando”.

O amigo está expondo o pensamento comum. Está certo: nós somos ainda imperfeitos e pensamos assim, mas esse não é o pensamento dos mestres e sábios, e nem o das doutrinas. Temos de perceber que devemos superar esses defeitos no compreender a vida e os semelhantes; que temos de buscar uma compreensão maior. Não esquecer Jesus: “Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”.

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